terça-feira, 28 de janeiro de 2014
The Beach Boys - "Pet Sounds" (1966)
sábado, 16 de janeiro de 2021
Paul McCartney - Up And Coming Tour - Estádio Beira-Rio - Porto Alegre/ RS (Novembro/2010)
Imagina se Shakespeare viesse à tua cidade para a sessão de autógrafos de, digamos, “Hamlet”. Imagina se Michelangelo um dia fosse convidado para pintar um mural público e permanecesse aqui para uma temporada de residência artística. Ou se Galileu Galilei ganhasse o título de honoris causa pela universidade local e desembarcasse nestes pagos para a homenagem. Os jornais estampariam: “Ele está entre nós”. Afinal, não é todo dia que gênios da humanidade descem à terra e se juntam aos mortais. Posso dizer que vivi isso. Paul McCartney, o beatle, o hitmaker, o multi-intrumentista, o maestro, o produtor, o Cavaleiro da Rainha, o ativista, o recordista da Billboard... sim: ele esteve entre nós. Na noite de 7 de novembro de 2010, no domingo, dia em que teoricamente os deuses descansam, uma reencarnação de São Paulo despencou dos céus e trocou as vestes de santo pelas de um músico de rock ‘n’ roll para jogar encantamento sobre milhares de fiéis com sua arte redentora. E melhor de tudo: diferentemente de um Shakespeare, Michelangelo, Galileu – ou Picasso, Pitágoras, Mozart, Newton –, Paul está vivo e pertence ao meu tempo.
Por falar em céus, o firmamento esteve envolvido o tempo todo com este show, desde antes deste começar, aliás. Quando houve o anúncio de que Paul viria a Porto Alegre para a turnê “Up And Coming”, enlouqueci. Tinha que vê-lo. No que começaram a ser divulgadas as primeiras notícias sobre valores de ingresso, minha animação se transformou em apreensão. Primeiro, pelo valor, que chegava a astronômicos patamares para a época. Mas, principalmente, pelo acesso. Os 50 mil ingressos se esgotaram após as duas primeiras horas de vendas, ocorrida um mês antes do show. Afora isso, não tinha nem cartão de crédito àquela época, o que dificulta sobremaneira a se obter esse tipo de coisa. Toda a Porto Alegre aguardava ansiosa pela chegada de Paul à cidade. Nos dias que antecederam o show, o próprio artista fazia questão de responder ao chamado das pessoas na rua, como quando saiu do hotel e uma multidão o aguardava. O clima era este: de comoção.
Paul na primeira e inesquecível apresentação em Porto Alegre: ele esteve entre nós |
A apresentação em si atingiu todas as expectativas. Noite quente, nada de nuvens. De tão visíveis, era quase possível tocar as estrelas. O público, de todas as idades, transpirava excitação antes de começar. A mim, que nunca tinha assistido Paul ao vivo e que não conhecia até então nem o DVD “Paul McCartney - Is Live In Concert - On The New World Tour”, cujo show é bastante parecido, contudo, superou. Fui absolutamente arrebatado pelo set-list, pelas trucagens do palco, pelos clássicos imortais em sequência, pela simpatia de Paul, pela entrega dos músicos. Chorei como um ateu que se converte em cristão diante de um milagre incontestável. Era como se eu fosse ao céu. Afinal, o milagre estava operando-se à minha frente: Paul tocando por mais de 2 horas nada menos que 34 músicas. Clássicos do rock, clássicos da música mundial, temas que se confundem com a própria vida das pessoas, como “Jet”, “The Long and Winding Road”, “Drive My Car”, “Band on the Run”, “Day Tripper” e várias, várias outras. Incontáveis vezes essas canções estiveram presentes nas horas boas e ruins da biografia de cada um daqueles ali presentes. Entre estes, um emocionado Daniel.
