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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO, ClyBlog 8 anos - Robson Jorge & Lincoln Olivetti - "Robson Jorge & Lincoln Olivetti" (1982)

Minha Bíblia Musical
por Lucas Arruda


“O disco solo do Lincoln Olivetti e do Robson Jorge é uma referência de que é possível fazer um disco bem gravado MESMO, em qualquer condição, basta dedicação e talento”.
Ed Motta



Alegria imensa em poder falar um pouco deste álbum! Pessoalmente, é o disco que mais influenciou em termos de arranjo, sonoridade, composição. Minha bíblia! Um registro magistral da parceria do Robson e Lincoln, dupla de músicos e produtores que dominou a produção musical no Brasil durante a década de 80.

Este disco representa toda a perfeição técnica que os dois sempre buscaram em suas produções e traz um time incrível de músicos, os melhores daquela geração! Paulo Cezar Barros, Jamil Joanes, Picolé, Paulo Braga, Mamão, Oberdan Magalhães, Leo GandelmanMárcio Montarroyos, Bidinho, Serginho do Trombone, Zé Carlos Bigorna e outros brilhantes músicos. Um supertime!

São 12 faixas que trazem a mais perfeita simbiose entre a black music norte-americana e a música brasileira. Os arranjos de sintetizadores explicam porque Lincoln é chamado de mago, e o Robson é sem dúvida um dos maiores músicos que este país viu, embora incrivelmente pouco citado!

A primeira música que ouvi deste álbum foi a balada "Eva". Destaque para o trabalho rítmico das guitarras do Robson nesse disco, assim como a melodia tocada em uníssono com a voz. Aliás, essa é uma característica forte do álbum. Canções instrumentais, com os vocalises do Robson às vezes cantando pequenos trechos de letra, outras vezes a melodia. Tomo a liberdade de dizer que isso me influencia muito.

Tem algo de muito incrível nesse disco! A capacidade de criar hits sem letras, ou com apenas uma palavra, como o clássico “Aleluia!”. Esta é a faixa mais conhecida deste disco, e traz ecos do Earth, Wind and Fire. Ninguém no Brasil conseguiu traduzir essa sonoridade como os dois fizeram. Nota-se também a influência da música latina (“Raton” e o medley “Baila Comigo/Festa Brava”).

Outra canção que evidencia a habilidade do Robson como guitarrista é o funk "Pret a Porter". Aliás, ouso dizer que este disco pode ser muito mais classificado como um disco de música norte-americana influenciado por música brasileira do que o contrário. É um disco que realmente pode ser equiparado às produções norte-americanas da época em termos de sonoridade e qualidade técnica.

O disco abre com “Jorgea Corisco”, segue para a balada “No Bom Sentido” e logo após “Aleluia!”. Depois a latina “Raton” e a genial “Pret a Porter”. “Squash”, com lindas dobras de synth e guitarras e a canção “Eva”, com um clima quase blaxploitation. “Fá Sustenido” apresenta quase um acento reggae nas guitarras e lindo arranjo de vocoder. Passamos pelo samba do morro no interlúdio “Zé Piolho” e seguimos pro medley “Baila Comigo/Festa Brava”. Finalizando: o samba funk “Ginga” com um poderoso naipe de metais e a última faixa do disco: “Alegrias!”.

Mas na verdade não consigo ser muito teórico ao falar deste trabalho. Eu amo este disco! É um álbum que abriu muitos caminhos musicais na minha cabeça, e sou eternamente grato por esse trabalho existir. Recentemente, durante as gravações do meu terceiro disco, tive o prazer de trabalhar com o grande Edu Costa, engenheiro de som e braço direito do Lincoln em suas produções. Pude ouvir muitas histórias incríveis e absorver um pouco do universo dos dois.
Recomendo muito! E pra quem ainda não ouviu com atenção, ouça! É uma obra-prima! Felizmente este disco vem sendo cada vez mais cultuado. E assim como outros clássicos é um trabalho sempre presente na minha vida. Referência forte, sempre!

Robson Jorge & Lincoln Olivetti - "Pret-à-Porter"

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FAIXAS:
1-Jorgea Corisco
2-No bom sentido
3-Aleluia
4-Raton (Contesini)
5-Pret-à-porter
6-Squash
7-Eva (Ronaldo, Olivetti, Jorge)
8-Fã sustenido
9-Zé Piolho
10-Baila comigo (Roberto de Carvalho, Rita Lee)/Festa braba (Olivetti, Jorge)
11-Ginga
12-Alegrias
todas as composições de autoria de Lincoln Olivetti e Robson Jorge, exceto indicadas
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OUÇA O DISCO:




Natural do Espírito Santo, Lucas Arruda é um jovem compositor, cantor, arranjador, produtor e multi-instrumentista. Um dos maiores talentos da música brasileira dos últimos anos, leva suas influências de soul, funk, MPB, jazz, rock e blues ao mundo, principalmente a Europa e ao Japão, onde é reverenciado. Em fase de conclusão de seu mais novo trabalho, tem dois discos: "Sambadi", de 2013, integrante da lista dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS do ClyBlog, e o igualmente elogiado “Solar”, de 2015. Um digno representante da linhagem dos músicos do jazz-soul brasileiro, que passa por AzymuthBlack Rio, Marcos Valle, Robson, Lincoln e Ed Motta. Lucas foi especialmente convidado pelo Clyblog para falar sobre um disco de sua predileção em razão das comemorações pelos 8 anos do blog.
www.facebook.com/lucasarrudaofficial/?fref=ts

quarta-feira, 19 de março de 2014

Tim Maia - "Nuvens" (1982)



“Arlênio pega a pelota/ E passa pro China/ Trindade pisa na bola/ Mas é bom menino.”
da letra de “Haddock Lobo, Esquina com Matoso”



Ed Motta, profundo conhecedor da música soul e, além de tudo, sobrinho de Tim Maia, disse certa vez: “’Nêgo’ tá de bobeira com negócio de [Tim Maia] Racional, muito menos musical. O lance é esse aqui.” O “lance” a que ele se refere é “Nuvens”, que seu tio gravara em 1982. Uma preciosidade da soul music brasileira da fase final da era black rio que Tim foi, se não o principal, um dos protagonistas juntamente com Cassiano, Hyldon, Dom Salvador, Érlon Chaves, Oberdan Magalhães, Carlos Dafé, entre outros craques. Tudo gente da maior categoria, músicos de primeira, a quem Tim, em “Nuvens”, faz questão de reverenciar de uma forma ou de outra.

O disco, assim, é uma volta às raízes da errante carreira desse junkie total chamado Tim Maia (afinal, o cara, cheirava, fumava, bebia e comia, tudo em excesso). Tim já era uma lenda desde o final dos anos 50, antes mesmo apresentar seu gogó de veludo ao mundo do entretenimento. Nos anos 60, viajou, no peito e na raça (negra), para os Estados Unidos em plena ebulição de Luther King e Black Panthers e em uma época que não era comum um preto sul-americano pobre fazê-lo (ainda não é...) para viver no gueto de Nova York fazendo música “y outras cositas mas”. Foi, evidentemente, deportado por porte de drogas... Voltou ao Brasil, foi gravado pelo já ícone Roberto Carlos e fez dueto com outro ícone, Elis Regina. Tudo isso antes do seu aguardado – e confirmado – debut solo, "Tim Maia" (1970) (já resenhado aqui no ClyBlog). Entre sucessos estrondosos ao longo da década seguinte (“Primavera”, “Não Quero Dinheiro”, “Você”, “Azul da Cor do Mar” e mais uma dezenas de hits), Tim também amargou fracassos homéricos, fosse pela sua inabilidade como empresário à frente da gravadora própria, a Seroma, fosse pelo comportamento de toxicômano ou pelo seu temperamento irascível, o que lhe indispunha diretamente com toda a indústria fonográfica. O limite da “irracionalidade” se deu em 1975, quando, em uma séria crise de abstinência, parou com todas as drogas químicas para se viciar na Cultura Racional, uma espécie de seita ocultista cuja filosofia ia do nada ao nada, mas que o motivou a gravar os dois históricos discos “Tim Maia Racional Vol. 1” e “Vol. 2”.

Após o (óbvio) fracasso do projeto (o Racional virou cult no mundo 30 anos depois sem render, no entanto, nenhum centavo ao bolso de Tim) e de um retorno com tudo às drogas, ele limpou-se de novo e ainda se recuperou nas paradas no final dos anos 70, mas tudo com mais baixos do que altos. Curiosamente, a despeito do caixa zerado, esse período de sua carreira é extremamente rico e fértil. Maduro como músico (tocava quase todos os instrumentos, do violão à bateria, além compor, arranjar e de dominar a mesa de estúdio), Tim enfileira discos excepcionais, como os homônimos de 1976 (que contém “Rodésia”) e 1978 (o todo em inglês) e “Reencontro”, de 1979 (o da linda “Lábios de Mel”). “Nuvens”, como Ed Motta ressalta, é o ápice dessa fase, e um dos segredos para tal êxito está justamente na volta às origens. Tim, então chegado aos 40 anos, parecia ter compreendido que era necessário não se afastar de todos, como fizeram na fase Racional, mas, sim, se reaproximar (física ou espiritualmente) daqueles que construíram sua história, expondo, assim, o que ele realmente era: um cara de talento ímpar, excêntrico e difícil, mas generoso e amigo.

Assim, voltam à cena Hyldon, Robson Jorge e, principalmente, o “genial Genival”: Cassiano, cuja participação já lá no primeiro álbum de Tim é fundamental. A faixa-título e de abertura, parceria de Cassiano com o “gringo brasileiro” Deny King, evidencia seu toque refinado. Como destaca Ed Motta: “tema do Cassiano lindaço, moderno harmonicamente”. De fato, a harmonia bossa-novista, com sinuosidades a la Marvin Gaye, ao mesmo tempo romântica e espacial, tem a sua cara. O paraibano contribui ainda com seu falsete e arranjo vocal no refrão, no qual forja, numa improvável alocação, a palavra “você” dentro de apenas meio tempo do compasso sobre um riff de metais matador. Genial. Genival. Cassiano.

O álbum segue com temas interessantíssimos: o sambão romântico “Outra Mulher”, ao estilo “Gostava Tanto de Você”, “Réu Confesso” e “Vou Correndo te Buscar”, característico de Tim; a foliosa “A Festa”, com uma levada de baixo em escala que é de um groove impressionante; a autoavaliativa “Ninguém Gosta de se Sentir Só”, cuja gostosa melodia lembra outra de Tim, “Brother, Father, Sister and Mother” (presente em “Tim Maia”, de 1976); e a balada quase bolero “Deixar as Coisas Tristes pra Depois”, também com a mãozinha de Cassiano no coro. Mais uma fruto de parceria com um “brother”, Robson Jorge, “Ar Puro”, de letra ecologicamente consciente numa época em que não era moda este termo (“Mas eis que estão matando o verde/ E o quê irá sobrar?/ Sujando os mares e os rios/ O volume do ar/ Ar.”), é daqueles soul super dançáveis, igualmente às versões de “O Trem”, tanto o tema instrumental (infalível em qualquer disco de Tim) quanto o “falado”, que tem improvisos super bacanas da banda Vitória Régia.

Ainda no espírito de resgates, Tim chama Hyldon para tocar na regravação do maior sucesso do amigo, “Na rua, na chuva, na fazenda (Casinha de Sapê)”, em que empresta seu vozeirão com direito a ouverdub para a pegajosa letra da canção: “Jogue suas mãos para o céu/ E agradeça se acaso tiver...”. Mas para muitos críticos e fãs é “Haddock Lobo, Esquina com Matoso” – endereço do bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio, ponto de encontro de uns moleques que se tornariam algumas maiores nomes da MPB dos anos 50 até os dias de hoje – o verdadeiro hit de “Nuvens”. “Foi lá que toda a confusão começou”, alerta Tim! Pois foi lá que Tim formou seu primeiro grupo musical juntamente com Roberto Carlos, Arlênio Lívio (aquele que “pega a pelota”), o “bom menino” Edson Trindade (um dos grandes parceiros de Tim ao longo da carreira, autor do clássico “Gostava Tanto de Você”, gravada por Tim em 1973) e Wellington Oliveira, Os Sputniks, posteriormente, renomeado The Snakes, já sem Tim e Roberto mas com as substituições de outro Roberto, o China, e de outro Carlos, o Erasmo. Ele recobra esta origem de subúrbio ao trazer situações e personagens, como Jorge Ben (“A turma estava formada/ Com lindas meninas/ E o Jorge com um camarada/ Era o Babulina”) e os próprios Roberto e Erasmo (“Erasmo, um cara esperto/ Juntou com Roberto/ Fizeram coisas bacanas/ São lá da esquina...”). Como se vê, uma das lembranças gostosas desse tempo está relacionada a futebol, nas peladas que batiam pelas ruas quando meninos. Uma menção breve acerca do esporte, mas bastante simbólica no que se refere ao conceito de resgate emocional (Tim era um jogador de futebol frustrado) que o disco carrega.

Depois dessa passagem nostólgico-futebolística, merecem atenção dois funks. O primeiro,  “Apesar dos Poucos Anos”, de Tim e Cajueiro, mas que quem dá a roupagem caprichada é Cassiano na fineza da harmonia e da linha vocal com sutilezas de Nile Rodgers e Quincy Jones. Por último, justamente a faixa que encerra o disco, “Sol Brilhante”, uma canção, simplesmente, solar, tal seu colorido e boas energias que transmite: “Vê que dia lindo/ Com muito amor, viver sorrindo/ Com este sol da manhã/ Com este sol penetrante/ Sol brilhante...”. Tudo numa execução exata da banda, num ritmo swingado e com vocal aberto, cantado pra fora. Inspiração total. O jornalista e escritor Marcello Campos, admirador e conhecedor da obra do artista, que diz: “’A musica do Sol’ é uma das coisas mais lindamente felizes e inspiradoras que eu já ouvi. Lindo demais.”

Definitivamente, “Nuvens” é um dos mais ricos e bem-acabados trabalhos da longa e sinuosa carreira de Tim Maia, seja pelas interpretações, pelos arranjos perfeitos, pela diversidade rítmica – percebida antes com tanta variedade, a bem da verdade, somente nos Racional – ou pelas referências que absorve, que vão desde Banda Black Rio até Gaye, James Brown, Curtis Mayfield e Stevie Wonder, passando pelos companheiros de rock e soul dos anos 60-70 e o samba carioca. Tudo isso não quer dizer, entretanto, que “Nuvens” tenha sido um sucesso. Marcello Campos confirma isso: “Esse disco é ensolarado como a capa, mas, por questões ‘tim-maianas’, um fracasso de mercado“. Mas, como de costume na obra te Tim Maia, virou mitológico tempo depois. Qual a validade disso? Em relação a Tim Maia, “só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher”. O resto vale.

"Haddock Lobo, Esquina com Matoso" - Tim Maia


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FAIXAS:
1. "Nuvens" (Cassiano/Deny King) - 3:05
2. "Outra Mulher" - 3:11
3. "Ar Puro" – (Tim Maia/Robson Jorge) - 3:08
4. "O Trem - 1ª Parte" - 1:56
5. "A Festa" - 4:26
6. "Apesar dos Poucos Anos" (Tim Maia/Beto Cajueiro)- 3:24
7. "Deixar as Coisas Tristes para Depois" (Pedro Carlos Fernandes) - 2:58
8. "Ninguém Gosta de se Sentir Só" - 3:13
9. "Haddock Lobo, Esquina com Matoso"- 3:53
10. "O Trem - 2ª Parte" - 1:56
11. "Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de Sapê)" (Hyldon) - 3:38
12. "Sol Brilhante" (Tim Maia/Rubens Sabino) - 2:50
Todas de Tim Maia, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO





sábado, 9 de maio de 2015

Lucas Arruda – “Sambadi” (2013)





Musicalmente falando, eu acho que o que estou fazendo é, basicamente, a continuação de uma estética de linguagem musical que existe no Brasil desde os anos 60 e 70, mas que de repente ficou meio esquecida por aqui.”
Lucas Arruda

Esse cara é um gênio. Para mim, ele salva esse cenário supermedíocre de hoje”.
Ed Motta

Ano passado publiquei aqui no Clyblog uma lista dos meus melhores discos instrumentais brasileiros de todos os tempos. Salvo a minha ignorância de não listado a obra-prima de Robson Jorge e Lincoln Olivetti, de 1982 (menção esta aqui com a qual me sinto agora livre do justo espancamento), um que não incluí, pois ainda não o conhecia nem o entendia suficientemente devido à sua recência, é “Sambadi”, de Lucas Arruda, de 2013. Considero, no entanto, que desfaço agora duplamente a injustiça ao sagrá-lo como um ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, tanto por destacá-lo assim, exclusivamente, como pelo fato de ser o álbum mais recente sobre o qual já escrevi entre os meus mais de 40 para esta seção.

O certo é que esse destaque não se sustenta por um sentimento de culpa. “Sambadi” é que é muito bom. Primeiro disco deste talentoso jovem capixaba multi-instrumentista radicado no Rio de Janeiro, é ao mesmo tempo um trabalho autoral e raro na música brasileira dos últimos 20 anos como também uma homenagem aos ídolos da soul music e do samba-jazz brasileiro, forte nos anos 60 e 70 mas gradativamente desvalorizado a partir dos 80. O resultado é um disco semi-instrumental altamente sofisticado pela habilidade de Lucas, responsável por praticamente todos os instrumentos (a bateria, único que ele não toca, é de seu irmão, Thiago Arruda). As referências vão dos mestres norte-americanos Stevie Wonder, Curtis Mayfield e George Duke aos brasileiros Tamba Trio, Azimuth, Marcos Valle, Black RioSambrasa Trio, Ed Motta, os próprios Robson Jorge, Olivetti, entre outros dentre os que dominam o legado da MPB e o manancial estético oferecido pelo jazz e o R&B.

“Physis” dá a cara da abertura com uma linha de sintetizador marcando acordes que vão e voltam, acompanhados por vocalises de Lucas. Ao fundo, um clima muito brasileiro se forma com sons da natureza de nossa flora e fauna. Prenúncio da brasilidade que se sentirá fortemente a partir dali. Sem dar tempo de respirar, a primeira faixa emenda com “Tamba”, um samba-funk gostoso e sofisticado no qual Lucas manda ver em lindos improvisos de seus teclados (piano, Fender Rhodes e sintetizador). Nos tons médios, a guitarra, numa levada de mexer o esqueleto, sustenta a base junto com o Rhodes e a batida sincopada da caixa, enquanto o baixo e o bumbo mantém a seção grave. Afora a visível homenagem ao famoso trio de bossa-jazz dos anos 60 comandado pelo pianista Luiz Eça, a sonoridade remete mesmo durante todo o disco fortemente à Azimuth, outra grande banda da mistura de jazz e MPB, porém esta, já setentista, com o espírito fusion de então.

Aliás, a arquitetura timbrística de “Sambadi” respira o tempo todo a Rio de Janeiro e a essa atmosfera da Azimuth, e isso por dois motivos. Primeiro, pelo arranjo e produção serem do próprio Lucas Arruda, que encerra todas as músicas do disco dentro do mesmo conceito sonoro: bateria e/ou percussão e/ou programação de ritmo (uma ou duas juntas no máximo), guitarra, baixo, piano elétrico e sintetizador ou Fender Rhodes. Fora um ou outro instrumento ocasional (cavaquinho, violão) ou voz, as texturas do disco são permanentemente essas, o que lhe dá bastante coesão. E essa sonoridade é muito Azimith, principalmente no mitológico "Light as a Feather", de 1979, porém adicionando a isso a limpidez dos estúdios digitais de hoje. Segundo: quem executa tudo é apenas um músico: o próprio autor – fora a bateria, que também vêm de alguém do sangue Arruda. E com tamanho talento, tudo funciona redondinho. “Batuque” (outra referência a seus mestres, nesse caso, o clássico “Batucada Surgiu”, dos irmãos Valle, de 1967) acelera o ritmo mas mantém a mesma malemolência e elegância. Na percussão, além da bateria, um agogô joga o ouvinte pra dentro de um terreiro de samba. Nesta, Lucas investe em solos não só de seus teclados, mas também da guitarra, tudo sob uma linha de baixo 4/4 maravilhosa a la Ron Carter que lembra as realizadas pelo baixista norte-americano nas memoráveis gravações com os brasileiros Airto Moreira, Tom Jobim e Hermeto Paschoal.

A black music ganha um preito especial em “Who’s that Lady”, de autoria de O'Kelly Isley, do grupo soul norte-americano Isley Brothers, das poucas cantadas do disco. Clima sensual e charmoso nesse AOR que podia rodar em qualquer rádio retrô tipo Continental que os desavisados achariam que foi gravada nos anos 70. Sem percussão, apenas no piano elétrico e sintetizador, “Rio Afternoon”, na sequência, é quase uma vinheta atmosférica como a inicial “Physis”, demarcando agora o começo de uma nova seção do disco, como se o CD tivesse o lado B do vinil. Essa segunda parte começa com a também curta “Na Feira”, um baião hi-tech, provando o quanto Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira são sofisticados.

Tudo isso faz cama para a excepcional faixa-título em seus cerca de cinco minutos de puro desenvolvimento de solos e perícia nas linhas de base. O espírito nordestino se mantém na marcação metálica de um triângulo, que vem com os keyboards espaciais do Rhodes e uma rica linha de guitarra ao estilo Nile Rodgers. Uma programação eletrônica, associada à bateria e a percussões, aponta o ritmo. O baixo, entretanto, é um destaque à parte, denotando o quanto Lucas é ouvinte atento de suas fontes. Com uma letra quase incidental, ele canta versos que mais fazem dar sentido melódico à ideia de “samba de” (“Sambadi balada/sambadi quebrada/ sambadi embolada/ sambadi linha do mar...") do que para inventar poesia. A melodia, swingada e requintada, algo entre o samba e o funk, dá espaço tanto para os solos quanto para floreios dos instrumentos, principalmente da guitarra e do Rhodes.

Outra aberta lembrança à Azimuth, “Carnival” (alusão à “Jazz Carnival”, sucesso da banda de José Roberto Bertrami) põe ainda mais groove no samba. Já “Alma Nova” faz cair novamente o ritmo para aclimatar uma bela bossa-nova romântica, a última com letra de verdade. Lucas canta com leveza e afinação sobre uma batida de violão sincopada, característica do estilo, somada a um acompanhamento na bateria do irmão Thiago digno de um Milton Banana ou um João Palma. O piano e o Rhodes estão ali funcionando no arranjo como integradores da faixa ao restante do repertório mesmo com a estética distinta que a bossa-nova impõe. Para arrematar, uma nova sequência de “Tamba”, finalizando o álbum novamente com um instrumental de alto virtuosismo.

Festejado por gente do calibre de Ed Motta, por quem a admiração é recíproca, o surgimento de Lucas Arruda vem como um raiar de esperança na música brasileira contemporânea tão infestada pelo medíocre, conformada com o mediano e, quando melhor que isso, ainda ditada por artistas de gerações (bem) anteriores. Ironicamente, o que acontece com Lucas Arruda é a repetição do que muitas vezes já se viu em terras tupiniquins: seu trabalho foi apreciado antes no exterior (no caso dele, Europa e Japão) para depois receber atenção aqui. Pouca, diga-se de passagem. E se a galera da MPB pós-bossa-bova está toda na faixa dos 70 anos, o aparecimento de um guri de apenas 32 de idade (30 quando gravou “Sambadi”) é no mínimo alentador. Com uma estreia luminosa como essa isso se torna ainda mais promissor. Neste sentido, não parece coincidência que seu novo CD, lançado em março desse ano (novamente primeiro no exterior) traga um título consideravelmente simbólico: “Solar”.

Lucas Arruda - Sambadi (Radio Edit)
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FAIXAS:
1. Physis - 1:15
2. Tamba, Pt. 1 - 7:10
3. Batuque - 5:38
4. Who's That Lady (O'Kelly Isley) - 3:40
5. Rio Afternoon - 1:37
6. Na Feira - 1:29
7. Sambadi - 5:18
8. Carnival - 3:30
9. Alma Nova (Arruda/Fabricio Di Monaco) - 5:33
10. Tamba, Pt. 2 - 4:41

todas as composições de autoria de Lucas Arruda, exceto indicadas.
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OUÇA O DISCO








sexta-feira, 26 de agosto de 2022

14 anos, 14 convidados

 








E o clyblog chega a seus 14 anos de idade.

Parabéns para nós!

E parabéns para nós, principalmente, por, durante todo esse período de existência, termos tido a honra de contar com colaborações valiosas de convidados das mais diversas áreas. Escritores, jornalistas, músicos, fotógrafos, artistas, deram suas contribuições a partir de suas experiências, preferências pessoais e respectivos repertórios culturais, abrilhantando momentos especiais do nosso blog em datas importantes, números redondos de publicações ou em nossos aniversários anteriores.

Para comemorar os 14 aninhos e essas colaborações maravilhosas, relembramos aqui, exatamente, 14 momentos, 14 participações especiais, 14 grandes convidados que nos proporcionaram publicações de altíssima qualidade e conteúdo valiosíssimo para o Clyblog.

Então aí vão 14 participações de convidados durante os 14 anos, até aqui, de ClyBlog:


1.
Em 2013, o escritor, teólogo, filósofo, ensaísta, crítico de arte, poeta e cronista gaúcho, Armindo Trevisan, nos deu de presente de Natal uma belíssima crônica que sugeria uma merecida reverência silenciosa a um momento tão importante como é o caso do nascimento de Cristo, no nosso 
Cotidianas Especial de Natal.

"(...)Que maravilhoso seria se, na comemoração do Natal, as nações cristãs, concordassem em instituir um minuto de silêncio em homenagem a tão grande Mistério!
Seria preciso que não se ouvisse som algum em nosso mundo!
Seria preciso que a paz, silenciosa como as estrelas (ao contrário de nossos ícones que, para serem ovacionados, inflamam as multidões) entrasse nos corações na ponta dos pés, e aí fizesse adormecer as almas ao som da Noite Feliz, traduzida para o português por um frei franciscano de Petrópolis, o qual preferiu o adjetivo feliz ao adjetivo original alemão stille: Noite Silenciosa! (...)"


Leia o texto na íntegra:

***

2.
Marcando a publicação de número 200 dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, convidamos um cara com autoridade para falar de sua banda favorita: Roberto Freitas, vocalista da banda The Smiths Cover Brasil, uma das mais respeitadas bandas cover do Brasil, revelou tudo sobre sua paixão pelo disco "Meat is Muder", o primeiro que teve da banda, e o álbum que o impulsionou a querer estar em cima de um palco.


"(...) As pessoas sempre me perguntam até hoje qual a minha musica preferida dos Smiths e eu respondo sem pensar muito :"Não tenho apenas uma tenho pelo menos umas dez e a maioria estão no álbum 'Meat is Murder' (...)"




Leia o texto na íntegra:


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3.
Em 2018, para os nossos 10 anos, o convidado Wladymir Ungaretti, fotógrafo e professor de jornalismo da UFRGS, compartilhou conosco um de seus ensaios fotográficos para a nossa seção Click, chamado "Imagens para melhor imaginar". Modelos em situações sensuais, no limite do vulgar, do sujo. Erótico com um toque de mistério. Não poderia ter sido mais preciso no conceito: fotos que mostram, mas que deixam muito para a imaginação.



"(...) Este é um espaço reducionista. Escrevemos a partir de muitos pressupostos. São muitas as variáveis na conceituação do que seriam fotos pornográficas ou, simplesmente, eróticas. Conceitos determinados por cada contexto histórico e por cada cultura. Uma obviedade muitas vezes esquecida. Fotógrafos estão olhando, sempre, o trabalho de outros fotógrafos. Mesmo quando, por absoluto egocentrismo, digam que não, Faço questão de "copiar". De me deixar influenciar por outros fotógrafos. Busco o despojamento do surrealista Man Ray. A "pornografia" do japonês Araki. Os cenários surpreendentes de Jan Saudek. Pode parecer muita pretensão. Não canso de olhar livros dos fotógrafos que, por razões muitas vezes nada precisas, tocam o meu "olhar". Fotografei estas modelos inspirado pela ideia de Vilém Flusser que diz: "produzimos imagens para melhor imaginar".



Veja o ensaio:
Imagens para melhor imaginar



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4.
Para falar de uma banda e de um álbum, nada melhor do que alguém que criou a banda, foi seu integrante, compôs músicas e tocou no álbum. Carlos Gerbase, hoje, doutor em comunicação social, em outros tempos foi baterista e vocalista da banda Os Replicantes e para o ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial de 5 anos do ClyBlog, falou sobre o lendário primeiro disco da banda, lá de 1986.


"(...) na hora de decidir como o nosso primeiro LP se chamaria, alguém sugeriu (provavelmente eu mesmo, mas não tenho certeza) que o disco se chamasse “O Futuro é Vortex”. Foi uma  boa escolha. Ele estava cheio de canções de ficção científica, e esse título era uma boa síntese (...)"




Leia o texto na íntegra:
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5.
O jornalista gaúcho Márcio Pinheiro, especialista na área de jornalismo cultural, com passagens pelas redações de jornais como Zero Hora, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo, autor do recém lançado livro "Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim", amante de música, especialmente de jazz e MPB, nos deu o privilégio de compartilhar sua admiração pelo disco "Quem é Quem", de João Donato, nos nossos 
ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Segue aí um trecho da resenha:


"[João Donato] Era um músico dos músicos, respeitado pelos seus pares mas pouco conhecido pelo público. Da convivência com o cantor Agostinho dos Santos, um grande incentivador de seu trabalho, nasceu a ideia de colocar letras nas suas músicas (...)"




Leia o texto na íntegra:

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6.
Cléber Teixeira Leão
, além de meu primo e um excelente músico, é professor de História e um de seus focos, nas aulas que ministra na rede estadual do Rio Grande do Sul tem sido as relações étnico-raciais, com foco no conceito do estudo crítico da branquitude. Nessa linha, falou para o Claquete do ClyBlog, sobre a representatividade negra nas mídias de entretenimento norte-americanas, nas comemorações de 12 anos do blog. Muito interessante o texto e análise do nosso convidado. Confere só:


"(...) Ainda que de forma ficcional, o Pantera Negra serviu e serve ainda hoje, como símbolo dessa quebra de padrões e imposições, além é claro de personificação imagética do antirracismo. Quando o Marvel Studios lançou em 2017 o filme "Pantera Negra" nos cinemas, a repercussão política e social do Blockbusters foi tanta, que gerou uma das maiores bilheterias da franquia de heróis até hoje (...)"




Leia o texto na íntegra:

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7.
Uma das histórias mais curiosas e engraçadas de bastidores já contadas no ClyBlog foi relatada por Castor Daudt, ex-guitarrista da banda DeFalla, sobre uma ocasião em que encontraram um integrante da banda New Order, num camarim de um show em São Paulo. Foi para o Cotidianas Especial de 10 anos do ClyBlog, em 2014. Não vou contar mais nada aqui porque vale a pena você mesmo ler.


"(...) Depois do show eu fiquei sozinho no camarim, descansando. Era raro ter um minuto de sossego, na época.
De repente entra um cara meio estranho, no camarim..."




Leia o texto na íntegra:


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8.
As andanças, por aí, dos nossos convidados também nos trazem colaborações muito interessantes. Fabrício Silveira, jornalista e escritor, quando de sua passagem por Manchester, na Inglaterra, cidade  berço de bandas como Joy Division, The Smiths, Stone Roses, The Fall, entre outras, presenciou, possivelmente, o surgimento de mais um nome para se guardar vindo daquele lugar: The Sleaford Mods, uma dupla de eletrônico, punk, minimalista..., estranha mas muito interessante. Nosso convidado nos contou da experiência de ter presenciado um show desses caras para o nosso ClyLive.


"Não há quase nada em cima do palco. Não há equipamento algum, além de um pedestal de microfone e uma mesa de bar, lado a lado. É até um pouco estranho encontrar ali aquele móvel rústico, com pernas dobráveis, trabalhado em madeira nobre. Sobre ele, há um laptop fechado, discreto, quase invisível, que se confunde aos desenhos e aos padrões cromáticos da toalha de mesa. Ao fundo, espessas cortinas de veludo escuro. Em contraste, há uma forte luz branca, opressiva e desconfortável. Este é o cenário. Não há mais nada em cima do palco (...)"



Leia o texto na íntegra:


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9.
Nosso convidado de um dos especiais dos 11 anos, lá de 2019, participou da gravação desse álbum histórico da música brasileira. Waldemar Falcão, músico, astrólogo e escritor, tocava na banda de Zé Ramalho quando o cantor gravou se clássico "Zé Ramalho 2" ou "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu", de 1979. Ou seja, pouca gente estaria tão autorizada a comentar sobre a obra, as músicas, a atmosfera do álbum. Saca só...



"Quanto mais o tempo passa, mais nos damos conta de que ele na verdade voa mesmo... Quando penso que se passaram 40 anos desde que gravamos esse lendário LP (permitam-me...), chega a ser difícil de acreditar (...)"




Leia o texto na íntegra:

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10.
Um dos muitos convidados que participaram das nossas comemorações de 
10 anos, foi o ator e diretor de teatro Cleiton Echeveste que destacou para a nossa seção Claquete, o filme nacional "Tinta Bruta", de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, de 2018. E, na boa, se ele falou bem do filme, é porque é bom mesmo, porque de atuação e direção o cara conhece.



"(...) Na minha relação com a arte, busco ser o menos analítico possível ao vivenciá-la, esteja eu no lugar de criação ou de fruição. A análise é fria e requer distanciamento, e foi exatamente o contrário disso que “Tinta Bruta” me proporcionou: a vivência da minha humanidade, da minha falibilidade, de dores que são também minhas e que são, por isso, plenamente identificáveis(...)"




Leia o texto na íntegra:


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11.
Ele já havia sido 
ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, com seu disco  “Sambadi”, de 2013, e convidado a escrever sobre um disco de sua admiração para os 8 anos do Clyblog, o cantor, compositor e arranjador Lucas Arruda, escolheu falar sobre um dos trabalhos que mais o influenciara, "Robson Jorge & Lincoln Olivetti", de 1982. Um AF comentando sobre outro. Essa foi certamente uma participação especialíssima que tivemos.



"(...) Alegria imensa em poder falar um pouco deste álbum! Pessoalmente, é o disco que mais influenciou em termos de arranjo, sonoridade, composição. Minha bíblia! (...)"




Leia o texto na íntegra:


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12.
Esse cara sempre trazia coisas muito curiosas, interessantes e diversificadas pra o Clyblog. Cinéfilo, fã de cinema anos 70, filmes clássicos, faroeste, colecionador e admirador de cultura pop, além de conhecedor de literatura e folclore sul-americano, Francisco Bino colaborou com o blog durante alguns meses e sempre nos surpreendeu com assuntos instigantes e muita informação. 
Num desses textos, nos conta sobre as inspirações em religiões afro na clássica canção "Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones. Dá só uma olhada:


"Em uma sexta-feira qualquer de 1968 depois de beber uma garrafa e meia de Jim Beam, Mick Jagger invadiu bêbado e meio "alto" a uma terreira de Candomblé em Salvador na Bahia (...)"



Leia o texto na íntegra:


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13.
Colaboração ilustre e internacional no ClyBlog nos nossos 
12 anos. A escritora angolana Marta Santos aceitou nosso convite para falar sobre algum disco importante, segundo sua opinião, e nos surpreendeu com a ótima dica do trabalho de seu conterrâneo Elias Dya Kymuezu, com o disco "Elias", de 1969, cuja qualidade e influência é reconhecida na música brasileira por nomes como Martinho da Vila e Chico Buarque de Holanda. Abaixo, um trecho da resenha da nossa convidada:



"(...) Elias Dya Kimuezu é bangāo, cheio de classe. Faz lembrar os clássicos  americanos. Podemos facilmente perceber a humildade dele e a sua sensibilidade. A sua música, ou melhor, a essência das suas músicas, as suas canções são de lamento de quem lamenta a morte de alguém. Naquela altura, quando ainda eram colonizados, não se lamentava, só isso se lamentava, o sofrimento do povo, e até hoje o cantor não sai da sua canção, do seu ritmo. Porque a sua canção é invocação. Invoca a mãe, a dor invoca toda uma sociedade (...)"



Leia o texto na íntegra:


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14.
Um Super-Álbuns Fundamentais! Isso foi o que o convidado Lucio Brancato, músico, jornalista, colunista musical e apresentador de TV e rádio, nos proporcionou no nosso aniversário de 
10 anos. Pedimos para que ele nos falasse sobre um disco de sua preferência e ele nos deu cinco de uma vez só: Crosby, Stills, Nash & Young, com  "Déjà Vu", de1970; Yes, com "Close to The Edge", de 1971; Dillard & Clark, com o disco The Fantastic Expedition of Dillard & Clark, de 1968; Faces, com seu "Oh La La", de1973; e Kinks, com o álbum Face to Face, de 1966. Não tinha maneira melhor de fechar essa lista de colaborações do que essa. 


"Mudei o pedido do Daniel Rodrigues para escrever sobre um disco importante na minha vida.
Foram tantos que ficaria muito difícil selecionar apenas um. E mesmo assim, esta lista nunca é definitiva.
Resolvi listar cinco fundamentais na minha formação e talvez os discos que mais escutei na vida."



Leia as resenhas completas:

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Obrigado a todos os que colaboraram com o ClyBlog até aqui.
Todos os que foram lembrados nessa pequena listagem e a todos que não aparecem nela
 mas igualmente nos honraram com suas experiências, conhecimentos, bagagem e qualidade.
Muito obrigado a todos!  




C.R.
D.R.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Tim Maia - "Tim Maia Disco Club" (1978)



“Jhony cresce/
Mas aqui não desaparece/
Na sua mente uma vontade de jogar um futebol/
Futebol."
da letra de "Jhony",
faixa de encerramento do disco


“Gênio Tim Maia! Tim, Tim Maia!”, anuncia Carlos Imperial no programa de auditório que comandava na TV Tupi em finais dos anos 70. As palavras elogiosas do antigo amigo e primeiro incentivador na carreira denotam a empolgação pela boa fase que vivia Tim Maia naqueles 1978. Nem sempre era assim, pois o mesmo talento que tinha para a arte tinha também para arrumar encrenca. Instável e suscetível aos exageros nas drogas, álcool e... comida, o autor de “Azul da Cor do Mar” e “Não Quero Dinheiro” vinha – afora os constantes perrengues com a polícia e os amores invariavelmente mal resolvidos – de recentes fracassos, como o “desencanto” da fase Racional e os desentendimentos com duas das principais gravadoras do país, PolyGram e Som Livre. Mas o que se via entrar no palco do programa de tevê era um Tim renovado, de semblante limpo, visual transado e consideravelmente mais magro para os padrões rechonchudos que tradicionalmente mantinha. O já consagrado maior símbolo da soul brasileira tinha assinado recentemente com outra grande da indústria fonográfica, a Warner, que apostara nele para o projeto “Tim Maia Disco Club”. Aposta certeira. O trabalho, que completa 40 anos em 2018, lhe rendeu uma das fases de maior sucesso na carreira, algo que sempre soube fazer apesar dos altos e baixos, mas talvez nunca com tamanho aparato técnico e comercial.

O álbum, repleto de hits, caiu nas graças do público. Entrando de cabeça na era da discoteque, febre em todo o mundo à época, “Tim Maia Disco Club” foi um passo consideravelmente fácil para um músico versátil como ele musicalmente falando. Assim como Stevie Wonder, Isaac Hayes e Barry White, Tim aderiu naturalmente àquele novo ritmo vindo das danceterias de pretos e gays nova-iorquinas e cujo estilo musical mesclava os sons latinos com a soul music norte-americana, coisa que Tim dominava com o pé nas costas. Que dificuldade teria de conciliar duas referências musicais tão afins alguém que mesclava naturalmente Luiz Gonzaga e samba de morro com James Brown desde os anos 60?

Para dar ainda mais impulso a essa boa onda, a Warner lhe pôs à disposição ninguém menos que Lincoln Olivetti, tarimbado arranjador capaz de fazer o som de qualquer taquara-rachada soar como o dos Jackson Five. Começava ali uma parceria que renderia frutos até o início dos anos 80. Somado a isso, ainda, as contribuições preciosas de Jamil Joanes, Hyldon, Paulo Braga, Robson Jorge, Pedro Aníbal, Gastão Lamounier e outros. Nunca Tim havia soado tão inteiro e com tamanha qualidade, nos padrões “gringos”.

“Disco Club” tem talvez a melhor quadra inicial de músicas da discografia nacional. Se não a melhor, com certeza a mais dançante. “A Fim de Voltar”, a primeira, dele e de Hyldon, é uma disco music padrão: ritmo embalado, banda afiada, naipe de metais, baixo marcado, coros femininos e masculinos entrecruzando a linha vocal principal e, claro, o vozeirão de Tim. Limpo, aveludado, possante. Além das cordas arregimentadas por Olivetti no tom alto peculiar do gênero, o conjunto de características faz da canção uma das mais bem produzidas e arranjadas da música pop brasileira de todos os tempos. Não à toa, festejada nas pistas de dança. Depois, sem deixar o embalo cair, outro sucesso: a suingada e melodiosa “Acenda o Farol”, o tema com que Tim aparece no programa de Carlos Imperial para promover o disco. Há a lenda de que a ideia da música veio após uma blitz em que músicos da banda de Tim foram abordados quando buscavam maconha para ele no seu Fusca velho, que estragou em plena via com a perigosa carga dentro.

