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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

cotidianas #613 - Pílula Surrealista #32


Quando eu era pequeno, ficava pensando que, um dia, os títulos das novelas da Globo iriam se esgotar. Tantos anos fazendo novelas uma atrás da outra, em vários horários, que o inevitável aconteceria. De tanto usarem todos os títulos possíveis, recorrer a todas as referências literárias, jargões, ditados populares, trocadilhos, traduções, enfim, estes, por decréscimo, extinguir-se-iam. E um dia, um novelista qualquer, ao finalizar as milhares de páginas de uma nova obra, se depararia, faltando-lhe somente aquela última linha a escrever, com um vácuo: “que título posso dar?”. E constataria imediatamente, abismado: “Não tem mais títulos para titular. Todos foram usados!”
Hoje, qualquer um vê que minha suposição da infância não era devaneio. Faltam títulos por todos os lados. Este texto, por exemplo. As próprias novelas, podem notar, não se chamam mais por nada. Basta ligar a tevê e assistir às chamadas durante o intervalo da programação: “dia tal, estreia a ‘nova novela da Globo’: de novelista tal... tela preta.”


Daniel Rodrigues

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