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domingo, 4 de novembro de 2012

John Cale – “Sabotage/Live” (1979)




“You better be ready for war.” (“É melhor você estar pronto para a guerra”)
da letra de “Mercenaries”


Eu teria tranquilamente pelo menos outros três ou quatro discos de John Cale para incluir numa lista de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS  o que talvez ainda seja reparado por mim, pelo Clayton ou outro colaborador do blog. Mas faço questão de começar justamente por um disco ao vivo que, via de regra, não tem a mesma “fundamentabilidade” dos de estúdio. Mas esse é um “live” diferente, como, aliás, é a marca deste genial e camaleônico cantor, compositor, arranjador e produtor galês. O referido disco é “Sabotage”, registro avassalador gravado por Cale em 1979 no lendário CBGB, boteco que, no início dos anos 70, foi palco do surgimento do punk, cena da qual o próprio foi um dos principais artífices.
Cale é um verdadeiro esteta. Já apareceu na cena artística de Nova York nos anos 60 como uma lenda. Ex-aluno do vanguardista La Monte Young, levou sua pegada erudita moderna para a não menos lendária banda Velvet Underground e, sob a batuta de Andy Warhol e ao lado de Lou Reed  formou uma das parcerias musicais mais inventivas da história da música contemporânea. Não bastasse, o cara largou o Velvet após apenas dois discos (mas suficiente para deixar sua marca) e entrou numa carreira solo regida pelo mais absoluto ecletismo, indo do mais tosco punk-rock até a mais refinada suíte romântica a la Brahms. Coisa que apenas um maestro genial como ele teria condições e conhecimento para tanto. De 1969 para cá, produziu, lançou bandas e artistas, compôs inúmeros discos próprios e/ou em parceria, fez trilhas sonoras, enfim: soltou a criatividade.
“Sabotage”, o disco em questão, faz parte de sua trilogia proto-punk iniciada no magnífico “Fear” (1974) e no não menos brilhante “Guts” (1977). Porém, é no terceiro da série que Cale detona tudo, num dos mais pungentes e, ao mesmo tempo, bem elaborados discos de rock já ouvidos. A banda é afiadíssima: Mark Aaron, esmerilhando na guitarra solo; Joe Bidewell, competente nos teclados; Doug Bowne, mantendo super bem o ritmo na bateria, às vezes dando espetáculo; George Scott, com seu baixo grave e fundamental para o arranjo e textura; Deerfrance, a musa da cena punk nova-iorquina nos backings e colaborando também na percussão; e o próprio Cale, que manda ver no piano, guitarra-base, segundo baixo, viola (originalmente seu instrumento-base) e, claro, vocal.
"Mercenaries (Ready for War)", com sua base de baixo constante, grave e pesada, começa pondo a galera pra poguear. Cale solta o verbo numa letra que critica a sociedade e o militarismo, como um bom punk, desfechando ao som da explosão da bomba que ilustra a capa. Aaron é outro que destrói nesta, dando uma noção do que viria em seguida. Mantendo a pegada e o sarcasmo, "Baby You Know" vem na sequência com um ritmo marcial e um motivo constante de teclados super legal, lembrando Joy Division. Ótima.
“Evidence” traz um riff matador de guitarra, mas não menos legal na linha de baixo. Punk até dentro dos olhos, mas com aquele toque de Cale: um inconfundível refinamento até na escolha das poucas notas de um rock básico. “Dr. Mudd”, mais melodiosa mas não menos guitarrada, antecede a excelente “Walking the Dog”,  clássico do Rhythm and Blues numa versão quase irreconhecível de tão reelaborada. O baixo sustenta a melodia numa combinação de notas dissonantes, dando até a (falsa e proposital) impressão de estar desafinado. Mas as guitarras também não deixam por menos, mandando super bem.
Aí vem um dos pontos altos do show: “Captain Hook”. Com mais de 11 minutos, que passam sem se perceber tamanha sua densidade musical, começa com um motivo minimalista de teclado constante, enquanto os outros instrumentistas deitam e rolam solando. Todos. Porém, o que parecia ser uma peça instrumental toma outro rumo, e somente ali pelos 4 min vira um rock magistral, arrastado e carregado, com a bela voz de Deerfrance fazendo coro e a de Cale – já bem rouca a esta altura do show – proferindo uma letra longa e melancólica. A canção vai num crescendo até estourar em energia e agressividade. De tirar o fôlego.
A linda “Only Time Will Tell” quebra o ritmo numa melodia suave feita por Cale especialmente para a afinada e doce voz de Deerfrance, tal como ele e Lou Reed faziam nos tempos de Velvet, como em “Femme Fatale”, para Nico, e “After Hours”, para Moe Tucker. Uma surpresa e uma graça especial ao show. Mas a delicadeza não dura muito tempo, pois a pancadaria volta novamente na faixa-título. Aliás, pancadaria “desordenada”. A destreza erudita de Cale o fez criar uma melodia sem um centro tonal claro, somente duas notas de guitarra que se repetem de quando em quando, transmitindo uma verdadeira sensação de sabotagem. Assim, as guitarras, o baixo, a bateria e as vozes se estabefeiam no espaço sonoro, cada uma tentando se encaixar dentro de uma harmonia vaga e dissonante. E a galera delira. Genial.
Para terminar, não podia ser diferente: uma marcha militar, “Chorale”, lenta e quase fúnebre. Fim da guerra e mensagem dada: todos perderam naqueles tempos de pós-Vietnã e Guerra Fria.
Um dos principais diferenciais de “Sabotage” para a grande maioria dos discos ao vivo é que todo o repertório é feito de canções inéditas compostas especialmente para esta performance. Ou seja, Cale pensou em um disco não com versões ao vivo de músicas já gravados em estúdio como geralmente se faz, mas, sim, num set list inédito que soasse como uma apresentação mesmo, tendo em vista que essas peças funcionariam melhor com a reverberação acústica ampla, ruídos, interferências e imprevisibilidades de um show. Um exemplo disso é a rouquidão de Cale naquele dia. O tom geralmente elegante e grave de sua voz dá lugar a uma interpretação rasgada e agressiva, o que intensifica a força das execuções, coisa que seria evitada em um estúdio.
Toda a trilogia, mas principalmente “Sabotage”, faz jus ao movimento punk, naqueles idos já reconhecido internacionalmente pelo sucesso de Sex Pistols,  The Clash,  Ramones e cia. mas de muito conhecida por Cale. É como se ele, artista essencial e influente para este movimento tão importante à história do rock e da cultura pop em geral, o avalizasse e dissesse aos punks: “É isso aí, gurizada”.

