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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

"Meu Pai", de Florian Zeller (2020)

 

MELHOR ATOR
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO


Fui assistir a "Meu Pai", filme do escritor e diretor francês Florian Zeller, com a expectativa de ver nada muito além de um drama familiar com boas atuações. Recebi muito mais do que isso! "Meu Pai" é envolvente, tem um roteiro brilhante, instigante, fascinante. Zeller coloca o espectador dentro da cabeça, do universo confuso, embaçado, embaralhado de Anthony, um idoso que sofre de um processo gradativo de deterioração de memória, possivelmente um Alzheimer, embora não mencionado diretamente no filme, e ocasiona uma série de dificuldades à filha, que mesmo extremamente carinhosa, atenciosa, pacienciosa, começa a ver-se impotente diante das limitações do pai. O filme, com um roteiro inteligente e uma montagem brilhante, cria uma espécie de labirinto que embaralha situações, impressões, objetos, numa proposital desordem de espaço e tempo, que faz com que o espectador tenha um pouco da sensação do que acontece dentro da mente de uma pessoa naquelas condições. Informações são dadas e são negadas, objetos parecem estar em determinado lugar mas logo não estão mais, pessoas aparecem mas não temos certezas que existem, lembranças são recuperadas mas não sabemos se os fatos aconteceram... Como era de se esperar, dadas as indicações ao Oscar da dupla de protagonistas, as atuações são memoráveis! Olivia Colman, já oscarizada por "A Favorita", tem uma atuação perfeita mesmo sem arroubos ou exageros. Ela ganha o filme num olhar, emociona numa expressão facial, na maneira como coloca uma frase. Anthony Hopkins, por sua vez, vivendo o personagem de seu mesmo nome, Anthony, está absolutamente brilhante (mais uma vez na carreira). Suas mudanças de expressão, muitas vezes na mesma cena, oscilando entre o afeto, a fragilidade, a irritação e a confusão, são simplesmente incríveis! A cena final em que ele parece, por um momento, finalmente, dentro de toda sua demência, perceber sua vulnerabilidade e de certa forma, volta a ser um menininho chamando pela mãe, é de encher os olhos de lágrimas e aplaudir de pé. "Meu Pai" é muito mais que um filme de atuações mas só as atuações já o justificariam. Mas ainda bem que, além delas, temos mais do que isso. 

Dupla espetacular em cena.



Cly Reis

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Música da Cabeça - Programa #212

 

Se até o Oscar foi mais simplinho, por que a gente também não pode? O MDC hoje vem assim: na simplicidade. Simples não são, no entanto, nossas atrações: Pixies, Peter Gabriel, Jorge Ben, Kraftwerk e H.E.R. por exemplo. Também tem um balanço do Oscar 2021 no Música de Fato e um Cabeça dos Outros com Anderson .Paack. Sem glamour, mas na maior das elegâncias, o programa hoje vai ao ar às 21h, na nada simplória Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Simplesmente.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Oscar 2021 - Os Vencedores



A diretora Chloé Zaho, de "Nomadland",
o grande vencedor da noite.
E o Oscar de 2021 foi diferente! Pra começar, foi agora, em abril, e não em fevereiro, como tradicionalmente ocorre; não aconteceu em um auditório cheio de gente e sim numa cerimônia quase intimista com os convidados dispostos em mesas protocolarmente distanciadas; teve indicados recebendo prêmios em vários lugares do mundo, ao vivo; os números musicais foram externos, breves e distribuídos, em sua maioria, antes da cerimônia; sem orquestre e com um DJ; o prêmio de melhor filme não sendo anunciado por último; mas o mais importante: poucas vezes houve tanta diversidade e representatividade, tanto nas indicações quanto na premiação. Negros, mulheres, asiáticos, homossexuais foram premiados de forma natural e justa, por inegável mérito de seus trabalhos muito mais do que por uma pressão social como em outros momentos quando a qualquer gritaria de "mais mulheres", "mais negros", se dava três ou quatro estatuetas só para satisfazer os grupos e depois voltar à normalidade dos critérios da academia. Me pareceu que, mais que nunca, eram tão incontestes as virtudes das minorias representadas, que seria impossível não lhes prestar o reconhecimento com as vitórias em suas categorias. 

Numérica e quantitativamente, não tivemos, novamente, nenhum grande vencedor, como acontecia em outros tempos quando uma só produção fazia uma limpa nos prêmios, arrebatando sete ou oito estatuetas, mas não há como negar que um filme que leva as categorias de filme, direção e protagonista é, sem dúvida o grande vencedor. Foi o caso de "Nomadland", que já vinha sendo multipremiado em outras competições e festivais e que só confirmou seu favoritismo, marcando também a segunda vitória de uma mulher Chloé Zaho, na categoria de direção. Outras mulheres também fizeram história como foi o caso de Emerald Fennel, a jovem diretora que em sua estreia ganhou o prêmio de melhor roteiro original, Youn Yuh-jung, a primeira sul-coreana a vencer o prêmio de atriz coadjuvante, e  Mia Neal e Jamika Wilson , as primeiras negras a vencerem o prêmio de maquiagem e cabelo. Por falar em representatividade negra, além diversas indicações, representantes negros foram premiados em diversas categorias, nas mais variadas modalidades como na, já mencionada, maquiagem, na música, como no caso do parceiro de Trent Raznor e Atticus Ross, na trilha de "Soul", Jon Baptiste, e pela canção de "Judas e o Messias Negro" interpretada pela cantora H.E.R.; no curta "Two Distant Strangers", produzido por negros, e que aborda a morte de afro-americanos pela força policial; e especialmente, na categoria de melhor ator coadjuvante, com o prêmio para Daniel Kaluuya, interpretando o líder dos Panteras Negras, Fred Hampton.

Ainda falando em representatividade, é marcante também a participação de "O Som do Silêncio", que se só por sua mera proposta já era extremamente significativo ao abordar a temática dos deficientes auditivos, tornou-se ainda mais importante ao vencer duas categorias, a de produção  de som, na qual era esperado e justíssimo, e montagem, na qual acabou sendo, de certa forma, uma agradável surpresa. 

Por falar em surpresa, para muitos a grande surpresa da noite ficou com o prêmio para melhor ator, vencida pelo veterano Anthony Hopkins, pelo filme "Meu Pai", numa categoria que muitos apontavam o falecido ator Chadwick Boseman como favorito a um prêmio póstuma por sua atuação em "A Voz Suprema do Blues".

No mais os prêmios ficaram bem divididos e, acredito que, de um modo geral, com bastante justiça, premiando exatamente as melhores virtudes de cada um dos concorrentes. Dois para "Mank", , dois para "Judas e o Messias Negro", dois para "Meu Pai", dois para "Soul", dois para "O Som do Silêncio", três para "A Voz Suprema do Blues" e todos saíram felizes. Até a Glenn Close que, mesmo não levando a estatueta, em sua oitava indicação, roubou a cena da cerimônia, rebolando no desafio musical do DJ da festa. Impagável!



Confira abaixo todos os vencedores em todas as categorias:


Melhor Filme

  • Nomadland 

Melhor Direção

  • Chloé Zhao – Nomadland

Melhor Ator

  • Anthony Hopkins – Meu Pai

Melhor Atriz

  • Frances McDormand – Nomadland

Melhor Ator Coadjuvante

  • Daniel Kaluuya – Judas e o Messias Negro

Melhor Atriz Coadjuvante

  • Yuh-jung Youn – Minari

Melhor Roteiro Original

  • Bela Vingança

Melhor Roteiro Adaptado

  • Meu Pai

Melhor Fotografia

  • Mank

Melhor Figurino

  • A Voz Suprema do Blues

Melhor Trilha Sonora Original

  • Soul

Melhor Canção Original

  • “Fight For You” – Judas e o Messias Negro

Melhor Design de Produção

  • Mank

Melhor Edição

  • O Som do Silêncio

Melhores Efeitos Visuais

  • Tenet

Melhor Cabelo e Maquiagem

  • A Voz Suprema do Blues

Melhor Produção de Som

  • O Som do Silêncio

Melhor Documentário

  • My Octopus Teacher

Melhor Filme Estrangeiro

  • Another Round (Dinamarca)

Melhor Filme de Animação

  • Soul

Melhor Documentário em Curta-metragem

  • Colette

Melhor Curta-metragem de Animação

  • Se Algo Acontecer… Te Amo

Melhor Filme em Curta-Metragem

  • Two Distant Strangers

C.R.

