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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Oscar 2019 - Os Indicados



E saiu a lista dos indicados ao Oscar 2019! "A Favorita", filme de época  do diretor Yorgos Lanthimos, e "Roma", do já oscarizado de Alfonso Cuarón, que concorre não somente a melhor filme como a melhor película estrangeira, são os líderes em indicações, mas "Nasce Uma Estrela" com a estrelíssima Lady Gaga, vem logo em seguida com oito e com boas chances. "Pantera Negra", de certa forma, surpreende com sete nominações, tornando-se o filme de super-heróis com maior reconhecimento neste sentido pela Academia, e o badalado “Bohemian Rhapsody”, biografia de Freddie Mercury, garantiu cinco indicações, incluindo, é claro, a de melhor ator com a ótima atuação de Rami Malek que, por sinal não terá vida fácil, especialmente contra Christian Bale, por seu papel em "Vice", e Willem Defoe, por "No Portal da Eternidade". Me surpreende um pouco a escassês de indicações para "O Retorno de Mary Poppins", que achei que fosse passar o rodo nos itens técnicos e, não tão surpreendente assim, uma vez que as qualidades de "Infiltrado na Klan" vem sendo exaltadas constantemente, mas louvável é a ascensão de Spike Lee ao time dos grandes com sua primeira indicação a melhor diretor.
Depois dessa breve passada, vamos ao que interessa. Conheça os indicados ao Oscar em 2019:


  • Melhor Filme
Pantera Negra
Infiltrado na Klan
Bohemian Rhapsody
A Favorita
Green Book: O Guia
Roma
Nasce Uma Estrela
Vice

  • Melhor Atriz
Yalitza Aparicio (Roma)
Glenn Close (A Esposa)
Olivia Colman (A Favorita)
Lady Gaga (Nasce Uma Estrela)
Melissa McCarthy (Poderia Me Perdoar?)

  • Melhor Ator
Christian Bale (Vice)
Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela)
Willem Dafoe (No Portal da Eternidade)
Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
Viggo Mortensen (Green Book: O Guia)

  • Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams (Vice)
Marina De Tavira (Roma)
Regina King (Se a Rua Beale Falasse)
Emma Stone (A Favorita)
Rachel Weisz (A Favorita)

  • Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali (Green Book)
Adam Driver (Infiltrado na Klan)
Sam Elliott (Nasce uma Estrela)
Richard E. Grant (Poderia Me Perdoar?)
Sam Rockwell (Vice)

  • Melhor Direção
Spike Lee
Pawel Pawlikowski
Yorgos Lanthimos
Alfonso Cuarón
Adam McKay

  • Melhor Roteiro Original
The Favourite
First Reformed
Green Book: O Guia
Roma
Vice

  • Melhor Roteiro Adaptado
The Ballad of Buster Scruggs
BlacKkKlansman
Can You Ever Forgive Me?
If Beale Street Could Talk
A Star is Born

  • Melhor Figurino
The Ballad of Buster Scruggs
Pantera Negra
A Favorita
O Retorno de Mary Poppins
Duas Rainhas

  • Melhor Cabelo
Border
Mary Queen of Scots
Vice

  • Melhor Direção de Arte/Design de Produção
Black Panther
The Favourite
First Man
Mary Poppins Returns
Roma

  • Melhor Trilha Sonora
Pantera Negra
Infiltrado na Klan
Se a Rua Beale Falasse
Ilha de Cachorros
O Retorno de Mary Poppins

  • Melhor Canção Original
All the Stars – Black Panther
I’ll Fight – RBG
The Place Where Lost Things Go – Mary Poppins Returns
Shallow – A Star is Born
When A Cowboy Trades His Spurs For Wings – Ballad of Buster Scruggs

  • Melhor Fotografia
Cold War
The Favourite
Never Look Away
Roma
A Star is Born

  • Melhor Edição
Infiltrado na Klan
Bohemian Rhapsody
A Favorita
Green Book: O Guia
Vice

  • Melhor Edição de Som
Pantera Negra
Bohemian Rhapsody
O Primeiro Homem
Um Lugar Silencioso
Roma

  • Melhor Mixagem de Som
Pantera Negra
Bohemian Rhapsody
O Primeiro Homem
Roma
Nasce Uma Estrela

  • Melhores Efeitos Visuais
Avengers: Infinity War
Christopher Robin
First Man
Ready Player One
Solo: A Star Wars Story

  • Melhor Documentário
Free Solo
Hale County This Morning, This Evening
Minding the Gap
Of Fathers and Sons
RBG

  • Melhor Animação
Os Incríveis 2
Ilha de Cachorros
Mirai
Wifi Ralph
Homem-Aranha no Aranhaverso

  • Melhor Filme Estrangeiro
Capernaum
Cold War
Never Look Away
Roma
Shoplifters

  • Melhor Curta Metragem – Animação
Animal Behavior
Bao
Late Afternoon
One Small Step
Weekends

  • Melhor Curta Metragem – Documentário
Black Sheep
End Game
Lifeboat
A Night at the Garden
Period. End of Sentence.