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A edição em CD, lançada em 1999, traz ótimos extras. Primeiro, as três faixas do EP “Animal Justice”, de 1977, uma espécie de “quarto da trilogia”. Por último, a excelente obra gothic-punk "Rosegarden Funeral of Sores", posteriormente gravada super bem pelos darks do Bauhaus  em que Cale, apenas com um sintetizador marcando a percussão, uma linha de baixo e uma guitarra urrando faz arrepiar a espinha de medo de qualquer vivente.

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FAIXAS:
1. "Mercenaries (Ready for War)"
2. "Baby You Know"
3. "Evidence"
4. "Dr. Mudd"
5. "Walkin' the Dog" (Rufus Thomas, Jr.)
6. "Captain Hook"
7. "Only Time Will Tell"
8. "Sabotage"
9. "Chorale"

 
Bônus tracks (CD 1999)

10. "Chickenshit"
11. "Memphis" (Chuck Berry)
12. "Hedda Gabler"
13. Rosegarden Funeral of Sores"

todas de autoria de John Cale, exceto indicadas

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sexta-feira, 28 de junho de 2013

100 Melhores Discos de Estreia de Todos os Tempos

Ôpa, fazia tempo que não aparecíamos com listas por aqui! Em parte por desatualização deste blogueiro mesmo, mas por outro lado também por não aparecem muitas listagens dignas de destaque.
Esta, em questão, por sua vez, é bem curiosa e sempre me fez pensar no assunto: quais aquelas bandas/artistas que já 'chegaram-chegando', destruindo, metendo o pé na porta, ditando as tendências, mudando a história? Ah, tem muitos e alguns admiráveis, e a maior parte dos que eu consideraria estão contemplados nessa lista promovida pela revista Rolling Stone, embora o meu favorito no quesito "1º Álbum", o primeiro do The Smiths ('The Smiths", 1984), esteja muito mal colocado e alguns bem fraquinhos estejam lá nas cabeças. Mas....
Segue abaixo a lista da Rolling Stone, veja se os seus favoritos estão aí:

Os 5 primeiros da
lista da RS
01 Beastie Boys - Licensed to Ill (1986)
02 The Ramones - The Ramones (1976)
03 The Jimi Hendrix Experience - Are You Experienced (1967)
04 Guns N’ Roses - Appetite for Destruction (1987)
05 The Velvet Underground - The Velvet Underground and Nico (1967)
06 N.W.A. - Straight Outta Compton (1988)
07 Sex Pistols - Never Mind the Bollocks (1977)
08 The Strokes - Is This It (2001)
09 The Band - Music From Big Pink (1968)
10 Patti Smith - Horses (1975)

11 Nas - Illmatic (1994)
12 The Clash - The Clash (1979)
13 The Pretenders - Pretenders (1980)
14 Jay-Z - Roc-A-Fella (1996)
15 Arcade Fire - Funeral (2004)
16 The Cars - The Cars (1978)
17 The Beatles - Please Please Me (1963)
18 R.E.M. - Murmur (1983)
19 Kanye West - The College Dropout (2004)
20 Joy Division - Unknown Pleasures (1979)
21 Elvis Costello - My Aim is True (1977)
22 Violent Femmes - Violent Femmes (1983)
23 The Notorious B.I.G. - Ready to Die (1994)
24 Vampire Weekend - Vampire Weekend (2008)
25 Pavement - Slanted and Enchanted (1992)
26 Run-D.M.C. - Run-D.M.C. (1984)
27 Van Halen - Van Halen (1978)
28 The B-52’s - The B-52’s (1979)
29 Wu-Tang Clan - Enter the Wu-Tang (36 Chambers) (1993)
30 Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006)
31 Portishead - Dummy (1994)
32 De La Soul - Three Feet High and Rising (1989)
33 The Killers - Hot Fuss (2004)
34 The Doors - The Doors (1967)
35 Weezer - Weezer (1994)
36 The Postal Service - Give Up (2003)
37 Bruce Springsteen - Greetings From Asbury, Park N.J. (1973)
38 The Police - Outlandos d’Amour (1978)
39 Lynyrd Skynyrd - (Pronounced ‘Leh-‘nérd ‘Skin-‘nérd) (1973)
40 Television - Marquee Moon (1977)
41 Boston - Boston (1976)
42 Oasis - Definitely Maybe (1994)
43 Jeff Buckley - Grace (1994)
44 Black Sabbath - Black Sabbath (1970)
45 The Jesus & Mary Chain - Psychocandy (1985)
46 Pearl Jam - Ten (1991)
47 Pink Floyd - Piper At the Gates of Dawn (1967)
48 Modern Lovers - Modern Lovers (1976)
49 Franz Ferdinand - Franz Ferdinand (2004)
50 X - Los Angeles (1980)
51 The Smiths - The Smiths (1984)
52 U2 - Boy (1980)
53 New York Dolls - New York Dolls (1973)
54 Metallica - Kill ‘Em All (1983)
55 Missy Elliott - Supa Dupa Fly (1997)
56 Bon Iver - For Emma, Forever Ago (2008)
57 MGMT - Oracular Spectacular (2008)
58 Nine Inch Nails - Pretty Hate Machine (1989)
59 Yeah Yeah Yeahs - Fever to Tell (2003)
60 Fiona Apple - Tidal (1996)
61 The Libertines - Up the Bracket (2002)
62 Roxy Music - Roxy Music (1972)
63 Cyndi Lauper - She’s So Unusual (1983)
64 The English Beat - I Just Can’t Stop It (1980)
65 Liz Phair - Exile in Guyville (1993)
66 The Stooges - The Stooges (1969)
67 50 Cent - Get Rich or Die Tryin’ (2003)
68 Talking Heads - Talking Heads: 77’ (1977)
69 Wire - Pink Flag (1977)
70 PJ Harvey - Dry (1992)
71 Mary J. Blige - What’s the 411 (1992)
72 Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)
73 Norah Jones - Come Away with Me (2002)
74 The xx - xx (2009)
75 The Go-Go’s - Beauty and the Beat (1981)
76 Devo - Are We Not Men? We Are Devo! (1978)
77 Drake - Thank Me Later (2010)
78 The Stone Roses - The Stone Roses (1989)
79 Elvis Presley - Elvis Presley (1956)
80 The Byrds - Mr Tambourine Man (1965)
81 Gang of Four - Entertainment! (1979)
82 The Congos - Heart of the Congos (1977)
83 Erik B. and Rakim - Paid in Full (1987)
84 Whitney Houston - Whitney Houston (1985)
85 Rage Against the Machine - Rage Against the Machine (1992)
86 Kendrick Lamar - good kid, m.A.A.d city (2012)
87 The New Pornographers - Mass Romantic (2000)
88 Daft Punk - Homework (1997)
89 Yaz - Upstairs at Eric’s (1982)
90 Big Star - #1 Record (1972)
91 M.I.A. - Arular (2005)
92 Moby Grape - Moby Grape (1967)
93 The Hold Steady - Almost Killed Me (2004)
94 The Who - The Who Sings My Generation (1965)
95 Little Richard - Here’s Little Richard (1957)
96 Madonna - Madonna (1983)
97 DJ Shadow - Endtroducing ... (1996)
98 Joe Jackson - Look Sharp! (1979)
99 The Flying Burrito Brothers - The Gilded Palace of Sin (1969)
100 Lady Gaga - The Ame (2009)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Música da Cabeça - Programa #296

 

Não fica assim, Busquets! Marrocos só está tomando a Espanha de novo. Olha só: pra você amargar a derrota da melhor forma possível, hoje tem MDC, que vai trazer bálsamos como Whale, Joy Division, Criolo, Adoniran Barbosa e mais. Ainda tem Cabeção sobre o saudoso Arnaud Rodrigues e Música de Fato sobre Os Sertões. É muita coisa boa pra ficar com essa cara aí de chororô! Faz assim: põe na arábica Rádio Elétrica às 21h, que essa ressaca passa. Produção, apresentação e classificação: Daniel Rodrigues


www.radioeletrica.com

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

"Daydream Nation: Sonic Youth", de Matthew Stearns - coleção O Livro do Disco - ed. Cobogó (2014)




""Daydream Nation" está situado com precisão
no limiar  onde a arte e rock se encontram,
cada um violando e forçando o outro reciprocamente
numa fecundação cruzada hermafrodita de barulho, imagem, texto e timbre."
Matthew Stearns



A coleção "O Livro do Disco" é um achado! Obrigatória para apaixonados por música e por grandes álbuns que fizeram história. São pequenas publicações, no formato poket e não excedendo a duzentas páginas, que prestam-se a dissecar, examinar, destrinchar grandes discos da história da música. Particularmente já havia lido o bom "Unknown Pleasures" do autor Chris Ott, jornalista britânico que entrou a fundo em toda a atmosfera do primeiro trabalho da lendária banda de Manchester, o Joy Division, apresentando uma análise detalhada e pormenorizada de todo o processo de composição e gravação da obra e dos singles que faziam parte daquele momento com comentários de integrantes e informações técnicas verdadeiramente relevantes; mas este, do Sonic Youth, do "Daydream Nation" consegue ser ainda melhor, mais fascinante, mais empolgante, mais arrebatador.
O autor, Matthew Stearns, fã ardoroso e apaixonado, não se limita a transmitir informações técnicas sobre a obra ou analisar as letras de maneira convencional. Ele deixa-se deixa envolver de tal forma em suas próprias apresentações que as faz de maneira entusiástica, incontida, visceral, conferindo  imagens e metáforas desconcertantes e perturbadoras às descrições de cada faixa do emblemático álbum dessa revolucionária banda nova-iorquina.
O livro é um mergulho em todos os elementos que envolvem o álbum, desde a aparente tranquilidade da capa, com sua quieta vela levemente deslocada para o lado direito, passando pelas intenções ocultas por trás de símbolos como a fonte de escrita dos nomes das faixas, os ícones muito ledzeppelinianos utilizados na arte interna e a concepção de um álbum duplo; chegando, é claro, na música, na forma atípica de composição do grupo, sua sonoridade singular, as influências de artes plásticas e a minuciosa ordenação das faixas do disco compondo uma crescente de tensão sonora e psicológica, tudo isso tendo como pano de fundo Nova Iorque. A cidade como inspiração e repúdio com todo seu fascínio, sua opressão e seu horror.
Adorei o trecho em que o autor fala apaixonadamente sobre os silêncios entre as faixas nos nossos álbuns prediletos e a imortal expectativa pela próxima música mesmo que já estejamos cansados de conhecer aquele disco: "Nos nossos discos favoritos [a presença dos vãos silencioso que cercam as faixas] é parte ativa na assimilação da música. Parecem abrigar fantasmas eletromagnéticos semimudos, permanentemente pendurados em órbita suspensa, cada figura espectral silenciosa contando parte da história do disco." Um barato também toda a imagem que faz da faixa instrumental "Providence"; a análise pormenorizada da faixa de abertura "Teenage Riot" nos fazendo definitivamente penetrar no disco a a partir daquele momento; as diversas descrições dos momentos dos turbilhões sonoros tão comuns na música do Sonic Youth; e o fato de, assim como eu, considerar "'Cross the Breeze" a faixa mais bem construída de "Daydream Nation".
Em vários momentos o autor se preocupa de estar sendo preciso, de estar conseguindo transmitir a intensidade, a força, a importância de "Daydream Nation". Posso afirmar que com a paixão que coloca em cada frase, em cada detalhe, em cada faixa, ele não apenas consegue passar estas sensações como nos coloca dentro do disco e amplifica todas estas emoções de forma praticamente sônica.



Cly Reis

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Música da Cabeça - Programa #125


Fernanda Young, que nos deixou essa semana, certamente estava puta da cara com as queimadas na Amazônia. O Música da Cabeça mantém o seu grito de revolta, falando sobre ela e sobre a terrível situação no pulmão do mundo. Mas também vai falar, claro, sobre música, que terá de bastante e muito variada: Louis Armstrong, Ratos de Porão, The Yardbirds, Joy Division, John Lennon e mais. Também o músico japonês Yuzo Toyama num novo quadro “Cabeção”.  Como sempre, é hoje às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação (e zero de focos de incêndio): Daniel Rodrigues.


sábado, 29 de outubro de 2022

The Mission e Gene Loves Jezebel - Espaço Sacadura 154 - Rio de Janeiro / RJ (23/10/2022)



Noite de rock oitentista
no Rio de Janeiro.
Fui ao show do The Mission, no último domingo, dia 23 de outubro, aqui no Rio, muito mais pelo fato de uma banda internacional dos 80's, do pós-punk, pintar por aqui, do que propriamente por ser um fã fervoroso. Gosto dos caras e tal, legal... Mas nada de mais.

No palco, bom show, competente, mas, também, nada empolgante. Devo admitir que fiquei mais impressionado com a energia e a performance do Gene Loves Jezebel, que fez a abertura, do que a banda de Wayne Russey que até se esforça, se contorce, se esgoela, mas não consegue tirar muito mais do que tem pra dar.
Destaque para "Beyond The Pale", "Dance on Glass", "Butterfly  on a Wheel", o hit "Severina" e a ótima "Tower of Strenght", que fechou a apresentação. Particularmente, senti falta de "Sacrilege" e "Bridges Burning" que, acredito, teriam incendiado a galera nos momentos mais mornos, mas infelizmente não rolaram e a galera, em alguns momentos, ficou esperando que rolasse alguma das badaladas pra reacender.
Não conhecia o espaço Sacadura 154, na antiga zona portuária do Rio, hoje revitalizada e gostei bastante do espaço amplo, organizado, com boa infraestrutura, mas, como é costumeiro nesse tipo de instalações, antigos galões ou armazéns, com problemas de acústica. Mas tudo bem. Devo voltar lá mais vezes.
Quanto ao The Mission, não vou dizer que não valeu a pena, até pela minha carência de shows internacionais, sobretudo depois de todo o período de pandemia, mas posso afirmar que eles só confirmaram porque serão sempre os dissidentes do Sisters of Mercyy e a segunda linha do gótico, quilômetros e quilômetros atrás de deuses como Teh Cure, Siouxsie, BauhausJoy Division.

Dá uma olhada, aí, na sequência, em um trecho dos hits "Desire", do Gene Loves Jezebel e "Severina" do The Mission, e imagens do evento.

Gene Loves Jezebel - "Desire"


The Mission - "Severina"



O Gene Loves Jezebel, e mdois momentos, aqui,
 não decepcionou e agitou a galera.

Aqui o The Mission, acabando de entrar no palco,
na primeira música da noite.

Wayne Russey e sua turma, em ação.


Mais uma dos caras, mandando ver.

The Mission fez um bom show, só não conseguiu ser empolgante
e não tinha um repertório tão cativante para sustentar o público o tempo inteiro.





por Cly Reis

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Música da Cabeça - Programa #141



Pirralhas, incendiários e energúmenos: uni-vos! O Música da Cabeça está com vocês provando que não tem Bozo que nos denigra. No programa de hoje, Mutantes, Joy Division, Carlinhos Brown, Public Enemy, Filho Do Zua, Secos & Molhados e mais. Ainda tem a segunda parte da entrevista com a escritora angolana Marta Santos, “Música de Fato”, “Palavra, Lê” e mais. Tudo no MDC, às 21h, na Rádio Elétrica, antro dos que sabem o valor que têm. A produção e a apresentação são do pirralho, incendiário e energúmeno Daniel Rodrigues, com muito orgulho.



segunda-feira, 13 de julho de 2020

"Low: David Bowie", de Hugo Wilcken - coleção "O Livro do Disco" - ed. Cobogó (2018)



"Quando "Low" foi lançado,
pensei que era o som do futuro."
Stephen Morris,
baterista do Joy Division/New Order,
em trecho do livro



Uma coisa interessante na coleção O Livro do Disco, é a abordagem que cada autor, pesquisador, jornalista, dá ao objeto de sua análise. Alguns são mais focados no álbum como um todo, outros na parte técnica, alguns em aspectos pessoais, outros nas motivações que levaram àquela obra, e por aí vai. No caso específico do livro "Low: David Bowie", do australiano Hugo Wilcken, que se debruça sobre o icônico álbum de Bowie, de 1977, pedra fundamental da conhecida Trilogia de Berlim, sua opção de abordagem, para meu gosto e expectativa, deixou a desejar. Hugo se detém excessivamente em aspectos externos, em elementos influencidores, em precedentes, negligenciando, de certa forma, uma análise mais completa e mais reverencial do trabalho ao qual o livro é dedicado. Para chegar a "Low", ele examina o álbum predecessor de David Bowie, "Station to Station", e o outro, produzido por ele na mesma época para Iggy Pop, "The Idiot", com demasiada atenção e espaço. Observações pertinente, é verdade, considerando a extensão das ideias destes dois álbuns para a concepção final de "Low", mas nesse preâmbulo todo, a obra em questão, só começa a ser objetivamente apreciada, exatamente na metade do livro. O autor fica muito tempo recuperando fatos, elementos, questões técnicas de "Station to Station" e quando parte efetivamente para o próprio "Low", sua análise fica compacta demais. O livro até mesmo poderia se chamar "Um estudo sobre as influências de 'Station to Station', sobre 'Low'", tamanha é a importância colocada sobre o álbum anterior dentro de uma exposição que deveria ser enfaticamente sobre aquele que motiva a publicação.  Ele fala de "Low", é claro, mas, no fim das contas, sua dissertação sobre o disco, fica apertada entre os capítulos finais e até o fim segue com comparações e referências ao disco antecessor. Ele repassa sobre todas as faixas, sim, mas brevemente e, no mais das vezes, mesmo quando demonstra sua admiração pelo álbum, o faz de forma um tanto fria e distanciada. Exceção seja feita a "Subterraneans", a última faixa do disco, a qual o escritor dedica um pouco mais de espaço e atenção, sendo que, embora reconheça todos os méritos e virtudes desta canção, na minha humilde opinião, ela sequer é uma das melhores do disco.
"Low", da coleção O Livro do Disco, que tantas vezes já me brindou com publicações dignas de colocar no ponto mais alto da prateleira, não chega a ser uma decepção mas, devo admitir, que não era o que eu esperava ou gostaria de ler. Vale como mais um material interessante sobre uma das fases e de um dos momentos mais marcantes da carreira desse notável artista.


Cly Reis

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Música da Cabeça - Programa #78


Milhares de pessoas no Brasil e no mundo foram às ruas dizer “não” a “ele”, o impronunciável. Mas aqui a gente diz com todas as letras: Música da Cabeça! E diz também quem estará no programa de hoje. terá Tom Waits, Dom Mita, Adriana Partimpim, Joy Division, Lisa Germano e mais. Quer entrar nessa corrente? Então, escuta o programa hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e voto democrático: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

terça-feira, 23 de março de 2010

ESG - "Come Away With ESG" (1983)


Meu amigo Júnior, que volta e meia me vem com alguma coisa bem interessante para ouvir ou para ver, desta vez me recomendou que ouvisse uma tal de ESG. O mote era que se tratava de algo meio jazz, mas bem contemporâneo com elementos eletrônicos e tal. E, cara, não é que o negócio é bom pra caramba?

Bem por aí, mesmo: loops básicos e irados de baixo muito funk, percussões quase afro-latinas, uma pegada super disco-music, e com uma improvável mas verdadeira influência do punk que em nada torna agressivo ou forte demais o som da banda; e tudo isso conduzido por uma voz feminina descontraída e jovial muito próximo ao que viria a ser o estilo house anos depois.
A influência do punk é mais atestada ainda pelos antecedentes da banda, que além de ser contemporânea do final do movimento, chegou a ser produzida por Martin Hannet (Joy Division e Magazine) no seu primeiro EP de 1981.
“Come Away With ESG” de 1983 que é todo esse liquidificador de estilos, tem como destaques a ótima e super-dançante “Dance” e a melhor ainda “Moody (Spaced Out)”, mas todo o disco é muito bom.
Escutado hoje, à distância da época de seu lançamento, faz-nos notar toda a importância do ESG em formações de estilos posteriores como o já mencionado house e outras vertentes da música eletrônica como o trip-hop, além do rap, do hip-hop e de diversos estilos dentro da música pop em geral.
Como é que eu nunca tinha ouvido falar do ESG antes, hein???
(Bom… Antes tarde do que nunca)
Já chega para mim com status de disco fundamental.
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FAIXAS:
  1. "Come Away" – 3:15
  2. "Dance" – 4:32
  3. "Parking Lot Blues" – 2:53
  4. "You Make No Sense" – 2:20
  5. "Chistelle" – 1:54
  6. "About You" – 2:05
  7. "It's Alright" – 2:38
  8. "Moody (Spaced Out)" – 4:18
  9. "Tiny Sticks" – 3:02
  10. "The Beat" – 2:17
  11. "My Love for You" – 2:54

********************************
Ouça:
Come Away With ESG

Cly Reis

quarta-feira, 13 de março de 2019

Música da Cabeça - Programa #101


O Brasil não é só verde-anil-amarelo: o Brasil também é cor-de-rosa e verde! Se a Mangueira trouxe um alento de consciência e resistência com seu samba campeão, o Música da Cabeça segue nessa onda positiva rodando Lulu Santos, Joy Division, Ed Motta, Walter Franco, Vangelis e muito mais. E mais: “Música de Fato”, “Palavra, Lê” e um “Sete-List” cinematográfico. Vem pro lado certo da história com a gente e ouve o programa de hoje, às 21h, nas páginas reescritas da Rádio Elétrica. Produção e apresentação: o índio, negro e pobre Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/


quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Música da Cabeça - Programa #130



Entrar e sair da música pop e travar uma saudável guerra sensorial com o underground. Ideias como esta e muitas outras alimentam a instigante conversa que teremos com o jornalista, professor e escritor Fabricio Silveira no quadro “Uma Palavra”. Além da entrevista, o programa especial 130 do Música da Cabeça vai ter preciosidades sonoras como Tribalistas, Jamiroquai, Wire, Lobão, Joy Division e Prince. Tudo isso e mais um pouco no MDC de hoje à noite, às 21h, na pop e alternativa Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.




sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2019



O pessoal de Liverpool tá imbatível.
E não estou falando do time de Salah, Firmino e Mané.
Sei que já devia ter feito, o ano já começou e, por sinal está quase no final do primeiro mês, mas vida de blogueiro não se limita ao blog e até então não tinha dado tempo de fazer os levantamentos, retrospectos, somatórios e estatísticas para o Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS que sempre temos todo o início de ano aqui no ClyBlog. O ano que passou trouxe, além dos discos destacados por nós integrantes do blog, como de costume participações de convidados, com destaque para a resenha de Waldemar Falcão, para o lendário segundo disco de Zé Ramalho, "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu", de 1979, do qual nosso convidado até mesmo participou, fazendo de seu texto um depoimento inestimável em relação a tudo que envolveu a obra e o artista naquele momento.
Na nossa tradicional atualização dos discos que pintaram por aqui no último ano, lá na frente, entre os artistas que têm mais obras citadas na nossa seção, entre os internacionais, Os Rapazes de Liverpool finalmente assumiram a liderança, uma vez que, nem Bowie nem Stones, que dividiam a dianteira com eles, tiveram novos discos incluídos nos A.F., mas é bom abrir o olho porque os alemães do Kraftwerk, considerado por muitos o outro nome mais influente na música de todos os tempos, botaram mais um disco na roda esse ano e subiram para o segundo degrau do pódio. Já pelo lado nacional, não houve mudança lá na frente e o destaque ficou com as estreias de Airto MoreiraTribalistas e o já citado Zé Ramalho.
Entre os países, os Estados Unidos se mantém à frente com boa folga, e, na disputa pela prata, os ingleses, com um bom número de artistas emplacando álbuns fundamentais, aproxima-se perigosamente dos brasileiros. Quanto às décadas, os anos 70 continuam mandando no pedaço, mas falando em anos, especificamente, ainda é o de 1986, que põe mais discos na nossa lista.
No ano atual, já temos um Álbum Fundamental mas que não entra para a contabilidade do ano passado. A expectativa para 2019 é se os Beatles confirmarão sua liderança e se, no Brasil, alguém vai desbancar Jorge Ben, que reina absoluto há um bom tempo na lista nacional.

Vamos conferir então como ficaram as coisas por aqui depois deste último ano:


PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)

  • The Beatles: 6 álbuns
  • David Bowie, Kraftwerk e Rolling Sones: 5 álbuns cada
  • Miles Davis, Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin e Pink Floyd: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Wayne Shorter, John Cale* e Bob Dylan: 3 álbuns cada
  • Björk, The Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Lou Reed, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum de Brian Eno com JohnCale ¨Wrong Way Out"


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben: 5 álbuns*
  • Gilberto Gil*, Tim Maia e Caetano Veloso: 4 álbuns*
  • Chico Buarque, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**, Gal Costa, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão e Sepultura: todos com 2 álbuns 
*contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas" 
*** Contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"


PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 15
  • anos 60: 84
  • anos 70: 125
  • anos 80: 104
  • anos 90: 77
  • anos 2000: 12
  • anos 2010: 13

*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 21 álbuns
  • 1985: 17 álbuns
  • 1976 e 1969: 16 álbuns cada
  • 1967, 1968 e 1977: 15 álbuns cada
  • 1971 e 1973: 14 álbuns
  • 1972, 1975, 1979 e 1991: 13 álbuns
  • 1965 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1970, 1987,1989 e 1994: 11 álbuns cada
  • 1966, 1978 e 1980: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 155 obras de artistas*
  • Brasil: 121 obras
  • Inglaterra: 110 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
  • País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país



C.R.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Fellini - "3 Lugares Diferentes" (1987)






" A rapaziada tá brincando bastante.
Ninguém ganha nada, não tá vendendo nada,
o disco não tá legal mas a gente
tá dando muita risada 
e tá realmente sendo uma grande curtição,
vamos levar isso pra frente."
Osmar Santos,
trecho do programa "Balancê" com participação do Fellini,
na introdução da música "Rio-Bahia"





Mas o que era aquilo? Legião e Titãs detonando tudo aqui pelo Brasil em vendagens, hits, shows, popularidade e a Bizz insistindo destacar o disco de um tal de Fellini como um dos grandes de 1987? A Bizz, para quem não sabe, era a grande publicação musical do país e todo ano elegia os melhores de crítica e público. É lógico que a galera, na qual me incluía, não tinha dúvidas que o "Que País é Este" da Legião Urbana, embora fosse praticamente uma "coletânea" de material antigo mas cheio de protesto, carisma e hits, como o improvável sucesso radiofônico "Faroeste Caboclo" era um dos favoritos a disco do ano; mas especialmente o ótimo "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" com suas "Lugar Nenhum", "Comida", Diversão" e "Desordem", até por ser um álbum de inéditas e sucessor à altura do revolucionário "Cabeça Dinossauro" era para o público geral imbatível. Mas os críticos da revista, convidados e músicos que votavam, para minha surpresa, os equivaliam ao quase desconhecido "3 Lugares Diferentes", do tal Fellini, fazendo-o empatar na primeira colocação daquele ano com o discaço dos Titãs. Bom, "quase desconhecido" para mim, uma vez que o projeto da dupla de amigos Cadão Volpato e Thomas Pappon já gozava de uma certa reputação no underground paulistano, vinha de dois discos no mínimo interessantes na bagagem e orgulhava-se, com justiça, de já ter sido tocado no programa do lendário DJ inglês John Peel, que apresentara ao mundo entre outros bandas como Pink FloydJoy DivisionThe Cure, no seu Radio 1 da rádio BBC.
Devo admitir que, naquela época, descobrindo muitos sons novos e com a enxurrada de boas bandas que apareciam naquela metade dos anos 80, ávido por conhecer o máximo de coisas legais que pudesse, diante da premiação da Bizz, fiquei bastante curioso para conhecer o som dos caras, mas não era um som que se encontrasse em qualquer Mesbla da vida e na época isso acabou não cruzando meu caminho o que só veio a acontecer alguns anos depois assitindo a um show que a TV Educativa de Porto Alegre transmitiu, realizado na Reitoria da UFRGS e que já trazia o repertório do disco "Amor Louco", mas o que foi suficiente para fazê-los caírem nas minhas graças e ganharem minha total simpatia a admiração.
O Fellini fazia uma espécie de samba experimental, minimalista, eletrônico, com raízes no punk paulista, admitindo no entanto quaisquer inter-relações musicais que pudessem torná-lo interessante como blues, valsa, funk, reggae, bossa nova, bolero, apresentando letras de enorme sensibilidade poética cantadas muitas vezes com um vocal quase declamatório por seu vocalista, Cadão Volpato, que compensava sua limitação vocal com moderação, inteligência e criatividade interpretativa. 
"3 lugares diferentes", traz todos esses elementos. É um disco, ao mesmo tempo, primário e sofisticado. Se por um lado suas gravações muito básicas, quase artesanais, com condições técnicas mínimas, muitas vezes somente com uma bateria eletrônica e uma guitarra, sua concepção sonora e é avançada com uma leitura ímpar dos ritmos brasileiros numa quase improvável, mas muitíssimo bem sucedida, integração com o rock e suas vertente. O conceito já havia sido explorado no segundo "Fellini Só Vive Duas Vezes", contudo, limitados pelas condições técnicas, seu resultado, embora interessante, mostrava-se ainda muito duro, cru, com pouca plasticidade e flexibilidade. "3 Lugares Diferentes" conseguia o resultado estético mais interessante com canções mais sonoras e marcantes.
Depois de um texto de abertura, um manifesto sobre música (que de certa forma sugere que uma banda como o Fellini, por exemplo, não poderia fazer música), sucedido por uma introdução de gaita harmônica, a programação eletrônica que marca o singular samba felliniano já dá as caras na maravilhosa "Ambos Mundos", canção de uma poesia urbana lindíssima que une cotidiano, sonho, astronomia e surrealismo ("Depois do batente Vênus descansava/ Marte sempre cortês jogava cartas/ preto era o céu/ bom de se olhar/ onde Três Virgos queriam se arrumar"). "Rosas", que a segue, é uma espécie de blues experimental, lento, arrastado e sussurrado;  e "La Paz Song, a seguinte, traz uma sonoridade que, por conta de sua percussão eletrônica e do teclado, sugere algo militar, numa letra que mistura o português com o espanhol de maneira bastante sonora.
O Fellini não tocou nas rádios, não teve um grande hit, mas se tem uma canção que teria esse potencial seria a adorável "Teu Inglês", uma das faixas mais bem acabadas da banda, com a participação do percussionista Silvano Marcelino, de trabalhos com vários artistas da MPB, que combina sua contribuição à batucada eletrônica característica da banda, uma guitarra leve e requintada primorosa em todos os momentos, uma nova aparição oportuna e interessante da harmônica e um refrão absolutamente gostoso e cativante.
Outra das melhores do disco, "Zum Zum Zum Zazoeira", com um mínimo de elementos, uma batida repetida básica, uma base de teclado quase constante, uma linha de guitarra sinuosa e perturbadora e um inteligente e preciso jogo de palavras-chave ("poeira", "lampião", porteira", "boi") consegue sugerir uma atmosfera regionalista, sertaneja, nevoenta, quente e árida. Genial!
A bela "Pai", de andamento meio new-wave, por assim dizer, é mais um exemplo da doce poesia cotidiana de Cadão Volpato ; de letra repleta de enigmas, signos e chaves, mais uma vez mesclando português com espanhol, "Valsa de La Revolución" justifica o nome num valseado minimalista conduzido pela guitarra de Thomas Pappon; e soturna, característica da turma do underground paulistano das noites de Madame Satã, "Massacres da Coletivização" divaga de forma pesada sobre o tempo e memórias.
"Rio-Bahia" apresenta novamente o tal "samba-maluco da rapaziada do grupo Fellini" como definira o falecido Osmar Santos na introdução da própria música, numa gravação do programa de rádio "Balancê" que apresentava e do qual a banda participara em certa ocasião. Além da batucada eletrônica, "Rio-Bahia" e "Lavorare Stanca", que são praticamente emendadas, mostram desta vez alguma intervenção acústica dos próprios integrantes com tamborins e outros elementos percussivos. Sem falar no do tradicional "trompete bucal" do vocalista Cadão, mais um dos muitos improvisos espontâneos da banda que costumava seguir seus instintos musicais e que pela ausência de um instrumento, pela vontade de enriquecer o som, pela sensibilidade de perceber que um determinado som cairia bem, arriscava uma brincadeira, a registrava e tornava seu som ainda mais interessantes e original.
Como um ocaso, a ainda mais esquisita "Onde o Sol se Esconde", minimalista sonoramente, de vocal embriagado e letra non-sense misturando palavras em português, inglês, francês, espanhol, traz o encerramento do álbum não sem ainda uma pequena vinheta da descontração de estúdio da gravação de "Teu Inglês" ao final.
O relançamento em CD traz ainda gravações bem interessantes ao vivo de "Zum Zum Zum Zazoeira", "Ambos Mundos" e "Teu Inglês", além de uma faixa oculta, a canção "Aeroporto", gravada ao vivo no antigo programa "Matéria Prima" de Serginho Groissman na rádio Cultura.
Embora os cabeças da banda tenham restrições técnicas ao álbum e o próprio Thomas Pappon admita uma certa decepção com ele pela ausência de baixo, "3 Lugares Diferentes", reconhecem também, por outro lado, que o disco foi inovador, quase revolucionário, antecipando muitas coisas que só começaram a serem feitas agora no pop-rock nacional, e seu reconhecimento com a premiação da Bizz, embora apenas simbólico, e posteriormente essa aura cult que paira sobra a banda, representam uma espécie de vitória da independência, da liberdade, do idealismo, da arte enquanto senso de seguir o próprio coração e ter prazer no que se faz.
O trabalho do Fellini, seu conceito, sua concepção de música, sua produção, seu conteúdo, seu resultado e seu reconhecimento, atualmente, como uma das bandas mais interessantes do rock nacional fazem com que o texto do gaitista norte-americano "Sugar Blue, sugerido pelo próprio Pappon para a introdução do disco, soe hoje ainda mais curioso, controverso e irônico: “Música não é para preguiçosos, música não é para engraçadinhos, música não é para desmiolados. Música é um negócio sério que reflete esforços humanos para nos tornarmos o que buscamos quando nos manifestamos".
Será mesmo?
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FAIXAS:
  1. Ambos Mundos
  2. Rosas
  3. La Paz Song
  4. Teu Inglês
  5. Zum Zum Zum Zazoeira
  6. Pai
  7. Valsa de La Revolución
  8. Massacres da Coletivização
  9. Rio-Bahia
  10. Lavorare Stanca
  11. Onde o Sol se esconde

A versão relançada em 1995 contém as seguintes faixas gravadas ao vivo:
12. Zum Zum Zum Zazoeira
13. Ambos Mundos
14. Teu Inglês

faixa oculta:
15. Aeroporto

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Ouça: