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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Na terra de "Dios"


Na Argentina, a exemplo do Brasil, também se respira futebol. Ainda mais em ano de Copa. Assim como aqui, as ruas está tomadas de camisetas da seleção, outdoors com as caras dos craques e a TV passando incessantes propagandas, promoções e programas sobre as Copas. Televisão que incrivelmente consegue ter mais futebol ao vivo do que a brasileira. Quase que incessantemente em dia de jogo: tem o jogo das 14h, o das 16h, o das 18h e o das 20h, e, depois de tudo isso ainda tem as resenhas esportivas e as mesas redondas. Puxa! Nos venceram!

Na bola, normalmente não nos vencem mas têm aquela mania de superioridade em relação ao futebol brasileiro, mas também tenho que admitir que, de um modo geral, com as pessoas que falei, guardam um grande respeito e não ignoram quem tem cinco estrelinhas na camisa.

Conversando com um motorista de táxi sobre futebol, que aliás é uma coisa indispensável e divertida, ele me revelava sua grande admiração pelo futebol brasileiro, pelo escrete de 70 (para ele inigualável ) e por Ronaldinho Gaúcho que considera um exemplo de futebol arte. E não só por isso: nas ruas tem outdoors com a foto do Kaká e a TV passa documentários do Brasil penta com reverências aos grandes selecionados e seus craques. Eles são pretensiosos, ambiciosos mas não tão burros. Reconhecem a qualidade.

Ao lado, os bonecos de Maradona, Evita e  Gardel,
no bairro da Boca.
Agora, que lá Maradona é Deus, isso é mesmo. Tem Maradona em tudo quanto é lugar. As lojas de souvenirs tem camisetas com a cara do Dieguito e com frases polêmicas dele; miniaturas do cara em lojas de bibelôs; lojas de artigos esportivos dividem a 10 entre o atual, Messi e o eterno, Maradona; nas ruas há grafites com o rosto de Dom Diego e principalmente no bairro da Boca, há bonecos dele nas calçadas, nas varandas, nos restaurantes. Podem até admirar o futebol brasileiro, mas para eles, Deus só tem um e não está no céu. Está, atualmente dirigindo a seleção argentina.

Fiquei também positivamente surpreso com o cartaz e prestígio que o meu time, o Internacional, voltou a ter no exterior, no outro país de maior expressividade futebolística do continente. Lá, todos lembram do Inter principalmente por causa dos portenhos que atualmente vestem a camisa colorada, como Abbondanzieri e D’Alessandro, mas não apenas por isso; há um respeito em relação à grandeza e dificuldade que é jogar contra o Colorado gaúcho. Falando com alguns argentinos, referiram o Beira-Rio como um lugar dificílimo de jogar, onde o Banfield (que nos vencera na partida de ida da L.A.) não agüentaria a pressão no jogo de volta. Um deles, torcedor do Boca, disse mesmo ver na casa colorada tanta pressão quanto a Bombonera e que lá não teríamos dificuldade de derrotar um time pequeno como o Banfield. O próprio site do jornal Olé, a mais prestigiada pubicação esportiva daquele país, já havia se manifestado quanto a isso quando da vitória do Internacional sobre o Emelec, dizendo que lá é “um lugar tão difícil de jogar quanto a Bombonera”. Por acaso, comprovando mais ainda este respeito-temor-restrição, visitando o mítico estádio do Boca Juniors, no início do percurso quando a guia perguntava os times dos brasileiros que ali conheciam o estádio, todos se manifestaram com os seus: três rubro-negros daqui, um atleticano ali, um pontepretano e eu, de camisa vermelha me apresentei “Internacional”, ao que a guia do estádio respondeu brincando “Não, não. não são bem-vindos.” Fui depois, em uma área menos tumultuada, perguntar, ainda que já imaginasse a reposta, o porquê da repulsa e ela me disse que não tinha boas lembranças e que não queria nem lembrar da Sul-Americana. Gostei daquilo. É a retomada de um nome internacional que meu clube havia deixado se perder nos anos 80 e 90 e que com as conquistas e bravos enfrentamentos continentais, acabou recuperando.
Assistindo ao jogo do Inter
na Libertadores no bar
Loucos por Futebol.

Só espero que tudo isso se confirme nesta quinta-feira quando precisaremos vencer os argentinos do Banfield por 2x0. Que o Banfiled se assuste com a pressão, que o clube confirme toda esta grandeza, que o Beira-Rio grite alto e que mostre ser tão terrível quanto a Bombonera.


(vendo o jogo do Inter na Libertadores no Bar Loucos por Fútbol)







LA BOMBONERA

Por falar neste legendário estádio, este era um passeio que queria muito fazer em Buenos Aires e felizmente realizei. Conheci o tão temido estádio do Boca Juniors onde torcidas adversárias ficam espremidas e times adversários temem pela pressão.
O estádio é velho, comum se não fosse por sua mística. Escadarias e corredores estreitos, sala de imprensa pequena, vestiário modesto, mas com uma certa imponência por conta de suas arquibancadas altas.
Logo na entrada tem um museu muito legal com monitores passando imagens dos títulos do clube, telão de 360°, as camisetas históricas, o hall da fama com todos os jogadores que já vestiram a camiseta xenaize e, lógico os troféus das glórias dos "azul y oro".
Ainda sobre o estádio, não deve ser pra menos que os visitantes tremam lá: a torcida fica muito perto! Deve ser mesmo um terror jogar ali. Do lado das tribunas então, é praticamente vertical sobre o campo. E atrás dos gols onde ficam as barras bravas, então? Nossa! E deve ser atordoante e ameaçador passar pelos corredores que levam aos vestiários com a torcida gritando ali em cima!!! E olha só  (ao lado) a distância que fica o torcedor de quem vai cobrar um escanteio. Imagina você ali e o cara te xingando a cada escanteio que você for cobrar e jurando "tu vas a morir, tu vas a morir". Não dá pra jogar tranquilo!

 
 
 
 
 
 
 
Confira aí outros cliques da Bombonera:
 
a fachada externa do estádio


o acesso aos vestiários


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O museu do Boca Jrs. Acima, os monitores com imagens dos títulos e a sala de troféus e abaixo, o hall da fama com destaque para Maradona que jogou no clube em 1980.
 



e as grandes glórias do clube: 6 Libertadores e 3 Mundiais

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Coluna dEle #18


Só por causa da Copa, o Cara me fica mais de um mês sem mandar um post.
Tá foda, hein!
Tá cada vez mais insustentável manter o espaço dEle no blog.
(Que Ele mesmo me dê paciência pra agüentá-lo.)
Mas, então tá...Dessa vez passa. Já que já escreveu mesmo, aí vai a Coluna dEle.

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Tô na área, galera, se derrubar é pênalti. Hehehe! Por falar em pênalti, o que esses juízes erraram nessa Copa não foi brincadeira! O que foi aquele gol da Inglaterra??? Quase meio metro pra dentro!!! E o impedimento do Tevez??? Tá de palhaçada que não viu aquilo!!! Tá certo que tem coisas que só Eu consigo ver porque são, ali, no detalhe e tal, e afinal de contas Eu sou Eu, mas essas aí TODO MUNDO viu.
Tem que botar mesmo tecnologia no futebol, cara! Eu tento ajudar os caras a enxergar, a marcar certo mas tem uns que, cá entre nós, até sei que realmente não enxergam muito bem, uns são meio distraídos, outros são ruins mesmo. Agora, mas tem outros aí, que eu sei, e posso assegurar, que são mesmo mal intencionados, mesmo. Aí, ó, só com uma tevezinha na beira do campo pra derrubar essa ladroagem. E além do mais tem que parar essa coisa de o juiz ser a autoridade máxima, decisor supremo, que só vale a decisão dele e ponto final, afinal de contas, o árbitro não é Eu.

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E a propóstio de querer ser Deus, o Dieguito foi um personagem à parte, não?
Tá certo que tem o Messi no time, que às vezes faz coisas que até Eu duvido, mas desorganizado daquele jeito, aquele time não podia ir muito longe. Com um “treinero” que nem Maradona, nem Eu podia fazer milagre pra eles ganharem copa ou qualquer coisa. E não adiantava nem ficar fazendo aquele monte de sinal-da-cruz pra mim o tempo todo que não ia adiantar nada. Eu fiquei foi cansado de ser invocado toda hora.
A bolinha do time dele até deu pro gasto contra uns pobres coitados, mas foi só pegar alguém que jogasse um pouquinho mais que caiu a casa. Mas é isso aí Maradona: tu como técnico foi um excelente jogador. Mas só isso: UM EXCELENTE JOGADOR! Nada que não justifique a tua pretensão de ser Eu (ainda que eu tenha que admitir que nem Eu faria aquele gol contra a Inglaterra em 86).

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E ainda no embalo de Copa e falando em treinador novato, o caso do Dunga foi mas ou menos o mesmo. Só que aí foi mais grave, porque de tanto receber pedidos pr'a gente... quer dizer pro Brasil ser campeão, dei pra ele uns reforços de última hora pra garantir o caneco e o cara não aproveitou. Deixei o Ganso e o Neymar tinindo, metendo gol, driblando todo mundo, prontinhos, e disse “é só convocar os meninos”. Ele, teimoso, não levou os garotos. Deu no que deu.
Eu fiz o que pude.
Dou pra ele o Hernanes e ele leva o Felipe Mello. Paciência! Depois vem dizer que Eu não ajudei.
(sei que o blogueiro, que defende o Dunga, discorda quanto aos Meninos da Vila, mas, sinceramente, eu tô me lixando pro que ese cara pensa)

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Agora, o que também não ajudou ninguém foi aquela bola!
Cruzes... , ôpa, digo, Nossa!!! (o JC não gosta que fale cruzes porque não traz boas lembranças pra ele)
Nossa!!!
Os caras chutavam prum lado e a tal Jabulani ia pro outro. Loucura!
O pessoal, aqui em cima, vendo que a coisa tava estranha tentou ajustar o vento, a pressão atmosférica, a resistência do ar, pra adaptar às manias daquela da bola, pra ver se a coisa normalizavak mas nem isso adiantou. Nunca vi bola assim!
Mesmo assim a galera aqui de cima comprou uma aqui pra jogar nas peladas. Aí cheguei à conclusão que aí embaixo era só choradeira de quem não sabe chutar. O Didi, o "Príncipe Etíope" na primeira falta que teve, na frente da área, tacou-lhe uma folha seca que a tal Jabulani foi morrer lá no ninho da coruja. E olha que era o Yashin quem tava no gol!
Pra quem sabe não tem essa de bola boa ou ruim.

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Mas na boa, ainda bem que acabou a tal Copa. É que o meu guri, o JC, comprou o tal do álbum, e a patroa ficava folheando e dando sua avaliação nada técnica sobre os jogadores, tipo, "esse é gato", "aquele é bonitinho", "fulano tem umas coxas"... Ah, peraí um pouquinho! Vam’ se respeitar. Copa pra mulher só serve pra isso mesmo. Futebol que é bom, nada.
E o pior é que, não sei como, por incrível que pareça, sem sacvar bulhufas do negócio, foi Ela quem ganhou o bolão lá em casa. Nem Eu tenho explicação!

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Mas no caso da Espanha, depois que o Brasil saiu, Eu resolvi dar uma chance pros caras. Faz tempo que eles vão cheios de confiança, chegam pertinho e cablum... levam um tombo. Mas vocês não sabem, às vezes, o quanto me dá trabalho fazer as coisas acontecerem. Se Eu não dou uma forcinha daquela bola contra o Paraguai entrar, depois de bater três vezes na trave. Se fosse pros pênaltis eu não teria como garantir. Aí é loteria.

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Acabou a Copa, agora é hora de voltar ao trabalho. Tenho um Mundo pra cuidar e vocês não imaginam o quanto vocês me dão trabalho, crianças. Além do mais tem uma pilha de papéis na minha mesa e um monte de coisas atrasadas que não fiz no útlimo mês porque tava na frente da TV vendo jogo.
Té +
Fiquem Comigo e que Eu os abençoe!

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Súplicas, desejos, orações, reclamações, xingamentos e sugestões para
god@voxdei.gov

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Coluna dEle #15 - Revelações 2010


Galera, Comigo não tem dessas de previsão, tarô, búzios, numerologia, até porque Eu não preciso disso. Eu SEI o que vai acontecer e vou, aqui neste prestigiadíssimo blog revelar a vocês os acontecimentos do ano que recém se inicia:

REVELAÇÕES 2010
  • Não é querer ser urubuzento mas tenho que contar a vocês que em 2010 vão rolar aí umas catástrofes naturais matando neguinho adoidado. Tsunamis na Indonésia, terremotos no Japão e enchentes aí no Brasil;
  • Também não posso deixar de lhes contar que outro avião vai cair e a tripulação inteira vai morrer. Outras aeronaves também vão pro chão (e pra água) mas teremos variações: em alguns casos morrerá a metade, em outros casos só um ou dois e em outros Eu intercederei e vai sair todo mundo na boa;
  • Também teremos terroristas, mas que não terão sucesso em aviões. No entanto, haverá um atentado suicida matando civis cuja autoria será reivindicada pelo Al-Qaeda;
  • Fãs, preparem-se porque vou trazer pra cá pra cima um grande nome da música, mas não revelarei agora pra vocês não saírem comprando discos que nem loucos;
  • Em compensação uma grande banda vai se reunir pra uma turnê e vai se apresentar na América do Sul, inclusive no Brasil. Só vou avisando que é só caça-níqueis, viu. Eles estão todos duros e vão desembarcar aí porque sabem que vocês ainda pagam pra ver. Mas... vai quem quer.
  • Também vem aqui pra cima um grande nome do cinema. Todos lamentarão mas vão acabar concordando que já estava na hora. A vantagem é que os canais de TV e as salas de cinema vão fazer ciclos especiais;
  • No BBB a Globo vai manipular de novo o resultado do troço mas vocês vão acreditar que deu o que vocês queriam. No fim das contas AFIRMO, com certeza que pelo menos uma paticipante gostosa vai posar nua para a Playboy;
  • Em ano de Copa do Mundo, como o que mais recebo são preces, orações, e-mails, bilhetes, scraps pedindo pro Brasil ser campeão vou lhes contar o que vai acontecer: A Seleção terá dificuldades no primeiro jogo por nervosismo mas vai ganhar, depois melhora e passa com alguma facilidade pela primeira fase; terá um confronto dificil nas 8as. ou nas 4as. mas posso assegurar que é uma das favoritas ao título. Mais que isso não posso dizer. Já Me "acusam" de ser brasileiro, imagina se Eu adianto alguma coisa mais concreta;
  • A propósito de futebol, aí do Brasil, um clube de São Paulo ganhará uma das competições nacionais e no Campeonato Brasileiro com certeza um dos gaúchos será vice e pelo menos um carioca brigará pra não cair. É batata!;
  • Ainda no mundo da bola, um craque revelação do futebol brasileiro será vendido para o exterior por cifras que parecerão grande coisa para vocês mas que não farão nem "cosquinhas" no bolso dos europeus. Por conta da saída de jogadores na "janela" de transferências comentariastas chatos vão lamentar o baixo nível técnico do futebol nacional e blablablablablá;
  • E quanto à outra paixão da galera aí no Brasil, o Carnaval; no Rio, debaixo de muita chuva a Beija-Flor vai ganhar (de novo). É, não posso fazer nada. E na Bahia, Ivete Sangalo pulará uma semana inteira, sem dormir, em todos os trios-elétricos possíveis, só parando pra dar de mamar à sua cria, isso se parar;
E ainda:
  • Explodirá mais um grande escândalo financeiro na esfera política brasileira;
  • Lula vai continuar falando besteira mas sua popularidade vai continuar alta;
  • Caetano dará uma declaração polêmica;
  • Pelé terá um desentendimento verbal com Maradona;
  • Não será este ano ainda que um filme brasileiro ganhará o Oscar de Filme Estrangeiro;
  • O verão vai ser de muuuuito calor;
  • A Coréia do Norte vai cotinuar, sim, fazendo testes nucleares;
  • Os EUA não vão arredar mesmo o pé do Iraque;
  • E, não tem jeito, Israelenses e Palestinos vão continuar se matando.
Espero não ter feito o ano perder a graça. Fiz?

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Depois disso tudo, quem tiver dúvidas, perguntas, questões, interpelações, medos, temores, desesperos,
manifeste-se pelo e-mail: god@voxdei.gov

Que Eu lhes abencôe e fiquem Comigo.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

"Hachiko Monogatari", de Seijirô Kôyaman (1987) vs. "Sempre a Seu Lado", de Lasse Hallström (2009)




Pelé e Coutinho, Bebeto e Romário, Assis e Washington, Gullit e Van Basten, Maradona e Careca... Duplas perfeitas, companheiros feitos um para o outro, parceiros que se conheciam só pelo olhar. Assim como essas duplas lendárias do futebol, no universo do cinema, uma delas também encantou o público e produziu alguns momentos mágicos e inesquecíveis: Hachi e o Professor (seja o de agronomia da versão original, ou o de música, da refilmagem americana). Embora não sejam exatamente uma dupla de ataque, como as mencionadas acima, uma vez que nenhum dos dois, com seus temperamentos dóceis e cordatos, jamais atacariam alguém, a comparação se justifica pelo entrosamento e pela sintonia entre os dois.
Embora a história seja um pouco diferente em alguns pontos, tanto em "Hachiko Monogatari", de 1987, quanto em "Sempre a Seu Lado", de 2009, o que acontece é que um professor universitário adota um cão da raça akita e entre eles se desenvolve uma amizade acima de qualquer barreira. Qualquer barreira, mesmo! Até mesmo da morte, uma vez que, mesmo depois que o dono morre, durante um aula, Hachi continua o esperando na estação de trem, que foi o último lugar onde vira o amigo, embarcando no trem para lecionar em outra cidade. A diferença fundamental entre as versões, está no fato que, no primeiro, o cão é dado ao professor Uono, como um presente, e, no remake, ele é encontrado pelo professor Parker, por acaso, na estação de trem, perdido de sua carga original que iria para outra cidade.
Ainda que o filme original seja mais fiel à história verídica do cão fiel e seu dono falecido, ocorrida nos anos 1920, na cidade de Shibuya, no Japão, a versão adaptada americana funciona melhor cinematograficamente e o acaso do extravio, a indecisão inicial do que fazer com o bichinho, o acolhimento temporário que transforma numa adoção definitiva, dão uma contribuição melhor para a construção emocional do filme.

"Hachiko Monogatori" (1987) - trailer


"Sempre a Seu Lado" (2009) - trailer

E aí, por mais que o original tenha seus méritos, é exatamente nas "americanices", nos clichês, no apelo emocional que o remake ganha o jogo. O que muitas vezes seria defeito, neste caso específico, com um tema tão comovente e um personagem (canino) tão cativante, a aposta na "receita de bolo", aquela fórmula certa para tocar o espectador, foi extremamente acertada. E não que o filme antigo não pretenda emocionar, mas é que, se tem uma coisa que Hollywood é especialista, é nisso.
Assim, com um jogo simples, sem firula, sem enfeitar, jogando a bola na área na hora certa, ou seja, entregando para o espectador aquela cena emocionante em momentos chave, com uma série de jogadas manjadas mas eficientes, com um medalhão no time, Richard Gere, que entrega uma boa atuação, e com seu parceiro Hachi, ali, seguro, guardando a entrada estação de trem como se fosse a grande área, o time dirigido pelo bom técnico sueco Lasse Hallström, de "Minha Vida de Cachorro", se impõe diante de um bom adversário e vence a partida na casa do rival.

No alto, a dupla inseparável, nos dois filmes (à esquerda, o original).
Abaixo, a estátua para Hachiko, em Shibuya, no Japão.
Não tem estátua de grandes jogadores na frente de estádios?
A do nosso craque fica na frente da estação de trem, ora!


Um gol na jogada manjada de fazer o público chorar (mas que dá certo);
 outro da estrela do time Richard Gere, carismático e competente dando o toque de qualidade que o time precisava;
 e mais um pelo dedo do treinador, aliás experiente em assuntos caninos.
 O original faz o seu de honra pela boa qualidade do filme e pela maior fidelidade à história original. 
Placar final em Shibuya, no Japão: 3x1 para "Sempre a Seu Lado".
(A medalha de ouro não fica com os anfitriões)






Cly Reis

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Seleção Brasileira - 11 discos nacionais que têm a cara do nosso futebol


A relação do futebol com a música, no Brasil, é algo muito especial e particular. A ginga, o ritmo, a malandragem, a criatividade, a poesia, são compartilhadas por ambos e é como se um se utilizasse das virtudes do outro. Seja pela constituição do povo, pela formação cultural, pela configuração social, por questões comportamentais, por tudo isso, o jogo de bola, popular, democrático, que se pode praticar na rua, num pátio, num terreno qualquer, com qualquer coisa que seja ligeiramente arredondado, é ligado intimamente à musicalidade do brasileiro que pode ser colocada em prática em qualquer lugar ou esfera social, numa mesa, numa lata, numa caixinha de fósforo, no morro numa roda de amigos, ou numa garagem com três caras, duas guitarras e uma bateria.

Nessa época de Copa, pensando nessa íntima ligação, selecionamos alguns discos que tem tudo a ver com esse laço. Quando artistas de música colocaram o futebol de forma significativa dentro de suas obras.

É lógico que teríamos muitos, inúmeros exemplos e possibilidades, aqui, mas ilustramos esse caso de amor futebol & música com 11 discos que têm a cara do futebol. Onze!!! Um para cada posição.

Uma verdadeira Seleção Brasileira.

Dá uma olhada aí:

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"A perfeição é uma meta
defendida pelo goleiro"
da música "Meio de Campo"

Gilberto Gil - "Cidade de Salvador" (1973): Embora tenha feito o tema brasileiro para a Copa do Mundo de 1998, Gilberto Gil não é exatamente um cara de referências tão constantes ao futebol em sua discografia. Tem, lá, o Hino do Bahia, em 1969, no disco ao vivo com Caetano, tem "Abra o Olho", do disco Ao Vivo de 1974, que faz menções a Pelé e Zagallo, mas, em sua obra, o álbum mais relevante nesse sentido e que mais traz referências ao esporte das massas do Brasil, é "Cidade de Salvador", de 1984. Nele temos a faixa "Meio de Campo", que reverenciava o, então jogador, Afonsinho, do Botafogo, jogador atuante, engajado, um dos pioneiros na luta pelo direito ao passe-livre, além da luta própria liberdade pessoal, uma vez que seu clube, na época, o Botafogo, exigia que ele tirasse a barba e cortasse o cabelo comprido, ao que o mesmo resistiu, exigindo a rescisão de contrato.

Como se não bastasse uma música tão relevante sobre um personagem tão simbólico do futebol brasileiro, o álbum ainda trazia a faixa "Tradição", belíssima crônica cotidiana, que, embora não fosse uma música sobre futebol, também citava o jogo, mencionando Lessa, um lendário goleiro do Bahia nos anos 50, segundo a letra, "um goleiro, uma garantia".






João Bosco - "Galos de Briga" (1976): A dupla João Bosco e Aldir Blanc, quando se trata de música com futebol, é que nem Pelé e Garrincha, Romário e Bebeto, Careca e Maradona. Eram craques! Sintonia perfeita. Embora muitas vezes na discografia de Bosco possamos encontrar referências ao futebol, como nas clássicas "Linha de Passse" e "De Frente pro Crime", em "Galos de Briga"; disco combativo, lançado em 1976, meio à ditadura militar, podemos encontrar dois exemplares dessa tabelinha entrosada: "Incompatibilidade de Gênios" e "Gol Anulado", duas brigas de casal repletas de elementos futebolísticos (e duplas interpretações a respeito da ditadura). Na primeira, o homem reclama que a mulher, zangada, ranzinza, sequer quer permitir que ele escute no rádio o jogo do Flamengo ("Dotô/ Jogava o Flamengo, eu queria escutar / Chegou / Mudou de estação, começou a cantar ..."); na outra, um marido descobre por um grito de gol que a esposa, que julgava tão perfeita e exemplar em tudo, não torcia, na verdade, pelo seu mesmo time, o Vasco da Gama ("Quando você gritou mengo /No segundo gol do Zico / Tirei sem pensar o cinto / E bati até cansar / Três anos vivendo juntos / E eu sempre disse contente / Minha preta é uma rainha / Porque não teme o batente / Se garante na cozinha / E ainda é Vasco doente (...)", e compara a sensação da frustração à de um gol anulado ("Eu aprendi que a alegria /De quem está apaixonado / É como a falsa euforia / De um gol anulado").

Blanc e Bosco tem mais um monte de futebolices em sua discografia, mas "Galos de Briga", é um dos trabalhos que melhor simboliza bem esse entrosamento.





Neguinho da Beija-Flor - "É melhor sorrir" (1982): Quando uma música tem o poder de ser adaptada para todos os grandes times de uma cidade e ser cantada por cada uma de suas torcidas num estádio lotado, essa música tem lugar garantido entre as mais significativas do futebol. "O Campeão", conhecida também por "Meu Time", de Neguinho da Beija-Flor, integrante do álbum "É Melhor Sorrir", celebra um dia de futebol, desde a preparação, a espera, a ansiedade, até o momento mágico de torcer e vibrar pelo time do coração dentro do estádio. "Domingo, eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro time que sou fã / Vou levar foguetes e bandeira / Não vai ser de brincadeira / Ele vai ser campeão / Não quero cadeira numerada / Vou ficar na arquibancada / Prá sentir mais emoção / Porque meu time bota pra ferver / E o nome dele são vocês que vão dizer / Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô..........", e aí completa com o nome do seu time. Quem já ouviu isso no Maracanã, só trocando o nome do time no refrão, não tem como não se arrepiar.

O restante das faixas do disco não tem ligação com futebol, mas com uma dessas, que foi oficializada como hino do estádio, que serve para quatro dos maiores clubes do país, normalmente é entoado por milhares de vozes no maior templo do futebol mundial, há motivos mais que suficientes para incluir "É Melhor Sorrir" entre os álbuns importantes na relação música-futebol.





"A defesa é segura
e tem rojão"
da música "Um a Um"

Jackson do Pandeiro - "Jackson do Pandeiro" (1955): Uma das músicas mais marcantes na qual o futebol figura com protagonismo é a clássica "Um a Um", de Jackson do Pandeiro. A letra discorre sobre todas as posições de um time, setores do campo, situações de jogo, xinga o juiz, e exalta entusiasticamente as qualidades e virtudes do time do coração ("O meu clube tem time de primeira / Sua linha atacante é artilheira / A linha média é tal qual uma barreira / O center-forward corre bem na dianteira / A defesa é segura e tem rojão / E o goleiro é igual um paredão (...)  / Mas rapaz uma coisa dessa também tá demais / O juiz ladrão, rapaz! / Eu vi com esses dois olhos que a terra há de comer / Quando ele pegou o rapaz pelo calção / O rapaz ficou sem calção!..."). E, mais atual do que nunca, não aceitando derrota ou empate em hipótese alguma, ainda adverte:  "Se o meu time perder vai ter zum zum zum". E não é assim sempre ainda hoje?





Chico Buarque - Chico Buarque (1984): Chico Buarque, apaixonado por futebol, volta e meio tem alguma coisa relacionada ao esporte mais popular do mundo em seus discos. Um detalhezinho aqui outro ali, um verso, uma metáfora, uma referência... Poderia citar um monte delas aqui, mas escolhemos a música "Pelas Tabelas", do álbum "Chico Buarque", de 1984, por reunir uma série de elementos interessantes como o Maracanã, a torcida, a tabelinha e uma multidão na rua de verde e amarelo que naquele momento, poderia ser pela Seleção ou pelas manifestações pró-diretas, mas que nos últimos tempos se transformou numa imagem de terror de fanáticos conservadores fascistas. Saudades do tempo em que sair na rua de verde e amarelo era só para comemorar vitórias da Seleção ou reivindicar direitos democráticos.

"(...) Quando vi um bocado de gente descendo as favelas/ Achei que era o povo que vinha pedir / A cabeça do homem que olhava as favelas / Minha cabeça rolando no Maracanã / Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas /Jurei que era ela que vinha chegando / Com minha cabeça já numa baixela / Claro que ninguém se toca com minha aflição / Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela / Pensei que era ela puxando um cordão".





Engenheiros do Hawaii - "Várias Variáveis" (1991): Os Engenheiros do Hawaii, banda da capital gaúcha, sempre demonstrou estreita ligação com o futebol. Volta e meia usavam em suas letras expressões referentes ao jogo ("jogam bombas em Nova Iorque / jogam bombas em Moscou / como se jogassem beijos pra torcida / depois de marcar um gol" - "Beijos Pra Torcida" 1986); subiam ao palco, não raro, com camisetas de seus clubes do coração, Gessinger, gremista fanático, coma do Tricolor, é claro; e tinham, até mesmo, em uma de suas músicas, "Anoiteceu em Porto Alegre", uma narração de rádio do gol do título mundial do Grêmio, de 1983. No entanto "Várias Variáveis", de 1991, que não continha especificamente nenhuma música com qualquer menção ao esporte, destaca-se pela capa, que o justifica em estar nessa lista. Nela, entre várias engrenagens, símbolo adotado pelo grupo como marca, preenchidas com ícones pop, símbolos, imagens geográficas, históricas, comerciais, encontramos os escudos dos dois grandes clubes do Rio Grande do Sul, InternacionalGrêmio. Uma capa que dimensiona bem a importância do futebol e a paixão dos gaúchos por seus clubes situando-os entre as coisas mais importantes entre tantos elementos como ideologias, religiões, comportamento, economia, coisas que fazem mexer as engrenagens do mundo. Afinal, como dizem, o futebol é a coisa desimportante mais importante do mundo. Não é mesmo?





Novos Baianos - "Novos Baianos F.C. (1973): O que era aquilo? Uma banda? Uma família? Uma comunidade? Um time de futebol? Tudo isso! Os Novos Baianos meio que inauguraram um novo conceito de grupo musical: moravam juntos, todos colaboravam em tarefas, faziam música e, apaixonados por futebol, batiam uma bolinha. Para isso, montaram dois campos de futebol no sítio onde a banda vivia, na zona leste do Rio, onde, entre uma gravação e outra, jogavam aquela pelada, ou ao contrário, entre uma partidinha e outra, rolava algum som. Um desses momentos de descontração e atividade paralela é captado na capa do disco "Novos Baianos F.C.", de 1973, com a banda "rolando um caroço" no seu campinho em Jacarepaguá. Além do registro da foto, e da extensão (Futebol Clube) não deixa dúvidas quanto à paixão daquela turma pelo jogo de bola, o disco ainda traz a faixa "Só se não for brasileiro nessa hora", que exalta a pelada, o jeito moleque, o gosto por correr atrás da bola: "Que a vida que há no menino atrás da bola / Pára carro, para tudo / Quando já não há tempo / Para apito, para grito / E o menino deixa a vida pela bola / Só se não for brasileiro nessa hora".

"Novos Baianos F.C", de certa forma, resume o espírito do grupo. Um time. Uma equipe entrosada, quase um Carrossel Holandês onde todos se revezavam e executavam mais de uma tarefa dentro de campo. Futebol total. Ou seria música total? 





Pixinguinha - "Som Pixinguinha" (1971) - Uma das primeiras composições alusivas ao futebol foi "1x0" do mestre Pixinguinha. Gravada no final dos anos 1920, a canção instrumental, homenageava o grande feito da conquista do Campeonato Sul-Americano de 1919, numa partida contra o Uruguai, vencida arduamente, depois de duas prorrogações, pelo placar mínimo, 1x0, gol do ídolo da época, Arthur Friedenreich. 

A música até ganhou letra nos anos 1990, do músico Nelson Ângelo, que a regravou então, cantada, em parceria com Chico Buarque, mas nem precisava: instrumentalmente ela, com seu ritmo, fluidez, construção, já consegue transmitir a dinâmica de um jogo, a ginga, a expectativa do torcedor, a movimentação dentro de campo..., tudo!

A canção foi gravada, originalmente, nos anos 1920, saiu em compactos posteriores, em algumas coletâneas, mas o registro que destacamos aqui é o álbum "Som Pixinguinha", de 1971, o último disco gravado pelo mestre do choro, que viria a ser reeditado, anos depois, no Projeto Pixinguinha, rebatizado como "São Pixinguinha". Nada mais justo. Só coisas divinas. Amém, Pixinguinha! Amém!






"O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol"
da música "Uma partida de futebol"

Skank - "Samba Poconé" (1996): Logo depois que o Brasil ganhou a Copa do Mundo de 1994, o futebol voltou a virar mania nacional. Literalmente, virou moda. As camisetas de clubes, antes restritas às peladas e aos estádios, naquele momento tomavam as ruas. Embora vários artistas manifestassem esse momento, nenhuma banda soube traduzir tão bem esse momento como o Skank. Além dos integrantes se apresentarem, não raro, com camisetas de seus clubes do coração, os grandes de Minas Gerais, Cruzeiro e Atlético, talvez tenham feito a mais empolgante e entusiástica música daquele período e uma das mais marcantes da história da música braseira, sobre futebol. "É Uma Partida de Futebol" transmitia, com rara felicidade às emoções de dentro e fora de campo, com expectativa do jogo, lances de perigo, reação da torcida, tudo com muita alegria e ritmo ("Bola na trave não altera o placar / Bola na área sem ninguém pra cabecear / Bola na rede pra fazer o gol / Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? / A bandeira no estádio é um estandarte / A flâmula pendurada na parede do quarto / O distintivo na camisa do uniforme / Que coisa linda é uma partida de futebol (...)"). Sem dúvida, um marco na histórica relação bola-microfone, tão estreita na música brasileira.





"É camisa dez da Seleção
laiá, laiá, laiá!"
da música "Camisa 10

Luiz Américo - "Camisa 10" (1974): É o típico exemplo de artista de uma música só. Luiz Américo gravou a música "Camisa 10" para a Copa do Mundo de 1974, lamentando a ausência de Pelé, que se despedira da Seleção depois da Copa do México em 1970, e questionando as escolhas do técnico Zagallo, campeão na Copa anterior, mas de escolhas bastante duvidosas para o Mundial seguinte. A letra, inteligente, cheia de boas sacadas e trocadilhos com os nomes dos jogadores ("Desculpe seu Zagalo/ Puseram uma palhinha na sua fogueira / E se não fosse a força desse tal Pereira / Comiam um frango assado lá na jaula do leão / Mas não tem nada não!"), acabaria por confirmar os temores dos autores, Hélio Matheus e Luís Vagner, de um time confuso, mal convocado e mal escalado que não convenceu em nenhum momento e acabou eliminado de maneira impiedosa pela Laranja Mecânica de Johan Cruyff.

Lançada em um álbum sem outras alusões a futebol, "Camisa 10", além de ser, com certeza, a maior cornetada musical da discografia nacional, talvez seja a canção mais marcante da tabelinha música-futebol no Brasil.





Jorge Ben - "Ben" (1972)Jorge Benjor, talvez seja o músico com mais referências ao futebol em sua obra. Volta e meia tem! Tem menção a clube, exaltação a craque de verdade, para craque inventado, música por posição, para infração dentro de campo, pra negociação entre clubes... Tem de tudo. "África Brasil" , disco já destacado aqui no ClyBlog, nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, provavelmente seja o álbum que mais contém referências ao esporte, com uma música cuja letra conta o desejo de um de seus filhos em querer ser jogador de futebol ("Meus filhos, meu tesouro"), uma para o craque Zico ("Camisa 10 da Gávea), e uma para um fictício meia-atacante africano de futebol encantador, "Umbabaraúma, Ponta de Lança Africano". No entanto, a canção de Jorge Benjor mais marcante sobre futebol, é, sem dúvida, uma das mais lembradas no quesito em toda a música brasileira, está no disco "Ben", de 1972. "Fio Maravilha" descreve, quase com a precisão de um locutor esportivo, o lance mágico do atacante Fio, do Flamengo, dos anos 70, em que ele faz, segundo o autor "uma jogada celestial". Jorge Benjor, exímio construtor de imagens musicais, soma à narração do lance, a reação da torcida e o grito de reverencia e agradecimento da massa para o craque, num dos refrões mais populares da música brasileira, "Fio Maravilha / Nós gostamos de você /Fio Maravilha / Fazmais um pr'a gente ver".

Curiosamente, anos depois, Fio acabou processando Jorge Benjor pela utilização de seu nome sem autorização. O próprio Fio desistiu do processo sem sentido até porque, antes da música ele não era ninguém e, pelo contrário, era conhecido, exatamente, por perder muitos gols. Simplesmente, um hino do futebol brasileiro!



por Cly Reis

sexta-feira, 20 de março de 2009

Coluna dEle #7


Hoje conto novamente com a ilustre participação dEle

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Tô na área, se derrubar é pênalti!
E aí, falou? Beleza?
Por falar em área e pênalti, fico contente em ver o Ronaldo se recuperando. Venho tentando ajudar mas mesmo com toda a "ferramenta" que Eu dei pro cara jogar toda aquela bola, parece que ele insiste em estragar tudo, ora comendo demais, ora comendo traveco na rua.
Mas sou fã do Ronaldo. Sou fã, mesmo. Torço pra que se recupere legal, mas, cá entre nós, pra quem Eu apontei o dedo e disse "esse é o cara", foi outro.
Mas, tem uma coisa, né, só quem fez as coisas que eu faria se estivesse aí embaixo foi o 10 do Santos.
O negão era foda jogando! Até dei aquela "mãozinha" pro Maradona em 86, mas só quem teve os meus superpoderes, aí, foi o Édson.
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Vamos ver o Ronaldo contra o Santos. Vou ficar ligado atentamente ao clássico do domingo.
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A propósito de representantes Meus na Terra, tem neguinho Me rachando a cara de vergonha!
Esses caras, aí, de batina que dizem que estão falando em Meu nome quando afirmam que aborto é pior do estupro.
Peraí um pouquinho! Deve ser porque ele não é mulher. Ou quem sabe até seja, lá, pros coroinhas e menininhos de seminário, mas mesmo assim com certeza não sabe o que é um marmanjo podre abusando do que se tem de mais Sagrado: o seu corpo. Bom... Talvez ele saiba e goste.
Mas o caso é o seguinte. Nessas aí, não falem em meu nome. Me incluam fora dessa
Eu é que excomungo esse fulano.
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Estranho é parece que só agora o mundo inteiro descobriu que tem barbado sem-vergonha comendo criancinha.
Cara, Me cobram muito de como é que Eu deixo fazerem isso, como é que Eu deixo isso acontecer, mas, véio, não posso ficar intereferindo em tudo o tempo inteiro senão as coisas aí embaixo não andam. É um pouco com vocês também de tomarem juízo e pararem de fazer merda e de darem um jeito de fazer a justiça de verdade. E olha que quando eu digo FAZEREM JUSTIÇA não estou sugerindo "nada" específico, ainda que às vezes até Eu mesmo tenha vontade de arrancar o pau desses filhas-das-puta. Mas Eu deixo a bola rolar, deixo o jogo seguir. Um dia, independente do que você, meu leitor, acredite, a conta vai ser cobrada, cara. Seja Comigo no Juízo Final pra quem acha que é assim, seja na outra vida pra quem acha que tudo continua, seja lá embaixo com o Coisa-Ruim pra quem tem medo dele... Ah, mas que tem volta tem!
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E falando em morrer, porra, e o Clodovil morreu, hein!
Não tô lamentando pela morte dele, não. Tô lamentando porque agora quem vai ter que agüentar o cara sou Eu aqui em cima.
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Bom, vou parando por aqui hoje.
A Maria, aqui tá reclamando que eu ecrevi muito palavrão dessa vez.
Vou tentar me conter mais nas próximas se é que o dono do blog vai voltar a me convidar pra escrever depois de ter desfilado todos esse vocabulário "bonito".
Fui!!!

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contatos, sugestões, dúvidas, pedidos, bençãos, orações e súplicas para o e-mail
god@voxdei.gov

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

"Trono Manchado de Sangue", de Akira Kurosawa (1957) vs. "Macbeth", de Roman Polanski (1971)


Tá, agora acabou a palhaçada!

Se era jogo grande que vocês queriam, é jogo grande que vocês ganharam. O maior diretor japonês de todos os tempos, Akira Kurosawa, contra o melhor diretor polonês (nascido na França) Roman Polanski, adaptando uma das mais famosas peças do maior escritor inglês e um dos maiores da literatura mundial, William Shakespeare.

Japão e Polônia pode não ser grande clássico dentro dos gramados, mas no set de filmagem é duelo de gigantes. Aliás, nesse caso, é Japão versus Inglaterra, uma vez que a adaptação de Roman Polanski para "Macbeth", é uma produção britânica.

Na tragédia "Macbeth", o nobre que dá nome à peça, acompanhado por seu amigo Banquo, ao retornar com improvável êxito de uma batalha dificílima, tem previsto por três bruxas, ocultas na floresta a caminho do castelo, que, primeiramente, será promovido em suas funções militares e posteriormente, virá a tornar-se rei. No entanto, as mesmas feiticeiras preveem que o parceiro, Banquo, embora não venha a reinar, terá um soberano na sua linhagem. A predição desencadeia, além de uma enorme confusão mental em Macbeth, uma série de acontecimentos perversos como o assassinato do rei Duncan a fim de cumprir a profecia o quanto antes, e a morte do próprio amigo e de seu filho, de modo a evitar que a segunda parte da previsão se concretizasse, atos incitados por sua ambiciosa esposa, Lady Macbeth. Parte do plano dá errado uma vez que o filho de Banquo sobrevive ao ataque, fazendo com que Macbeth fique um tanto acuado e temeroso quanto à longevidade de seu reinado. Enquanto isso, no exílio, Malcolm, o filho do rei assassinado e que pretende retornar para retomar a coroa, sua por direito, planeja um ataque ao castelo e ganha cada vez mais força conquistando até mesmo os próprios súditos de Macbeth que começam a vê-lo enfraquecido e desequilibrado.

No entanto, Macbeth não teme ser derrotado pois, em nova consulta às feiticeiras, estas lhe revelam que ele só perderia seu trono caso a floresta andasse em direção ao castelo e que só seria subjugado por um homem que não tivesse vindo ao mundo por uma mulher. Nenhuma chance, não? Bom... não exatamente...


"Trono Manchado de Sangue" (1957) - trailer



"Macbeth" (1971) - trailer


O franco-polonês Roman Polanski, faz um filme pesado, duro, sujo, violento. Os personagens são frios, brutos, podres, a fotografia, se por um lado têm as belas paisagens escocesas em ângulos abertos, traz cenários realistas, enlameados, com porcos transitando, higienes duvidosas e vestes reais imundas. Mais fiel ao livro que Kurosawa, Polanski se utiliza de alguns pontos, de alguns detalhes, de certos elementos e cria praticamente um filme de terror: o covil das bruxas, a beberagem que oferecem para Macbeth e sua consequente alucinação, a aparição de Banquo no jantar, a brutalidade das mortes, o vermelho intenso do sangue, a aparência dos cadáveres, e a decapitação do tirano no final, tudo é próximo ao aterrorizante. Espetacular! Uma adaptação à altura da obra do grande dramaturgo inglês.

Bom, alguém diria, "Não tem como ganhar de um filme desse!".

Tem?

Tem!

O grande problema é que o Macbeth de Polanski pegou pela frente a adaptação de outro gênio.

O filme de Akira Kurosawa é uma obra de arte.

Eu disse OBRA DE ARTE!

"Trono Manchado de Sangue" é como um drible do Garrincha, o gol antológico do Maradona em 86, a magia da Laranja Mecânica, como a Seleção de 70...

O japonês dá o meio termo exato entre a agressividade que o tema exige e a leveza, com sua poesia estética.

Mesmo sem o privilégio do uso da cor, a fotografia de Kurosawa é fascinante e misteriosa; a transposição da história para o Império Japonês é conduzida com brilhantismo sem perda nenhuma à trama; os trajes militares, os castelos, as batalhas, as cerimônias, tudo funciona perfeitamente dentro da cultura e das tradições orientais. O fato de não vermos a morte do rei a torna, talvez, mais chocante tal o estado que Washizu, o Macbeth de Kurosawa, sai do quarto onde o soberano dormia; a interpretação do lendário Toshiro Mifune, no papel do protagonista é impecável; sua Lady Macbeth, Asaji, é impressionante com sua expressão impassível mesmo prestes à pior crueldade; a bruxa na floresta é um encanto visual ímpar; e a morte de Washizo é, à sua maneira, tão impressionante quanto à de Macbeth no filme inglês.

A versão japonesa tem algumas diferenças em relação aos originais de Shakespeare. Kurosawa, por exemplo, só se vale de uma feiticeira e não três como no livro, à qual ele prefere chamar de 'espírito' e não bruxa; faz também com que o filho de Banquo, no caso Miki, já seja um adolescente e não uma criança e, exilado, se junte ao filho do rei assassinado, em uma localidade vizinha, para tramar a reconquista do Castelo. Além disso, prefere omitir a questão do homem não nascido de mulher para a vulnerabilidade de Washizo (Macbeth) e, ao contrário de Polanski, não antecipa a intenção dos soldados marcharem camuflados com galhos, causando uma sensação de surpresa e fantasia no espectador ao ver se realizar a profecia da floresta andando em direção ao castelo.

A cena inicial da floresta, em Kurosawa é mágica com Washizu e Miki correndo labirinticamente em círculos pela Floresta da Teia de Aranha (1x0); o 'espírito', a entidade de Kurosawa é bela, poética; as bruxas de Polanski são assustadoras e repugnantes... Ninguém leva vantagem. A Lady Macbeth japonesa, Asaji, é assustadora com seu rosto de porcelana, impassível mesmo enquanto incita, ao manipulável marido, as mais frívolas ações. A da versão inglesa é boa, 'intriguenta', como não poderia deixar de ser, mas nem se compara à japonesa. 2x0, Kurosawa.

O Macbeth de Kurosawa também leva alguma vantagem. John Finch, no filme inglês está ótimo também, mas o perfil do personagem nipônico é mais interessante. Washizu é mais inseguro, hesitante, muito mais dependente dos conselhos e estímulos de sua esposa do que o da segunda versão, mais tiranicamente determinado. Sem falar que é interpretado, por ninguém menos que Toshiro Mifune. Só isso... Gol de "Trono Manchado de Sangue": 3x1!

A direção de arte do filme de 1957 funciona muito bem num Japão feudal mesmo pra uma história idealizada, originalmente para o ocidente, no entanto, o realismo imposto por Polanski, nos cenários enlameados, nos palácios toscos e nada glamurosos, ou nos figurinos finos, mas comprometidos pela lama, por lutas ou por sangue, dá um gol para o filme de 1971. "Macbeth" '71, diminui: 3x1, no placar.

Talvez seja spoiler para alguns mas nosso personagem principal que dá nome ao drama, morre no final (Ohhhh!!!) Só que de maneiras "levemente" diferentes de uma versão cinematográfica para a outra (e aí vai spoiler, mesmo): Se na versão japonesa, o tirano usurpador morre alvejado por flechas, com uma delas atravessando, por fim, fatalmente, seu pescoço; na inglesa, depois de descobrir a existência de alguém com a improvável qualificação de não  ter nascido de mulher, fica totalmente à  mercê do vingativo McDuff que o atravessa com a espada, decepa sua cabeça e a expõe no alto de uma lança no ponto mais alto do castelo recém retomado. A cena das flechas é linda, espetacular, mas a cabeça sendo levada ao alto da torre, por entre os soldados, como se estivesse ainda vendo toda a fanfarra à sua volta, e a exibição dela como troféu de guerra, é algo difícil de bater. Macbeth volta a se aproximar no placar: 3x2!

Ainda nesse ínterim, como já havia mencionado acima, Kurosawa prefere ignorar para sua adaptação, a particularidade que derrotaria o rei traidor, ao passo que Polanski faz disso ponto crucial em sua derrocada. Seria o empate do franco-polonês se Kurosawa não tivesse feito dessa supressão um contra-ataque, pois a sequência da floresta caminhando em direção ao castelo, compensa a ausência desse item, sendo o momento decisivo do filme do japonês. Lindo, hipnótico, surreal, o avanço ameaçador da floresta, em "Trono Manchado de Sangue" é uma das cenas mais incríveis do cinema. Os galhos semiocultos entre a névoa dão, inicialmente, uma sensação mágica quase convencendo o espectador que, por algum motivo, sobrenatural, uma alucinação do nobre ameaçado, uma reinterpretação do diretor, ela pudesse realmente estar avançando em direção ao cruel tirano. Golaaaaçoooo!!!

"Trono Manchado de Sangue" ganha no detalhe, na qualidade técnica, mas a sensação que fica é que o placar poderia ser um pouco mais tranquilo se Kurosawa tivesse o "reforço" do uso da cor. Veja-se o que ele fez em "Ran", adaptação de "King Lear", outra de Shakespeare, por exemplo... Dá pra dizer que ganhou desfalcado. 


Jogo de estratégia, dois times que atacam o tempo todo e querem a vitória custe o que custar.
O time de Polanski com um jogo mais bruto, mais violento, e o de Kurosawa com um futebol mais técnico e vistoso.
Os japoneses levam essa, mas quem ganha nessa batalha somos nós.


No alto, Washizu (à esq.) e Macbeth (dir.), com seus convivas, cada um em seu respectivo palácio;
na segunda linha as esposas, Asaji e Lady Macbeth, envenenando as mesntes de seus maridos;
na sequência, a entidade de Kurosawa, que faz as revelações a Washizu, na floresta, e, à direita, 
o covil de bruxas idealizado por Roman Polanski; e
por fim, Taketori Washizu crivado, com uma flecha atravessada no pescoço,
 e a cabeça de Macbeth, separada do corpo, nas escadas do próprio castelo.








Cly Reis