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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

"A Cantada Infalível," seguido de "A Mulher do Centroavante", de David Coimbra, ed. L&PM Pocket (2009)

 




"(...) surgiu um pênalti.
O Eduzão se apresentou para a cobrança.
Ninguém queria que ele batesse, mas ele estava decidido.
Talvez quisesse impressionar a moça... à beira do campo.
Além disso, quem teria coragem de dizer não ao Eduzão?
Ele apanhou a bola e colocou-a na cal. (...)"
trecho do conto "A Mulher do Centroavante I"


David Coimbra, escritor e jornalista falecido recentemente, vítima de um câncer, foi um dos responsáveis por me fazer gostar de escrever contos sobre futebol. Sempre lia suas crônicas na seção de esportes do jornal Zero Hora, em Porto Alegre, e adorava aquelas histórias que misturavam futebol a situações cotidianas de toda ordem como casos amorosos, dificuldades financeiras, questões sociais, antropológicas, filosóficas, etc. Seu livro "A Cantada Infalível", de 2009, que na verdade, ainda inclui contos de outro, "A Mulher do Centroavante", traz exatamente esse universo que me seduziu e inspirou: memórias descontraídas do futebol de bairro da adolescência; garotas inspiradoras para meias habilidosos; seca de gols de atacantes motivadas por corações partidos; goleiros em defesas impossíveis por conta de uma presença  na arquibancada; atacantes velozes; zagueiros truculentos; perebas indesejáveis, bastidores dos grandes clubes, enfim... aquele mundo que frequentei, que fez parte de mim, que vivi e que David descrevia com habilidade ímpar, e um vocabulário que, além de muito rico, era preciso para cada situação que narrava.

Até discordava de opiniões e posições de David no campo político e em seus extremismos inconsequentes no tocante a futebol. Escalações estapafúrdias, esquemas táticos bizarros, providências administrativas inexequíveis, e coisas do tipo, fora o fato de ter confirmado ser ele gremista, depois de seu falecimento. Mas não posso negar que era apaixonado por sua visão romântica do futebol e pela maneira como criava essa conexão dele com as questões emocionais de um homem. Havia, é verdade, acusações de machismo sobre esses textos, por conta dessas referências às mulheres nessas crônicas futebolísticas, que as estariam tratando de forma sexista, inferiorizante ou negativa. Mas vejo a presença feminina nos contos muito mais como uma auto-exposição do que como um exibicionismo. Do homem imaturo tendo que se provar ao bater um pênalti para impressionar a garota; do cara inseguro que acha que a namorada pode gostar mais do craque do time rival porque o outro joga mais do que ele; do que fica meses sem fazer um gol porque está com a cabeça no relacionamento desmoronando; ou, até mesmo, do que tem que bolar uma fórmula tão eficaz para conquistar aquilo que considera tão caro, difícil e inalcançável: uma cantada que fosse infalível.

Embora seja o ponto de vista do homem, não acho que machismo seja uma acusação justa. Mas, enfim... Não posso condicionar o modo dos outros pensarem, nem pretendo isso e, talvez existam razões e particularidades às quais, na condição de homem, desconheça.

Fato é que, para mim, as crônicas de David Coimbra eram esperadas, todos os dias na edição tradicional, mas especialmente no domingo, no Caderno de Esportes, quando normalmente vinham os contos, causos e crônicas ficcionadas que, modestamente, muito me inspiraram e as quais, muitas fazem parte dessa antologia "A Cantada Infalível", que recomendo a todo fã de futebol, especialmente aquele que viveu a infância/adolescência de campinhos de terra, rivalidades de bairro, episódios inusitados, e que já tentou impressionar, de alguma forma, a gatinha da rua.


Cly Reis 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

cotidianas #777- "O futebol brasileiro evocado da Europa"




"Futebol" - Mário Zanini
óleo sobre tela
A bola não é a inimiga
como o touro, numa corrida;
e, embora seja um utensílio
caseiro e que se usa sem risco,
não é o utensílio impessoal,
sempre manso, de gesto usual:
é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho
e que, como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mão.


**********
"O futebol brasileiro evocado da Europa"
João Cabral de Melo Neto


sábado, 5 de novembro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - Campeã

 



Chegou o grande momento.
Conheceremos a grande canção campeã.
Nossos especialistas se debruçaram sobre o confronto, ouviram e reouviram as duas concorrentes e chegaram às suas conclusões.
Querem saber qual a melhor música de Gilberto Gil?
Vamos lá, então!

(Esse suspense é que me mata.)


*****

PALCO 
X
REALCE



*******


Cly Reis

Final muito justa. Duas das canções mais significativas de Gilberto Gil chegam a esse momento máximo da nossa Copa. Dois times que jogam pra cima, duas músicas alto-astral, positivas. "Palco" com sua exaltação ao lugar sagrado do músico, onde ele se sente mais vivo, renovado, e "Realce" uma evocação do nosso poder interior e uma conclamação às belezas da vida.
Dentro do campo, se Palco começa com aquele seu "Papapapabaia, papapa pabaia, papapa papá...", Realce não deixa por menos e manda o seu "Hey-ah mama, hey-ah..."; letra por letra, ambas trazem toda a mestria da poesia de Gil, com seu jogo de palavras inigualável e recado repleto de sabedoria; se Realce tem aquela guitarra marcante, estridente, que já se apresenta logo na abertura, os metais precisos e o refrão muito disco; Palco traz um suingue rico e embalado, também cheio de metais e, por sua vez, uma pegada soul contagiante. O 0x0 persiste mas, o refrão decide o jogo: apesar do ótimo refrão de Realce, do título repetido entre as linhas de metais, o "fora daqui" de Palco é uma das coisas mais fantásticas da música brasileira. 1x0, apertado, no limite, no detalhe, mas o suficiente para despachar Realce. Vitória de Palco.
PALCO 1 x REALCE 0


****

Joana Lessa

O jogo já começa quente, com duas músicas na disputa que são o suprassumo de Gilberto Gil. O clássico dos clássicos. 
E como acontece nas finais de campeonato, que vença o melhor:
PALCO 2 x REALCE 3

****


Leocádia Costa

Final de campeonato é sempre muito disputado, por isso o placar costuma ser taco a taco. Aqui não poderia ser diferente. Duas grandes finalistas foram pra decisão. Ambas muito identificadas com Gil, o maestro genial de toda essa temporada. Mas depois de muita torcida, desclassificações e reviravoltas, chegamos no essencial. Isso foi bonito! A canção vitoriosa foi Palco que traduz Gil por inteiro: essa voz que resgata com dignidade e crítica a história do povo negro, essa voz que eleva os ouvintes quando canta e nos coloca a repetir palavras e refrões supermelodiosos, essa voz que revela um artista completo, atemporal e genial. Palco é o lugar de Gil, é lá onde ele sempre estará, pra fora dos nossos corações.
PALCO 4 x REALCE 3


