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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Música da Cabeça - Programa #118


O violão de João se calou, mas no Música da Cabeça a nossa obrigação é manter as notas em constante vibração. E vai ter muita música de qualidade para dignificar o mestre no programa. Confere só: Renato Russo, The Breeders, Jards Macalé, Led Zeppelin, Tom Jobim e mais. Além dos quadros fixos “Música de Fato” e “Palavra, Lê”, ainda o móvel “Cabeça dos Outros”, que vai destacar a clássica banda Jethro Tull. Tudo isso no MDC de hoje, às 21h, pelos acordes dissonantes da Rádio Elétrica. Produção, apresentação, cantinho e violão: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sábado, 9 de junho de 2018

O Rappa - "Rappa Mundi" (1996)





"O futebol faz parte da cultura nacional não é à toa. 
É um esporte que representa pra caramba
a maneira que a gente vive.
O que é?
Você driblando as atrocidades,
as condições impróprias que a gente tem."
Falcão, vocalista



O rock nacional dos anos 80 já começava a dar sinais de desgaste. Cazuza já tinha morrido, Renato Russo agonizava em público e sua doença refletia nos discos da Legião, Lobão começava a perder o rumo, os Titãs perdiam integrantes e a identidade, os Engenheiros se afastavam do grande público e, só os Paralamas, mesmo com discos um tanto irregulares, tenham conseguido sustentar o sucesso comercial e o interesse do público. Nesse ínterim, naquele início de anos 90, um bom time de novas bandas nacionais começava a dar as caras vindas de diferentes lugares do Brasil e trazendo sonoridades e propostas interessantes: os calangos do Raimundos e seu hardcore irreverente e desbocado; os mineiros do Pato Fu com seu bom humor e criatividade; o pessoal do Skank, também de Minas, apresentando com um pop gostoso e contagiante; também das Gerais o Jota Quest com seu pop-soul, estes já um pouco mais apelativos comercialmente; os recifenses do Mangue-Beat misturando sons regionais com peso e tecnologia; e no Rio, O Rappa, um pessoal que fundia reggae, com hip-hop, com soul, com MPB, utilizando-se de peso de guitarras distorcidas e elementos eletrônicos como samples e batidas programadas. A banda já havia aparecido bem com seu álbum de estreia, de mesmo nome, de 1994, chamando atenção, além da sonoridade, pelas ótimas letras com abordagens de questões sociais de forma lúcida e consciente, veio a conquistar definitivamente público e crítica com seu segundo álbum, "Rappa Mundi" de 1996.
Produzido pelo mestre dos estúdios no Brasil, Liminha, "Rappa Mundi" teve uma série de grandes sucessos com suas faixas sendo executadas incansavelmente nas rádios e na MTV. Contando com as letras sempre críticas e engajadas do então baterista Marcelo Yuka e com o vocal poderoso e versátil do carismático vocalista Falcão, a banda discorria sobre temas como drogas, violência urbana, trabalho infantil, religião, racismo e pobreza, das formas mais criativas, desde a maneira mais incisiva à mais bem-humorada.
Em "A Feira", por exemplo, faixa que abre o disco, num raggae-pop descontraído e embalado, falam sobre a venda de "substâncias ilícitas" e a facilidade de se encontrar os produtos em qualquer esquina; em "Miséria S.A." Falcão interpreta como se recitasse um texto decorado a criativa letra do cantor e compositor Pedro Luís, que imita aqueles bilhetinhos que pedintes entregam aos passageiros nos ônibus, escancarando a realidade da pobreza no Brasil e as situações a que se sujeitam homens, mulheres e muitas vezes crianças; "Vapor Barato", clássico multi-regravado da música brasileira, ganha uma versão competentíssima, mais embalada e de interpretação marcante de Marcelo Falcão, incluindo-se entre as grandes versões que a canção de Waly Salomão e Jards Macalé já recebeu. "Ilê Ayê", conhecida na voz de Gilberto Gil no álbum "Refavela", vai perfeitamente ao encontro do discurso e da proposta dO Rappa e com uma pegada mais elétrica e vibrante, é outra cover que não decepciona. Assim como "Hey Joe", outra versão, esta da canção imortalizada por Jimi Hendrix, que, embora não tenha o brilho daquela do gênio da guitarra, garante uma boa releitura em português e completamente carregada no reggae.
Grande sucesso, a inspiradora "Pescador de Ilusões" é aquele trunfo radiofônico perfeito; "Uma Ajuda" juntamente com "Lei da Sobrevivência" talvez sejam as menos empolgantes do disco; já "O Homem Bomba" e "Tumulto", por sua vez são incendiárias, ambas abordando a indignação do home  comum, do cidadão tão desrespeitado no dia a dia. "Tumulto", em especial, muito a calhar, fala sobre manifestações populares, povo, não o povo da Paulista, mas o povo de comunidades, indo à rua por justiça, por igualdade, por necessidades básicas ou por conta da violência cotidiana. Mais uma porrada dO Raapa!
Altamente ligados a futebol, torcedores e frequentadores de estádios, tendo inclusive participado da coletânea de hinos de clubes brasileiros, da revista Placar, gravando o hino do Flamengo, o esporte, que segundo eles mesmos tem tudo a ver com a música e com a vida do brasileiro, aparece em vários momentos no disco. A ótima "Eu Não Sei Mentir Direito", por exemplo, começa com os versos "No país do futebol/ Eu nunca joguei bem..." revelando alguém que, numa terra de onda a malandragem é a lei, não consegue se adaptar à conduta dominante enraizada na cultura do brasileiro; "O Homem Bomba", fala em "tocar bumbo na garganta do Maracanã"; "Óia o Rappa", música que fecha o disco e que também fala sobre o jeito do cidadão se virar, refere-se a "pênalti" quando a situação fica crítica numa batida da polícia num negócio informal um tanto suspeito. Mas é em "Eu Quero Ver Gol" que a verve futebolística fica totalmente exposta retratando a realidade de um torcedor que enfrenta os perrengues do dia a dia, dá duro durante a manhã na praia, mas que não quer perder de jeito nenhum o jogo do fim da tarde e, mais do que qualquer coisa, ver seu time ganhar ("Tô no rango desdas duas e a lombra bateu/ O jogo é as cinco e eu sou mais o meu/ Tô com a geral no bolso, garanti meu lugar/ Vou torcer, vou xingar pro meu time ganhar"). A versão do especial acústico gravado para a MTV, que posteriormente viraria CD e DVD, gravada em 2005 é ainda mais "boleira" e tem mencionados, em seu final, os nomes de vários jogadores da Seleção Brasileira que estavam prestes a disputar a Copa de 2006, num final apoteótico para aquela apresentação.
Depois de "Rappa Mundi" a banda ainda apresentaria o bom "Lado B, Lado A" mas após um incidente urbano em 2001, infelizmente cada vez mais familiar a todos nós, uma tentativa de assalto que vira a deixar Marcelo Yuka, baterista e principal compositor da banda paraplégico, O Rappa, com sua saída, perdia bastante em qualidade de letras e criatividade mostrando-se irregular e inconsistente, embora ainda conseguisse sustentar um relativo sucesso comercial. Mas "Rappa Mundi" com toda sua atitude, gingado, irreverência e sonoridade já havia garantido o nome dO Rappa em destaque entre os grandes discos da música brasileira e por extensão, para nós, na galeria dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS do ClyBlog.
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FAIXAS:
1. "A Feira" - Marcelo Yuka (3:59)
2. "Miséria S.A." - Pedro Luís (4:01)
3. "Vapor Barato" - Waly Salomão, Jards Macalé 4:23)
4. "Ilê Ayê" - Paulinho Camafeu (3:50)
5. "Hey Joe" (participação de Marcelo D2)  - Bill Roberts, versão: Ivo Meirelles, Marcelo Yuka (4:25)
6. "Pescador de Ilusões" -  Marcelo Yuka (4:29)
7. "Uma Ajuda" - Marcelo Yuka (4:29)
8. "Eu Quero Ver Gol" - Falcão, Xandão (3:41)
9. "Eu Não Sei Mentir Direito" -  Marcelo Yuka 4:03
10. "O Homem Bomba" - Marcelo Yuka (3:14)
11. "Tumulto" - Marcelo Yuka (3:14)
12. "Lei Da Sobrevivência (Palha de Cana)" - Falcão (3:05)
13. "Óia O Rapa" - Lenine, Sérgio Natureza (6:00)

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Ouça:
O Rappa - Rappa Mundi


Cly Reis

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Música da Cabeça - Programa #29


“E 29 anjos me salvaram”. E salvo pela música, claro! Pois chegamos ao programa de nº 29, que vai ao ar hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Os amigos alados nos trazem esta semana desde a docilidade angelical de Suzanne Vega e Hubert Laws até a energia dos anjos rebeldes, com o rock brasileiro e alternativo ou com o tropicalismo. Ah! Também tem aqueles anjos invocam a ancestralidade e a cultura afro-brasileira. Estamos falando damúsica de Paulo César PinheiroMarlui Miranda e Jards Macalé. Bem: motivo de sobra pra não perder o programa de hoje. Produção, apresentação e auréola: Daniel Rodrigues.



Ouça: Programa #29

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

“Sítio do Picapau Amarelo” - Trilha Sonora - Vários Artistas (1977)



"Monteiro Lobato e aquele mundo louco da minha infância, minha avó na cozinha e a gente lendo aquilo. Dori, esbocei alguma coisa. Fala de cada um, mas é o sítio, aquele lugar mítico, aquela música saltitante".  Gilberto Gil, na ligação que fez a Dori Caymmi logo após compor a música-tema da série

"Indo dali a pouco ao rio com a trouxa de roupa suja, ao passar pela jabuticabeira parou para ouvir a música de sempre — tloc! pluf! nhoc..." - Trecho de "Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato

Parece mentira de adulto pra valorizar a própria infância, mas foi a 40 anos que a música feita para crianças mudou completamente o rumo da música popular feita no Brasil. A Rede Globo, percebendo um filão pouco explorado, o público televisivo infantil, resolveu investir em teledramaturgia para este e, na esteira, numa “ferramenta” que atingia as mentes e corações dos baixinhos: a música. Da cabeça de Guto Graça Melo, diretor musical da emissora à época, e do talentosíssimo compositor e arranjador Dori Caymmi, veio a missão de musicar um especial baseado no universo de Monteiro Lobato que começaria a ser rodado. Mas não apenas dar sonoridade ao vídeo como, principalmente, criar uma atmosfera que transmitisse aquilo que a mágica obra literária oferecia. Assim, surgiu a trilha sonora de “Sítio do Picapau Amarelo”, um sucesso nas telas e nas vitrolas que inspiraria artistas de todas as gerações seguintes.

A fórmula parecia óbvia: chamar os talentos da MPB da época para ilustrarem musicalmente os elementos narrativos. Entre estes, João Bosco, Jards Macalé, Ivan Lins, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sérgio Ricardo, entre outros. Entretanto, muitas vezes o resultado saía – saudavelmente – complexo e até intrincado. E assim ficava. Afinal, Guto e Dori partiam do pressuposto de não subestimar a inteligência do público, mesmo sendo o infantil, postura que, por si, foi uma revolução de linguagem. Caso claro da dissonante “Peixe”, dos Doces Bárbaros, e da mística e intensa “Tio Barnabé”, em que Jards divide autoria e microfones com a talentosíssima Marlui Miranda (“Oi, nessa mata tem flores/ Os olhos do Saci/ Pula com suas dores/ Gentis com seus amores/ Os cantos da caapora/ Os orixás que nos acudam e nos valham nessa hora”). Ambas as faixas aparentemente jamais poderiam integrar uma seleção de músicas para crianças. Mas, aqui, entraram e fizeram muito significado.

O desbunde, contudo, já se dá na faixa que intitula a série. Mais do que isso: o tema passou a representar a já antiga obra de Lobato (datada dos anos 20) não só através das letras e ilustrações das páginas dos livros, mas também pelos sons. A canção que Gil cria sobre a simples sinopse dada a ele por Dori para se inspirar se transforma numa lúdica e colorida canção – e com referência a Beatles, como Caetano bem identificou no livro “Verdade Tropical”. Leitor dos contos fantasiosos de Lobato na infância, Gil resgata sua memória afetiva e praticamente a sintetiza em poucos versos, demonstrando uma familiaridade ímpar com o mundo lobatiano. “Marmelada de banana, bananada de goiaba/ Goiabada de marmelo [...]/ Boneca de pano é gente, sabugo de milho é gente/ O sol nascente é tão belo [...]/ Rios de prata, pirata, voo sideral na mata/ Universo paralelo [...]/ No país da fantasia, num estado de euforia/ Cidade polichinelo”. A estrutura melódica faz com que tudo termine rimando com aquilo que lhe é originário e inequívoco: “Sítio do Picapau Amarelo”. Genial.

Mesmo as canções mais palatáveis são de uma complexidade harmônica invejável – muito pela mão de Dori nos arranjos e orquestrações. “Narizinho”, doce canção de Ivan Lins cantada por sua então esposa, Lucinha, mostra bem isso. Outro mestre da MPB chamado para dar sua contribuição é Paulo César Pinheiro. Ele não economiza na carga poética e brasilianismo, o que faz em duas faixas, ambas parcerias com Dori: a divertida “Ploquet Pluft Nhoque" (“Jaboticaba”), cantada pelo grupo vocal Papo de Anjo (“Olha o bando/ que acode com o baque/ que bate no galho/ que faz pinque ploque...”), e “Pedrinho”, tema do corajoso personagem Pedro Encerrabodes de Oliveira, lindamente interpretada pelo grupo Aquarius.

O capricho desta trilha passa também por excelentes instrumentais, caso de “Saci”, autoria de Guto e brilhantemente arranjada por Dori e com as vozes da Aquarius fazendo vocalizes. Tema denso como a mitologia que tematiza, porém muito bem equilibrado harmonicamente pela instrumentalização utilizada, que dá “alívios” à tensão. É a primeira canção dedicada à lenda do Saci-Pererê de um especial infantil. Depois desta, vieram outras semelhantes cujo tema central é a alegoria de origens indígenas e africanas que representa o folclore brasileiro: duas diferentes assinadas por Jorge Ben (uma delas para o também especial infantil “Pirilimpimpim”, de 1982), e uma de Gil para a Black Rio (de 1980).

O elenco da série da Globo estreada em 1977: um marco
na tevê brasileira
Ivan Lins, em ótima fase, vem com outra, agora para a querida “Dona Benta” (vivida pela atriz Zilka Salaberry), cantada por Zé Luiz Mazziotti. Melodia jobiniana e jazzística comandada no Fender Rhodes. Ronaldo Malta interpreta outra bela composição, “Arraial dos Tucanos”, de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando. O início melodioso dá lugar, logo em seguida, a um baião de notas abertas, expansivo como os pássaros cantados na letra: “Arraial dos tucanos/ Até quando o homem/ Que da terra vive/ E que da vida arranca/ O pão diário/ Vai ter tua paz/ Paz/ Aparentemente paz”. Igual questionamento faz a também “ecológica” (termo que ainda não era moda naqueles idos) “Passaredo”, de Chico Buarque e Francis Hime. Entoada com absoluta perfeição pela MPB-4, a clássica canção, após enumerar diversos nomes da abundante variedade de espécies da fauna brasileira, avisa: “Bico calado/Toma cuidado/ O homem vem aí” – seja este o caçador sem escrúpulos ou o soldado daquele Brasil de Ditadura Militar. Duas faixas lúdicas, mas altamente reflexivas, que chamavam os baixinhos a pensar.

Cabe ao inventivo Sérgio Ricardo o tema de uma das personagens mais queridas da história, a boneca de pano “Emília”. Habilidoso, ele elabora uma melodia que remete aos violeiros do sertão e que em alguns momentos lembra a musicalidade e o fraseado de Geraldo Vandré, Dorival Caymmi e Alceu Valença. Igualmente hábeis são João Bosco e Aldir Blanc, a parceria clássica de tantos hinos da MPB daquela época. Aqui, os autores de “O Bêbado e a Equilibrista” e “O Cavaleiro e os Moinhos” valem-se de suas mentes privilegiadas para dar mote a Visconde de Sabugosa, o fascinante boneco feito de sabugo de milho, cuja sabedoria obteve através dos livros da estante de Dona Benta. Samba sincopado típico da dupla e com as características tiradas vocais de Bosco a la Clementina de Jesus. Na letra, Aldir dá um show: “Sábio sabugo/ Filho de ninguém/ Espiga de milho/ Bobo sabido/ Doido varrido/ Nobre de vintém”.

Como se não bastasse, para arrematar, Dori, com o acesso que somente ele podia ter, chama ninguém menos que o pai, o gênio Dorival Caymmi. Este, por sua vez, escreve uma joia para “Tia Nastácia”. E não podia ser para outra personagem, haja vista a identificação do velho Caymmi com a cultura afro-brasileira: ela, uma preta velha bondosa e sábia, típica negra filha recente da abolição da escravatura. Traduzida em versos pelo mestre baiano, Tia Nastácia, interpretada pela atriz Jacyra Sampaio na série, sai assim: “Na hora em que o sol se esconde/ E o sono chega/ O sinhôzinho vai procurar/ A velha de colo quente/ Que canta quadras e conta histórias/ Para ninar”.

Esta histórica trilha sonora abriu portas para uma série de outras semelhantes de especiais infantis da tevê nos anos seguintes, como “A Arca de Noé I e II”, “Pirilimpimpim”, “Plunct-Plact Zum”, "Casa de Brinquedos" e “O Grande Circo Místico”, todas bastante baseadas na questão musical. Havia dado certo a fórmula. Juntamente com a peça “Os Saltimbancos”, que Chico Buarque escrevera junto com Sergio Bardotti e Luis Bacalov também em 1977, “Sítio...”, assim, inaugura a entrada dos grandes talentos da música brasileira no universo sonoro e afetivo das crianças. Em tempos de pré-abertura, impossibilidade de diálogo e de esgotamento das ideologias, os artistas pensaram: “Já que os adultos estão tão saturados, por que não produzirmos para os pequenos?”. Pensaram certo e o fizeram muito bem, abrindo um paradigma na cultura de massas no Brasil sem precedente no mundo da música.

Aí, quando os pais de hoje dizem que o conteúdo do que eles tinham nas suas infâncias era muito melhor do que o de hoje, não se trata de mentira e nem de saudosismo. É a mais pura verdade.

Vídeo de abertura de "Sítio do Picapau Amarelo" (1977)




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FAIXAS

01. Narizinho (Ivan Lins – Vitor Martins) - Lucinha Lins
02. "Ploquet Pluft Nhoque" (Jaboticaba) (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Papo de Anjo
03. Peixe (Caetano Veloso) - Doces Bárbaros
04 . Saci (Guto Graça Mello) - Papo de Anjo
05. Visconde de Sabugosa (João Bosco – Aldir Blanc) - João Bosco
06. Dona Benta (Ivan Lins – Vitor Martins) - José Luís (Zé Luiz Mazziotti)
07. Sítio do Picapau Amarelo (Gilberto Gil) - Gilberto Gil
08. Pedrinho (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Aquarius
09. Arraial dos Tucanos (Geraldo Azevedo – Carlos Fernando) - Ronaldo Malta
10. Tia Nastácia (Dorival Caymmi) - Dorival Caymmi
11. Passaredo (Francis Hime – Chico Buarque de Hollanda) - Mpb4
12. Emília (Sergio Ricardo) - Sérgio Ricardo
13. Tio Barnabé (Marlui Miranda – Jards Macalé – Xico Chaves) - Marlui Miranda e Jards Macalé

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OUÇA

por Daniel Rodrigues

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Mimo Festival 2016 - Jards Macalé/Otto e João Bosco/Hamilton de Holanda - Praça Paris- Rio de Janeiro (12/11/2016)





Jards Macalé no palco Seligaê 
Belíssimo local mas não é pra isso.
A Praça Paris, no Centro do Rio, é uma charmoso parque ao estilo francês com belos jardins bem cuidados, canteiros bem delineados e arbustos bem aparados. Um espaço belo e extremamente aprazível. Por todas estas características fiquei um pouco intrigado quando vi que a praça abrigaria eventos do Festival Mimo na cidade, curioso para saber como é que funcionaria na prática colocar um evento assim num espaço que me parecia tão pouco apropriado para a proposta. Assim que cheguei lá, no final da tarde do sábado, só tive a comprovação da minha desconfiança. O lugar passava longe de ser apropriado para um evento de música ao vivo, ainda mais de nomes tão significativos da música brasileira e encontros musicais interessantíssimos que inevitavelmente teriam bom apelo. Pra começar, o palco Seligaê que era o que me interessava por conta dos encontros de Jards Macalé com Otto e de João Bosco com Hamilton de Holanda, ficava disposto atravessado sobre um dos espelhos d'água como se fosse uma ponte, impossibilitando o posicionamento frontal do público, assim, as pessoas colocadas lateralmente tinham que driblar visualmente os belos arbustos quase esculturalmente podados, dispostos regularmente a aproximadamente 5 a 8 metros um dos outro, para conseguirem ver o palco. Pequenas arquibancadas baixas que pouco adiantavam atrás das pessoas em pé serviam como apoio e um barranquinho, um pouco mais alto ajudava um pouco quem estivesse mais atrás mas mesmo assim sem maior vantagem. Mas tudo bem, não concordei com o que encontrei mas pensei que de certo fazia parte da proposta do festival, uma revalorização, repensamento e reuso de determinados espaços públicos e blablablá, coisa e tal, então vamos lá.
João e Hamilton duelando nas cordas.
Já que a situação era aquela mesmo era encarar e assistir ao show de Jards Macalé em diagonal atrás de uma arvorezinha. No palco, o irreverente músico carioca de 73 anos mostrou que está em plena forma num show de talento, ritmo e vibração. Transitando confortavelmente por diversos ritmos e sonoridades, o cantor, num primeiro momento apenas com uma jovem e competente banda e  ainda sem o convidado, abriu o show com uma elétrica "Let's Play That", trouxe à baila a irreverente "Farinha do Desprezo", empolgou com a clássica "Pano Pra Manga" e arrebatou com a fantástica "Vapor Barato". Da metade para o final, aí sim, o músico pernambucano Otto entrou para participar da festa  fazer algumas canções em dueto com Jards mas sem dar nenhuma grande contribuição, é bom que se diga. Assim que entrou, agradecido pela oportunidade de tocar com um dos grandes nomes da MPB, Otto declarou, "Olha só o que a MPB me proporciona: tocar com esse cara! Jards, você é uma peça. Você é uma peça dessa engrenagem da música brasileira.", ao que Jards respondeu, "E você é a gasolina". A resposta de Jards não poderia ter sido mais verdadeira, pois como "gasolina", Otto, como uma espécie de MC, incendiou a galera chamando-a para cantar em "Corcovado" e de uma maneira mais efetiva e entusiástica no clássico "Juízo Final" de Nelson Cavaquinho. Mas dele foi só isso! Após estes dois números em parceria, o cantor carioca saiu do palco e Otto mostrou que é muito mais suor do que inspiração, até trazendo à tona um "Da Lama ao Caos" de Chico Science e encerrando com uma versão verdadeiramente furiosa de "Canalha" de Walter Franco, mas não conseguindo empolgar em momento algum.
Parte do público tomando o espelho d'água.
Já no show de fundo do palco Seligaê, de João Bosco e Hamilton de Holanda, apesar do enorme atraso de mais de uma hora do início previsto, as duas atrações brilharam em igual intensidade. Conhecia pouco de Hamilton de Holanda, havia visto uma vez que outra na TV mas não havia ficado tão impressionado quanto fiquei lá. Meu Deus, o cara é um monstro!!! Se já era impressionado com a qualidade do violão de João Bosco, a técnica e a capacidade de improvisação do jovem instrumentista é assustadora e para quem esteve lá pode presenciar alguns empolgantes"duelos", olho no olho de Hamilton com João. Sob um leve chuvisqueiro, daquela chuvinha tipo vai-não-vai, a dupla apresentou sucessos de João Bosco como "Odilê, Odilá", "O Ronco da Cuíca", "Incompatibilidade de Gênios" e "Linha de Passe", e clássicos da música brasileira como "Fotografia" de Tom Jobim, "Milagre" de Dorival Caymmi, "Lília" de Milton Nascimento com uma interpretação marcante de João Bosco bem no seu estilo vocal característico, e o provável segundo hino nacional brasileiro, a grande "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso.
A música hipnotizava tanto o público que ele, em determinado momento, viu-se, talvez, naturalmente atraído e conduzido para dentro das águas do pequena piscina que defrontava o palco e dividia a a platéia. Devo admitir que foi uma manifestação bonita num primeiro momento. A naturalidade e a espontaneidade do ato conduzido pela música pareceu algo como se o público tivesse sido atraídos por uma espécie de irresistível canto de sereia. Mas assim que o espelho d'água começo a encher e tirar a visão das pessoas que haviam chegado cedo e se posicionado privilegiadamente há muito tempo e assim que a organização começou a solicitar que as pessoas saíssem pois haviam se comprometido com a prefeitura que não haveria pessoas na água a brincadeira perdeu a graça. Os espontâneos dançarinos das águas recusavam-se a sair mesmo diante dos apelos da organização e das ameaças de paralisação do espetáculo até que a situação fosse normalizada. Alguns saíram, outros não, outros saíram e voltaram, os músicos entraram levar numa boa mas fiquei com a impressão que teríamos um bis ou um show um pouco mais longo não fosse a criancice e o "beicinho" dos teimosos mimadinhos que insistiam em, com sua atitude de "resistência", comprometer a diversão dos outros. Mas felizmente não conseguiram estragar o evento e entre uma leve garoa e "crianças" no laguinho quem deu um banho foi a dupla João Bosco e Hamilton de Holanda. Pra lavar a alma!

Jards Macalé - "Vapor Barato"


Cly Reis

sábado, 14 de março de 2015

Aquisições soteropolitanas

No início deste ano, numa das vezes que fui à Bahia a trabalho, peguei um táxi do aeroporto de Salvador com destino a Feira de Santana com um taxista incomum. Um senhor de uns 50 anos, Sr. Gelson, que adorava e conhecia muito bem música africana (e de vários países: Angola, Congo, Mali, Nigéria, entre outros). Papo vai, papo vem e, além de aprender com ele, fiquei sabendo que em Salvador havia lojas de música que o supriam de parte deste exótico material fonográfico. Guardei a informação para quando retornasse à capital baiana.

Pois, desta vez viajando a passeio por Salvador, descobri uma cidade que respira música – o que, vocês devem imaginar, gerou uma forte identificação a alguém que, como eu, anda ininterruptamente com várias músicas na cabeça durante o dia. E não demorou muito para que o cheiro de loja de discos me atraísse. Em plana Praça da Sé, centrão da cidade, está lá a Planet Music, comandada pelo diletante Ademar, sujeito boa-praça que não poupava em deslacrar qualquer CD e colocá-lo para o cliente escutar, mesmo que fosse pra passar rapidamente cada faixa (atitude quase inimaginável no comércio de Porto Alegre). Pois, seguindo o bom gosto do dono, a Planet Music é rica em títulos e muito bem selecionada, além de os preços serem bem aceitáveis.

Entrei, percorri algumas fileiras enquanto tocava (alto) um axé-music qualquer, corriqueiro por lá. Leocádia entrou em seguida. Até que Ademar, de dedo nervoso, para a música pela metade e troca por nada menos que “Saci Pererê”, da Black Rio. Conquistou-me de vez. Levei junto com esses outros CD’s que aqui comento:





Saci Pererê” – Banda Black Rio (1980): Clássico segundo álbum deste que é dos meus grupos brasileiros preferidos. Além da gostosa faixa-título, presente de Gilberto Gil, tem Aldir e João Bosco (“Profissionalismo É Isso Aí”), Zé Rodrix (“Amor Natural”) e composições dos integrantes da banda. Nem a ausência de Cristovão Bastos nos teclados fez Oberdan e Cia. baixarem a qualidade, que, depois do célebre instrumental "Maria Fumaça", se aventuram nos vocais e mandam muito bem.








Marinheiro Só” – Clementina de Jesus (1973): Produzido por Caetano Veloso e Milton Miranda, é talvez o mais bem acabado trabalho desta negra que alçou ao mundo da música já idosa por providencia de Hermínio Bello de Carvalho, que a descobriu cantando num bar. Toda a ancestralidade antropológica africana pode ser sentida em sambas (“Essa nêga pede mais”, “Madrugada”), maxixes (“Marinheiro Só”) e cantos religiosos (“Taratá”, “5 Cantos Religiosos”).







Nada Como um Dia Após o Outro Dia” – Racionais MC’s (2002): O sucessor de “Sobrevivendo no Inferno” é um disco longo demais (pecado dos duplos), por isso é irregular. Mas inquestionavelmente a banda avançou em estilo e discurso, o que faz com que seus dois volumes, “Chora Agora” e “Ri Depois”, tragam verdadeiras joias do rap e da música nacional no início dos 2000. Espetaculares “Vida Loka” 1 e 2, “Jesus Chorou” e “Vivão e vivendo”. Figura entre os 100 maiores discos da música brasileira da história segundo a Rolling Stone.








Negro é Lindo” – Jorge Ben (1971): Embora o Babulina tenha outros VÁRIOS discos preferidos da discoteca, pois produziu absurdamente bem principalmente do final dos anos 60 até meados de 70, este não fica pra trás, até porque a “cozinha” é do espetacular Trio Mocotó. Traz a poética e sensível "Porque é proibido pisar na grama", a bela canção-homenagem “Cassius Marcellus Clay”, parceria com Toquinho, e aqueles sambas-rock sempre inspirados (“Cigana”, “Comanche” e “Zula”) como só Ben sabe fazer.








Força Bruta” – Jorge Ben (1970): Também com o Trio Mocotó, é o mais experimental trabalho de Ben. Ele, Parahyba, Nereu e Fritz estão soltos e se divertindo ao executar os temas ao vivo no estúdio. Não é dos meus preferidos, até porque Ben tem muito mais discos maravilhosos, mas só por “O telefone tocou novamente” (meu toque de celular!), “Charles Jr.” e “Mulher brasileira” já valia. Ainda por cima, inicia arrasando com “Oba, lá Vem Ela", daqueles começos de disco empolgantes.








O q Faço é Música” – Jards Macalé (1998): Se Cristovão Bastos não estava mais com a Black Rio, aqui seu papel é fundamental. Talvez o grande disco de Macalé – ao menos, o seu mais maduro –, "O Q Faço é Música" já mereceu ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui do Clyblog, feita por Cly Reis. Eu, que gosto um monte também, não me contive e comentei no próprio blog, que está logo abaixo da resenha.












sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Jards Macalé - "O Q Faço é Música" (1998)


"Idolatrada mãe a quem recorro
toda vez ameaçado pranto
Paraíso São Sebastião
Rei de Janeiro"
Glauber Rocha



De um modo geral, as pessoas, críticos e publicações costumam destacar o álbum "Let's Play That", de 1983, como o grande trabalho de Jards Macalé, que efetivamente é um excelente disco. Mas particularmente, tenho uma especial predileção pelo ótimo "O Q Faço é Música" de 1998.
Dos músicos brasileiros mais criativos, Jards Macalé explora as diversas possibilidades do samba neste disco, indo desde choros, passando por sambas-canção ou experimentando alternativas percussivas. "O Q Faço é Música" é variado, é eclético, é embalado, divertido, é sensacional. "Rei de Janeiro", composta sobre verso de Glauber Rocha, é uma bela exaltação cantada por um coro feminino; "Cidade Lagoa", outra referência ao Rio de Janeiro, cidade natal de Jards, é um samba-de-breque, irônico e debochado, extremamente atual no que se refere às frequentes inundações que acontecem na cidade a cada chuva. O trecho "Essa cidade que ainda é maravilhosa/ Tão cantada em verso e prosa/ Desde o tempo da vovó/ Tem um problema vitalício e renitente/ Qualquer chuva causa enchente/ Não precisa ser toró", dá uma ideia de como era nos anos 50 quando a letra foi escrita, e de como, incrivelmente ainda é hoje.
A inusitada versão de "Blues Suede Shoes' de Carl Perkins, é outro exemplo dessa exploração das possibilidades do samba, onde Jards dá um tratamento chorinho acelerado para o clássico do rock. O resultado é incrível!
A ótima "Favela" traz um retrato físico, antropológico, histórico, social e poético da formação urbana dos morros cariocas, num samba pesado, cheio de cuícas e tiros; "Vapor Barato", parceria de Jards com Wally Salomão, ganha uma versão muito mais melancólica que outras gravadas ao longo dos anos, talvez só perdendo para a dramática interpretação de Gal Costa.
O disco segue com a charmosa "Destino"; a primorosa "Dente no Dente"; o belíssimo tango-chorinho "Mais Um Abraço no Nosso Amigo Radamés"; a parceria com Vinícius de Moraes na ótima "O Mais-que-Perfeito"; a versão  para "Unicornio" do cubano Silvio Rodrigues; a adaptação para o "Poema da Rosa" de Becht; e o disco encerra-se com a interessantíssima "Coração do Brasil", uma perfeita combinação letra-música-conceito com um surdo pesado, alto, forte marcando o tempo como se fossem batimentos cardíacos. O coração da bateria, o coração do samba, o coração do sambista. O coração de um artista inquieto, criativo e de uma musicalidade ímpar.
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FAIXAS:
  1. Rei de Janeiro
  2. Favela
  3. Destino
  4. Terceira Vez
  5. Cidade Lagoa
  6. Dente no Dente
  7. Movimento dos Barcos
  8. O Mais que Perfeito
  9. Vapor Barato
  10. Blues Suede Shoes
  11. Mais Um Abraço no Nosso Amigo Radamés
  12. Unicornio
  13. Mais Uma Luz
  14. Poema da Rosa
  15. Um Abraço no Oliveira
  16. Coração do Brasil

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Baixe e ouça:
Jards Macalé O Q Faço é Música



Cly Reis

terça-feira, 31 de agosto de 2010

cotidianas #45 - Favela



Numa vasta extensão
Onde não há plantação
Nem ninguém morando lá
Cada um pobre que passa por ali
Só pensa em construir ser lar
E quando o primeiro começa
Os outros, depressa, procuram marcar
Seu pedacinho de terra pra morar


E assim a região sofre modificação
Fica sendo chamada de nova aquarela
E aí que o lugar então passa a se chamar
Favela.

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Favela
(Padeirinho da Mangueira e Jorginho Pessanha)

Ouça:
Jards Macalé Favela

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Jards Macalé "O Q Faço é Música" (1998)

Procurava há algum tempo e encontrei agora o cd "O Q Faço é Música" de Jards Macalé.
Muito bom disco!
Jards com seu samba bem eclético dentro das vastas possibilidades do gênero, apresenta uma visão bem humorada, irônica e apaixonada do Rio de Janeiro. Bons exemplos são "Rei de Janeiro", um belo samba-exaltação, composto sobre texto de Glauber Rocha; a crítica social de "Favela" e a escrachada "Cidade Lagoa" cuja letra, dos anos 50,sujere que o cidadão carioca tenha um barco para os dias mesmo de pouca chuva. E não sem propósito, não?
De quebra tem uma versão impagável sambada de "Blues Suede Shoes"; tem ótima "Coração do Brasil", uma perfeita combinação letra-música-conceito com seu surdo numa marcação praticamente cardíaca; e ainda o já clássico da MPB, "Vapor Barato" na versão do próprio autor, muito mais melancólica e sentida do que as outras gravações populares que se ouve por aí.
Críticos costumam apontar "Let's Play That" como o melhor álbum de Jards, eu, no entanto, fico com "O Q Faço é Música".




segue a letra debochada de "Cidade Lagoa":
CIDADE LAGOA
(Sebastião fonseca e Cícero Nunes)

Essa cidade que ainda é maravilhosa
Tão cantada em verso e prosa
Desde o tempo da vovó
Tem um problema vitalício e renitente
Qualquer chuva causa enchente
Não precisa ser toró
Basta que chova mais ou menos meia hora
É batata, não demora
Enche tudo por aí
Toda cidade é uma enorme cahoeira
Que da praça da Bandeira
Vou de lancha a Catumbi

Que maravilha nossa linda Guanabara
Tudo enguiça, tudo para
Todo trânsito engarrafa
Quem tiver pressa seja velho ou seja moço
Entre n'água até o pescoço
E peça a deus pra ser girafa
Por isso agora já comprei minha canoa
Pra remar nessa lagoa
Cada vez que a chuva cai
E se uma boa me pedir uma carona
Com prazer eu levo a dona
Na canoa do papai

(breque)
Ai meu Deus,. Mas que toró... Vou meter uma roupa de escafandro
pra atravessar essa lagoa.