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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

cotidianas #238 - "RPM 33 1/3"


- Como foi que tudo isso começou?
imagem adaptada do filme "Fahrenheit 451"
de François Truffaut
- É meio incerto, mas acreditamos que tenha sido com o advento de um tipo de arquivo físico chamado fita cassete. O conceito de álbum, obras musicais produzidas pelo artista, muitas vezes conceituais, pensadas da capa à última música, começou a desmoronar. As pessoas tinham 60, 90 minutos para gravar o que quisessem e muitos faziam coletâneas descriteriosas. Mas não foi tão grave, muitos ainda gravavam LP's nas fitas e tinham discotecas portáteis. Contudo, o compact disc, um disco digital com maior capacidade e possibilidades de armazenamento, só veio a piorar as coisas: eram 80 minutos no mínimo ou horas intermináveis com os tais arquivos MP3, este por certo você já ouviu falar?
O homem de uniforme laranja concordou com a cabeça e então o outro prosseguiu:
- Este sim foi o começo do fim: o MP3. Cada vez mais compactaram-se aparelhos, as possibilidades de agrupamentos de arquivos musicais eram infinitas. Aparelhos portáteis cada vez menores no tamanho mas com cada vez maior capacidade interna. Todos só faziam compilações pessoais. Os álbuns foram deixando de existir. Para eles, lá em cima, era perfeito. Enquanto as pessoas ouvissem música em seus aparelhos apenas para ir ao supermercado, correr, fazer musculação, cada vez mais iam perdendo os critérios, o senso crítico, iam pensando cada vez menos...
Baixou a cabeça como a lamentar pelo que estava relatando mas tomou novo fôlego e continuou:
- Mas não era suficiente, você entende? Tinham que se certificar que não estivéssemos ouvindo uma obra inteira nos nossos aparelhos, que não tivéssemos a contestação sarcástica de um Dylan, a fúria de um Kurt Cobain, o ódio de um Johnny Rotten, a politização de um Bob Marley. Nada que nos fizesse pensar. Aí começaram as proibições. Primeiro passou a ser proibido ter aparelhos antigos em casa. Toca-discos, 3 em 1, gramofones, tudo o que tocasse os antigos discos de vinil.
- O que eram esses... discos de vinil? - perguntou o ouvinte.
- Eram os LP's dos quais falei. Discos, disco mesmo. De mais ou menso 30 cm de diâmetro, havia menores, os compactos, mas a maioria eram os grandes, conhecidos como bolachões. Tinham faixas gravadas em ambos os lados e eram reproduzidos em aparelhos giratórios, mais comumente a 33 e 1/3 rotações por minuto, pelo contato de uma agulha que lia sua superfície. A agulha ia deslizando da borda externa para dentro e assim que chegava no limite interno era necessário que se levantasse a agulha, virasse o disco para se ouvir o outro lado.
- Pouco prático, não? - observou o outro que até então apenas ouvia atento.
- Até pode parecer, mas você não imagina o prazer que dava em sentir o primeiro contato da agulah com o vinil. O chiado que fazia ao roçar nele, a expectativa para o final de cada lado e para o início do outro...
Montag não entendeu muito bem mas acreditou que provavelmente tratasse de algo especial.
- Mas então? Como chegamos a este ponto? Como as coisas são hoje.
Retomou então o homem:
- Bem... não é difícil imaginar. Em seguida aos discos proibiu-se os CD's, os dispositivos portáteis, a compra de arquivos em bloco ou de um mesmo artista, os downloads passaram a ser monitorados pelo governo, foram proibidas então as músicas com letra, instrumentos e por fim, percebendo que até um Beethoven, um Sivuca ou um Glass podem estimular pensamentos mesmo sem palavras, resolveram criar a Rádio Estatal e esse o som que sai das paredes. O único som que é permitido. É lobotômico, você sabia? Deve-se evitar ouvi-lo prolongadamente. Mas a população ouve. Gostaram da música do governo. Aliás o povo sempre foi assim, gosta do que der pronto para ele.
Suspirou fundo, olhou na direção das árvores:
- O K7 até voltou a ganhar alguma força no submundo mas tão logo os homens souberam iniciaram uma nova onda de perseguições e buscas. E é aí onde você entra.
- Mas eu não sou mais um coletor – defendeu-se rapidamente Montag – Eu, eu... durante uma busca para coleta eu peguei um aparelho. Eu não o coloquei na prensa. Guardei no bolso. Eu o levei para casa e consegui ouví-lo. Ainda usei os fones de ouvido da Central, mesmo. Os que usamos para sermos avisados das buscas. Eu ouvi.
- O que você ouviu, Montag. É este o seu nome, não? Montag?
- Sim, é. No aparelho, um reprodutor de MP3 havia um arquivo chamado “Help”. Eu ouvi aquilo... havia uma música chamada “Yesterday”. Ela simplesmente... me fez chorar. Não sabia que músicas podiam fazer isso com a gente.
- Oh, sim... Eles eram conhecidos como The Beatles. Dizem que foram os maiores. “Help!” foi um grande álbum – confirmou o outro com ar de satisfação – A música é muito poderosa. Por isso não querem que as ouçamos.
- Quer ficar conosco?
- Adoraria. Ainda mais agora que sou uma espécie de “ameaça ao governo” - riu.
- Pois bem, aqui somos apenas uns 80, mas há muitos outros em muitas outras colônias clandestinas como esta pelo mundo afora. Pessoas dispostas a manter vivo o encanto, a magia e o ideal dos artistas e das suas obras fonográficas. Não foi pensado! Na verdade tudo começou meio que por acaso. Um homem aqui, outro ali, amante incondicional de música tratou de guardar no lugar mais seguro e intransponível, seu cérebro, no mínimo, uma música que amasse muito. Todos os detalhes possíveis, a melodia, a entonação, a batida, um ruído secreto. São homens-música. Deu-se que calhou de juntarmo-nos aqui e nestes outros lugares que falei, onde o governo ignora ou prefere que fiquemos desde que não “importunemos” sua ordem. O que eles não sabem é que assim que temos notícia de que uma outra “música” que faça parte de uma obra esteja pronta, tratamos de trazê-la para cá ou levá-la para onde possa compor um álbum. A propósito, não me apresentei, sou “Águas de Março” de Tom Jobim.
E apontou adiante mostrando:
- Aquele ali é “Non, Je Ne Regrete Rien”, de Édith Piaf; aquele outro sentado é “Little Red Rooster”, de Willie Dixon, na versão de Howlin' Wolf; aquele outro é “Anarchy in the U.K. Dos Sex Pistols; aquela moça bonita de vermelho é “Venus In Furs” do Velvet Underground. E vê aqueles todos juntos? Aquelas nove peassoas? Conseguimos reunir todas as músicas do “Let It Bleed” dos Rolling Stones – sorriu com satisfação.
- Não é fácil – continuou- Nem sempre conseguimos reunir álbuns inteiros, às vezes temos 4, 5 homens-música mas os outros estão espalhados por aí, por outras colônias, ou simplesmente vagando solitários com sua música favorita guardada em sua cabeça até que um dia as músicas sejam permitidas novamente e que aqueles clássicos possam voltar a serem gravados. Você ainda tem o aparelho? O arquivo?
- Sim, sim. Eu trouxe na fuga – apressou-se em mostrar, tirando do bolso.
- Acha que pode decorar sua letra, melodia, os detalhes de sua percussão? Acha que consegue identificar os instrumentos?
- Creio que sim.
- Pois então, ouça bem, ouça quantas vezes precisar e trate de gravar na sua mente. Assim que tiver terminado faremos o que você sempre fez, destruiremos o arquivo para que o governo não tenha motivo para prender qualquer um de nós. Temos alguns fones velhos se precisar.
- Eu gostaria muito.
- Vamos lá. Vamos à cabana buscar – conduzindo Montag com a mão em seu ombro.
No caminho para a choupana que lhes servia de alojamento, passaram por uma menina de uns dezessete anos que cantarolava alto o suficiente apenas para que quem estivesse perto dela conseguisse ouvir, “in dreams i walk with you...”. Era “In Dreams” de Roy Orbison.


Cly Reis

terça-feira, 10 de julho de 2012

Nirvana - "MTV Unplugged in New York" (1994)




"É melhor queimar do que desaparecer aos poucos"
trecho da carta de suicídio
deixada por Kurt Cobain,
citando trecho da música
“Hey, Hey, My, My” de Neil Young


Um verdadeiro réquiem montado por aquele próprio que viria a morrer. Um funeral em vida cuidadosamente preparado com castiçais, velas, flores, lustres e palavras finais. Assim foi o acústico do Nirvana para a MTV americana, o melhor dos especiais neste formato realizado pela emissora.
Os acústicos como ficaram conhecidas estas apresentações exclusivas para o canal Music Television, começaram num formato bem intimista, meio luau, com as bandas ou artistas num banquinho, com instrumentos simples, de uso corriqueiro, algum complemento percussivo mais original ou elaborado, mas na maioria das vezes, num clima bem aconchegante e descontraído. Com o sucesso dos eventos, que passaram a render discos e DVD’s das apresentações, a coisa foi mudando e ficando mais chata e pomposa: artistas levavam orquestras inteiras, criavam versões com instrumentos rebuscadíssimos, levavam os shows para teatros grandes, deturpavam as próprias canções, contavam com a participação de inúmeros convidados e o acústico, aquela coisa, voz, violão, viola, chocalhos, baterias discretas e tudo mais que fizesse soar simpático, foi ficando pra trás.
O Nirvana, convidado a fazer o seu especial, além da ‘decoração’ já mencionada, que se por um lado poderia parecer mórbida, inegavelmente era aconchegante e convidativa, recuperava também essa idéia de tocar com os amigos e sentados em almofadas no chão, em banquinhos baixos, empunhando nada mais que violões, com o baterista David Grohl na retaguarda, trazendo uma bateria tradicional, mas sem abusar da intensidade; fazia o acústico definitivo e o imortalizava transformando-o no álbum “MTV Unplugged in New York”, que viria a ser o último registro oficial da banda, numa espécie de testamento musical de Kurt Cobain, que viria a suicidar-se dali há alguns meses.
Provavelmente já de caso pensado sobre o que faria, Kurt Cobain, tratou de dar seus últimos recados e desfilar toda a angústia que perturbava seu coração em interpretações sentidas como em “About a Girl”, “Pennyroyal Tea” e “Dumb”.
Canções como “Polly”, “Something in the Way” e “All Apologies” que por sua característica original, mostravam-se propícias para uma versão acústica, ficaram perfeitas, tendo estas duas última recebido acréscimo de violoncelo como nas versões originais. A simpática "Jesus Doesn't Want Me for a Sunbeam", dos Vaselines por sua vez tem um adorável acordeão e na cover de David Bowie, “The Man Who Sold the World”, Kurt dribla o formato acústico e põe um pequeno amplificador para reinterpretar o clássico, numa versão talvez melhor que a original.
A propósito de covers, o trio de Seattle mandou ver em três versões de canções dos Meat Puppets em sequência, acompanhados pelos próprios intergrantes da banda que serviram de apoio para o Nirvana no acústico: a ótima “Plateau” de acorde minimalista; a boa “Oh Me”; e a forte “Lake of Fire” com grande interpretação de Kurt Cobain.
Encerrariam então com outra cover e outra grande performance de seu vocalista, “Where Did You Sleep Last Night”, blues tradicional de autoria de Leadbelly, que exprimia muito do que Kurt provavelmente sentia a respeito de sua relação com Courtney Love naquele momento e por isso mesmo, a cantaria de uma maneira absolutamente intensa, envolvida, sentida, num momento tão emocionante que não podia deixar de ser o final do especial acústico. Um final monumental.
A canção final.
O final de tudo...
Infelizmente poucos meses depois da gravação do especial Kurt Cobain se suicidaria e deixaria esta lacuna no cenário do rock, tendo sido dele seu último grande nome.
Mas se neste acústico sua intenção havia sido mostrar o quanto seu coração e sua alma estavam consumidos com seu repertório cuidadosamente escolhido e suas interpretações sofridas, ele pode ter certeza que os fãs perceberam isso em cada verso, em cada expressão, em cada grito de dor; e se mais do que isso, foi sua idéia planejar as próprias exéquias públicas, ficaremos para sempre com a imagem do acústico como sua despedida.
Assim sendo, tudo o que resta a dizer é descanse em paz, Kurt. Descanse em paz.