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Kaká Reis

Final mais que apertada, com duas das mais emblemáticas músicas do gênio Gil, que ambas trazem a essência musical do artista, ainda que de épocas muito parecidas (final de 70/inicio de 80) individualmente cada uma carrega um Gil diferente. Em comum, a celebração e a energia… Dito isso, adversarias no campo, Palco começa o jogo marcando 1 e na sequência Realce empata.. à medida que se passa os minutos da música, Realce marca mais um, dininuindo a diferença… e nos segundos finais, é um “real teor de belezaaa” Realce emplaca o terceiro, sendo a grande vencedora dessa emocionante disputa!
PALCO 1 x REALCE 3


****


Daniel Rodrigues

É chegada a hora da grande decisão! “Realce” e “Palco” entram em campo sob os efusivos aplausos das torcidas. De um lado, a galera de “Realce”, toda colorida e entusiasmada pela Coligay. Do outro, a torcida mais cheirosa do campeonato rufava o louco bum-bum do tambor da arquibancada. O jogo nem parece uma final, pois ambas as equipes são propositivas, afirmativas, sem medo de serem felizes. Tanta igualdade, que 1 x 1 é o placar da primeira etapa. Na volta do intervalo, “Realce”, empurrada pela torcida, que jogou quilos de serpentina no gramado, vai pra cima e marca o segundo. Será que temos uma campeã? Mas, calma, que tem muito jogo – e muita música – pela frente! Consciência é o que não falta para “Palco”, que põe a bola no chão e, no ritmo do “la la ia”, entra na área adversária de pé em pé e empata novamente. Faltam apenas 5 minutos mais os acréscimos para terminar! Será que vamos para os pênaltis? Que nada. Valendo-se do talento de um tal de Lincoln, tipo meio magrão mas muito bom armador, “Palco” tira da cartola aquele que seria o gol definitivo. O gol da vitória. O gol do título. Final: “Palco” 3, “Realce” 2. No palco montado sobre o campo, “Palco” levanta a taça! Sua torcida, em respeito, vibra mas não canta o “Fora daqui!” como fez pras outras adversárias durante o torneio, e a torcida de “Realce” responde com festa em embalo disco, porque a essas alturas tudo é tipo Parada Gay. “Palco” campeã da Copa Gil!
PALCO 3 x REALCE 2


****


Rodrigo Dutra

Como não amar “Realce”? A campeã poderia ser qualquer uma de “Refazenda”, qualquer uma de “Tropicália”, poderia ser “Domingo no Parque”, qualquer releitura de João, de Bob, qualquer parceria com Caetano... mas o fato é que “Realce” é a beleza em si. “Palco” é a beleza no todo. A razão por Gil estar em nossas vidas. Onde tudo faz sentido pra criador e criaturas. “Palco” ganha com eficiência. Tem o melhor elenco de palavras e versos. Viva Gil! Viva “Palco”!
PALCO 2 x REALCE 0



E Palco conquista a Copa do Mundo Gilberto Gil!
E agora, o próprio homenageado sobe ao PALCO para receber
a taça.
Pode soltar o grito de É CAMPEÃ!!!



PALCO CAMPEÃ
DA 
COPA DO MUNDO
GILBERTO GIL




E ficamos com o som da campeã:


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

"Trono Manchado de Sangue", de Akira Kurosawa (1957) vs. "Macbeth", de Roman Polanski (1971)


Tá, agora acabou a palhaçada!

Se era jogo grande que vocês queriam, é jogo grande que vocês ganharam. O maior diretor japonês de todos os tempos, Akira Kurosawa, contra o melhor diretor polonês (nascido na França) Roman Polanski, adaptando uma das mais famosas peças do maior escritor inglês e um dos maiores da literatura mundial, William Shakespeare.

Japão e Polônia pode não ser grande clássico dentro dos gramados, mas no set de filmagem é duelo de gigantes. Aliás, nesse caso, é Japão versus Inglaterra, uma vez que a adaptação de Roman Polanski para "Macbeth", é uma produção britânica.

Na tragédia "Macbeth", o nobre que dá nome à peça, acompanhado por seu amigo Banquo, ao retornar com improvável êxito de uma batalha dificílima, tem previsto por três bruxas, ocultas na floresta a caminho do castelo, que, primeiramente, será promovido em suas funções militares e posteriormente, virá a tornar-se rei. No entanto, as mesmas feiticeiras preveem que o parceiro, Banquo, embora não venha a reinar, terá um soberano na sua linhagem. A predição desencadeia, além de uma enorme confusão mental em Macbeth, uma série de acontecimentos perversos como o assassinato do rei Duncan a fim de cumprir a profecia o quanto antes, e a morte do próprio amigo e de seu filho, de modo a evitar que a segunda parte da previsão se concretizasse, atos incitados por sua ambiciosa esposa, Lady Macbeth. Parte do plano dá errado uma vez que o filho de Banquo sobrevive ao ataque, fazendo com que Macbeth fique um tanto acuado e temeroso quanto à longevidade de seu reinado. Enquanto isso, no exílio, Malcolm, o filho do rei assassinado e que pretende retornar para retomar a coroa, sua por direito, planeja um ataque ao castelo e ganha cada vez mais força conquistando até mesmo os próprios súditos de Macbeth que começam a vê-lo enfraquecido e desequilibrado.

No entanto, Macbeth não teme ser derrotado pois, em nova consulta às feiticeiras, estas lhe revelam que ele só perderia seu trono caso a floresta andasse em direção ao castelo e que só seria subjugado por um homem que não tivesse vindo ao mundo por uma mulher. Nenhuma chance, não? Bom... não exatamente...


"Trono Manchado de Sangue" (1957) - trailer



"Macbeth" (1971) - trailer


O franco-polonês Roman Polanski, faz um filme pesado, duro, sujo, violento. Os personagens são frios, brutos, podres, a fotografia, se por um lado têm as belas paisagens escocesas em ângulos abertos, traz cenários realistas, enlameados, com porcos transitando, higienes duvidosas e vestes reais imundas. Mais fiel ao livro que Kurosawa, Polanski se utiliza de alguns pontos, de alguns detalhes, de certos elementos e cria praticamente um filme de terror: o covil das bruxas, a beberagem que oferecem para Macbeth e sua consequente alucinação, a aparição de Banquo no jantar, a brutalidade das mortes, o vermelho intenso do sangue, a aparência dos cadáveres, e a decapitação do tirano no final, tudo é próximo ao aterrorizante. Espetacular! Uma adaptação à altura da obra do grande dramaturgo inglês.

Bom, alguém diria, "Não tem como ganhar de um filme desse!".

Tem?

Tem!

O grande problema é que o Macbeth de Polanski pegou pela frente a adaptação de outro gênio.

