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domingo, 27 de novembro de 2011

1ª Feira da Fotografia Artística - Galeria e Espaço Cultural La Photo - Porto Alegre- RS










Fui cumprimentar os amigos fotógrafos no coquetel de abertura da 1ª Feira da Fotografia Artística, na Galeria e Espaço Cultural La Photo, em Porto Alegre. Ao total, 20 profissionais renomados do circuito gaúcho estão colocando à venda peças de sua autoria até 4 de dezembro. Há valores desde R$ 300 até R$ 4 mil. Para todos os bolsos.

Dos conhecidos, Fredy Vieira, velho parceiro de coberturas jornalísticas e um dos idealizadores do projeto, expôs um dos mais interessantes trabalhos da mostra, como a ótima e comentada foto de David Lynch quando da vinda do cineasta a Porto Alegre, em 2009.

Nilton Santolin foi outro amigo a quem estive lá cumprimentando. Dele, estavam algumas de suas maravilhosas fotos p&b que já tivera o prazer de conhecer na sua exposição própria "Aqui, Ali e Acolá", sobre a qual comentei aqui neste blog em julho. Quem também estava lá era Ivo Gonçalves, mais um companheiro de pautas.

Destaque também para as lindas fotografias de Magdalena Protskof Szabo de closes de superfícies de madeira, criando imagens coloridas e abstratas. Outra que explora muito bem a textura do objeto fotografado é Lou Borghetti na série “A ferro e flor”, como o vistoso quadro de uma porta de ferro enferrujada.

Várias coisas legais. Entre as que mais gostei, uma que evidencia, entre os desbotados prédios do Centro da cidade, uma de minhas maiores admirações da natureza de Porto Alegre: o intenso azul do céu (foto do topo).

Além dos dos citados, participam da mostra: Ana Paula Aprato (co-organizadora), Marcelo G. Ribeiro, Claudio Fachel, Eduardo Seidl, Guerreiro, João Machado, Jorge Aguiar, Kiran León, Leonid Streliaev, Pedro Flores, Regina Peduzzi Protskof, Ricardo Stricher, Roberta Borges, Sandra Genro e Zezé Carneiro.

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1ª Feira da Fotografia Artística de Porto Alegre
Até 4 de dezembro
Local: La Photo – Galeria e Espaço Cultural (Endereço: Travessa da Paz, 44 - Brique da Redenção – Porto Alegre)
Horário de visitação: das 11h às 19h


David Lynch pela lente de Fredy Vieira

Prestigiando o trabalho do amigo Nilton Santolin
As cores de Magdalena Szabo
Trabalho de Lou Borghetti
"Água 1" de Eduardo Seidl




Daniel Rodrigues

sábado, 5 de novembro de 2022

Drops lançamento do livro “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”, da ACCIRS, na Feira do Livro de Porto Alegre - 05/11/2022





E lá vamos nós para mais uma etapa do lançamento do “50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho”! E desta vez onde não poderíamos deixar de estar: na estimada Feira do Livro de Porto Alegre! Depois do lançamento oficial, lá em março, no Araújo Vianna, em Porto Alegre, e do Festival de Cinema de Gramado, em agosto, agora é a vez de celebrarmos este projeto naquele que é o evento cultural-literário mais antigo (e provavelmente, o mais querido) da cidade.

O livro, editado pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), da qual orgulhosamente faço parte como membro fundador e, hoje, secretário, traz uma coletânea de 50 brilhantes artigos sobre 50 filmes gaúchos lançados entre as décadas de 1950 e 2020 no Rio Grande do Sul. Olha: é só texto bom!

Estaremos lá nós membros da ACCIRS em mais de 20, e a previsão do tempo, tão instável nesta época do ano, promete ser boazinha conosco.

Então, quem tiver por POA, aparece lá, que a pena e a tinta já estão aguardando os autógrafos. Depois a gente volta aqui com registros desta tarde, que promete ser ensolarada de sol e de gente bonita.

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lançamento do livro “50 Olhares da Crítica sobre o Cinema Gaúcho”
da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS)  
onde: 68ª Feira do Livro de Porto Alegre (Praça da Alfândega, s/ nº, Centro Histórico - Porto Alegre).
quando: dia 05/11 (sábado) - 15h
organizadores: Daniel Feix, Fatimarlei Lunardelli, Ivonete Pinto, Mônica Kanitz e Rafael Valles
Valor do livro: R$ 50,00*

*Os exemplares poderão ser adquiridos na Feira do Livro ou pelo site da ACCIRS e locais parceiros: accirs.com.br


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ClyBlog 5+ Artistas Visuais



Como não falar das artes plásticas, das artes visuais? Impossível. Afinal, um dos objetivos do blog desde seu início, era exatamente servir de canal para a apresentação e expressão, inicialmente de minhas manifestações artísticas como gravuras, pituras, quadrinhos, etc., mas com o tempo ganhando possibilidades mais amplas. A seção COTIDIANAS, por exemplo, passou a ganhar ilustrações (de artistas conhecidos ou não) que tivessem alguma ligação visual ou referencial com os textos; as mini-HQ's foram ficando mais trabalhadas, mais ricas, mais artísticas; a  fotografia foi ganhando força e espaço mas admito que ainda merece um destaque maior no blog; e ainda exposições, mostras e espaços passaram a ser destacados com frequência e qualidade, tanto que criarmos uma página especialmente para isso, a VAL E VEJA, coordenada pela parceira Valéria Luna.
Como se vê, o que não falta no clyblog é arte e, sendo assim, nada mais justo do que convidarmos 5 pessoas para participarem de mais esse especial dos 5 anos: clyblog 5+ artistas visuais.



1. Valéria Luna
relações públicas
(Porto Alegre)


"Do espanhol Joan Miró tenho uma tatuagem no braço direito com o detalhe da pintura do artista.
Como toda boa lista não posso deixar de fora os clássicos e, no caso de Van Gogh, eu gosto do simplório,
quando ele retrata seu quarto e dos detalhes de Os Girassóis.
O expressionismo abstrato de Pollock me influenciou, mesmo sem querer, na época que resolvi pintar algumas telas.
Quando assisti ao filme, ("Pollock", 2000) apesar da vida conturbada do rapaz, vi também que ele era exatamente o retrato de suas obras.
Para uns o rei da Pop Arte é o Andy Warhol, para mim, sem dúvida é o Lichtenstein.
E não posso deixar de fora, de jeito nenhum, meu pai, Leonardo Filho.
Foi com ele que eu aprendi a maioria das coisas que sei sobre artes visuais e claro, que me influenciaram na criação desta lista."



1. Joan Miró
2. Vincent van Gogh
3. Jackson Pollock


4. Roy Lichtenstein
5. Leonardo Filho

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2. Carolina Costa
pedagoga
(Porto Alegre/RS)


"Todos estes artistas me completaram em algum momento da minha vida."


1 - Louise Bourgeois
2 - André Breton
3 - Henri-Cartier Bresson
4 - Leonardo Da Vinci
5 - Vincent Van Gogh


Van Gogh:O artista
por ele mesmo















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3. Tita Strapazzon
professora
(Porto Alegre/RS)
Uma das impressionantes imagens
produzidas pelo chinês Huan


"Coloquei mais ou menos assim: Hoje são os artistas visuais que gosto muito".



1 - Zhang Huan
2 - Barbara Kruger
3 - Rosangela Rennó
4 - Frida Kahlo
5 - Arthur Bispo do Rosário




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4. Gabriela Bohns
designer
(Porto Alegre/RS)


"Inspiração para o meu trabalho".




O trabalho
de Cassio Raabe


1- Henrique Oliveira
2- Cassio Raabe
3- Nara Amelia
4- Tulio Pinto
5- Nathalia Garcia




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5. Marion Velasco
artista visual e
musicista
(Porto Alegre/RS)

"Claro que dá vontade de colocar na lista, pelo menos, mais 5 artistas,
então, escolhi os que me inspiram na base, exatamente nesta ordem: 
Duchamp, pelo interesse nas coisas ao seu redor, viagens e todo tempo´perdido';
Matta-Clark, por ‘construir a demolição’ de coisas (e quebrar conceitos) ao seu redor;
Yoko, pela voz, proposições e vida;
Alys, pela criação com caminhadas, materiais pobres e micropinturas;
e Banksy pelo anonimato e ação política nas ruas do mundo."


1. Marcel Duchamp
2. Gordon Matta-Clark
3. Yoko Ono
4. Francis Alys
5. Banksy

Uma dos geniais grafites de Bansky
carregado de crítica e atitude.

















quinta-feira, 30 de março de 2023

STU National 2023 - 2ª Etapa - Final Skate Street Feminino - Complexo Esportivo da Orla do Guaíba - Porto Alegre (19/03/2023)


Quando, em 2021, inaugurou a pista de skate na Orla do Guaíba, em Porto Alegre, em plena pandemia talvez não se vislumbrasse o que aquele extenso espaço poderia significar. Porém, foi só a onda da Covid arrefecer um pouco que se percebeu que aquele que é a maior pista de skate da América Latina passaria a ser um dos espaços catalisadores da cidade. Não deu outra. Se em 2022, ainda com o receio das pessoas de saírem e com uma prejudicial chuva, não teve o impacto que poderia, agora, em 2023, o STU National 2023 - 2ª Etapa - Porto Alegre foi um verdadeiro sucesso. E tudo colaborou: circulação das pessoas, o desejo reprimido pelos eventos, um final de semana de ensolarado e um campeonato da mais alta qualidade. Motivos suficientes. Porém, um outro fator também colaborou com o êxito: a presença daquela que é a maior skatista do Brasil e do mundo: Raíssa Legal.

O carisma da Fadinha, que não pode comparecer ano passado por que estava em período de provas no colégio, foi a atração que faltava para que o evento reunisse impressionantes 50 mil pessoas nos seus três dias de realização. Mas mais do que Raíssa, a etapa do STU trouxe à cidade também as campeãs mundial e nacional Pâmela Rosa e Gabi Mazetto que, aliás, foi a vencedora, tendo Raíssa em segundo. Além delas, teve também gauchinhas talentosas: Ariadne Souza, de e 21 anos, e Maria Lúcia, cujos 13 aninhos evidenciam o talento que ainda tem a desenvolver. 

Esses dois aspectos chamam a atenção: a idade das atletas e o fato de as principais atrações de todo o evento serem justamente as mulheres. Não somente mulheres, aliás, mas em sua maioria meninas, como a grande estrela Raíssa, de 15 anos, sendo a mais velha, Gabi, de 25.

Tiveram os homens, que andaram num horário bem mais confortável, à noite, quando o sol dava uma necessária trégua, ao contrário do escaldante final da manhã destinado a elas, à noite. Porém, não há dúvida de que as estrelas são elas. Coisa boa ver isso acontecendo num país tão machista.

Em contrapartida, de por mais que as "meninas do skate" sejam a razão de ser do sucesso desse esporte no Brasil, fica a sensação de que, ainda nesta hora, as mulheres tem que passar por cima da desvalorização em detrimento do homem. É assim em todo campeonato de skate: as provas femininas vem antes das masculinas. Mas, ainda mais no Brasil, podia-se mudar isso.

Foi justamente esse desprestígio que, indiretamente, provocou a que não conseguíssemos permanecer, pois o sol escaldante nos mandou para casa mais cedo. Certamente, se fosse fim de tarde - como para os rapazes, resistiríamos. Mas foi muito bom ver ao vivo Raíssa e as outras competidoras fazendo manobras em nível profissional, o que é estimulante para quem gosta de esporte. E naquela paisagem da Orla, na maior pista de skate da América Latina, com tanta gente feliz por presenciar aquilo, ficou claro que Porto Alegre ganhou um espaço muito especial.

Confiram aí algumas fotos do que batemos e/ou vimos:

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Visão da pista a nossa frente

Arquibancadas cheias

E as provas começaram!

Raíssa fazendo suas manobras mágicas como se fosse fácil

Debaixo do sol implacável de Porto Alegre

Hora de Gabi manobrar seu skate sobre o corrimão

Mais um pouco da visão geral do complexo de skate

A campeã Gabi Mazetto comemorando com a filhinha no colo

Aqui, este casal acalorado mas feliz com o STU

Panorâmica de parte 
da pista de skate
do Complexo Esportivo da Orla
 



texto: Daniel Rodrigues
fotos e vídeo: Daniel Rodrigues, Leocádia Costa e CBSK

sábado, 16 de janeiro de 2021

Paul McCartney - Up And Coming Tour - Estádio Beira-Rio - Porto Alegre/ RS (Novembro/2010)

 

Imagina se Shakespeare viesse à tua cidade para a sessão de autógrafos de, digamos, “Hamlet”. Imagina se Michelangelo um dia fosse convidado para pintar um mural público e permanecesse aqui para uma temporada de residência artística. Ou se Galileu Galilei ganhasse o título de honoris causa pela universidade local e desembarcasse nestes pagos para a homenagem. Os jornais estampariam: “Ele está entre nós”. Afinal, não é todo dia que gênios da humanidade descem à terra e se juntam aos mortais. Posso dizer que vivi isso. Paul McCartney, o beatle, o hitmaker, o multi-intrumentista, o maestro, o produtor, o Cavaleiro da Rainha, o ativista, o recordista da Billboard... sim: ele esteve entre nós. Na noite de 7 de novembro de 2010, no domingo, dia em que teoricamente os deuses descansam, uma reencarnação de São Paulo despencou dos céus e trocou as vestes de santo pelas de um músico de rock ‘n’ roll para jogar encantamento sobre milhares de fiéis com sua arte redentora. E melhor de tudo: diferentemente de um Shakespeare, Michelangelo, Galileu – ou Picasso, Pitágoras, Mozart, Newton –, Paul está vivo e pertence ao meu tempo.

Por falar em céus, o firmamento esteve envolvido o tempo todo com este show, desde antes deste começar, aliás. Quando houve o anúncio de que Paul viria a Porto Alegre para a turnê “Up And Coming”, enlouqueci. Tinha que vê-lo. No que começaram a ser divulgadas as primeiras notícias sobre valores de ingresso, minha animação se transformou em apreensão. Primeiro, pelo valor, que chegava a astronômicos patamares para a época. Mas, principalmente, pelo acesso. Os 50 mil ingressos se esgotaram após as duas primeiras horas de vendas, ocorrida um mês antes do show. Afora isso, não tinha nem cartão de crédito àquela época, o que dificulta sobremaneira a se obter esse tipo de coisa. Toda a Porto Alegre aguardava ansiosa pela chegada de Paul à cidade. Nos dias que antecederam o show, o próprio artista fazia questão de responder ao chamado das pessoas na rua, como quando saiu do hotel e uma multidão o aguardava. O clima era este: de comoção.

Paul na primeira e inesquecível apresentação 
em Porto Alegre: ele esteve entre nós
Mas os céus atenderam minhas preces. Uma ordem veio lá de cima e acionaram um anjo aqui embaixo. Minha amiga Andréia – que hoje se encontra no mesmo céu do qual um dia veio, visto que faleceu em 2019 –, sabendo de minha vontade, soube de outro amigo que tinha ingresso a mais e fez a articulação para que eu ficasse com aquela sobra: um lugar na plateia superior do Beira-Rio. Déia, aliás, alcançou-me com a bondade de um verdadeiro ser divino, visto que lhe paguei apenas o valor que havia saído o ingresso, suficiente para cobrir o custo de quem tinha comprado a mais. Estava garantida a minha entrada temporária no paraíso, e na parte mais alta do estádio. A mais próxima do céu.

A apresentação em si atingiu todas as expectativas. Noite quente, nada de nuvens. De tão visíveis, era quase possível tocar as estrelas. O público, de todas as idades, transpirava excitação antes de começar. A mim, que nunca tinha assistido Paul ao vivo e que não conhecia até então nem o DVD “Paul McCartney - Is Live In Concert - On The New World Tour”, cujo show é bastante parecido, contudo, superou. Fui absolutamente arrebatado pelo set-list, pelas trucagens do palco, pelos clássicos imortais em sequência, pela simpatia de Paul, pela entrega dos músicos. Chorei como um ateu que se converte em cristão diante de um milagre incontestável. Era como se eu fosse ao céu. Afinal, o milagre estava operando-se à minha frente: Paul tocando por mais de 2 horas nada menos que 34 músicas. Clássicos do rock, clássicos da música mundial, temas que se confundem com a própria vida das pessoas, como “Jet”, “The Long and Winding Road”, “Drive My Car”, “Band on the Run”, “Day Tripper” e várias, várias outras. Incontáveis vezes essas canções estiveram presentes nas horas boas e ruins da biografia de cada um daqueles ali presentes. Entre estes, um emocionado Daniel.

"Venus and Mars", começando o show de Porto Alegre


O alto nível de um show realizado em estádio grande e aberto (refiro-me ao antigo Beira-Rio, antes das obras para a Copa do Mundo, assim como ocorreu no antigo Morumbi dias depois) mas com engenharia de som perfeita, além do vídeo e da iluminação, tinha na parte técnica a garantia de um ambiente propício para Paul e seus súditos deitarem e rolarem. Mas eles fizeram ainda mais do que isso. Embora seguissem o roteiro, era visível que a paixão do público porto-alegrense, que recebia pela primeira vez o ídolo, contagiou os músicos no palco. Ouvia-se choro, gritos, palmas e coros, que não deram trégua um minuto sequer, ainda mais nos vários momentos em que o cantor interagiu falando um português carregado de sotaque. Tanto que a imprensa – não só da bairrista Porto Alegre, mas do centro do País – classificou o show de “apoteótico” no dia seguinte. Os ingredientes estavam todos ali para que isso acontecesse: Paul animadíssimo tocando 6 instrumentos diferentes durante a apresentação e a incrível banda de músicos-fãs que executam com exatidão e paixão o repertório beatle e solo do líder. O repertório vai de hits dos Beatles a da extensa carreira solo de Paul a homenagens aos ex-companheiros de banda George Harrison (quando cantou “Something”) e a John Lennon (“Let ‘Em In”, da Wings, escrita para o parceiro, e quando emenda “Give Peace a Chance” com a obra-prima “A Day in the Life”).

E o que dizer de ouvir ali, presencialmente, “And I Love Her”, Let Me Roll It”, “Eleanor Rigby”, “Let it Be”, “Get Back”?! Totalmente tomado por aquela verdadeira apoteose, fui elevado a um outro plano especialmente em pelo menos quatro momentos. Primeiro, quando Paul tocou “Blackbird”, capaz de me provocar lágrimas a cada audição doméstica, quem dirá ao vivo. Igualmente, quando não apenas eu, mas 50 mil vozes entoaram o famoso “la la la” final de “Hey Jude”. Algo inesquecível, daqueles que se leva para a vida. Desavisado dos efeitos pirotécnicos mas adorador da música, “Live and Let Die” foi outra que me arrebatou – o que me aconteceria mesmo sem os jorros de fogos sincronizados, obviamente. Para desfechar sem respirar, uma sequência de “Helter Skelter”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e “The End”. Apoteótico, apoteótico.

A apoteótica apresentação de "Live and Let Die" naquela noite

Recordo que à época não consegui produzir um texto para o blog, porque a comoção era muito grande semanas depois. Eu lembrava das pessoas saindo do estádio a pé como eu com uma expressão de encantamento, de abismados, parecendo uma raça improvável de zumbis tomados de felicidade, meio incrédulos com o que viram. Eu, inclusive. Paul voltaria à cidade 7 anos depois, num Beira-Rio já reformado, mas aí a coisa era outra, incomparável com aquela primeira e inesquecível vez. Só mesmo o céu para testemunhar tamanho acontecimento como foi o daquele de 7 de novembro de 2010. E não é que ele testemunhou!? Não sei se somente eu percebi (pois quem mais levantaria a cabeça em direção ao céu naquela hora?), mas eu vi uma estrela cadente descer bem atrás do estádio, na direção de Paul. Juro mas não foi efeito de álcool e nem do meu estado de elevação. Eu vi de verdade! Em resposta às lágrimas e da emoção daquela multidão de pessoas, uma das estrelas, as que estavam bem visíveis e quase alcançáveis no céu limpo de Porto Alegre daquela noite histórica, resolveu descer para nos cumprimentar. Afinal, quem não daria uma chegadinha depois de ouvir entoado com tamanha emoção o “la la la” de “Hey Jude”? Deve-se ter ouvido até lá em cima. Eu, se fosse estrela, também não perderia essa.


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Setlist Show "Up And Coming":

01. Venus and Mars/Rock Show
02. Jet
03. All My Loving
04. Letting Go
05. Drive My Car
06. Highway
07. Let Me Roll It
08. The Long and Winding Road
09. Nineteen Hundred and Eighty Five
10. Let ‘Em In
11. My Love
12. I’ve Just Seen a Face
13. And I Love Her
14. Blackbird
15. Here Today
16. Dance Tonight
17. Mrs. Vandebilt
18. Eleanor Rigby
19. Something
20. Sing the Changes
21. Band on the Run
22. Ob-La-Di Ob-La-Da
23. Back in the USSR
24. I’ve Got a Feeling
25. Paperback Writer
26. A Day in the Life/Give Peace a Chance
27. Let it Be
28. Live and Let Die
29. Hey Jude
30. Day Tripper
31. Lady Madonna
32. Get Back
33. Yesterday
34. Helter Skelter
35. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club
36. The End

Daniel Rodrigues
(para Andréia)

terça-feira, 16 de junho de 2015

Di Melo – Festas “Voodoo” e “Cadê Tereza?” – Quadra dos Bambas da Orgia – Porto Alegre/RS (13/06/2015)



Di Melo com todo seu gogó e suingue em Porto Alegre
foto: Daniel Rodrigues
"Dos deuses o final de semana em Porto Alegre.
Mui-alegremente.
‘Unificando público e banda’, foi resplandescente...
deu liga, deu encaixe, foi uma festa in-dis-crê-vente.
Uma banda formada de mágicos músicos locais com a mesma proposta.
Nunca nos vimos e tocamos como se estivéssemos tocando durante longos anos.
Fica provado que a linguagem musical e a linguagem do amor são universais.
Que gratificante, meu Deus!"
Di Melo





Banda afiada acompanhando
o craque pernambucano
foto: Daniel Rodrigues
Se como o próprio diz, “para o imorrível, nada é impodível”, um acontecimento raro e inédito envolvendo ele aconteceu na minha Porto Alegre. O “ele” a quem me refiro é o mestre do pop-soul brasileiro Di Melo, que aterrissou em terras gaúchas nunca d’antes por ele exploradas com seus contagiantes suingue, simpatia e talento. Num memorável e descontraído show na quadra da escola de samba Bambas da Orgia lotada dentro da festa conjunta “Voodoo” e “Cadê Tereza?”, o cantor e compositor pernambucano mandou ver em clássicos do seu mítico LP de 1975 (recentemente listado por mim entre os ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui no ClyBlog) e outras canções próprias que me impressionaram tanto quanto às que já conhecia.

Di Melo no palco e nós assistindo
ali, na primeira fila, ao centro do palco. (acharam?)

foto: Ariel Fagundes
Di Melo estava acompanhado da cozinha da banda gaúcha Ultraman mais dois sopros, que, admiradores de sua obra, sabiam de cor todas as faixas a ponto de nem precisarem ensaiar bastante para o conjunto soar super bem. No centro do palco, o protagonista, um senhor de 66 anos com certa protuberância abdominal e de feições tipicamente nordestinas que mantém o mesmo estilão, o mesmo groove e o mesmo poder vocal de quando lançou seu primeiro álbum, 40 anos atrás – até a boina de couro com a qual estampa a capa de “Di Melo”, quando ainda magro e jovem, é igual. Exatamente na frente de seu microfone, na primeira fileira, Leocádia e eu vimos com clareza todo o show, começando pela arrasadora “Kilariô”, seu grande sucesso, que abriu a apresentação pondo todos para cantar e dançar sob aquele fantástico jazz-funk de ares caribenhos. Na sequência, outros dois funks clássicos e cheios de molho da mesma época: “Aceito Tudo” e “Se o Mundo Acabasse em Mel”, esta última, bastante gostada pelo público.
Di Melo mandando ver
no funk 

foto: Leocádia Costa

Entre os temas para mim inéditos (Di Melo tem outros nove CD’s independentes), “Engano ou Castigo” foi a primeira apresentada. Um belo pop-rock romântico. Igualmente brilhantes, “Milagre”, balada soul belíssima que podia, como disse o próprio Di Melo, ser gravada por Tim Maia se este estivesse vivo; e “Fator Temporal”, com a tradicional poesia afiada de Di Melo, um funk sensual puxado no qual faz um jogo com terminações de palavras ("Tudo que me satisfaz é ter seu corpo desnudo/ Nudo/ Teus contornos iniguais me enlouquecem, vou fundo/ Fundo..").

O bailarino que encantou a
plateia com seus passos
foto: Leocádia Costa
Ele volta no tempo novamente para trazer as suingadas “Minha Estrela” e “Pernalonga”, incendiando a quadra. Com disco novo a ser lançado este ano, Di Melo adiantou ao público porto-alegrense algumas faixas, entre estas “Diuturno”, com versos que sintetizam várias ocasiões do dia a dia, corriqueiras ou não, num encadeamento maravilhosamente literário. Ainda por cima, este funk-rock traz brilhantes riff e arranjo, que a faz ir ganhando volume até encerrar grandiosamente. Das melhores do show e que já dá uma noção da maravilha que vem por aí no novo CD. Outra que conterá no próximo trabalho também executada é o samba-rock “Barulho de Fafá”, que me lembrou bastante os também pernambucanos Mundo Livre S/A. Esse momento foi especial no show pois, além de ser mais uma ótima música, contou ainda com a repentina participação de um lindo bailarino e cantor estilo black rio, elegantemente trajado de fatiota de linho bege e um chapéu coco vermelho, que subiu ao palco não apenas para encantar a plateia com seus passos deslizantes e tomados de malemolência, mas, ainda, mandar um rap de improviso totalmente dentro da harmonia. Di Melo e o público o aplaudiram.

O convidado articulando
um rap com Di Melo
foto: Leocádia Costa
Essa ponta foi mostra da interação entre Di Melo e o público. Ele demonstrava felicidade por estar ali, cumprimentando e se reportando com a galera, inclusive com este que vos fala mais de uma vez. Fez até poesia de improviso, dizendo: “Porto Alegre, te amo alegremente”. Acontece que ele sabe muito bem que essa fase lhe é especial, uma vez que sua redescoberta, ocorrida anos atrás com mais de 30 anos de defasagem, tem lhe proporcionado um novo estrelato junto ao público jovem. Mais uma obra resultante do momento atual é a cortante “Navalha”, um soul-rock de letra igualmente bem sacada. Nesta, a performance, tanto dele quanto da Ultraman, foram ótimas. Já “Kiprocô de Patrono”, outro samba-rock, este escrito em homenagem a Chico Buarque, está presente em um dos seus discos independentes (“Sons, sensações, sambas e tesões”) e no qual parafraseia inteligentemente o riff do clássico samba “Brasileirinho”.


Set list e a pulseira da festa
foto: Daniel Rodrigues
Seu outro grande sucesso, “A Vida em Seus Métodos Diz Calma”, ficou guardada para o fim, contagiando todo mundo antes de “Kilariô” ser tocada novamente como bis e finalizar o belo show. O primeiro de Di Melo em Porto Alegre, quatro décadas depois de lançado seu disco de estreia e pelo qual ficou mundialmente conhecido quando DJ’s ingleses e o selo norte-americano de jazz Blue Note recapturaram sua obra nos anos 90. O Brasil só fez ir atrás. Ainda bem. Antes tarde do que nunca, pois, pelo visto, este retorno de Di Melo, gravando disco novo em São Paulo – o que se presume estar sendo feito com a devida estrutura –, está no nível que ele merece pelo artista referencial que é.

A noite continuou lá dentro da quadra dos Bambas, mas não havia mais porque permanecermos. O show era o que queríamos ver. Antes de sair, entretanto, pedi ao roadie o papel com o set list. Ele pegou para mim justo o que ficava no pé de Di Melo, o qual, junto com a pulseirinha da festa (que traz a sábia frase da canção: “A Vida em seus métodos diz calma”), guardei como um amuleto. Com tudo isso, fui para casa pensando: será que, por obra de alguma magia, quem ficou com um registo físico do show, assistiu-o tão de perto e chegou até a apertar a mão de um imorrível se torna imorrível também?


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trecho do show: "Kilariô" - Di Melo



terça-feira, 5 de julho de 2022

Exposição “Antes que se apague: territórios flutuantes”, de Xadalu Tupã Jekupé - Fundação Iberê Camargo - Porto Alegre (RS)

 

É sempre um prazer voltar à Fundação Iberê Camargo. Aproveitando dias de descanso e uma tarde ensolarada na gélida Porto Alegre invernal, o passeio se completou com o convite de Leocádia a visitarmos a exposição a pouco aberta do artista visual gaúcho e indígena Xadalu Tupã Jekupé, “Antes que se apague: territórios flutuantes”. Condizente com o momento histórico que o Brasil vive atualmente, de total desrespeito à cultura indígena somados aos séculos de extermínio do povo originário americano.

Com curadoria de Cauê Alves, a primeira individual do artista na instituição aborda a questão do apagamento da cultura indígena na região oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas. São 19 obras, que surpreendem pelas dimensões impactantes e pela riqueza de simbologias. Elas são memórias da infância de Xadalu, bem como de sua mãe, de sua avó e de sua bisavó, na antiga Terra Indígena Ararenguá, na beira do Rio Ibirapuitã, em Alegrete. Memórias da casa de barro, sem luz elétrica, do fogo de chão e da pesca, das águas geladas que atravessavam todos os dias em busca de alimento e das infinitas noites escuras, apenas iluminadas pelas estrelas.

Para quem circula por Porto Alegre há aproximadamente uma década, é quase impossível não ter se deparado com os adesivos, cartazes, pinturas ou bandeiras de Xadalu com o escrito “área indígena”. Diferentemente da anarquia escancarada de Toniolo da Porto Alegre dos anos 80, é a reinvindicação do direito ao território, uma reocupação simbólica, uma vez que, de fato, não apenas este pedaço do Sul, mas todo o Brasil (quiçá, quase toda as Américas) já foi território indígena. 

Na exposição, contudo, o artista avança em sua crítica-manifesto e redimensiona estes significados. Um fator que impressiona, além do uso das cores e da apurada técnica no uso da tinta acrílica, é a cosmologia indígena, a qual difere radicalmente do paradigma “branco”. Planetas, satélites, espaços terrestres ou o próprio céu ganham formas quase surreais, místicas, encantadas, quando não donas de uma luminosidade tão viva, que além da realidade. 

Mais impressionante, contudo, ainda mais para porto-alegrenses como eu e Leocádia é a reapropriação/ressignificação dada à imagem das carrancas que fazem parte dos adornos da Catedral Metropolitana. No alto do da igreja, mostram rostos guaranis sofridos que representam a sucumbência do índio ao homem branco e a Igreja. Xadalu, irônico, inverte esta lógica: com os dizeres "OI pecei cetã nnande ary" (algo como “A cidade sobre os índios”) e a impactante reprodução destas mesmas carrancas, agora povoando o espaço urbano que lhe foi tirado.

Detalhe dos rostos dos guaranis que há mais de um século
 "adornam" a cidade"

Na visão de Cauê, a obra de Xadalu representa “uma espécie de reconquista que não é como a conquista colonial, que explora e destrói a terra, seja pelo garimpo, a monocultura ou a construção de cidades e monumentos, mas de modo singelo, chamando atenção para quem sempre esteve ali, sentado, resistindo, mas que foi praticamente apagado, como se os indígenas tivessem perdido sua visibilidade.”

Complementarmente à outra exposição presente no mesmo Iberê Camargo com a retrospectiva da artista visual pelotense Maria Lídia Magliani, mulher preta e de forte ativismo às questões femininas à sua época, a mostra de Xadalu fortalece a noção de ocupação a qual os diversos espaços expositivos vêm tomando consciência e, literalmente, espaço. Ver de forma tão consistente a questão indígena – assim como recentemente ocorrera no MARGS para a exposição “Coleção Sartori — A arte contemporânea habita Antônio Prado”, substituída por outra importante ocupação simbólica: “Presença Africana”, atualmente em cartaz – é um alento em tempos de intolerância e sombras. Tempos em que terras indígenas estão completamente desprotegidas e que a cultura originária corre – como talvez jamais esteve em 500 e tantos anos de descobrimento do Brasil – tamanho risco de aniquilamento.

Respeito à fauna e à clora, herança dos índios

Uso apurado da tinta acrílica 

Série "Pindovy", pintura e vídeo


Mais uma impressionante tela de Xadalu

Acrílica que parece até óleo sobre tela

A interessante instalação em que a terra se descola do planeta.
Transformação ou extinção?

Outra mensagem socioecológica pelo ponto de vista da cosmologia indígena

Obra que usa sementes sagradas como forma de expressão


Vista geral dos corredores

Nós e a gigante obra "Nheru Nhe'ry" (tinta acrílica, serigrafia e costura sobre tecido)

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exposição “Antes que se apague: territórios flutuantes”, de Xadalu Tupã Jekupé
Quando: até 31 de julho
Onde: Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre)
Horários de visitação: Quinta-feira a domingo, das 14h às 18h/
Às quintas-feiras, entrada gratuita.
Ingressos: pelo site Sympla ou na recepção da Instituição.
Informações: iberecamargo.org.br


Texto: Daniel Rodrigues
Fotos: Daniel Rodrigues
Leocádia Costa