sábado, 24 de abril de 2021

"O Som do Silêncio" ou "O Som do Metal", de Darius Marder (2019)


VENCEDOR DO OSCAR DE
MELHOR EDIÇÃO E
MELHOR PRODUÇÃO DE SOM

É sempre muito legal assistir algum filme cuja forma dialoga com a gramática do cinema. Desde obras propositadamente metalinguísticas como “Blow Up” e “Amnésia” ou mesmo comédias aparentemente banais, tal “Cegos, Surdos e Loucos”, o uso de maneira intencional de algum dos sentidos humanos como objeto do filme é capaz de, em igual proporção, enriquecer semiologicamente a obra e intensificar a mímese desta – mesmo que isso se dê apenas subliminarmente quando o espectador não está atento ao uso desse trato técnico. Além da visão, da memória ou da fala, sentidos mais comuns de serem abordados no cinema, há filmes que se dedicam ao tema da audição, como é o caso de "O Som do Silêncio" ou "O Som do Metal".  O filme de Darius Marder vale-se deste recurso narrativo-linguístico para colocar o espectador em contato com uma realidade tocante e não rato aflitiva: a dos deficientes auditivos.

Na história, Ruben (vivido magistralmente por Riz Ahmed), um jovem baterista de uma banda de heavy metal que tem com a namorada Lou (Olivia Cooke), teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. Suas duas paixões estão em jogo: a música e ela. Essa mudança drástica acarreta em muitas incertezas e angústias, a qual provoca uma série de acontecimentos, frustrações e encontros com questões muito profundas dos personagens.

Diferentemente de clássicos thrillers como "Um Tiro na Noite" e "A Conversação", que integram os diferentes aspectos da sonoridade para imprimir tensão e mistério a suas narrativas, "O Som" vale-se deste recurso sensorial em um drama, o que é bastante interessante. É comum o espectador “sentir” o som como algo a lhe provocar a intensificação dos sentidos, caso das explosões e estardalhaços das cenas de ação, mas perceber esse elemento fílmico de maneira dramática é mais incomum. Os momentos em que se ouve o som abafado do ouvido de Ruben, os ruídos estridentes, os cacos ou a angustiante sensação de silenciamento a qual o protagonista vai se deparando gradativamente são como que vividas também por quem assiste, até porque o roteiro, envolvente, é muito bem construído. Concorrente ao Oscar de Roteiro Original, a trama de “O Som” narra um percurso pessoal e existencial, que, novamente, tem tudo a ver com a gramatica cinematográfica: a percepção/captação de algo externo (som) e a consequência externa dessa transformação.

Oscarizáveis: Ahmed e Raci contracenam em "O Som do Silêncio"

Quanto ao Oscar, dos seis que disputa, mais provável são dois ou apenas um para "O Som". Ahmed, por melhor que esteja, dificilmente levará, haja vista que concorre com fortes candidatos como Gary Oldman ("Mank") e, principalmente, Chadwick Boseman ("A Voz Suprema do Blues"), apto a abocanhar a estatueta postumamente. Mas nessa categoria é daqueles casos que só a indicação e estar ao lado de excelentes e oscarizados atores, como estes dois e Anthony Hopkins (“Meu Pai”), já é um reconhecimento. De Filme, igualmente, não leva, pois têm outros bem mais fortes favoritos na frente. Ator Coadjuvante, parecido, pois somente "Judas e o Messias Negro" põe dois nesse páreo (LaKeith Stanfield e Daniel Kaluuya) contra Paul Raci. 

Restam-lhe os prêmios técnicos: edição e, o que seria muito legal se acontecesse, o de Produção de Som. Contrariando a prática comum de premiar produções espetaculosas, como musicais, aventuras ou ficções científicas, cairia muito bem à Academia num momento de revisão de conceitos valorizar um drama de abordagem humana e mais humilde perto de superproduções como “Dunkirk”, “Bohemian Rhapsody” e "Ford vs. Ferrari", vencedoras das últimas três edições do Oscar na categoria Edição de Som, como era classificada a categoria até ano passado.

Independente de prêmio ou não, o fato é que "O Som" é um filme peculiar e sensível, capaz de extrair da pequena história de um drama pessoal questões universais como amor, família, caridade e perdão. Uma história que leva à compreensão de que, independentemente dos sentidos físicos, o que vale é saber escutar o som que vem do coração.

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trailer de "O Som do Silêncio"


Daniel Rodrigues

quinta-feira, 22 de abril de 2021

"Se algo acontecer... te amo", de Will McCormack, Michael Govier (2020)

VENCEDOR DO OSCAR DE
 MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO


"Se algo acontecer... te amo" é pesado, é duro, é triste. Não sei se é porque eu tenho uma filha, exatamente da mesma faixa de idade da criança retratada no pequeno filme, mas o fato é que ele me tocou de uma menaira muito significativa. O curta-metragem de animação que concorre ao Oscar na categoria, é muito competente em nos transmitir a sensação de infinita desolação, a inconformidade, a impotência de dois pais que acabaram de perder a filha de 10 anos num tiroteio, causado por um atirador, dentro da própria escola. O filme consegue nos colocar dentro daquela dor. A arte, de traços simples mas muito expressiva e sensível, faz com que o espectador divida aquilo com os pais, também fique indignado, se compadeça; e seu silêncio torna tudo mais angustiante e comunica mais que qualquer enxurrada de palavras. O filme, mesmo mudo e em sua curta duração conduz muito bem a história, uma vez que, num primeiro momento, sequer sabemos o porquê daquele casal se encontrar tão arrasado e inerte. Aos poucos vamos entendendo que ali há uma ausência e de quem se trata, ainda que o motivo da ausência só venha a ser, efetivamente revelado, mais adiante e, diga-se de passagem, de uma maneira muito elegante, limpa, mas sem perder o impacto. 

O casal, que não consegue encarar a morte da criança, acaba por formar uma barreira entre eles mesmos e perece cada vez mais afundar naquela depressão. Curiosamente, a constante presença da filha, contida em cada parte da casa, em objetos, em ações rotineiras, se por um lado faz com que eles sucumbam gradualmente, é, também, o que os faz reagir, entender que ambos têm um ao outro e, resolver, mesmo com toda dor, seguir em frente.

"Se algo acontecer..." é um bom filme e bom candidato a levar o prêmio de animação da Academia. O filme, além de suas qualidades e de tratar de temas como relações familiares e depressão pós-traumática, traz um importante recado sobre a questão dos armamentos e de como um desajustado qualquer, um frustrado, um fundamentalista ou qualquer coisa do tipo, com uma arma na mão, pode, num piscar de olhos, acabar com vidas inocentes, com futuro de pessoas cheios de vida, sonhos e planos, bem como das pessoas pessoas que as rodeiam. Se em "Se algo acontecer... eu te amo" a vítima, figurativamente, "ajuda" os pais a se reerguerem, em muitos casos isso não acontece e, nesses casos, aquela arma, aquele desatino, não terá levado somente uma vida...

O casal, sentindo suas vidas sem sentido, depois da tragédia,
 se afasta cada vez mais um do outro.



por Cly Reis

sábado, 10 de abril de 2021

"Os 7 de Chicago", de Aaron Sorkin (2020)

 


INDICADO A MELHOR FILME, 
MELHOR ATOR COADJUVANTE
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL, MELHOR EDIÇÃO,
MELHOR FOTOGRAFIA 
E MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Cara,... eu não gostei de "Os 7 de Chicago". Pode ter todas as indicações que teve mas, de cara, desde os primeiros minutos, não gostei. Excessivamente americano. O formato, a dinâmica, a condução... Até a "imprevisibilidade" previsível, é tão característica do cinemão feito para conquistar, que, não precisa de muito tempo para torrar a paciência do espectador que espera algo mais.
O filme que trata dos eventos em torno de uma manifestação pacífica contra a Guerra do Vietnã, acontecida em 1968 e seus desdobramentos como a prisão de pessoas consideradas chave para aquele movimento, até tenta ter uma boa dinâmica com flashbacks que vão remontando alguns elementos determinantes para o esclarecimento das ações daquele dia, mas até esse recurso é tão batido que a gente não só sabe que ele será utilizado, mas também como sabe como será.
Ah, e o julgamento é desgastante com o advogado clichê e o personagem do juiz explorado de maneira repetitiva e cansativa... Sei que os fatos são verídicos mas, cabe então ao diretor, conduzi-los de forma mais instigante e menos convencional. 
Se salva, de fato a atuação de Sasha Byron Cohen como o líder yippie, alternando entre o humor e o dramático de forma brilhante e merecidamente elogiada e indicada para melhor atuação de coadjuvante. Agora, me surpreende que o filme tenha sido indicado a melhor roteiro adaptado, com um andamento tão "obviamente surpreendente" ou, se preferirem, "surpreendentemente óbvio". Mas...
Chato. Chato. Irremediavelmente chato. Tem todo o componente humanista, de justiça social, de liberdade de expressão, uma mensagem cada vez mais importante e válida, ok... mas quantos filmes já não passaram esses recados de maneira mais estimulante e interessante?

Sasha Baron Cohen, como Abbie Hoffman, à frente do grupo pacifista, na manifestação.




por Cly Reis

segunda-feira, 29 de março de 2021

"Wolfwalkers", de Ross Stewart Tomm Moore (2020)

 

INDICADO A MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO


Um filme que parece simples mas não é. Parece complicado mas não é... Adorei que longa mesmo sendo extremamente colorido e fofo, consiga, em algumas cenas, ser sombrio e assustador.

Em uma época de superstição e magia, quando os lobos são vistos como demoníacos e a natureza um mal a ser domado, uma jovem caçadora aprendiz, Robyn, vai para a Irlanda com seu pai para eliminar o último bando.

Apesar do filme se destacar em vários aspectos, seu roteiro é algo que menos se sobressai. Embora longe de ser ruim, tem tramas muito simples e de resoluções fáceis que acabam tornando o filme previsível. Por outro lado, se no roteiro não houve tanto capricho, na parte visual o esmero sobrou. O estúdio Cartoon Saloon consegue criar um estilo único para suas produções e aqui trabalha muito bem as cores fazendo do  longa algo vivo e vibrante, mas sabendo, quando necessário, trabalhar a escuridão com muita maestria.

Eu sou um apaixonado por animações e, sempre que posso assistir a uma, paro tudo e vou lá acompanhar. E, no caso específico desta, por mais que tenha um roteiro simples, que não exija muito do espectador, sempre tem algo para se encantar. Aqui temos a mitologia irlandesa narrada em uma arte belíssima, uma animação muito bem feita na qual, as cenas que envolvem magia são simplesmente exuberantes. As transformações das Wolfewalkers, quando o “espírito” dos Lobos aparece, o movimento da alcateia (AÚÚÚÚÚÚÚÚ!!!) misturado com a trilha e seu encaixe perfeito, tudo é fascinante. Com certeza  não é uma obra que vai marcar muito, mas sem sombra de dúvidas é algo para se apreciar, curtir a magia e sua linda mensagem.

Vai me dizer que isso não é lindo?




por Vagner Rodrigues


terça-feira, 16 de março de 2021

Oscar 2021 - Os Indicados

 



2020 foi uma no esquisito! Tudo parou, coisas foram suspensas, canceladas, adiadas, e não foi diferente com a indústria cinematográfica. Por conta disso, a premiação do Oscar, que, a essas alturas já teria sido realizada, em circunstâncias normais, só agora teve divulgados os indicados das produções da última temporada.
Mas se a época foi complicada, repleta de interrupções percalços e dificuldades, não foi por isso que deixamos de ter grandes filmes e ótimos concorrentes este ano. "Mank", filme de David Fincher, lidera as indicações com 10 categorias, incluindo melhor filme mas, contra minhas apostas iniciais, fica fora de melhor roteiro. original, contudo, o número de indicações não lhe garante nenhum favoritismo prévio considerando que "Minari", de Lee Isaac Chung, e "Nomadland", de Chloé Zhao, vêm abocanhando as principais categorias em outras premiações,
Por falar em Chloé Zaho, o Oscar desse ano marca o ineditismo de, pela primeira vez, ter duas mulheres concorrendo na categoria de melhor direção, tendo a sul-coreana a concorrência de Esmerald Fennel, por "Bela Vingança".
No que diz respeito a nós brasileiros, a expectativa que se alimentava de que "Bacurau" pudesse ter indicações, acabou não se materializando, mas, certamente, não é nada que desmereça a qualidade do filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que já faturou o prêmio do júri de Cannes, no ano passado. 
No que diz respeito a atuações, Chadwick Boseman, a exemplo de Heath Ledger, foi indicado a prêmio póstumo por seu papel em "A Voz Suprema do Blues" e, assim como o brilhante Coringa, tem boas chances de ter premiada sua interpretação; na parte musical, a curiosidade fica por conta dos Nine Inch Nails, Trent Raznor e Atticus Ross, já vencedores por "A Rede Social" , que dessa vez tem dupla chance de ganhar, concorrendo por dois filmes, "Mank" e "Soul", filme da Pixar que, por sinal também tem grandes chances na categoria de animação.
A cerimônia de premiação acontece, dessa vez, em 25 de abril então a gente aproveita para deixar você a par de todos os indicados pra você aproveitar esses novos tempos em que, em parte por causa da pandemia, em parte por conta de novos hábitos e tendências, muitas das produções estão disponíveis, desde já, em plataformas de streaming.
Dá uma conferida na lista aí abaixo, prepara a pipoca e cai dentro dos aplicativos na Smart TV.


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Melhor Filme

  • Meu Pai
  • Judas e o Messias Negro
  • Mank
  • Minari
  • Nomadland
  • Bela Vingança
  • O Som do Silêncio
  • Os 7 de Chicago

 

Melhor Direção

  • Chloé Zhao – Nomadland
  • Thomas Vinterberg – Another Round
  • David Fincher – Mank
  • Lee Isaac Chung – Minari
  • Emerald Fennell – Bela Vingança

 

Melhor Ator

  • Riz Ahmed – O Som do Silêncio
  • Chadwick Boseman – A Voz Suprema do Blues
  • Anthony Hopkins – Meu Pai
  • Gary Oldman – Mank
  • Steven Yeun – Minari

 

Melhor Atriz

  • Viola Davis – A Voz Suprema do Blues
  • Andra Day – The United States vs. Billie Holoday
  • Vanessa Kirby – Pieces of a Woman
  • Frances McDormand – Nomadland
  • Carey Mulligan – Bela Vingança

 

Melhor Ator Coadjuvante

  • Sacha Baron Cohen – Os 7 de Chicago
  • Daniel Kaluuya – Judas e o Messias Negro
  • Leslie Odom Jr. – Uma Noite em Miami
  • Paul Raci – O Som do Silêncio
  • LaKeith Stanfield – Judas e o Messias Negro

 

Melhor Atriz Coadjuvante

  • Maria Bakalova – Borat: Fita de Cinema Seguinte
  • Glenn Close – Era Uma Vez um Sonho
  • Olivia Colman – Meu Pai
  • Amanda Seyfried – Mank
  • Yuh-jung Youn – Minari

 

Melhor Roteiro Original

  • Judas e o Messias Negro
  • Minari
  • Bela Vingança
  • O Som do Silêncio
  • Os 7 de Chicago

 

Melhor Roteiro Adaptado

  • Borat: Fita de Cinema Seguinte
  • Meu Pai
  • Nomadland
  • Uma Noite em Miami
  • O Tigre Branco

 

Melhor Fotografia

  • Judas e o Messias Negro
  • Mank
  • Notícias do Mundo
  • Nomadland
  • Os 7 de Chicago

 

Melhor Figurino

  • Emma
  • A Voz Suprema do Blues
  • Mank
  • Mulan
  • Pinóquio


Melhor Trilha Sonora Original

  • Destacamento Blood
  • Mank
  • Minari
  • Notícias do Mundo
  • Soul


Melhor Canção Original

  • “Fight For You” – Judas e o Messias Negro
  • “Hear My Voice” – Os 7 de Chicago
  • “Husavik” – Festival Eurovision da Canção
  • “Io Si (Seen)” – Rosa & Momo
  • “Speak Now” – Uma Noite em Miami

 

Melhor Design de Produção

  • Meu Pai
  • A Voz Suprema do Blues
  • Mank
  • Notícias do Mundo
  • Tenet


Melhor Edição

  • Meu Pai
  • Nomadland
  • Bela Vingança
  • O Som do Silêncio
  • Os 7 de Chicago

 

Melhores Efeitos Visuais

  • Lov and Monsters
  • O Céu da Meia-Noite
  • Mulan
  • O Grande Ivan
  • Tenet

 

Melhor Cabelo e Maquiagem

  • Emma
  • Era Uma Vez Um Sonho
  • A Voz Suprema do Blues
  • Mank
  • Pinóquio

 

Melhor Produção de Som

  • Greyhound
  • Mank
  • Notícias do Mundo
  • Soul
  • O Som do Silêncio


Melhor Documentário

  • Collective
  • Crip Camp: Revolução pela Inclusão
  • The Mole Agent
  • My Octopus Teacher
  • Time

Melhor Filme Estrangeiro

  • Another Round (Dinamarca)
  • Better Days (Hong Kong)
  • Collective (Romênia)
  • The Man Who Sold His Skin (Tunísia)
  • Quo Vadis, Aida? (Bósnia)

 

Melhor Filme de Animação

  • Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
  • Over The Moon
  • Shaun, o Carneiro: O Filme – A Fazenda Contra-Ataca
  • Soul
  • Wolfwalkers

 

Melhor Documentário em Curta-metragem

  • Colette
  • A Concerto is a Conversation
  • Do Not Split
  • Hunger Ward
  • A Love Song For Latasha

 

Melhor Curta-metragem de Animação

  • Burrow
  • Genius Loci
  • Se Algo Acontecer… Te Amo
  • Opera
  • Yes-People

 

Melhor Filme em Curta-Metragem

  • Feeling Through
  • The Letter Room
  • The Present
  • Two Distant Strangers
  • White Eye



C.R.

segunda-feira, 15 de março de 2021

"O Tigre Branco", de Ramin Bahrani (2020)

 

INDICADO A MELHOR ROTEIRO ADAPTADO


Se o filme tem uma boa direção, um protagonista carismático e ainda traz uma forte crítica social, é obvio que vai me cativar.

Astuto e ambicioso, o jovem Balram (Adarsh Gourav) abre caminho para se tornar o motorista de Ashok (Rajkummar Rao) e Pinky (Priyanka Chopra), um casal que acaba de voltar dos EUA. A sociedade treinou Balram para ser uma coisa – um servo – então ele se torna indispensável para seus mestres ricos. Mas, após uma noite de traição, ele percebe o quão corrupto eles são, a ponto de sacrificá-lo para se salvarem. À beira de perder tudo, Balram se rebela contra um sistema fraudulento e desigual para se levantar e se tornar um novo tipo de mestre.

Baseado no romance homônimo de Aravind Adiga, "O Tigre Branco" é um longa bem competente que cumpre sua proposta mas não vai muito além disso. Seu roteiro não é original e, com certeza, você já viu um filme ou novela (mexicana ou da Globo) com uma estrutura narrativa igual. Até aí nada novo. O que diferencia é a questão cultural, o cenário da Índia e suas questões socias. O primeiro ato é muito bom e  nos coloca dentro da história, mas seu segundo segmento é longo demais, há muita repetição, o espectador já entendeu a humilhação que o pobre sofre, sua submissão, mas o diretor Ramin Bahrani insiste em mostrar mais e mais, o que acaba fazendo com que o o terceiro ato se torne corrido demais, e o final você só aceita.

Trazer essa visão do pobre, da realidade do dia a dia, é um dos acertos do filme pois, por mais que nas questões culturais e religiosas seja tudo muito diferente, não importa onde você vá no planeta, o pobre vai ser sempre abandonado à margem da sociedade. Muito do sucesso do longa está em seu protagonista, Balram, vivido por Adars Gourav, que consegue nos entregar um personagem inocente, carismático, com uma certa pureza que até quando começa haver uma virada na história no modo de agir do personagem, por mais que ele esteja fazendo coisas erradas, você acaba ficando do lado dele.

Apesar do roteiro não ser muito criativo, tenha um final previsível, “O Tigre Branco” conseguiu me cativar, muito pelo teor crítico. O longa deixa amostra para que todos possam ver as feridas sociais e políticas que países de “Terceiro Mundo” sofrem. A falta de oportunidades para ascender na vida das classes menores, a criminalidade, a corrupção, a exploração da classe trabalhadora, está tudo no filme. Claro, escondido numa trama de novela das 8h que se esforça - e se conseguiu, só assistindo para saber - para dar um final feliz para seu mocinho. Clichê? Sim, mas confesso que e torci muito para o simpático Balram.

Apesar de todo contexto e crítica social, o brilho do filme é de Adarsh Gourav.




por Vagner Rodrigues