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quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Música da Cabeça - Programa #133
O óleo pode ser venezuelano, mas a incompetência é toda brasileira. Enquanto a poluição avança sobre o litoral sem contenção, nós do Música da Cabeça montamos uma força-tarefa de boas vibrações sonoras. Estão nessa conosco Morcheeba, Kraftwerk, Kleiton & Kledir, The Chemical Brothers, Meirelles e os Copa 5, Chic, Cid Campos, Echo & The Bunnymen e mais. Ainda, "Música de Fato", "Palavra, Lê" e um "Cabeção" bem avant-garde pra não aliviar mesmo. Arregaça as mangas, que o programa de hoje vem pra conter qualquer vazamento. É às 21h, na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (e não: não tá tudo azul).
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
sexta-feira, 18 de outubro de 2019
cotidianas #652 - Sobrancelhas
Vi um cara no metrô
Um preto
(Como eu)
Só que preto,
além de cabelos brancos,
de barbas brancas,
como tenho,
de sobrancelhas brancas.
Achei aquilo lindo.
Era mais que minhas barbas brancas,
mais que meus cabelos brancos.
Eram sobrancelhas brancas...
Era muito pensar
Era muito penar
Era muita vida
Muita coisa vivida.
****************
"Sobrancelhas"
Cly Reis
sexta-feira, 21 de junho de 2019
cotidianas #637 - "Manhã de Inverno"
Teresópolis /RJ - inverno 2018 |
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça,
Nos olhos da fantástica indolente.
Névoas enchem de um lado e de outro os morros
Tristes como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.
A custo rompe o sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.
Vento frio, mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras úmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.
Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trêmulas a neve;
Galhardo moço, o inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.
Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.
Sobe de todo o pano; eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou co’os sábios olhos
A suprema ciência do empresário.
Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, — a voz serena
Acordo os ecos tímidos do vale;
E a divina comédia invade a cena.
***************
"Manhã de Inverno"
Machado de Assis
terça-feira, 28 de maio de 2019
cotidianas #633 - Da Calma ao Silêncio
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.
Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.
Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.
**********abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.
"Da Calma ao Silêncio"
Conceição Evaristo
do livro “Poemas da recordação e outros movimentos”
quarta-feira, 15 de maio de 2019
Música da Cabeça - Programa #110
Poesia. Esta é a célula que motiva ele e que vai nos motivar também no MÚSICA DA CABEÇA nº 110. Estamos falando do músico, performer, produtor cultural, artista visual e, claro, poeta mineiro RICARDO ALEIXO. Ele é quem, com seu pensamento lúcido, crítico e lírico poetiza o nosso quadro “Uma Palavra”. Mas tem também muito mais coisa boa: Beck, Herbert Vianna, Chico Buarque, The Residents e Funkadelic são alguns deles. “É raiz que voa”, é “a palavra mais viva”, é o “antiboi”. É o MDC especial 110 na RÁDIO ELÉTRICA hoje, às 21h. Produção, apresentação e versos verso livre: DANIEL RODRIGUES.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
terça-feira, 16 de abril de 2019
sábado, 23 de março de 2019
cotidianas #624 - Que árvore é essa?
ilustração de João Proteti
para o livro "Árvore" (2014)
|
que se despeja
sobre minha cabeça
e que, enciumada,
não me deixa
do romance
saber o desfecho?
Que árvore é essa
que insiste
em me conquistar
se declarando
em delicados
versos de pétalas?
Só pode ser
a árvore-poeta!
***********
"Que árvore é essa?"
João Proteti
domingo, 17 de março de 2019
cotidianas #623 - olho câmera
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
cotidianas #618 - Clara
Clara acordou
com as galinhas
Como um avestruz
engoliu o café
Parecia uma louca
correndo pra pegar a condução
Foi espremida como uma sardinha
Todos indo pro matadouro
Feito gado
Trabalhou como mula
Obedeceu como um cachorrinho
E voltou pra casa como
sempre
Morta
fez as coisas como um zumbi
Caiu na cama como uma pedra
Dormiu como um anjo
Manhã clara
O galo cantou...
Cly Reis
domingo, 3 de fevereiro de 2019
cotidianas #615 - Feito Bicho
Quando se trata de gente
às vezes sou meio bicho do mato
É que sinceramente
acho que não gosto muito de gente
Porque às vezes
a gente
é meio assim
Feito bicho
*********
"Feito Bicho"
Cly Reis
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
cotidianas #614 - poemas para falar deles, nº5
nada dura para sempre! me disseram em sentença, como se fosse uma doença essa coisa de acreditar e seu próprio olhar machucado é quem te contradiz talvez essa sua cicatriz seja a tal eternidade que você insiste em negar. afinal nada dura para sempre o que faz justamente a marca se eternizar. seu olhar não me engana essa pose de menino mal não me insulta essa distância me parece só implicância de menino marrento que por fora planta espinho mas por dentro tá sozinho menino que tem a fé ingênua de quem gosta de berrar - eu não acredito no pra sempre! só pra ouvir "você precisa acreditar".
************
"poemas para falar deles, nº5"
Luan Nascimento
terça-feira, 8 de janeiro de 2019
cotidianas #610 - poemas para falar deles, nº4
Quero ver o fogo.
************
"poemas para falar deles, nº4"
Luan Mascimento
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
cotidianas #608 - Ano que vem
Ano que vem eu prometo
parar de prometer
Ano que vem eu vou parar
Ano que vem eu vou seguir
Ano que vem eu vou começar
Ano que vem eu vou concluir
Ano que vem eu vou ser mais...
Ano que vem eu vou ser menos...
isso e aquilo
aquilo e aquilo outro
Ano que vem eu vou fazer
Ano que vem vou acontecer
Vou fazer e acontecer
Vou fazer acontecer
Aconteça o que acontecer
Ano que vem pode vir
Pode vir
Ano que vem que venha
Que venha
**********
'Ano que vem'
Cly Reis
domingo, 16 de dezembro de 2018
cotidianas #604 - poemas para falar deles, nº3
Um beijo e você explicou que só o amou porque ele lhe achava especial. De repente me vi no passado quando eu andava calado pensando exatamente igual. Mas deixa eu dizer o que eu aprendi: a gente é foda pra caralho pra amar quem só faz o óbvio. O mérito não tá em quem vê, Está em você, que é tanto que é tudo que ele não pode deixar de ver.
************
"poemas para falar deles, nº3"
Luan Nascimento
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
cotidianas #599 - poemas para falar deles, nº1
Quando você dizia que doía,
como raiva que corrói,
eu não entendia como quem amou
podia odiar
e ainda amar.
Como alguém podia ser
o vilão e o herói?
Reconheço meus passos errados,
agora entendo sua distância,
não era apenas raiva,
você queria esperança
como criança
que só aprende a caminhar
quando se levanta, sozinha.
Você precisava florescer,
e mesmo que eu não quisesse
minha presença te matava.
Agora que eu sou você,
eu entendi
que pra machucar
a gente não precisa querer,
bastar ficar lá.
Fiz as pazes com a culpa
e agora se eu não sou terra,
quero ser vento
que sopra
forte e lento
seja feliz
seja feliz
seja feliz
***************
"poemas para falar deles - nº1"
Luan Nascimento
terça-feira, 9 de outubro de 2018
cotidianas #593 - Mel
Sugo
Mel de abelhas
Com avidez
Como um pote de ouro
Lava quente
E lava!
Teu cu
Meu norte
Teu sul
Cálice bento
Língua
Idioma
Latim, latido
Língua morta
Pra tomar no meio
Pra beber o suco
Cair de boca
Afogar-se
Perder-se
Ao sul do teu corpo
Percorreria ilhas
Navegar num mar espesso
Pictórico pornô
Por dentro
Por dentro
Por dentro de ti
Passeio
Idas e voltas
Em uma viagem ao outro hemisfério
A dor é dor porque fere
E é isso que nos faz
Suave coisa alguma
Nos faz
Cabeçatroncomembros
Sobre uma cama
Navios negreiros
- Navios negreiros!
Séculos de escravidão desvanecem
Teu mapa
Nado sobre as ondas
Percorro
E volto a teu ponto
Ao porto
Teu
Daniel Rodrigues
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
cotidianas #591 - nem
nem mal nem bem
nem bem nem benzinho
nem amor nem paixão
nem isso nem aquilo
nem a peso nem a grama
nem capim nem pasto
nem masco nem rumino
nem começo nem termino
nem bem começa já acaba
nem a cabo nem a rabo
nem a pau nem fodendo
nem lá nem cá
nem na casa do caralho
nem de jeito nenhum
nem aqui nem na China
nem na Cochinchina
nem que você me peça
nem que você me impeça
nem por cima do meu cadáver
nem morto
nem morto
***********
"nem"
Cly Reis
terça-feira, 11 de setembro de 2018
cotidianas #588 - Contranarciso
Arte da capa do álbum "ninguém", de Arnaldo Antunes
Concepção: Arnaldo Antunes e Zaba Mureau
|
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
***
"Contranarciso"
Paulo Leminski
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
quinta-feira, 14 de junho de 2018
cotidianas #572 - Futebol
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas de pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São voos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
— afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
***
"Futebol"
Carlos Drummond de Andrade
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