O filme de Akira Kurosawa é uma obra de arte.

Eu disse OBRA DE ARTE!

"Trono Manchado de Sangue" é como um drible do Garrincha, o gol antológico do Maradona em 86, a magia da Laranja Mecânica, como a Seleção de 70...

O japonês dá o meio termo exato entre a agressividade que o tema exige e a leveza, com sua poesia estética.

Mesmo sem o privilégio do uso da cor, a fotografia de Kurosawa é fascinante e misteriosa; a transposição da história para o Império Japonês é conduzida com brilhantismo sem perda nenhuma à trama; os trajes militares, os castelos, as batalhas, as cerimônias, tudo funciona perfeitamente dentro da cultura e das tradições orientais. O fato de não vermos a morte do rei a torna, talvez, mais chocante tal o estado que Washizu, o Macbeth de Kurosawa, sai do quarto onde o soberano dormia; a interpretação do lendário Toshiro Mifune, no papel do protagonista é impecável; sua Lady Macbeth, Asaji, é impressionante com sua expressão impassível mesmo prestes à pior crueldade; a bruxa na floresta é um encanto visual ímpar; e a morte de Washizo é, à sua maneira, tão impressionante quanto à de Macbeth no filme inglês.

A versão japonesa tem algumas diferenças em relação aos originais de Shakespeare. Kurosawa, por exemplo, só se vale de uma feiticeira e não três como no livro, à qual ele prefere chamar de 'espírito' e não bruxa; faz também com que o filho de Banquo, no caso Miki, já seja um adolescente e não uma criança e, exilado, se junte ao filho do rei assassinado, em uma localidade vizinha, para tramar a reconquista do Castelo. Além disso, prefere omitir a questão do homem não nascido de mulher para a vulnerabilidade de Washizo (Macbeth) e, ao contrário de Polanski, não antecipa a intenção dos soldados marcharem camuflados com galhos, causando uma sensação de surpresa e fantasia no espectador ao ver se realizar a profecia da floresta andando em direção ao castelo.

A cena inicial da floresta, em Kurosawa é mágica com Washizu e Miki correndo labirinticamente em círculos pela Floresta da Teia de Aranha (1x0); o 'espírito', a entidade de Kurosawa é bela, poética; as bruxas de Polanski são assustadoras e repugnantes... Ninguém leva vantagem. A Lady Macbeth japonesa, Asaji, é assustadora com seu rosto de porcelana, impassível mesmo enquanto incita, ao manipulável marido, as mais frívolas ações. A da versão inglesa é boa, 'intriguenta', como não poderia deixar de ser, mas nem se compara à japonesa. 2x0, Kurosawa.

O Macbeth de Kurosawa também leva alguma vantagem. John Finch, no filme inglês está ótimo também, mas o perfil do personagem nipônico é mais interessante. Washizu é mais inseguro, hesitante, muito mais dependente dos conselhos e estímulos de sua esposa do que o da segunda versão, mais tiranicamente determinado. Sem falar que é interpretado, por ninguém menos que Toshiro Mifune. Só isso... Gol de "Trono Manchado de Sangue": 3x1!

A direção de arte do filme de 1957 funciona muito bem num Japão feudal mesmo pra uma história idealizada, originalmente para o ocidente, no entanto, o realismo imposto por Polanski, nos cenários enlameados, nos palácios toscos e nada glamurosos, ou nos figurinos finos, mas comprometidos pela lama, por lutas ou por sangue, dá um gol para o filme de 1971. "Macbeth" '71, diminui: 3x1, no placar.

Talvez seja spoiler para alguns mas nosso personagem principal que dá nome ao drama, morre no final (Ohhhh!!!) Só que de maneiras "levemente" diferentes de uma versão cinematográfica para a outra (e aí vai spoiler, mesmo): Se na versão japonesa, o tirano usurpador morre alvejado por flechas, com uma delas atravessando, por fim, fatalmente, seu pescoço; na inglesa, depois de descobrir a existência de alguém com a improvável qualificação de não  ter nascido de mulher, fica totalmente à  mercê do vingativo McDuff que o atravessa com a espada, decepa sua cabeça e a expõe no alto de uma lança no ponto mais alto do castelo recém retomado. A cena das flechas é linda, espetacular, mas a cabeça sendo levada ao alto da torre, por entre os soldados, como se estivesse ainda vendo toda a fanfarra à sua volta, e a exibição dela como troféu de guerra, é algo difícil de bater. Macbeth volta a se aproximar no placar: 3x2!

Ainda nesse ínterim, como já havia mencionado acima, Kurosawa prefere ignorar para sua adaptação, a particularidade que derrotaria o rei traidor, ao passo que Polanski faz disso ponto crucial em sua derrocada. Seria o empate do franco-polonês se Kurosawa não tivesse feito dessa supressão um contra-ataque, pois a sequência da floresta caminhando em direção ao castelo, compensa a ausência desse item, sendo o momento decisivo do filme do japonês. Lindo, hipnótico, surreal, o avanço ameaçador da floresta, em "Trono Manchado de Sangue" é uma das cenas mais incríveis do cinema. Os galhos semiocultos entre a névoa dão, inicialmente, uma sensação mágica quase convencendo o espectador que, por algum motivo, sobrenatural, uma alucinação do nobre ameaçado, uma reinterpretação do diretor, ela pudesse realmente estar avançando em direção ao cruel tirano. Golaaaaçoooo!!!

"Trono Manchado de Sangue" ganha no detalhe, na qualidade técnica, mas a sensação que fica é que o placar poderia ser um pouco mais tranquilo se Kurosawa tivesse o "reforço" do uso da cor. Veja-se o que ele fez em "Ran", adaptação de "King Lear", outra de Shakespeare, por exemplo... Dá pra dizer que ganhou desfalcado. 


Jogo de estratégia, dois times que atacam o tempo todo e querem a vitória custe o que custar.
O time de Polanski com um jogo mais bruto, mais violento, e o de Kurosawa com um futebol mais técnico e vistoso.
Os japoneses levam essa, mas quem ganha nessa batalha somos nós.


No alto, Washizu (à esq.) e Macbeth (dir.), com seus convivas, cada um em seu respectivo palácio;
na segunda linha as esposas, Asaji e Lady Macbeth, envenenando as mesntes de seus maridos;
na sequência, a entidade de Kurosawa, que faz as revelações a Washizu, na floresta, e, à direita, 
o covil de bruxas idealizado por Roman Polanski; e
por fim, Taketori Washizu crivado, com uma flecha atravessada no pescoço,
 e a cabeça de Macbeth, separada do corpo, nas escadas do próprio castelo.








Cly Reis



terça-feira, 1 de novembro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados para a final




Quatro grandes músicas!
Apenas duas delas chegarão final e somente uma delas será consagrada a Melhor Música de Gilberto Gil.