"Venus and Mars", começando o show de Porto Alegre
O alto nível de um show realizado em estádio grande e aberto (refiro-me ao antigo Beira-Rio, antes das obras para a Copa do Mundo, assim como ocorreu no antigo Morumbi dias depois) mas com engenharia de som perfeita, além do vídeo e da iluminação, tinha na parte técnica a garantia de um ambiente propício para Paul e seus súditos deitarem e rolarem. Mas eles fizeram ainda mais do que isso. Embora seguissem o roteiro, era visível que a paixão do público porto-alegrense, que recebia pela primeira vez o ídolo, contagiou os músicos no palco. Ouvia-se choro, gritos, palmas e coros, que não deram trégua um minuto sequer, ainda mais nos vários momentos em que o cantor interagiu falando um português carregado de sotaque. Tanto que a imprensa – não só da bairrista Porto Alegre, mas do centro do País – classificou o show de “apoteótico” no dia seguinte. Os ingredientes estavam todos ali para que isso acontecesse: Paul animadíssimo tocando 6 instrumentos diferentes durante a apresentação e a incrível banda de músicos-fãs que executam com exatidão e paixão o repertório beatle e solo do líder. O repertório vai de hits dos Beatles a da extensa carreira solo de Paul a homenagens aos ex-companheiros de banda George Harrison (quando cantou “Something”) e a John Lennon (“Let ‘Em In”, da Wings, escrita para o parceiro, e quando emenda “Give Peace a Chance” com a obra-prima “A Day in the Life”).
E o que dizer de ouvir ali, presencialmente, “And I Love Her”, Let Me Roll It”, “Eleanor Rigby”, “Let it Be”, “Get Back”?! Totalmente tomado por aquela verdadeira apoteose, fui elevado a um outro plano especialmente em pelo menos quatro momentos. Primeiro, quando Paul tocou “Blackbird”, capaz de me provocar lágrimas a cada audição doméstica, quem dirá ao vivo. Igualmente, quando não apenas eu, mas 50 mil vozes entoaram o famoso “la la la” final de “Hey Jude”. Algo inesquecível, daqueles que se leva para a vida. Desavisado dos efeitos pirotécnicos mas adorador da música, “Live and Let Die” foi outra que me arrebatou – o que me aconteceria mesmo sem os jorros de fogos sincronizados, obviamente. Para desfechar sem respirar, uma sequência de “Helter Skelter”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e “The End”. Apoteótico, apoteótico.
A apoteótica apresentação de "Live and Let Die" naquela noite
Recordo que à época não consegui produzir um texto para o blog, porque a comoção era muito grande semanas depois. Eu lembrava das pessoas saindo do estádio a pé como eu com uma expressão de encantamento, de abismados, parecendo uma raça improvável de zumbis tomados de felicidade, meio incrédulos com o que viram. Eu, inclusive. Paul voltaria à cidade 7 anos depois, num Beira-Rio já reformado, mas aí a coisa era outra, incomparável com aquela primeira e inesquecível vez. Só mesmo o céu para testemunhar tamanho acontecimento como foi o daquele de 7 de novembro de 2010. E não é que ele testemunhou!? Não sei se somente eu percebi (pois quem mais levantaria a cabeça em direção ao céu naquela hora?), mas eu vi uma estrela cadente descer bem atrás do estádio, na direção de Paul. Juro mas não foi efeito de álcool e nem do meu estado de elevação. Eu vi de verdade! Em resposta às lágrimas e da emoção daquela multidão de pessoas, uma das estrelas, as que estavam bem visíveis e quase alcançáveis no céu limpo de Porto Alegre daquela noite histórica, resolveu descer para nos cumprimentar. Afinal, quem não daria uma chegadinha depois de ouvir entoado com tamanha emoção o “la la la” de “Hey Jude”? Deve-se ter ouvido até lá em cima. Eu, se fosse estrela, também não perderia essa.
