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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
Música da Cabeça - Programa #96
Agora que Estados Unidos e Rússia inventaram de reaquecer a guerra que já foi fria, preparemos, nós, as nossas ogivas. Mas as ogivas sonoras, claro, aquelas carregadas de Ben Harper, Cartola, Os Replicantes, Brian Eno, Fernanda Abreu e muito mais. Isso e ainda nossos quadros “Música de Fato”, “Palavra, Lê” e “Cabeça dos Outros”. Mísseis audíveis a longas distâncias serão lançados no Música da Cabeça de hoje, direto da usina da Rádio Elétrica, às 21h. Produção, apresentação e bombardeios: Daniel Rodrigues.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Os Replicantes - "O Futuro é Vortex" (1986)
"Enfio a ficha no buraco
e dou um chute só para incomodar"
da letra de "One Player"
por Rodrigo Lemos
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FAIXAS:
- "Boy do Subterrâneo" (Carlos Gerbase, Heron Heinz) – 2:22
- "Surfista Calhorda" (Carlos, Heron) – 3:30
- "Hippie-Punk-Rajneesh" (Carlos, Heron) – 2:43
- "One Player" (Carlos, Cláudio Heinz) – 2:43
- "A Verdadeira Corrida Espacial" (Carlos, Cláudio) – 2:24
- "O Futuro é Vortex" (Carlos, Heron) – 2:17
- "Choque" (Carlos, Heron) – 3:03
- "Ele Quer Ser Punk" (Carlos, Cláudio) – 2:06
- "Motel da Esquina" (Cláudio) – 2:24
- "Mulher Enrustida" (Cláudio, Heron) – 0:52
- "Hardcore" (Carlos, Heron) – 2:20
- "O Banco" (Heron, Luciana Tomasi) – 2:19
- "Censor" (Carlos, Heron) – 2:01
- "Porque Não" (Carlos, Cláudio, Heron) – 1:14
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Ouça:
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Rodrigo Lemos é músico nascido em Porto Alegre e residindo atualmente em Londres, na Inglaterra, onde é professor de música.
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
Música da Cabeça - Programa #70
Chegar nos sete-ponto-zero não é pra qualquer um. Mas pra nós, é! Chegamos ao programa nº 70 do Música da Cabeça! E a gente comemora sabe como? Falando dos setentões da música nacional e internacional, como Odair José, Grace Jones e Ozzy Osbourne. Além disso, tem sons do calibre de Jards Macalé, Stevie Wonder e Os Replicantes. Não precisa nem carregar 70% pra que vocês não percam o programa de hoje, que começa às 21h, aqui pela Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
segunda-feira, 18 de junho de 2018
Nei Lisboa - Show "Duplo H" - Teatro Renascença - Porto Alegre/RS (12/06/2018)
O show, muito bem intitulado “Duplo H”, referência às letras iniciais em comum do título de cada disco, fez lotar o Teatro Renascença em duas sessões naquele dia, sendo a anterior a que assistimos extra, devido à grande procura. Tocando os dois discos inteiros e na sequência, um simpático e sempre sagaz Nei Lisboa hipnotizou o público com o repertório ao mesmo conhecido, mas capaz de emocionar ao ser reouvido – ainda mais considerando a egrégora particular da ocasião.
Com Nei e Paulinho Supekóvia no violão/guitarra e Luis Mauro Filho ao piano/teclados, a apresentação deu a largada, conscientemente, pelas 14 faixas de “Hi-Fi”, cujo formato acústico original mostrou-se ideal para “começar os trabalhos” e por caber mais a este tipo de formação do conjunto. Os standarts, hits e AOR da música pop internacional, muito bem pescados por Nei para o set-list de “Hi-Fi”, são imbatíveis, visto que muito afins com o estilo e gosto pessoal dele. Tocando e, principalmente, cantando muito bem, Nei e a banda executaram as versões já tão queridas quanto suas originais, oscilando entre o folk, o blues, o country rock e as baladas no estilo da “Mellow Mafia” dos californianos anos 60/70. Casos de “Everbody's Talking”, do norte-americano Fred Neil; a linda “Summer Breeze”, da dupla setentista Seals & Croft; a beatle “Norwegian Wood”; “Fifity Ways to Leave you Lover”, do craque Paul Simon; e a sensibilíssima releitura de “Still... You Turn Me On”, da Emerson, Lake & Palmer.
