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sexta-feira, 22 de agosto de 2025

"O Corvo", de Alex Proyas (1994) vs. "O Corvo", de Rupert Sanders (2024)

 


Enfrentar um original consagrado já é difícil, encarar uma lenda, então, é uma tarefa ainda mais inglória. "O Corvo", 1994, como se não bastasse ser um filme cultuado entre os góticos, darks, o pessoal que curtia a cena alternativa dos anos 80, praticamente o representante cinematográfico dessas tribos, marca a morte trágica,  dentro do set de filmagens, do ator Brandon Lee, o protagonista da história que interpreta nada menos que um homem que volta do mundo dos mortos. Era como se fosse o próprio personagem, ninguém mais poderia ter feito aquele filme senão ele. Brandon Lee em tela, na pele do personagem Eric Draven era por si só uma espécie de lenda em movimento.

Por si só o desafio de refilmar "O Corvo" era algo pouco recomendável. Teria que conquistar o fiel público que praticamente endeusa o original, e ainda conseguir algo parecido com o carisma e a aura de Brandon Lee.

Assim, a tarefa mais viável seria uma aproximação com a nova geração de modo a conquistar o público atual. Uma linguagem mais adequada ao século XXI, comportamento, costumes, anseios, etc. O visual, a música, a dinâmica, os hábitos, tudo isso teria que ser repensado. Mas a nova versão de "O Corvo" não atende praticamente nada. Não dialoga com os antigos fãs e nem fica marcante para os novos interessados. Se afasta do original exatamente em pontos que poderia tirar proveito, não consegue imprimir uma estética, uma identidade visual, não empolga, e não consegue personificar em Bill Skarsgard um protagonista carismático.

Em ambos os filmes Eric Draven e sua namorada Shelly Webster são assassinados mas uma entidade sobrenatural permite que aqueles que foram mortos injustamente retornem para realizar sua vingança. Eric então retorna ao mundo dos vivos, incólume fisicamente, imortal, e vai à caça daqueles que os mataram a fim de encontrar e ficar com Shelly no mundo dos mortos.

Basicamente isso mas com algumas diferenças: no primeiro, o casal é  assassinado na chamada Noite do Demônio, uma data em que todos os crimes e atrocidades acontecem, sem controle, pelas ruas. O apartamento deles é invadido por uma gangue, ela é brutalmente violentada por todos eles e ele é morto com um tiro. Um ano depois, um pássaro negro misterioso, um corvo, aparece em sua sepultura, o desperta da morte, o guia até o antigo apartamento e, lá, diante das memórias do casal que vão aparecendo para ele em flashes, fica claro que sua alma só descansará mesmo ao lado da namorada quando se vingar daqueles que os mataram. Ele então vai atrás de cada um da gangue.

O cenário é sombrio, a Noite do Demônio é lindamente caótica, a angústia de Eric ao se descobrir morto, ao recuperar as imagens de Shelly é comovente, sua iniciativa de se disfarçar como uma figura assustadora é instintiva e inspirada, e sua maquiagem de arlequim das trevas é simplesmente icônica. Em uma cidade constantemente chuvosa, decadente e sem lei, uma trilha sonora empolgante embala a saga de vingança de Draven dando a morte adequada a cada um que lhes fizeram mal. Imortal, imune à dor, inatingível a balas ele elimina todos os capangas até chegar até o chefão, Top Dollar, um excêntrico figurão que descobre que a força vital do vingador das trevas está no pássaro que o acompanha. Em uma tocaia Top Dollar fere o pássaro e então fica praticamente condições de igualdade para encarar o palhaço imortal num duelo decisivo.

"O Corvo" (1994) - trailer


"O Corvo" (2024) - trailer


Na nova versão, a relação do casal é um pouco mais explorada. Os acompanhamos desde quando se conheceram em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos onde se apaixonam e de onde fogem quando Shelley se diz perseguida por alguém. Ao saírem do sanatório, se refugiam na casa de um antigo amigo dela, onde são assassinados por homens que procuravam algo que estaria em poder da moça. Eric, interpretado por Bill Skarsgård, então acorda numa espécie de limbo onde uma entidade permite que ele retorne à vida para vingá-la desde que nunca duvide de seu amor por ela. Ele concorda mas ao retornar e entender os envolvimentos dela e do que os bandidos estavam atrás, ele fraqueza quanto a seu sentimento e morre novamente. Desesperado ela tenta um último acordo com o guia do além, de matar Roeg, o líder de uma seita satanista que estava atrás de segredos que Shelly escondia, de modo a trocar sua alma pela dela no inferno.

Aí, sim, Draven volta, empoderado, imortal, impenetrável a tiros, regenerado a ferimentos, e vai buscar o homem que prende a alma da namorada morta no inferno. Na trilha de sangue e vingança que Eric deixa, Roeg descobre os poderes sobrenaturais do jovem e resolve então roubá-los de modo a aumentar ainda mais seu poder demoníaco. Eles terão então um confronto final que definirá se Roeg conseguirá seus objetivos malignos ou se Eric conseguirá salvar a alma de sua amada.

A trama até tem mais complexidades, o casal, sua origem, a natureza de sua relação são mais explorados desde o início, a motivação inicial do vilão é menos simplória, mas nada disso garante maior qualidade. As nuances da história, personagens secundários dispensáveis, elementos pouco relevantes, afastam a trama de um ponto central; a introdução à relação de Eric e Shelly fica longa, maçante e ocupa uma parte significativa do filme sem que alguma coisa realmente avance; sem falar que a natureza do vilão, Roeg, tipo um 'demonista' ambicioso, seu envolvimento com a garota, o segredo que ela guarda é tudo simplesmente estapafúrdio.

Pra completar, cenários CGI tipo Marvel, personagens caricatos, atuações constrangedoras... "O Corvo" de 2024 dói de ruim.

De positivo, temos o bom confronto final com Roeg e as cenas de luta com muita violência gráfica e inventividade. No mais, é só buscar a bola no fundo da rede.

Um pelo visual, a ambientação, a cidade escura, decadente, chuvosa, em chamas. As vistas aéreas, as perseguições nos telhados a visão distorcida pelo olho do pássaro. Tudo demais! 1x0 .

Dois pelo figurino e maquiagem do protagonista, aquela cara branca de palhaço sorridente numa alma triste, sombria e torturada, aquele cabelo escorrido, desgrenhado, a roupa de couro preto. Uma figura sinistramente cativante que, como se não bastasse, toca guitarra pelos telhados da cidade. Muito rock'n  roll, muito dark: 2x0 .

Três pela trilha sonora eletrizante e muito bem escolhida com nomes como Jesus and Mary ChainNine Inch NailsHelmet, Violent Femmes e The Cure, talvez os grandes representantes e inspiradores de todo o visual do personagem. 3x0 .

E por falar na banda de Robert Smith, o quarto gol vai por conta da cena do 'surgimento' do Corvo, o momento em que, ao som da espetacular "Burn" do The Cure, no loft do casal, as memórias chegam torturando o jovem Eric, ele repassa angustiantemente o roteiro da noite de terror, entende seu destino de vingança, pinta o rosto inspirado numa máscara teatral de arlequim e, decidido, sob a luz de relâmpagos, olha do alto de sua janela redonda, a cidade onde começará sua caçada. 4x0 .


"O Corvo" (1994) -
A "transformação" de Eric Draven


O quinto vai pela importância do corvo, do pássaro em si, no original, enquanto que no remake ele é subutilizado, meramente alegórico e quase sem importância. É ele quem vai à cova de Draven trazê-lo de volta dos mortos, é nele que está a força vital do personagem vingador, e é ele quem guia nosso herói pelas cidade, e as cenas sobrevoando do alto, com a visão do pássaro, são simplesmente incríveis. Não tem Pato, Ganso, Falcão? Por que que não pode ter gol do corvo também! É gol do Corvo! 5x0 .

O sexto é dele, Brandon Lee. Além de ser filho de craque, do mítico Bruce Lee, Brandon era carismático e perfeito para o papel. Só que acabou infelizmente tornando-se legendário pelo pior motivo possível: uma arma disparada por acidente nas filmagens que veio a tirar sua vida. Mesmo incompleto, com cenas de dublês e remendos digitais, o mero fato de ter sido concluído depois de sua morte, fez do filme, sombrio sobre morte e ressurreição, algo ainda maior e só aumentou seu culto. Brandon é o nome do gol! 6x0 Corvo '94.

Como já  mencionado, o gol de honra da nova versão fica por conta das ótimas cenas de luta, especialmente na da sequência da ópera em que nosso herói vai com uma espada katana atrás de seus inimigos. Ótimas coreografias de luta, mortes criativas, muito sangue e muita brutalidade. 6x1 para o original.

E é fim de papo. O time de '94 manda seu desafiante de 2024 para a cova sem direito a ressurreição.