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Setlist Show "Up And Coming":
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
Exposição “The Beatles Kids & Fans” – Acervo fã-clube Revolution – Praia de Belas Shopping – Porto Alegre/RS
A semana não poderia ser melhor para os fãs de Beatles porto-alegrenses. No último dia 9, terça, completaram-se os 77 anos de nascimento de um dos maiores gênios da história da música: o beatle John Lennon. Além disso, o outro gênio da banda, Paul McCartney, se apresenta na cidade no próximo dia 13, no Estádio Beira-Rio, repetindo (se não, superando) o histórico show que fizera neste mesmo palco e chão em 2010 – ocasião em que eu felizmente estava presente.
Para fechar essa programação com topete mullet, o Praia de Belas Shopping, próximo ao local do show da sexta e num ponto bem central da cidade, ainda está promovendo, até dia 15, o “The Beatles Kids & Fans”. Com entrada gratuita, a mostra traz artigos do acervo do Revolution, de São Paulo, único fã-clube de Beatles da América Latina reconhecido oficialmente pela Apple, corporação fundada pelo grupo que cuida da marca The Beatles. Na exposição, é possível conferir objetos como: revistas, cards, fotos, matérias, reportagens, bonecos e discos, que contam um pouco da trajetória do grupo.
Dentre as relíquias expostas, um baixo Hofner 63 idêntico ao que Paul usava no início da banda – e autografado pelo autor de “Hey Jude”. Igualmente, uma agenda assinada por John Lennon do dia em que Marco o conheceu em frente ao famoso edifício Dakota, em Nova York, onde o músico morava e onde, fatidicamente, foi assassinado. Detalhe: a foto é de 10 de outubro de 1980, um dia depois do aniversário de John e menos de dois meses antes do trágico acontecimento.
A mostra tem ainda um espaço dedicado, como o nome sugere, às crianças. Estive na exposição e pude ver que a gurizada realmente se divertem e interagem com os elementos e a história dos Quatro Rapazes de Liverpool. Para elas, têm atividades como: oficina de paper toys; Guitar Hero; pinturas; painel de fotos com o Beatles Cartoon; entre outras.
Gurizada tocando Beatles no Guitar Hero |
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serviço
Mais informações: www.praiadebelas.com.br
Totens com a história da Fab Four |
O disco de ouro de "She Loves You", presente de John a Mallagoli |
Fotos de e com Paul McCartney |
Criançada aproveitando para pintar |
Joguinhos dos anos 60 com temática beatle |
A agenda com o autógrafo de John e a foto tirada 2 meses antes da morte do artista |
Paper toys de John, Paul, George e Ringo |
Visão superior de toda a exposição |
Selfie em plena Abbey Road (eu estou de pés descalços, mas não aparece) |
sábado, 21 de junho de 2014
The Beatles Rock Cup - finalistas
Bem, amigos do clyblog, chegamos ao momento decisivo da Copa Beatles.
Das 96 canões que iniciaram a competição apenas duas chegam vivas para a batalha final. Foi um longo e doloroso caminho e grandes clássicos ficaram pelo caminho derrubados, no detalhe ou massacrados inapelavelmente, pelas duas finalistas.
E quais são elas?
Bem, nossa bancada beatlelística analisou as duas semifinais e chegou à conclusão de quais as que merecem fazer a grande final.
Veja abaixo, então, as análises dos nossos comentaristas e seus escolhidos para a decisão:
GET BACK x A DAY IN THE LIFE
A Day in the life é composição de Lennon e McCartney e faz parte do álbum "Sgt. Peppers...." É uma das maiores canções do mundo. Tem todos os ingredientes dos Beatles reunidos numa canção só. Você se emociona, se diverte, viaja e como complemento escuta sons indescritiveis mas que fazem bem aos ouvidos.
GET BACK x A DAY IN THE LIFE
A Day in the Life é um clássico. Gué Bé é um saco. Não evolui, não progride, não diz a que veio. Nunca gostei dessa retomada às origens que eles quiseram fazer, requentar um passado roqueiro glorioso aos 46 do segundo tempo. Enfrentam ADITL que é uma música em 2 partes coladas, uma do Macca e outra do Lennon e a terceira parte com uma mesclagem muito interessante com a letra da primeira e o ritmo da segunda. A própria Get Back havia predito seu destino: “Get back to where you once belonged” A Day in the Life ganha de 3 x 0, placar clássico de goleada.
A DAY IN THE LIFE CLASSIFICA
GOLDEN SLUMBERS x PLEASE PLEASE ME
Semi-final via de regra é um jogo mais disputado que a final. Na final é o “Vamos ver o que é que dá, já chegamos aqui”. A semi-final é o “Quero chegar lá”. Nesse confronto pegamos os extremos da carreira dos Beatles, uma do primeiro e outra do último jogo. O início e o fim. Please Please Me chega motivada pela força da juventude e o espírito de quem ainda quer e tem o que fazer. Golden Slumbers chega com a experiência de anos e anos de música no lombo, e é mais uma música recortada e colada em 3 partes. Slumbers cadencia o jogo suportando a pressão da Please Please Me e na sua segunda parte, ela avisa em alto e bom tom “Boy, you're gonna carry that weight” e é onde ela ganha a disputa, com consistência faz um a zero, com a sessão de solos de guitarra faz 2 x 0, com a frase final liquida a fatura em goleada de 3 x 0.
GET BACK x A DAY IN THE LIFE
Desta semifinal, com certeza é o confronto mais cascudo. Tudo bem que "Get Back" é uma baita esquadra, tem todo o seu valor histórico. Foi celebrada no Rooftop (o show do telhado). No entanto, algo indica que "A Day In The Life" tem tudo para levantar o caneco. É uma equipe épica, diferenciada, atropelou vários adversários da Copa e merece estar disputando o título.
GOLDEN SLUMBERS x PLEASE PLEASE ME
O estilo moleque de Please Plese Me - formado por um grupo de Sub-20 - foi chegando, chegando e incrivelmente está as semifinais. Mas nessa fase o buraco é mais embaixo e não tem como ser páreo para "Golden Slumbers". Esta é uma equipe com um preparo e maturidade e uma execução mortal e fundamental para ir para a final.
- Rodrigo Lemos:
GET BACK X A DAY IN THE LIFE
GOLDEN SLUMBERS x PLEASE PLEASE ME
GOLDEN SLUMBERS tem um time seguro e sólido. Defende-se bem do ímpeto juvenil e o embalo dos atacantes de PLEASE PLEASE ME. PLEASE PLEASE me é muito legal, tem a introdução com a gaitinha de boca, as harmonias afiadas do vocal, com agudos ao estilo Little Richards no “Pleeeeease me”, as viradas da bateria, o “come on, come on” no refrão e os pequenos riffs de guitarra. Um baita time, sobretudo na parte ofensiva que não chegou até as semi-finais por acaso. Mas foi o acaso que botou no seu caminho uma equipe afinadíssima, segura e competente. GOLDEN SLUMBERS é uma obra-prima. Uma seleção, do goleiro ao ponta esquerda. Tremendo arranjo, cordas, metais, piano, baixo e bateria, tudo no lugar certo e na medida certa. O vocal do Paul Mc Cartney é matador, inspiradíssimo e a vitória é inevitável.
GOLDEN SLUMBERS CLASSIFICA
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
The Beatles - "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967)
A Revolução do Sargento Pimenta
"Mais do que um mero disco pop,
"Sgt. Peppers" é um momento significativo
na história da civilização ocidental".
Você pode achar que o disco "Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, não seja o melhor de todos os tempos, mas uma coisa há de se concordar: foi revolucionário. Não estou me referindo somente a parte musical, mas sim os vários elementos em torno deste disco. Chamado por alguns especialistas de “obra de arte”, esse rótulo se deve ao fato que, além das suas canções, esse registro mexeu com uma idéia de conceito, incluindo as artes gráficas e a moda. Naquele momento, nenhuma banda tinha se caracterizado de personagens, como os Beatles fizeram. Se fardar de banda do Sargento Pimenta, com direito a uniformes psicodélicos de uma unidade militar regada à LSD, foi uma ideia inédita.
O que dizer da capa desse disco? Uma platéia de celebridades que foram “convidadas” a participar do encarte. Cheia de significados e de mensagens sublimares, as quais os Beatles tinham adoração e eram peritos em despertar a curiosidade no público. Essa “pegadinha” aos fãs vinha desde a época do Rubber Soul, com pistas que davam conta de que Paul McCartney estava morto, o que, na verdade, havia apenas se acidentado de carro, no entanto virou um excelente marketing para a banda. Macca segue mais que vivo do que nunca, apresentando vitalidade e músicas de grande nível, mesmo tendo passado, há alguns anos, dos seus Sixty-Four, como projetou em Pepper. A capa do Sargento é marcante e, não é à toa, que é uma das mais reproduzidas da história.
Importante salientar neste disco a proposta de conceito que ele apresenta, pois, anteriormente, os grupos gravavam, num LP, uma compilação de músicas. Além disso, Pepper apresentou técnicas e métodos diferenciados de gravação para a época, nos anos 60. Por mais que todas as músicas não foram compostas de uma maneira que fossem ligadas uma a outra, conforme John Lennon e George Harrison afirmaram em entrevistas, isso não impede afirmar que é conceitual. São os Fab Four acompanhados da banda do Sargento Pimenta, que, é claro, foi orquestrada pela batuta de George Martin, o quinto Beatle.
Sobre as canções, bom lembrar que o aquecimento do Pepper veio com um compacto com duas preciosidades: “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lanne”. O que podia esperar? Era o prenúncio de que uma grande obra estava por vir.
O disco começa com uma inovação, uma transição da música título com a “With a Little Help from My Friends”. Outra novidade é a reprise dessa mesma canção tema – numa versão mais rock and roll -, que aparece na décima segunda faixa. Já com “Within You Without You", Harrison faz mais um esforço para popularizar a música oriental, até então pouca explorada. E não é só, it´s getting better, ou melhor, tem mais considerações importantes para comentar. Em “She's Leaving Home", Macca demonstra seu peculiar dom de compor canções emotivas. Fora que terminar o disco com “A Day in the Life”, uma música em que Lennon faz o “papel” de uma pessoa sonhando e McCartney o de uma acordada, é um grande desfecho. Aliás, de um sonho, ou de uma ajuda lisérgica, veio a inspiração para “Lucy in the Sky with Diamonds”. Enfim, uma obra que apresenta magia e criatividade, todas materializadas e verdadeiras.
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FAIXAS:
- Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
- With A Little Help From My Friends
- Lucy In The Sky With Diamonds
- Getting Better. Fixing A Hole
- She's Leaving Home
- Being For The Benefit Of Mr. Kite.
- Within You Without You
- When I'm Sixty-Four
- Lovely Rita
- Good Morning Good Morning
- Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band (reprise)
- A Day In The Life
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OUÇA:
The Beatles Sgt Pepper's Lonely Heart Club Band
por Eduardo Wolff
quinta-feira, 10 de junho de 2021
Protagonistas coadjuvantes
Michael dando um confere bem de perto no que seu mestre Stevie Wonder faz em estúdio, nos anos 70 |
Há também aqueles que dificilmente se supõe que fariam algo fora de seus trabalhos pelos quais são mais conhecidos. Mas vasculhando com atenção as fichas técnicas dos discos, acha-se. Vez ou outra se encontra um artista que geralmente é visto apenas como protagonista atuando, deliberadamente, como um coadjuvante. E não estamos nos referindo àqueles principiantes que, posteriormente, tornar-se-iam ilustres, caso de Buddy Guy em “Folk Singer”, de Muddy Waters, de 1959, na primeira gravação do jovem Guy, então com 18 anos, com o veterano bluesman, ou Jimi Hendrix nas gravações de 1964 com a Isley Brothers anos antes de transformar-se num ícone do rock.
Aqui, referimo-nos àqueles que, já consagrados, abriram mão de seu status em nome de algo que acreditavam seja para um disco, um projeto, uma música ou um show. São momentos em que se vê verdadeiros mitos descerem de seus altares para, humildemente, colaborarem com a música alheia, seja por admiração, amizade, sentimento de dívida ou o que quer que explique. O fato é que esses “protagonistas coadjuvantes”, mesmo que estejam escondidos ou somente encontráveis nas miúdas letras da ficha técnica, abrilhantam com seus talentos peculiares a obra de outros.
Os anos 80 foram de inquietude para Robert Smith, líder da The Cure. Sua banda já era uma das mais celebradas do pós-punk britânico em 1983 quando ele, que havia lançado um ano anos o disco único “Blue Sunshine”, da The Glove, projeto em parceria com Steven Severin, decide dar um tempo com o grupo. Mas para quem estava a pleno naquela época, Bob “descansou carregando pedra”, como diz o ditado. Ele decide fazer parte da Siouxsie & The Banshees, banda coirmã da The Cure, mas estritamente como integrante. Com os vocais e o palco já devidamente preenchidos por Siouxsie, Robert assume as guitarras e une-se a Severin (baixo) e Budgie (bateria) para compor a melhor formação que a Siouxsie & The Banshees já teve. Não deu outra: dois discos, duas pérolas, para muitos os melhores da banda: “Hyenna” e o ao vivo “Nocturne”.
Mais do que na música pop, é comum no jazz grandes astros e band leaders tocarem na banda de colegas. Isso não funciona, entretanto, para Miles Davis. O talvez mais exclusivo músico do jazz havia tocado no início da carreira para Sarah Vaughan, mas depois jamais fez nada que não fosse tão-somente seu. Até que, com jeitinho, em 1958, o amigo Cannonball Adderley convida-o para participar das gravações de um disco que ele estava por lançar e no qual teria ainda Art Blakey, na bateria, Hank Jones, no piano, e Sam Jones, no baixo. Uma sessão de gravação apenas, só cinco números, algumas horinhas de estúdio com Rudy Van Gelder na mesa, engenheiro com quem Miles tanto estava acostumado a trabalhar. "Não vai custar nada. Diz, que sim, diz que sim!" Tanto foi, que Miles topou, e saiu "Somethin' Else", aquele que é o disco que antecipa a obra-prima “Kind of Blue”, em que, reassumido o posto de front man, aí é Miles que conta com o parceiro saxofonista na banda. Tudo de volta ao normal.
É conhecida a versatilidade de Paul McCartney. Multi-instrumentista, ele é capaz de tocar, em apenas um show, vários instrumentos ou gravar um disco inteirinho sozinho sem precisar de mais ninguém no estúdio. Quem também fez isso foi Dave Grohl, líder da Foo Fighters, que, no álbum de estreia da banda, em 1995, toca não apenas a bateria, que era seu instrumento na Nirvana, como todos os outros. A amizade e talvez essa semelhança tenham feito com que chamasse o eterno beatle para uma empreitada 12 anos depois. Fã de Macca, ele convidou o veterano músico para gravar para ele não a guitarra, o piano ou a voz. Isso, muita gente já havia feito. Ele pediu para Paul tocar justamente bateria. A “brincadeira” deu super certo, como se vê na canção "Sunday Rain" presente no disco "Concrete And Gold".
É uma música apenas, mas considerando o tamanho deste “coadjuvante”, vale por um disco inteiro. A linda e melodiosa “All I Do”, que Stevie Wonder gravaria em seu “Hotter than July”, de 1980, conta com ninguém menos que Michael Jackson nos vocais. E não se trata da voz principal, e sim do backing vocals! Surpreende ainda mais que o Rei do Pop já havia lançado à época o megassucesso “Off the Wall”, de um ano antes, com o qual revolucionaria a música pop e que quebrara os paradigmas de vendas da música negra no mundo. Mas a devoção de Michael para com Stevie era tamanha, que ele nem se importou em fazer um papel secundário. Para quem era conhecido pela habilidade de canto e arranjos de voz, no entanto, o que seria uma mera participação contribui sobremaneira para a beleza melódica da canção.