A contundente Haiti, música do disco de parceria com Caetano Veloso, comemorativo dos 25 anos da Tropicália, teve pela frente a emblemática Palco, uma das canções mais marcantes e adoradas da carreira de Gil. Na outra ponta, a poderosa canção Super-Homem, letra sensível e inspirada, encara a radiante, festiva, positiva, Realce.
E agora, gente? 
Nossos seis comentaristas-jurados-técnicos-especialistas-gilbertogilólogos, encararam a dificílima tarefa de escolher as 2 classificadas para a final, as que, agora, apresentamos para vocês. 
Será que são as mesmos que você classificaria?

Dá uma olhada:


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HAITI 

PALCO



resultado de Leocádia Costa

Jogo bem difícil, meus amigos! "Haiti" entra em jogo com muita força, porque tem em si, letra e música, muito importantes e faz parte das canções de Gil que tocam no fundo da alma da gente. Ancestralidade pulsando. Porém, "Palco" é uma canção que se pudesse ser vestida, com certeza, seria Gil totalmente dos pés à cabeça. Vibrante, crítica, cheia de poesia, espiritualidade faz parte do meu repertório desde 1981. Não consigo pensar "Palco" na voz de outra pessoa e palco é o lugar onde Gil arrasa! Placar final, de goleada, 4X1 para Palco.
HAITI 1 x 4 PALCO

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resultado de Cly Reis

Mal começa o jogo e Haiti já sai tomando um gol pelo fato de, para meus critérios, não ser uma música da obra exclusiva de Gil. Baita música, coisa e tal mas é GIL E CAETANO. Quando tiver a Copa Gil e Caetano, ela pode ganhar, mas na Copa Gilberto Gil, ela está fora. 1x0 para Palco que, além disso tem muitos méritos e é uma das melhores músicas da discografia do baiano imortal. 
HAITI 0 x 1 PALCO

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resultado de Kaká Reis

Bem, minha batalha certamente é das mais decisivas. Haiti sempre favorita ao título enfrenta o sucesso absoluto Palco.
Nos 15 primeiros minutos ja estamos em 1x1, os versos e a crítica social de Haiti aumentam a vantagem, e logo em seguida, Palco marca mais um por ser quase um hino às mazelas de todos os tempos “o inferno, fora daqui!!!!”.
Nos minutos finais, prorrogação, Haiti marca seu desempate, por carregar consigo tanta genialidade, batuques do nosso povo e por ser uma das músicas mais importantes historicamente para a minha pessoa.
É, Palco… vc é e foi fundamental nessa discografia, mas hoje, quem vai pra final é
HAITI 3 x 2 PALCO


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SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) 
REALCE



resultado de Joana Lessa

Uma semifinal com cheiro de final: Super Homem e Realce entram em campo como grandes campeões. 
Mas a tradição se impõe e o espírito que cristaliza o estilo de jogo do Gil, faz Realce ganhar por 1x0.
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE 

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resultado de Rodrigo Dutra
 
Foi muito difícil. A lindeza da melodia e a inspiração fílmica resultando na fragilidade e no lado feminino do homem, na harmonia entre casais. Mas não foi o suficiente pra derrotar a própria ode à beleza que é o disco/funk Realce. Dessa vez o Super Homem não vai mudar o curso da História. Está eliminado.
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE


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resultado de Daniel Rodrigues

Daqueles clássicos de times do mesmo disco. E numa semifinal! Me segura! De um lado, “Super-Homem- A Canção”, de uniforme azul e vermelho e escudo com o “S” em fundo amarelo. Um babado! Do outro, “Realce” com sua camiseta multitons nas cores do arco-íris combinando a mesma estampa na camiseta, no short e nas meias (e mais umas purpurinas pelos por cima, porque quem vai pro jogo tem que ir montada, né, bicha?). Pode-se dizer que é o clássico que saiu do armário para o campo. Nessa igualdade de canções tão sensíveis quanto fortes, “Super-Homem” pede ajuda da porção mulher, resguardada até certa altura da partida pelo técnico, o que foi um erro estratégico tremendo diante da adversária. Atrevida, sem dever nada e sem medo de cara feia, “Realce” entra dançando na área estilo Dancin’ Days e marca aquele que foi o gol da vitória. Vitória de quem, de forma empodeirada, mudou o curso da história sem precisar de superpoderes. “Realce” lacrou!
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE


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FINALISTAS
REALCE
PALCO



Nossos julgadores irão analisar o confronto, cada um dos times, seus méritos, virtudes, possibilidades, pontos fracos e fortes e decidirão quem leva o caneco. 
Fique ligado que, no sábado, dia 05 de novembro, sai o campeão.




quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - semifinais

 




Dois jogos para definir a finalíssima.

(Ah! Agora é a hora do vamos ver!!!)

Quatro grandes canções e apenas duas delas chegarão à decisão.

Quem passa?

Nessa fase, a decisão se dará por maioria e não por decisão individual, afinal, é muita responsabilidade para uma pessoa só decidir o futuro dessa Copa do Mundo. 

Um jogo para cada três dos nossos julgadores e teremos a definição.


Conheçam, abaixo, os confrontos das semifinais e façam suas apostas.



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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados para as semifinais


 Momentos decisivos, senhoras e senhores!

Apenas quatro passam nessa fase e a hora da decisão se aproxima.

Surpresas? A essas alturas não se pode dizer que algum resultado tenha sido surpreendente nessas quartas-de-final, com tantas boas concorrentes. Só musicão! No entanto, não dá pra ignorar que uma potencial (forte) favorita ao título ficou pelo caminho: "Palco" deu um abraço de despedida em "Aquele Abraço" e mandou o samba exaltação ao Rio de Janeiro fazer as malas e tomar o caminho do Galeão. 

Uau! Por essa muita gente não esperava, hein!

Será que teve alguma outra "zebra"? 

Vamos ver então como foram os enfrentamentos das quartas e quais as quatro que avançam para as semifinais da Copa do Mundo Gilberto Gil:



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resultado de Daniel Rodrigues

PANIS ET CIRCENCES 1 x 2 SUPER-HOMEM (A CANÇÃO)
Duas equipes que cadenciam o jogo. "Panis" tenta surpreender com algumas quebras de ritmo, buscando os atalhos, fazendo ataques num tempo diferente do comum. Na manha, porém nunca óbvia. Já "Super-Homem" é pura harmonia em campo. O respeito mútuo e o equilíbrio das camisetas faz a partida ir igual pro intervalo. "Panis", no entanto, é afiada, e quando parece que perdeu a rotação, ressurge e acelera alucinadamente o ritmo, tirando o zero do placar. Só que, inconstante, assim como põe toda a velocidade, também para de repente. E parar de repente tendo "Super-Homem" do outro lado é pedir pra se ocupar em morrer. Na sua melodiosidade, ela vai lá e empata e, novamente, se valendo daquele trunfo do: "por causa da mulheeer!", que faz arrepiar a torcida, põe a segunda na rede no finalzinho, mudando como um deus o curso da história da partida. Final: 2 x 1 para Super-Homem (A Canção) sobre Panis et Circences.

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resultado de Leocádia Costa

HAITI 4 x 0 CÁLICE

Jogo ganho de saída, confiança em alto estilo! Goleada! "Haiti" 4 x 0 "Cálice". Cresci escutando "Cálice" e sempre foi emocionante, tanto na voz de Gil quanto na voz de outros intérpretes como Chico e Milton. Porém, quando escutei pela primeira vez "Haiti" que abre o disco "Tropicália 2" (aliás, CD que de tanto escutá-lo furei, como se diz!) fiquei paralisada e totalmente imersa na história cadenciada e cheia de vozes que essa canção traz. Um hino de resistência que se mistura com a história dos negros reverberando até hoje, com imensa atualidade.


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resultado de Rodrigo Dutra

PALCO 3 x 0 AQUELE ABRAÇO
O Palco de Gil é a razão de seu encanto, de sua música, de ser em si o cantor, o intérprete. É onde a gente acha seu fogo eterno, sua chama musical, seu sacerdócio, sua missão, cheio das raízes africanas e mandando um fora daqui aos seus algozes da ditadura. Aquele abraço pro “Aquele abraço”!


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resultado de Cly Reis

ESOTÉRICO 0 x 2 REALCE
Adoro Esotérico, é uma das canções mais gostosas de Gil, mas mesmo todas as suas qualidades não foram o suficiente para segurar o alto astral contagiante de Realce. E a torcida comemora com uma chuva de serpentinas. 2 x 0, Realce.


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CLASSIFICADAS PARA AS SEMIFINAIS
Super-Homem (A Canção)
Haiti
Palco
Realce



Aqui não tem sorteio dirigido para coisa não ficar previsível.
Teremos novo sorteio para a definição das semifinais
e, é claro, você saberá quais são, aqui no ClyBlog.
Aguarde, aguarde...

sábado, 22 de outubro de 2022

A Defesa do Século

 



"A Defesa do Século" - REIS, Cly
ilustração digital do lance da defesa de Gordon Banks, na cabeçada de Pelé,
na Copa do Mundo de 1970
(A intervenção de Banks é conhecida como "A defesa do século XX")


Veja o lance:

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Copa o Mundo Gilberto Gil - Quartas-de-Final

Sorteados os confrontos!

Agora são apenas quatro jogos.

E, é lógico, com tão poucos sobreviventes, só restou coisa de primeira. E, se só tem coisa de alta qualidade, os jogaços são inevitáveis. Aqueles confrontos em que dá dó eliminar uma. Mas... fazer o quê? essa é a nossa difícil tarefa aqui.

Campeonato de mata-mata é assim.

Confira abaixo como ficaram os confrontos das quartas-de-final.







segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - resultados das oitavas-de-final



C
hegamos à reta final.
Oito jogos, dezesseis times (ou canções).
Só restarão oito...
Não adianta chorar que a sua favorita saiu, que foi eliminada, porque, daqui pra frente, muita coisa boa vai ficar pelo caminho, mesmo.
Por exemplo, nessa fase coisas mágicas como "Andar com fé", "Expresso 2222", "Sítio..." e "Refazenda" dançaram e foram mais cedo pra casa.
Puxa, hein!
Se essas saíram, o que restou?
Ora, restaram nada mais nada menos do que 'Palco', 'Realce', 'Aquele Abraço'...
Podem ficar tranquilos. Teremos ótimos representantes da obra do Imortal Gilberto Gil na final.



Confere, aí embaixo, os enfrentamentos das oitavas e os classificados para as quartas-de-final:



***


resultado de Rodrigo Dutra

ZUMBI, A FELICIDADE GUERREIRA 0x1 AQUELE ABRAÇO 
Com dó no coração, nos despedimos de “Zumbi” mandando “Aquele Abraço” ao herói guerreiro. O reggae oitentista não consegue superar o sambinha clássico do exílio forçado de Gil. Agora até o final só começo "com dó no coração".


***

resultado de Leocádia Costa

ANDAR COM FÉ 3 x 3 REALCE (5x6 nos pênaltis)
Com direito a prorrogação e decisão nos pênaltis. Baita jogo, que colocou duas grandes canções do Gil em campo. Sabe aquele jogo que você torce até o minuto final pelas duas seleções? É isso, segura coração! Mas dessa vez, “Realce” jogou purpurina em “Andar com fé” e ganhou esse jogo nos pênaltis, com placar final de 5x6.


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resultado de Kaká Reis

BACK IN BAHIA 1 x HAITI 2
Oitavas de Final e cada vez mais apertado, não dá nem pra imaginar como vai ser essa final!
Back in Bahia versus Haiti e o puro suco de Gilberto Gil.
Haiti abre o placar da memória afetiva e com sua letra altamente politizada e de impacto. Back in Bahia logo empata, afinal, talvez um dos clássicos mais classicos da discografia. O jogo segue empatado até o final quando, inesperadamente, Haiti marca um gol de escanteio aos 47:05 vencendo a partida por 2x1.


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resultado de Joana Lessa

EXPRESSO 2222 2 x PANIS ET CIRCENCES 3
Panis et circense inaugura um estilo de jogo bonito, diferente. Expresso vem muito bem, mas é surpreendido e o resultado final da partida é Expresso 2 x Panis 3.


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resultados de Daniel Rodrigues

CÁLICE 4 x 2 O SOM DA PESSOA
Os comentaristas que viram as escalações antes do confronto eram unânimes que “Cálice”, um clássico absoluto de Gil, iria passar com facilidade. Mas no futebol, ou na música, as coisas se resolvem mesmo quando começa a rodar a bola – ou o toca-discos. “O Som da Pessoa”, com time reforçado com um competente Bené Fontelles no meio-campo, começou fazendo frente para “Cálice”. Com seu jogo pragmático – a primeira pessoa na defesa, a segunda no meio e a terceira no ataque –, foi lá e fez no começo da partida um gol meio feio, no bate-e-rebate. Mas como qualquer bola na rede soa bem, o que importa é que saiu ganhando. E logo em seguida ampliou! Final do primeiro tempo: 2 x 0 para “O Som da Pessoa”! Será que vamos ter uma zebra nas oitavas da Copa Gil?! Sem se apavorar, no entanto, “Cálice” fez valer o peso de sua camiseta e de time aguerrido, rebelde, que não se abateu nem com a desclassificação no tapetão no Phono 73. Contanto não só com aquele atacante goleador contratado junto ao Politheama, o Chico, mas também com a impetuosidade do próprio Gil, “Cálice” empata. Daí, mais pro fim da partida, manda uma saraivada pra cima da adversária, com bola vindo de tudo que é lado naquela parte que a música vira pra um rock meio fora do tempo quando põe em campo Magro, Rui, Miltinho e Aquiles da MPB-4. Então, vira: 3 x. 2. O gol de misericórdia vem com lances de crueldade: o técnico tira da manga outro “às” do banco, um cara vindo de um clube de Belo Horizonte, o Clube da Esquina, chamado Milton. É muito recurso que tem esse time, hein? É ele quem mete o 4º e fecha a conta: 4 x 2 para “Cálice” numa virada emocionante. E em respeito ao adversário, que fez um confronto de alto nível, a torcida nem disse “Cale-se!” desta vez pra adversária.

PALCO 2 x 0 SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO
Como todos os confrontos dessa fase, é só time de respeito se enfrentando. Mas mesmo com toda a tradição de “Sítio do Pica Pau Amarelo”, time popular, que até as crianças gostam de ver jogar, tem horas que não dá pra segurar. A adversária é daquelas que sabem de sua grandiosidade e já sobe neste palco que é o gramado com a alma cheirando a talco, com a alma clara e um futebol alegre, inspirado no futebol africano (só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor). “Palco” naturalmente impõe seu estilo leve e gingado e faz um gol e cada tempo. “Sítio” ainda tentou das suas artimanhas mágicas, às vezes escondendo a bola e tentando levar ela invisível pra dentro da goleira, mas o juiz anulou o gol e fechou assim: 2 x 0 para “Palco”, que está classificada. Nessa, a torcida de “Palco” não perdoou e lançou o seu já tradicional grito para a o time adversário: “Fora daqui!”.


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resultados de Cly Reis

FILHOS DE GANDHI 0 x 2 ESOTÉRICO 
Adoro Filhos de Gandhi! É uma das minhas favoritas da música brasileira. No entanto, pra mim, é música de parceria. 'Esotérico' é marcante na discografia do Gil, 'Filhos...' é marcante na colaboração com Jorge Benjor, posteriormente com Caetano ou em outros registros ao vivo. Vitória garantida para 'Esotérico'. 

SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) 2 x 1 REFAZENDA 
Aí sim a coisa ficou séria! Duas das melhores canções de Gil. 'Super-Homem' sai na frente pelo conjunto letra-melodia-inspiração, mas 'Refazenda' não se ressente por isso e compensa com seu arranjo exuberante e reflexão sobre o tempo, empatando logo em seguida. A consistência de 'Refazenda' parece pressionar 'Super-Homem', o gol parece estar amadurecendo, parece que é só questão de tempo, até que, numa jogada em velocidade, o atacante do time de Crypton dá um drible de raio-X no defensor do escrete rural, definindo a partida! Mais uma das grandes fica pelo caminho, mas aqui não tinha jeito. Alguém teria que cair.


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CLASSIFICADOS PARA AS QUARTAS-DE-FINAL
Aquele Abraço
Realce
Palco
Haiti
Esotérico
Super-Homem (A Canção)
Cálice
Panis et Circences





domingo, 16 de outubro de 2022

cotidianas #774 - Bola de Futebol Vermelha





Eu não sou nenhuma bola de futebol vermelha
Para ser chutado pelo jardim,
Não, não.
Eu sou uma bola vermelha de árvore de Natal,
E eu sou frágil.

Eu não sou nenhum animal,
Embora eu seja para você.
eu não sou nenhum crocodilo
Como o do zoológico de Dublin
Que viveu em uma gaiola de comprimento e largura de seu corpo,
Com uma janela pela qual as pessoas podiam olhar,
E jogue moedas em suas costas para provocá-lo,
Embora ele não pudesse se mover,
Mesmo que ele quisesse.
Eu não sou nenhum animal no zoológico.
Eu não sou nenhum garoto de chicote para você.
Você pode não me tratar como você faz


Eu não sou nenhum animal no zoológico.
Minha pele não é uma bola de futebol para você.
Minha cabeça não é uma bola de futebol para você.
Meu corpo não é uma bola de futebol para você.
Meu útero não é uma bola de futebol para você.
Meu coração não é uma bola de futebol para você.

Eu não sou nenhum animal no zoológico
Este animal vai pular e comer você.
Eu não sou nenhum animal no zoológico.
E eu tenho toda intenção
De pular e te pegar

*******************

"Red Football"
(Sinéad O'Connor)

Ouça:

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - Oitavas-de-Final



Restaram apenas dezesseis.
Justo ou não, ei-las aqui.
Algumas gigantes já deram adeus, é verdade, mas, por outro lado, só restaram potências da discografia do baiano.
Destaque para alguns confrontos explosivos nessa rodada: 'Sítio...' contra 'Palco', 'Panis...' enfrentando 'Expresso 2222', e, talvez o maior embate desta fase, ' a destruidora 'Refazenda', que vem eliminando adversários difíceis como 'Pai e Mãe' e 'Drão', encara a poderosa 'Super-Homem', que vem com fama de indestrutível. será que vai ter cryptonita o suficiente?
Queremos saber...

Assim que nosso corpo de super-técnicos encarar os confrontos e informar seus vencedores, traremos os classificados aqui no ClyBlog.  

Confira abaixo, todos os jogos das oitavas-de-final:





segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados da terceira fase





Quem disse que seria fácil?
É, quando se trata de música do Gil, contra música do Gil, muitas vezes fica quase impossível decidir qual a melhor.
Mas essa é nossa tarefa aqui e a fase de dezesseis avos-de-final foi torturante para fás como nós.
Ter que eliminar Domingo no Parque, Raça Humana, Tempo Rei, Drão... Pois é, caros clybloguianos, essas são algumas das grandes que ficaram pelo caminho nesta fase.
"Mas como???", pode questionar alguém, indignado.
Calma, calma e veja abaixo a justificativa dos nossos treinadores.
(O que não significa que você vá concordar com ela)


Seguem, abaixo, todos os jogos e os classificados para as oitavas-de-finais:

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resultados de Joana Lessa

PANIS ET CIRCENCES 1 x 0 AMARRA O TEU ARADO A UMA ESTRELA
Pela importância histórica, Panis et Circense leva de Amarra O Teu Arado A Uma Estrela num resultado simples, 1x0

FILHOS DE GANDHI 5 x 3 DOMINGO NO PARQUE
Jogo que deveria ser empate por conta da qualidade das equipes, Filhos de Gandhi leva o clássico contra Domingo no Parque por 5x3

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resultados de Kaká Reis

REALCE 2 x 1 ILÊ AYÊ
Começando a disputa com uma das mais icônicas músicas de Gil, Realce x um hino da Senzala do Barro Preto, o bloco que leva o nome da música: Ilê Ayie (Ayê). Disputa acirradíssima não fosse o fato da composição de Ilê Ayê ser de Paulinho Camafeu, fazendo com que Realce ganhe esse jogo por 2x1.
Fim de jogo e Realce permanece!

THREE LITTLE BIRDS 0 x 2 ZUMBI, A FELICIDADE GUERREIRA
Mais uma vez, a composição do gênio vai vencer essa disputa! Bob Marley x Gilberto Gil e Wally Salomão… é 0x2 pra Zumbi! que segue na disputa!

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resultados de Daniel Rodrigues

TEMPO REI 0 X 1 SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO
Para terem chegado a esta fase, é claro que se trata de dois clássicos do repertório de Gil. Confronto muito parelho este. De um lado, “Tempo Rei”, com sua maturidade e pensamento claro com a pegada elevada do seu autor; do outro, a poética do universo lobatiano que tanto marcou gerações na TV. Difícil, mas quem tira do zero o certame é “Sítio...”. Cheia de encantos, ela fez uma jogada tão mágica que surpreendeu seu adversário, que, quando viu, a bola já estava dentro do gol. “Pode isso, Arnaldo?” A jogada foi pro VAR e o juiz de vídeo não detectou nada, então ficou valendo a decisão de campo mesmo. Final: “Sítio do Pica-pau Amarelo” 1 x 0 sobre “Tempo Rei”

MARACATU ATÔMICO 1 X 2 HAITI
Outro jogo pegado. No ritmo nordestino, “Maracatu...”, do alto de seu prestígio de clássico, mal começa o jogo e já marca o seu. Enquanto isso, “Haiti” mantém seu estilo lento mas contundente, que mantém o mesmo ritmo em praticamente todo o andamento, mas sempre sendo perigoso, ousado. Até que, de tanto envolver o adversário com seus versos misto de rap e repente, “Haiti” empata. Lembram do bordão da torcida organizada de “Haiti”, né? “O Haiti é aqui!” Pois embalado pelas arquibancadas e sem medo do enfrentamento, a parceira Gil/Caetano põe de novo na rede para se consagrar vencedora. Vitória apertada de 2 x 1,

ORIENTE 0 X 1 BACK IN BAHIA
O clássico “Oriente-Ocidente” é um verdadeiro jogo de extremos. As músicas coirmãs formam, grosso modo, começo e fim de “Expresso 2222”. “Back...” com um brit-rock empolgante, daqueles que partem pra cima já de cara sem deixar o adversário respirar. Já “Oriente”, voz e violão, é dona de um futebol mais cadenciado, mas cheio de surpresas em seu arranjo/esquema intrincadíssimo, quase intransponível. Mas pra “Back...” não tem time invencível. Depois de uma bola dividida pra lá e pra cá, e é ela que, num rebote, quase ao final da partida, quando já se imaginava que a igualdade no placar iria se manter, que põe pra dentro. Na comemoração, o goleador ainda tira uma onda com a adversária: “Se oriente, rapaz!”


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resultados de Leocádia Costa

VITRINES 1x 4 CÁLICE
Essa versão violão e voz de Gil para a composição feita com Chico é linda! Escutei essa canção desde sempre, daquelas que emocionava por toda a sua crítica e representatividade. A versão ao vivo, na USP, no ano que eu nasci, onde a galera pede bis e Gil pede a letra ganhou de goleada do adversário, que entrou bem no clima mais rock e distorção, mas perdeu no quesito, pra história!

REFAZENDA 3 x 2 DRÃO
A vitoriosa tem tudo aquilo que Gil domina: letra, música, violão, ritmo, fala e os “ááááááás”! O arranjo harmonizado com cordas amplia ainda mais a canção na versão original. “Refazenda” é um alerta importante de renovação constante. Amo! Porém, “Drão” é uma música que traz o coração, a amizade e a forma poética de Gil e Donato. Difícil, mas ao final “Refazenda” leva!

AQUELE ABRAÇO 3 x 2 BARATO TOTAL
A Copa é do Gil, né? Essa canção, “Aquele Abraço”, é ele, sempre! É que nem um time entrar em campo sem a sua lenda, sabe? Faz falta! E a versão de “Barato Total” é eterna na voz de Gal. Por isso o jogo foi se complicando e chegou na vitória para o hino “Aquele Abraço”, que fazia o Chacrinha balançar a pança, nas tardes de sábado e embalou a minha caminhada inicial musical da primeira infância até os dias de hoje.


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resultados de Rodrigo Dutra

PALCO 2x1 SÃO JOÃO XANGÔ MENINO
Xangô Menino entrou em campo querendo festa e puxava o coro “Viva São João, Viva Refazenda”, mas distraído pela pouca idade, foi vencido no “Palco” pelo ritmo dançante do hit oitentista. Foi eliminado cantando e comendo milho verde.

ESOTÉRICO 1x0 MARGINÁLIA II
“Marginália II”, Aqui é o fim da Copa do Mundo, óóóó. O reggae de “Esotérico” (e outras versões, como a linda acústica da turnê dos 50 anos) são lindas demais, mas o placar foi apertado.

SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) 0x0 TODAMENINA BAIANA (4x1 nos pênaltis)
Caetano viu o filme dos anos 70 e saiu entusiasmado contando pro Gil, que fez essa ode às mulheres, uma vibe homem feminino, linda linda, como toda menina baiana. Jogo parelho no tempo normal, mas nem toda menina baiana sabe cobrar pênaltis (inventei desculpa porque com dor no coração elimino essa lindeza de música).


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resultados de Cly Reis

O SOM DA PESSOA 2 x 1 FLORA
Jogo dificílimo! Grandes músicas, cada uma com seus méritos diferentes. Passa 'O Som da Pessoa' pela concisão, pela poesia concreta. Mas foi ali, ali...

ANDAR COM FÉ  6 x 0 KAYA N'GAN DAYA
'Kaya N'Gan Daya' já entra em campo perdendo. Mesmo com os méritos pela releitura, 'Kaya' é do Marley. Sem chance. 

RAÇA HUMANA 0 x 1 EXPRESSO 2222
Putaparil!!! Esse confronto é pegado!!! Toda a poesia filosófica de 'Raça Humana', contra toda a riqueza e vitalidade de Expresso 2222. 'Raça...' tem o lindíssimo verso do refrão que é quase um provérbio, mas 'Expresso...", por tudo, sua força, energia, ritmo, além de ser da época de Londres, do exílio, leva pequena vantagem e se classifica. No sufoco. Gol aos 49 do segundo tempo.

