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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

COTIDIANAS nº471 Especial Dia das Crianças - Saci Pererê







Saci Pererê
(Jorge Ben)
Sasaci Sasaci Pererê
Saci, Saci Pererê
Pula, brinca e joga
Que eu quero ver

Dona Cuca vai querer fazer uma aposta com você
E essa apostaVocê vai ter que ganhar
Não pode perder não pode perder
Sasaci Sasaci Pererê

Saci, Saci Pererê
Pula, brinca e joga
Que eu quero ver

Pererê, Pererê
Dona Cuca vai querer que você aposte
O seu cachimbo e seu chapéu mágico
Contra uma torta de giló, melancia e alho
Cuidado Saci, cuidado com a toca
Treine bem e não se compromete
Pois esta aposta consiste em que você ande
Pelo sítio de patinete

Saci Pererê, Saci Pererê

Cisca, pula Saci agora
Saci, vai treinar Saci
Fica no meio da estrada
Alta hora da madrugada
Assustando os outros, Saci
Isso são horas? Três e meia da madrugada, Saci
Isso são horas de pedir fogo, Saci?
Vai treinar, Saci!

Vai treinar, Saci!

* há uma pequena variação na letra da versão original da música para o especial infantil "Pirlimpimpim" da Rede Globo, de 1982 para a regravação de 1986. Na original, Jorge Ben canta, na segunda estrofe, "toda turma vai querer que você aposte..." e na versão posterior muda para "Dona Cuca vai querer que você aposte...". Para a ilustração, optei por uma composição entre as duas, utilizando o personagem Cuca mais rico visual e ludicamente da última versão, utilizando, contudo, o final da versão  de 1982 na qual o autor manda o Saci treinar, o que não aparece na regravação.
******************
Ouça:

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

COTIDIANAS nº 654 - Especial Dia do Saci - Saci Pererê



Vou prestigiar o time do Saci-Pererê
Ê, ê, ê, ê, ê
Saci de Ziraldo
Vou prestigiar
O neguinho deve ser da grande escola Pelé
É, é, é, é, é
Vou prestigiar

O moleque Saci-Pererê com uma perna só
Ó, ó, ó, ó, ó
Vai ver que é melhor
Do que muitos por aí com duas pernas-de-pau
Ah, ah, ah, ah, ah
Vai ver que é melhor

Entra um time novo, troca o time inteiro, muda tudo
Tem jeito não
Falta alguma coisa tipo liberdade, profissão de fé
Devoção
Vou buscar a fantasia no conto da carochinha
Com a varinha de condão

Moleque Saci
Vou prestigiar
Um gol Pererê
Pra gente vibrar

Moleque Saci
Saci-Pererê
Um gol de Pelé
Que é pra gente ver

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"Saci-Pererê"
Banda Black Rio
(música: Gilberto Gil)

domingo, 31 de outubro de 2021

"Salomão Ventura, O Caçador de Lendas nº1 - A Maldição do Saci", de Giorgio Galli - Gico Mix (2011)


"A premissa da HQ é mostrar as lendas do nosso folclore
do jeito que a tradição oral as apresenta,
capturadas pelo mestre Luís da Câmara Cascudo em sua bibliografia.
Em resumo: são histórias de terror feitas para assustar."

"E minha escolha para essa primeira edição 
não poderia ser outra:
quem foi mais descaracterizado e infantilizado
do que o diabrete Saci Pererê?
Que em sua origem, conforme relatado pelo mestre Cascudo,
foi vítima de assassinato, tornou-se alma penada
e tem como objetivo causar morte e dor?
Não é para crianças..."

Giorgio Galli,
prefácio de "A Maldição do Saci"