Nei, ao centro, com sua enxuta e competente banda |
Completado “Hi-Fi”, agora era partir para as desafiadoras 11 faixas de “Hein?!”. Desafio duplo: primeiro, porque a formação do grupo não contava com bateria, fator essencial para a sonoridade do disco de 1988. “Como Nei vai resolver o arranjo?”, perguntava-me enquanto curtia o primeiro “H” da noite. O segundo desafio era mais íntimo ao próprio autor, uma vez que o disco foi composto sob a aura de uma tragédia na vida de Nei: a perda da então namorada, Leila Espellet, com quem se acidentou de carro na estrada, matando-a. “Como está o coração dele hoje, passadas três décadas, depois daquele acontecimento fatal? O que guarda no peito ainda: culpa, remorso, saudade, serenidade?”, passava-me à mente.
Parte da resposta veio na conversa com a plateia antes de começarem os números. De forma muito aberta e bonita, Nei pediu uma salva de palmas à memória da ex-companheira e executou na íntegra aquela que é apenas uma vinheta de abertura no álbum, “Zen”, escrita para o filho de Leila, à época com apenas 6 anos de vida. A música, a qual não conhecia por completo, apenas os poucos versos que foram parar na edição final de “Hein?!”, são um tocante recado de conforto de um padrasto talvez tão perdido e triste quanto àquele então pequeno órfão. “A vó da gente é mãe/ Da mãe da filha/ A filha da tia/ O pai do filho/ O espírito são/ Gente do bem, do mal/ Gente gorda, gente fina/ Quando vai pro céu/ O céu se ilumina”, diz a letra. Noutra parte (que também não consta no disco), Nei mostra o quanto aquelas palavras são tanto para ele quanto para o garoto: “Não tem desculpa, não tem culpa/ A culpa é sempre minha/ A culpa é da vizinha/ É uma chatice infernal.”
Um show carregado de canções fortes e emocionais já começou assim! O coração seguiu batendo forte com “No Fundo” e a brilhante faixa-título, uma das melhores do cancioneiro do gaúcho de Caxias do Sul. Nela foi possível conferir o acerto na escolha do arranjo, visto que se trata de uma música-chave do disco e que, se não funcionasse sem a bateria (possante nas baquetas de Renato Mujeiko no disco de 1988), correria sério risco de perder intensidade e, por consequência, identidade. Não foi o que aconteceu. Harmonizando com o arranjo dado à primeira parte do show, o formato violão/guitarra/teclado se encaixou muito bem também na segunda metade da apresentação. A mesma sensação ficou em outras duas igualmente adoradas por mim e pela plateia: a sentida “Nem Por Força” (“Nem por força do diabo/ Eu volto a vegetar/ Nessas malditas esquinas/ Na pressa de te encontrar”) e “A Fábula (Dos 3 Poréns”), debochada mas igualmente ferida pela perda que a motivou ser escrita: “Quebrei uns vinte, trinta espelhos/ De perguntar/ Se tinha alguém mais bela que ela/ Noutro lugar/ Comi todas maçãs da feira/ Pra adormecer/ E em vez do príncipe encantado/ Veio um baixinho assim”.
“Faxineira”, um blues elétrico, ganhou uma sonoridade de piano-bar muito adequada, além de uma leve modernização na letra que, segundo Nei, são para a “faxineira empoderada” dos tempos atuais. Outras que sofreram adaptação para o arranjo foram a country-rock “Fim do Dia”, menos acelerada, e o sucesso “Telhados de Paris”, que, embora parecesse a mais fácil de se adaptar – haja vista que é originalmente só no violão e voz –, ganhou o acertado acompanhamento do piano de Mauro Filho e teve a linha vocal levemente modificada. Nada que comprometesse um dos hinos da Porto Alegre moderna.
Mas os questionamentos que levantei intimamente no início do show sobre o envolvimento emocional de Nei Lisboa com o marcante motivo de “Hein?!”, mesmo que não tenham sido respondidos totalmente, deram-me a entender que permanecem de alguma maneira ainda latente nele, homem amadurecido e vivido em relação àquela época da composição do disco, anos 80. O que talvez tenha me passado a impressão de que as baladas não eram de uma época, assim, tão remota foi a supressão dos últimos versos de uma das preferidas da galera: “Baladas”. Emotiva, a canção fala sobre a referida perda de Leila e a briga interna para manter-se íntegro e desvencilhado do passado. Porém, os versos de “Baladas” escritos depois do acidente, como relatou Arthur de Faria, desta vez não foram cantados: "Só, muito além do jardim/ Viajo atrás de sombras/ Não sei a quem chamar/ Mas sei que ela diria ao acordar/ ‘Tudo bem/ Você me arrasou, meu bem/ E qualquer dia desses eu como as tuas bolas/ Mas agora esqueça o drama na sacola/ Não puxe o cobertor/ Não tape o sol que resta nessa dor’/ Foi bom: não durou”.
