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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Música da Cabeça - Programa #187

 

ASSIM COMO NÃO EXISTE ESTUPRO CULPOSO, NÃO EXISTE MDC SEM MÚSICA BOA. NA CORRENTE DE DENÚNCIA CONTRA A VIOLÊNCIA À MULHER, VIEMOS CARREGADOS DE FORÇA COM MINISTRY, DOM UM ROMÃO, ED MOTTA, THE SMITHS E MAIS. TAMBÉM, UM "CABEÇÃO" EM HOMENAGEM AO INCLASSIFICÁVEL CABEÇÃO FRANK ZAPPA E UM "PALAVRA, LÊ" PARA NELSON MOTTA. MÚSICA DA CABEÇA #187 HOJE, 21H, NA JUSTA RÁDIO ELÉTRICA. PRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO: DANIEL RODRIGUES. #justiçapormarianaferrer


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quarta-feira, 7 de julho de 2021

Música da Cabeça - Programa #222

 

Vamos combinar: 222 não é número cabalístico, mas que dá uma boa impressão, dá. O ducentésimo vigésimo segundo MDC vem cheio de boas e variadas impressões, passeando do samba de Paulinho da Viola ao minimalismo de Philip Glass; do gothic punk da Bauhaus ao jazz-soul de Ed Motta. Isso, ainda contando com os quadros "Cabeça dos Outros", "Música de Fato" e "Palavra, Lê", todos impressionantemente musicais. Vai circular hoje o nosso expresso 222, que parte às 21h direto de Bonsucesso para a Rádio Elétrica. Produção, apresentação e pós-ano 2000: Daniel Rodrigues. (#JailBolsonaro #ImpeachmentJá)


 

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Música da Cabeça - Programa #119


Já que vamos ficar todos velhos sem gozar da aposentadoria, o negócio é curtir o presente. Que tal, então, começar hoje escutando o Música da Cabeça? Vejam só quantos motivos para aproveitar a vida: Stanley Jordan, Buena Vista Social Club, Kraftwerk, Mundo Livre S/A, Gabriel Yared e outros. Além disso, nossos quadros fixos e um "Sete List" sobre os discos preferidos da música brasileira do "melopédico" Ed Motta. Tudo às 21h na Rádio Elétrica, aquela que nunca envelhece. Produção, apresentação e tempo de serviço: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 3 de julho de 2019

Música da Cabeça - Programa #117


Tem gente dizendo aí que o eclipse pode trazer incertezas. Mas de uma coisa a gente sabe: que não dá pra perder o Música da Cabeça desta quarta! Ainda mais quando se souber o que vai rolar! Confere: New Order, Ed Motta, Nick Drake, Ivan Lins, Adriana Partimpim e outros fenômenos sonoramente naturais. Ainda, claro, os quadros “Palavra, Lê” e “Música de Fato”, além de um “Cabeção” mais adequado impossível com a mística banda alemã Popol Vuh. Quando o sol estiver totalmente coberto pela lua é sinal de que é hora de ouvir o MDC de hoje. Será às 21h, do observatório da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e sabedoria celeste: Daniel Rodrigues.



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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Herbie Hancock - "Empyrean Isles" (1964)

 



Hancock estreita as fronteiras entre o hard bop, encontrando brilhantemente um sugestivo equilíbrio entre o bop tradicional, 

injetando-lhe grooves do soul,

e experimental, jazz pós-modal.” 

Stephen Thomas Erlewine,

crítico musical e biógrafo




O jazz já era o maior gênero musical norte-americano desde os anos 20, mas é inegável que as décadas de 50 e 60 foram memoráveis para sua história. A cada ano, vários artistas – muitos em seu auge; alguns, iniciando; outros, veteranos em plena forma – lançavam um ou mais álbuns impecáveis e inovadores, considerados fundamentais até hoje, fosse pela Impulse!, Blue Note, ECM, Atlantic, Columbia, Verve e outros selos. Destes, a passagem de 1963 para 1964 talvez seja a que reúna o crème de la creme pós-Segunda Guerra. Provavelmente, iguale-se apenas ao revolucionário ano de 1959, que presenteou o mundo com as inovações modais de "Kind of Blue", do Miles Davis, com o libelo free jazz de “The Shape of Jazz to Come”, do Ornette Coleman, e o petardo hard-bop “Giant Steps”, do John Coltrane. Se nem tanto em transformação do estilo, o quinto ano da década de 60 não fica para trás em qualidade e importância. Gravaram-se, durante seus 365 dias, por exemplo, joias como "Night Dreamer", do Wayne Shorter, "Matador", do Grant Green” (ambos já resenhados aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS), “Out to Lunch”, do Eric Dolphy, e “Witches and Devils”, do Albert Ayler. Todos completando expressivos 50 anos em 2014.

Um dos mais felizes desses cinquentões foi registrado a 17 dias do mês de junho daquele fatídico ano para o jazz. Foi quando, pela Blue Note, um dos maiores mestres da música moderna entrou nos estúdios Van Gelder, em New Jersey, com um timaço que tinha Freddie Hubbard, no trompete, corneta e flugelhorn, Ron Carter, no baixo, e Tony Williams, na bateria. Aquele dia marcaria a sessão de gravação de mais uma obra-prima do jazz: “Empyrean Isles”, do pianista, compositor e arranjador Herbie Hancock. Um dos mais versáteis, influentes, celebrados e até controversos ícones da música mundial, Hancock, aos 64 anos de vida e mais de 50 de carreira, já foi do be-bop ao break, passando pelo afro-jazz, fusion, funk, modal, clássico e outros gêneros, seja pilotando o piano ou o sintetizador. E sempre com a maior integridade, sem perder seu fraseado característico e a complexidade harmônica inspirada em músicos de diversas vertentes como Bill EvansMiles DavisJames BrownGeorge GershwinTom Jobim e Sergei Rachmaninoff. Como seus mestres, serve de referência não só para a geração do jazz que lhe sucedera mas, igualmente, a músicos de outros estilos como Joni Mitchell, Jeff BeckStevie Wonder, Brian Jackson, Dom Salvador, Ike White, Marcos Valle, Public Enemy, entre centenas de outros.

Quinto disco solo do músico, “Empyrean Isles” é o exemplo máximo do hard-bop hancockiano e cuja influência e profusão através dos tempos é das mais fortes de sua trajetória ainda em plena atividade. A começar por dois monumentos do jazz moderno: "One Finger Snap" e "Oliloqui Valley". A primeira, ritmada e pulsante, começa com Hubbard arrebentando na corneta sobre uma base swingada de Williams, que, com as baquetas, conjuga com equilíbrio caixa, chipô e prato de ataque. Mas, como o próprio título sugere, a preciosidade está nos dedos de Hancock. Como diria Ed Motta, “a mão esquerda mais inteligente do mundo”. Um show de agilidade e engenhosidade de improviso. La no fim, quando se pensa que tocaram o chorus derradeiro, Tony Williams ainda apresenta um arrasador solo para, daí sim, desfecharem. Uau!

Já "Oliloqui...” quem começa incrivelmente é Carter, com seu toque trasteado inconfundível. Mais cadenciada e bluesy, nesta é o pianista quem inicia os trabalhos de improvisação, novamente (e como sempre!) com a mais alta qualidade que se pode esperar. Um fraseado limpo, cristalino, soul mas erudito ao mesmo tempo. Hubbard, por sua vez, também não deixa por menos, com um solo de emoção crescente que concilia lirismo e agilidade. O mestre Carter, que havia iniciado tão marcantemente a faixa com sua assinatura sonora, tem a chance de desenvolvê-la ainda mais. É tão bonito e impactante que o restante da banda para que ele toque, voltando, em seguida, todo o conjunto ao riff inicial. Mais um solo de trompete, atilado e curto, para terminar o número em desce-som.

