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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

cotidianas #583 - Pílulas Surrealistas #29



A doce e franzina Isabela vivia de encher balões. Balões. Muitos deles. Centenas, milhares de balões enchidos todos os dias por seus frágeis e castigados pulmões. Fazia vento até não mais poder.

Não pode, de fato. Aos poucos, de tanto enchê-los, os balões, seus pulmões enfraqueceram. Esvaziaram-se de ar, o qual faltou a Isabela não só para o cumprimento de sua lida e sina, mas também para o respiro. Perdera o fôlego, a graça. Perdeu a vida a pobre Isabela. 

Dizem, no linguajar vulgar, que “perder a vida” significa morrer.


Mas não foi bem isso que aconteceu com Isabela. Atenciosos, os anjos sopradores deixaram de lado por alguns instantes as suas trombetas para lhe ajudarem a encher balões. Dois foram suficientes: amarrados aos braços de Isabela, ela, pluma, foi sendo suspensa devagarzinho, numa viagem ascendente e sem lágrimas. 

Chegando lá, os amigos alados tiram-lhe os infláveis e a acomodaram numa fofa nuvem branca, quando pode Isabela descansar, enfim. Ela ouviu um familiar fado, e descobriu, então, que tocam fado no céu. Sob aquele som agradável, sua visão enxergou os balões distanciarem-se sem explodirem, solenes como numa legítima despedida.

para Izabella

Daniel Rodrigues

domingo, 5 de agosto de 2018

Exposição "Loucuras Anunciadas", gravuras de Francisco de Goya - Centro Caixa Cultural - Rio de Janeiro - RJ



Alegoria da entrada da exposição inspirada na
gravura "Modo de Voar"
Estive na exposição "Loucuras Anunciadas", do gênio espanhol Francisco de Goya, no Centro Caixa Cultural, aqui no Rio, que apresenta obras sombrias e obscuras da última fase de sua vida quando, já doente e debilitado, passara a pintar apenas para si mesmo por conta da perseguição que iluministas sofriam na época. A mostra traz 19 gravuras em água forte e tinta repletas de simbologias, significados ocultos e, por isso mesmo abertas a diversas interpretações. Alguns títulos dos trabalhos, os "Disparates" como Goya os chamara, até são bastante sugestivos e indicam alguma ideia ou direção, porém outros tem garantido seu caráter enigmático e intrigante no qual o visitante só conseguirá penetrar se deixar sua mente aberta e receptiva. Em meio a imagens dor, desespero, violência, sexo, consegue-se distinguir uma indignação, um sarcasmo e uma crítica à sociedade como um todo, em especial à igreja e ao governo totalitário, o que acaba tornando-a bastante atual levando-nos a diversas reflexões e criando diversos pontos de contato com situações que vivemos por aqui no nosso país.
Além de apreciar a exposição, o visitante pode ainda vestir algumas réplicas de indumentárias retratadas nas obras e posar para fotos nos cenários montados especialmente para este fim, podendo assim vivenciar a experiência de "fazer parte" das obras. A exposição permanece aberta, aqui no Rio, na Caixa Cultural, até outubro. Vale dar uma passada por lá.


O assustador "Disparate do Medo".
Figura gigante, opressora que aterroriza os homens.

Gravura "A Lealdade".
Em época de inquisição, Goya exalta o homem digno,
aquele que não caía na tentação de acusar outros apenas para reduzir sua pena
(qualquer semelhança com Delação Premiada, é mera coincidência)

O "Disparate da Besta", que traz o subtítulo
Outras leis para o povo.
Aberto à reflexões.

"Disparate Alegre", porque a alegria pode ser um disparate.

O matrimônio na visão inquietante de Goya,

Detalhe do "Disparate Matrimonial",
rostos distorcidos e fisionomias pesadas.

"Os Ensacados". Perturbador!
O homem impotente, sem ação.

Cenas e trechos destacados de alguns quadros
com comentários e interpretações.

O blogueiro em um dos cenários interativos da exposição.



*****

Exposição "Loucuras Anunciadas",
gravuras de Francisco de Goya
local: Caixa Cultural Rio de Janeiro
endereço: Avenida Almirante Barroso, 25 - Centro
duração: até 7 de outubro de 2018
visitação: de terça-feira a domingo, das 10h às 21h

Entrada franca

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

"Ilha dos Cachorros", de Wes Anderson (2018)


Belo, bem escrito, bem dirigido, uma  animação espetacular! O filme é fantástico, Wes Anderson é incrível, “ Ilha dos Cachorros” pode não ser perfeito mas é sublime em todos os aspectos.
Atari Kobayashi é um garoto japonês de 12 anos de idade que mora na cidade de Megasaki sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi. O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de viverem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo, porém o pequeno Atari não aceita se separar de seu cachorro, Spots. Ele então convoca os amigos, rouba um jato em miniatura e parte em busca de seu fiel amigo. E essa aventura vai transformar completamente a vida da cidade.
É uma obra que você tem que assistir completamente dedicado a ela pois necessita muito da sua atenção, uma vez que é fundamentada nos diálogos e detalhes.  Apesar de ser uma animação e ter bichinhos, "Ilha dos Cachorros" não é um filme infantil. Tem seus momentos cômicos mas de um modo geral seu enredo é bastante político, além de um ritmo lento que, certamente não chama atenção das crianças em geral, não é mesmo? (Podemos dizer que nem de alguns adultos).  Portanto, não vá com espírito de ver algo Disney/Pixar, ou Dreamworks.
A nada bela ilha para onde os cães são enviados.
Visualmente falando, o filme é perfeito e logo na primeira cena você já fica impressionado com a perfeição e naturalidade dos movimentos dos bonecos, já que estamos falando de uma obra de stop-motion. A forma como a câmera passeia pelo cenário também chama muito atenção. Temos planos abertos que são obras de artee lembram muito os filmes japoneses de samurais. Temos homenagens a Miyazaki e o estúdio Ghibli, aos animes de Tezuka, e muitas outras  referências a cultura japonesa.
É curioso como ficamos distanciados e não conseguimos ter muita empatia com os personagens humanos, o que é provável que seja proposital pelo fato do elenco de cachorros ser o principal,  o que fez com que nenhum humano me cativasse muito. Já os cães, são magníficos! O trabalho de arte de movimentação, as atuações, o trabalho vocal do grande elenco do filme (Angelica Huston, Bill Murray, Bryan Craston e mais uma galera... até Yoko Ono), e as partes cômicas também ficam por conta do cães que, por sinal, se saem muito bem.
Mesmo envolto numa polêmica de uma suposta apropriação cultural, que no meu ponto de vista é muito mais como uma linda homenagem ao cinema e à cultura japonesa, o longa vem com força e se continuar assim pode ser candidato ao próximo Oscar de animação. Não é uma obra de fácil absorção até pela grande quantidade de referências à arte nipônica, o que exige um certo conhecimento para captá-las, porém a beleza visual, a sutileza do enredo podem te colocar dentro  do filme e prender sua atenção. Mais uma bela obra de Wes, que vem conquistando meu coração a cada novo filme.
O divertido grupo de cães que ajudam o jovem Atari.




Vagner Rodrigues

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Agosto, mês de aniversário do ClyBlog

E entramos no mês de mês de aniversário do ClyBlog! O agosto, tão temido e demonizado por tantos, para nós do blog significa, todo ano, um momento de alegria, e mais ainda neste 2018 por estarmos completando 10 anos. 
Desde janeiro já viemos apresentando postagens especiais em diversas de nossas seções, com convidados trazendo suas grandes contribuições e abrilhantando nosso blog, e em agosto, mês da nossa data especial, não poderia ser diferente: continuaremos tendo uma série de publicações comemorativas ao nosso decênio com amigos que colocarão sua qualidade, experiência, observação a serviço do ClyBlog em diferentes assuntos e áreas. Então, fique ligado. Se os seus agostos costumam ser ruins, pode estar certo que este será diferente.






Cly Reis e Daniel Rodrigues