Na data mais conhecida pela comemoração norte-americana do Halloween, mas que por aqui, simbolizando toda a riqueza de nosso folclore, é simbolizada no Saci, nosso destaque vai para um dos projetos mais legais da cena independente de quadrinhos nacional. É o projeto do artista Giorgio Galli, que, com sua série Salomão Ventura, explora as tradições folclóricas brasileiras, lançando sobre elas um olhar mais sombrio e aterrorizante, transformando lendas e personagens de tradição popular em temíveis criaturas sinistras. Assim, o Curupira e o Saci, por exemplo, têm recuperadas características estudadas por historiadores e folcloristas, e passam a ser, na visão artística de Galli, criaturas sobrenaturais e ameaçadoras que, por mais que tenham justificativas para existirem e demandas legítimas, devem voltar para seus lugares, no mundo do além, longe dos humanos. Para isso, o caçador de assombrações, Salomão Ventura, um misto de Constantine e Van Helsing, sai em busca das aberrações sobrenaturais e, com seus métodos, nada gentis (e nem podia ser diferente) mas muito "convincentes", as captura e manda de volta para o lugar de onde nunca deviam ter saído.
O primeiro número da série do Caçador de Lendas, criado por Galli, é exatamente "A Maldição do Saci", personagem de origem sinistra cujas características foram humanizadas e suavizadas para ficar mais palatável e poder fazer parte dos sítios-dos-pica-paus-amarelos da vida, mas que a bem da verdade, não é nada menos que uma alma-penada vingativa e odiosa, fruto de um brutal assassinato. O moleque tem seus motivos para voltar das trevas para alimentar sua sede de vingança, punir pais e fazer justiça em lares onde crianças são maltratadas como ele foi, só que Salomão Ventura, por mais que compreenda isso, não pode deixá-lo à solta por aí e vai atrás do pretinho endiabrado se valendo da única maneira possível de pegá-lo... (você sabe qual é, não sabe?).
Um projeto que, ao contrário do que muitos pensam, que demoniza personagens da cultura popular, na verdade a resgata e valoriza, levando ao encontro de muitos mergulhados na cultura norte- americana, um pouquinho mais das raízes brasileiras.
Trabalho de muito talento desenvolvido, como o autor mesmo revela no prefácio, ao som de The Cure, The Smiths, Jesus & Mary Chain, Titãs, Cartola, PixiesStone Roses, Kraftwerk e outras coisas mais. Com inspirações dessas, só poderia sai coisa boa, mesmo.

Página da HQ. O início da sina vingativa do Saci.


por Cly Reis



O projeto Salomão Ventura infelizmente, num primeiro momento, não foi muito adiante e ficou só em quatro números, Saci, Curupira, Lobisomem e De Volta Pra Casa, mas ao que parece, o artista resolveu pôr a mão na massa e parece estar produzindo novos episódios do caçador das trevas. Não é tão fácil de se encontrar exemplares mas volta e meia se acha em feiras de quadrinhos e eventos do tipo, além do próprio site do artista (salomaoventura.com.br).

sábado, 30 de outubro de 2021

Saci Pererê 3D

 






Saci 1 - front

Saci 2 - left

Saci 3 - right

Saci 4 - back


Saci 5 - pose






Saci Pererê
Cly Reis
(exercício de composição de personagem para curso de escultura 3D
 a partir do personagem Saci - Martim Pererê, 
da série Tupank, de Juliano B. Rossi)

cotidianas #733 - ESPECIAL DIA DO SACI - "Saci"



 
BaianaSystem & Tropikillaz - "Saci"


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

“Sítio do Picapau Amarelo” - Trilha Sonora - Vários Artistas (1977)



"Monteiro Lobato e aquele mundo louco da minha infância, minha avó na cozinha e a gente lendo aquilo. Dori, esbocei alguma coisa. Fala de cada um, mas é o sítio, aquele lugar mítico, aquela música saltitante".  Gilberto Gil, na ligação que fez a Dori Caymmi logo após compor a música-tema da série

"Indo dali a pouco ao rio com a trouxa de roupa suja, ao passar pela jabuticabeira parou para ouvir a música de sempre — tloc! pluf! nhoc..." - Trecho de "Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato

Parece mentira de adulto pra valorizar a própria infância, mas foi a 40 anos que a música feita para crianças mudou completamente o rumo da música popular feita no Brasil. A Rede Globo, percebendo um filão pouco explorado, o público televisivo infantil, resolveu investir em teledramaturgia para este e, na esteira, numa “ferramenta” que atingia as mentes e corações dos baixinhos: a música. Da cabeça de Guto Graça Melo, diretor musical da emissora à época, e do talentosíssimo compositor e arranjador Dori Caymmi, veio a missão de musicar um especial baseado no universo de Monteiro Lobato que começaria a ser rodado. Mas não apenas dar sonoridade ao vídeo como, principalmente, criar uma atmosfera que transmitisse aquilo que a mágica obra literária oferecia. Assim, surgiu a trilha sonora de “Sítio do Picapau Amarelo”, um sucesso nas telas e nas vitrolas que inspiraria artistas de todas as gerações seguintes.