Se Nei optou por não cantá-los por não enxergar-lhes mais sentido ou por qualquer outro motivo, os da talvez ainda mais carregada “Teletransporte nº 4” foram ditos na íntegra. Faixa que finaliza o disco num clima de balada triste, foi tocada exatamente como é originalmente: violão, guitarra, piano e muita dor. E que versos fortes! “Porém o céu parece estúdio/ Nem o silêncio não diz nada/ Mesmo essas frases vão pro lixo/ São como lenços de papel/ Ainda por cima aquelas pernas/ Algumas coisas serão eternas/ Que bela ideia acreditar/ Que o mundo te aprendeu.” Para arrebatar os corações apaixonados em pleno 12 de junho.
Depois de 25 sessões em que a carga emocional só foi aumentando, partindo das músicas de “Hi-Fi” para as de “Hein?!”, Nei Lisboa encerra com uma que não entrou no repertório do primeiro por acaso: “Live and Let Die”, de Paul McCartney, numa competentíssima versão que dispensou até a orquestra que embala as aventuras de James Bond. Show perfeito do início ao fim deste que é um dos ícones da cultura de Porto Alegre. Se já tinha assistido ao vivo Tangos & Tragédias, Replicantes, De Falla, Renato Borghetti e Orquestra da Ospa na Praça da Matriz, faltava-me um show de Nei Lisboa para completar a lista dos patrimônios culturais da minha cidade. Uma estreia de luxo.
SET-LIST:
"Hi-Fi":
1 Everbody's talking
(Fred Neil)
2 Bennie & The Jets
(Bernie Taupin, Elton John)
3 Summer breeze
(Dash Crofts, Jim Seals)
4 Norwegian wood
(John Lennon, Paul McCartney)
5 Sometimes it snows in April
(Lisa Coleman, Rogers Nelson, Prince, Wendy Melvoin)
6 Fifty ways to leave your lover
(Paul Simon)
7 I'm having a gay time
(Alberta Hunter)
8 That's why God made the movies
(Paul Simon)
9 Walking away blues
(Ry Cooder, Sonny Terry)
10 Still... you turn me on
(Lake)
11 Cool water
(Nolan)
12 Ventura highway
(Deney Bunnel)
13 I shot the sheriff
(Bob Marley)
14 Ruby Tuesday
(Mick Jagger, Keith Richards)
"Hein?!"
15 Zen [Vinheta]
16 No fundo
17 Hein!?
18 Nem por força
(Ricardo Cordeiro, Nei Lisboa)
19 A fábula [Dos três poréns]
20 Faxineira
21 Baladas
22 Rima rica / Frase feita
23 Fim do dia
24 Telhados de Paris
25 Teletransporte n 4
(Glauco Sagebin, Nei Lisboa)
Todas composições de Nei Lisboa, exceto indicadas
Bis:
26. Live and Let Die
(Paul McCartney)
texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa
quarta-feira, 23 de agosto de 2017
Música da Cabeça - Programa #21
Já pensou num programa que tem do jazz de Lee Morgan - Blue Note Records ao punk rock dos Os Replicantes? Pois nós temos a solução! Este programa se chama Música da Cabeça, da Rádio Elétrica. Na edição de hoje, às 21h, além dos quadros fixos e móveis, a sempre abordando temas interessantes que estiveram em pauta durante a semana, vão rolar também David Bowie, Milton Nascimento, Racionais MC's e mais. Comprou a ideia? Então sintoniza lá e escuta o programa hoje. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.
Ouça: Música da Cabeça - programa #21
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Ratos de Porão – 30 Anos de “Crucificados pelo Sistema” – Segunda Maluca – Bar Opinião – Porto Alegre/RS (19/10/2015)
A banda tocando "Crucificados pelo Sistema" na íntegra.
foto: Leocádia Costa
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O show do Ratos de Porão na
Segunda Maluca, no bar Opinião, já é um programa anual confirmado em Porto
Alegre. A galera alternativa, que curte de verdade a pioneira banda do punk
nacional, não deixa de comparecer, tanto que se veem os mesmos malucos por lá
ano após ano – eu, inclusive, que os vi numa mesma ocasião, em 2013.
João Gordo,
sempre empático com a galera.
foto: Leocádia Costa
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Eu vidrado no show da RDP.
foto: Leocádia Costa
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Mas e o Ratos de Porão? A qualidade de sempre. Desta vez, porém,
somente para tocar os “tiros curtos” de “Crucificados...”, disco que tem pouco
mais de 18 minutos no original. No caso, com bis e outras coisas, foi pouco
mais de meia-hora. Conforme anunciou Gordo, orgulhoso e brincalhão: “’Cês tão
ligado que hoje não tem essa coisa metal, não, né?. Com essa formação é só a
coisa pura, a coisa ingênua, do coração”, referindo-se à sonoridade ainda crua
e bastante inspirada no punk e hardcore
do final dos anos 70 e início dos 80, como Dead Kennedy's, D.R.I. e Exploited. “Morrer”,
com sua memorável abertura – a bateria cavalgando rápida, guitarra e baixo na
combinação 2/2 e Gordo abrindo com aquele berrado: “Um dois, três, quaaaaa...” –, incendeia de cara a plateia, que cai
no pogo e não para até o fim da apresentação. “Caos”, a mais curta de todas (ridículos
15 segundos) e “Guerra Desumana” antecedem outra boa de poguear:
“Agressão/Repressão”, cantada em coro no refrão. Igualmente, “Que vergonha!”,
que emenda com outra clássica, “Poluição Atômica”, presente também na coletânea "Sub", primeiro registro da RDP e de vários outros grupos do punk brasileiro.
O melhor performer
do rock nacional em ação.
foto: Leocádia Costa
|
Também das mais queridas da galera é “FMI”, cujo refrão simplesmente
genial todos entoaram: “O FM-ê não está
nem aê!”. “Só penso em matar”, com seu riff
poderoso, é outra das grandes do disco e do show. “Não me Importo”, mais um hino
do punk nacional (“Não me importo com o
mal/ Que assola a humanidade/ E a poluição que sufoca minha cidade/ Não me
importo com o papa/ Fazendo caridade/ E a corrupção me tira a liberdade”),
é daqueles de sair dando botinada pra tudo que é lado. A melhor – e talvez mais
conhecida do disco fora do meio alternativo –, a faixa-título, é daqueles riffs geniais, prenúncio do avanço
composicional que a banda teria mais tarde, a partir de 1987, com “Cada dia
Mais Sujo e Agressivo”, principalmente. Os próprios integrantes, totalmente à
vontade e curtindo o momento, gostaram tanto de tocá-la (e o público de ouvir e
dançar) que a repetiram logo em seguida – o que não somou 3 minutos, visto que
a música tem menos de 1 e meio. Fechando com “Corrupção”, o bis trouxe
“Periferia”, faixa do próprio disco que tinham se esquecido de tocar, e outras
três clássicas: “Velhus Decréptus” (do “Descanse em Paz”, de 1986), “Vida Ruim”
(“Não dá mais pra aguentar/ Essa vida
ruim/ Essa vida de pião/ Você anda sem nenhum tostão...”), e “Realidades da
Guerra” (essas duas últimas do “Sub”).
vídeo Ratos de Porão - “Só pensa em matar”
fotos e vídeo: Leocádia Costa
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
“Rock Grande do Sul: 30 Anos”, de Lucio Brancato e Fabrício Almeida (2015)
Capa da coletânea de 1985 |
Dentre os que assistiram, estavam o codiretor e também jornalista Fabrício Almeida, os colegas de Grupo RBS Alexandre Lucchese e Porã Bernardes, que ajudaram na pesquisa e entrevistas, e um dos protagonistas do filme, o DJ e produtor musical Claudinho Pereira, responsável pelos contatos que fizeram com que Rock Grande do Sul acontecesse 30 anos atrás. O disco impulsionou as bandas gaúchas dos anos 80, as quais já mobilizavam multidões por aqui, mas ainda não tinham projeção nacional. A trajetória começa em setembro de 1985 com um show no Gigantinho, o “Rock Unificado”, que reuniu pela primeira vez somente bandas locais e um público de mais de 10 mil pessoas. Disso, culmina com a escolha de cinco desses conjuntos para participarem de uma coletânea, engendrada por Claudinho junto a Tadeu Valério, executivo da RCA Victor, que veio a seu convite como olheiro assistir ao espetáculo. Convencido por Claudinho, se valesse a pena, Valério os lançaria um disco. Valeu. Assim, gravariam pela primeira vez em um LP nacional TNT, Garotos da Rua, Engenheiros do Hawaii, Os Replicantes e DeFalla (este último, que não participou do tal show no Gigantinho, mas era visivelmente um destaque na cena pela sonoridade, visual e postura).
Antes da avant-première |
Conversei sobre isso com Lucio, que me revelou ter sido, de fato, apenas um feliz acaso. As semelhanças existem, tanto que tiveram que evitar de usar imagens e vídeos repetidos em uma obra e outra. Mas a ideia de “Rock...” surgira entre seus idealizadores há pouco tempo, quando Porã se dera conta do aniversário do disco, sendo que o projeto de “Filme...”, consideravelmente maior, já vinha sendo tenteado há uma década. E é aí que as coisas começam a se diferenciar. Por tratar de um tema menos complexo, o lançamento do disco e suas consequências (“Filme...” remonta parte da história e vivências do Bom Fim e arredores em mais de duas décadas), “Rock...” exige um menor número de entrevistados (menos de 20 ao todo) e recortes temporal e narrativo idem.
Começando a projeção. |
Bem interessante esse momento do filme, em que contam sobre a aventura de ir para o Rio de Janeiro para gravarem os discos, o que rende histórias engraçadas e com sabor nostálgico. Charles fala da reação “jeca” dos rapazes da TNT ao se depararem com o rico aparato do estúdio e, logo em seguida, voltarem ao hotel onde estavam hospedados e esconderem os seus instrumentos de vergonha que ficaram. Ou das sacanagens que Os Garotos da Rua, suburbanos também no jeito de ser, faziam no quarto do hotel dos membros do Engenheiros do Hawaii, que, universitários intelectualizados, respondiam às brincadeiras testando-lhes o conhecimento, tal como relataram Jim e Humberto Gessinger. Eu, que sou especialmente fã de Replicantes, adorei saber das condições que a banda de Gerbase impôs à gravadora. Punks cientes – e orgulhosos – de sua inaptidão técnica como músicos, embora extremamente criativos e donos de uma música inteligente e pungente, tinham critérios desde a escolha do repertório até o método de gravação, em que a banda tocava junta (sem overdub) e escolhiam, ao final, o take “menos pior”, como relatara engenheiro de som que os apadrinhara, o Barriga.
Master, Gessinger e Gerbase,
três das figuras centrais do filme.
|
O filme desfecha com uma rodada de percepções de vários dos entrevistados sobre o que a coletânea “Rock Grande do Sul” representava para eles hoje. Com o a capa do vinil na mão, num exercício psicológico tátil, cada um dá seu depoimento que vai do orgulho ao carinho. Olhando-os nessa sequência, hoje todos mais velhos de quando realizaram a obra, fica a sensação de que parece ter passado pouco tempo de lá para cá, o que é imediatamente contrariado pelo fator cronológico, o qual relembra serem caprichosas três décadas. Não é pouco, de fato. A sensibilidade dos diretores e o carinho com que trataram do tema é provada no desfecho: percebendo essa atmosfera nostálgica que permeia a psique coletiva, o que se escuta no final não é "Segurança", "Entra Nessa" ou “Surfista Calhorda”, faixas do disco que automaticamente são ligadas a este – e com as quais seria óbvio demais encerrar. Ouve-se, sim, apenas o chiado da agulha no sulco do vinil, metáfora de uma obra que não inicia, pois seus ecos, na verdade, ainda não terminaram.
Afora isso, foi saboroso assistir a esse tributo a um dos discos que foi um dos principais responsáveis por fazer a mim e a meu irmão a gostarmos de rock e pelo qual guardo um sentimento especial até hoje. Pelo visto, não só eu.
trailer "Rock Grande do Sul: 30 anos"
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
“Filme sobre um Bom Fim”, de Boca Migotto (2014)
Ando escrevendo bastante sobre Porto Alegre e sobre o Bom Fim
especialmente nos últimos tempos. Talvez não seja acaso, pois a considerar os
sentimentos que venho nutrindo pela cidade, mais para mal do que para bem, ter
assistido ao documentário “Filme sobre
um Bom Fim” deve significar alguma coisa. Tanto para bem quanto para mal.
Para bem, porque é um barato conhecer mais da história, identificar-se e ouvir
os depoimentos de quem presenciou e viveu os períodos heroicos do famoso “Bonfa”.
Para mal é que, infelizmente, minhas queixas e decepções se confirmam nas de
outras pessoas – e não qualquer uma, mas as que ajudaram a escrever a biografia
cultural recente da cidade.
Mas comecemos pela parte boa. Dirigido por Boca Migotto, com fotografia
competente de Bruno Polidoro, “Filme...” resgata de forma bastante eficiente a
história do Bom Fim, bairro boêmio (muito mais no passado do que hoje) que, no
final dos anos 60 até o início dos anos 90 – ou seja, percorreu basicamente
toda a época do Regime Militar no Brasil – foi ponto de confluência das mais
ricas manifestações artísticas de Porto Alegre. Numa narrativa tradicional,
cronológica e construída com base em depoimentos de figuras-chave entremeados
de imagens de arquivo e locações coerentes, o filme cumpre muito bem o objetivo
ao qual se presta: evidenciar a importância do bairro enquanto arcabouço de
toda uma cena que, por diversos motivos (nem sempre lógicos), se criou em torno
deste.
Bares lotados na movimentada Osvaldo Aranha dos anos 80. |
Começa de forma bem poética e veneradora ao fazer um paralelo entre o documentário
e o longa “Deu pra ti, Anos 70” (de Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil, de
1981) repetindo um plano-sequência em que uma câmera (digital, no atual; Super
8, no antigo), como um ponto-de-vista de um passageiro da janela de um ônibus que
sai do viaduto da Conceição, saindo do Centro da cidade, em direção à
consagrada Osvaldo Aranha, avenida principal do Bom Fim, percorrendo-a de ponta
a ponta. É a partir dessa cena que Migotto constrói toda a genealogia cultural
e sociopolítica que se manifestou ali, desde a época da “Esquina Maldita”, nos
anos 60, até o seu declínio, nos anos 90, quando a pressão imobiliária e a ação
política esvaziaram física e emocionalmente a movimentação em prol da “família
e dos bons costumes”. Aspectos como a delimitação geográfica do bairro, suas
origens e fisionomia arquitetônica dão suporte para, partindo de depoimentos
bastante ricos e bem estruturados, contar como o cinema, o teatro, a música, o
rádio, a boemia e, principalmente, a ação de vários personagens ajudou a criar
uma cena de absoluta democracia e diversidade que chegou ao ápice nos anos 80,
quando a Osvaldo fechava para receber até 5 mil pessoas aos finais de semana.
Todas bebendo, curtindo, andando, trocando (coisas lícitas ou não) e tendo como
ponto principal os bares, tanto os de antigamente (Copa 70, Lola, Escaler,
João) quanto os de ainda hoje (Ocidente, Lancheria do Parque, Mariu’s).
Dessa trajetória, muito legal ver como se deu o surgimento da galera do
cinema (Carlos Gerbase, Giba, Jorge Furtado, Werner Schünemann, Marcos Breda),
embrião da Casa de Cinema de Porto Alegre e do atual cinema gaúcho. As cenas
dos primeiros filmes, “Deu pra ti...”, “Inverno” e meu amado “Verdes Anos”, bem
como o ambiente em que foram filmados, são resgatados de maneira bonita,
mostrando a paixão com a qual se dedicavam a rodá-los, bem como as referências
estéticas novas que trouxeram. Igualmente, passa pelas sessões de cinema nos
saudosos Baltimore e Bristol; pelas funções do teatro: montagem de “Deu pra ti,
Anos 70” (diferente do filme mas quase simultânea a este) e a formação dos
grupos Terreira da Tribo, Vende-se Sonhos e GTI; da rádio: a já saudosa Mary
Mezzari e Mauro Borba falando da Ipanema FM; e da tevê, em que programas revolucionários
como Quizumba e Pra Começo de Conversa, da TVE dirigida por Cândido Norberto,
deram espaço para os roqueiros malucos, bem como para os primeiros trabalhos
jornalísticos e audiovisuais de gente renovadora como Furtado e Eduardo Bueno (Peninha).
Edu K, figura essencial na movimentação cultural da cidade. |
Mas é especialmente legal ver que tudo se construiu a partir da
juventude, motivo pelo qual todos os momentos são muito ligados ao rock, seja o
pop de Nei Lisboa, o rockabilly d’Os Cascavelletes,
o hardcore d’Os Replicantes ou o
pós-punk do De Falla. Nisso, interessante notar a devida reverência à figura de
Edu K como pioneiro e agitador cultural e a liderança de Gerbase não só no
cinema, mas na cena rock. Engraçado e saboroso ouvi-lo dizer que, à época da
formação da banda, notara o desconforto do colega de cinema Giba Assis Brasil,
que não apreciava a barulheira e inaptidão técnica dos Replicantes, inclusive a
de Gerbase com as baquetas. Ele explica: “O
negócio é que eu não queria tocar bateria: eu queria era bater naquilo”.
E a parte ruim? Nada que se refira à qualidade do filme, mas justamente
quanto à conclusão que o próprio levanta: a de que Porto Alegre estagnou
culturalmente. Isso fica claro no final, seja em forma de provocação, como
fizera Peninha desafiando que o provassem que o momento áureo do Bom Fim
significara de fato um “movimento cultural”, seja em depoimentos mais
moderados, nos quais se ouve e/ou se subentende expressões como “estagnação”,
“desdém” e “descontinuidade”. O próprio filme é um exemplo: mesmo sendo um
sucesso garantido de público (a sala estava lotada, o que se repete desde sua
estreia), levou sofridos 10 anos para ser aprovado na lei de incentivo do
município, e isso por causa de muita insistência.
Peninha, ferino e hilário. |
Tristes constatações que, mais tristemente ainda, coferem com as
minhas. E não somente as dos últimos tempos, mas a da real validade de produtos
artísticos porto-alegrenses endeusados aqui mas que, num contexto geral (e no
comparativo com as coisas boas daqui mesmo), são bastante fracas. Carlos
Eduardo Miranda ainda tentar argumentar que bandas como De Falla e Graforréia
Xilarmônica influenciaram o rock brasileiro dos anos 90, porém (e aí se entende
o fundamento da provocação lançada por Peninha), está longe de poder ser
considerado um movimento cultural de sotaque gaúcho. Cabe ao próprio Gordo
Miranda finalizar num depoimento romântico de que, um dia, quiçá, se repita um
momento tão efervescente e interessante na cidade.
Sabemos que não se repetirá.
A Casa de Cinema ganhou relevância nacional e mudou para melhor o
cinema e a televisão brasileira a partir dos anos 90; porém, não formou escola.
Do rock gaúcho, por motivos diferentes, grandes bandas surgiram, mas nenhuma
engatou uma carreira contínua e de real expressão nacional – fora os Engenheiros do Hawaii, que rumaram para longe demais da capital – ou, muito
menos, internacional. Do teatro, a monopolização dos mesmos nomes para, pateticamente,
não apresentarem nada de novo desde aquela época. Só posso concluir que tudo
isso é junção de fatores psicossociais, como falta de antevisão e renovação, pouco-caso
para com o seu semelhante, um sentimento de superioridade intelectual
injustificável e a crise econômica que se arrasta há anos no Estado. Mas tudo,
na verdade, não seria importante se não faltasse de fato um quesito: qualidade.
Ter, tem; mas só em algumas frentes e que não são suficientes para formar algo
que se possa intitular propriamente como porto-alegrense.
No entanto, até as constatações negativas de “Filme...” são méritos do
filme, que não temeu em mostrá-las ou escondê-las num endeusamento pró causa
abordada, como acontece em alguns filmes do gênero (o às vezes parcial “Lóki”,
a respeito do mutante Arnaldo Baptista, ou "O Sal da Terra", que parece não abordar o que realmente deve). O formato clássico de documentário, aliás, é o
mais recomendável quando o próprio tema fala por si como neste caso. Inventar
narrativas “poéticas” ou “modernas” nem sempre é um bom caminho, pois se pode
cair no erro de diluir o principal, que é a história que se está querendo
contar. Menos é mais em documentário. Afora isso, as reveladoras falas de gente
como Juremir Machado da Silva, Polaca, Fiapo Barth, Cikuta, Biba Meira, Luciana
Tomasi e os já citados Nei, Gerbase, Werner, Peninha, Mary, entre outros, são
de grande identificação a quem sempre esteve ligado à cena alternativa de Porto
Alegre de uma forma ou de outra como eu.
Impossível não mencionar que, ainda por cima, assisti à sessão
acompanhado de Leocádia, que nasceu no Bom Fim e morou lá alguns anos da
infância, e na presença da radialista Kátia Suman, com quem já tive momentos
marcantes na minha trajetória como jornalista e ser cultural da cidade, desde quando
a ouvia na Ipanema até momentos presenciais, como no Clube do Ouvinte que
apresentei na rádio, em 1994, ou o Sarau Elétrico, que participei como autor em
2012, em pleno Ocidente. Simbólico, no mínimo.
trailer de "Filme sobre um Bom Fim"
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Agenda de shows em Porto Alegre
A época de shows está ótima! Além das recentes apresentações de Jorge Benjor, no Rio de Janeiro, Toquinho & Maria Creuza, no Teatro Bourbon
Country, e Gerson King Combo, na Quadra
dos Bambas da Orgia, estes dois últimos, em Porto Alegre, outras três
programações musicais interessantíssimas – e totalmente diferentes umas das
outras – estão por vir nos próximos dias e meses. E à medida do possível,
claro, vou relatando-as aqui no ClyBlog. Papel e caneta para me agendar:
28/8 – Caetano Veloso & Gilberto Gil, Auditório Araújo Vianna: Já falei num post exclusivo sobre
esse verdadeiro espetáculo histórico que Porto Alegre presenciará. Dois dos
maiores artistas da modernidade. Muita expectativa.
04/09 – Meredith Monk &
Vocal Emsemble, Theatro São Pedro: Uma das cabeças mais geniais da música
erudita contemporânea, a multiartista norte-americana abre o Porto Alegre em
Cena. Indizível o privilégio de assistir a essa que é, junto com Philip Glass,
Steve Reich e sir. Maxwell Davies, a maior compositora viva da música de
vanguarda.
19/10 – Ratos de Porão, Bar
Opinião: Pra arrematar (por enquanto), que tal o hardcore furioso do Ratos tocando na íntegra seu seminal
“Crucificados pelo Sistema”, que completa 30 anos de lançamento? A regalia não
termina aí: a abertura será d’Replicantes. Tá bom pra ti?
por Daniel Rodrigues
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
DOSSIÊ ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2013
E 2013 chegou ao fim e os ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, neste ano em que o clyblog comemorou 5 anos, tiveram um ano pra lá de especial. Além dos nossos colaboradores habituais que sempre nos proporcionam textos fantásticos, cada um à sua maneira, cada um com seu estilo, e da incorporação do qualificadíssimo Paulo Moreira ao time de colunistas, desta vez tivemos participações especiais de luxo: a começar por Roberto Freitas, vocalista do Ths Smiths Cover Brasil que nos brindou com uma resenha especial para a publicação nº 200 dos A.F, trazendo o ótimo álbum "Meet is Murder" dos Smiths, e para fechar com chave de ouro, Carlos Gerbase, ex-vocalista dOs Replicantes nos presenteou com o especial de aniversário do blog, falando sobre o disco de estreia da banda, o clássico "O Futuro é Vortex". Precisa mais que isso?
(Precisar não precisa, mas a gente gosta de um pouquinho mais, sempre.)
Mas 2013 também marcou a tomada do poder pelos Rapazes de Liverpool! Finalmente os Beatles, considerada por uma enormidade de pessoas ao redor do mundo, a maior banda de todos os tempos, assumiu a liderança em aparições nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Acompanhado por David Bowie, é verdade, ali, com 4 indicações cada, mas já é alguma coisa, pra quem, na posição que ostenta, sequer figurava entre os maiores do AF até o ano passado. Mas é bom cuidar porque o pessoal dos Rolling Stones está na cola com 3 aparições com um monte de gente boa junto: Miles Davis, The Cure, Led Zeppelin, Kraftwerk, Stevie Wonder, entre outros.
São muitos os que já pintaram por aqui com dois grandes álbuns, mas é interessante destacar o ingresso do Iron Maiden e do Public Enemy nesse time de bicampeões. Cuidado, pessoal da frente, que esses aí têm mais discos pra botar na lista, hein!
Quanto à nacionalidade, os americanos continuam mandando no pedaço com 87 artistas, seguidos pelos ingleses com 63 e pelos brasileiros com 48. A década de 70 tem tido mais discos destacados, com 67, seguido da década de 80 com 61 e dos anos 90, com 49, e os tão festejados anos 60, têm um a menos. o interessante neste 2013 é que finalmente rompemos a barreira dos séculos e saímos apenas dos séculos XX e XXI para viajarmos até século XVIII com "As Quatro Estações" de Vivaldi.
O Ano-Novo promete e já começamos bem com a resenha do jornalista Márcio Pinheiro, do disco "Quem é Quem", de João Donato, que não entrou na contabilidade,aqui do Dossiê, porque os números são relativos ao ano passado, mas já vai pra estatística de 2014, e, a propósito, pelo andar da carruagem, devemos chegar à postagem de número 300 dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ainda este ano, o que merecerá, por certo, outra boa comemoração. Aí vem coisa boa!
Vamos ver o que conseguimos preparar. Talvez mais alguma participação super-especial.
Quem sabe...
Cly Reis
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