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domingo, 9 de março de 2014

Santana - "Abraxas" (1970)



“Não dá para tomar LSD e não encontrar sua voz, porque não há onde se esconder."
Carlos Santana


Uma recordação musical legal que eu tenho, ali quando começava a me interessar por música, lá pela metade dos anos 80, na explosão do rock nacional, é de, na antiga casa da minha avó, no bairro Cefer, em Porto Alegre, meu tio Jorge me apresentar ao "Abraxas" (1970) da banda Santana. Chamou a mim e a meu primo Lúcio Agacê para ouvir um cara que segundo ele era "um baita guitarrista". Pirralho, imaturo, achando que o RPM era a melhor coisa que já tinha ouvido,e provavelmente com uma expectativa de ouvir guitarras rascantes, riffs  e levadas ruidosas, não dei o devido valor àquele som. Ouvimos várias faixas, a maior parte eu torci o nariz na época, mas uma em especial me marcou: "Samba Pa Ti", uma balada instrumental swingada e sensual, num crescendo envolvente e com uma guitarra, até para um jovem incrédulo, inegavelmente espetacular. Mas valem destaques também para "Oye Como Va" e para o espetacular blues "Black Magic Woman/Gypsy Queen".
Hoje não há como não reconhecer que aquela guitarra técnica, cheia de embalo, de jazz, de latinidade, foi um marco para o rock mundial e fundamental para a expansão de músicos latinos nesse universo. Maná, Fito Paez, Caifanes e outros devem o fato de figurarem num cenário internacional de música pop/rock a Carlos Santana com a banda que leva seu sobrenome, e que, depois da apresentação marcante em Wodstock especialmente, praticamente abriu as portas para bandas de língua espanhola e ritmos ditos tropicais dentro do rock.
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FAIXAS:
  1. "Singing Winds, Crying Beasts" (Carabello) – 4:48
  2. "Black Magic Woman/Gypsy Queen" (Green/Szabo) – 5:24
  3. "Oye Como Va" (Puente) – 4:19
  4. "Incident at Neshabur" (Gianquinto/Santana) – 5:02
  5. "Se Acabó" (Areas) – 2:51
  6. "Mother's Daughter" (Rolie) – 4:28
  7. "Samba Pa Ti" (Santana) – 4:47
  8. "Hope You're Feeling Better" (Rolie) – 4:07
  9. "El Nicoya" (Areas) – 1:32

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Ouça:
Santana Abraxas


Cly Reis


segunda-feira, 30 de abril de 2012

Lauryn Hill - "The Miseducation of Lauryn Hill" (1998)


A escola de Ms. Hill

"O hip hop encontra escrituras transformando o negativo numa coisa positiva”
Lauryn Hill

A década de 90 lançou um filme que entrou pra minha lista de melhores filmes de todos os tempos (não digo que é uma lista de 10 ou de 100, porque perdi a conta, mas engloba todo tipo de filme), o "Mudança de Hábito 2". Uma comédia musical que me chamou atenção pela qualidade dos cantores, pelo repertório e pelo conjunto da obra. Uma cantora em especial, Lauryn Hill, que já participava do grupo de hip hop Fugees, mas que para mim ainda era desconhecida, se tornou um objeto de desejo. Queria saber mais sobre ela, o que fazia, o que estaria por fazer, mas nessa época o acesso às informações musicais era difícil, afinal de contas a internet ainda não estava disponível para todos.
Em 98, Lauryn Hill (nascida em 25 de maio de 1975, na cidade de South Orange, New Jersey), lança o álbum "The Miseducation Of Lauryn Hill". Na primeira oportunidade adiquiri o disco e continuo ouvindo até hoje. O seu nome traduzido significa “A Deseducação de Lauryn Hill” e tem como capa uma xilogravura da cantora – uma referência ao disco "Burning", do The Waylers - numa mesa escolar. Este ambiente é o tema do álbum, usando como referência, logo em sua abertura na faixa "Intro", um sinal de entrada e uma lista de chamada. Ainda há interlúdios entre algumas faixas simulando o intervalo entre as aulas.
Na segunda faixa Ms. Hill abre com o rap "Lost Ones", uma batida sobre os perdidos, uma canção sobre a realidade. E é a partir da concepção de realidade que as músicas se sustentam ao longo do disco. Ela não se preocupa com o amor romântico de baladas superficiais, mas explora a vida como ela é, como na faixa 3. A música "Ex-Factor" é uma batida mais lenta, sobre as contradições e sofrimentos de um amor inacabado, assim como a música 8, que retoma o amor, porém não correspondido.
"To Zion", é uma homenagem à decisão de ter o seu primeiro filho, junto a Rohan Marley (filho de Bob Marley), já que a aconselharam a abortar para que não atrapalhasse o momento de sua carreira. Ainda bem que a decisão foi contrária, pois um dos maiores hits do disco é exatamente esse, que ainda contou com a participação de Carlos Santana.
Doo wop é um estilo musical que surgiu na comunidade negra dos EUA, baseado no R&B, com a particularidade de ter uma harmonia de vocais. Lauryn Hill escancara suas referências musicais nomeando a faixa 5 como "Doo Wop (That Thing)", recriando o estilo, utilizando os vocais pra falar sobre garotos e garotas, e sobre o que eles buscam. A resposta está no refrão: “Garotos é melhor vocês ficarem ligados... algumas garotas só estão atrás ‘daquilo’... Garotas é melhor vocês ficarem ligadas... alguns caras só estão atrás ‘daquilo’”. Da faixa "Doo Wop...", Lauryn viaja novamente pelo hip hop nas duas músicas seguintes, "Superstar" e "Final Hour".
Fica claro que as letras vão além de meras rimas e bons compassos. A ideologia por trás delas gira em torno da realidade vivida por adolescentes negros, de escolas negras, de bairros negros, como na música "Everything Is Everything". Nesta, ela exalta o poder de transformação do hip hop, como no trecho: “ ...o hip hop encontra escrituras transformando o negativo numa coisa positiva”. Já na música "Forgive Them Father", Lauryn se vale de partes da Bíblia para criticar tanto o sistema capitalista como as relações inter-raciais.  Mas é na música "Every Guetto, Every City" que ela usa de metalinguagem para falar de sua própria adolescência, onde era uma menina de pernas magras, que sonhava com o sucesso.
O sucesso, Ms. Hill obteve de forma meteórica. Ganhou cinco prêmios das onze indicações ao Grammy: álbum do ano, artista revelação, prestação vocal R&B feminina, canção R&B e álbum R&B. Vendeu por volta de 400.000 cópias só na primeira semana e entrou para a lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame.
Sua “deseducação” alcançou o mundo, rompendo barreiras entre classes sociais. Porém, assim como podemos entender que o disco engloba críticas variadas, nas variadas faixas, a última música, cujo título é homônimo ao álbum, apresenta uma visão mais para dentro dela mesma. Há questionamentos quanto à repressão externa, do que as pessoas esperavam dela. Logo, “deseducação”, como um todo, significa crítica, questionamento, aprendizado. Mas a sua própria “deseducação”, pode ser um grito de liberdade, de uma pessoa que teve que se adequar às formas para ser quem é.
O disco não pára por aí. Algumas músicas não citadas merecem atenção e duas outras entram na faixa bônus. Uma delas é a regravação de Frankie Valli, a "Can’t Take My Eyes Off You". Após o sucesso, Ms. Hill gravou um Unplugged pela MTV, sem projeção e entrou numa espécie de torpor criativo. O álbum foi tão marcante que os seus fãs aguardam não só os shows baseados nesses sucessos, mas que sua criatividade e reinvenção sejam motivos de inspiração para um novo trabalho.
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FAIXAS:
01. Intro
02. Lost Ones
03. Ex-factor
04. To Zion
05. Doo Wop (That Thing)
06. Superstar
07. Final Hour
08. When It Hurts
09. I Used To Love Him
10. Forgive Them Father
11. Every Ghetto, Every City
12. Nothing Even Matters
13. Everything Is Everything
14. The Miseducation of Lauryn Hill

faixas extra:
15. Can't Take My Eyes Off You
16. Tell Him (live)


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Ouça:
The Miseducation of Lauryn Hill


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

4ª Feira de Vinil Gira Música - Casa da Polônia - Rio de Janeiro/RJ (1º/09/2019)



O dias em que passamos Leocádia e eu no Rio de Janeiro foram invariavelmente lotados. Só coisa boa, mas lotados. Mas sempre se tem espaço para encaixar mais uma programação, ainda mais quando esta trata de música. Ou melhor: quando esta trata de música E discos, o que para um colecionador é um prato cheio. Minha mãe, sabendo de nosso gosto, havia avisado dias antes que ocorreria, no domingo, a Feira de Vinil Gira Música, na Casa da Polônia, no próprio bairro e avenida onde estávamos instalados, Laranjeiras. Pois que, voltando de um passeio no bairro Jardim Botânico neste dia, eis que cruzamos em frente à feira. Obviamente que descemos e fomos dar uma conferida, o que não só valeu a pena a título de passeio como, claro, de compras.

A feira trazia food trucks, bancas com artesanato e bijuterias e uma exposição sobre o célebre músico, arranjador e produtor Lincoln Olivetti, morto há  4 anos, infelizmente muito primária e amadora e que não dimensionava nem de perto a relevância do homenageado. Mas isso não era o mais importante e, sim, aquilo que nos levou até lá: os discos. Com expositores cariocas mas também vindos de Minas Gerais e São Paulo, a feira estava muito boa em termos de quantidade e variedade. Todos os gêneros musicais contemplados, mas principalmente rock, MPB e jazz. O nível dos expositores chamou atenção, uma vez que todos sabem muito bem o acervo que oferecem. Ou seja: os discos raros tinham preços que justificavam suas particularidades. Títulos como "A Bad Donato", de João Donato, "Stand", da Sly & Family Stone, o primeiro disco de Arthur Verocai, "Spirit of the Times", de Dom Um Romão, "Blue Train", de John Coltrane, ou o disco do próprio Lincoln em parceria com Robson Jorge, clássico da AOR brasileira, não saíam por menos que 500, 400, 350, 200, 180 Reais ou valores parecidos.

Galera percorrendo as prateleiras em busca "daquele" vinil
Clima descontraído e musical da Feira de Vinil na Laranjeiras
Não só vinil tinha na feira
Eu vasculhando as preciosidades da banda do Sonzera, um dos expositores
Pedaço da miniexposição sobre Lincoln Olivetti: deixou a desejar

Em compensação, vários balaios. E bons! Com muita variedade e, às vezes, até discos raros, era possível encontrar unidades a 10, 20 ou 30 Reais. E foi aí que me esbaldei, passando algumas horas na feira percorrendo as caixas com promoções enquanto Leocádia aproveitava outras atividades ou simplesmente me aguardava. Uma das atrações da feira seria a presença do cantor e compositor Hyldon, lenda da soul brasileira, que estaria à tarde autografando seu disco relançado, mas não ficamos para isso. Afinal, já estávamos muito bem alimentados com o que encontramos de variedade e qualidade de bolachões, inclusive esses, os que levamos para casa:



“Limite das Águas” – Edu Lobo (1976)
Edu tem vários discos solo cultuados, como “Missa Breve”, “Camaleão” e “Jogos de Dança”, mas não raro este aparece como o preferido do autor de “Ponteio”. Afinal, não tem como não adorar as parcerias como Capinan, Cacaso e Guarnieri, além do primor dos arranjos do próprio Edu e as participações de músicos do calibre de Oberdan Magalhães, Cristóvão Bastos, Joyce, Toninho Horta, Danilo Caymmi e o grupo vocal Os 3 Morais. Coisa fina da MPB.


“Libertango” – Astor Piazzola (1974)
Um dos gênios da música do século XX em seu disco mais icônico. Gravado em Milão, é a representação máxima do tango argentino moderno, tanto que as próprias faixas, assim como a que o intitula, trazem o termo “tango” no nome: Meditango, Violentango, Undertango, entre outras. De ouvir ajoelhado - ou tangueando.



“Brazilian Romance – Sarah Vaughn with Milton Nascimento” ou “Love and Passion”  Sarah Vaughn (1987)
A grande cantora norte-americana Sarah Vaughn, amante da MPB, recorrentemente voltava ao gênero. Depois de gravar discos como “Exclusivamente Brasil” e “O Som Brasileiro de Sarah Vaughn”, nos ano 70, em 1987 ela torna à sonoridade do Brasil por meio de um de seus mais admirados compositores: Milton Nascimento. E o faz isso com alto grau de requinte, haja vista a produção de Sérgio Mendes, os arranjos de Dori Caymmi e participações de gente como George Duke e Hubert Laws. Ela quase levou um Grammy de melhor performance feminina por este álbum.

“Merry Christmas, Mr. Lawrence (Music From The Original Motion Picture Soundtrack)”  Ryuichi Sakamoto (1983)
Tenho adoração por este filme intitulado no Brasil como “Furyo - em Nome da Honra”, e tanto quanto pela trilha sonora, escrita pelo genial Ryuichi Sakamoto. Que, aliás, atua neste filme de Segunda Guerra do mestre Nagisa Oshima, o qual conta no elenco (e só no elenco, o que acho legal também em nível de desprendimento) e como ator principal David Bowie em espetacular atuação. A faixa-título é não só linda como um marco das trilhas sonoras feitas para cinema.


“Stories to Tell” – Flora Purim (1974)
Terceiro disco solo de Flora e segundo dela em terras norte-americanas. Ou seja, vindo um ano após o seu debut “Butterfly Dreams”, no mesmo ano de“Hot Sand”, do então marido Airto Moreira, e dois da estreia com Chick Corea na Return to Forever, “Stories...” a consolida como a musa do jazz brasileiro. Ainda por cima tem Carlos Santana, George Duke, Ron Carter e o próprio Airto compondo a “bandinha”. E que voz é essa a dela?! 




“Amor de Índio” – Beto Guedes (1978)
Dos discos mais célebres da chamada “segunda fase” do Clube da Esquina. A galera tá toda lá: Milton, Brant, Toninho, Tiso, Venturini, Tavinho, Caetano e, claro, Ronaldo Bastos, produtor, compositor com Beto da faixa-título e autor da icônica foto dele enrolado no cobertor usada por Cafi na arte da capa.



texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa e fanpage Gira Brazil - Gira Música

terça-feira, 28 de maio de 2013

Wayne Shorter - "Night Dreamer" (1963)



“Este disco é um marco para mim,
pois veio em um momento em que eu
 estava entrando em uma nova fase como autor.
E também eu sabia que
 em meu primeiro álbum para a Blue Note
eu teria que dizer algo substancial.”
Wayne Shorter,
no texto do encarte original


São inúmeros os discípulos de Miles Davis no universo do jazz. A lista vai de mestres geniais como Chick Corea, Herbie Hancock, Sonny Rollins, John McLaughlin e John Coltrane – para mim, o maior deles. Mas talvez o mais fiel aluno tenha sido outro genial jazzista: o saxofonista Wayne Shorter, lenda viva da música mundial. De estilo arrojado tanto nos improvisos quanto nas harmonias, Shorter começou na cena em 1959 na banda bebop de Art Blakey, a The Jazz Messengers, pela qual não só ajudou a gravar álbuns memoráveis, como, hábil e líder, tornou-se logo o diretor musical do grupo. Além disso, como todos da sua geração, foi fortemente influenciado pelo jazz em escalas do “divisor de águas” "Kind of Blue", de Miles (1959), passando, tempo depois, a formar o aclamado “segundo grande quinteto” do mestre, juntamente com Hancock, Ron Carter e Tony Williams. Tudo isso deu embasamento para Shorter, valendo-se de todas estas referências, gravar, em 1963, seu grande trabalho: o encantador “Night Dreamer”, onde se nota um compositor maduro e criativo, além de um instrumentista virtuoso.

Depois de três LP’s pelo selo Vee-Jay, onde ainda se percebe um artista em busca de identidade própria, “Night Dreamer”, seu primeiro pela mais cultuada gravadora do jazz, a Blue Note, é o acerto da medida: cool, sofisticado, intenso, coeso. Tudo favorecendo: a técnica de estúdio Rudy Van Gelder, a produção caprichada de Alfred Lion e esplêndida arte, na foto borrada de Francis Wolff e o design de Reid Miles. Campo preparado para um disco impecável. Como o título sugere, começa numa atmosfera de sonho com a arrebatadora faixa-título, em que o piano de McCoy Tyner anuncia, em acordes ondulantes e oníricos, a beleza da melodia modal que se forma a seguir com o restante da banda (e que banda!): Lee Morgan (trompete), Reggie Workman (baixo) e Elvin Jones (bateria). O chorus, sobre o andamento cadenciado e bluesy de Jones e dos dois tempos de quatro do piano, desenha um riff pegajoso que, entre leves ascendências e declives, surpreende pelas dissonâncias sem, contudo, se afastar do coração do ouvinte. Espiral como um sonho, volta, no fim da série, para o acorde inicial. A mesma ideia circular serve de concepção para os improvisos, momento em que Shorter dá um verdadeiro show de tempos, variações e groove. Há claras inspirações no fraseado econômico e certeiro de Miles, inclusive na repetição da famosa frase de trompete que antecede o solo histórico de Coltrane em "Freddie Freeloader", do “Kind of Blue”, que Morgan pronuncia rapidamente mas com exatidão, numa visível homenagem. No final, ao invés de toda a banda tencionar para cair junta, o mais comum à época, Shorter subverte, desfechando-a em pleno solo ascendente, em ritmo aberto.

Os anos como cérebro da The Jazz Messengers deram à Shorter a cancha de produzir adaptações tão primorosas como a de "Oriental Folk Song", uma canção tradicional chinesa em que o músico recria o tema original timbrística e harmonicamente, compondo um jazz novamente complexo em construção, mas orgânico a quem ouve. A introdução em tons orientais abre espaço para uma segunda e intermediária parte com o chorus de tempos longos e articulados. Porém, a música progride ainda mais, e uma terceira sequência atinge outra envergadura, subindo a gradação em uma interpretação vigorosa de toda a banda.

“Virgo”, uma das mais lindas baladas do cancioneiro jazz, vem em seguida, e aqui Shorter novamente arrebenta, mas não da forma carregada como nas primeiras faixas, mas, sim, em solos lânguidos e perfeitamente pronunciados. Sem pressa e repleta de sussurros, pausas e desvelos; sensual como uma transa apaixonada madrugada adentro. É tão incrível que, mesmo empunhando um saxofone tenor, há momentos em que parece estar tocando um sax alto, tamanho rebuscamento que extrai das notas graves e na modulação que atinge com o instrumento. Para arrematar, um breve solo enlevado à capela, só sax e ouvidos. Perfeita.

Embalada e não menos saborosa, “Black Nile” vem com toda a banda em altíssimo nível de performance. É, seguramente, a mais “agitada” do disco, que só veio a acelerar-se um pouco mais já na sua segunda metade. No entanto, o tom suave que perfaz o álbum é novamente demarcado em "Charcoal Blues", em que o saxofonista exercita pequenas variações sobre o riff, numa simplicidade mais uma vez com ares de Miles Davis, inclusive pelo visível apreço pelo blues. Nesta, McCoy Tyner merece atenção especial na manutenção da base e, principalmente, em seu solo.

Nada mais perfeito para terminar uma noite de fantasia do que com o próprio “Armageddon". Considerada por Shorter como o ponto focal do álbum, contém como mensagem a força da dualidade do ser humano na última batalha entre o bem e o mal. Por isso, as notas reflexivas e densas, mas nem por isso menos belas. Nela, sonho passa a significar utopia, alucinação. “A minha definição do julgamento final é um período de esclarecimento total que vai descobrir o que somos e por que estamos aqui", disse o compositor sobre esta obra. Não sei se um dia chegaremos a isso, mestre Shorter, mas certamente sua música nos eleva a um ponto que, mesmo que apenas como meros sonhadores de uma noite qualquer, talvez consigamos revelar algo tão profundo de nós mesmos.

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Corrijo em tempo um erro desta resenha: “Night Dreamer” não é O grande trabalho de Wayne Shorter, mas, sim, seu PRIMEIRO grande trabalho. Em plena atividade mesmo prestes a completar 80 anos, o músico lançou este ano um novo CD, o elogiado “Without A Net”. Mas para alguém dono de uma obra tão extensa e marcante, eleger apenas um disco como o melhor é tarefa impossível. Basta lembrar-se de outros grandes discos solo, como ”Ju-Ju” (1964), “Speak no Evil” e “The Soothsayer” (ambos de 1965), os trabalhos com uma das pioneiras do jazz-fusion, a Wheater Report, nos anos 70, ou as parcerias, como os que gravou com Milton Nascimento, Carlos Santana e Joni Mitchell.

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FAIXAS:
1. Night Dreamer - 7:15
2. Oriental Folk Song - 6:50
3. Virgo - 7:00
4. Virgo (alternate take 14) – 7:03
5. Black Nile - 6:25
6 Charcoal Blues - 6:50
7. Armageddon - 6:20

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Ouvir:



sábado, 14 de setembro de 2013

ClyBlog 5+ Craques


É, nós do clyblog também gostamos de futebol!
Siiiim!!! Tanto que volta e meia fazemos alguma referência a algum evento importante do esporte (Copa do mundo, Libertadores, finais de torneios, etc.) ; habitualmente registramos presença nos estádios por onde passamos; muitos dos Causo de Dois Morro são sobre futebol, tirinhas do blog também  fazem referência ao mundo da bola como as do Peymar ou a caríssima contração do time da horta; isso sem falar que, não raro, nas COTIDIANAS costuma aparecer algum conto ou crônica sobre futebol, tanto que uma delas até foi selecionada e publicada numa coletânea homenageando meu time do coração, o Internacional.
E dessa vez o clyblog 5+ é mais ou menos sobre isso: os 5 maiores que já vestiram a  camisa do time do coração de 5 convidados. Sei que no Brasil teríamos pelo menos 12 ou 15 times que valeriam a pena serem destacados, outra dezena que valeriam pela curiosidade, outros tantos pelo inusitado, mas dentro da nossa geografia de amigos, procuramos fazer o mais variado possível, sem sermos óbvios demais, mas de modo que ficasse minimamente interessante. Meus amigos flamenguistas,vascaínos, corintianos, botafoguenses, santistas, atleticanos, e tantos outros vão me perdoar, mas só tinha lugar pra 5 neste especial de 5 anos.
Assim, com vocês, clyblog 5+ craques do seu time do coração:




1 Samir Al Jaber
funcionário público
torcedor do São Paulo Futebol Clube
(São Paulo /SP)

"Fala aí, brother! É bem diferente de fazer lista de discos, né?
Até porque disco é uma coisa que dá pra ouvir e analisar
e tem muito jogador que o que sei é de relatos, leitura e DVD's históricos.
Bom, no fim, minha lista ficou até meio clichê."

Rogério Ceni

1. Rogério Ceni
2. Leônidas da Silva
3. Raí
4. Careca
5. Pedro Rocha



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2 Mateus Bianchim
ator
torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras
(São Paulo/SP)


1. Marcos
2. Evair
3. César Maluco
4. Ademir da Guia
O "Divino" é destaque
na lista do palmeirense
Mateus Bianchim




















5. Obina

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3 Tiago Ritter
jornalista
torcedor do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
(Porto Alegre /RS)


"Vou falar dos que vi e dos poucos que tive boas referências."


Renato

1. Renato Portaluppi
2. Danrlei
3. Dinho
4. Luís Carlos Goiano
5. Aírton 'Pavilhão'




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4 Liliane Reis Freitas
operadora de CFTV
torcedora do Sport Club Internacional
(Sapucaia do Sul /RS)


1. Falcão


2. Fernandão
3. D' Alessandro
4. Figueroa
5. Manga

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5 Carlos Eduardo Jesus Braga
comprador da construção civil
torcedor do Fluminense Football Clube
(Rio de Janeiro /RJ)

"Dos que eu vi jogar, os maiores seriam Assis e Thiago Silva,
mas respeitando a história, a ordem é essa."



1. Castilho
2. Thiago silva
3. Assis
4. Rivelino
5. Telê Santana
A maioria das pessoas só lembra
do Telê técnico mas ele foi também
um dos grandes jogadores
da história do Fluminense


quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2023

 



Rita e Sakamoto nos deixaram esse ano
mas seus ÁLBUNS permanecem e serão sempre
FUNDAMENTAIS
Chegou a hora da nossa recapitulação anual dos discos que integram nossa ilustríssima lista de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS e dos que chegaram, este ano, para se juntar a eles.

Foi o ano em que nosso blog soprou 15 velinhas e por isso, tivemos uma série de participações especiais que abrilhantaram ainda mais nossa seção e trouxeram algumas novidades para nossa lista de honra, como o ingresso do primeiro argentino na nossa seleção, Charly Garcia, lembrado na resenha do convidado Roberto Sulzbach. Já o convidado João Marcelo Heinz, não quis nem saber e, por conta dos 15 anos, tascou logo 15 álbuns de uma vez só, no Super-ÁLBUNS FUNDAMENTAIS de aniversário. Mas como cereja do bolo dos nossos 15 anos, tivemos a participação especialíssima do incrível André Abujamra, músico, ator, produtor, multi-instrumentista, que nos deu a honra de uma resenha sua sobre um álbum não menos especial, "Simple Pleasures", de Bobby McFerrin.

Esse aniversário foi demais, hein!

Na nossa contagem, entre os países, os Estados Unidos continuam folgados à frente, enquanto na segunda posição, os brasileiros mantém boa distância dos ingleses; entre os artistas, a ordem das coisas se reestabelece e os dois nomes mais influentes da música mundial voltam a ocupar as primeiras posições: Beatles e Kraftwerk, lá na frente, respectivamente. Enquanto isso, no Brasil, os baianos Caetano e Gil, seguem firmes na primeira e segunda colocação, mesmo com Chico tendo marcado mais um numa tabelinha mística com o grande Edu Lobo. Entre os anos que mais nos proporcionaram grandes obras, o ano de 1986 continua à frente, embora os anos 70 permaneçam inabaláveis em sua liderança entre as décadas.

No ano em que perdemos o Ryuichi Sakamoto e Rita Lee, não podiam faltar mais discos deles na nossa lista e a rainha do rock brasuca, não deixou por menos e mandou logo dois. Se temos perdas, por outro lado, celebramos a vida e a genialidade de grandes nomes como Jards Macalé que completou 80 anos e, por sinal, colocou mais um disco entre os nossos grandes. E falando em datas, se "Let's Get It On", de Marvin Gaye entra na nossa listagem ostentando seus marcantes 50 anos de lançamento, o estreante Xande de Pilares, coloca um disco entre os fundamentais logo no seu ano de lançamento. Pode isso? Claro que pode! Discos não tem data, música não tem idade, artistas não morrem... É por isso que nos entregam álbuns que são verdadeiramente fundamentais.
Vamos ver, então, como foram as coisas, em números, em 2023, o ano dos 15 anos do clyblog:


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PLACAR POR ARTISTA (INTERNACIONAL)

  • The Beatles: 7 álbuns
  • Kraftwerk: 6 álbuns
  • David Bowie, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis, John Coltrane, John Cale*  **, e Wayne Shorter***: 5 álbuns cada
  • Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan e Lee Morgan: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden , U2, Philip Glass, Lou Reed**, e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
  • Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, PJ Harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beastie Boys, Ride, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green, Santana, Ryuichi Sakamoto, Marvin Gaye e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"

**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"

*** contando o álbum "Five Star', do V.S.O.P.



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 7 álbuns*
  • Gilberto Gil: * **: 6 álbuns
  • Jorge Ben e Chico Buarque ++: 5 álbuns **
  • Tim Maia, Rita Lee, Legião Urbana, Chico Buarque,  e João Gilberto*  ****, e Milton Nascimento*****: 4 álbuns
  • Gal Costa, Titãs, Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e Tom Jobim +: 3 álbuns cada
  • João Bosco, Lobão, João Donato, Emílio Santiago, Jards Macalé, Elis Regina, Edu Lobo+, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura e Baden Powell*** : todos com 2 álbuns 


*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil

**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"

*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"

**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"

***** contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"

+ contando com o álbum "Edu & Tom/ Tom & Edu"

++ contando com o álbum "O Grande Circo Místico"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 121
  • anos 60: 100
  • anos 70: 160
  • anos 80: 139
  • anos 90: 102
  • anos 2000: 18
  • anos 2010: 16
  • anos 2020: 3


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 24 álbuns
  • 1977 e 1972: 20 álbuns
  • 1969 e 1976: 19 álbuns
  • 1970: 18 álbuns
  • 1968, 1971, 1973, 1979, 1985 e 1992: 17 álbuns
  • 1967, 1971 e 1975: 16 álbuns cada
  • 1980, 1983 e 1991: 15 álbuns cada
  • 1965 e 1988: 14 álbuns
  • 1987, 1989 e 1994: 13 álbuns
  • 1990: 12 álbuns
  • 1964, 1966, 1978: 11 álbuns cada



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 211 obras de artistas*
  • Brasil: 159 obras
  • Inglaterra: 126 obras
  • Alemanha: 11 obras
  • Irlanda: 7 obras
  • Canadá: 5 obras
  • Escócia: 4 obras
  • Islândia, País de Gales, Jamaica, México: 3 obras
  • Austrália e Japão: 2 cada
  • Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria, Argentina e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de países diferentes, conta um para cada)