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FAIXAS:
  1. "About a Girl" - 3:37 
  2. "Come As You Are" - 4:13 
  3. "Jesus Doesn't Want Me for a Sunbeam" (Kelly/McKee; cover dos Vaselines) - 4:37 
  4. "The Man Who Sold The World" (cover de David Bowie) - 4:20 
  5. "Pennyroyal Tea" - 3:40 
  6. "Dumb" - 2:52 
  7. "Polly" - 3:16 
  8. "On a Plain" - 3:44 
  9. "Something In The Way" - 4:01 
  10. "Plateau" (Kirkwood; cover dos Meat Puppets) - 3:38 
  11. "Oh, Me" (Kirkwood; cover dos Meat Puppets) - 3:26 
  12. "Lake of Fire" (Kirkwood; cover dos Meat Puppets) - 2:55 
  13. "All Apologies" - 4:23 
  14. "Where Did You Sleep Last Night" (cover de Leadbelly) - 5:08
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Ouça:

Cly Reis

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Little Richard - "Here's Little Richard" (1957)


"... é uma das primeiras
 capas que berram"
Hervé Bourhis, autor de
"O Pequeno Livro do Rock"



Esse foi o cara que ensinou o rock'n roll a rasgar a voz.
Não que tenha sido sua única contribuição - não mesmo - mas come certeza caras como Kurt Cobain Max Cavalera, John Lydon e tantos outros muitos devem um pouco da fúria no jeito de cantar a Richard Waye Pennyman, mais conhecido Little Richard.
Seu disco de estreia, "Here's Little Richard" de 1957, é uma daquelas cartilhas do rock'n roll: doses perfeitas de fúria, malícia, perversão e ousadia.
E aquela batida insistente?
E aquele piano alucinado?
E aquele ritmo ensandecido?
A clássica "Tutti Frutti" é um exemplo perfeito destas interpretações enlouquecidas de Richard, acompanhada de uma base agressiva e acelerada de piano. A canção foi regravada por Elvis Presley mas a versão de Richard no fim das contas, se formos falar em força, é bem mais potente que a do Rei; "She's Got It" é outra com vocal selvagem e gritado; "Rip It Up" vai na mesma linha com força, poder e embalo; tem a baladinha gospel "Can't Believe You Wanna Leave" e "Oh Why?" mais cadenciada, ambas muito legais, mas o bom mesmo é quando o piano da Rainha Diaba pega fogo e sua garganta se abre em urros agudos e ensurdecedores como em "Long Tall Sally" ou em "Jenny Jenny".
Ah, cara, isso é rock'n roll!!!
"A-woop-bop-a-loo-bop-a-loo-bam-boom"

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FAIXAS:
  1. "Tutti Frutti" (Richard Penniman, Dorothy LaBostrie, Joe Lubin) – 2:25
  2. "True Fine Mama" (Penniman) – 2:43
  3. "Can't Believe You Wanna Leave" (Lloyd Price) – 2:28
  4. "Ready Teddy" (Robert Blackwell, John Marascalco) – 2:09
  5. "Baby" (Penniman) – 2:06
  6. "Slippin' and Slidin' (Peepin' and Hidin')" (Penniman, Eddie Bocage, Albert Collins, James Smith) – 2:42
  7. "Long Tall Sally" (Enotris Johnson, Blackwell, Penniman) – 2:10
  8. "Miss Ann" (Penniman, Johnson) – 2:17
  9. "Oh Why?" (Winfield Scott) – 2:09
  10. "Rip It Up" (Blackwell, Marascalco) – 2:23
  11. "Jenny, Jenny" (Johnson, Penniman) –2:04
  12. "She's Got It" (Marascalco, Penniman) –2:26
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Ouça:
Here's Little Richard



Cly Reis

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

The Sonics - "Here are The Sonics" (1965)



"Eu tenho que admitir ...
The Sonics gravou muito, mas muito barato (...)
apenas utilizaram um microfone sobre a bateria, e o som da bateria deles é o mais incrível que eu já ouvi. Ainda hoje é o meu som de bateria preferida.
Parece que ele está batendo mais forte
do que qualquer um que eu já conheci."
Kurt Cobain


É certo que um bocado de bandas dos anos 60 influenciaram e ajudaram a formar a linguagem do que seria o punk rock, mas poucas daquela época sujaram tanto o som, estouraram as caixas amplificadas, rasgaram tanto os vocais como o The Sonics. As guitarras soavam altas e agressivas, os teclados quando apareciam formavam uma espécie de camada, os metais eram invariavelmente enlouquecidos e a bateria alta e oca, soava como uma metralhadora nos rolos.
Numa época em que as versões e releituras dos clássicos do blues e do rock eram quase um cartão de visitas para qualquer banda que aspirasse aparecer no cenário musical, os caras verdadeiramente 'desvirtuaram', num bom sentido, algumas pérolas do rock de lendas como Chuck Berry, Little Richard e Ray Charles.
No seu álbum de estreia, "Here Are The Sonics" de 1965, eles até dão uma poupada em "Roll Over Beethoven", por exemplo, que ganha peso, aceleração mas não chega a ser tão ousada, mas "Good Golly Miss Molly", por sua vez fica absolutamente selvagem tal o barulho, o volume e a gritaria; e a bela balada "Night Time Is the Right Time" de Ray Charles  ganha vocais berrados e arranhados que lhe conferem uma sensação completamente nova em relação à original.
Mas, em absoluto, se limitavam às covers: das canções próprias destaca-se facilmente a fantástica "The Witch", um rockaço, meio surf music, com um riff minimalista e pesado que lembra o antigo tema do seriado Batman. Nada mais nada menos que matadora! "Psycho", outra das composições da banda, como já subentende o nome é algo assim próximo à loucura, e "Strychnine" que descarrega guitarras ruidosas e vocais violentos em outra das melhores do disco, é puro veneno
O disco "Here are the Sonics" não era assim tão fácil de ser encontrado mas há pouco tempo saiu em reedição com alguns extras, no entanto, bom mesmo pra quem quiser um apanhado geral é a coletânea lançada em 1993 que contém todas as músicas deste primeiro LP e mais um bocado de outras boas coisas da banda, chamada "Psycho-Sonic". Pra quem quiser ir atrás, acho que este é o melhor caminho.
Simplesmente psycho!
Psycho!

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FAIXAS:
1."The Witch"
2."Do You Love Me" (The Contours)
3."Roll Over Beethoven" (Chuck Berry)
4."Boss Hoss"
5."Dirty Robber" (The Wailers)
6."Have Love, Will Travel" (Richard Berry)
7."Psycho"
8."Money (That's What I Want)" (Barrett Strong)
9."Walkin' the Dog" (Rufus Thomas)
10."Night Time Is the Right Time" (Ray Charles)
11."Strychnine"
12."Good Golly Miss Molly" (Little Richard)

*todas as faixas, The Sonics, exceto as indicadas
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Ouça:
Here Are The Sonics





Cly Reis

terça-feira, 26 de abril de 2011

Foo Fighters - "Foo Fighters" (1995)

"Foi necessário trazer tudo isso à tona para conseguir fazer esse disco. Não estaria fazendo o que estou fazendo se não fosse pelo Nirvana".
Dave Grohl



Uns dizem que Dave Grohl, medíocre ex-baterista do Nirvana, teria contado com a ajuda do falecido vocalista Kurt Cobain (ainda em vida) para compor as músicas do primeiro álbum do que viria a ser sua futura banda; outros afirmam que o próprio Kurt teria composto quase todas, senão todas, as faixas para Grohl; outros ainda que, na verdade,  o material era de sobras da famosa banda de Seattle; ou ainda, e o mais provável, até que se prove o contrário, que Grohl, oficialmente compositor de todas as faixas, além de co-produtor e executor de praticamente todas, estivesse altamente inspirado. Mas independentemente do que tenha acontecido, o fato é que o Foo Fighters, embora tenha alcançado e mantido o sucesso comercial ao longo de sua carreira, nunca mais produziu um disco como seu primeiro, "Foo Fighters" de 1995 que, senhores, é um discaço!
A comparação com Nirvana é inevitável no início do Foo Fighters. Muito ainda enquadrada na sonoridade que consagrou o legendário grupo do qual Grohl fez parte, as canções soavam ainda muito 'grunge', por assim dizer, e mantinham uma estrutura muito similar ao que fizeram principalmente em "Nevermind".
Contudo, ainda que mostrasse peso, energia, influências de punk-rock e metal, o disco já soava mais pop e acessível que seus contemporâneos, representando neste sentido, um passo à frente no que dizia respeito à aproximação com o grande público, o que viria a se confirmar, sobremaneira com os trabalhos posteriores da banda.
Mas, "Foo Fighters", o álbum, sem analisarmos o que a banda acabaria fazendo futuramente, é um ótimo trabalho. Tem pegada, tem força, tem melodia e se constitui num dos melhores e mais importantes discos dos anos 90.
O início do disco é de tirar o fôlego com três tiros certeiros: "This is a Call" começa o álbum em grande estilo, transitando entre o melodioso e o enérgico com uma levada, ao mesmo tempo doce e forte; já traz na colada, praticamente emendando "I'll Stick Around" que entra com tudo com uma bateria furiosa introduzindo para um riff vibrante e empolgante; "Big Me" baixa a rotação mas não a qualidade e nos apresenta uma balada graciosa com levada mais lenta e pendendo pro acústico.
Aí o caldo engrossa com o peso de "Alone+Easy Target" e com o hardcore furioso de "Good Grief". "Oh, George" volta a dar uma cadenciada e é igualmente um dos destaques do disco; "Weenie Beenie" detona tudo; "For all the Cows" outra das grandes é uma espécie de jazz de cabaré com rompantes ocasionais; "Wattershed" volta a atacar furiosamente num hardcore pesado e distorcido; e o disco fecha espetacularmente com a majestosa "Exhausted" com suas guitarras belas e rascantes de arrepiar, num grand-finale digno de um álbum fundamental.
Não sei o que é verdade ou o que é lenda a respeito deste disco, a respeito de Grohl e do Foo Fighters, o que me interessa é o som, o que fazem, o que produzem e o que ouvi da banda depois deste disco não me agrada muito, aliás muito pouco. Porém, o que se escuta neste álbum de estreia da banda é um avanço técnico e compositivo em relação à própria fonte de inspiração, o Nirvana, com uma sonoridade mais limpa, mais uniforme e que, aqui, ainda não perdia a autenticidade do som e sua a agressividade natural.
Agora, independente do quanto Dave Grohl tenha de parcela de composição, genialidade, de inspiração, mesmo que só o tivesse tocado as músicas, pode-se dizer que o fez muito bem. E se as canções eram de Kurt, do Corgan, da Courtney ou fosse lá de quem, não teria havido demérito algum em, a partir delas ter constituído uma obra de grande qualidade. Quantos artistas não compõe uma nota e consagraram-se, assumidamente, interpretando ou tocando composições de outros?
Agora, o que eu acho? Particularmente acho que algum dedo do falecido Cobain tem por aí. Não me parece por acaso que a inspiração nunca mais tenha batido à porta do sr. Dave Grohl. Mas o que importa?
Se o disco é do Foo Fighters, então vamos curtir um Foo Fighters.
Então... Aperte o play.
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FAIXAS:
1. "This Is a Call" 3:53
2. "I'll Stick Around" 3:52
3. "Big Me" 2:12
4. "Alone+Easy Target" 4:05
5. "Good Grief" 4:01
6. "Floaty" 4:30
7. "Weenie Beenie" 2:45
8. "Oh, George" 3:00
9. "For All the Cows" 3:30
10. "X-Static" 4:13
11. "Wattershed" 2:15
12. "Exhausted"

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Ouça:
Foo Fighters 1995


Cly Reis

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Amy Winehouse - "Back to Black" (2006)


"Ela (Amy) é de outro planeta!"
Quincy Jones


Seria muita ousadia colocar um álbum tão recente de uma artista não totalmente consolidada entre os grandes da história? Talvez seja, talvez seja... Mas me parece, amigos, que temos entre nós uma das grandes artistas dos últimos tempos e que, provavelmente, fique ofuscada e diminuída por seus próprios excessos, escândalos, internações e bebedeiras. A gente acaba subestimando por causa disso. Eu mesmo devo admitir que antes de ouvir Amy Winehouse pensava ser ela só mais uma artista pop tentando chamar atenção. Mas o fato é que ao escutá-la cantar é que ela chama atenção de verdade.
Amy Winehouse é possivelmente a melhor cantora viva do nosso tempo e talvez a artista que chegue perto em importância do que representou um Kurt Cobain, o último que valia alguma coisa. Uma voz absoluta, segura, o domínio total de cada verso, de cada nota, a sensualidade e a energia. A artista que trouxe o jazz de volta às rádios e o aproximou do grande público que, na sua maior parte nem sabe o que está ouvindo, mas o importante é que nós sabemos. Com "Back to Black" ela coloca elementos pop no jazz (ou seriam elementos jazz no pop) como provavelemnte só Louis Armstrong tenha conseguido fazer tão perfeitamente na fase final de sua carreira. Mas não fica nisso: é rock, é pop, é blues é soul. É um baita disco!
É impossível falar de "Back to Black" e não citar o hit de refrão fácil, "Rehab", ou do outro sucesso, muito melhor na minha opinião, "You Know I'm No Good"; da ótima faixa-título do álbum, "Back to Black"; mas a melhor do álbum pra mim é indiscutivelemente, "Wake Up Alone", uma balada triste e emocionante ao melhor estilo das antigas divas do jazz.
De visual extravagante, talentosíssima no microfone mas com especial habilidade para fazer merda na vida, se não tomar jeito é candidata a integrar logo logo o famoso Clube do 27 que já conta com alguns representantes ilustres como Morrisson, Janis, Hendrix, Kurt... Bate na madeira, garota! (tem até setembro, quando faz 28, pra afastar a maldição). Mas ao que parece a moça anda se recuperando, tomando um pouco mais de juízo e já está até com disquinho novo na boca-do-forno pronto pra sair.
Ousadia colocar "Back to Black" entre os FUNDAMENTAIS? Pode ser. Mas, de certa forma, acho que esta é a ideia mesmo.
O tempo me dará razão.

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FAIXAS:
• 1. Rehab
• 2. You Know I´m no Good
• 3. Me & Mr Jones
• 4. Just Friends
• 5. Back to Black
• 6. Love Is a Losing Game
• 7. Tears Dry on Their Own
• 8. Wake Up Alone
• 9. Some Unholy War
• 10. He Can Only Hold Her

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Ouça:
Amy Winehouse Back to Black

sábado, 6 de novembro de 2010

Nirvana - "Nevermind" (1991)



"Eu me odeio e quero morrer."
Kurt Cobain




Já nasceu clássico!
Num vazio de sonoridade, atitude, ídolos e identidade, "Nevermind" aparecia como uma luz, como uma perspectiva em meio a um universo rock perdido e inexpressivo.
"Smells Like Teen Spirit" era o novo grito de uma geração. Com sua letra aprentemente desconexa e alienada, era na verdade praticamente uma súplica de "nos dêem alguma coisa". Era um libelo, ao mesmo tempo que um reflexo de uma juventude vazia.
Kurt Cobain era a personificação daquele momento; mas mais precisamente, de tudo CONTRA aquele momento: perturbado, agressivo, inconformado, sarcástico, triste... Suas letras transpareciam isso. Sua fúria mostrava isso. E sua morte prematura comprovou que tudo aquilo não era só mise-en-scène como muitos rockstars fazem por aí.
Mas voltando ao álbum, além do clássico "Smells Like Teen Spirit", responsável pelo estouro e ascensão da banda, apresenta-nos músicas intensas como "Come as You Are", o foguete destruídor chamado "Territorial Pissings", os gritos de fúria de "Breed" e "Lithium" ou uma balada acústica dorida e melancólica como "Something in the Way" que fecha o disco.
Tem mais: a grande "In Bloom", a ótima "Polly; outra pedrada: "Stay Away", e por aí vai...
Um discaço!
Uma porrada!
Um verdadeiro tiro na cabeça!
O Nirvana viria a confirmar que este baita disco não fora exceção ou obra do acaso com o ótimo "In Utero" lançado depois em 1993, mas foi "Nevermind", efetivamente, que depois de muito tempo sem álbuns significativos na história do rock, conseguiu tornar-se um daqueles que se pode chamar FUNDAMENTAL.
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FAIXAS:
  1. "Smells Like Teen Spirit" - 5:01
  2. "In Bloom" - 4:14
  3. "Come as You Are" - 3:39
  4. "Breed" - 3:03
  5. "Lithium" - 4:16
  6. "Polly" - 2:56
  7. "Territorial Pissings" - 2:23
  8. "Drain You" - 3:43
  9. "Lounge Act" - 2:36
  10. "Stay Away" - 3:32
  11. "On a Plain" - 3:16
  12. "Something In The Way" - 3:50
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Ouça:

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Pixies - "Doolitle" (1989)


O Disco que Inventou o Nirvana
"Quando escrevi 'Smells Like Teen Spirit'
eu estava basicamente tentado 'sugar' os Pixies.
Eu tenho que admitir isso."
"Kurt Cobain, Nirvana


Aquele contrabaixo bem cadenciado, a bateria só marcando o tempo, um vocal ainda contido, sereno; todos só esperando o refrão para explodirem juntos em ímpeto, histeria, barulho e loucura. Não, eu não estou falando de “Smells Like Teen Spirit” ou de “ Lithium”, mas é fato que esta fórmula que o Nirvana utilizou como sendo sua linha principal de composição, sobremaneira em “Nevermind”, já era praticamente marca registrada do som dos Pixies, aparecendo de forma mais evidente em “Doolitle”.
Se em “Surfer Rosa” Steve Albini (que depois viria também a trabalhar com o Nirvana em “In Utero”) tratou de “sujar” (num bom sentido) o som dos Pixies, Gil Norton, que assumiu a produção em “Doolitle” deu uma polida no som, deixando palatével até mesmo para as o grande público como no caso de “La La Love You” e “Here Comes Your Man” que chegaram a tocar nas rádios. Isto não os tornava uma banda pop ou de fácil aceitação geral. Apenas encorpava e dava, a partir dali, características fundamentais para a sonoridade do grupo.
A adorável “Hey” com sua delicadeza suja foi outra que se não virou hit, foi daquelas que fez “sucesso” no underground e passou a ser uma das favoritas dos fãs. Além dela, a ótima “Monkey is Gone to Heaven” é outra que marca bem aquela característica com o doce baixo de Kim Deal marcando para um refrão mais poderoso. Também nesta linha aparece “Tame” mas com um ápice bem mais gritado e barulhento. A propósito é bom salientar que guitarradas ensurdecedoras como esta ou outras que aparecem invariavelmente no disco, não conseguem esconder a grande qualidade não só de composição como de técnica de Black Francis, um baita guitarrista; tampouco a aparente simplicidade da condução da base de Kim Deal, uma baixista não muito virtuosa, diminuir os méritos das composições da banda, normalmente bem básicas mas extremamente apropriadas para cada canção e para a proposta geral.“I Bleed”, é prova disso, conduzida com uma linha muito simplória mas eficiente e perfeita.
“Debaser” que abre o disco com sua linha meio surf-music é ótima, “Crackity Jones” é alucinada, “Silver” baixa a rotação e traz uma sonoridade beirando o dark e “Gouge Away”, uma das melhores, fecha o disco de forma magnífica. Baita disco!!!
É lógico que os Pixies não foram a única inspiração do Nirvana, nem influenciaram apenas o pessoal do Kurt, muito menos se limitavam apenas àquela fórmula. Com sua sonoridade normalmente pesada, com um pé no punk, mas sempre melódicos e criativos, incrementando tudo com toques latinos, religiosos e letras beirando ao surreal; provavelmente no universo dito alternativo, o Pixies, juntamente com o Sonic Youth, sejam as bandas mais influentes deste meio, e “Doolitle”, enquanto obra, pelo encaixe destes elementos e a tradução deles em rock de primeira, seja um dos álbuns mais importantes de todos os tempos.
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FAIXAS:
1. "Debaser" – 2:52
2. "Tame" – 1:55
3. "Wave of Mutilation" – 2:04
4. "I Bleed" – 2:34
5. "Here Comes Your Man" – 3:21
6. "Dead" – 2:21
7. "Monkey Gone to Heaven" – 2:56
8. "Mr. Grieves" – 2:05
9. "Crackity Jones" – 1:24
10. "La La Love You" – 2:43
11. "No. 13 Baby" – 3:51
12. "There Goes My Gun" – 1:49
13. "Hey" – 3:31
14. "Silver" *(Francis, Kim Deal) – 2:25
15. "Gouge Away" – 2:45
*todas as músicas compostas por Black Francis, exceto a indicada.

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Ouça:
Pixies Doolitle