Tim em 1978: semblante de uma boa fase
Aí então vem a verdadeira ogiva de “Disco Club”: o funk cheio de groove e malícia “Sossego”, hit capaz de mandar todo mundo para a pista assim que se ouvem seus primeiros acordes. Era essa explosão que acontecia nas discotecas do Brasil àquela época, quando Tim era o único artista brasileiro a rivalizar com os grandes da disco Earth Wind and Fire, Gloria Gaynor e Donna Summer. Um dos hinos do cancioneiro do “Síndico”, até hoje não há quem não conheça o seu riff puxado pelos metais. Ele já havia composto peças semelhantes, como “Idade”, de 1971, e “Feito para Dançar”, do ano anterior a “Disco Club”, mas nenhuma havia atingido a coesão exata entre ritmo, melodia e aquele “a mais” que fez “Sossego” se transformar num clássico imediatamente.

Mas o agito não termina aí! Sem o mesmo sucesso comercial, mas igualmente brilhante, “Vitória Régia Estou Contigo e não Abro” foi feita para a galera não arredar mesmo o pé da pista de dança. Tim manda ver num daqueles seus temas instrumentais, que geralmente incluía nos discos. Mas este aqui é um dos especiais. Contagiante, é outra disco fumegante dedicada à sua hoje famosa banda, a Vitória Régia, cuja formação Tim conseguira ao pescar os músicos que não debandaram após a viagem Racional. Ainda, conta com o luxuoso baixo de Joanes, a bateria ritmada de Paulo Braga e os metais comandados pelo maestro Miguel Cidrás.

Finalmente, tira-se o pé do acelerador para dar um descanso aos dançarinos. Porém, só para ir buscar uma água e sem deixar de chacoalhar o esqueleto. “All I Want”, dos temas com o inglês do Bronx que Tim aprendera lá mesmo, nos anos 60 – quando morou nos EUA até ser preso e deportado por latrocínio –, é um funk melodioso com muita influência de Isley Brothers e Four Tops.

O que corresponde ao lado B do vinil é meticulosamente planejado. Afinal, depois de tanto agito, era hora das lentas. Para isso, Tim recorre aos amigos: primeiro, Cassiano, com a romântica “Murmúrio”, com a característica melodia delicada do autor e a assinatura de Olivetti na sonoridade. Depois, Arnaud Rodrigues e Piau contribuem com a emocionante “Pais e Filhos”, uma declaração de amor de um pai sabedor de suas fraquezas, mas capaz de fazer o que for preciso pelo filho. Mesmo não sendo um tema romântico, dá tranquilamente para dançar agarradinho. O próprio Tim conclui a sequência com "Se me Lembro Faz Doer". Arranjo primoroso de Olivetti pra uma balada ao estilo Motown. O refrão é daqueles de cantar em coro: “Hoje resolvi mudar, vou deixar de lhe amar/ Hoje resolvi mudar, vou cantar/ Juro não ser mais um bobão/ Hoje resolvi mudar, vou cantar, vou cantar”.
A penúltima faixa não cumpre apenas a função de intermediação com o término da obra, pois é a gostosa “Juras”, soul suingada em que Tim engendra um duo com o coro feminino enquanto a orquestra de cordas desenha frases no clima dos mestres norte-americanos.

Para finalizar, então, Tim e Guti, os produtores, escolheram algo um pouco diferente, até surpreendente. Saindo da linha disco e funk de todo o álbum até então, retomam o samba-rock de canções como “Réu Confesso” e “Gostava Tanto de Você”, que tanto Tim consagrou e ajudou a criar. É “Jhony”, o último número em que, enfim, Tim traz o tema do futebol. E de maneira bastante original. Espécie de minibiografia de um garoto do subúrbio batalhador e muito talentoso com a bola nos pés, “Jhony” traz não apenas por isso, mas uma abordagem sintonizada com algo que começava a surgir naquele final de anos 70 no Brasil: a ascensão social das classes mais baixas. Um jovem como “Johny”, que “mete as ‘cabeça’ e passa à rente” no vestibular, estuda e vira doutor, começava a também a ter espaço no meio futebolístico profissional sem subvalorizar o esporte bretão como algo somente relegado aos trogloditas e sem estudo. Antecipa alguém como o “doutor” Sócrates, craque dos gramados na década seguinte à do disco, jogador que conciliou a paixão pela bola com os bancos da faculdade de Medicina.

O contrato com a Warner se manteve depois do estouro de “Tim Maia Disco Club”, certo? Em se tratando de Tim Maia, não. Os três discos seguintes serão todos por gravadoras diferentes até o artista voltar a gravar por seu próprio selo, o Seroma, o mesmo com que lançara independentemente os então famigerados (e, hoje, cultuados) volumes 1 e 2 do projeto Racional anos antes. Ao menos, o time de músicos e técnicos foi mantido por alguns anos ainda, o que garantiu o padrão de qualidade adotado em “Disco Club”, resultando em outros belos discos do folcloricamente inconstante e genial Tim Maia.


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FAIXAS:
1. "A Fim de Voltar" (Hyldon/Tim Maia) - 4:13 
2. "Acenda o Farol" - 3:20
3. "Sossego" - 3:47
4. "Vitória Régia Estou Contigo e não Abro" - 2:20
5. "All I Want" - 3:28
6. "Murmúrio" (Cassiano) - 3:27
7. "Pais e Filhos" (Piau/Arnaud Rodrigues) - 3:52
8. "Se me Lembro Faz Doer" - 3:55
9. "Juras" - 3:18
10. "Jhonny" - 2:23
Todas as composições de autoria de Tim Maia, exceto indicadas

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OUÇA:


Daniel Rodrigues