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CLASSIFICADAS PARA AS OITAVAS-DE-FINAL
PANIS ET CIRCENCES
FILHOS DE GANDHI
REALCE
ZUMBI, A FELICIDADE GUERREIRA
SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO
HAITI
BACK IN BAHIA
EXPRESSO 2222
ANDAR COM FÉ
O SOM DA PESSOA
ESOTÉRICO
SUPER-HOMEM (A CANÇÃO)
AQUELE ABRAÇO
PALCO
REFAZENDA
CÁLICE




Assim que realizarmos o novo sorteio e tivermos definidos os confrontos, 
eles estarão aqui no ClyBlog.
Fique ligado!


sexta-feira, 7 de outubro de 2022

"Medéia, A Feiticeira do Amor", de Pier Paolo Pasolini (1969) vs. "Medéia", de Lars Von Trier (1988)




Jogaço!!!
A tetracampeã mundial, a Itália, não estará na copa do Mundo de futebol, mas aqui no nosso embate cinefutebolístico encara a Dinamarca que, no Catar, com a bola nos pés vai tentar, mais uma vez, escrever seu nome entre as grandes.
Mas aqui no Clássico é Clássico temos dois grandes times, dois grandes treinadores. Ousados, agressivos, polêmicos. Um com um futebol mais plástico, outro com um jogo mais cru, mas ambos extremamente competentes e destacados entre os grandes em sua atividade. O italiano Pier Paolo Pasolini, vencedor, entre outras premiações, do Urso de Ouro em Berlim, por seu "Contos de Canterbury", em 1972; e Lars Von Trier, também multipremiado, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em 2000, por "Dançando no Escuro".
Os dois, às suas épocas, adaptaram a peça do grego Eurípides, "Medéia", na qual a protagonista, depois de levada de seu reino e desposada por Jasão, algum tempo depois, é preterida pelo marido em favor da filha do rei de Corinto. Abandonada, humilhada, Medeia dotada de faculdades místicas, antes de ser banida pelo Rei Creonte, usa de seus feitiços para se vingar do esposo, matando sua nova noiva e até os próprios filhos que tivera com Jasão.
Pasolini parte de um pouco antes e conta a história desde a tomada do Velocino de Ouro, artefato supostamente mágico, reivindicado pelo rei de Lolcos como condição para restituir a Jasão o trono que lhe seria de direito. Já Trier começa pelo momento do exílio de Medéia, quando seu amado cai de encantos por Creusa, a princesa de Corinto.


"Medéia" (1969) - trailer

O trailer original era demasiadamente recortado, alegórico e desconexo, 
deste modo, optei por um trailer alemão que,
mesmo em uma língua mais estranha para nós brasileiros, dá uma ideia melhor de
alguns elementos do filme, como os cenários, figurinos, fotografia, além de alguma noção das atuações.


"Medéia" (1988) - cenas

Não consegui um trailer completo de "Médeia", de Lars Von Trier, provavelmente por ter sido um projeto originalmente feito para TV.
No entanto essa compilação de cenas dá uma ideia das escolhas cinematográficas e da estética proposta pelo diretor.


A vingança no filme de Pasolini se dá pelos trajes enviados por Medéia à princesa, sob pretexto de presentes de casamento, mas que, vestidos pela jovem noiva, entram em combustão e obrigam Creusa, em desespero a se jogar do alto do castelo, seguida pelo pai Creonte. Já na do diretor dinamarquês, igualmente fingindo de conformada com a situação do ex-marido, Medéia envia para a rival uma espécie de tiara, uma guirlanda, à qual, usando de suas artes mágicas, envenenara as partes agudas às quais espetando o dedo da nova noiva de Jasão, a leva à morte, bem como ao pai, que em desespero pela morte da filha, crava uma ponta da tiara em si propositalmente.
O interessante é que na peça de Eurípedes constam os dois itens, as vestes e a coroa, mas, curiosamente, cada um decidiu usar de um dos artifícios. E ambos o fizeram de maneira brilhante. A cena da jovem em chamas pelo jardim do castelo é espetacular! Bem como a tensão quase silenciosa do preparo da substância, a aplicação no denteado da peça, o arranhão no cavalo, a entrega do presente à amada de Jasão, a corrida desenfreada do cavalo concomitante ao espetar no dedo... Tudo incrível!!!
A seguir, outra diferença (aqui tem spoiler, caso alguém não conheça a história): no filme italiano, depois de usar os filhos para levar os "presentes" à inimiga, assim que eles retornam para casa, Medéia, calmamente os atende, lhes dá banho carinhosamente e mata a ambos com um punhal, ateando fogo à casa logo em seguida. Lars Von Trier ousa mais: depois do retorno dos meninos do castelo real, onde entregaram o regalo envenenado, ela foge com os filhos para um lugar bem afastado do reino e, numa sequência ao mesmo tempo chocante e belíssima esteticamente, enforca os dois filhos em uma árvore. 
No primeiro filme Jasão, sem poder alcançá-la, por conta das chamas (e na lenda, pelo fato da feiticeira estar elevada e protegida por Helios, o deus sol), clama para que Medéia, ao menos lhe entregue os corpos dos filhos para que os sepulte; na refilmagem, depois de encontrar os filhos pendurados na árvore, Jasão, sob efeito de uma de suas feitiçarias, corre em círculos infinitamente procurando Medéia enquanto ela foge numa nau para Atenas.  
Duas obras de arte!
Pasolini tem cenários impressionantes, locações exóticas da Capadócia, enquanto Trier traz ambientes opressivos e sombrios; a fotografia de Pasolini é arenosa, acre, árida, ao passo que a de Trier é nebulosa, cinzenta; os figurinos do italiano são extravagantes, pesados, trajes típicos das regiões da antiga Pérsia; os do dinamarquês são discretos, minimalistas, sóbrios. Se a Medéia de Pasolini é, ninguém menos que Maria Callas, o Jasão de Trier é o lendário Udo Kier. Ninguém leva vantagem!
Um dos maiores jogos do nosso certame cinefutebolístico.




Aqui, algumas imagens comparativas:
(sempre o filme de 1969 à esquerda, e o de 1988 à direita)
Na primeira imagem, a fotografia árida e as belas locações da Turquia, do primeiro filme,
e a atmosfera soturna do remake.
Na segunda linha, o interior de um castelo e os figurinos exóticos,
comparados à fotografia diáfana e indefinida do outro.
No centro, Medéia, em ambos os casos em uma cena externa:
a profundidade e a perspectiva do segundo filme são impressionantes.
Depois, os intérpretes de Jasão: o primeiro Giuseppe Gentile, ex-atleta,
mais belo, como Pasolini gostava, é claro,
mas do outro lado Udo Kier dava um show de talento.
E por último, as duas protagonistas:
A competente Kirsten Olesen, discreta, correta, dá conta do recado
mas Maria Callas, além de lindíssima, encarna a personagem de forma muito intensa e convincente
Craque de bola!



"Medéia", de Pier Paolo Pasolini é um clássico, mas o mesmo vale para a "Medéia", de Lars Von Trier. 
Dessa vez, sim, pode-se dizer que clássico é clássico e vice-versa.




por Cly Reis