À esquerda, o original e à direita o remake:
1.Brandon Lee e Bill Skarsgård como o vingador morto-vivo;
2. As duas Shelly Webster, a do primeiro, bem mais sombria;
3. A trilha de vingança do Corvo, no original mais estética,
praticamente uma obra de arte para cada morte,
no remake o que temos são boas cenas de luta;
4. O elegante e excêntrico Top Dollar, da primeira versão,
e o caricato satanista Roeg da segunda;
5. No original, Eric Draven com sua guitarra pelos telhados da cidade decadente e chuvosa,
na refilmagem, o único instrumento que ele empunha é uma espada samurai mesmo;
6. O 'surgimento' do corvo nas duas versões,
apoteótico no primeiro e artificial no segundo.



Jogo com chuva o tempo inteiro, gramado molhado.
Mas quem tem craque desequilibra.
Brandon Lee faz a diferença e joga uma pá de cal 
na nova versão.
Descanse em paz!




por Cly Reis

domingo, 31 de outubro de 2021

"Salomão Ventura, O Caçador de Lendas nº1 - A Maldição do Saci", de Giorgio Galli - Gico Mix (2011)


"A premissa da HQ é mostrar as lendas do nosso folclore
do jeito que a tradição oral as apresenta,
capturadas pelo mestre Luís da Câmara Cascudo em sua bibliografia.
Em resumo: são histórias de terror feitas para assustar."

"E minha escolha para essa primeira edição 
não poderia ser outra:
quem foi mais descaracterizado e infantilizado
do que o diabrete Saci Pererê?
Que em sua origem, conforme relatado pelo mestre Cascudo,
foi vítima de assassinato, tornou-se alma penada
e tem como objetivo causar morte e dor?
Não é para crianças..."

Giorgio Galli,
prefácio de "A Maldição do Saci"



Na data mais conhecida pela comemoração norte-americana do Halloween, mas que por aqui, simbolizando toda a riqueza de nosso folclore, é simbolizada no Saci, nosso destaque vai para um dos projetos mais legais da cena independente de quadrinhos nacional. É o projeto do artista Giorgio Galli, que, com sua série Salomão Ventura, explora as tradições folclóricas brasileiras, lançando sobre elas um olhar mais sombrio e aterrorizante, transformando lendas e personagens de tradição popular em temíveis criaturas sinistras. Assim, o Curupira e o Saci, por exemplo, têm recuperadas características estudadas por historiadores e folcloristas, e passam a ser, na visão artística de Galli, criaturas sobrenaturais e ameaçadoras que, por mais que tenham justificativas para existirem e demandas legítimas, devem voltar para seus lugares, no mundo do além, longe dos humanos. Para isso, o caçador de assombrações, Salomão Ventura, um misto de Constantine e Van Helsing, sai em busca das aberrações sobrenaturais e, com seus métodos, nada gentis (e nem podia ser diferente) mas muito "convincentes", as captura e manda de volta para o lugar de onde nunca deviam ter saído.
O primeiro número da série do Caçador de Lendas, criado por Galli, é exatamente "A Maldição do Saci", personagem de origem sinistra cujas características foram humanizadas e suavizadas para ficar mais palatável e poder fazer parte dos sítios-dos-pica-paus-amarelos da vida, mas que a bem da verdade, não é nada menos que uma alma-penada vingativa e odiosa, fruto de um brutal assassinato. O moleque tem seus motivos para voltar das trevas para alimentar sua sede de vingança, punir pais e fazer justiça em lares onde crianças são maltratadas como ele foi, só que Salomão Ventura, por mais que compreenda isso, não pode deixá-lo à solta por aí e vai atrás do pretinho endiabrado se valendo da única maneira possível de pegá-lo... (você sabe qual é, não sabe?).
Um projeto que, ao contrário do que muitos pensam, que demoniza personagens da cultura popular, na verdade a resgata e valoriza, levando ao encontro de muitos mergulhados na cultura norte- americana, um pouquinho mais das raízes brasileiras.
Trabalho de muito talento desenvolvido, como o autor mesmo revela no prefácio, ao som de The Cure, The Smiths, Jesus & Mary Chain, Titãs, Cartola, PixiesStone Roses, Kraftwerk e outras coisas mais. Com inspirações dessas, só poderia sai coisa boa, mesmo.

Página da HQ. O início da sina vingativa do Saci.


por Cly Reis



O projeto Salomão Ventura infelizmente, num primeiro momento, não foi muito adiante e ficou só em quatro números, Saci, Curupira, Lobisomem e De Volta Pra Casa, mas ao que parece, o artista resolveu pôr a mão na massa e parece estar produzindo novos episódios do caçador das trevas. Não é tão fácil de se encontrar exemplares mas volta e meia se acha em feiras de quadrinhos e eventos do tipo, além do próprio site do artista (salomaoventura.com.br).

quinta-feira, 2 de abril de 2020

cotidianas #674 - "April Skies"





Ei, querida, o que você está tentando dizer
Enquanto eu estou aqui
Não vá embora
O mundo está desmoronando

De mãos dadas em uma vida violenta
Fazendo amor na ponta de uma faca
E o mundo desmoronando

E é difícil pra mim,
Dizer
E é difícil pra mim,
Ficar
Estou afundando
Para ser eu mesmo
Estou voltando
Pro bem da minha saúde
E há uma coisa
Que eu não poderia fazer
Me sacrificar por você
Sacrificar

Amor, amor, eu não consigo ver
Realmente o que você significa pra mim
Eu traço meu alvo e digo palavras falsas
Eu sou só sua longa maldição
E se você for embora
Eu não vou aguentar
Mas é assim que você é
E essas são as coisas que você diz
Mas agora você foi longe demais
Com todas as coisas que disse
Volte para o lugar de onde você veio
Eu não consigo evitar
Sob o céu de Abril
Sob o sol de Abril

O sol esfria
O céu fica negro
E você se separou de mim
E agora você não vai voltar
Dando as mãos, a vida está morta
E um coração partido
E alguém que grita
Sob o céu de Abril

*********************
"April Skies"
(William Reis / Jim Reid)

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The Jesus and Mary Chain - "April Skies"

quarta-feira, 25 de março de 2015

"Discoteca Básica : 100 Personalidades e seus 10 Discos Favoritos", de Zé Antônio Algodoal - Ed. Ideal (2014)



“Em um tempo em que
 as pessoas “baixam” músicas
e não tem noção
do que é um álbum,
nada mais bacana que
poder falar dos álbuns
 e de suas influências em nossas vidas.”
Marcelo Rossi
(fotógrafo, diretor de videoclipes e compositor)





Topei, dia desses, com o livro “Discoteca Básica: 100 personalidades e seus 10 discos favoritos” e, blogueiro como sou, com seção dedicada a álbuns importantes, além de apaixonado por música e colecionador de CD's e LP's, fiquei extremamente interessado. Trata-se de uma série de listas elaboradas por 100 personalidades, em sua maioria ligadas ao mundo da música, que destacam, cada um, 10 álbuns musicais importantes de alguma forma em suas vidas. Por mais que tivesse me dado coceira pra comprar, até hesitei um pouco em comprar imaginando que as indicações dos convidados pudessem meramente cair naqueles clichês tipo “progressivo é mais técnico e o resto é pobre”, ou “sou do metal e escolhi 5 AC/DC e 5 Iron Maiden" ou Beatles é melhor que tudo” e simplesmente saírem nomeando 5 entre os 10, 7 de 10 ou mesmo 100% da lista só de Beatles. Mas não. Um que outro até manifestou a intenção de relacionar Beatles nas 10 posições mas felizmente meus temores não se confirmaram. No caso do Fab Four, em especial, tiveram, por óbvio, um número de indicações proporcional à sua importância de maior banda de todos os tempos, mas felizmente as listas mostraram-se bem diversificadas, curiosas e contendo dicas bem interessantes. Os convidados em sua maioria são de alguma maneira ligadas ao mundo da música, como os músicos Arnaldo Baptista, Péricles Cavalcanti, Dinho e Andreas Kisser, por exemplo, mas também encontramos artistas visuais, produtores, executivos de gravadoras, e ex-VJ's da MTV como Didi, Gastão, Edgar e Thunderbird.
O que torna o livro mais interessante é que a proposta do organizador, Zé Antônio Algodoal, não foi a de necessariamente listar 10 discos qualitativamente ou em ordem de preferência. Seus entrevistados podiam utilizar o critério que quisessem e essa liberdade de escolha resultou em listas muito bacanas. Questões afetivas, cronológicas, de formação, profissionais, primeiras aquisições, parcerias, influências, os critérios adotados são os mais diversos, alguns convidados preferindo comentários mais genéricos, abrangentes, outros mais detalhados, pontuais, disco a disco. Alguns relatos como o da francesa Laetitia Sadier da banda Stereolab são muito amplos, bonitos e completos, por outro lado, pessoas de quem gostaríamos de ter alguma consideração a mais sobre suas escolhas, como no caso do apresentador Jô Soares, foram extremamente econômicos, deixando uma breve observação ou às vezes nenhuma.
A paixão demonstrada pelo músico Hélio Flanders em suas descrições; o envolvimento do diretor de cinema e teatro Felipe Hirsh; as metamorfoses da ex-diretora da MTV Brasil, Ana Buttler; o caso dos primeiros dez discos que o Gordo Miranda ganhou do pai; o texto criativo e bem escrito de Xico Sá; e a emoção de Airto Moreira ao ser apresentado ao álbum “Miles Ahead” pela cantora Flora Purim, no relato de Rodrigo Carneiro, são alguns dos pontos mais legais do livro e que não podem deixar de serem lidos. Como curiosidades, me chamou a atenção o fato do álbum “Boys Don't Cry” do The Cure, que eu, fã, nem considero dos melhores, aparecer bastante entre os votantes; a surpreendente 'disputa' acirrada entre o "Força Bruta", muito votado, e o "Tábua de Esmeralda", que no fim das contas prevaleceu; e o fato de que alguns dos meus xodózinhos como o "Psychocandy" do Jesus and Mary Chain, que eu considero a melhor coisa que eu já ouvi, e o "Loveless" do My Bloody Valentine, que eu costumo dizer que seria o disco que eu levaria para uma ilha deserta, aparecem com bastante frequência no livro em diversas listas, inclusive na do próprio organizador. No mais, muitos dos meus favoritos aparecem com grande destaque entre os mais escolhidos como, por exemplo, o "Nevermind" do Nirvana, o "Transa" do Caetano e o "Tábua de Esmeralda" de Jorge Ben.
Elogios também para a parte gráfica do livro muito caprichada, cuja arte, meio retrô e saudosista, faz referência, desde a capa, a vinis, toca-discos e equipamentos de som antigos.
Para quem gosta de listas, como eu, especialmente aqs de música, é um livro que desperta a vontade de montar as suas próprias, com critérios diferentes, de modo que se consiga contemplar todos aqueles discos que, de certa forma quase como filhos, e tem um lugar reservado no coração.




Cly Reis

quarta-feira, 28 de maio de 2014

The Jesus and Mary Chain - Vivo Open Air - Marina da Glória / Rio de Janeiro (27/05/2014)



Entrada do Vivo open Air,
proposta de sessão de cinema
ao ar livre seguida de show musical
Irmãos, eu vi Jesus!
Sim, sim, uma das minhas bandas favoritas, o The Jesus and Mary Chain, cujo álbum de estreia, "Psycho Candy" é meu disco de cabeceira frequentemente citado como um dos melhores dos naos 80, estava ali na minha frente, como um milagre. Como um milagre, sim, porque assim como o filho do Homem, ressuscitou, depois de uma longa inatividade para uma turnê, que por felicidade passou por essas terras.
Sim, Jesus está entre nós!
Shwarzie encarnando o impiedoso robô
do futuro na telona na Marina da glória
Depois de uma sessão de cinema ao ar livre com a exibição do filme o Exterminador do Futuro, ao qual eu já tinha assistido zilhões de vezes, mas que queria ver como seria numa tela grande, ao ar livre e dentro da proposta do evento, o Vivo open Air, que na verdade não é nada mais do que um grande drive-in daqueles antigos, só que sem carro, era hora de encontrar os irmãos Reid, e sua corrente de Jesus e Maria, uma das bandas mais significativas e cultuadas das últimas décadas no rock mundial.
E, irmãos, eu encontrei Jesus!
"Snakedriver" pra abrir. Delírio!!! "Head On" na sequência. Pra enlouquecer!!! "Far Gone and Out", "Between Planets", "Blues for a Gun"... Uau!!! Foda, foda, foda! Mesmo com meus joelhos detonados (minha condropatia patelar) tive que ir lá pro burburinho. Pulando e me batendo com a galera. Ah, foda-se!
Jesus cura!
Os irmãos Reid no palco. Ao centro Jim e à direita,
William exibindo uns (muitos) quilinhos a mais
Mesmo bem menos barulhentos, com um 'barulho' mais limpo, o repertório dos caras é matador e cada música executada era uma espécia de êxtase para os fãs. E vieram "Cracking Up", "Happy When it Rains", "Teenage lust", "Sidewalking". Yeah, yeah, yeah!!!
Sim, eu ouvi Jesus!
Bem mais simpático do que de costume com o público, acenando vez que outra, agradecendo os aplausos e bicando uma cervejinha o tempo todo, Jim Reid fez uma apresentação, se não perfeita, correta, enrolando-se com o fio e fazendo aquele tradicional vai-e-vem como pedestal do microfone, fazendo com que vários tivessem que ser substituídos. O surpreendentemente obeso, William Reid, ao contrário das negativas expectativas com base nos erros do show de São Paulo, foi bastante competente  e seguro na guitarra no comando daqueles solos simples, sem frescura mas extremamente cativantes. Se em São Paulo eles não haviam ensaiado, parece que o show de lá serviu de ensaio para o do Rio, que tecnicamente, de um modo geral foi bom e assim, sem maiores percalços, a primeira parte do show terminou com a doce/ácida "Just Like Honey" com uma convidada que foi chamada para fazer o backing vocal feminino mas cuja voz praticamente não foi apareceu. Jim anunciou então que aquela fora a última música e a banda saiu apressada do palco deixando a dúvida "Jesus breve voltará?". Sabendo do temperamento da dupla não era de se estranhar que a ameaça de nos deixar se confirmasse. Mas felizmente não.
Jesus voltou!
Depois de uma breve pausa voltaram, aí sim, caprichando na ruideira, nas microfonias e nas distorções para uma dobradinha "Psycho Candy", com "The Hardest Walk" e "Taste of Cindy", fechando em seguida com o clássico "Reverence" numa performance empolgante. Mas agora sim era o fim. Um show relativamente curto, mas conhecendo como conhecemos os rapazes já foi grande coisa que tenham dado o show e que não o tivessem abandonado no meio como faziam em outros tempos.
Saí contemplado por ter visto aquilo. Por ter finalmente visto uma das bandas que mais gosto e admiro e por ter ouvido ao vivo algumas das músicas que ainda hoje me marcam muito.
Eu fui abençoado.
Amém!

trechinho de "Teenage Lust" gravado de celular
(perdoem a qualidade do áudio)


quinta-feira, 14 de abril de 2011

The Jesus and Mary Chain - "Automatic" (1989)

Vim ouvindo hoje, pro trabalho, o "Automatic" do The Jesus and Mary Chain, que mesmo não sendo a obra-prima da banda é um disco bem legal. É o primeiro desde a dissolução da banda de apoio, que contava como futuro-Primal Scream, Bobby Gillespie, permanecendo apenas os irmãos Jim e William Reid à frente de suas barulhentas e distorcidas guitarras, apoiados apenas, na maior parte das músicas por ritmadores eletrônicos e programações de bateria.
O fato de ter que recorrer a estes recursos não fez com que o disco soasse eletrônico ou artificial. Pelo contrário: "Automatic" é rock'n roll puro. É cheio daquelas influências de rockabilly, como em "Coast to Coast"; de Beach Boys, como em "Beetween Planets", e de punk rock em praticamente todas; tudo isso sem abandonar as tradicionais tempestades sonoras que já eram marca registrada da banda desde sua aparição, como na barulhenta "Gimme Hell" e de alguma forma sempre presente em várias outras dos disco."Take It", por exemplo, lá pela metade, parece estar fora de controle como se os ruídos, distorções e microfonias tivessem vontade própria, num exemplo clássico de como o bom e velho rock'n roll se transforma nas mãos dos irmãos Reid.
Mas o grande destaque do disco, e provavelmente o maior sucesso comercial da banda, é "Head On", uma gostosa canção com generosas pinceladas surf-music, que viria a ser gravada depois pelos Pixies e aqui no Brasil, pela Legião Urbana no seu acústico. Clássico!
Como eu disse, não é nenhum disco fora do comum, ainda mais se comparado ao fantástico "Psycho Candy", mas não deixa de ser um disco muito gostoso de ouvir.
E vou então me deliciando com ele hoje no carro.
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FAIXAS:
1."Here Comes Alice" – 3:52
2."Coast to Coast" – 4:13
3."Blues from a Gun" – 4:44
4."Between Planets" – 3:27
5."UV Ray" – 4:04
6."Her Way of Praying" – 3:46
7."Head On" – 4:11
8."Take It" – 4:34
9."Halfway to Crazy" – 3:41
10."Gimme Hell" – 3:18

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Ouça:
The Jesus and Mary Chain Automatic


C.R.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

OS 100 MELHORES DISCOS DE TODOS OS TEMPOS

Coloquei no blog o primeiro da minha lista do melhores álbuns de todos os tempos e então agora resolvi listar o resto.
Sei que é das tarefas mais difíceis e sempre um tanto polêmica, mas resolvi arriscar.
Até o 10, não digo que seja fácil, mas a concepção já está mais ou menos pronta na cabeça. Depois disso é que a gente fica meio assim de colocar este à frente daquele, tem aquele não pode ficar de fora, o que eu gosto mais mas o outro é mais importante e tudo mais.
Mas na minha cabeça, já ta tudo mais ou menos montado.
Com vocês a minha lista dos 100 melhores discos de toda a história:



1.The Jesus and Mary Chain “Psychocandy”
2.Rolling Stones “Let it Bleed”
3.Prince "Sign’O the Times”
4.The Velvet Underground and Nico
5.The Glove “Blue Sunshine”
6.Pink Floyd “The Darkside of the Moon”
7.PIL “Metalbox”
8.Talking Heads “Fear of Music”
9.Nirvana “Nevermind”
10.Sex Pistols “Nevermind the Bollocks"

11.Rolling Stones “Exile on Main Street”
12.The Who “Live at Leeds”
13.Primal Scream “Screamadelica”
14.Led Zeppellin “Led Zeppellin IV
15.Television “Marquee Moon”
16.Deep Purple “Machine Head”
17.Black Sabbath “Paranoid”
18.Bob Dylan “Bringing it All Back Home”
19.Bob Dylan “Highway 61 Revisited”
20.The Beatles “Revolver”
21.Kraftwerk “Radioactivity”
22.Dead Kennedy’s “Freshfruit for Rotting Vegettables”
23.The Smiths “The Smiths”
24.The Stooges “The Stooges”
25.Joy Division “Unknown Pleasures”
26.Led Zeppellin “Physical Graffitti
27.Jimmy Hendrix “Are You Experienced”
28.Lou Reed “Berlin”
29.Gang of Four “Entertainment!”
30.U2 “The Joshua Tree”
31.David Bowie “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”
32.David Bowie “Low”
33.My Bloody Valentine “Loveless”
34.The Stone Roses “The Stone Roses”
35.Iggy Pop “The Idiot”
36.The Young Gods “L’Eau Rouge”
37.The 13th. Floor Elevators “The Psychedelic Sounds of The 13th. Floor Elevators”
38.The Sonics “Psychosonic”
39.Ramones “Rocket to Russia”
40.The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”
41.PIL “Album”
42.REM “Reckoning”
43.Love “Forever Changes”
44.Madonna “Erotica”
45.Grace Jones “Nightclubbing”
46.Pixies “Surfer Rosa”
47.Pixies “Doolitle”
48.Rolling Stones “Some Girls”
49.Michael Jackson “Off the Wall”
50.Michael Jackson “Thriller”
51.Beck “Odelay”
52.Nine Inch Nails “Broken”
53.The Fall “Bend Sinister”
54.REM “Green”
55.Neil Young and the Crazy Horse “Everybody Knows This is Nowhere”
56.Kraftwerk “Trans-Europe Expreess”
57.The Smiths “The Queen is Dead”
58.New Order “Brotherhood”
59.Echo and The Bunnymen” Crocodiles”
60.Prince “1999”
61.Morrissey “Viva Hate”
62Iggy Pop “Lust for Life”
63.Pixies “Bossanova”
64.Chemical Brothers “Dig Your Own Hole”
65.Prodigy “Music For Jilted Generation”
66.Van Morrisson “Astral Weeks”
67.Pink Floyd “Wish You Were Here”
68.Muddy Waters “Electric Mud”
69.Sonic Youth “Dirty”
70.Sonic Youth “Daydream Nation”
71.Nirvana “In Utero”
72.Björk “Debut”
73.Nirvana “Unplugged in New York”
74.Björk “Post”
75.Jorge Ben “A Tábua de Esmeraldas”
76.Metallica ‘Metallica”
77.The Cure "Disintegration"
78.The Police ‘Reggatta de Blanc”
79.Siouxsie and the Banshees “Nocturne”
80.Depeche Mode “Music for the Masses”
81.New Order “Technique”
82.Ministry “Psalm 69”
83.The Cream “Disraeli Gears”
84.Depeche Mode Violator”
85.Talking Heads “More Songs About Building and Food”
86.The Stranglers “Black and White”
87.U2 “Zooropa”
88.Body Count “Body Count”
89.Massive Attack “Blue Lines”
90.Lou Reed “Transformer”
91.Sepultura “Roots”
92.John Lee Hooker “Hooker’n Heat”
93.The Cult “Love”
94.Dr. Feelgood “Malpractice”
95.Red Hot Chilli Peperrs “BloodSugarSexMagik”
96.Guns’n Roses “Appettite for Destruction”
97.The Zombies “Odessey Oracle”
98.Johnny Cash “At Folson Prison”
99.Joy Division “Closer”
100.Cocteau Twins “Treasure”

segunda-feira, 13 de julho de 2009

The Jesus and Mary Chain - "Psycho Candy" (1985)




O (meu) Maior Disco de Todos os Tempos
" A gente recebe muitas cartas nos xingando.
Eu simplesmente respondo,
"Vá se fuder!"
Jim Reid



Quando começou o disco eu não acreditava no que estava ouvindo...
Tinha apenas lido a respeito. Melhor disco do ano em diversos meios de mída, melhor da revista Bizz na época. Definiam como ácido, uma avalanche sonora. Nem tentei ouvir antes pra ver se ia gostar, tratei logo de comprar. Comprei ainda o vinil. Eu mal sabia que aquela capa meio tosca era quase um aviso. Tudo faria sentido quando eu pousasse a agulha sobre o vinil.Levei pra casa e quase ritualísticamente como costumava fazer quando tinha alguma expectativa para ouvir os discos que comprava, parei, sentei, me acomodei e botei a bolacha pra rodar.Quando começou o disco eu não acreditava no que estava ouvindo. Aquela batida surda, alta, estourando mas levemente cadenciada sobre uma suave melodia que iniciava por uma longa paletada de guitarra era verdadeiramente doce mas completamente ÁCIDA. Sim, esta era a palavra pra definir "Just Like Honey" que abre o disco. Ácida.
Encantado com a primeira, sou surpreendido por uma torrente de som, quase ensurdecedora, vibrante, vigorosa, ousada, arrebatadora que é "The Living End". Aí, sim, eu já não entendia mais nada. O que era aquilo que eu estava ouvindo? "The Living End" era algo entre o experimentalismo de "European Song" do Velvet Undergriound", o embalo das surf music dos anos 50, vocais arrastados tipicamente ingleses, e uma sonoridade que lembrava "Anarchy in the UK" dos Pistols, tudo isso com microfonias, ruídos e distorções que faziam daquilo algo único.
A partir daí o cartão de visitas foi posto na mesa: a tônica do álbum estava colocada. A proposta ficava conhecida. Os ruídos e as microfonias não eram meros recusrsos para reforçar o barulho. Eles fazem parte de uma concepção de música, de rock e dos tempos. Por mais que já se tivesse visto isso com Stooges, com MC5 com o Velvet, nunca isso tinha sido colocado como identidade sonora em um álbum e de uma maneira tão bem construída, compondo e decompondo as canções, integrando-as sem esconder a sonoridade pretendida dentro delas.
O início do lado B mantém o impacto deixado pela letal "Taste of Cindy" que fecha a primeira parte. "Never Understand" é outra das provas de que a sonoridade pretendida é fica evidente com sua aura meio rackabilly, meio surf, mas com aquela atmosfera cheia de barulhos.
O disco dá uma pausa pra respirar com "Sowing Seeds" que baixa a rotação novamente, mas é só o tempo pra se recuperar e partir pro ataque com "My Little Underground", outra das melhores.
Fecha com "It's so Hard", com todas as características do disco mas um pouco mais soturna, enquadrando-se no contexto no qual afinal de contas faziam parte naquele momento, cheio de darks, góticos e afins. Chegava ao final meio que sem fôlego. Entreo extasiado e anestesiado.
Nunca tinha ouvido um disco igual.
"Psychocandy" evidentemente foi muito influenciado - punk, rockabilly, blues, surf music, Velvet, 13th. Floor Elevators, Beach Boys...- mas por ter conseguido ser um álbum coeso, único e original a partir de toda essa bagagem agragada e por seu caráter "barulhento" singular, também acabou por ser, desde seu nascimento, um disco extremamente influente e as microfonias e distorções desmedidas acabaram por se tornar assinatura dos irmãos Reid.
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FAIXAS:

  1. "Just Like Honey" – 3:03
  2. "The Living End" – 2:16
  3. "Taste the Floor" – 2:56
  4. "The Hardest Walk" – 2:40
  5. "Cut Dead" – 2:47
  6. "In a Hole" – 3:02
  7. "Taste of Cindy" – 1:42
  8. "Never Understand" – 2:57
  9. "Inside Me" – 3:09
  10. "Sowing Seeds" – 2:50
  11. "My Little Underground" – 2:31
  12. "You Trip Me Up" – 2:26
  13. "Something's Wrong" – 4:01
  14. "It's So Hard" – 2:37

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Ouça:
The Jesus and Mary Chain Psycho Candy



Cly Reis