A fórmula parecia óbvia: chamar os talentos da MPB da época para ilustrarem musicalmente os elementos narrativos. Entre estes, João Bosco, Jards Macalé, Ivan Lins, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sérgio Ricardo, entre outros. Entretanto, muitas vezes o resultado saía – saudavelmente – complexo e até intrincado. E assim ficava. Afinal, Guto e Dori partiam do pressuposto de não subestimar a inteligência do público, mesmo sendo o infantil, postura que, por si, foi uma revolução de linguagem. Caso claro da dissonante “Peixe”, dos Doces Bárbaros, e da mística e intensa “Tio Barnabé”, em que Jards divide autoria e microfones com a talentosíssima Marlui Miranda (“Oi, nessa mata tem flores/ Os olhos do Saci/ Pula com suas dores/ Gentis com seus amores/ Os cantos da caapora/ Os orixás que nos acudam e nos valham nessa hora”). Ambas as faixas aparentemente jamais poderiam integrar uma seleção de músicas para crianças. Mas, aqui, entraram e fizeram muito significado.

O desbunde, contudo, já se dá na faixa que intitula a série. Mais do que isso: o tema passou a representar a já antiga obra de Lobato (datada dos anos 20) não só através das letras e ilustrações das páginas dos livros, mas também pelos sons. A canção que Gil cria sobre a simples sinopse dada a ele por Dori para se inspirar se transforma numa lúdica e colorida canção – e com referência a Beatles, como Caetano bem identificou no livro “Verdade Tropical”. Leitor dos contos fantasiosos de Lobato na infância, Gil resgata sua memória afetiva e praticamente a sintetiza em poucos versos, demonstrando uma familiaridade ímpar com o mundo lobatiano. “Marmelada de banana, bananada de goiaba/ Goiabada de marmelo [...]/ Boneca de pano é gente, sabugo de milho é gente/ O sol nascente é tão belo [...]/ Rios de prata, pirata, voo sideral na mata/ Universo paralelo [...]/ No país da fantasia, num estado de euforia/ Cidade polichinelo”. A estrutura melódica faz com que tudo termine rimando com aquilo que lhe é originário e inequívoco: “Sítio do Picapau Amarelo”. Genial.

Mesmo as canções mais palatáveis são de uma complexidade harmônica invejável – muito pela mão de Dori nos arranjos e orquestrações. “Narizinho”, doce canção de Ivan Lins cantada por sua então esposa, Lucinha, mostra bem isso. Outro mestre da MPB chamado para dar sua contribuição é Paulo César Pinheiro. Ele não economiza na carga poética e brasilianismo, o que faz em duas faixas, ambas parcerias com Dori: a divertida “Ploquet Pluft Nhoque" (“Jaboticaba”), cantada pelo grupo vocal Papo de Anjo (“Olha o bando/ que acode com o baque/ que bate no galho/ que faz pinque ploque...”), e “Pedrinho”, tema do corajoso personagem Pedro Encerrabodes de Oliveira, lindamente interpretada pelo grupo Aquarius.

O capricho desta trilha passa também por excelentes instrumentais, caso de “Saci”, autoria de Guto e brilhantemente arranjada por Dori e com as vozes da Aquarius fazendo vocalizes. Tema denso como a mitologia que tematiza, porém muito bem equilibrado harmonicamente pela instrumentalização utilizada, que dá “alívios” à tensão. É a primeira canção dedicada à lenda do Saci-Pererê de um especial infantil. Depois desta, vieram outras semelhantes cujo tema central é a alegoria de origens indígenas e africanas que representa o folclore brasileiro: duas diferentes assinadas por Jorge Ben (uma delas para o também especial infantil “Pirilimpimpim”, de 1982), e uma de Gil para a Black Rio (de 1980).

O elenco da série da Globo estreada em 1977: um marco
na tevê brasileira
Ivan Lins, em ótima fase, vem com outra, agora para a querida “Dona Benta” (vivida pela atriz Zilka Salaberry), cantada por Zé Luiz Mazziotti. Melodia jobiniana e jazzística comandada no Fender Rhodes. Ronaldo Malta interpreta outra bela composição, “Arraial dos Tucanos”, de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando. O início melodioso dá lugar, logo em seguida, a um baião de notas abertas, expansivo como os pássaros cantados na letra: “Arraial dos tucanos/ Até quando o homem/ Que da terra vive/ E que da vida arranca/ O pão diário/ Vai ter tua paz/ Paz/ Aparentemente paz”. Igual questionamento faz a também “ecológica” (termo que ainda não era moda naqueles idos) “Passaredo”, de Chico Buarque e Francis Hime. Entoada com absoluta perfeição pela MPB-4, a clássica canção, após enumerar diversos nomes da abundante variedade de espécies da fauna brasileira, avisa: “Bico calado/Toma cuidado/ O homem vem aí” – seja este o caçador sem escrúpulos ou o soldado daquele Brasil de Ditadura Militar. Duas faixas lúdicas, mas altamente reflexivas, que chamavam os baixinhos a pensar.

Cabe ao inventivo Sérgio Ricardo o tema de uma das personagens mais queridas da história, a boneca de pano “Emília”. Habilidoso, ele elabora uma melodia que remete aos violeiros do sertão e que em alguns momentos lembra a musicalidade e o fraseado de Geraldo Vandré, Dorival Caymmi e Alceu Valença. Igualmente hábeis são João Bosco e Aldir Blanc, a parceria clássica de tantos hinos da MPB daquela época. Aqui, os autores de “O Bêbado e a Equilibrista” e “O Cavaleiro e os Moinhos” valem-se de suas mentes privilegiadas para dar mote a Visconde de Sabugosa, o fascinante boneco feito de sabugo de milho, cuja sabedoria obteve através dos livros da estante de Dona Benta. Samba sincopado típico da dupla e com as características tiradas vocais de Bosco a la Clementina de Jesus. Na letra, Aldir dá um show: “Sábio sabugo/ Filho de ninguém/ Espiga de milho/ Bobo sabido/ Doido varrido/ Nobre de vintém”.

Como se não bastasse, para arrematar, Dori, com o acesso que somente ele podia ter, chama ninguém menos que o pai, o gênio Dorival Caymmi. Este, por sua vez, escreve uma joia para “Tia Nastácia”. E não podia ser para outra personagem, haja vista a identificação do velho Caymmi com a cultura afro-brasileira: ela, uma preta velha bondosa e sábia, típica negra filha recente da abolição da escravatura. Traduzida em versos pelo mestre baiano, Tia Nastácia, interpretada pela atriz Jacyra Sampaio na série, sai assim: “Na hora em que o sol se esconde/ E o sono chega/ O sinhôzinho vai procurar/ A velha de colo quente/ Que canta quadras e conta histórias/ Para ninar”.

Esta histórica trilha sonora abriu portas para uma série de outras semelhantes de especiais infantis da tevê nos anos seguintes, como “A Arca de Noé I e II”, “Pirilimpimpim”, “Plunct-Plact Zum”, "Casa de Brinquedos" e “O Grande Circo Místico”, todas bastante baseadas na questão musical. Havia dado certo a fórmula. Juntamente com a peça “Os Saltimbancos”, que Chico Buarque escrevera junto com Sergio Bardotti e Luis Bacalov também em 1977, “Sítio...”, assim, inaugura a entrada dos grandes talentos da música brasileira no universo sonoro e afetivo das crianças. Em tempos de pré-abertura, impossibilidade de diálogo e de esgotamento das ideologias, os artistas pensaram: “Já que os adultos estão tão saturados, por que não produzirmos para os pequenos?”. Pensaram certo e o fizeram muito bem, abrindo um paradigma na cultura de massas no Brasil sem precedente no mundo da música.

Aí, quando os pais de hoje dizem que o conteúdo do que eles tinham nas suas infâncias era muito melhor do que o de hoje, não se trata de mentira e nem de saudosismo. É a mais pura verdade.

Vídeo de abertura de "Sítio do Picapau Amarelo" (1977)




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FAIXAS

01. Narizinho (Ivan Lins – Vitor Martins) - Lucinha Lins
02. "Ploquet Pluft Nhoque" (Jaboticaba) (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Papo de Anjo
03. Peixe (Caetano Veloso) - Doces Bárbaros
04 . Saci (Guto Graça Mello) - Papo de Anjo
05. Visconde de Sabugosa (João Bosco – Aldir Blanc) - João Bosco
06. Dona Benta (Ivan Lins – Vitor Martins) - José Luís (Zé Luiz Mazziotti)
07. Sítio do Picapau Amarelo (Gilberto Gil) - Gilberto Gil
08. Pedrinho (Dory Caymmi – Paulo César Pinheiro) - Aquarius
09. Arraial dos Tucanos (Geraldo Azevedo – Carlos Fernando) - Ronaldo Malta
10. Tia Nastácia (Dorival Caymmi) - Dorival Caymmi
11. Passaredo (Francis Hime – Chico Buarque de Hollanda) - Mpb4
12. Emília (Sergio Ricardo) - Sérgio Ricardo
13. Tio Barnabé (Marlui Miranda – Jards Macalé – Xico Chaves) - Marlui Miranda e Jards Macalé

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OUÇA

por Daniel Rodrigues

sábado, 14 de março de 2015

Aquisições soteropolitanas

No início deste ano, numa das vezes que fui à Bahia a trabalho, peguei um táxi do aeroporto de Salvador com destino a Feira de Santana com um taxista incomum. Um senhor de uns 50 anos, Sr. Gelson, que adorava e conhecia muito bem música africana (e de vários países: Angola, Congo, Mali, Nigéria, entre outros). Papo vai, papo vem e, além de aprender com ele, fiquei sabendo que em Salvador havia lojas de música que o supriam de parte deste exótico material fonográfico. Guardei a informação para quando retornasse à capital baiana.

Pois, desta vez viajando a passeio por Salvador, descobri uma cidade que respira música – o que, vocês devem imaginar, gerou uma forte identificação a alguém que, como eu, anda ininterruptamente com várias músicas na cabeça durante o dia. E não demorou muito para que o cheiro de loja de discos me atraísse. Em plana Praça da Sé, centrão da cidade, está lá a Planet Music, comandada pelo diletante Ademar, sujeito boa-praça que não poupava em deslacrar qualquer CD e colocá-lo para o cliente escutar, mesmo que fosse pra passar rapidamente cada faixa (atitude quase inimaginável no comércio de Porto Alegre). Pois, seguindo o bom gosto do dono, a Planet Music é rica em títulos e muito bem selecionada, além de os preços serem bem aceitáveis.

Entrei, percorri algumas fileiras enquanto tocava (alto) um axé-music qualquer, corriqueiro por lá. Leocádia entrou em seguida. Até que Ademar, de dedo nervoso, para a música pela metade e troca por nada menos que “Saci Pererê”, da Black Rio. Conquistou-me de vez. Levei junto com esses outros CD’s que aqui comento:





Saci Pererê” – Banda Black Rio (1980): Clássico segundo álbum deste que é dos meus grupos brasileiros preferidos. Além da gostosa faixa-título, presente de Gilberto Gil, tem Aldir e João Bosco (“Profissionalismo É Isso Aí”), Zé Rodrix (“Amor Natural”) e composições dos integrantes da banda. Nem a ausência de Cristovão Bastos nos teclados fez Oberdan e Cia. baixarem a qualidade, que, depois do célebre instrumental "Maria Fumaça", se aventuram nos vocais e mandam muito bem.








Marinheiro Só” – Clementina de Jesus (1973): Produzido por Caetano Veloso e Milton Miranda, é talvez o mais bem acabado trabalho desta negra que alçou ao mundo da música já idosa por providencia de Hermínio Bello de Carvalho, que a descobriu cantando num bar. Toda a ancestralidade antropológica africana pode ser sentida em sambas (“Essa nêga pede mais”, “Madrugada”), maxixes (“Marinheiro Só”) e cantos religiosos (“Taratá”, “5 Cantos Religiosos”).







Nada Como um Dia Após o Outro Dia” – Racionais MC’s (2002): O sucessor de “Sobrevivendo no Inferno” é um disco longo demais (pecado dos duplos), por isso é irregular. Mas inquestionavelmente a banda avançou em estilo e discurso, o que faz com que seus dois volumes, “Chora Agora” e “Ri Depois”, tragam verdadeiras joias do rap e da música nacional no início dos 2000. Espetaculares “Vida Loka” 1 e 2, “Jesus Chorou” e “Vivão e vivendo”. Figura entre os 100 maiores discos da música brasileira da história segundo a Rolling Stone.








Negro é Lindo” – Jorge Ben (1971): Embora o Babulina tenha outros VÁRIOS discos preferidos da discoteca, pois produziu absurdamente bem principalmente do final dos anos 60 até meados de 70, este não fica pra trás, até porque a “cozinha” é do espetacular Trio Mocotó. Traz a poética e sensível "Porque é proibido pisar na grama", a bela canção-homenagem “Cassius Marcellus Clay”, parceria com Toquinho, e aqueles sambas-rock sempre inspirados (“Cigana”, “Comanche” e “Zula”) como só Ben sabe fazer.








Força Bruta” – Jorge Ben (1970): Também com o Trio Mocotó, é o mais experimental trabalho de Ben. Ele, Parahyba, Nereu e Fritz estão soltos e se divertindo ao executar os temas ao vivo no estúdio. Não é dos meus preferidos, até porque Ben tem muito mais discos maravilhosos, mas só por “O telefone tocou novamente” (meu toque de celular!), “Charles Jr.” e “Mulher brasileira” já valia. Ainda por cima, inicia arrasando com “Oba, lá Vem Ela", daqueles começos de disco empolgantes.








O q Faço é Música” – Jards Macalé (1998): Se Cristovão Bastos não estava mais com a Black Rio, aqui seu papel é fundamental. Talvez o grande disco de Macalé – ao menos, o seu mais maduro –, "O Q Faço é Música" já mereceu ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui do Clyblog, feita por Cly Reis. Eu, que gosto um monte também, não me contive e comentei no próprio blog, que está logo abaixo da resenha.












quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A Arte do ClyBlog em 2021

 



Como fazemos, todo início de novo ano, recuperamos alguns dos trabalhos gráficos que ilustraram nosso blog durante o ano anterior, em todas as seções e plataformas, seja em chamadas para redes sociais, comunicação visual, variações do logotipo, ilustrações para postagens, para a seção de arte, etc.
Assim, fiquem então com alguns dos trabalhos da nossa produção artistico-visual do ano que passou:

O logo do blog, pela primeira vez ganhou três dimensões e,
a partir disso, várias novas versões.

Em 2021 completamos 13 anos e o logo de aniversário
brincou com a superstição do número "maldito" com um adorável gatinho preto.
Azar de quem não curtiu nossa semana de aniversário!



E teve bolo para os 13 anos!


O logo do Clyblog também se adaptou para se juntar a causas importantes,
ao longo do ano.


Dos logos das seções, o que mais apresenta variações durante o ano é,
sem dúvida o ClyArt, e aqui dois exemplo de como ele é versátil
e sempre, é claro, muito artístico.


Tivemos chamadas novas inspiradas em cartazes de cinema.


E aqui mais uma. Essa com cara de poster de filme cult europeu.


A nossa seção que mistura futebol e cinema, em confrontos entre filmes,
ganhou algumas novas chamadas e essa, do Trainspotting, foi uma delas.


Outra das chamadas do Clássico é Clássico, aqui usando Indiana Jones.


No ClyArt tivemos algumas incursões no 3D
como nessa escultura digital do Saci Pererê.



Cenário 3D de uma nave espacial, também no nosso ClyArt.


E, para finalizar, uma ilustração feita em homenagem a minha irmã, Karine,
que ilustrou o post comemorativo do Clyart da Semana da Consciência Negra. 








C.R.

sábado, 25 de abril de 2015

Di Melo - "Di Melo" (1975)




Meu som não deixa nada a desejar para o que houve,
há e haverá no mercado musical. 
Digo, repito, atesto e assino embaixo,
sem medo de errar e sem falsa modéstia.
É muito swing, balanço, molho, charme e malemolência,
pois nem Santo Antonio com gancho consegue segurar,
nem o boato ou disse-me-disse de que
eu havia morrido de desastre de moto.
Se esqueceram de uma coisa: que eu sou imorrível!”

Di Melo



Assim como não seria exagero dizer que tudo em Seu Jorge que não é João Nogueira é Carlos Dafé, a mesma comparação dialética serve muito bem para outro ídolo da música brasileira da atualidade: tudo que não é Sabotage em Criolo é Di Melo. A constatação, embora um tanto capciosa, denota o quanto a arte musical de hoje no Brasil anda a reboque daquilo que já foi produzido e, principalmente, o quanto artistas do passado foram, de fato, precursores. No caso de Di Melo, este é pioneiro de muito do que se considera “inovação” na música brasileira de hoje e, novamente em comparação a Criolo, a poética afiada e o ecletismo que se percebem neste último chegam a quase parecer uma cópia.

Todo o pioneirismo de Di Melo está, curiosamente, em apenas um disco, o álbum homônimo produzido por ele em 1975, um marco na história da música pop brasileira. Idolatrado por artistas como Otto, Nação Zumbi, Leo Maia, Simoninha, Max de Castro e Charles Gavin (que, como produtor, o verteu para CD em 2004), “Di Melo” é tomado de lendas para os apreciadores e colecionadores, assim como a própria figura do simpático e bonachão músico pernambucano. Saído de sua Recife natal nos anos 60 para São Paulo, onde gravou este álbum em alto estilo, Roberto de Melo Santos é daqueles músicos cheios de talento e criador de uma única grande obra que, com o passar do tempo, caíram no ostracismo. Porém, como muitas vezes acontece com artistas brasileiros esquecidos no seu próprio país, o retorno de Di Melo à mídia tem a ver com a apreciação que veio de fora. Nos anos 90, seu LP tornou-se sucesso entre DJ’s europeus e teve uma de suas faixas incluída numa coletânea da gravadora norte-americana de jazz Blue Note. O suficiente para a galera tupiniquim voltar correndo para conhecer aquilo que desprezava. Logo “Di Melo” passou a ser valorizado nas lojas de bolachões paulistanas até esgotar e virar raridade no mercado negro, chegando a custar 300 Reais em média um vinil.

Os músicos que participaram de sua gravação dão ao disco uma aura ainda mais épica: contou com uma cozinha com Cláudio Bertrame (baixo), Bolão (sax), Luiz Melo (teclado), Geraldo Vespar (maestro, arranjos e violão), José Briamonte (maestro), Waldemar Marchette (arregimentação) e ainda participações de gente do calibre de Hermeto Paschoal nos arranjos (!) mais Heraldo Dumont, Capitão, Ubirajara (pai do Taiguara) e até de um músico da banda de Astor Piazzola.

Já para com Di Melo, a falácia chegou ao nível de este ser considerado morto após um hipotético acidente de moto. Tudo boato: Di Melo mora no subúrbio de Recife com filha e esposa, vive da venda dos quadros que pinta e, segundo o próprio, tem mais de 400 canções prontinhas para serem gravadas (inclusive parcerias com Geraldo Vandré). Dessas, as que conseguiu pôr no acetato no famoso disco de 1975 são verdadeiras joias da música brasileira moderna, onde demonstra uma versatilidade e um groove de deixar muito medalhão da MPB com inveja.

“Di Melo” começa com a gostosa “Kilariô”, um arrasador jazz-funk com uma pitada caribenha e cuja melodia de voz é daquelas que pegam no ouvido de cara: “Kilariô, raiou o dia/ Eu fiz chover em minha horta/ Ai ai meu Deus do céu, como eu sofri ao ver a natureza morta”. A voz de timbre abençoado de Di Melo, algo entre o tom metálico de Moraes Moreira e a pronúncia aberta de Wilson Simonal, é ainda mais realçada pelo belo sotaque pernambucano (com suas pronúncias “holandesas” do “T” como “Tí” e do “D” como “Dí”). Além disso, Di Melo canta ao estilo dos mestres da soul music norte-americana, mas também referenciando-se em artistas nordestinos como ele, desde o swing de Jackson do Pandeiro até o vocal rasgado de Genival Lacerda.

Em seguida, outra que vem ratificar definitivamente a veia soul: “A vida em seus métodos diz calma“, seu maior sucesso tanto na época quanto na sua “retomada”, visto que foi esta a faixa que os gringos escolheram para a coletânea de “novidades” da Blue Note. A letra, igualmente pegajosa, é um destaque, tanto pela mensagem quanto pela melodia de voz que lhe é empregada: “A vida em seus métodos diz calma/ Vai com calma, você vai chegar/ Se existe desespero é contra a calma, é/ E sem ter calma nada você vai encontrar”. Nesta fica evidente a afinação da banda e a qualidade da produção de Zilmar R. de Araújo. Tudo certo, tudo no lugar: o groove da batida, os timbres, a levada da guitarra, o arranjo dos sopros.

Na sequência, vêm três maravilhas altamente críticas à sociedade moderna e à condição do homem oprimido pela cidade grande, algo que a percepção de nordestino na gigantesca São Paulo ajuda a enxergar com mais clareza. Primeiro, “Aceito tudo”, de poética letra que remete ao modernismo e ao fraseado de um estilo musical que ainda nem existia, o rap, visto seu jeito de cantar e organizar os versos na melodia. Música que lembra muito a maneira de escrever e cantar de Chico Science (até por causa do sotaque) e que provavelmente é tudo o que Criolo sempre quis fazer: espécie de repente moderno marcado na guitarra com letra sacaca e de sinapses ligeiras (Aí eu pensei que ia indo caminhando mas não fui/ para um sonho diferente que se realiza e reproduz/ E pensando fui seguindo num caminho estreito cheio de toco/ Esqueci de lembrar de pensar que todo penso é torto...”). No fim, desemboca em um funk irrepreensível comandado pelos vocais espertos de Di Melo.

A outra é mais uma pérola: "Conformopolis". Mas, peraí: essa melodia é uma... milonga?! Sim, uma milonga, ritmo hispano-ibérico típico do Rio Grande do Sul e dos vizinhos portenhos Uruguai e Argentina. Esta gravação é algo sem precedente dentro da MPB fora dos pagos gaúchos. Não eram os irmãos Ramil, não era Hartlieb, não eram os Almôndegas nem Ellwanger. É um pernambucano em terras paulistanas totalmente sintonizado com a arte musical – pois, afinal, música boa não tem fronteira. Pungente, realista, melancólica: “A cidade acorda e sai pra trabalhar/ Na mesma rotina no mesmo lugar/ Ela então concorda que tem que parar/ Ela não discorda que tem que mudar...”. Das grandes do disco, que já foi motivo de Cotidianas aqui no ClyBlog.

Mais um apelo crítico à vida maquinal e desumanizadora da sociedade moderna, desta vez na balada marcial “Má-lida”. Os versos, confessionais, traduzem através da repetição fonética e de sentenças curtas o deslocamento existencial de um homem no mundo: “Ah! tenho de pouco surrados miúdos malditos/ Fui entrelaçado e já fui casado/ Um tanto inibido/ E pra muita gente sou um depravado.” E completa: “Ah! julgo não ser enxerido nem intrometido/ Tampouco ousado/ É que estou saturado de tanta má-lida/ Mesmo trabalhando como um condenado”. E os arranjos de cordas são preciosos.

E se pensa que as surpresas param por aí, é porque não se tem noção do que vem a seguir. Depois de três exemplos de soul, de uma canção mais contemplativa e de uma surpreendente milonga, Di Melo manda ver um tango! Sim, “Sementes” é um tango, ainda mais platino que “Conformópolis”. É nesta em que toca um dos músicos da banda de Piazzola que Di Melo em entrevista diz não lembrar do nome, mas que, afora esse detalhe importante, dá um show de acordeom. Os versos acompanham a elegância dramática deste estilo musical: “Vai, flor que se mata a espera do amanhã/ Vai, desembaraça teu sorriso a uma irmã/ Vai, que quando passas tu perfumas chão ardente/ Vai, que o tempo atrai de ti sua semente...”.

“Pernalonga” retoma o swing num balanço irresistível, o mesmo com outra ótima do disco: “Minha Estrela”, de letra romântica mas no ritmo chacoalhante da soul. De novo, a voz variante de Di Melo, que vai do som aberto ao aveludado, bem como a pronúncia pernambucana, se sobressai: “Minha estrela/ Girai na noite até o raiar do dia/ Se tiver fossa vem que eu canto a melodia/ Não quero ver o teu sorriso magoado”. O samba-rock “Se o mundo acabasse em mel” pode ser considerado uma "Construção" pop, porém não narra a morte repentina de um trabalhador pobre como no clássico de Chico Buarque, mas sim de um milionário do mundo do business publicitário. “Deu pane no nervo do cérebro/ Taquicardia e reverbério/ Momentos trágicos, instantes sórdidos/ Tombou perplexo em pleno orbe”. Que versos!

Bucólica, “Alma gêmea” começa com um dedilhado de violão a la Bach que marca sua base, acompanhado de acordes de flauta que explicitam a tocante canção. É outra que faz lembrar bastante Moraes e Chico Science, mas também da MPB rural da época. Em “João”, a força melódica e letrística de Di Melo volta com tudo para uma nova análise existencial do homem, um “João” qualquer que vive submerso nas exigências sociais (trabalho, casamento, amigos, lazer) e naquilo que ele deve ou não ser mas que, justamente por isso, faz com que se perca de si como indivíduo. Na alta variedade de ritmos do disco, ele finaliza com um xote. “Indecisão” ainda termina com versos quase proféticos vindos de um artista que conheceria o estrelato e o ostracismo, mas que nunca deixaria de seguir pelo caminho da música: “Tem gente que nasce pra ter e tem gente que vem pra cantar”.

Pode-se tranquilamente colocar “Di Melo” junto a outros grandes álbuns da soul music brasileira como os “Tim Maia Racional”, “Pra que vou recordar o que chorei”, de Dafé, ou “Saci Pererê”, da Black Rio. Esse sentimento é compartilhado por vários apreciadores desta obra, o que pode ser visto no bom curta documentário “Di Melo, O imorrível”, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro, realizado em 2011 e que retrata a vida do compositor hoje, relembrando histórias, coletando depoimentos de fãs e amigos e mostrando sua ainda tímida volta aos palcos. Oxalá Di Melo possa tornar a gravar e, quem sabe, fazer o sucesso que lhe é cabido. Para quem já foi dado como morto e que, de certa forma realmente “reviveu”, nada é tão improvável assim. Certo é que sua obra, mesmo passados tantos anos (40 anos), segue sendo cada vez mais admirada. E, afinal, como Di Melo diz de si próprio: “Para o imorrível nada é impodível”.
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 documentário “DI MELO, O IMORRÍVEL”

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FAIXAS:
1. Kilariô
2. A vida em seus métodos diz calma
3. Aceito tudo (Vidal França - Vithal)
4. Conformópolis (Waldir Wanderley da Fonseca)
5. Má-lida
6. Sementes
7. Pernalonga
8. Minha estrela
9. Se o mundo acabasse em mel
10. Alma gêmea
11. João (Maria Cristina Barrionuevo)
12. Indecisão (Terrinha)

todas composições de Di Melo, exceto indicadas.

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Ouça o disco: