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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Música da Cabeça - Programa #60


Vocês, aí, tão me ouvindo, tenham calma: faça só um sorriso, ele é de aviso, pois temos o Música da Cabeça nº 60! Sim: o talentoso e carismático Di Melo, o Imorrível, conversou conosco neste programa especial de hoje. Além disso, tem também as músicas da nossa mente – que passeiam por João Gilberto, Talking Heads, Morrissey  e Arnaldo Antunes –, notícia (no “Música de Fato”) e poesia (“Palavra, Lê”). Para quem dizia que o mundo acabaria em mel, quer coisa mais doce que isso?! Sintoniza na Rádio Elétrica às 21h hoje e delicie-se. Produção e apresentação  comemorativas, é claro –: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:

terça-feira, 29 de maio de 2018

Música da Cabeça - Teaser Programa #60



O Música da Cabeça de nº 60 guarda essa atração pra vocês: o Imorrível Di Melo! O artista pernambucano, autor de clássicos como "Kilariô" e "Pernalonga", fala conosco no quadro "Uma Palavra". Quer ouvir o resto da entrevista? "Calma, calma, calma, calma!".É nesta próxima quarta-feira, 30 de maio, na Rádio Elétrica. Não percam!



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Música da Cabeça - Programa #26


O inverno mal acabou e a gente já tá quente aqui no Música da Cabeça! Isso porque hoje, às 21h, vai ter muito ecletismo para esquentar a sua quarta-feira nas ondas da Rádio Elétrica. Duvida? Que tal, então, juntar Nat King Cole, Secos e Molhados, Di Melo e The Stone Roses no mesmo programa? Ah, achou que era exagero? Não é não: o negócio é quente mesmo! Tudo isso pra te dizer: aqueça-se à vontade com o programa de hoje. Produção, apresentação e lança-chamas sonoro: Daniel Rodrigues.



Ouça: Programa #26

terça-feira, 16 de junho de 2015

Di Melo – Festas “Voodoo” e “Cadê Tereza?” – Quadra dos Bambas da Orgia – Porto Alegre/RS (13/06/2015)



Di Melo com todo seu gogó e suingue em Porto Alegre
foto: Daniel Rodrigues
"Dos deuses o final de semana em Porto Alegre.
Mui-alegremente.
‘Unificando público e banda’, foi resplandescente...
deu liga, deu encaixe, foi uma festa in-dis-crê-vente.
Uma banda formada de mágicos músicos locais com a mesma proposta.
Nunca nos vimos e tocamos como se estivéssemos tocando durante longos anos.
Fica provado que a linguagem musical e a linguagem do amor são universais.
Que gratificante, meu Deus!"
Di Melo





Banda afiada acompanhando
o craque pernambucano
foto: Daniel Rodrigues
Se como o próprio diz, “para o imorrível, nada é impodível”, um acontecimento raro e inédito envolvendo ele aconteceu na minha Porto Alegre. O “ele” a quem me refiro é o mestre do pop-soul brasileiro Di Melo, que aterrissou em terras gaúchas nunca d’antes por ele exploradas com seus contagiantes suingue, simpatia e talento. Num memorável e descontraído show na quadra da escola de samba Bambas da Orgia lotada dentro da festa conjunta “Voodoo” e “Cadê Tereza?”, o cantor e compositor pernambucano mandou ver em clássicos do seu mítico LP de 1975 (recentemente listado por mim entre os ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui no ClyBlog) e outras canções próprias que me impressionaram tanto quanto às que já conhecia.

Di Melo no palco e nós assistindo
ali, na primeira fila, ao centro do palco. (acharam?)

foto: Ariel Fagundes
Di Melo estava acompanhado da cozinha da banda gaúcha Ultraman mais dois sopros, que, admiradores de sua obra, sabiam de cor todas as faixas a ponto de nem precisarem ensaiar bastante para o conjunto soar super bem. No centro do palco, o protagonista, um senhor de 66 anos com certa protuberância abdominal e de feições tipicamente nordestinas que mantém o mesmo estilão, o mesmo groove e o mesmo poder vocal de quando lançou seu primeiro álbum, 40 anos atrás – até a boina de couro com a qual estampa a capa de “Di Melo”, quando ainda magro e jovem, é igual. Exatamente na frente de seu microfone, na primeira fileira, Leocádia e eu vimos com clareza todo o show, começando pela arrasadora “Kilariô”, seu grande sucesso, que abriu a apresentação pondo todos para cantar e dançar sob aquele fantástico jazz-funk de ares caribenhos. Na sequência, outros dois funks clássicos e cheios de molho da mesma época: “Aceito Tudo” e “Se o Mundo Acabasse em Mel”, esta última, bastante gostada pelo público.
Di Melo mandando ver
no funk 

foto: Leocádia Costa

Entre os temas para mim inéditos (Di Melo tem outros nove CD’s independentes), “Engano ou Castigo” foi a primeira apresentada. Um belo pop-rock romântico. Igualmente brilhantes, “Milagre”, balada soul belíssima que podia, como disse o próprio Di Melo, ser gravada por Tim Maia se este estivesse vivo; e “Fator Temporal”, com a tradicional poesia afiada de Di Melo, um funk sensual puxado no qual faz um jogo com terminações de palavras ("Tudo que me satisfaz é ter seu corpo desnudo/ Nudo/ Teus contornos iniguais me enlouquecem, vou fundo/ Fundo..").

O bailarino que encantou a
plateia com seus passos
foto: Leocádia Costa
Ele volta no tempo novamente para trazer as suingadas “Minha Estrela” e “Pernalonga”, incendiando a quadra. Com disco novo a ser lançado este ano, Di Melo adiantou ao público porto-alegrense algumas faixas, entre estas “Diuturno”, com versos que sintetizam várias ocasiões do dia a dia, corriqueiras ou não, num encadeamento maravilhosamente literário. Ainda por cima, este funk-rock traz brilhantes riff e arranjo, que a faz ir ganhando volume até encerrar grandiosamente. Das melhores do show e que já dá uma noção da maravilha que vem por aí no novo CD. Outra que conterá no próximo trabalho também executada é o samba-rock “Barulho de Fafá”, que me lembrou bastante os também pernambucanos Mundo Livre S/A. Esse momento foi especial no show pois, além de ser mais uma ótima música, contou ainda com a repentina participação de um lindo bailarino e cantor estilo black rio, elegantemente trajado de fatiota de linho bege e um chapéu coco vermelho, que subiu ao palco não apenas para encantar a plateia com seus passos deslizantes e tomados de malemolência, mas, ainda, mandar um rap de improviso totalmente dentro da harmonia. Di Melo e o público o aplaudiram.

O convidado articulando
um rap com Di Melo
foto: Leocádia Costa
Essa ponta foi mostra da interação entre Di Melo e o público. Ele demonstrava felicidade por estar ali, cumprimentando e se reportando com a galera, inclusive com este que vos fala mais de uma vez. Fez até poesia de improviso, dizendo: “Porto Alegre, te amo alegremente”. Acontece que ele sabe muito bem que essa fase lhe é especial, uma vez que sua redescoberta, ocorrida anos atrás com mais de 30 anos de defasagem, tem lhe proporcionado um novo estrelato junto ao público jovem. Mais uma obra resultante do momento atual é a cortante “Navalha”, um soul-rock de letra igualmente bem sacada. Nesta, a performance, tanto dele quanto da Ultraman, foram ótimas. Já “Kiprocô de Patrono”, outro samba-rock, este escrito em homenagem a Chico Buarque, está presente em um dos seus discos independentes (“Sons, sensações, sambas e tesões”) e no qual parafraseia inteligentemente o riff do clássico samba “Brasileirinho”.


Set list e a pulseira da festa
foto: Daniel Rodrigues
Seu outro grande sucesso, “A Vida em Seus Métodos Diz Calma”, ficou guardada para o fim, contagiando todo mundo antes de “Kilariô” ser tocada novamente como bis e finalizar o belo show. O primeiro de Di Melo em Porto Alegre, quatro décadas depois de lançado seu disco de estreia e pelo qual ficou mundialmente conhecido quando DJ’s ingleses e o selo norte-americano de jazz Blue Note recapturaram sua obra nos anos 90. O Brasil só fez ir atrás. Ainda bem. Antes tarde do que nunca, pois, pelo visto, este retorno de Di Melo, gravando disco novo em São Paulo – o que se presume estar sendo feito com a devida estrutura –, está no nível que ele merece pelo artista referencial que é.

A noite continuou lá dentro da quadra dos Bambas, mas não havia mais porque permanecermos. O show era o que queríamos ver. Antes de sair, entretanto, pedi ao roadie o papel com o set list. Ele pegou para mim justo o que ficava no pé de Di Melo, o qual, junto com a pulseirinha da festa (que traz a sábia frase da canção: “A Vida em seus métodos diz calma”), guardei como um amuleto. Com tudo isso, fui para casa pensando: será que, por obra de alguma magia, quem ficou com um registo físico do show, assistiu-o tão de perto e chegou até a apertar a mão de um imorrível se torna imorrível também?


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trecho do show: "Kilariô" - Di Melo



sábado, 25 de abril de 2015

Di Melo - "Di Melo" (1975)




Meu som não deixa nada a desejar para o que houve,
há e haverá no mercado musical. 
Digo, repito, atesto e assino embaixo,
sem medo de errar e sem falsa modéstia.
É muito swing, balanço, molho, charme e malemolência,
pois nem Santo Antonio com gancho consegue segurar,
nem o boato ou disse-me-disse de que
eu havia morrido de desastre de moto.
Se esqueceram de uma coisa: que eu sou imorrível!”

Di Melo



Assim como não seria exagero dizer que tudo em Seu Jorge que não é João Nogueira é Carlos Dafé, a mesma comparação dialética serve muito bem para outro ídolo da música brasileira da atualidade: tudo que não é Sabotage em Criolo é Di Melo. A constatação, embora um tanto capciosa, denota o quanto a arte musical de hoje no Brasil anda a reboque daquilo que já foi produzido e, principalmente, o quanto artistas do passado foram, de fato, precursores. No caso de Di Melo, este é pioneiro de muito do que se considera “inovação” na música brasileira de hoje e, novamente em comparação a Criolo, a poética afiada e o ecletismo que se percebem neste último chegam a quase parecer uma cópia.

Todo o pioneirismo de Di Melo está, curiosamente, em apenas um disco, o álbum homônimo produzido por ele em 1975, um marco na história da música pop brasileira. Idolatrado por artistas como Otto, Nação Zumbi, Leo Maia, Simoninha, Max de Castro e Charles Gavin (que, como produtor, o verteu para CD em 2004), “Di Melo” é tomado de lendas para os apreciadores e colecionadores, assim como a própria figura do simpático e bonachão músico pernambucano. Saído de sua Recife natal nos anos 60 para São Paulo, onde gravou este álbum em alto estilo, Roberto de Melo Santos é daqueles músicos cheios de talento e criador de uma única grande obra que, com o passar do tempo, caíram no ostracismo. Porém, como muitas vezes acontece com artistas brasileiros esquecidos no seu próprio país, o retorno de Di Melo à mídia tem a ver com a apreciação que veio de fora. Nos anos 90, seu LP tornou-se sucesso entre DJ’s europeus e teve uma de suas faixas incluída numa coletânea da gravadora norte-americana de jazz Blue Note. O suficiente para a galera tupiniquim voltar correndo para conhecer aquilo que desprezava. Logo “Di Melo” passou a ser valorizado nas lojas de bolachões paulistanas até esgotar e virar raridade no mercado negro, chegando a custar 300 Reais em média um vinil.

Os músicos que participaram de sua gravação dão ao disco uma aura ainda mais épica: contou com uma cozinha com Cláudio Bertrame (baixo), Bolão (sax), Luiz Melo (teclado), Geraldo Vespar (maestro, arranjos e violão), José Briamonte (maestro), Waldemar Marchette (arregimentação) e ainda participações de gente do calibre de Hermeto Paschoal nos arranjos (!) mais Heraldo Dumont, Capitão, Ubirajara (pai do Taiguara) e até de um músico da banda de Astor Piazzola.

Já para com Di Melo, a falácia chegou ao nível de este ser considerado morto após um hipotético acidente de moto. Tudo boato: Di Melo mora no subúrbio de Recife com filha e esposa, vive da venda dos quadros que pinta e, segundo o próprio, tem mais de 400 canções prontinhas para serem gravadas (inclusive parcerias com Geraldo Vandré). Dessas, as que conseguiu pôr no acetato no famoso disco de 1975 são verdadeiras joias da música brasileira moderna, onde demonstra uma versatilidade e um groove de deixar muito medalhão da MPB com inveja.

“Di Melo” começa com a gostosa “Kilariô”, um arrasador jazz-funk com uma pitada caribenha e cuja melodia de voz é daquelas que pegam no ouvido de cara: “Kilariô, raiou o dia/ Eu fiz chover em minha horta/ Ai ai meu Deus do céu, como eu sofri ao ver a natureza morta”. A voz de timbre abençoado de Di Melo, algo entre o tom metálico de Moraes Moreira e a pronúncia aberta de Wilson Simonal, é ainda mais realçada pelo belo sotaque pernambucano (com suas pronúncias “holandesas” do “T” como “Tí” e do “D” como “Dí”). Além disso, Di Melo canta ao estilo dos mestres da soul music norte-americana, mas também referenciando-se em artistas nordestinos como ele, desde o swing de Jackson do Pandeiro até o vocal rasgado de Genival Lacerda.

Em seguida, outra que vem ratificar definitivamente a veia soul: “A vida em seus métodos diz calma“, seu maior sucesso tanto na época quanto na sua “retomada”, visto que foi esta a faixa que os gringos escolheram para a coletânea de “novidades” da Blue Note. A letra, igualmente pegajosa, é um destaque, tanto pela mensagem quanto pela melodia de voz que lhe é empregada: “A vida em seus métodos diz calma/ Vai com calma, você vai chegar/ Se existe desespero é contra a calma, é/ E sem ter calma nada você vai encontrar”. Nesta fica evidente a afinação da banda e a qualidade da produção de Zilmar R. de Araújo. Tudo certo, tudo no lugar: o groove da batida, os timbres, a levada da guitarra, o arranjo dos sopros.

Na sequência, vêm três maravilhas altamente críticas à sociedade moderna e à condição do homem oprimido pela cidade grande, algo que a percepção de nordestino na gigantesca São Paulo ajuda a enxergar com mais clareza. Primeiro, “Aceito tudo”, de poética letra que remete ao modernismo e ao fraseado de um estilo musical que ainda nem existia, o rap, visto seu jeito de cantar e organizar os versos na melodia. Música que lembra muito a maneira de escrever e cantar de Chico Science (até por causa do sotaque) e que provavelmente é tudo o que Criolo sempre quis fazer: espécie de repente moderno marcado na guitarra com letra sacaca e de sinapses ligeiras (Aí eu pensei que ia indo caminhando mas não fui/ para um sonho diferente que se realiza e reproduz/ E pensando fui seguindo num caminho estreito cheio de toco/ Esqueci de lembrar de pensar que todo penso é torto...”). No fim, desemboca em um funk irrepreensível comandado pelos vocais espertos de Di Melo.

A outra é mais uma pérola: "Conformopolis". Mas, peraí: essa melodia é uma... milonga?! Sim, uma milonga, ritmo hispano-ibérico típico do Rio Grande do Sul e dos vizinhos portenhos Uruguai e Argentina. Esta gravação é algo sem precedente dentro da MPB fora dos pagos gaúchos. Não eram os irmãos Ramil, não era Hartlieb, não eram os Almôndegas nem Ellwanger. É um pernambucano em terras paulistanas totalmente sintonizado com a arte musical – pois, afinal, música boa não tem fronteira. Pungente, realista, melancólica: “A cidade acorda e sai pra trabalhar/ Na mesma rotina no mesmo lugar/ Ela então concorda que tem que parar/ Ela não discorda que tem que mudar...”. Das grandes do disco, que já foi motivo de Cotidianas aqui no ClyBlog.

Mais um apelo crítico à vida maquinal e desumanizadora da sociedade moderna, desta vez na balada marcial “Má-lida”. Os versos, confessionais, traduzem através da repetição fonética e de sentenças curtas o deslocamento existencial de um homem no mundo: “Ah! tenho de pouco surrados miúdos malditos/ Fui entrelaçado e já fui casado/ Um tanto inibido/ E pra muita gente sou um depravado.” E completa: “Ah! julgo não ser enxerido nem intrometido/ Tampouco ousado/ É que estou saturado de tanta má-lida/ Mesmo trabalhando como um condenado”. E os arranjos de cordas são preciosos.

E se pensa que as surpresas param por aí, é porque não se tem noção do que vem a seguir. Depois de três exemplos de soul, de uma canção mais contemplativa e de uma surpreendente milonga, Di Melo manda ver um tango! Sim, “Sementes” é um tango, ainda mais platino que “Conformópolis”. É nesta em que toca um dos músicos da banda de Piazzola que Di Melo em entrevista diz não lembrar do nome, mas que, afora esse detalhe importante, dá um show de acordeom. Os versos acompanham a elegância dramática deste estilo musical: “Vai, flor que se mata a espera do amanhã/ Vai, desembaraça teu sorriso a uma irmã/ Vai, que quando passas tu perfumas chão ardente/ Vai, que o tempo atrai de ti sua semente...”.

