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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Grupo Corpo – “Bach" e "Gira” – Teatro do SESI – Porto Alegre (07/10/2017)


Assistir o Grupo Corpo já de muito se tornou mais do que uma atração para mim: passou a ser uma obrigação enquanto cidadão brasileiro. Seja em Porto Alegre ou noutro lugar, desde a metade dos anos 90, quando os vi no palco pela primeira vez, de dois em dois anos – periodicidade que eles lançam novas montagens – é hora de desfazer a expectativa criada e conhecer o que irão apresentar de novo. Afinal, é sempre uma novidade a cada peça, e não raro, uma grata surpresa. Pois a companhia mineira é das poucas instituições artísticas (não só no Brasil, mas no mundo) capazes de surpreender a cada projeto mesmo o/s anterior/es tendo sido de alta qualidade. Ou seja: conseguem superar o que já é bom. Caso de “Gira”, o ousado espetáculo apresentado na nova turnê, o qual conta com a brilhante trilha sonora da banda paulista de jazz Metá Metá.

Se as duas últimas estreias, “Triz” (de 2013, trilha de Lenine) e “Dança Sinfônica” (2015, sobre composições de Marco Antônio Guimarães), foram igualmente competentes mas não necessariamente arrebatadoras, “Gira” consegue o feito de rivalizar com as melhores montagens da rica história de mais de 40 anos da companhia. E até superá-las. Inspirado nos ritos da umbanda, “Gira” traz como principal referência, além da estética do universo mágico das religiões afro-brasileiras, o orixá Exu, o dono do movimento e das transformações da vida. É ele quem liga o mundo dos humanos ao mundo das divindades. Na forma de movimentos e sons, foi exatamente isso que se viu no palco.

A estreia, como é de praxe nas apresentações do Corpo, foi antecedida por uma mais antiga: o magnífico balé “Bach”, de 1996 de forte apelo religioso e cuja leitura modernizada da obra do compositor alemão que lhe dá nome (feita pelo constante parceiro musical da companhia, Marco Antonio Magalhães) vai, literalmente, da morte à ressurreição. Da mais densa dificultação do olhar, sob as luzes ofuscantes do purgatório, até a mais límpida e dourada iluminação, encenada por movimentos graciosos de vida eterna. Impressionantes os atos da dança nas cordas, suspensas no ar e distantes cerca de 2 metros do chão.

Vídeo de "Bach", de 1996

Em "Gira", a mirada religiosa se mantém em certo aspecto, mas por uma visão totalmente distinta. Ao invés da tradição católico-cristã, são agora os ritos das religiões de matriz africana, com seu gestual, formas e sonoridades que prevalecem. Num cenário-instalação (de Paulo Pederneiras) que coloca o espectador como que num terreiro de culto, a coreografia de Rodrigo Pederneiras revela intensidade, instintividade e até certa brutalidade. Linda brutalidade, aliás, vinda da profundeza da natureza humana – e também da não humana. Rodrigo vale-se da rica base referencial dos ritos de celebração tanto do candomblé quanto da umbanda (em especial as giras de Exu) para forjar todo um poderoso glossário de gestos e movimentos. Fortes e contorcidos, dão a dimensão da natureza de Exu: um orixá mágico, de proezas inimagináveis, e cujo bem e mal andam sempre lado a lado, insolúveis. Inspirados nos gestos manifestados nos cultos, há momentos que parece que os corpos se quebram tamanho contorcimento.

Corpos que se contorcem e até parecem se quebrar
A iluminação, dura e quente (coassinada por Paulo e Gabriel Pederneiras), muda muito pouco, pois são os dançarinos e seus movimentos hipnóticos que constroem a narrativa, a qual faz uma imersão pelo universo anímico dos orixás. Como entidades incorpóreas, os bailarinos – torsos nus, com a outra metade do corpo coberta por saias brancas de corte primitivo e tecido cru, tanto de mulheres quanto de homens – entram e saem das três paredes negras da caixa-preta, criando uma ilusão quase espectral de infinito que os transforma em éter quando saem de cena. Quando reaparecem, contudo, é como se se materializassem ali na frente de quem vê, ou como se as entidades "baixassem" nos "cavalos" dos dançarinos. Dançam, simulam sexos, giram, torcem-se, alimentam-se do corpo físico e depois somem mais uma vez, como se desintegrassem.

Para acompanhar/construir toda essa representação mitológica, a trilha da Metá Metá (Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França) não poderia ser mais adequada. Diria brilhante. É visível a quem assiste, assim como noutras montagens realizadas em parceria com outros compositores (“O Corpo”, com Arnaldo Antunes, de 2000, ou “Santagustin”, de Tom Zé e Gilberto Assis, 2002), que a dança é fruto da criação musical e vice-versa, num permanente diálogo movimento/som, carne/espírito. A partir da proposta sonora, a coreografia cria soluções gestuais e rítmicas expressivas àquela ideia. O contrário, entretanto, acontece também, uma vez que o conceito de “Gira” e seus elementos são comuns e assimilados por músicos e companhia. O resultado é uma “estreita sintonia” entre os dois polos, como definiu o Dinucci, principal compositor do conjunto.

A bruta sensualidade e a ousadia dos
corpos nus
Nas melodias, a banda adensa as características da musicalidade de matriz africana, incrementando-a com elementos similares da música moderna, como o jazz avant-garde, o hip-hop, o rock e até o funk carioca. Em termos de estrutura, a polifonia e a dissonância são os conceitos sonoros encontrados para responder à complexidade do tema, forjando um tecido sonoro rico em texturas, síncopes, contraposições e volumes. Assim, lhes é possível criar enredo para os orixás, como em “Bará” (um dos nomes de Exu na África), mas para “Ogó” (bastão fálico de Exu) e “Ogun”, facilitando a sugestão para a composição coreográfica. Os temas em geral se valem de muita percussão, mas também de samples, guitarras e sopros, como o marcante sax tenor de Thiago França. A voz de Juçara Marçal, de altíssima técnica, é capaz de acompanhar as variações rítmico-harmônicas que compasso/movimento pedem. Ainda, no que se refere a vocal, a diva negra Elza Soares empresta sua robusta voz em duas essenciais participações: “Pé”, logo no início do balé, e “Okutá Yangi II”, que fecha o espetáculo num clima talvez até mais apoteótico do que em qualquer outro do Grupo. Em tom alto, severo, rascante.

Como se as entidades estivessem "baixando"
nos bailarinos
“Gira” é tão coeso que posso afirmar que é melhor ou tão bom quanto clássicas montagens do Grupo Corpo – leia-se ”Benguelê” (1998), “Sem Mim” (2011) e a já mencionada “O Corpo”. Em termos de trilha sonora, outro trunfo da companhia, além da magnífica e peculiar dança, a afirmação também vale. A Metá Metá não deixou nada a desejar diante de outros autores que já trabalharam com o Corpo, como Caetano Veloso, João Bosco, Tom Zé e Zé Miguel Wisnik. Talvez “Gira” não se assemelhe apenas à profunda emoção que a encenação de “Parabelo”, de 1997, é capaz de causar, algo tão referencial na dança moderna brasileira que foi mostrada ao mundo todo na abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, ano passado. Contudo, em termos de proposta e realização, “Gira” mostra-se, sim, a mais completa da companhia mineira, pois é fruto de maturidade artística e técnica a qual chegaram e, principalmente, da ousadia e de atitude que sempre mantiveram - ainda mais, em épocas que qualquer nu em arte é motivo de censura. Afinal, abordar um tema tão visceral e verdadeiro, mas também tão discriminado e demonizado pelos ignorantes, exige coragem..

Som é movimento e dança é vibração. Ou o contrário, tanto faz. Quando que se tem, com tamanha veracidade e poética, a oportunidade de vivenciar essas sensações tão genuínas em dança e em música ao mesmo tempo? A resposta é bienal: quando o Grupo Corpo apresenta uma nova montagem. Tão bom que a gente nem se importa de esperar mais dois anos para sentir isso tudo de novo.

Grupo Corpo - vídeo de "Gira"


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Blue Cheer - "Vincebus Eruptum" (1968)



"O que fazemos é apenas
pegar o blues e distorcê-lo
até deixá-lo irreconhecível."
Dickie Peterson,
vocalista



Ta aí uma banda que eu sempre curti pra caramba e há muito tempo vinha querendo falar dela aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. O Blue Cheer foi mais uma daquelas que eu conheci graças à Discoteca Básica da extinta revista Bizz (depois Showbizz), mais especificamente grças à curiosidade do meu irmão e co-editor daqui do ClyBlog, o Daniel Rodrigues, que sempre procurava comprar ou gravar os discos que saíam naquela seção. De vez em quando me aparecia com umas coisas que não me agradavam muito, outras eu só fui apreciar mais tarde, mas o Blue Cheer sempre me impressionou por aquele peso todo. O legal no som dos caras é que parecia funcionar quase como uma espécie de ponte entre alguns subgêneros e, de maneira espantosa, antecipava outros: psicodélica, meio garage-rock, tinha elementos de blues, prenunciava o metal, antevia o hard rock e  o inspiraria o punk. O resultado dessa fusão toda e desse pioneirismo era um som explosivo e arrebatador que pode ser comprovado em sua plenitude em seu excelente trabalho de estreia, o bombástico "Vincebus Eruptum" de 1968.
Já para começar, pegam o clássico do rock'n roll de Eddie Cochrane, "Summertime Blues" acrescentam nitroglicerina tornando-a ruidosa, retumbante, estrepitosa e acima de tudo, fantástica. O clássico de B.B. King, "Rock Me Baby", transforma-se num blues psicodélico de estrutura irregular e mutante;  a longa "Doctor Please" com sua distorção ensurdecedora e vocais ensandecidos é um dos momentos mais pesados dos disco. "Out of Focus" lembra aqueles blues quebrados e malucos de Bo Diddley; e Parchment Farm" tem uma bateria alta, estourando, vocais rasgados e solos absolutamente selvagens. "Second Time Around" finaliza o disco numa anarquia sonora que lembra "European Son" do Velvet Underground e prenunciava a sujeira sônica dos Stooges, com destaque para o riif insistente e repetido do bom Leigh Stephens, os vocais gritados de Dickie Peterson e um solo irado do baterista Paul Whaley.
Considerado por muitos o primeiro disco de heavy metal, "Vincebus Eruptum" tem apenas seis faixas e pouco mais de 30 minutos mas é duração o suficiente para para não deixar pedra sobre pedra. Em 1968, quando as coisas já começavam a se ensaiar para uma sonoridade mais vigorosa, poderosa e minimalista, "Vincebus Eruptum" era a peça que faltava para dar encaminhamento a tudo de pesado que viria a partir dali.
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FAIXAS:
  1. "Summertime Blues" (Eddie Cochran) – 3:47
  2. "Rock Me Baby" (Josea/B.B. King) – 4:22
  3. "Doctor Please" (Dickie Peterson) – 7:53
  4. "Out of Focus" (Peterson) – 3:58
  5. "Parchment Farm" (Mose Allison) – 5:49
  6. "Second Time Around" (Peterson) – 6:17

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Ouça:


Cly Reis

domingo, 5 de novembro de 2017

Lançamento da revista “Obscena – Observe a Cena Underground”



Underground significa, literalmente, subterrâneo. É usado para denominar a cultura que não está nas grandes mídias e nem sob os holofotes, subsistindo na marginalidade e de forma totalmente independente. Logo, é comum que a maioria das pessoas desconheça a arte underground que acontece bem ao seu lado. Porque estes artistas não estão na TV, nas rádios e nos jornais, não participam dos eventos oficiais, não recebem prêmios, medalhas e condecorações. Mas seguem existindo, atuando, movimentando uma cena na qual estamos todos inseridos, direta ou indiretamente.

Observar esta cena é o objetivo da revista Obscena – Observe a Cena Underground, uma publicação da Editora Os Dez Melhores, de Carazinho/RS, com projeto gráfico de Sergio Chaves, da Charlotte Estúdio. A revista busca não somente trazer à luz estes muitos artistas subterrâneos, mas também levantar um debate sério sobre a importância desta arte, que pulsa e vibra longe do centro e da superfície, mas perto de cada um.

A revista reúne quase 100 artistas, todos independentes, de 20 cidades da região e das mais diferentes áreas: ilustração, fotografia, culinária, literatura, maquiagem, música, tatuagem, moda, artesanato. Além disso, a 1ª edição da Obscena traz também 6 reportagens, 10 entrevistas e 17 artigos sobre a arte e a cultura underground, ilustrados com desenhos e fotografias de artistas locais. A Obscena convida a conhecer e reconhecer a arte que está ao alcance de nossas mãos, mas também a refletir e debater sobre o nosso papel nesta cena.

Jana Lauxen, escritora e editora do projeto, afirma que a ideia é registrar uma janela de tempo na história da arte independente de nossa cidade e região, para que a revista possa servir como um retrato cultural local de um determinado período:

– É uma forma de armazenar uma parte da nossa própria história. Imagine como seria massa ter em mãos hoje uma revista publicada nos anos 60 com artistas e projetos culturais locais? Bem, nossos bisnetos terão em mãos uma destas revistas – diz.

A Obscena será lançada dia 11 de novembro, entre 16h e 20h, no Sindicato dos Bancários (Rua Venâncio Aires, 338, Centro), em Carazinho/RS. Junto ao lançamento acontecem também exposições e feira de arte com alguns dos muitos artistas que participam desta 1ª edição, e shows com a banda Rastilho, o projeto Formato Mínimo e o rapper Josué Quadros. A sonorização é por conta do DJ Christiano Naza.

Com tiragem limitada, a revista estará disponível para venda durante o lançamento por apenas R$19,90.

Então vem junto observar a nossa cena underground! A entrada é franca e a arte é daqui.
Mais informações: contato@editoraosdezmelhores.com.br

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SERVIÇO
lançamento da revista Obscena – Observe a Cena Underground
quando: 11 de novembro, entre 16h e 20h,
onde: Sindicato dos Bancários (Rua Venâncio Aires, 338, Centro), Carazinho/RS)
valor da revista: R$19,90 (tiragem limitada)



sexta-feira, 3 de novembro de 2017

"Pica-Pau, o filme", de Alex Zamm (2017)



A tentativa de "ressuscitar" para as novas gerações o alucinado personagem Pica-Pau não acrescenta nada. O filme é ruim, a história é ruim, os personagens são ruins, as piadas são ruins... Tirando os recursos técnicos e uma caracterização até que bem aceitável do pássaro doido em animação 3D, pode-se dizer que nada presta no filme do diretor Alex Zamm. Ao contrário da adaptação cinematográfica animada de "Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme" que despertava nos adultos a nostalgia pelos desenhos antigos e conquistava as crianças pela identificação da infância e com atualizações sutis e interessantes e pontuais, "Pica-Pau, o filme" não consegue nenhuma das duas coisas, não tendo a capacidade de reviver a magia dos desenhos antigos da TV para quem, como eu, tanto curtia e idolatrava as traquinagens do passarinho do topete vermelho, nem ser cativante o bastante para fazer com que as crianças se aficcionem a ele tal como acontecia conosco em nossas infâncias.
Tem um recado ecológico e tal, tipo, "não derrube as árvores", "não jogue lixo na natureza", "não cace e não mate animais silvestres" mas parece que em nome do compromisso com a mensagem, tudo fica meio sem graça, meio engessado. Embora dê uma surra no empresário que quer construir uma mega-mansão no meio de uma reserva florestal (Timothy Omudson), na sua namorada toda dondoquinha (Thayla Ayala) e nos caçadores que insistem em persegui-lo, o Pica-Pau, não tem aquela espontaneidade, aquela imprevisibilidade de comportamento, aquela "maldade" que nos fazia morrer de rir. Teria tido um efeito melhor, pelo menos no público adulto, adaptações de momentos dos desenhos como o da construção da estrada em que a empresa tem que desviar por causa da árvore onde o bichinho mora; a do caçador e seu cachorro tonto que queriam patos mas acabam se vendo às voltas com nosso amiguinho; o o do taxidermista; ou a do lenhador e o desmatamento, que teriam o mesmo apelo ecológico mas manteriam o carisma não só do personagem principal como poderiam ainda trazer de volta aqueles perseguidores do pássaro, os "vilões", estreitando ainda mais a identificação com a antiga série.
A cena do Pica-Pau tocando "Surfin' Bird" com a banda dos garotos até que é legal. Tirando isso mais algum momento que outro (que nem me fixou na mente), algumas bicadas, pancadas, quedas, lambuzos e nada de muito empolgante. Se serve para aliviar, quando começou o filme eu achei que não fosse aguentar até o final mas aí entre uma piadinha aqui outra acolá, um risinho que outro, até deu para aguentar.
O velho truque da Pica-Pau boneca. Acham mesmo que le vai cair nessa?



trailer "Pica-Pau, o filme"



Cly Reis

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

63ª Feira do Livro de Porto Alegre



“Tempo pra ler, todo mundo tem”, será?


O slogan da 63ª FLPOA (como sempre abrevio a cada edição) é no mínimo provocativo. Criado pela CRL em parceria com a agência Bonaparte a campanha permite ao público em geral refletir sobre questões muito contemporâneas como o tempo destinado a leitura. Num mundo cada vez mais virtual onde grande parte dos temas circula em celulares portáteis para todos os fins, do cinema à leitura, será que reservamos tempo para ler no nosso dia a dia? Fica então o desafio para a reflexão de quais conteúdos optamos por agregar a nossa rotina e ocupar de certa forma a nossa cabeça.

Em meio a tantos dissabores que temos enfrentado em relação ao meio cultural no Estado do RS hoje começa um evento que traz leveza, alegria e a literatura como foco: a 63ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre.

Numa Praça que se modifica desde 1955 para receber a Feira do Livro da cidade, nesta edição tudo cabe dentro dela. O ambiente em que se encontrarão as barracas dos editores, as áreas de programação adulta e infanto-juvenil, os países homenageados e também as áreas de convivência para lanches rápidos e cafés estão dentro da Praça da Alfândega. Os braços desse ambiente atingem dois centros culturais que estendem a Feira pela Rua dos Andradas, o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo e a Casa de Cultura Mario Quintana.

Essa proximidade traz um ambiente acolhedor e colorido já que nesta época do ano primaveril as árvores estão mais floridas. A leveza está no acesso que a população gaúcha e os turistas ganham com a Feira no coração do Centro Histórico. Em meio a prédios históricos como a ex-sede dos Correios (hoje Memorial do RS), o Museu de Arte do estado do RS (MARGS), o Santander Cultural (infelizmente numa fase institucional péssima em função de toda a polêmica sobre a exposição Queer Museu) e o próprio ambiente da praça que recebeu faz poucos anos a reformulação do projeto Monumenta, desvenda-se barracas, pipoqueiros, palcos, stands promocionais, exposições, ciclos de cinema e muito burburinho durante os 19 dias de Feira.

A Praça se transforma num local legal para encontros, leituras e está aberta a muita circulação de conhecimento. Neste ano a Feira pretende atender aos consumidores ávidos por novos títulos, com preços promocionais com descontos mínimos de 20%, variando de acordo com cada livreiro descontos maiores que esse.

A patrona da Feira deste ano,
Valesca de Assis
Nesta edição a Patrona é a escritora de Santa Cruz, Valesca de Assis*, que recebeu das mãos da Patrona da 62ª Cintia Moscovich, a notícia que a sororidade estava mantida! Na realidade nestes 62 anos de Feira poucas vezes as mulheres foram Patronas, entretanto a representatividade sempre foi de alto nível: Lya Luft (1996), Patrícia Bins (1998), Jane Tutikian (2011) e Cintia Moscovich (2016).  As primeiras palavras de Valesca foram relacionadas a uma postura política e humana: "A nossa Feira, como tem sido, como foi no ano passado, vai ser a Feira da resistência. Eu sou uma resistente há muito tempo, já passei por uma ditadura, já apanhei na Praça da Alfândega, e vou continuar resistindo em nome dos livros e com o intelecto que me resta, porque as pernas já estão meio danificadas. "A resistência é permanente. Só o livro,  a leitura, vai salvar o nosso país".

A programação concebida por Jussara Rodrigues (adulta) e Sônia Zanchetta (infanto-juvenil) contempla autores dos países homenageados nórdicos, David Lagercrantz, Kim W. Andersson e Carl Jóhan Jensen entre outros oriundos da Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia e também a autores negros que trarão suas produções, questões de lusofonia, abrangendo gaúchos e estrangeiros (o ganhador do Prêmio Nobel, o nigeriano Wole Soyinka, a homenagem em forma de Sarau ao poeta Oliveira Silveira, Oscar Henrique Cardoso, Lilian Rocha, Ana dos Santos, Eliane Marques, Deivison Moacir Cezar de Campos e Luís Maurício Azevedo) entre outros.

Haverá homenagens para os escritores Luis Fernando Veríssimo, Luiz Antonio de Assis Brasil, Armindo Trevisan, Maria Carpi e o músico Belchior, falecido no início do ano.

Jussara Rodrigues e Sônia Zanchetta,
responsáveis pela programação
Sônia destaca: “Assim como o Seminário 'A arte de contar histórias', a 12ª edição da Mutação na Feira, que traz quadrinhos e cultura pop, e “já tem um público certo” terão novas edições esse ano." Acontecerá também o Colóquio de Literatura e Infância – Diálogos com as Matrizes Africanas, com participação dos escritores Júlio Emílio Braz e Otávio Jr, etc. Alguns eventos também regulares participantes da FLPOA estarão renovando suas edições: a 10ª Mostra de Ilustração de Literatura Infantil e Juvenil Traçando História, o III Encontro de Escritores Negros do Rio Grande do Sul, o VII Seminário Internacional da Biblioteca e da Leitura no Desenvolvimento da Sociedade.

Neste ano estarei na minha 15ª edição da FLPOA. Nos últimos anos estou trabalhando na equipe de fotografia junto aos colegas, Luis Ventura, Otávio Fortes e Iris Borges. Nossa turma está dentro da Imprensa da Feira. Daí que teremos no Clyblog cenas das atividades e quem sabe mais resenhas comentando algumas atividades dessa edição.

Destaco quatro atividades que são diversas entre si e que valem a pena se agendar para participar: a palestra com a Monja Coen que abordará sob a luz budista o tema “O Sofrimento é Opcional” (11 nov), o Encontro dos autores Mia Couto e Ondjaki com a Patrona Valesca de Assis (13 nov), abordando a questão lusófona, o 2º Encontro de Influenciadores Literários e Seguidores (18 nov), que vai englobar booktubers, blogueiros, instagramers, mas também os inscritos e seguidores e o espetáculo “O Urso com Música na Barriga” (19 nov) com texto de Erico Verissimo, direção de Arlete Cunha e atuação do grupo Atimonautas que trabalha com bonecos de manipulação direta. Dicas imperdíveis!

Conheça a programação atualizada e monte a sua agenda  De 1º a 19 de novembro  a Praça estará em festa, mas ela só ficará completa com a sua presença. Participe!

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SERVIÇO
Área Infantil
Bancas: 10h às 20h30
Programação: 9h às 20h30

Área Geral e Internacional

Dias úteis e domingo: 12h30 às 20h30
Sábado: 10h às 20h30


Confira algumas imagens:


Atividades para os pequenos na programação infantil da Feira (foto: Miguel Sisto)

Marco Sena, presidente da Câmara do Livro, organizadora do evento

A equipe de foto: Luis Ventura, eu, Otávio Fortes e Iris Borges

* Valesca estreou como escritora em 1990, com a publicação de "A Valsa da Medusa". O trabalho "Harmonia das Esferas" foi vencedor do Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes e Prêmio Especial do Júri da União Brasileira de Escritores, em 2000. Hoje ela é professora de História especializada em Ciências da Educação e ministrante de oficinas de escrita criativa.  Valesca é casada com o Patrono a 20 anos atrás, Luiz Antonio de Assis Brasil também  escritor.


texto: Leocádia Costa
fotos: Luis Ventura