Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por data para a consulta Cristóvão Bastos. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta Cristóvão Bastos. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

4ª Feira de Vinil Gira Música - Casa da Polônia - Rio de Janeiro/RJ (1º/09/2019)



O dias em que passamos Leocádia e eu no Rio de Janeiro foram invariavelmente lotados. Só coisa boa, mas lotados. Mas sempre se tem espaço para encaixar mais uma programação, ainda mais quando esta trata de música. Ou melhor: quando esta trata de música E discos, o que para um colecionador é um prato cheio. Minha mãe, sabendo de nosso gosto, havia avisado dias antes que ocorreria, no domingo, a Feira de Vinil Gira Música, na Casa da Polônia, no próprio bairro e avenida onde estávamos instalados, Laranjeiras. Pois que, voltando de um passeio no bairro Jardim Botânico neste dia, eis que cruzamos em frente à feira. Obviamente que descemos e fomos dar uma conferida, o que não só valeu a pena a título de passeio como, claro, de compras.

A feira trazia food trucks, bancas com artesanato e bijuterias e uma exposição sobre o célebre músico, arranjador e produtor Lincoln Olivetti, morto há  4 anos, infelizmente muito primária e amadora e que não dimensionava nem de perto a relevância do homenageado. Mas isso não era o mais importante e, sim, aquilo que nos levou até lá: os discos. Com expositores cariocas mas também vindos de Minas Gerais e São Paulo, a feira estava muito boa em termos de quantidade e variedade. Todos os gêneros musicais contemplados, mas principalmente rock, MPB e jazz. O nível dos expositores chamou atenção, uma vez que todos sabem muito bem o acervo que oferecem. Ou seja: os discos raros tinham preços que justificavam suas particularidades. Títulos como "A Bad Donato", de João Donato, "Stand", da Sly & Family Stone, o primeiro disco de Arthur Verocai, "Spirit of the Times", de Dom Um Romão, "Blue Train", de John Coltrane, ou o disco do próprio Lincoln em parceria com Robson Jorge, clássico da AOR brasileira, não saíam por menos que 500, 400, 350, 200, 180 Reais ou valores parecidos.

Galera percorrendo as prateleiras em busca "daquele" vinil
Clima descontraído e musical da Feira de Vinil na Laranjeiras
Não só vinil tinha na feira
Eu vasculhando as preciosidades da banda do Sonzera, um dos expositores
Pedaço da miniexposição sobre Lincoln Olivetti: deixou a desejar

Em compensação, vários balaios. E bons! Com muita variedade e, às vezes, até discos raros, era possível encontrar unidades a 10, 20 ou 30 Reais. E foi aí que me esbaldei, passando algumas horas na feira percorrendo as caixas com promoções enquanto Leocádia aproveitava outras atividades ou simplesmente me aguardava. Uma das atrações da feira seria a presença do cantor e compositor Hyldon, lenda da soul brasileira, que estaria à tarde autografando seu disco relançado, mas não ficamos para isso. Afinal, já estávamos muito bem alimentados com o que encontramos de variedade e qualidade de bolachões, inclusive esses, os que levamos para casa:



“Limite das Águas” – Edu Lobo (1976)
Edu tem vários discos solo cultuados, como “Missa Breve”, “Camaleão” e “Jogos de Dança”, mas não raro este aparece como o preferido do autor de “Ponteio”. Afinal, não tem como não adorar as parcerias como Capinan, Cacaso e Guarnieri, além do primor dos arranjos do próprio Edu e as participações de músicos do calibre de Oberdan Magalhães, Cristóvão Bastos, Joyce, Toninho Horta, Danilo Caymmi e o grupo vocal Os 3 Morais. Coisa fina da MPB.


“Libertango” – Astor Piazzola (1974)
Um dos gênios da música do século XX em seu disco mais icônico. Gravado em Milão, é a representação máxima do tango argentino moderno, tanto que as próprias faixas, assim como a que o intitula, trazem o termo “tango” no nome: Meditango, Violentango, Undertango, entre outras. De ouvir ajoelhado - ou tangueando.



“Brazilian Romance – Sarah Vaughn with Milton Nascimento” ou “Love and Passion”  Sarah Vaughn (1987)
A grande cantora norte-americana Sarah Vaughn, amante da MPB, recorrentemente voltava ao gênero. Depois de gravar discos como “Exclusivamente Brasil” e “O Som Brasileiro de Sarah Vaughn”, nos ano 70, em 1987 ela torna à sonoridade do Brasil por meio de um de seus mais admirados compositores: Milton Nascimento. E o faz isso com alto grau de requinte, haja vista a produção de Sérgio Mendes, os arranjos de Dori Caymmi e participações de gente como George Duke e Hubert Laws. Ela quase levou um Grammy de melhor performance feminina por este álbum.

“Merry Christmas, Mr. Lawrence (Music From The Original Motion Picture Soundtrack)”  Ryuichi Sakamoto (1983)
Tenho adoração por este filme intitulado no Brasil como “Furyo - em Nome da Honra”, e tanto quanto pela trilha sonora, escrita pelo genial Ryuichi Sakamoto. Que, aliás, atua neste filme de Segunda Guerra do mestre Nagisa Oshima, o qual conta no elenco (e só no elenco, o que acho legal também em nível de desprendimento) e como ator principal David Bowie em espetacular atuação. A faixa-título é não só linda como um marco das trilhas sonoras feitas para cinema.


“Stories to Tell” – Flora Purim (1974)
Terceiro disco solo de Flora e segundo dela em terras norte-americanas. Ou seja, vindo um ano após o seu debut “Butterfly Dreams”, no mesmo ano de“Hot Sand”, do então marido Airto Moreira, e dois da estreia com Chick Corea na Return to Forever, “Stories...” a consolida como a musa do jazz brasileiro. Ainda por cima tem Carlos Santana, George Duke, Ron Carter e o próprio Airto compondo a “bandinha”. E que voz é essa a dela?! 




“Amor de Índio” – Beto Guedes (1978)
Dos discos mais célebres da chamada “segunda fase” do Clube da Esquina. A galera tá toda lá: Milton, Brant, Toninho, Tiso, Venturini, Tavinho, Caetano e, claro, Ronaldo Bastos, produtor, compositor com Beto da faixa-título e autor da icônica foto dele enrolado no cobertor usada por Cafi na arte da capa.



texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa e fanpage Gira Brazil - Gira Música

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Chico Buarque - Show "Caravanas" - Auditório Araújo Vianna - Porto Alegre/RS (17/08/2018)


Muito já se disse sobre os três dias de shows de Chico Buarque de Hollanda em Porto Alegre nos dias 17, 18 e 19 de agosto. Meu amigo Juarez Fonseca fez um texto com muita propriedade sobre o que ele – e eu – vimos num dos dias, mas tenho algumas impressões pessoais a registrar.  Chamou-me a atenção que Chico não se utiliza da linguagem pop da MPB em nenhum momento. Cheguei a comentar com o Raul Ellwanger no final do show que Chico é dos poucos cantores/compositores que ainda pratica os gêneros de canção brasileira anteriores à bossa-nova: bolero, fox-trot, sambas em todos os andamentos, chorinho, etc. Ao contrário de seus contemporâneos Caetano e Gil e dos representantes da geração seguinte, Djavan e os nordestinos Alceu Valença, Zé Ramalho e Lenine, Chico não se deixa seduzir pelos sons das guitarras e bloops-blips da modernidade. O baixo elétrico no seu espetáculo é discreto, assim como os timbres de teclados de Bia Paes Leme. Já o pianista João Rebouças chega a tocar um bandolim em vários momentos.

Chamou também a atenção que as famosas músicas de “dor-de-cotovelo” ("Trocando em Miúdos" e "Olhos nos Olhos", por exemplo) não estivessem presentes no roteiro. Uma das poucas canções que entram neste rol e que estava no show é a lírica "Todo o Sentimento", parceria com o pianista Cristóvão Bastos. Como bem disse o Juarez, o discurso é outro e não está nos intervalos entre as músicas. Está nas letras das canções. Artista maduro, Chico não atendeu os anseios dos seus detratores, que desejavam um discurso defendendo suas posições políticas para se refestelar nos gritos de "comunista", "vermelho" e outras sandices. Isso tem hora e lugar, como fez ao visitar Lula em Curitiba.

Chico com sua banda: fiel à música
brasileira em suas diversas vertentes
No palco, a história é outra e os "comentários" vem embalados em belas melodias com o auxílio luxuoso de sua banda. Destaque especial para o percussionista Chico Batera, que tocou marimba e vibrafone, instrumentos não usuais em espetáculos de MPB. Vi o show ao lado do empresário musical João Mário Linhares, que confirmou que o roteiro foi totalmente criado e montado pelo compositor. Ao contrário do que queria um colunista da praça, que acha que o artista não deve evoluir, a base do espetáculo foi o disco "Caravanas" com incursões pontuais ao passado ("Homenagem ao Malandro", "Partido Alto", Sabiá", "Geni e o Zeppelin", "Retrato em Branco e Preto" e "Gota D'Água"). Em mais de duas horas e 30 músicas, Chico Buarque calou a boca de seus "inimigos de Facebook" com a cabal demonstração de que continua sendo o maior compositor brasileiro vivo.




Texto: Paulo Moreira
Fotos: Guilherme Ricacheski

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Carlos Dafé - “Pra que Vou Recordar” (1977)



“A refavela/ Revela o passo/ 
Com que caminha a geração/ 
Do black jovem/ Do Black Rio/ 
Da nova dança no salão”. 
Gilberto Gil, da letra de "Refavela", de 1977

O ano de 1977 foi cheio para a Banda Black Rio. Formada a não muito da fusão de músicos de diferentes origens – os conjuntos Impacto 8, Grupo Senzala e Don Salvador & Grupo Abolição –, eles eram os reis dos bailes black da Zona Norte carioca, que eclodiram nos anos 70. Além das festas,  começaram a ser bastante requisitados para outros projetos. Só entre janeiro e março, gravaram todo o primeiro disco e foram até tema de novela da Globo, Locomotivas. Era o momento deles. Junto com nomes como Tim Maia, Cassiano, Gerson King Combo, Hyldon, Toni Tornado, Dom Mita e outros, a Black Rio não só representava como levava o nome da onda sociocultural que mobilizava milhares de negros excluídos pela sociedade. Eram jovens oriundos das "refavelas" em recente processo de ascensão social num Brasil de Ditadura Militar, que passavam agora a demonstrar seu orgulho pela raça, pelo cabelo crespo, pela dança, pela cor da pele, pelo sotaque, pela linguagem. E pelo seu som: brasileiro, mas universal.

Todos da Black Rio eram músicos excepcionais, mas nenhum sabia (pelo menos, ainda) cantar. E para incendiar a galera dos passinhos durante os bailes tinha que ter alguém chamando nos microfones e com presença de palco. Mais do que um crooner. A voz feminina a banda de Oberdan Magalhães achara: uma jovem cantora de voz rouca e potente digna das melhores da black music norte-americana chamada Sandra Sá. Porém, precisava de um gogó masculino também, o que coube perfeitamente a Carlos Dafé.

Cantor de elegância e gingado, Dafé é compositor e multi-instrumentista, capaz de mandar ver no violão, guitarra, baixo, piano, acordeão e vibrafone. Nascido no subúrbio de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, teve no pai (José de Sousa, um funcionário público tocador de chorinho) e na mãe (Conceição Gonçalves, poetisa) o incentivo à musicalidade. Tanto que, aos 11 anos, já estudava no Conservatório de Música e, na fase do serviço militar, fez turnê com o grupo Fuzi 9, do Corpo de Fuzileiros Naval. Toda essa bagagem deixava evidente que Dafé era a figura perfeita para acompanhar a Black Rio. Tanto que não ficou apenas restrito aos bailes. Assim como ocorrera com a própria banda naquele início de 1977, eles correram para o estúdio, quando se concebeu o brilhante “Pra que Vou Recordar”. Igualmente a “Maria Fumaça”, a também estreia da Black Rio, o disco de Dafé completa 40 anos de lançamento em 2017, formando o mais célebre duo de discos da soul music brasileira de todos os tempos.

A lendária Banda Black Rio: grupo de apoio de Dafé em sua estreia
Dançante mas altamente sofisticado, o álbum abre com uma das maiores canções pop já escritas no Brasil: a irrepreensível “De Alegria Raiou o Dia”. Parceria dele com outro craque da soul, Dom Mita, é um arraso em execução, timbres, sonoridade, ritmo. Que tabelinha de Luis Carlos na bateria e Jamil Joanes no baixo! Adicionado a isso, o Fender Rhodes de Cristóvão Bastos, a levada de guitarra de Claudio Stevenson, os sopros: tudo perfeito, encaixado, sonoro, musical. Mesmo sendo seu primeiro registro fonográfico, o já experiente Dafé mostra de largada toda a habilidade como compositor e cantor. A voz rasgada e de pronúncia aberta é, sobretudo, símbolo da afirmação daquela negritude adormecida e, agora, autovalorizada. O fraseado malandro, que opera propositais supressões de fonemas e adiciona ginga noutros, é de visível inspiração a nomes consagrados da música brasileira, como Seu Jorge e Criolo. Como se não bastasse o funk irresistível, na segunda parte, a “cozinha” entra com um samba-rock que, convenhamos, não tem ninguém que saiba, faça ou entenda como um músico brasileiro – quanto mais se tratando de Black Rio. Também nisso o disco de Dafé guarda semelhança com o debut do conjunto carioca, haja vista que as duas faixas de abertura trazem essa fusão dos ritmos típicos norte-americano e brasileiro como proposta conceitual.

“Tudo Era Lindo” (“Era lindo vagar, me perder de amor/ Correndo a enfrentar um mundo de loucos”) e “A Cruz” (“Se existe uma barreira/ Entre os nossos corações/ Não ligue pra essas coisas/ O importante somos nós”) dão a devida diminuída no ritmo em duas balada cheia de suingue e romantismo. Afinal, todo baile funk pede também aquela hora de dançar de rosto colado! A empolgação volta para homenagear o genial autor de “Superstition” com “Hello Mr. Wonder”, mas a um modo bem brasileiro: soul com muita carga de samba, assim como já haviam apresentado em “De Alegria...”.

Voltando para a pista, “Bem Querer” une a elegância do jazz soul com pitadas de samba, ou seja, tudo o que a turma domina. O coro feminino faz uma tabela perfeita com a voz de Dafé, enquanto Oberdan “apavora” num solo de sax. Merece ainda realce o baixo sempre incrível de Jamil, que não se restringe a simplesmente manter uma base, e, sim, desenhar linhas harmônicas sobre a escala.

A faixa-título (adicionada do complemento “o que chorei”), outro clássico do disco e da black music brasileira, faz jus ao mito. Além de trazer aquele clima das baladas dos mestres “gringos”, como Marvin Gaye e Bobby Womack, ainda adiciona-lhe a “cadência bonita do samba”. E mais uma interpretação impecável de Dafé, cheia de sentimento. Destaque para a levada de Luis Carlos e a guitarra solada de Claudio Stevenson.

“Zé Marmita” começa somente com Cristóvão ao piano elétrico e Dafé introduzindo os primeiros versos para, logo em seguida, cair num novo samba, agora bem suingado. A letra fala de um brasileiro pobre e trabalhador que se deixa levar pela alegria do Carnaval sem pensar que tem que pegar no batente no dia seguinte: “Cantando na avenida, você nem vê que amanheceu/ Esquece até da vida/ Pensa que o mundo agora é seu/ Quero só ver quando a festa acabar/ Coragem pra trabalhar”.

Ainda mais especial é “Bichos e Crianças”, que intercala uma doce melodia (“Dia de domingo/ Quem vai passear?/ Bichos e crianças vão”) com uma disco animada e lúdica cujo ritmo a Black Rio repetiria a dose na trilha do filme “Sábado Alucinante”, de 1979. Já “O Metrô”, última faixa, é o característico funk temperado com pitadas de brasilidade. A timbrística da Black Rio é algo realmente impressionante e improvável: une a sonoridade da Motown, com o padrão Steely Dan, recupera o samba telecoteco de Miltinho e o samba-rock da turma da Tijuca para chegar àquilo que eles mesmos se autodenominam: Black Rio. Ainda, é claro, a qualidade do band leader nos microfones. Um final com o que havia de melhor na cena. Em "Pra que...", Dafé e o time de Oberdan atingem um nível de musicalidade poucas vezes visto no mundo, haja vista que passa pelo funk, pela soul e pelos ritmos brasileiros em constante namoro com o jazz fusion, mas sem ser pedante nem difícil. Pelo contrário: é pop e sofisticado ao mesmo tempo.

Se 1977 ainda era tempo de Ditadura, é de se imaginar que, se a repressão recaía fortemente sobre adolescentes universitários de classe média, imagina se não iria exercer a mesma força a jovens negros da periferia? Bastou os bailes começarem a mobilizar muito mais gente que o esperado e, ainda por cima, ganhar espaço também na “branca” Zona Sul do Rio, que se resolveu dar um basta. Essa coisa de “movimento Black Rio” ou “Black o que fosse” estava começando a ficar perigosa para o governo. Então, para que os donos de equipes de som e artistas começassem a ir para o DOPS foi um passo.“Quando viram aqueles caras dançando junto, com aquelas roupas e cabelos, os militares perceberam que se nasce um líder ali no meio ia dar uma grande merda para o governo”, conta DJ Marlboro, que presenciou a cena. O movimento se tornava, da noite para o dia, subversivo.

A onda Black, pelo menos naquele momento, se esvaziara. Seguiram-se, nos anos seguintes, a última década de Governo Militar, a redemocratização, a era Collor, a ascensão do PT. Paralelamente, entretanto, o grito da periferia não se calara. Vieram o hip-hop, o break, o melô, o funk carioca, o charme, o punkadão. Se a qualidade das manifestações culturais da negritude não acompanhou aquele embrião animador e altamente musical, paciência. A bandeira pela liberdade dos negros havia sido hasteada. Dafé, Black Rio e Cia. cumpriram o papel daquilo que Gilberto Gil captara naquele sociologicamente fatídico 1977 para o Brasil negro: conceber um “samba paradoxal. Algo que só nossa “escola” é capaz. Ou seja: “Brasileirinho pelo sotaque, mas de língua internacional”.

**********************************
FAIXAS:
1. “De Alegria Raiou o Dia” (Carlos Dafé/Dom Mita) - 3:40
2. “Tudo Era Lindo” (Dafé/Jomari) - 3:34
3. “A Cruz” (Dafé/Tânia Maria Reis) - 5:52
4. “Hello Mr. Wonder” (Dafé/Claudio Stevenson/Luiz Carlos dos Santos) - 3:44
5. “Bem Querer” (Dafé/Lucio Flavio/Tião da Vila) - 3:11
6. “Pra Que Vou Recordar o que Chorei” (Dafé) - 3:46
7. “Zé Marmita” (Dafé/Vandenberg) - 3:34
8. “Bichos e Crianças” – (Dafé/Marilda Barcelos) - 2:45
9. “O Metrô” (Dafé/Lucio Flavio/Oberdan) - 2:58

**********************************

OUÇA

por Daniel Rodrigues

terça-feira, 19 de setembro de 2017

As minhas músicas preferidas de Chico Buarque (e as deles também)

Chico Paratodos os gostos

Por ocasião do recente lançamento do disco novo de Chico Buarque, “Caravanas” – o qual ainda não escutei integralmente, mas tudo que ouvi me agradou bastante – a Ilustrada da Folha de S. Paulo publicou uma matéria interessantíssima trazendo uma enquete com 40 personalidades afins com o músico e escritor, que fizeram, cada um, a seleção de suas três canções preferidas dele. Pronto, tocou em duas coisas que adoro: Chico Buarque e listas.

Bem abrangente, a publicação da Folha traz, entre os votantes, pessoas diretamente ligadas ao artista, como a irmã Miúcha, o genro Carlinhos Brown e a companheira de estrada Gal Costa, mas também nomes bem distintos, como o carnavalesco Alexandre Louzada, autor do enredo "Chico Buarque da Mangueira", com o qual a escola foi campeã em 1998; Adelia Bezerra de Meneses, autora dos livros "Figuras do Feminino na Canção de Chico Buarque" e "Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque"; e o cineasta Bruno Barreto, diretor de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), que tem na trilha a inesquecível “O Que Será?”.

"Construção": a
campeã
Das escolhidas, várias se repetem de um votante para outro, mostrando o quanto são temas que realmente arrebatam os admiradores de Chico. Caso de “Construção”, a campeã em menções, 9 no total, “O Que Será” (8), “As Vitrines” (6), “Roda Viva” (5) e outras, como “Vai Passar” (“Mais atual do que nunca”, segundo o diretor de teatro João Falcão), “Futuros Amantes”, “O Meu Guri” e “Todo o Sentimento”.

É de se destacar que não apenas os clássicos consagrados pelo tempo entraram na seleção. Aparecem também obras das novas safras de Chico, como “Sinhá” (do seu penúltimo álbum, “Chico”, de 2011, parceria com João Bosco vencedora do Prêmio Tim de Música do Ano) e as recentes “As Caravanas” e "Tua Cantiga" – esta última, entre as preferidas de Zé Celso Martinez Corrêa e Miúcha.

Nessa linha, fico feliz (até por não tê-las conseguido incluir entre as minhas) em ver citados temas mais "escondidos" do cancioneiro de Chico, ou seja, aquelas músicas que não são necessariamente as mais populares e que, uma vez escolhidas, denotam um profundo apreço por parte de seu eleitor. Dentre estas, "Meio Dia Meia Lua", "Uma Canção Desnaturada", "Mil Perdões", "Quando o Carnaval Chegar" e "O Futebol". Senti falta, entretanto, de "Samba do Grande Amor" e "João e Maria", comumente queridinhas dos fãs. Porém, como se sabe, trata-se de uma obra gigantesca e qualificadíssima, por isso ausências como estas são mais do que justificáveis.

Então, vão aqui as listas das eleitas de cada participante e, claro, a minha também. Missão difícil, quase impossível. Mas como eu mesmo escrevo esta matéria, dou-me, ao menos, à liberdade de escolher não apenas três, mas 10 faixas. Eu posso.


A MINHA LISTA:
1 - “Construção” (em “Construção”, 1971)
2 - “A Bela e a Fera” (com Edu Lobo, em “O Grande Circo Místico”, por Tim Maia, 1982)
3 - “Futuros Amantes” (em “Paratodos”, 1992)
4 - “O Cio da Terra” (com Milton Nascimento, em “Chico & Milton”, 1977)
5 - “Cotidiano” (em “Construção”, 1971)
6 - “Meu Caro Amigo” (com Francis Hime, em “Meus Caros Amigos”, 1976)
7 - “O Meu Guri” (em“Almanaque”, 1981)
8 - “Estação Derradeira” (de “Francisco”, 1987)
9 - “Vida” (em “Vida”, 1980)
10 - "Valsinha" (com Vinícius de Moraes, em "Construção"), "Rosa dos Ventos" (em "Chico Buarque de Hollanda nº 4", 1970) e "Amando sobre os Jornais" (em "Mel", por Maria Bethânia, 1979)


.....................................

ALEXANDRE LOUZADA
Carnavalesco
[1] "Carolina" (1967) 
[2] "Quem te Viu, Quem te Vê" (1966) 
[3] "Cálice" (com Gilberto Gil - 1973) 

ADELIA BEZERRA DE MENESES
Professora da USP
[1] "Cala a Boca, Bárbara" (com Ruy Guerra - 1972/73) 
[2] "Todo o Sentimento" (com Cristóvão Bastos - 1987) 
[3] "O Que Será" (1976) e "Construção" (1971) 

BETH CARVALHO
Gravou "O Meu Guri" e inúmeras canções do compositor
[1] "Apesar de Você" (1970)
[2] "O Meu Guri" (1981) 
[3] "Sinhá" (com João Bosco - 2010)

BIBI FERREIRA
Atriz da primeira montagem de "Gota d'Água" (1975)
[1] "Gota d'Água" (1975)
[2] "Basta Um Dia" (1975)
[3] "Bem Querer" (1975)

BRUNO BARRETO
Cineasta, dirigiu, além de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), episódios de "Amor em Quatro Atos" (2011), baseada em canções de Chico 
[1] "O que Será"
[2] "As Vitrines" (1981) 
[3] "Folhetim" (1977/78) 

CACÁ DIEGUES
Cineasta, encomendou a Chico canções para "Quando o Carnaval Chegar" (1972; aqui, o cantor também atua), "Joanna Francesa" (1973) e "Bye Bye, Brasil" (1980), entre outros
[1] "Morro Dois Irmãos" (1989)
[2] "Joana Francesa" (1973) 
[3] "A Banda" (1966) 

CADÃO VOLPATO
Jornalista e autor de conto inspirado em música de Chico para a antologia "Essa História Está Diferente" (Companhia das Letras)
[1] "Flor da Idade" (1973)
[2] "Quando o Carnaval Chegar" (1972) 
[3] "Joana Francesa" 

CARLINHOS BROWN
Cantor e pai de dois netos de Chico
[1] "Trocando em Miúdos" (com Francis Hime - 1978)
[2] "As Vitrines"
[3] "Olhos nos Olhos" (1976)

CAROLA SAAVEDRA
Escritora, assinou conto para o livro "Essa História Está Diferente"
[1] "Mil Perdões" (1983) 
[2] "Construção" 
[3] "Roda Viva" (1967) 

CHARLES MÖELLER
Diretor de "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos" (2014) e "Ópera do Malandro" (2003)
[1] "O Que Será" - A primeira ("Abertura")
[2] "Mil Perdões" 
[3] "Bye Bye, Brasil" (com Roberto Menescal - 1979)

CRIOLO
Rapper, compôs nova letra para "Cálice" e foi elogiado por Chico
[1] "O Que Será" 
[2] "Cálice" 
[3] "Construção" 

DIOGO NOGUEIRA
Gravou com Chico "Sou Eu"
[1] "Roda Viva"
[2] "Homenagem ao Malandro" (1977/78)
[3] "Sou Eu" (com Ivan Lins - 2009)

ELBA RAMALHO
Participou da primeira montagem da "Ópera do Malandro" (1978)
[1] "O Meu Amor" (1977/78) 
[2] "Todo o Sentimento" 
[3] "As Vitrines”

ELIFAS ANDREATO
Ilustrador de discos de Chico como "Ópera do Malandro" (1979) e "Almanaque" (1981)
[1] "Sobre Todas as Coisas" (com Edu Lobo - 1982) 
[2] "Tempo e Artista" (1993) 
[3] "Todo o Sentimento" 

FERNANDO DE BARROS E SILVA
Diretor de Redação da "piauí" e autor de "Folha Explica Chico Buarque" (Publifolha, 2004)
[1] "Beatriz" (com Edu Lobo - 1982) 
[2] "Pelas Tabelas" (1984)
[3] "O Futebol" (1989) 

GABRIEL VILLELA
Diretor de "A Ópera do Malandro" (2000), "Os Saltimbancos" (2001) e "Gota d'Água" (2001)
[1] "Uma Canção Desnaturada" (1979)
[2] "O Meu Guri" 
[3] "Brejo da Cruz" (1984) 

GAL COSTA
Intérprete de "Folhetim", dedicou "Mina d'Água do Meu Canto" (1995) à obra de Chico e de Caetano
[1] "Folhetim" 
[2] "Desalento" (com Vinicius de Moraes, 1970) 
[3] "As Vitrines" 

GEORGETTE FADEL
Atriz da montagem "Gota d'Água - Breviário" (2006)
[1] "Valsa brasileira" (com Edu Lobo - 1987-88)
[2] "Gota d'Água" 
[3] "Bárbara" (com Ruy Guerra - 1972-73) e "Roda Viva" 

HELOISA STARLING
Professora da UFMG e autora de "Uma Pátria Paratodos - Chico Buarque e as Raízes do Brasil" (Língua Geral)
[1] "Construção"
[2] "Futuros Amantes" (1993) 
[3] "Sinhá" 

HUMBERTO WERNECK
Jornalista, autor da reportagem biográfica de "Tantas Palavras" (Companhia das Letras)
[1] "Futuros Amantes" 
[2] "As Vitrines" 
[3] "Vai Passar" (com Francis Hime - 1984) 

JOÃO FALCÃO
Diretor de "Cambaio" (2001) e "Ópera do Malandro" (2014)
[1] "Futuros Amantes" 
[2] "Leve" (com Carlinhos Vergueiro - 1997) 
[3] "Vai Passar" - Mais atual do que nunca

JOÃO FONSECA
Diretor de "Gota d'Água" (2007)
[1] "O Que Será" 
[2] "Construção" 
[3] "Beatriz" 

LAILA GARIN
Atriz de "Gota d'Água [A Seco]" (2016)
[1] "As Vitrines"
[2] "Uma Palavra" (1989) 
[3] "Uma Canção Desnaturada"

LEILA PINHEIRO
Gravou com Chico "Renata Maria" e participou de álbuns dele como "Dança da Meia-Lua" (1988)
[1] "Futuros Amantes" 
[2] "Valsa Brasileira" 
[3] "Retrato em Branco e Preto" (com Tom Jobim, 1968) 

MIÚCHA
Cantora e irmã de Chico
[1] "Maninha" (1977) 
[2] "Tua Cantiga" (com Cristóvão Bastos, 2017) 
[3] "As Caravanas" (2017) 

MÔNICA SALMASO
Gravou com Chico "Imagina", além do disco "Noites de Gala, Samba na Rua" (2007), todo dedicado à obra dele
[1] "Beatriz"
[2] "Construção"
[3] "Sinhá" - Encontro arrebatador de mestres sobre a história do Brasil

MONIQUE GARDENBERG
Diretora do filme "Benjamim" (2004), adaptado do livro homônimo de Chico
[1] "Apesar de Você"
[2] "Joana Francesa" 
[3] "A Rita" (1965) 

NANA CAYMMI
Gravou com Chico "Até Pensei" e participou de projetos dele, como a trilha de "O Corsário do Rei" (1985)
[1] "Até Pensei" (1968)
[2] "O Que Será"

[3] "Gota d'Água"

NEY MATOGROSSO
Gravou o disco "Um Brasileiro" (1996), dedicado à obra de Chico
[1] "Construção" 
[2] "Almanaque" (1981) 
[3] "Tatuagem" (com Ruy Guerra, 1972/73) 

OLIVIA BYINGTON
Gravou diversas canções de Chico e participou de trabalhos dele, como a trilha de "Para Viver um Grande Amor" (1983)
[1] "Eu te Amo" (com Tom Jobim - 1980) 
[2] "Tatuagem"  
[3] "Apesar de Você" 

OSWALDO MONTENEGRO
Gravou um disco em torno da obra de Chico ("Seu Francisco", 1993)
[1] "Construção"
[2] "Todo o Sentimento" 
[3] "Roda Viva" 

RAFAEL GOMES
Diretor de "Gota d'Água [A Seco]" (2016)
[1] "Você Vai Me Seguir" (com Ruy Guerra - 1972/73) 
[2] "A Voz do Dono e o Dono da Voz" (1981) 
[3] "Meio Dia Meia Lua (na Ilha de Lia, no Barco de Rosa)" [com Edu Lobo, 1987/88] 

REGINA ZAPPA
Autora de "Chico Buarque para Todos" (Ímã Editorial) e "Chico Buarque - Cidade Submersa" (Casa da Palavra), entre outros
[1] "Construção"
[2] "Joana Francesa" 
[3] "O Meu Guri" 

RICARDO CALIL
Jornalista e codiretor do documentário "Uma Noite em 67", que mostra o Festival de MPB em que Chico apresentou "Roda Viva" com o MPB 4
[1] "Construção" 
[2] "Olhos nos Olhos" 
[3] "Cotidiano" (1971) 

SYLVIA CYNTRÃO
Professora da UnB e autora de "Chico Buarque, Sinal Aberto!" (7Letras)
[1] "O Que Será" 
[2] "Roda Viva" 
[3] "Sem Fantasia" (1967) 

TADEU JUNGLE
Roteirista e diretor de episódio da série "Amor em Quatro Atos"
[1] "Geni e o Zepelim" (1977/78) 
[2] "Sem Açúcar" (1975) 
[3] "Todo o Sentimento" 

VIVIAN FREITAS
Fundadora e vocalista do bloco Mulheres de Chico, dedicado à obra buarquiana
[1] "O Que Será (À Flor da Terra)" 
[2] "Roda Viva" 
[3] "Geni e o Zepelim" 

WALTER CARVALHO
Cineasta e fotógrafo, diretor de "Budapeste" (2009), baseado no livro homônimo de Chico
[1] "A Banda" 
[2] "Apesar de Você" 
[3] "Feijoada Completa" (1977)

ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
Diretor da montagem original de "Roda Viva" (1967)
[1] "Sem Fantasia”
[2] "O Meu Amor”
[3] "Tua Cantiga" 

ZIZI POSSI
Intérprete de "Pedaço de Mim", está montando show dedicado às parcerias de Chico com Edu Lobo
[1] "Cantiga de Acordar" (com Edu Lobo, 2001)
[2] "Beatriz"
[3] "O Circo Místico" (com Edu Lobo, 1982)


por Daniel Rodrigues