“Pernalonga” retoma o swing num balanço irresistível, o mesmo com outra ótima do disco: “Minha Estrela”, de letra romântica mas no ritmo chacoalhante da soul. De novo, a voz variante de Di Melo, que vai do som aberto ao aveludado, bem como a pronúncia pernambucana, se sobressai: “Minha estrela/ Girai na noite até o raiar do dia/ Se tiver fossa vem que eu canto a melodia/ Não quero ver o teu sorriso magoado”. O samba-rock “Se o mundo acabasse em mel” pode ser considerado uma "Construção" pop, porém não narra a morte repentina de um trabalhador pobre como no clássico de Chico Buarque, mas sim de um milionário do mundo do business publicitário. “Deu pane no nervo do cérebro/ Taquicardia e reverbério/ Momentos trágicos, instantes sórdidos/ Tombou perplexo em pleno orbe”. Que versos!

Bucólica, “Alma gêmea” começa com um dedilhado de violão a la Bach que marca sua base, acompanhado de acordes de flauta que explicitam a tocante canção. É outra que faz lembrar bastante Moraes e Chico Science, mas também da MPB rural da época. Em “João”, a força melódica e letrística de Di Melo volta com tudo para uma nova análise existencial do homem, um “João” qualquer que vive submerso nas exigências sociais (trabalho, casamento, amigos, lazer) e naquilo que ele deve ou não ser mas que, justamente por isso, faz com que se perca de si como indivíduo. Na alta variedade de ritmos do disco, ele finaliza com um xote. “Indecisão” ainda termina com versos quase proféticos vindos de um artista que conheceria o estrelato e o ostracismo, mas que nunca deixaria de seguir pelo caminho da música: “Tem gente que nasce pra ter e tem gente que vem pra cantar”.

Pode-se tranquilamente colocar “Di Melo” junto a outros grandes álbuns da soul music brasileira como os “Tim Maia Racional”, “Pra que vou recordar o que chorei”, de Dafé, ou “Saci Pererê”, da Black Rio. Esse sentimento é compartilhado por vários apreciadores desta obra, o que pode ser visto no bom curta documentário “Di Melo, O imorrível”, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro, realizado em 2011 e que retrata a vida do compositor hoje, relembrando histórias, coletando depoimentos de fãs e amigos e mostrando sua ainda tímida volta aos palcos. Oxalá Di Melo possa tornar a gravar e, quem sabe, fazer o sucesso que lhe é cabido. Para quem já foi dado como morto e que, de certa forma realmente “reviveu”, nada é tão improvável assim. Certo é que sua obra, mesmo passados tantos anos (40 anos), segue sendo cada vez mais admirada. E, afinal, como Di Melo diz de si próprio: “Para o imorrível nada é impodível”.
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 documentário “DI MELO, O IMORRÍVEL”

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FAIXAS:
1. Kilariô
2. A vida em seus métodos diz calma
3. Aceito tudo (Vidal França - Vithal)
4. Conformópolis (Waldir Wanderley da Fonseca)
5. Má-lida
6. Sementes
7. Pernalonga
8. Minha estrela
9. Se o mundo acabasse em mel
10. Alma gêmea
11. João (Maria Cristina Barrionuevo)
12. Indecisão (Terrinha)

todas composições de Di Melo, exceto indicadas.

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Ouça o disco:




quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

cotidianas #350 - Conformópolis



foto: Stanley Kubrick, aos 17 anos de idade
no metrô de Nova York
A cidade acorda e sai pra trabalhar
Na mesma rotina, no mesmo lugar
Ela então concorda que tem que parar
Ela não discorda que tem que mudar
Mas ela recorda que tem que lutar

Condução lotada, apertada, de pé
A cidade desce no Largo da Sé
Mecanicamente ela mostra ter fé
Na proximidade de um dia qualquer
E na Liberdade ela toma um café

Escritório, chefe, o cartão pra marcar
O magro sanduíche engolido num bar
Ela então desperta, ela tenta gritar
Contra o que lhe aperta e que lhe faz calar
Mas ela deserta começa a chorar

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Conformópolis
(Di Melo)

Ouça:
Di Melo - "Conformópolis"