  • Melhor Curta Metragem – Live-Action
Detainment
Fauve
Marguerite
Mother
Skin

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Oscar 2019 - Os Vencedores


Peter Farrely, diretor de "Green Book", comemorando a vitória
na categoria de melhor filme.
A cerimônia do Oscar, esse ano, veio sem um mestre de cerimônias fixo, o que deu uma certa agilidade à festa. Atores, atrizes, diretores e personalidades se revezavam na condição de apresentadores dosando bem descontração, humor, reverência e emoção. E a coisa toda já começou em grande estilo com o Queen abrindo os trabalhos, acompanhado pelo vocalista Adam Lambert, mandando ver com dois clássicos da banda inglesa. A partir daí foi dada a largada para a entrega das estatuetas e embora "Green Book" tenha abocanhado o prêmio principal, as premiações ficaram bem distribuídas. "Bohemian Rhapsody" teve o maior número e ficou com quatro estatuetas, incluindo melhor ator, consagrando a atuação marcante de Rami Malek"; Pantera Negra" fazendo história entre filmes de super-heróis, ficou com três; "A favorita" levou o seu; "Infiltrado na Klan" também; "Roma", um dos favoritos, mesmo não tenha garantido o de melhor filme no geral, teve reconhecida toda sua inegável qualidade com os prêmios de melhor filme estrangeiro, direção e fotografia; além do próprio "Green Book", que somados ao grande prêmio da noite, levou mais dois, os de roteiro original e de ator coadjuvante.
O esfuziante Spike Lee
comemorando com o amigo
Samule L. Jackson.
Alguns dos pontos altos foram, além da já mencionada performance do Queen, foram a entrega do prêmio de canção original para Lady Gaga, por "Nasce uma estrela"; a surpresa e o bom humor de Olivia Colman ao receber o prêmio de melhor atriz; e a entrega do prêmio de roteiro adaptado para um emocionado e elétrico Spike Lee que aproveitou para lembrar a todos da dura trajetória de um negro até alcançar o lugar onde ele conseguia chegar naquele momento.
Uma cerimônia mais direta, mais enxuta e divertida, sim, mesmo sem tantas gracinhas dos cicerones habitualmente convidados. No que diz respeito aos prêmios, a Academia tratou de fazer todo mundo voltar feliz pra casa: cada um dos favoritos levou o seu e, nas categorias principais tratou de ser bem política, dando o melhor filme para "Green Book" e o de direção para Alfonso Cuarón uma vez que seu "Roma" já tinha o reconhecimento de melhor filme pelo prêmio entre os estrangeiros. A propósito, volta chamar atenção esta, praticamente, hegemonia mexicana no Oscar que faz com que nos últimos anos, sempre que indicados na categoria de direção, os profissionais daquele país tenham vencido. 
Além de mais uma festa mexicana, a cerimônia da noite passada foi uma celebração do cinema e do talento negro com diversos prêmios e reconhecimento, mas também uma oportunidade para reflexões e discussão sobre o racismo e a condição dos afro-descendentes, não somente na sociedade americana, como em todo o mundo. A vitória de "Green Book" e sua temática, os três de "Pantera Negra", com seu empoderamento e com sua equipe técnica predominantemente negra recebendo orgulhosa cada troféu; a segunda estatueta de Mahershala Ali, o tardio prêmio de Spike Lee, o Oscar de coadjuvante para a emocionada Regina King que, como ela mesma disse, se estende a mulheres guerreiras e inspiradoras como sua mãe, não foram triunfos apenas da comunidade negra e, sim, mais uma vitória da sociedade. É um pequeno passo, sei, mas de pouquinho em pouquinho talvez um dia cheguemos lá. Lá? A um mundo melhor, quem sabe.
 Fique, abaixo, com todos os vencedores da noite do cinema de Hollywood:

  • Melhor atriz coadjuvante: Regina King ("Se a Rua Beale falasse")
  • Melhor documentário: "Free Solo"
  • Melhor maquiagem e pentados: "Vice"
  • Melhor figurino: "Pantera Negra"
  • Melhor direção de arte: "Pantera Negra"
  • Melhor fotografia: "Roma"
  • Melhor edição de som: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor mixagem de som: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor filme estrangeiro: "Roma"
  • Melhor edição: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor ator coadjuvante: Mahershala Ali
  • Melhor animação: "Homem-Aranha no Aranhaverso"
  • Melhor curta-metragem de animação: "Bao"
  • Melhor documentário curta-metragem: "Absorvendo o tabu"
  • Melhores efeitos visuais: "O primeiro homem"
  • Melhor curta-metragem: "Skin"
  • Melhor roteiro original: "Green Book - O guia"
  • Melhor roteiro adaptado: "Infiltrado na Klan"
  • Melhor trilha sonora original: "Pantera Negra"
  • Melhor canção original: "Shallow", "Nasce uma estrela"
  • Melhor ator: Rami Malek, "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor atriz: Olivia Colman, "A favorita"
  • Melhor diretor: Alfonso Cuarón, "Roma"
  • Melhor filme: "Green Book - O guia"

C.R.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

“Bohemian Rhapsody”, de Bryan Singer (2018)


Quem me conhece um pouco sabe que nunca gostei muito de Queen. O som da banda sempre me soou um tanto espetaculoso, exagerado, o que viria, inclusive, a influenciar aquela leva insuportável de bandas heavy poser dos anos 80. Embora não discuta as qualidades de Freddie Mercury e de toda a banda, Queen às vezes parece usar uma usina para acender uma lâmpada. A música “Bohemian Rhapsody” – “pomposa”, conforme parte da crítica na época a classificou – me é o melhor exemplo disso. Ora, para fundir música clássica com rock não precisa emular Caruso! Fora que não é nenhuma novidade essa fusão: Beatles, Velvet Underground, Pink Floyd, Frank Zappa e, pasmem, a própria Queen estão aí para provar que tal combinação de estilos ocorre naturalmente no processo de composição, sem forçar a barra.
Dito isso, prometo não dizer mais nada negativo sobre o Queen até o final desta resenha. Até porque a proposta é falar do filme-biografia “Bohemian Rhapsody”, de Bryan Singer (2018), sucesso de bilheteria em todo o mundo que assisti em sessão especial para convidados no GNC Cinemas do Praia de Belas Shopping, em Porto Alegre. E não à toa. Equilibrando um roteiro cuidadoso, direção criativa e atuações brilhantes, o longa é certamente uma das melhores biografias de astros de rock já feitas no cinema. À altura do que o mito de Freddie Mercury & Cia. merecem. Além, claro, da trilha sonora, que pontua a trajetória do grupo britânico no decorrer de sua discografia e sabe tirar o melhor proveito de emblemáticas canções da banda, como “Love of My Life”, “Radio Gaga”, ”Hammer To Fall” e, principalmente, da que dá título ao filme. Esta, em especial, é explorada em diferentes lances narrativos, seja em apresentação ao vivo, seja na cena da rescisão da banda com a gravadora EMI pelo impasse que a mesma motivou ou, principalmente, no seu revelador processo de composição e gravação para o clássico disco “A Night at the Opera”, de 1975.
Uso o termo “equilíbrio” para o roteiro pois, afora as críticas a algumas imprecisões factuais, além de fazer o registro biográfico do grupo – focalizando, principalmente, Freddie –, a narrativa escrita por Anthony McCarten busca trazer todos os principais momentos da Queen. Ao mesmo tempo, não se exime de tocar em temas delicados, como o homossexualidade do front band, suas atitudes arrogantes e a conturbada relação com o pai. Porém, faz com um tom de respeito que lineariza os acontecimentos. A tal festa barra-pesada que promovera em sua mansão regada a drogas e sexo ganha uma sequência no filme, porém sem apelar para a polêmica desnecessária, uma vez que a polêmica em si, a quebra de paradigmas que a figura de Freddie representou (afronta ao sistema, comportamento rebelde, causa LGBT, preconceito com imigrantes), já está contemplada.

A banda no estúdio gravando a clássica "Bohemian Rhapsody"
Para um fã de rock como eu, achei muito interessantes as cenas que mostram o grupo em estúdio e em processo de criação. É quando dá pra ver que, de fato, Freddie era um líder, não só em termos de representatividade, mas na concepção de arranjos e produção, mesmo com a batuta do guitarrista Brian May ao lado. Isso fica claro quando, por iniciativa dele, fazem uma vaquinha e vendem e van que tinham para financiar o primeiro disco, de 1970, o qual gravam durante uma madrugada no contraturno do funcionamento do estúdio para que saísse menos oneroso. Ou quando ele toma a frente das ações na fazenda em que se recolhem para conceber “A Night...”. Singer mostra-se um fã ponderado e que sabe admirar seus ídolos, desvendando tais meandros pouco conhecidos da maioria do público e que só dão a dimensão do encontro mágico que foi o dos integrantes da Queen nas quase três décadas que trilharam juntos.
A incrível sequência do Live Aid: show real dentro do filme
Afora isso, o diretor, provável candidato a Oscar nessa categoria, é muito feliz ao usar a favor da narrativa os vários momentos históricos que a Queen promoveu ao longo da carreira, como a primeira turnê nos Estados Unidos, o show no Rock ‘n’ Rio (o maior de todos os tempos em público) ou a gravação do censurado videoclipe de “I Want Brek Free”, culminando na catártica apresentação no Live Aid, em 1985, quando Freddie, já sabendo que contraíra HIV, motivou-se pela causa humanitária para voltar aos palcos e fazer um show emblemático.
Sequência esta, aliás, que merece um comentário à parte. Nunca tinha visto uma apresentação de palco tão bem reproduzida em cinema, tanto na atuação dos atores/músicos quanto da reação da plateia/figurantes. A vibração que a cena causa é comovente. Parece que se está dentro do show, talvez até mais do que na época do festival, quando as condições de transmissão não eram tão boas quanto o que a tecnologia hoje oferece para a recriação das cenas – com direito a, inclusive, efeitos especiais e lente teleobjetiva supermoderna. O próprio estádio de Wembley, refeito em 2003, aparece em seu formato original graças à competente direção de arte. E mais legal ainda: praticamente se reproduzem os 20 minutos originais da apresentação, dando ainda mais veracidade à trama. Um dos detalhes de grande responsabilidade nisso é o desenho de som – que merece um daqueles Oscar técnicos que ninguém entende a nomenclatura –, cuja captação se “adapta” a onde a câmera/espectador está, ou seja, soa mais destacado quando mais perto do público, de um instrumento ou do gogó de Freddie, por exemplo.
Rami Malek: interpretação digna de Oscar
Por último, destaco o outro trunfo de “Bohemian...”, que são as atuações. A começar por Gwilym Lee e Ben Hardy fazendo muito bem May e o baterista Roger Taylor, respectivamente. Mas, principalmente, Rami Malek na pele de Freddie Mercury. Daqueles papéis “espíritas”, que parece ser fruto de uma transformação. E é. Dificilmente esse Oscar não vá para ele tanto pela qualidade de seu trabalho quanto pela sabida disposição da Academia de premiar este tipo de interpretação.
“Você é um mito, Freddie”, dizem os companheiros de banda ao vocalista em certo momento. Ele, sem falsa humildade, concorda. O mesmo que eu faço agora humildemente. Queen é uma banda mitológica para a música pop inegavelmente. Goste-se do que eles produziram ou não. E isso o filme encerra com muita propriedade, humanizando os ídolos mas dando-lhes a devida dimensão. Ver a emoção dos espectadores fãs do grupo é tão comovente, que chegou a me dar certa inveja de não estar sabendo aproveitar o filme tanto quanto eles. Talvez esteja, sim, passando a admirar mais o Queen, e devo isso ao empolgante “Bohemian Rhapsody”.

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tralier de "Bohemina Rhapsody"


Daniel Rodrigues

domingo, 11 de novembro de 2018

Queen - "A Night At The Opera" (1975)



"Disseram que ela era demasiado longa
e não iria funcionar.
Podemos pensar, 'Bem que poderíamos cortar ela,
mas ela não faria qualquer sentido', não faz muito sentido agora e teria ainda menos sentido naquele momento; você iria perder todos os humores diferentes da canção.
Por isso, dissemos que não."
Roger Taylor, 
baterista,
sobre "Bohemian Rhapsody"

"Ele [Freddie Mercury] sabia exatamente
o que estava fazendo…
nós só ajudamos ele dar vida a ela."
Brian May,
guitarrista,
também sobre "Bohemian Rhapsody"


Em 1976, ouvia eu a Rádio Continental quando meu querido amigo Beto Roncaferro rodou no seu programa "Death on Two Legs" do disco "A Night At The Opera", do Queen, uma banda da qual eu já andava ouvindo uma fita-cassete do disco "Queen II", que me fora emprestada pelo meu colega de aula João Eduardo Costa. Me apaixonei na hora
Um ano depois, o Queen estourava com "Somebody to Love", do disco "A Day At The Races", que eu e minha irmã Cristina de Andrade Moreira ouvíamos sem parar. Na dúvida sobre qual comprar, acabamos com os dois em altíssima rotação em casa. Daí, pra "You're my Best Friend", "Seaside Randezvous" e, é claro, "Bohemian Rhapsody" foi um passo. Chamava a atenção a variedade de estilos e o uso dos clichês de cada gênero dentro do som da banda. E Freddie Mercury era Freddie Mercury!!! Faz muito tempo que não ouço mas tenho certeza de que, se colocar a rodar, cantarei de cor TODAS as músicas.



por Paulo Moreira



"A Night at the Opera" é o quarto álbum de estúdio da banda britânica de hard rock Queen, lançado em 21 de novembro de 1975 na Europa e em 2 de dezembro de 1975 nos Estados Unidos.
Assim que foi lançado, o álbum estreou direto no topo da UK Albums Chart, do Reino Unido, e chegou ao quarto lugar na Billboard 200 dos Estados Unidos, sendo o disco que levou definitivamente o Queen à consagração mundial. O disco também foi um sucesso de crítica, frequentemente apontado como um dos melhores discos da música de todoso os tempos, tendo vendido mais de cinco milhões de cópias nos anos 70, uma número impressionante para os mercados da época.


fonte: Wikipedia


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FAIXAS:
 01 Death On Two Legs (Dedicated To....)
 02 Lazing On A Sunday Afternoon
 03 I'm In Love With My Car
 04 You're My Best Friend
 06 Sweet Lady
 07 Seaside Rendezvous
 08 The Prophet's Song
 09 Love Of My Life
 10 Good Company
 11 Bohemian Rhapsody
 12 God Save The Queen

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Ouça:




terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Os filmes favoritos de todos os tempos (segundo os amigos de Facebook)


"Laranja Mecânica", um dos mais admirados pelos facebookers
Rolam seguidamente aquelas brincadeiras pelas redes sociais convidando as pessoas a escolherem várias coisas de suas preferências, mas nem todas “pegam”. Ou seja, não conseguem mobilizar de fato. O tema “cinema”, entretanto, parece ser capaz de provocar o saudável compartilhamento. Recentemente, a emoção e as memórias afetivas que os filmes despertam foram capazes de envolver vários participantes a cumprirem o seguinte desafio: listar os seus dez filmes favoritos de todos os tempos, um por dia, postando-lhe no Facebook somente uma imagem, sem necessidade de explicação e ainda convidando outra pessoa a cada dia para fazer o mesmo.

O que se viu durante umas duas ou três semanas foi uma gostosa chuva de posts de amigos – e amigos de amigos – a cada filme revelado, a cada imagem descoberta ou não a que obra pertencia, a cada gosto partilhado, a cada surpresa pelo filme escolhido. Esta matéria, assim, traz a listagem de alguns desses facebookers de vários lugares e ocupações, que toparam o desafio de revelar suas preferências cinematográficas e, além disso, a difícil tarefa de escolher APENAS uma dezena. Num mar de filmes marcantes e adorados, selecionar apenas alguns poucos exige esforço. Mas um esforço bom, haja vista que o exercício fez com que se perscrutassem os íntimos à procura daquilo que realmente faz sentido em termos de 7ª Arte. Aqueles filmes que se levaria para uma ilha deserta.

O carisma de Jerry Lewis o fez aparecer mais de uma vez
Uma amostra do resultado desse desafio está aqui. Para tanto, reproduzimos as escolhas, além das de meu irmão e minhas, editores do blog, dos amigos Carolina Costa, Cleiton Echeveste, Diego Marcon, Iris Borges, Leocádia Costa, Pamela Bueno, Paulo Coelho Nunes, Rachel Bins e Simone Hill, que tiveram a persistência de completar o pedido e a quem agradecemos por nos autorizarem a publicação. Entre os títulos, há coincidências, inesperados e outros bem subjetivos. “Fahrenheit 451”, “Laranja Mecânica” e o original de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” foram os campeões em menções, com três delas. Surpreenderam títulos como as comédias “Sessão da Tarde” “Bancando a Ama Seca” e “Goonies”, com duas menções, igual a “Alien”, “Billy Elliot”, “O Sacrifício”, “Bohemian Rhapsody”, “Fellini 8 e ½” e “Blade Runner”. Em compensação, títulos consagrados, como “O Poderoso Chefão”, “Touro Indomável”, “Crepúsculo dos Deuses” e “O Bebê de Rosemery”, seguidamente inseridos em listas oficiais dos melhores filmes de todos os tempos, dignificaram suas tradições com uma menção apenas.

Tarantino: destaque entre os diretores
Em nacionalidades, a esmagadora maioria são produções dos Estados Unidos, mas vale destacar a presença dos filmes nacionais: 10 do total de 110. A Europa ficou com 24, a Ásia com 6 e América Latina, sem contar com os brasileiros, apenas 2. Das décadas, a de 80 foi a que mais compreendeu obras, com 23, acompanhada dos 90, com 19. Entre os cineastas, Quentin Tarantino teve mais filmes diferentes lembrados, 3, seguido por Akira Kurosawa, Ridley Scott, Stanley Kubrick, Jean-Pierre Jeunet, Walter Salles Jr., Tim Burton, Ang Lee, Luc Besson, Andrei Tarkowsky, Stephen Daldry, Milos Forman, Steven Spielberg e Sofia Coppola, todos com 2.

Seja um filme visto no Corujão da Globo, o que provocou arrebatamento na tela grande, aquele que se alugou na videolocadora ou mesmo o assistido via streaming. Independe a ocasião ou plataforma. Seleções como estas mostram o quanto as imagens em movimento mexem conosco e como são importantes na construção de nossos imaginários ao longo do tempo.

Por fim, a ordem dos títulos respeita a de postagens de cada pessoa, mas não quer dizer necessariamente que se trate de uma ordem de preferência do mais gostado para o menos. O importante é que todos os títulos citados, na opinião e no sentimento de cada um, estão guardados na retina e no coração.

Daniel Rodrigues


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Carolina Costa
Pedagoga
(Porto Alegre/RS)
1 - Amadeus, de Milos Forman (1988)
2 - Fahrenheit 451, de François Truffaut (1966)
3 - Alien, o 8º Passageiro, de Ridley Scott (1979)
4 - O Quinto Elemento, de Luc Besson (1997)
5 - Corra, Lola, Corra!, de Tom Tykwer (1998)
6 - ET: O Extraterrestre, de Steven Spielberg (1982)
7 - Billy Elliot, de Stephen Daldry (2000)
8 - A Festa de Babette, de Gabriel Axel (1987)
9 - Aquarius, de Cléber Mendonça Filho (2016)
10 - Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer (2018)


Clayton Reis
Arquiteto, cartunista e escritor
(Rio de Janeiro/RJ)
1 - Fellini 8 e ½, de Federico Fellini (1963)
2 - Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock (1954)
3 - O Sacrifício, de Andrei Tarkowsky (1986)
4 - Outubro, de Sergei Einsenstein (1927)
5 - A Marca da Maldade, de Orson Welles (1958)
6 - Intolerância, de D. W. Griffith (1916)
7 - Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (1971)
8 - Coração Selvagem, de Alan Parker (1985)
9 - Farenheit 451, de François Truffaut (1966)
10 - Gosto de Cereja,de Abbas Kiarostami (1997)


Cleiton Echeveste
Ator, escritor e dramaturgo
(Rio de Janeiro/RJ)
1 - Minha vida em cor de rosa, de Alain Berliner (1996)
2 - Razão e Sensibilidade, de Ang Lee (1996)
3 - Bancando a Ama Seca, de Frank Tashlin (1958)
4 - A Hora da Estrela, de Suzana Amaral (1985)
5 - O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee (1996)
6 - Uma Noite de 12 Anos, de Álvaro Brechner (2018)
7 - Em Nome do Pai, de Jim Sheridan (1993)
8 - A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Mel Stuart (1971)
9 - Billy Elliot, de Stephen Daldry (2000)
10 - O Sacrifício, de Andrei Tarkowsky (1986)


Daniel Rodrigues
Jornalista, radialista e escritor
(Porto Alegre/RS)
1 - Bagdad Café, de Percy Adlon (1987)
2 - O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1971)
3 - Fellini 8 e ½, de Federico Fellini (1963)
4 - Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa (1954)
5 - Fanny & Alexander, de Ingmar Bergman (1982)
6 - Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (1971)
7 - Farenheit 451, de François Truffaut (1966)
8 - Stalker, de Andrei Tarkowsky (1978)
9 - Touro Indomável, de Martin Scorsese (1980)
10 - O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel (1962)


Diego Marcon
Hairdresser, consultor de imagem e empresário
(Buenos Aires/ARG)
1 - A Convenção das Bruxas, de Nicolas Roeg (1990)
2 - Garota, Interrompida, de James Mangold (2000)
3 - Dançando no Escuro, de Lars Von Trier (2000)
4 - Maria Antonieta, de Sofia Coppola (2006)
5 - A Pele que Habito, de Pedro Almodóvar (2011)
6 - As Horas, de Stephen Daldry (2002)
7 - Moulin Rouge, de Baz Luhrmann (2001)
8 - O Estranho que nós Amamos, de Sofia Coppola (2017)
9 - Piaf, Um Hino ao Amor, de Olivier Dahan (2007)
10 - Os Goonies, de Richard Donner (1985)


Iris Borges
Fotógrafa
(Porto Alegre/RS)
1 - Os Goonies, de Richard Donner (1985)
2 - A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Mel Stuart (1971)
3 - A Lista de Schindler, de Steven Spielberg (1993)
4 - Pulp Fiction: Tempo de Violência, de Quentin Tarantino (1994)
5 - Kill Bill - Volume 1, de Quentin Tarantino (2003)
6 - Dirty Dancing, de Emile Ardolino (1987)
7 - O Bebê de Rosemery, de Roman Polanski (1969)
8 - Curtindo a Vida Adoidado, de John Hughes (1986)
9 - Flashdance, de Adrian Lyne (1983)
10 - Blade Runner: O Caçador de Androides, de Ridley Soctt (1982)


Leocádia Costa
Publicitária, produtora cultural e fotógrafa
(Porto Alegre/RS)
1 - Barravento, de Glauber Rocha (1961)
2 - A Liberdade é Azul, de Krzysztof Kieslowski (1993)
3 - O Último Imperador, de Bernardo Bertolucci (1988)
4 - A Vida é Bela, de Roberto Begnini (1997)
5 - O Iluminado, de Stanley Kubrick (1979)
6 - Sonhos, de Akira Kurosawa (1990)
7 - Up: Altas Aventuras, de Pete Docter e Bob Peterson (2009)
8 - O Nome da Rosa, de Jean-Jacques Annaud (1986)
9 - Blade Runner: O Caçador de Androides, de Ridley Soctt (1982)
10 - Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer (2018)


Pamela Bueno
Historiadora e estudante de Sociologia
(Canoas/RS)
1 - Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (1971)
2 - O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet (2002) 
3 - Adeus Lênin!, de Wolfgang Becker (2003)
4 - O que é Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto (1997)
5 - Carandiru, de Hector Babenco (2003)
6 - A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Mel Stuart (1971)
7 - Central do Brasil, de Walter Salles (1998)
8 - Os Fantasmas se Divertem, de Tim Burton (1987)
9 - Edward Mãos de Tesoura, de Tim Burton (1991)
10 - Que Horas Ela Volta?, de Ana Muylaert (2015)


Paulo Coelho Nunes
Agente publicitário, continuísta, editor e roteirista
(Goiânia/GO)
1 - Cães de Aluguel, de Quentin Tarantino (1992)
2 - Easy Rider, de Dennis Hooper (1969)
3 - Betty Blue, de Jean-Jacques Beineix (1985)
4 - Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder (1950)
5 - Ladrão de Sonhos, de Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet (1993)
6 - Terra Estrangeira, de Walter Salles Jr. e Daniela Thomas (1995)
7 - Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai (2000)
8 - Retratos da Vida, de Claude Lelouch (1981)
9 - Dolls, de Takeshi Kitano (2002)
10 - Traídos pelo Desejo, de Neil Jordan (1993)


Rachel Bins
Estudante de Biblioteconomia
(Porto Alegre/RS)
1 - Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, de Michel Gondry (2004)
2 - O Castelo Animado, de Hayao Miyazaki (2005)
3 - Lilo e Stitch, de Chris Sanders e Dean DeBlois (2002) 
4 - O Cemitério Maldito, de Mary Lambert (1989)
5 - O Segredo da Cabana, de Drew Goddard (2012)
6 - Alien, o 8º Passageiro, de Ridley Scott (1979)
7 - Legalmente Loira, de Robert Luketic (2001)
8 - Casa Comigo?, de Anand Tucker (2010)
9 - O Auto da Compadecida, de Guel Arraes (1998)
10 - Cats, de Tom Hooper (2019)




Simone Hill

Coralista e estudante de Música
(Porto Alegre/RS)
1 - Loucos de Paixão, de Luis Mandoki (1990)
2 - Desafio no Bronx, de Robert De Niro (1993)
3 - Amigas para Sempre, de Garry Marshall (1988)
4 - Luzes da Cidade, de Charles Chaplin (1931)
5 - Verdes Anos, de Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil (1984)
6 - Desejos Proibidos, de Max Ophüls (1963)
7 - O Profissional, de Luc Besson (1994)
8 - Grease: Nos Tempos da Brilhantina, de Randal Kleiser (1978)
9 - Bancando a Ama Seca, de Frank Tashlin (1958)
10 - Hair, de Milos Forman (1979)

segunda-feira, 11 de março de 2019

"Green Book - O Guia", de Peter Farrelly (2018)



Os road movies guardam uma magia especial. Às vezes, filmes que num primeiro momento se mostram simples, ganham uma nova dimensão a partir do ponto em que se identificam como “filmes de estrada”. O iraniano “Onde Fica a Casa do Meu Amigo?” ou o norte-americano “O Espantalho” são dois bons exemplos de filmes que começam de uma forma e, a partir de determinado momento, põem-se em direção a um novo, inesperado e simbólico caminho. Ocorre que, às vezes também, justamente por conter essa aura diferenciada, um filme desta categoria excepcional, geralmente mais restrito ao público cinéfilo, é reconhecido – caso dos mencionados “O Espantalho”, Palma de Ouro em Cannes, em 1973, e de “Onde Fica...”, Leopardo de Bronze em Locarno, em 1989. Pois que outro road movie recentemente fez valer a sua magia, e em pleno Oscar, o maior evento do cinema mundial. O cativante “Green Book – O Guia”, de Peter Farrelly, venceu grandes concorrentes contando uma história pequena e centrada basicamente em dois personagens (quase a ponto de não distinguir quem é protagonista ou co), mas fazendo-o com a luz peculiar dos road movies, conquistando, assim, o Oscar de Melhor Filme. E merecidamente.

A principal premiação do Oscar a “Green Book”, entretanto, rendeu controvérsia. Desbancando favoritos como “Bohemian Rhapsody”, “A Favorita”, “Nasce uma Estrela” e, principalmente, “Infiltrados na Klan”, o filme, estrelado por Viggo Mortensen e Mahershala Ali, foi classificado por alguns como o pior filme a receber tal prêmio em 14 anos. A referência cronológica faz alusão a outro título contestado mas ganhador da mesma estatueta, o cult “Crash – No Limite”, de 2005, também um filme “pequeno” e, assim como o vencedor deste ano, peculiar não por ser um road movie, mas uma “trama coral”, algo ainda mais exótico ao grande público desacostumado com qualquer outra abordagem cinematográfica que não a da grande indústria.

Friamente analisando, não só “Crash” quanto “Green Book” passam longe de serem filmes desprezíveis quanto, principalmente, trazem um sopro diferente à Academia e ao que ela representa para o cinema mundial. E aí é que está o incômodo a quem lhes torce o nariz. A partir de uma abordagem sensível e humanista, “Green...” conta a história real de Tony Lip (Mortensen), um dos maiores fanfarrões de Nova York, que precisa de trabalho após sua discoteca fechar. Ele conhece um pianista famoso de jazz clássico, Don Shirley (Ali), que o convida para uma turnê na qual viajarão pela região Sul dos Estados Unidos, passando por várias cidades. Enquanto os dois se chocam no início por conta das diferenças raciais, culturais e sociais, um vínculo finalmente cresce à medida que viajam juntos.

Sintonia entre Ali e Mortensen: essencial para a narrativa
A direção segura de Farrelly (do ótimo "Eu, Eu Mesmo e Irene", de 2000) dá ao filme uma alta coesão, que faz o andamento manter-se interessante do início ao fim. Até aquela tradicional “barriga”, da qual o modelo de roteiro do cinema comercial dificilmente escapa, principalmente, na parte entre a “confrontação” e a “resolução” da trama, “Green...” consegue evitar. Isso muito se deve, contudo, à afinidade da dupla de atores, de brilhantes atuações. Ali, não à toa, levou o Oscar de Ator Coadjuvante – sua segunda estatueta na carreira (havia ganhado a de Ator por “Moonlight”, em 2017) –, e Mortensen, que não ganhou, pois tinha como concorrentes dois gigantes: Christian Bale, por “Vice”, e o que se sagrou vencedor, Rami Malek, por “Bohemian...”. A cumplicidade que ambos os atores obtém faz com que a relação dos personagens que interpretam, um negro da alta classe e um branco de classe baixa, algo improvável para um Estados Unidos dos anos 60, torne-se crível mesmo diante da fácil possibilidade de errar no tom desta construção simbólica. Isso pode passar batido aos olhos preconcebidos dos detratores, mas tal sintonia entre os atores é resultado da habilidade do diretor, algo que, quando mal conduzida, pode comprometer uma boa história ou um filme por inteiro.

Duas hipóteses são passíveis de se levantar para quem não tenha gostado da premiação de “Green...” ante outros títulos concorrentes na mesma categoria. A primeira se refere à pecha  de “Green...” ser uma obra “menor” – ressalva esta, diga-se, que não se ouviu quando da indicação do filme, ou seja, este foi estranhamente reprovado somente quando a frustração da não conquista de outros títulos concorrentes foi confirmada. Ora, tal adjetivo, quando entendido como um filme mais enxuto orçamentalmente e sem a grandioculência costumeira de Hollywood, não é justificativa para que o mesmo não mereça ser premiado. Afinal, um bom filme é aquele que conta bem uma história, independente se se trata de uma saga homérica ou um diminuto drama íntimo. Claro que para quem está acostumado a ver blockbusters como “Senhor dos Anéis”, “Gladiador” ou “Titanic”, filmes como “Green...”, cuja abordagem é mais europeia, pois sensível (mesmo que sobre o modelo de roteiro hollywoodiano), soam estranho. De certa forma, “Birdman”, “O Artista” e “Moonlight”, alguns dos últimos vencedores do Oscar de Melhor Filme em virtude dessa nova mirada que a Academia vem tentando dar à premiação nas duas últimas décadas, também sofreram críticas por distanciarem-se cada um a seu modo do tradicional e muitas vezes batido – e por que não dizer cansativo – “cinemão”.

Ali recebeu o Oscar de Melhor Coadjuvante pelo papel,
seu segundo na carreira
A segunda análise que pode ser feita quanto à não aceitação de “Green...” refere-se, claro, ao tema central do filme: o preconceito racial. A questão está em alta nos últimos anos e em especial, neste último Oscar. Ao mesmo tempo em que concorriam “Pantera Negra”, a ode ao africanismo, e que profissionais negros destacaram-se como nunca antes, por sorte ou azar, “Green...” veio na mesma leva de “Infiltrados...”, o libelo antirracista do genial Spike Lee. O cineasta e ativista saiu insatisfeito da premiação por não ter levado a estatueta com o seu filme (ganhou, e merecidamente, a de Melhor Roteiro Original, quando proferiu um discurso engajado e reflexivo sobre a condição do negro), mas também por discordar da abordagem que “Green...” dá à questão. Certamente, Spike, que construiu sua carreira sobre um discurso justificadamente radical de enfrentamento a quem mantém o sistema racista e excludente da sociedade norte-americana, desagrada-se da linha humanista e agregadora que “Green...” sustenta – provavelmente, por considerar essa lógica ineficiente e retroalimentadora do racismo estrutural.

Discordâncias à parte, o fato é que “Green...” encanta e emociona, e o faz por que trata o racismo, mesmo com todos os desafios evidenciados durante a trajetória de Don e Tony pelas estradas norte-americanas, num nível mais “avançado” de entendimento do preconceito racial, ou seja, aborda o tema a partir de uma mentalidade em que as ideias atrasadas e injustificáveis que sustentam as diferenças entre as raças já estejam superadas em suas fases mais intransponíveis. Se a sagração de “Green...” surpreendeu por se supor que a preferência é sempre dos campeões de bilheteria, igualmente fica a sensação positiva de um certo alento ao se fazer a escolha pela ótica de uma obra que enaltece a compaixão. Isso, em épocas tão amargas de governo Trump e ascensão de extremas-direitas no mundo, é sutil, mas tão importante quanto o “Fight the Power” de Spike Lee.

cena de "Green Book - O Guia"


Daniel Rodrigues


terça-feira, 18 de junho de 2019

"Rocketman", de Dexter Fletcher (2019)



Que filme bacana! Que filme legal! Que filme gostoso de ver! "Rocketman", cinebiografia do astro pop Elton John, é um filme apaixonante e envolvente. Consegue ser empolgante o tempo todo, não somente nos momentos de redentores, entusiásticos, mas também nos momentos duros e dramáticos. Com uma estrutura muito dinâmica e inteligente, o filme do diretor Dexter Fletcher narra a trajetória de Reginald Dwight desde a promissora infância de prodígio do piano em uma família cheia de problemas, passando pela transformação em Elton John, pelo estrelato, pela autodescoberta de sua sexualidade, chegando a todas as crises inerentes à condição de superstar. O roteiro, muito bem escrito e inteligente, utiliza números musicais como transições de tempo ou de estado, garantindo um desenvolvimento muito eficiente e estimulante para o espectador, fazendo dos avanços de tempo algo sempre interessante, intercalando-os com canções cujas letras cumprem papel importante no andamento do longa, mostrando-se ora reveladoras, ora sugestivas às situações da história às quais estejam vinculdas. Taron Egerton se não é brilhante, é competente e, sobretudo dramaticamente, dá conta do recado. A fotografia, o figurino, a direção de arte são impecáveis e a parte musical é muito bem desenvolvida, funcionando como parte fundamental no argumento. Como não podia deixar de ser, uma proposta tão audaciosa unida a um personagem tão visual, proporciona cenas marcantes e, desde já, inesquecíveis. Uma delas é, bem no início (mas que se estende pelo filme todo), quando Elton entra na sala de alcoólicos anônimos, ainda todo caracterizado no figurino de palco e senta-se entre os demais do grupo e começa a narrar sua história. Ele, escarlate, alado, com imponentes chifres retorcidos, parece, ali, naquele momento (ainda), um deus entre mortais, sensação que, no entanto, vai se desfazendo ao longo do filme, à medida que a fantasia vai sendo retirada e o cantor vai demonstrando cada vez mais suas fragilidades. Outro momento incrível é o da gloriosa apresentação no clube Troubador, a primeira nos Estados Unidos, em que o diretor consegue nos transmitir, dentro de suas possibilidades, toda a mágica que deve ter acontecido naquele instante, nos tirando do chão tanto quanto Elton saiu e deve ter feito flutuar o público do local. E por falar em cena mágica... O que dizer da que o astro sobe aos céus como um... homem-foguete? Meu Deus!
As comparações com a outra biografia recente e consagrada "Bohemian Rhapsody" são inevitáveis e nela é imperativo admitir-se que "Rocketman" é um filme muito melhor. "Rocketman" é mais filme, é mais cinema, é mais arte, enquanto a saga do Queen é mais pipoca, mais padrão, mais forjada para o grande público. Rami Malek é um diferencial, um show à parte, é mais impressionante, é verdade, mas Taron Egerton não decepciona e, de certa forma, se expõe mais ao emprestar a própria voz, cantando, verdadeiramente, as canções no filme. Mas, méritos à parte, independente de qual seja melhor, mais ousado, mais artístico, o fato é que é muito bom que tenhamos biografias cinematográficas de figuras importantes do rock com a qualidade que estas duas recentes em questão. São personagens riquíssimos que, cada um à sua maneira, fizeram nossas cabeças, deram sua parcela de contribuição artística para o mundo e ajudaram a mudar o comportamento em nosso tempo. Que venham sempre mais e mais filmes como estes. Quem é o próximo rockstar na fila?
Cena fantástica em que Elton chega no grupo de ajuda totalmente "montado".
Um deus entre os mortais.




Cly Reis

sábado, 24 de abril de 2021

"O Som do Silêncio" ou "O Som do Metal", de Darius Marder (2019)


VENCEDOR DO OSCAR DE
MELHOR EDIÇÃO E
MELHOR PRODUÇÃO DE SOM

É sempre muito legal assistir algum filme cuja forma dialoga com a gramática do cinema. Desde obras propositadamente metalinguísticas como “Blow Up” e “Amnésia” ou mesmo comédias aparentemente banais, tal “Cegos, Surdos e Loucos”, o uso de maneira intencional de algum dos sentidos humanos como objeto do filme é capaz de, em igual proporção, enriquecer semiologicamente a obra e intensificar a mímese desta – mesmo que isso se dê apenas subliminarmente quando o espectador não está atento ao uso desse trato técnico. Além da visão, da memória ou da fala, sentidos mais comuns de serem abordados no cinema, há filmes que se dedicam ao tema da audição, como é o caso de "O Som do Silêncio" ou "O Som do Metal".  O filme de Darius Marder vale-se deste recurso narrativo-linguístico para colocar o espectador em contato com uma realidade tocante e não rato aflitiva: a dos deficientes auditivos.

Na história, Ruben (vivido magistralmente por Riz Ahmed), um jovem baterista de uma banda de heavy metal que tem com a namorada Lou (Olivia Cooke), teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. Suas duas paixões estão em jogo: a música e ela. Essa mudança drástica acarreta em muitas incertezas e angústias, a qual provoca uma série de acontecimentos, frustrações e encontros com questões muito profundas dos personagens.

Diferentemente de clássicos thrillers como "Um Tiro na Noite" e "A Conversação", que integram os diferentes aspectos da sonoridade para imprimir tensão e mistério a suas narrativas, "O Som" vale-se deste recurso sensorial em um drama, o que é bastante interessante. É comum o espectador “sentir” o som como algo a lhe provocar a intensificação dos sentidos, caso das explosões e estardalhaços das cenas de ação, mas perceber esse elemento fílmico de maneira dramática é mais incomum. Os momentos em que se ouve o som abafado do ouvido de Ruben, os ruídos estridentes, os cacos ou a angustiante sensação de silenciamento a qual o protagonista vai se deparando gradativamente são como que vividas também por quem assiste, até porque o roteiro, envolvente, é muito bem construído. Concorrente ao Oscar de Roteiro Original, a trama de “O Som” narra um percurso pessoal e existencial, que, novamente, tem tudo a ver com a gramatica cinematográfica: a percepção/captação de algo externo (som) e a consequência externa dessa transformação.

Oscarizáveis: Ahmed e Raci contracenam em "O Som do Silêncio"

Quanto ao Oscar, dos seis que disputa, mais provável são dois ou apenas um para "O Som". Ahmed, por melhor que esteja, dificilmente levará, haja vista que concorre com fortes candidatos como Gary Oldman ("Mank") e, principalmente, Chadwick Boseman ("A Voz Suprema do Blues"), apto a abocanhar a estatueta postumamente. Mas nessa categoria é daqueles casos que só a indicação e estar ao lado de excelentes e oscarizados atores, como estes dois e Anthony Hopkins (“Meu Pai”), já é um reconhecimento. De Filme, igualmente, não leva, pois têm outros bem mais fortes favoritos na frente. Ator Coadjuvante, parecido, pois somente "Judas e o Messias Negro" põe dois nesse páreo (LaKeith Stanfield e Daniel Kaluuya) contra Paul Raci. 

Restam-lhe os prêmios técnicos: edição e, o que seria muito legal se acontecesse, o de Produção de Som. Contrariando a prática comum de premiar produções espetaculosas, como musicais, aventuras ou ficções científicas, cairia muito bem à Academia num momento de revisão de conceitos valorizar um drama de abordagem humana e mais humilde perto de superproduções como “Dunkirk”, “Bohemian Rhapsody” e "Ford vs. Ferrari", vencedoras das últimas três edições do Oscar na categoria Edição de Som, como era classificada a categoria até ano passado.

Independente de prêmio ou não, o fato é que "O Som" é um filme peculiar e sensível, capaz de extrair da pequena história de um drama pessoal questões universais como amor, família, caridade e perdão. Uma história que leva à compreensão de que, independentemente dos sentidos físicos, o que vale é saber escutar o som que vem do coração.

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trailer de "O Som do Silêncio"


Daniel Rodrigues