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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Música da Cabeça - Programa #382

 

Não dá pra enxergar nada nesse apagão.. Mas o MDC a gente reconhece até no escuro! É só botar pra rolar Funkadelic, Tom Zé, The Smiths, Zizi Possi e Gil Scott-Heron, por exemplo, que a gente não precisa nem ver pra curtir. Igual a Marlui Miranda, a quem jogamos luz no quadro Cabeção. Sem privatizar e com energia própria, o programa se acende às 21h na luminosa Rádio Elétrica. Produção, apresentação e lanterna: Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Capas de VHS II - "Os Sermões"







 

RODRIGUES, Daniel
"Os Sermões"
Arte para VHS doméstico sobre o filme de Júlio Bressane, de 1989, Série "Grandes Diretores - Júlio Bressane"
Recorte, impressão jato de tinta, colagem e fontes transferíveis sobre papel
26 x 21 cm
Anos 2000


sábado, 12 de outubro de 2024

CLAQUETE ESPECIAL Dia das Crianças - "Os Meninos" ("¿Quién puede matar a un niño?"), de Narciso Ibañez Serrador (1976)

 



"Como sempre,
os mais afetados pelas guerras
são as crianças."
trecho da narração do
'documentário' de introdução.



Nos conflitos, nas crises, nas tragédias, nas catástrofes, quem mais sofre nessas situações? Seja pela vulnerabilidade, pela fragilidade, pela dependência, pela inocência, ao longo da história, as crianças tem sido vítimas costumazes de todas as barbaridades que o homem consegue produzir. E se, cansadas de tudo que os adultos as submetem, as crianças se revoltassem? Resolvessem tomar o mundo só para elas? Se livrarem dos homens e mulheres que já não carregassem a pureza da infância? 

Em um formato inusitado de documentário, o diretor Narciso Ibañez Serrador faz questão de nos apresentar, ainda nos créditos de "Os Meninos", uma série de imagens de guerras, como a da Coreia, guerra do Vietnã, Segunda Guerra, Biafra na Nigéria, nas quais crianças, de alguma forma, sofrem com as consequências desses conflitos, revelando ao espectador números assustadores dessas vítimas inocentes. Milhares, milhões de crianças mortas!

Elas não teriam razão de se revoltar?

Pois a revolta, a conscientização coletiva de uma reação por parte dos pequenos tem início em uma ilhota, do outro lado de um popular balneário na Espanha. Em alta temporada, um casal em férias, tom e Evelyn, antes do nascimento do bebê que está para chegar, resolve passar alguns dias no lugarejo, só que chegando lá estranham o ambiente deserto, desabitado, sem serviços ou informações, e não podem deixar de notar que somente crianças circulam pelo local. Não tardam também a perceber que estas representam uma ameaça às suas vidas e à do bebê que Evelyn carrega. A estadia na ilha, então, que deveria ser o momento de tranquilidade do casal, se torna uma corrida pela vida.

Na cena da menina do bar, 
não sabemos o que esperar da garota.
Curiosidade? Ternura? Um esfaqueamento? Uma maldição?

Filme muito bem conduzido. Logo quando o casal ainda chega ao balneário, um corpo é encontrado no mar e é retirado do local numa ambulância, mas só depois é que entendemos que o cadáver possivelmente fora uma pessoa morta na ilha pelas crianças e que flutuara até a praia. Na ilha, a fotografia precisa, misteriosa, as vielas desertas, a sensação de abandono ou fuga do hotel, do restaurante, tudo muito bem planejado, causa uma sensação de inquietude constante. A cena do bar abandonado em que uma menina surge, se aproxima e acaricia a barriga da grávida, causa uma mistura de sensações: curiosidade, tensão, alerta, medo, expectativa... 

"Os Meninos" é uma espécie de "Os Pássaros", de Alfred Hitchcock, só que com crianças, só que naquele, embora especulemos uma série de possibilidades a respeito do comportamento doas animais, não temos, em momento algum uma explicação para aquele ataque. Já em "Os Meninos", toda aquela introdução com imagens chocantes de guerras e números assustadores mortes, sem dúvida alguma, pretende, no mínimo, dizer, "É por esses motivos que eles estão assim". E daria para culpá-los?

A ironia do filme e uma questão que o diretor deixa no ar é que, se concretizada a dominação das crianças, aquela revolta saindo dos limites da ilha e se espalhando para o mundo, se aqueles pequenos, tão cheias de ódio, não fariam um mundo pior ou igual ao que vivem? Mais guerras, mais mortes, mais , injustiças, egoísmo... Sem falar numa coisa óbvia que, certamente, mais cedo ou mais tarde faria diferença: crianças crescem e se tornam adultos...

E adultos, nós bem sabemos, costumam estragar seu próprio mundo.



Assista:

"Os Meninos" ("¿Quién puede matar a un niño?"), 

de Narciso Ibañez Serrador (1976)



"Os Meninos" 
Título original: ("¿Quién puede matar a un niño?")
Direção: Narciso Ibañez Serrador
Gênero: Suspense / Terror
Duração: 111min.
Ano: 1976
País: UK / Espanha
Onde encontrar: YouTube


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Cly Reis

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Sean Lennon - “Friendly Fire” (2006)

 

"Quando eu era jovem, me preocupava com a estética do inacabado, do feito em casa. Mas com ‘Friendly Fire’ resolvi ver se conseguia fazer algo refinado. Optei por uma estética mais elegante e elaborada".
Sean Lennon

Lá fora no oceano que veleja afora/
Eu quase não posso esperar/
Para te ver mais velho/
Mas eu acho que vamos apenas ter que ser pacientes/
Porque o caminho é longo
”. 
Trecho de "Beautiful Boy", escrita para Sean 
por John Lennon em 1980, ano de sua morte

A vida de Sean Lennon é, mesmo que ele não queira, sui generis. Dono do sobrenome mais pesado entre os mortais, Ono Lennon, ele carrega a herança genética e cultural de dois ícones mundiais. Ímpar, aliás, também é seu destino. Além da rara coincidência de nascer exatamente na mesma data de seu pai, hoje, 9 de outubro, a quem, por óbvio, guarda muita semelhança, teve a infância marcada pelo trauma do assassinato do mesmo, quando tinha apenas 5 anos. Hoje, faz 49, enquanto seu pai, morto há pouco menos de 34, completaria 84 se vivo. Em contrapartida, à base de muita dor, Sean contou também com a proteção da mãe. 

Nesta redoma, não demorou muito para que o rapaz com cara de John Lennon de olhos puxados percebesse que a hereditariedade lhe favorecia. Afeito às artes visuais mas, principalmente, à música, aos 7 já participava cantando na faixa-título do disco da mãe “It's Alright (I See Rainbows)”, de 1982, com quem, aliás, contribuiria ainda diversas vezes noutros trabalhos. Mas não só com Yoko Ono: hábil em vários instrumentos e na mesa de som, tocaria com e produziria diversos outros artistas, como Cibo Matto, Lenny Kravitz, Miley Cyrus, Carly Simon, Soufly e Tom Zé, até lançar, aos 21 anos, seu primeiro disco solo, o excelente “Into the Sun”. Cristalizava-se ali um talento nato.

Mas a vida de Sean é mesmo fadada ao incomum. Herdeiro e administrador da mais valiosa obra musical do século XX, o milionário Sean não tem a menor necessidade de viver de música, o que por si só o diferencia de qualquer outro cidadão do planeta. A forma de conciliar a comodidade financeira à pulsão natural em produzir foi a escolha de fazer só aquilo que gosta e quando quer. Tanto é que, hoje, com mais de 40 anos de vida artística, Sean soma, afora trilhas sonoras e contribuições a outros artistas, apenas três álbuns solo. Para que ele entre num estúdio e grave algo seu tem que valesse a pena de verdade. Caso de “Friendly Fire”, de 2006.

Para falar desse disco e o que o motivou, contudo, precisa-se voltar um ano antes de sua gravação. A vida de Sean, como dito, anda por linhas tortas. E o que é mais passível de desgovernar o caminho de alguém? Se não a morte, o amor. No caso, o que se abateu sobre Sean foram as duas coisas. O melhor amigo, Max LeRoy, e a então namorada de Sean, Bijou Phillips, estavam envolvidos em um triângulo amoroso. Quis o destino que, tragicamente, LeRoy morresse em 2005, num acidente de trânsito, antes que os amigos pudessem se reconciliar. Claro, que o namoro também acabou. Autobiográfico, “Friendly Fire”, assim, carrega-se do profundo efeito que a morte de LeRoy teve sobre Sean, que com esse combustível compõe um dos discos mais doloridos e bonitos da música pop recente. 

Ao estilo de “discos de separação” como “Blood on the Tracks”, de Bob Dylan, neste trabalho é outra referência a um corte físico e emocional que Sean suscita, visto que ainda mais profundo. O “fogo amigo” tanto pode ser entendido como uma traição quanto como a ação fatal de alguém, LeRoy, que se autopenalizou por um erro da pior maneira possível. “Dead Meat”, título de uma das melhores faixas do álbum e responsável por abri-lo de forma melancólica e carregada, fala dessa ferida exposta, como um coração dilacerado, como uma “carne morta”. Os acordes iniciais são o toque valseado de piano tão circense quanto choroso, como se um clown desgraçado e ridículo entrasse no picadeiro para gargalharem de sua figura miserável. Tamanha é a força da música que, ao soar a orquestra ao final, intensa e emocionada, tem-se a clara impressão de que o álbum está terminando.

Sean mostrava que, em 8 anos desde seu primeiro disco, muita coisa havia mudado. Mudara, literalmente, do quente para o frio. Ao invés de se aquecer “através do sol” (“Into the Sun”), esse mesmo calor havia se convertido num “fogo amigo” que conduz à gélida morte, como um tiro que se leva de um companheiro sem intenção de ferir. Mas que fere. Até as capas são vinho e água: numa, o desenho de Sean sorridente sob o tom quente da cor laranja; no outro, um autorretrato de poucos traços de um rapaz sério em um fundo massivamente branco, sem vida. Isso tudo, claro, se reflete nos sons. Ao contrário da luminosidade experimental do trabalho de estreia, a escolha para representar esse novo momento é o refinamento pop, como que tomado pela impassibilidade e pelo assombro. Este é o caso também de "Wait for Me", cujo título dispensa explicações. “Algum lugar por entre a lua e o mar/ Eu estarei esperando por você, meu amor/ Então, espere por mim”, diz a letra deste pop-folk classudo forjado no violão, lembrando coisas nesse estilo de John com os Beatles (“I’m Only Sleeping” e “Cry Baby Cry”) ou solo (“Look at Me”).

"Parachute", outra preciosidade de “Friendly...”, é, quiça, a mais deprê de todo o disco, o que não significa que, nem por isso, Sean recaia ao enfadonho. Balada bela e lamentosa, não à toa foi o hit do disco, tendo o ajudado a alcançar o posto 152 na parada Billboard 200. Refrão marcante e delicado, daqueles que Sean, atento ao aspecto emocional das canções, sabe fazer como ninguém. Mesmo caso da faixa-título: melodia dolorida, mas que pega. Num arranjo perfect pop, as sentidas palavras de Sean dizem: “Você lançou o ataque com a primeira bola de canhão/ Meus soldados estavam dormindo/ Eu sei que você pensou que nunca iria cair/ No último minuto/ É fogo amigo”. Mesmo que inconscientemente, o amigo, ao morrer, se culpabiliza mas se vingou ao mesmo tempo. É perceptível o abatimento na voz de Sean, como se não quisesse ter que cantar aquilo. Mas há-lhe um impulso interno mais forte, que se impõe.

E quando Sean olha para o amanhã? O mesmo vazio. O blues “Tomorrow” desenvolve-se suave sobre essa desesperança. Outra balada cortante, "On Again Off Again", é mais uma prova da habilidade musical de Sean em criar canções tocantes e saborosas ao mesmo tempo. Na sequência, certamente a mais “alto astral” do repertório: "Headlights". Batida de violão, palmas marcando o ritmo, escala em lá maior. Mas alegre até por aí, visto que, nas palavras, Sean está dizendo que “a vida é apenas morrer lentamente”.

Versão de Marc Bolan, "Would I Be the One", pode-se dizer daqueles covers tão legais quanto a música original, do início dos anos 70. Afinal, parece uma música composta pelo próprio Sean, o que acaba por dar ainda mais coesão a um repertório tão pessoal. Igualmente down e comovente, como todo o restante, inclusive do tema de encerramento: a balada "Falling Out of Love". Outra título autoexplicativo. “Por favor, eu te esquecerei/ Não vou deixar você entrar no meu coração/ Eu te deixei esperando/ Esperando na escuridão/ Está tudo desmoronando”. É de cortar o coração. Sean está processando o luto de dois amores: o da namorada e o do amigo. 

Uma matéria da época do lançamento de “Friendly...” disse com assertividade: “a apresentação imponente dessas 10 músicas desmente seu tema recorrente: ser filho de uma lenda do rock'n'roll e de uma matriarca de vanguarda não torna sua vida romântica mais fácil”. De fato, ninguém escapa dos desafios do coração. Mas ainda mais certo é que, Sean, sensível e talentoso músico como cedo já demonstrava, consegue entregar um material tão sofisticado e bem elaborado desse momento de sua vida, que, ao final, soa como algo positivo, engrandecedor. Da tragédia, a beleza. Qualidade de quem aprendeu, já criança, a ressignificar a dualidade vida e morte para trilhar seu caminho único e intransferível.

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FAIXAS:
1. "Dead Meat" - 3:37
2. "Wait for Me" - 2:39
3. "Parachute" - 3:19
4. "Friendly Fire" - 5:03
5. "Spectacle" (Lennon, Jordan Galland) - 5:24
6. "Tomorrow" - 2:03
7. "On Again Off Again" - 3:18
8. "Headlights" - 3:16
9. "Would I Be the One" (Marc Bolan) - 4:58
10. "Falling Out of Love" (Lennon, Galland) - 4:07
Todas as faixas compostas por Sean Ono Lennon, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO:
Sean Lennon - “Friendly Fire”


Daniel Rodrigues

Música da Cabeça - Programa #381

 

Então, vamos para o segundo turno? Aqui no MDC, o pleito já começou. E começou com a música de Cátia de França, Morrissey, The Cure, Majur, Madonna e mais. Ainda, um Sete-List já aludindo ao Dia da Crianças, comemorado dia 12, só com artistas mirins que deram certo. Exerce tua cidadania e confirma teu voto no programa hoje, às 21h, na democrática Rádio Elétrica. Produção, apresentação e zona eleitoral: Daniel Rodrigues.



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