E o que dizer da maravilhosa "Cantoloup Island"? Um colosso da música do século XX. Que base do piano, que harmonia, que groove, que chorus! Os quatro parecem saber tocar a melodia desde crianças tamanha a naturalidade do arranjo, que se resolve entre o quarteto intuitivamente, sabendo com exatidão a hora de cada um entrar, a precisão da cadência, o ataque ou a supressão certa em cada solo. No chorus, repetido a cada estampido seco de Williams na caixa, como um comando, é de uma beleza indecifrável a delicadeza do quase sugestivo último acorde ao final de cada frase, pronunciado propositadamente fraco, como uma respiração, como um suspiro que o ouvido já sabe como será – a adora confirmar o que já sabia depois que o escuta. A sensação que se tem em "Cantoloupe ..." é rara em música. Como Dear Prudence, dos Beatles, seu riff é tão natural e sugestivo que é como se sempre estivesse ali, no ar; só nós que, seres limitados, não o ouvimos. É preciso esses gênios mal acionem as moléculas para que, atritadas, gerem o som e percebamos o óbvio. Longe da conjectura matemática do serialismo dodecafônico, intricada e lógica, a previsibilidade delas é sentida no coração.

Mas mais do que o conhecido riff funky (muito bem “chupado” pelo grupo Us3 em sua “Cataloop”, em 1993, porém inevitavelmente inferior), Hubbard e Hancock desenvolvem solos que experimentam os limites do hard-bop. Hubbard, logo após o primeiro chorus, sobe um tom e entra rasgando, guinada inteligentemente acompanhada por toda a banda no mesmo instante. Um dos solos mais clássicos do cancioneiro jazz. Em seguida, cabe ao próprio Hancock, criador da obra, imprimir-lhe uma carga descomunal de groove como até então não se vira no jazz. Era James Brown materializando-se na “simplicidade complexa” do jazz.

Para fechar, “The Egg”, em extensos mas nem de longe monótonos 14 minutos, um exercício minimalista brilhante e desafiador. Primeiro, pela base de piano repetitiva em um esquisito tempo 4 + 3. Junto a isso, a bateria de Williams, não menos criativa, mantém o compasso em curtos rufares. Por fim, claro, as improvisações individuais de cada um: prolongadas, em que cada músico usa da inventividade de forma livre, namorando com o avant-garde que Coltrane, Ayler e Don Cherry desenvolveriam a partir de então. O diálogo com a vanguarda já se sente quando Carter surpreende e saca um arco para fazer de seu baixo uma espécie de cello, tangendo as cordas ao invés de dedilhá-las. Nisso, Hancock faz a música ganhar outras dimensões, passeando pelo free jazz, retornando ao cool dos anos 50, mas, mais do que isso, remetendo aos eruditos contemporâneos em lances de pura atonalidade. Quanta musicalidade! Em “The Egg”, Hancock antecipa o jazz fusion que ele mesmo ajudaria a criar anos depois. O fim da faixa, que também encerra o disco, é tão arrojado quanto sua abertura, como se um piano tivesse quebrado e repetisse somente e justo aqueles acordes.

Um disco memorável que, afora a data comemorativa, merece ser reouvido e revisto a qualquer época, tamanha sua qualidade e importância. Junto com outro trabalho definitivo do soul jazz, “The Sidewinder”, do trompetista Lee Morgan (do mesmo ano!), “Empyrean Isles”, com seus riffs e levadas funk somados à sua engenhosidade harmônica, inspiraram toda a geração posterior de jazzistas (Chick CoreaVince Guaraldi, Hubert Laws, irmãos Marsalis) e não-jazzistas, como a Blacksplotation dos anos 70, o pop dos anos 80 e músicos de todas as partes do planeta até hoje que chega a ser difícil até dimensionar. E essa força perdura desde aquele longínquo 1964. A fase era tão fértil que, pouco menos de um ano depois, Hancock comandaria a mesma banda no também espetacular “Maiden Voyage”, avançando ainda mais alguns passos em estética e forma. Mas os 50 anos desta outra obra-prima serão completos somente ano que vem...


Herbie Hancock - "Cantaloupe Island"


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FAIXAS:
  1. "One Finger Snap" – 7:20
  2. "Oliloqui Valley" – 8:28
  3. "Cantaloupe Island" – 5:32
  4. "The Egg" – 14:00
todas as faixas compostas por Herbie Hancock

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OUÇA O DISCO









quarta-feira, 1 de julho de 2020

Música da Cabeça - Programa #169


Orgulho? Temos! No Música da Cabeça é assim: muito amor-próprio e música. Sly & The Family Stone, Nando Reis, The Sonics, Ed Motta, The Beatles, Roberto Carlos e Diana Ross são alguns dos que estão nesta parada conosco. Ainda, homenagem às 78 rotações de Gilberto Gil e à semana do Orgulho LGBTQ+. Temos tudo isso hoje, às 21h, na altiva Rádio Elétrica, que super de bem consigo mesma. Produção, apresentação e bandeira multicolor: Daniel Rodrigues. 



Rádio Elétrica:
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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Banda Black Rio - "Maria Fumaça" (1977)




“A Banda Black Rio é um dos maiores acontecimentos musicais desse planeta”.
Lucas Arruda


“Coisa mais séria que tem! Um dos discos instrumentais mais bem feitos no Brasil. Tudo absolutamente certo aqui: temas, timbres, só acerto.”
Ed Motta


O jazz no Brasil teve de caminhar alguns quilômetros em círculos para que obtivesse uma identificação real com o país do carnaval. Em termos de indústria fonográfica, até os anos 70 as apostas sempre estiveram sobre o samba e derivados ou outros gêneros comerciais, como o bolero, a canção romântica, a bossa-nova carioca, os festivais, a MPB e até o rock. Mesmo presente na sonoridade das orquestras das gafieiras ou na bossa nova, o jazz se misturava aos sons brasileiros mais pela natural influência exercida pelos Estados Unidos na cultura latina do que pelo exemplo de complexidade harmônica de um Charlie Parker ou Charles Mingus. Expressões bastante significativas nessa linha houve nos anos 50 e 60, inegável, mas jazz brasileiro mesmo, com “b” maiúsculo, esse ainda não havia nascido.

Por essas ironias que somente a Sociologia e a Antropologia podem explicar, precisou que o gênero mais norte-americano da música desse uma imensa volta para se solidificar num país tão africanizado quanto os Estados Unidos como o Brasil. Essa solidificação se deve a um simples motivo: assim como na criação do jazz, cunhado por mentes e corações de descendentes de escravos, a absorção do estilo no Brasil se deu também pelos negros. No caso, mais de meio século depois, pela via da soul music. O chamado movimento “Black Rio”, que estourava nas periferias cariocas no início da década de 70, era fruto de uma nova classe social de negros que surgia oriundos das “refavelas”, como bem definiu Gilberto Gil. Reunia milhões de jovens em torno da música de James Brown, Earth, Wind & Fire, Aretha Franklin e Sly & Family Stone. DJ’s, dançarinos, produtores, equipes de som, promoters e, claro, músicos, que começavam a despontar da Baixada e da Zona Norte, mostrando que não eram apenas Tim Maia e Cassiano que existiam. Tinha, sim, outros muitos talentos. Dentro deste turbilhão de descobertas e conquistas, um grupo de músicos originários de outras bandas captou a essência daquilo e se autodenominou como a própria cena exigia: Black Rio.

Formada da junção de alguns integrantes dos conjuntos Impacto 8, Grupo Senzala e Don Salvador & Grupo Abolição, a Black Rio compunha-se com o genial saxofonista Oberdan Magalhães, idealizador e principal cabeça da banda; o magnífico e experiente pianista Cristóvão Bastos; os sopros afiados de José Carlos Barroso (trompete) e Lúcio da Silva (trombone); o não menos incrível baixista Jamil Joanes; Cláudio Stevenson, referência da guitarra soul no Brasil; e, igualmente impecável, o baterista e percussionista Luiz Carlos. Com uma insuspeita e natural mescla de samba, baião, funk, gafieira, rock, R&B, fusion, soul e até cool, a Black Rio inaugurava de vez o verdadeiro jazz brasileiro. Um jazz dançante, gingado, sincopado, cheio de groove e de rebuscamentos harmônicos.

Banda das mais requisitadas dos bailes funk daquela época, eram todos instrumentistas de mão cheia. Se nas apresentações eles tinham a luxuosa participação vocal de dois estreantes até então pouco conhecidos chamados Carlos Dafé e Sandra de Sá, tamanhos talento e habilidade não podia se perder depois que a festa acabasse e as equipes de som guardassem os equipamentos. Precisava ser registrado. Foi isso que a gravadora WEA providenciou ao chamar o tarimbado produtor Mazola – por sua vez, muito bem assessorado por Liminha e Dom Filó, este último, um dos organizadores do movimento Black no Brasil. Eles ajudaram a dar corpo a Maria Fumaça, primeiro dos três discos da Black Rio, a obra-prima do jazz instrumental brasileiro e da MPB, uma joia que completa 40 anos de lançamento em 2017.

Como se pode supor, não se está falando de qualquer trem, mas sim um expresso supersônico lotado de musicalidade e animação, que transborda talento do primeiro ao último acorde. Sonoridade Motown com toques de Steely Dan e samba de teleco-teco dos anos 50/60. Tudo isso pode ser imediatamente comprovado ao se escutar a arrasadora faixa-título, certamente uma das melhores aberturas de disco de toda a discografia brasileira. O que inicia com um show de habilidade de toda a banda, num ritmo de sambalanço, logo ganha cara de um baião jazzístico, quando o triângulo dialoga os sopros, cujas frases são magistralmente escritas e executadas. A guitarra de Cláudio faz o riff com ecos que sobrevoam a melodia; Jamil dá aula de condução e improviso no baixo; Cristóvão manda ver no Fender Rhodes; Luis Carlos faz chover na bateria. Quando o samba toma conta, praticamente todos assumem percussões: cuíca, pandeiro e tamborim.

Sem perder o embalo, uma versão originalíssima de “Na Baixa Do Sapateiro”, comandada pelo sax de Oberdan, que atualiza para a soul o teor suingado da melodia, e outra igualmente impecável: “Mr. Funky Samba”. Jamil, autor do tema, está especialmente inspirado, fazendo escalamentos sobre a base funkeada e sambada como bem define o título. Mas não só ele: Luiz Carlos adiciona ritmos da disco ao jazz hard bop, e Cristóvão mais uma vez impressiona por sua versatilidade na base de Fender Rhodes e no solo de piano elétrico. Uma música que jamais data, tamanha sua força e modernidade.

O líder Oberdan assina outras duas composições, a sincopada “Caminho Da Roça” e a carioquíssima “Leblon Via Vaz Lôbo”, em que Cláudio e o próprio improvisam solos da mais alta qualidade. Outros integrantes, no entanto, não ficam para trás nas criações, caso de Cláudio e Cristóvão, que coassinam uma das melhores do disco: “Metalúrgica”. Como o título indica, são os sopros que estão afiados no chorus. O que não quer dizer que os colegas também não brilhem, caso de Luiz Carlos, criando diversas variações rítmicas, Cláudio, distorcendo as cordas, e a levada sempre inventiva de Jamil.

A versatilidade e o conceito moderno da Black Rio revisitam outros mestres da MPB, como Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira (“Baião”), onde o ritmo nordestino ganha tons disco e funk; Edu Lobo (“Casa Forte”), de quem realçam-lhe a força e a expressividade das linhas melódicas; e Braguinha, quando o lendário choro “Urubu Malandro”, de 1913, vira um suingado e vibrante samba de gafieira. Nota-se um cuidado, mesmo com a sonoridade eletrificada, de não perder a essência da canção, o que se vê na manutenção de Cristóvão nos teclados e da adaptação das frases de flauta para uma variação sax/trompete/trombone.

Outra pérola de Jamil desfecha essa impecável obra num tom de soul e jazz cool, que antevê o que se chamaria anos adiante no Brasil de “charme”. Embora a canção seja de autoria do baixista, é o trompete de Barrosinho que arrasa desenhando toda melodia do início ao fim.

Talvez seja certo exagero, uma vez que já se podia referenciar como jazz “brazuca” o som de Hermeto Pascoal, Moacir Santos, Airto Moreira, João Donato, Eumir Deodato, Flora Purim, Dom Um Romão, entre outros – embora, a maioria tenha-o feito e consolidado seus trabalhos fora do Brasil. Com a Black Rio foi diferente. Com todos pés cravados em terra brasilis, foi o misto de contexto histórico, necessidade social, proveito artístico e oportunidade de mercado que a fizeram tornar-se a referência que é ainda hoje. Uma referência do jazz com cheiro, cor e sabor latinos. Mas para além das meras classificações, a Black Rio é o legítimo retrato de uma era em que o Brasil negro e mestiço passou a mostrar a riqueza "do black jovem, do Black Rio, da nova dança no salão".

Banda Black Rio - "Maria Fumaça"


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FAIXAS
1. Maria Fumaça (Luiz Carlos Santos/Oberdan) - 2:22
2. Na Baixa Do Sapateiro (Ary Barroso) - 3:02
3. Mr. Funky Samba (Jamil Joanes) - 3:36
4. Caminho Da Roça (J. Carlos Barroso/Oberdan) - 2:57
5. Metalúrgica (Claudio Stevenson/Cristóvão Bastos) - 2:30
6. Baião (Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga) - 3:26
7. Casa Forte (Edu Lobo) - 2:22
8. Leblon Via Vaz Lôbo (Oberdan) - 3:02
9. Urubu Malandro (Louro/João De Barro) - 2:28
10. Junia (Joanes) - 3:39

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OUÇA O DISCO


por Daniel Rodrigues

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Música da Cabeça - Programa #142


Trazemos a boa-nova! Não, não é o nascimento do JC: é o MDC! O Música da Cabeça de Natal vai estar bem brasileiro e com o saco cheio dos presentes sonoros: TNT, Ed Motta, Rita Lee, Alceu Valença, Renato Russo e Caetano Veloso, além dos estrangeiros Cocteau Twins, Michael Jackson e JohnCale. Tem também “Música de Fato” falando das mulheres, “Palavra, Lê” com letra natalina e um “Cabeção” reverenciando o múltiplo Brian Eno. Põe tudo na conta do Papai Noel, que ele garante um programa no nível que a data merece. É às 21h, no presépio cultural da Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (Ho Ho Ho/ Let’s Go!).


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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Música da Cabeça - Programa #150


Pra que ir para a Disney se podemos viajar ouvindo o Música da Cabeça, né? No programa 150, nosso passeio começa pela entrevista exclusiva com o músico e produtor carioca Sacha Amback no quadro "Uma Palavra". Também vamos passar por Hyldon, Lou Reed, Ivan Lins, Banderas, Ed Motta e mais. O destino se chama Rádio Elétrica, e o embarque é às 21h. Produção, apresentação e turismo musical: Daniel Rodrigues.


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sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Exposição "Castelo Rá-Tim-Bum” - Praia de Belas Shopping - Porto Alegre/RS


A exposição já passou, mas o sentimento ficou. Aliás, mantém-se presente há 25 anos desde que “Castelo Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura, uma das séries infanto-juvenis mais famosas da televisão brasileira, foi ao ar. Leocádia e eu estivemos na exposição em homenagem à esta querida série televisiva, que esteve por aproximadamente de dois meses no Praia de Belas Shopping, em Porto Alegre, mas que só no finalzinho deu pra vermos com a atenção que merecia. No meu caso, até a tinha percorrido no dia da estreia, em junho, mas a trabalho, o que atrapalha uma apreciação mais pormenorizada. Por isso, mesmo a alguns dias de fechar, foi super válido temos visitado.

A exposição – que está partindo para outras cidades brasileiras, aliás – reproduz o ambiente e os espaços da premiada série, que esteve no ar entre 1994 e 1997. Criada pelo dramaturgo Flavio de Souza e pelo diretor Cao Hamburguer, “Castelo Rá-Tim-Bum” marcou uma geração inteira com cenografias bem trabalhadas, música de qualidade e roteiros inteligente e educativos, que ensinavam desde práticas de higiene até detalhes sobre acontecimentos históricos. Tudo com humor, sagacidade, ludicidade e, principalmente, aquilo que gosto de destacar quando se trata de obras voltadas para o público infantil: sem fazer pouco da inteligência dos pequenos..

Croqui do figurino de Nino com as anotações do próprio autor
Organizada pela Acervo 21 em parceria com o Praia de Belas e a TV Cultura, a atração contou com uma estrutura enxuta da mesma, que já recebeu aproximadamente 1,5 milhão de visitas em São Paulo e Distrito Federal. Mas nem por isso ficou devendo, visto que, com o que foi montado, todo o universo da série pode ser captado muito bem. Com recursos interativos, figurinos e peças do acervo original da TV Cultura, a mostra reconstrói os ambientes do Castelo, onde Nino (Cássio Scapin), Morgana (Rosi Campos), Dr. Victor (Sérgio Mamberti) e outros personagens viviam.

Já na entrada, o simpático Nino dá as boas-vindas através de uma projeção muito bem realizada, gravada pelo próprio ator Cássio Scapin, que interpretava o personagem. O passeio segue por outros ambientes do castelo, como o saguão com a árvore da cobra Celeste, a Biblioteca do Gato Pintado e o esgoto dos monstrinhos Mau e Godofredo.

Os figurinos originais, assinados por Carlos Alberto Gardin, também fazem parte da exposição, assim como alguns bonecos e objetos utilizados na gravação da série. Destaque para os croquis, alguns com as indicações escritas a mão por Gardin, e figurinos ricos como o de Morgana e do índio Caipora, quase um punk pós-moderno.

A cobra Celeste foi substituída por um boneco mecânico, mas conversa com as crianças na voz original do personagem, além da banheira do Ratinho, que ganhou uma sala especial. Em todos os ambientes há também televisões exibindo trechos do programa, com destaque para o vídeo da gostosa (e didática) “Lavar as Mãos”, composta por Arnaldo Antunes especialmente para a série. Por falar em música, esse era outro trunfo do programa, uma vez que sua trilha reunia, além de Arnaldo, um pessoal muito talentoso e afim com o conceito lúdico do "Castelo", como André Abujamra, Maurício Pereira, Hélio Ziskind, Ed Motta, Fernando Salem, Paulinho Moska e outros.

O clássico "Lavar as Mãos", de Arnaldo Antunes


Mesmo sendo de uma época em que já era adolescente, e, por isso, não diretamente ligado à programação infantil, lembro sempre com carinho do “Castelo Rá-Tim-Bum” na tevê, que conquistava pessoas de qualquer idade com a qualidade que tinha. Ver a exposição, dessa forma, foi bastante prazeroso de algo que sempre valorizei. Confira algumas fotos e vídeos que fizemos durante nossa vista à exposição:

Leo, Nino e eu
A Biblioteca do Gato, espaço mais impressionantemente real da exposição

O boneco original do Gato
Leocádia confere o rico espaço da personagem Morgana

O suntuoso figurino usado pela atriz Rosi Campos, assinado por Carlos Alberto Gardin

Detalhes da cenografia
O típico chapéu de bruxa de Morgana

O livro falante de Morgana, também original da série
A árvore da cobra Celeste, que conversa com a visitante que foi fazer uma foto
Outro lindo ambiente da mostra
Detalhe super artístico da cenografia da série
O traje original de Nino usado pelo ator Cássio Scapin
Maquete original do circo usado na Sala de Música da série
A roupa do intelectual Pedro, vivido por Luciano Amaral na série

Mais beolos croquis de Gardin

O índio Caipora: figura de um punk pós-moderno

Rico em detalhes o desenho para formar o personagem do Caipora

Godofredo e Mau: mais divertidos, impossível
Crianças se divertindo na banheira do Ratinho
O Ratinho original feito em massinha
A letra da famosa música "Ratinho Tomando Banho" de Hélio Ziskind

Aí este que vos escreve também aproveito pra tomar uma ducha
com o Ratinho, afinal, "Banho é Bom" como diz a música

E ninguém melhor que ele pra terminar


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa