sexta-feira, 3 de abril de 2009
O melhor Inter de todos os tempos
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
O Jogo da Sua Vida #1 - Internacional 2 (3) x Olimpia 3 (5) (1989)
Eram mais de três mil.
Nunca vi tanta gente permanecer no estádio depois de um jogo.
Bom, na verdade já vi. Em vitórias. Vi muitas no Gigante.
Mas em uma derrota???
Aquelas criaturas lá pareciam simplesmente não acreditar no que acabara de acontecer.
Uns cabisbaixos, uns chorando, outros atônitos, outros impassíveis, outros olhando para o gramado vazio como se a qualquer momento os times fossem retornar a campo e continuar a partida nos dando mais uma chance. Esperando talvez que os alto-falantes anunciassem que tudo o que tinha acontecido até aquele momento não passava de uma brincadeira e que o jogo mesmo começaria naquele instante. Esperando que... Esperando, talvez, simplesmente acordar. Pois aquilo só podia ter sido um sonho. Um sonho ruim.
O sonho do Sport Club Internacional de conquistar uma Libertadores da América era antigo. Embora tivéssemos participado da competição antes que o nosso tradicional rival, tendo inclusive chegado a uma final antes deles, o co-irmão da Azenha havia tido uma melhor sorte e conquistado a Taça em 1983. Mas naquele 1989, depois de ter obtido a vaga na competição sul-americana num épico confronto com o rival, no jogo apelidado de "GreNal do Século", seguido, no entanto, de uma decepcionante derrota na final do brasileiro que coroaria o triunfo, mesmo com um primeira fase um tanto claudicante, nas eliminatórias nossas esperanças pareciam começar a tomar forma daquele tão almejado título, do qual os torcedores rivais tanto se gabavam de ter conquistado.
O pênalti batido por Nílson, durante o jogo, na foto do jornal Zero-Hora, do dia seguinte |
Ninguém segurava aquele time!
Tínhamos um centroavante matador que decidira o GreNal do Século, um uruguaio que nunca falhava e, nada mais nad menos que, o melhor goleiro do Brasil.
Iríamos à semifinal contra o Olimpia do Paraguai, adversário difícil, sim, mas nada que nos metesse medo. Tinham um centroavante bem conceituado, um tal de Amarilla, tinham a tal garra porteña, mas por outro lado, tinham um goleiro baixo, velho e meio acima do peso, o tal de Almeida.
Se nossa confiança já estava lá nas nuvens depois da goleada contra os uruguaios, o primeiro jogo contra o Olimpia em Assunción, parecia nos dar uma certeza: estávamos na final.
Vencemos os paraguaios na casa deles com um golaço de bicicleta. E mais: sem grandes riscos, com uma partida segura, uma boa atuação. Nada podia nos tirar aquela vaga e na final... Na final, viesse quem viesse, nós trucidaríamos.
E veio o jogo da volta. Naquele 17 de maio de 1989, todos os colorados queriam estar no Beira-Rio aquela noite. Eu fui um dos 70 mil que conseguiram isso.
Já na chegada, o clima de festa era tanto que um vendedor de lanches anunciava o 'cachorro-quente Amarilla'. Era aquilo: iríamos devorar o Amarilla e seu timezinho paraguaio. O empate servia mas queríamos golear como fizéramos contra o aurinegro uruguaio. E se já havíamos feito 1x0 fora de casa, e com um gol de bicicleta, no nosso estádio faríamos 4, 5, de letra, de lençol, de sem-pulo, de todas as maneiras possíveis.
Mas esta não foi a realidade do jogo.
Não tardou muito para o Olimpia, com Mendoza, fazer seu primeiro gol e desfazer nossa vantagem. O placar de Assunción tinha ido pro espaço e agora éramos nós que tínhamos que buscar o resultado. Felizmente, também não muito tarde, nosso volante Dacroce empatava. Era nosso, de novo!
Mas o Olimpia era bravo e ninguém menos que ele, aquele que engoliríamos como um hot-dog, colocaria o adversário em vantagem. Gol dele: Amarilla. E os portenhos viraram o intervalo em vantagem. Não seria a facilidade que imaginávamos. àquelas alturas já nos dávamos por satisfeitos com um empatezinho e olhe lá.
Veio o segundo tempo e veio o gol do empate: Luís Fernando, o baixinho que havia feito o golaço em Assunción. Parecia um bom prenúncio! Sim, era um bom prenúncio pois logo depois viria um pênalti a favor do Internacional. Pronto! A sorte voltava a brilhar para o nosso lado. E quem bateria o penal? Ele, Nílson, o matador do GreNal do Século. E Nílson perdeu. Nas mãos do gordinho Almeida.
Mas tudo bem... 2x2 ainda era nosso. Estávamos na final.
Não. Num chute de fora da área do bom meia Neffa, a bola batia num defensor, enganava Taffarel e morria no fundo das redes. Havia pouco tempo para reagir e, de mais a mais, o time já se desestruturara tática e psicologicamente. Tivéramos por três vezes a vantagem (0x0, 1x1, 2x2) e um pênalti a favor. Eles chegavam mais confiantes para a decisão.
Restava ir para os pênaltis, e sorte que na época o regulamento não previa gol qualificado, senão não teríamos nem aquela esperança. E nossa esperança numa decisão por penais tinha um nome: Taffarel. Goleiro de Seleção Brasileira, exímio pegador de pênaltis, mas naquela noite não.
Dois dos nosso jogadores perderam, eles fizeram todos, inclusive do goleiro gordo, velho e baixinho deles que bateu um. Mas coube a Amarilla cravar o último prego no caixão. Gol do Olimpia. A bola nas redes os jogadores do Olimpia correndo para comemorar, o fim do sonho, um silêncio mortal como poucas vezes se ouviu num estádio de futebol.
Eu olhava em volta e via que daqueles 70 mil que estiveram ali, muitos permaneciam. Ninguém acreditava no que acabara de acontecer.
Do meu lado, meu amigo, chorava com a cabeça baixa entre as pernas, abraçado bandeira do clube, um outro simplesmente olhava para o vazio, um outro mais revoltado xingava, outros simplesmente não tinham coragem de voltar pra casa, outros esperavam... esperavam por um milagre, por uma boa notícia, esperavam que o juiz tivesse contado errado e tivéssemos mais um pênalti para bater mantendo viva a esperança por mais alguns instantes que fosse. Esperavam talvez que o presidente da Confederação pudesse entrar em campo para anunciar que a partida havia sido anulada e que o jogo seria disputado novamente. Esperávamos simplesmente acordar. Pois aquilo só podia ter sido um sonho. Um pesadelo.
Felizmente depois disso já presenciei glórias fantásticas dentro do Beira-Rio e já fiquei depois dos jogos por horas fazendo festa, esperando voltas olímpicas, cantando e tudo mais. Mas aí foram vitórias.
Mas em uma derrota... nunca vi tanta gente permanecer no estádio depois de um jogo.
Eram mais de três mil.
Cly Reis
(torcedor do Internacional)
quinta-feira, 15 de maio de 2014
O Jogo da Sua Vida #4 - Grêmio 0 x Flamengo 0 (1989)
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Jorge Ben - "Camisa 10 da Gávea"
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Era uma vez na América (ou melhor, DUAS vezes)
Quando os mexicanos do Chivas fizeram o primeiro gol do jogo aquele filme de terror me veio à cabeça. E eu lá de novo. Seria EU o culpado? Teria, EU, me desbarrancado do Rio de Janeiro a Porto Alegre, sem ingresso na mão, desembarcando 4 horas antes do jogo, conseguido incrivelmente a tal entrada, tudo isso para EU dar azar pro eu time? (Torcedor pensa cada coisa, não?) Mas por certo não fui só eu. Outros devem ter pensado que aquilo estava acontecendo porque não usaram a mesma cueca, não conseguiram sentar no mesmo lugar no estádio, porque não seguiram determinados rituais, ou sabe-se lá mais o que; mas de todos estes não sei quantos ali haviam presenciado a maior "tragédia" do Beira-Rio. E eu estava lá.
Nunca vira tanta gente permanecer no estádio depois do jogo por causa de uma derrota. Havia naquele dia 70 mil pessoas no Beira-Rio; imagino que umas 5 mil permaneceram sentadas, chorando, olhando pro vazio, sem acreditar, pedindo uma nova chance ao tempo como se ele pudesse retroceder, esperando que o juiz voltasse a campo e anunciasse que o Olímpia estava eliminado por... por... por qualquer motivo, sei lá. MAS NÃO ACONTECEU.
Os rivais tricolores, na época brincavam "sabe qual o maior circo do mundo? o Beira-Rio: tinha 70 mil palhaços lá dentro, ontem. hahaha", "por que que o colorado foi na padaria? comprar sonho, mas o sonho acabou hahaha"). E com um belo time, com uma grande campanha, com uma perspectiva de final mais fácil que a semi, fomos eliminados e naquele momento o sonho estava destruído.
O gol do Chivas foi aos 41 minutos. Pelos minutos restantes do primeiro-tempo fiquei gelado repassando tudo isso.Não! Não podia acontecer de novo. E NÃO ACONTECEU.
Desta vez a justiça de um futebol superior, de uma vantagem construída com uma atuação fantástica no jogo de ida, de jogadores com caráter, de um time determinado, de uma torcida empolgante, foi confirmada.
A partir do momento que o time controlou os nervos, botou a bola no chão, bateu no peito e disse "quem manda aqui sou eu", não teve pra ninguém e a vitória acabou vindo de maneira bem natural. O bom futebol voltou e foram 3 gols em 45 minutos. Eles até fizeram mais unzinho mas... e daí? Ninguém nem viu aquilo direito. Nuca vi tanta gente permanecer no estádio por tanto tempo depois do jogo por conta de um título. Havia umas 60 mil pessoas no estádio e as 60 mil permaneceram ali em pé, vibrando, gritando, chorando, comemorando. Venceu o melhor e felizmente o melhor é o meu INTERNACIONAL. E então, com minha camisa vermelha, mas sem cachaça na mão porque são proibidas bedidas alcoólicas dentro do estádio, fiz a festa no Gigante que só me esperava para começá-la.
E agora, definitivamente o fantasma do Olímpia, o de 89, as almas-penadas do goleiro Almeida e do centroavante Amarilla, foram embora. Nunca mais terei medo de fantasmas!
quarta-feira, 1 de abril de 2009
100 anos do Sport Club Internacional
Ficou tudo escuro nos Eucaliptos no último ato da velha cancha naquele entrevado ano brasileiro de 1969. Em 14 de dezembro de 1975, a tarde de Porto Alegre estava cinza. Até um raio de sol iluminar a grande área onde o ainda maior Figueroa subiu para anotar o gol do primeiro dos três Brasileiros da glória do desporto nacional naqueles anos 70. O maior time do país em uma das nossas melhores décadas. O melhor campeão brasileiro por aproveitamento, no bicampeonato, em 1976. O único campeão invicto nacional, em 1979.
0 Internacional centenário. O clube da família italiana Poppe que deixou São Paulo para fazer a vida em Porto Alegre, em 1909. Tentaram jogar bola no clube alemão – não deixaram. Tentaram jogar tênis, remar, dar tiro – não deixaram. Então, juntaram um time de estudantes e comerciários para fazer um clube que deixasse entrar gente de todas as cores e credos. Dois negros assinaram a ata. O primeiro “colored” da Liga da Canela Preta (Dirceu Alves) atuou pelo clube em 1925, enquanto o rival só foi aceitar um negro em 1952 – justamente o Tesourinha, glória gaudéria nos anos 40, na década do Rolo Compressor que durou 11 anos, e dez títulos estaduais.
Inter que ergueu estádios com o torcedor que vestiu a camisa, arregaçou as mangas, e construiu arquibancadas de cimento armado e amado. Inter que apagou as luzes dos Eucaliptos para acender um gigante no Beira-Rio e ascender aos maiores lugares de pódios brasileiros, sul-americanos e mundiais. Superando potências e preconceitos, fincando a bandeira colorada da terra gaúcha no gramado do outro lado da Terra, vencendo um gaúcho genial como Ronaldinho e um Barcelona invencível aos olhos da bola.
Mas quem ousa duvidar da pelota que peleia? Dizem que o futebol gaúcho só é duro, só é viril. Diz quem não viu o Inter de Minelli, fortaleza técnica, tática e física. O Rolo inovador no preparo atlético e no apetite por gols. O futebol que ganhou o mundo em 2006 marcando como gaúcho, e contra-atacando como o alagoano Gabiru. Campeão com gringos como Figueroa, Villalba, Benítez, Ruben Páz, Gamarra, Guiñazú e D’Alessandro, com forasteiros como Fernandão, Valdomiro, Manga, Falcão, Bodinho, Dario, Larry, Lúcio, Nilmar, Mário Sérgio, gaúchos como Tesourinha, Carlitos, Oreco, Nena, Taffarel, Carpegiani, Chinesinho, Batista, Mauro Galvão, Dunga, Flávio, Paulinho, Claudiomiro, Jair.
Tantos de todos. Nada mais internacional. Poucos como o Internacional centenário. Aquele time de excluídos que, em 100 anos, hoje tem o sétimo maior número de sócios do planeta. São mais de 83 mil que têm mais que uma carteirinha. Eles têm um clube para amar que não depende de documento. Números e nomes não sabem contar o que uma bandeira vermelha pode fazer à sombra de um eucalipto. Uma bandeira vermelha pode ensolarar um estádio apagado, uma tarde cinzenta, e o mundo na terra do Sol Nascente. Aquele que iluminou Figueroa, aquele que inspirou Gabiru, aquele que neste 4 de abril vai nascer mais vermelho.
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
Dale, D'Ale!
Um destes personagens essenciais é Andrés D’Alessandro.
É estranho o sentimento de quando um mito sai de cena. É quase uma sensação de morte. Na verdade, é um pouco isso. Quando Fernandão morreu, naquele trágico acidente em 2014, o primeiro sentimento a que meu coração sofrido recorreu foi o de dizer a mim mesmo: “Pelo menos, ainda temos o D’Ale”. Sei que muito colorado pensou o mesmo. Àquelas alturas, o gringo já era um ídolo bicampeão da América, mas o que talvez a minha dor não tenha conseguido captar com a devida quietação daquela hora de perda foi que, justamente, esse é o ciclo da vida. Que abarca também a morte, e que o caminho só existe porque há os atores desta transformação, que seguem-lhe dando continuidade. Presente e passado.
A história escrita jamais se apaga. O que quer dizer, infelizmente, que apenas uma parte disso temos oportunidade de presenciar. Não vi, por óbvio, Larry fazer quatro gols num Gre-Nal de inauguração do Estádio Olímpico, em 1954, nem mesmo meu tio Adãozinho no Rolinho dos anos 50. Não vi a construção do Beira-Rio, edificado tijolo a tijolo pelos próprios torcedores como meu pai nos anos 60. Não vi o octa gaúcho, não vi o supertime de 1979, que ganhava aquele Brasileirão invicto um ano depois de meu nascimento. Não vi o Inter anular Maradona na Juan Gamper de 1982, não vi Geraldão meter três no arquirrival naquele mesmo ano após prometê-los e cumpri-los um a um.
D’Alessandro, porém, eu vi. Desde a sua primeira partida no Inter, num Gre-Nal de empate com sabor de vitória, em 13 de agosto de 2008, até a última vez que pisou no gramado sagrado do Beira-Rio, a 19 de dezembro deste 2020, mesmo com as atribulações do dia a dia, praticamente não perdi essa trajetória de 12 anos, 13 títulos, 93 gols e mais de 500 jogos pelo Inter, seja assistindo, seja apenas ouvindo. E o fiz tanto no conforto do lar quanto em situações não tão convidativas, como empolados congressos médicos ou cerimônias de formatura. Todos atent os ao evento e eu com meu fonezinho no ouvido quase tendo um treco.
E D’Ale, imprescindível, estava lá quase invariavelmente. Posso dizer que ele é um dos grandes responsáveis por algumas das maiores alegrias e tristezas da minha vida – e não me refiro somente a títulos ou decisões, mas a qualquer simples rodada de meio ou de fim de semana.
Vão-se, contudo, os gols de encher os olhos. Vão-se as jogadas de habilidade. Vão-se as faltas precisas. Vão-se as aporrinhações no ouvido do juiz. Vão-se as cobranças de escanteio decisivas. Vão-se as arrumações na braçadeira de capitão durante o jogo. Vão-se as previsíveis mas infalíveis "la bobas". Vão-se as assistências geniais. Vão-se as resenhas que irritam os adversários. Vai-se a liderança, o boleiro, o cidadão, o peladeiro, a referência. Presente que se confunde com passado.
A palavra "dale", que a torcida largamente usa ao reverenciá-lo, traduzida quer dizer "continue". E não é bem isso que D'Ale fez com nosso "passado alvirrubro"? O nosso presente diz tudo. Prefiro, no entanto, esquecer a tradução e dizer mesmo em castelhano. Fora a combinação linguística, soa mais como exaltação e menos como um pedido. Disfarça melhor.
A gratidão a D'Ale é igual a agradecer aos ídolos do passado pela história deste Inter que construíram desde os primeiros treinos na Ilhota, passando pela Chácara dos Eucaliptos e chegando ao templo antigo e do novo do Gigante. Eles, como os torcedores, são a mesma coisa. São o Inter. Corre-lhes às veias o mesmo sangue, vermelho como a cor da nossa camisa. Vermelho como o sangue que faz pulsar nosso coração, aquele que bate bem onde está nosso emblema.
Gratidão, D’Ale. Continuarás para sempre. Se hoje teu presente já é passado, teu passado sempre será presente. E diz tudo.
Teaser do documentário "D'Ale para Sempre"
Daniel Rodrigues