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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Paul McCartney & Wings - "Wild Life" (1971)


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"'Wild Life' não era o que os fãs de rock queriam, não era o que os fãs dos Beatles esperavam, e não era o que os fãs de McCartney estavam esperando. Em retrospecto, isso foi quase um ato herético de bravura artística." Jornalista britânico Jason Hartley, no livro "The Advanced Genius Theory", de 2010

Paul McCartney sempre esteve presente na minha vida, desde os tempos de criança, quando conseguia ouvi-lo junto aos Beatles no rádio. Quando se separaram, rolou "Another Day", hit em 1971. Neste ano, comprei meu primeiro compacto, "Uncle Albert / Admiral Halsey", também dele! Um ano depois, adquiri o disco que está na minha lista dos que marcaram minha história, "Wild Life", o primeiro dele com a Wings.

Ouvi na rádio Continental – sempre ela – "Tomorrow", uma das mais pop do disco e pirei. Comprei o LP e furei de tanto ouvir. As minhas preferidas eram "Love is Strange", da dupla Mickey & Sylvia, e a preferida até hoje: "Some People Never Know".

Não é considerado um grande disco do Macca, mas tem a mim um valor sentimental inestimável. A partir dele, comecei a me interessar pela música pop de forma mais constante. Segui comprando os discos do Paul McCartney, como "Red Rose Speedway", e o maravilhoso "Band on the Run". Mas aí já é outra história.

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FAIXAS:
1. "Mumbo" - 3:53
2. "Bip Bop" - 4:09
3. "Love Is Strange" (Baker/Smith) - 4:49
4. "Wild Life" - 6:39
5. "Some People Never Know" - 6:36
6. "I Am Your Singer" - 2:13
7. "Bip Bop Link" - 0:48
8. "Tomorrow" - 3:23
9. "Dear Friend" (John Lennon) - 5:46
10. "Mumbo Link" - 0:45
Todas as composições de Paul e Linda McCartney, exceto indicadas


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OUÇA:

por Paulo Moreira

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

The Beatles - "Rubber Soul" (1965)

Transpiração ou inspiração? A história por trás de “Rubber Soul”, o álbum revolucionário que sobreviveu ao deadline

"Eu realmente não estava completamente
pronto para aquela unidade.
Parecia que todas [as músicas] eram juntas.
‘Rubber Soul’ era uma coleção de canções que,
de alguma forma, eram juntas
 como nenhum álbum já feito antes,
e fiquei muito impressionado.
Eu disse: ‘É isso. Eu realmente fui desafiado 
a fazer um grande álbum’."
Brian Wilson,
líder dos Beach Boys


Quando o assunto em pauta é a obra dos Beatles, a transpiração sempre andou abraçada à inspiração. Principalmente, no período entre 1962-1965, quando o quarteto vivia à base de anfetaminas para cumprir a agenda transbordada de shows, aparições na BBC, entrevistas e sessões de gravação em Abbey Road.
       
Com “Rubber Soul” não foi diferente. O LP, lançado em 3 de Dezembro de 1965, teve a honra de ser o primeiro a marcar um dos “fins” ligados aos Beatles. John, Paul, George e Ringo bateram o martelo para o empresário Brian Epstein. A turnê pelo Reino Unido seria a última da carreira. E eles cumpriram a promessa.  O fim dos shows foi uma exigência, já que o interesse era desenvolver as composições e o trabalho no estúdio. “Rubber Soul”, não há dúvida, foi o grito inicial de independência da banda para fugir da maratona de compromissos... Apesar de que muito sofrimento ainda estava por vir.

Bob Dylan
E não foi brincadeira. Com o Natal chegando, e a turnê pela Grã-Bretanha à vista, os Beatles foram obrigados a produzir (com ajuda de Norman Smith e George Martin) o sexto álbum da carreira em apenas um mês, entre Outubro e Novembro de 1965.

A inspiração transbordava pelas mentes da principal dupla de compositores.  Uma das fontes mais generosas foi Bob Dylan, que continuava a influenciar o grupo (“Help” – também lançado em 65 – trouxe “You’ve Got To Hide Your Love Away”, bastante dylanesca). Em “Rubber Soul”, o mix de folk e eletricidade de álbuns como "Bringing It All Back Home" e "Highway 61 Revisited" (respectivamente lançados em março e agosto daquele ano) deram o toque do novo rock americano ao sabor britânico de Liverpool.

Deadline
  Além de Lennon/McCartney, George Harrison aparecia naquela hora como a segunda força criativa. Na verdade, até Ringo conseguiu um crédito em uma das 14 faixas que entraram no disco. Mas como não dava apenas para ficar na inspiração, os Beatles precisaram resgatar músicas de seu arquivo para completar o álbum. O deadline era antes do Natal. E antes da excursão pelas Terras da Rainha, que estava marcada para iniciar na Escócia, dia 3 de Dezembro (Exatamente no dia que o LP chegaria às lojas).

Por isso, “Wait” foi fisgada das fitas de gravação de “Help!”, e “What Goes On” (composição antiga de John) teve de ser recuperada para ganhar cores das novas roupas dos Beatles.  No caso de “What Goes On”, Ringo contribuiu com 5 palavras, e ganhou o crédito como Richard Starkey, ao lado de John Lennon e Paul McCartney. As demais faixas – incluindo mais duas não incluídas no disco – precisaram ser geradas “à força” para cumprir o calendário.

“Maternidade”
A história das músicas dos Beatles pode ser complexa, mas como também existe limite de tempo e espaço para escrever, os contos da maternidade criativa serão breves...

“I’m Looking Through You” nasceu lenta, e ganhou mais pegada na versão definitiva. A música, que escancara os problemas de relacionamento entre Paul McCartney e Jane Asher, é um rocker com sombras do som produzido por Dylan em "Highway 61 Revisited" e do single “Positively 4th Street”.

A origem da linda balada “In My Life” é das mais disputadas. John garantiu que Paul criou o meio da música. Paul disse em sua biografia, “Many Years For Now”, que colocou a melodia sobre um longo poema editado pelo amigo sobre a infância e amigos da região de Penny Lane, em Liverpool.

A melodia de “Michelle” já existia há alguns anos na cabeça de Paul, mas só virou composição com a ajuda de John que a complementou com os “I want you, I want you, I want you”, inspirado por Nina Simone. O francês da música veio das aulas de francês da mulher do amigo Ivan Vaughan.

“Drive My Car” é outro exemplo da parceria Lennon/McCartney. Ao invés de “You can give me golden rings”, John sugeriu “Baby you can drive my car”, alimentando o duplo sentido materialista da letra.

Já “The Word” foi a primeira tentativa da dupla de escrever sobre o que aconteceria no “Verão do Amor” dois anos mais tarde. “Say the Word and you’ll be free... it’s sunshine”.

The Byrds
Na turnê de 65 pelos Estados Unidos, George Harrison tinha ficado amigo da banda The Byrds, que misturava o folk e o rock, também influenciada pelo som de Bob Dylan. Esta inspiração aparece nos arranjos de “If I Needed Someone” – o seu recado nada animador às fãs histéricas – graças à magistral base criada pela guitarra de 12 cordas usada no estúdio. Sua outra contribuição – “Think For Yourself” – tem letra filosófica e conteúdo pragmático. A letra acusa alguém de falar mentiras. Quem seria? A mulher Patty Boyd (que viria a ser mulher de Eric Clapton anos mais tarde) ou o empresário Brian Epstein?

Ciúmes
As músicas de Paul McCartney e John Lennon também não tinham tons alegres. “You Won’t See Me” e “We Can Work It Out” seguem a linda de “I’m Looking Through You”. Todas são gritos de descontentamento com a relação amorosa com a noiva, uma atriz bastante ocupada com o tradicional grupo inglês Old Vic.

 Já a sensual “Girl” – com instrumentação que remete à música grega – conta a história de uma mulher destruidora de corações, insensível e materialista.

“Run For Your Life” é o grito de ciúmes de John, casado com Cynthia Powell. “Day Tripper” (que divide o espaço do single com “We Can Work It Out”) fala de mulheres e drogas de forma subliminar. Segundo o próprio Lennon, assim como “Nowhere Man” (resultado de uma noite em claro, tentando buscar inspiração) a música foi criada “à força” (imagine se não fosse) para preencher os 14 sulcos do vinil.

Uma das (muitas) joias da coroa do LP fecha esse texto. Em “Norwegian Wood” (100% dylanesca) John e Paul dão show nas harmonias, e contam a história de um provável caso extraconjugal de Lennon que termina com incêndio no apartamento do casal. “So I lit a fire – isn’t good, Norwegian Wood” (“Então eu toquei fogo – a madeira da Noruega não é das melhores”).

A madeira citada na música pode não ser das melhores. Mas “Rubber Soul” – que completou 48 anos em dezembro de 2013 – é força de inspiração contínua no universo musical de hoje. E do amanhã.


por Eduardo Lattes
fonte e revisão: Claudio Dirani, autor de "Paul McCartney - Todos os Segredos da Carreira Solo" (esgotado na editora)
e "Na Rota da BR-U2" (disponível com o autor).

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FAIXAS:              
1. "Drive My Car" - 2:30
2. "Norwegian Wood (This Bird Has Flown)" - 2:05
3. "You Won't See Me" - 3:22
4. "Nowhere Man"  - 2:44
5. "Think for Yourself" (Harrison) - 2:19
6. "The Word" - 2:43
7. "Michelle" - 2:42
8. "What Goes On" (Lennon/McCartney/Starr) - 2:50
9. "Girl" - 2:33
10. "I'm Looking Through You" - 2:27
11. "In My Life" - 2:27
12. "Wait" - 2:16
13. "If I Needed Someone" (Harrison) - 2:23
14. “Run for Your Life" - 2:18

todas de Lennon/McCartney, exceto indicadas

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OUÇA:




Eduardo Lattes de Mattos Vellani é paulista é formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda.RP pela FIAM -Faculdades Integradas Alcântara Machado, de São Paulo. Devoto de Elvis Presley e de seus “apóstolos”, os Beatles, tem quase duas décadas de experiência em Public Relations. Coordena matérias jornalísticas de cobertura em campo, tendo acompanhado de perto a execução de filmagens e reportagens para clientes como SBT, Bandeirantes, FAAP, Roberto Manzoni, Astrid Fontenelle e vários outros.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Paul McCartney - Up And Coming Tour - Estádio Beira-Rio - Porto Alegre/ RS (Novembro/2010)

 

Imagina se Shakespeare viesse à tua cidade para a sessão de autógrafos de, digamos, “Hamlet”. Imagina se Michelangelo um dia fosse convidado para pintar um mural público e permanecesse aqui para uma temporada de residência artística. Ou se Galileu Galilei ganhasse o título de honoris causa pela universidade local e desembarcasse nestes pagos para a homenagem. Os jornais estampariam: “Ele está entre nós”. Afinal, não é todo dia que gênios da humanidade descem à terra e se juntam aos mortais. Posso dizer que vivi isso. Paul McCartney, o beatle, o hitmaker, o multi-intrumentista, o maestro, o produtor, o Cavaleiro da Rainha, o ativista, o recordista da Billboard... sim: ele esteve entre nós. Na noite de 7 de novembro de 2010, no domingo, dia em que teoricamente os deuses descansam, uma reencarnação de São Paulo despencou dos céus e trocou as vestes de santo pelas de um músico de rock ‘n’ roll para jogar encantamento sobre milhares de fiéis com sua arte redentora. E melhor de tudo: diferentemente de um Shakespeare, Michelangelo, Galileu – ou Picasso, Pitágoras, Mozart, Newton –, Paul está vivo e pertence ao meu tempo.

Por falar em céus, o firmamento esteve envolvido o tempo todo com este show, desde antes deste começar, aliás. Quando houve o anúncio de que Paul viria a Porto Alegre para a turnê “Up And Coming”, enlouqueci. Tinha que vê-lo. No que começaram a ser divulgadas as primeiras notícias sobre valores de ingresso, minha animação se transformou em apreensão. Primeiro, pelo valor, que chegava a astronômicos patamares para a época. Mas, principalmente, pelo acesso. Os 50 mil ingressos se esgotaram após as duas primeiras horas de vendas, ocorrida um mês antes do show. Afora isso, não tinha nem cartão de crédito àquela época, o que dificulta sobremaneira a se obter esse tipo de coisa. Toda a Porto Alegre aguardava ansiosa pela chegada de Paul à cidade. Nos dias que antecederam o show, o próprio artista fazia questão de responder ao chamado das pessoas na rua, como quando saiu do hotel e uma multidão o aguardava. O clima era este: de comoção.

Paul na primeira e inesquecível apresentação 
em Porto Alegre: ele esteve entre nós
Mas os céus atenderam minhas preces. Uma ordem veio lá de cima e acionaram um anjo aqui embaixo. Minha amiga Andréia – que hoje se encontra no mesmo céu do qual um dia veio, visto que faleceu em 2019 –, sabendo de minha vontade, soube de outro amigo que tinha ingresso a mais e fez a articulação para que eu ficasse com aquela sobra: um lugar na plateia superior do Beira-Rio. Déia, aliás, alcançou-me com a bondade de um verdadeiro ser divino, visto que lhe paguei apenas o valor que havia saído o ingresso, suficiente para cobrir o custo de quem tinha comprado a mais. Estava garantida a minha entrada temporária no paraíso, e na parte mais alta do estádio. A mais próxima do céu.

A apresentação em si atingiu todas as expectativas. Noite quente, nada de nuvens. De tão visíveis, era quase possível tocar as estrelas. O público, de todas as idades, transpirava excitação antes de começar. A mim, que nunca tinha assistido Paul ao vivo e que não conhecia até então nem o DVD “Paul McCartney - Is Live In Concert - On The New World Tour”, cujo show é bastante parecido, contudo, superou. Fui absolutamente arrebatado pelo set-list, pelas trucagens do palco, pelos clássicos imortais em sequência, pela simpatia de Paul, pela entrega dos músicos. Chorei como um ateu que se converte em cristão diante de um milagre incontestável. Era como se eu fosse ao céu. Afinal, o milagre estava operando-se à minha frente: Paul tocando por mais de 2 horas nada menos que 34 músicas. Clássicos do rock, clássicos da música mundial, temas que se confundem com a própria vida das pessoas, como “Jet”, “The Long and Winding Road”, “Drive My Car”, “Band on the Run”, “Day Tripper” e várias, várias outras. Incontáveis vezes essas canções estiveram presentes nas horas boas e ruins da biografia de cada um daqueles ali presentes. Entre estes, um emocionado Daniel.

"Venus and Mars", começando o show de Porto Alegre


O alto nível de um show realizado em estádio grande e aberto (refiro-me ao antigo Beira-Rio, antes das obras para a Copa do Mundo, assim como ocorreu no antigo Morumbi dias depois) mas com engenharia de som perfeita, além do vídeo e da iluminação, tinha na parte técnica a garantia de um ambiente propício para Paul e seus súditos deitarem e rolarem. Mas eles fizeram ainda mais do que isso. Embora seguissem o roteiro, era visível que a paixão do público porto-alegrense, que recebia pela primeira vez o ídolo, contagiou os músicos no palco. Ouvia-se choro, gritos, palmas e coros, que não deram trégua um minuto sequer, ainda mais nos vários momentos em que o cantor interagiu falando um português carregado de sotaque. Tanto que a imprensa – não só da bairrista Porto Alegre, mas do centro do País – classificou o show de “apoteótico” no dia seguinte. Os ingredientes estavam todos ali para que isso acontecesse: Paul animadíssimo tocando 6 instrumentos diferentes durante a apresentação e a incrível banda de músicos-fãs que executam com exatidão e paixão o repertório beatle e solo do líder. O repertório vai de hits dos Beatles a da extensa carreira solo de Paul a homenagens aos ex-companheiros de banda George Harrison (quando cantou “Something”) e a John Lennon (“Let ‘Em In”, da Wings, escrita para o parceiro, e quando emenda “Give Peace a Chance” com a obra-prima “A Day in the Life”).

E o que dizer de ouvir ali, presencialmente, “And I Love Her”, Let Me Roll It”, “Eleanor Rigby”, “Let it Be”, “Get Back”?! Totalmente tomado por aquela verdadeira apoteose, fui elevado a um outro plano especialmente em pelo menos quatro momentos. Primeiro, quando Paul tocou “Blackbird”, capaz de me provocar lágrimas a cada audição doméstica, quem dirá ao vivo. Igualmente, quando não apenas eu, mas 50 mil vozes entoaram o famoso “la la la” final de “Hey Jude”. Algo inesquecível, daqueles que se leva para a vida. Desavisado dos efeitos pirotécnicos mas adorador da música, “Live and Let Die” foi outra que me arrebatou – o que me aconteceria mesmo sem os jorros de fogos sincronizados, obviamente. Para desfechar sem respirar, uma sequência de “Helter Skelter”, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e “The End”. Apoteótico, apoteótico.

A apoteótica apresentação de "Live and Let Die" naquela noite

Recordo que à época não consegui produzir um texto para o blog, porque a comoção era muito grande semanas depois. Eu lembrava das pessoas saindo do estádio a pé como eu com uma expressão de encantamento, de abismados, parecendo uma raça improvável de zumbis tomados de felicidade, meio incrédulos com o que viram. Eu, inclusive. Paul voltaria à cidade 7 anos depois, num Beira-Rio já reformado, mas aí a coisa era outra, incomparável com aquela primeira e inesquecível vez. Só mesmo o céu para testemunhar tamanho acontecimento como foi o daquele de 7 de novembro de 2010. E não é que ele testemunhou!? Não sei se somente eu percebi (pois quem mais levantaria a cabeça em direção ao céu naquela hora?), mas eu vi uma estrela cadente descer bem atrás do estádio, na direção de Paul. Juro mas não foi efeito de álcool e nem do meu estado de elevação. Eu vi de verdade! Em resposta às lágrimas e da emoção daquela multidão de pessoas, uma das estrelas, as que estavam bem visíveis e quase alcançáveis no céu limpo de Porto Alegre daquela noite histórica, resolveu descer para nos cumprimentar. Afinal, quem não daria uma chegadinha depois de ouvir entoado com tamanha emoção o “la la la” de “Hey Jude”? Deve-se ter ouvido até lá em cima. Eu, se fosse estrela, também não perderia essa.


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Setlist Show "Up And Coming":

01. Venus and Mars/Rock Show
02. Jet
03. All My Loving
04. Letting Go
05. Drive My Car
06. Highway
07. Let Me Roll It
08. The Long and Winding Road
09. Nineteen Hundred and Eighty Five
10. Let ‘Em In
11. My Love
12. I’ve Just Seen a Face
13. And I Love Her
14. Blackbird
15. Here Today
16. Dance Tonight
17. Mrs. Vandebilt
18. Eleanor Rigby
19. Something
20. Sing the Changes
21. Band on the Run
22. Ob-La-Di Ob-La-Da
23. Back in the USSR
24. I’ve Got a Feeling
25. Paperback Writer
26. A Day in the Life/Give Peace a Chance
27. Let it Be
28. Live and Let Die
29. Hey Jude
30. Day Tripper
31. Lady Madonna
32. Get Back
33. Yesterday
34. Helter Skelter
35. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club
36. The End

Daniel Rodrigues
(para Andréia)

domingo, 28 de agosto de 2022

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial 14 anos do Clyblog - The Beatles - "The Beatles" ou "White Album" (1968)

 



"Todo clichê tem uma razão e o motivo pelo qual este disco é citado em 11 de 10 listas é pelo simples fato de ser genial.
Ele tem lugar quase sagrado no meu coração, inclusive fico períodos longos sem escutá-lo para sempre ter a mesma reação a cada música, um arrepio que começa na base da coluna e vai até o topo da cabeça.
Essa sensação não muda desde o meu primeiro contato com ele, aos 13 anos."
Titi Müller, 
atriz, apresentadora e ex-VJ da MTV




Branco.
O branco pode ser o nada, o vazio. Uma folha de papel sem desenho, sem palavras, sem ideias, um lapso de pensamento, uma breve falha de memória, um cegueira por excesso de luz ou mesmo a ausência total de cor. Por outro lado, é a soma de todas as cores. Todo o espectro, girando tão rapidamente, que o olho humano sequer é capaz de distinguir todas as variações cromáticas para apenas enxergar... o branco.
Branco...
Uma capa totalmente branca apenas com um nome gravado em relevo.
A aparente simplicidade por trás de uma capa totalmente branca guarda, na verdade, a complexidade de uma das obras mais sofisticadas da história da humanidade. Talvez seja exatamente essa impressão errônea do nada que, no fundo, contém tudo. Uma obra tão cheia de variedades, elementos, possibilidades, cores, que os olhos da percepção humana mal sejam capazes de assimilar tudo, de ordenar todas as informações. "The Beatles", de 1968, mais conhecido como "White Album" traz tantos elementos que muitas vezes é impossível classificar se aquele quarteto genial fizera um rock, um jazz, um blues, um foxtrote, uma suíte clássica, um folk, ou tudo isso junto numa mesma peça musical.
"White Album" tem trinta faixas e seria cansativo falar de todas, desta forma destaco aqui aquelas que na minha opinião não podem deixar de ser mencionadas, pelas razões e méritos mais diversos, embora fãs mais fervorosos e conhecedores mais eruditos possam contestar minha seleção. "Back in the U.S.S.R." que abre o disco é um rock no estilo do velho yeah, yeah, yeah mas que, claramente, com toda a bagagem adquirida de uma banda mais madura, segura e ousada, está alguns passos à frente da sonoridade da banda lá dos primórdios; "While My Guitar Gently Weaps" é uma das mais belas canções do grupo e um dos melhores trabalhos coletivos do quarteto, com o acréscimo, ainda, de Eric Clapton que dá a canja do lindíssimo solo de guitarra, um dos mais marcantes da história do rock; "Blackbird" é solar, iluminada, à primeira vista uma canção aparentemente simples, mas que apreciada com a devida atenção, revela-se um peça musical da mais alta sofisticação; o blues choroso de "Revolution 1" que eu costumava ouvir numa vinheta da Rádio Ipanema em Porto Alegre e sempre tinha a curiosidade de saber o que era aquilo; e  "Dear Prudence", linda, doce, suave, que conheci com a Siouxsie e seus Banshees e, devo admitir, nesse caso, que divido a preferência com a original. A propósito, outra que conheci com a Rainhas das Trevas do gótico, mas que, aí sim, prefiro disparado a original, é "Helter Skleter", por sinal, um das minhas preferidas do álbum e da banda, exatamente por toda a sujeira, barulheira, fúria, características pouco comuns na obra dos Beatles.
Os quatro, no estúdio, durante as
gravações do álbum, em 1968

Mas tem o rock empolgante de "Glass Onion", com todas as autorreferências; tem as "mutações" constantes de Rocky Racoon"; tem os vocais intensos de John em "I'm So Tired"; tem também o blues envenenado "Yer Blues"; a energia e o psicodelismo de "Everybody's Got Something to Hide..."; a belíssima melodia vocal de "Sexy Sadie"; a loucura psicodélica de "Revolution 9"... Ah, tudo!!!
Se "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" havia, praticamente criado o conceito de álbum, o "Álbum Branco", mesmo em meio a um ambiente convulsionado de uma banda em processo de fragmentação interna, levava a ideia a um nível superior. O que, pensando bem, de certa forma, possa ter colaborado para um álbum tão genial, diversificado e com um conjunto tão contraditoriamente "harmonioso". Cada membro, tão independente e autossuficiente, estava, naquele momento, maduro, seguro e plenamente apto a produzir algo tão grandioso individualmente, que o material, colocado dentro da obra do grupo, praticamente complementava o dos demais criando um produto final incrível e inigualável.
Branco também pode simbolizar pureza e tal como fazem as crianças, de maneira belíssima, a pureza permite a alguém ser o que quer ser, falar o que quer falar sem se preocupar com nada. Simplesmente ser verdadeiro.
Segundo o artista, criador da arte, Richard Hamilton, a ausência total de qualquer cor era proposta em contraste ao excesso de informação da capa do disco anterior,  "Sgt. Pepper's...". Sim, entendo... Mas, aprofundando um pouco o pensamento a esse respeito, talvez o branco do álbum signifique algo mais, Talvez signifique exatamente o momento em que cada um tenha sido totalmente puro, totalmente verdadeiro consigo mesmo, o que, assim como a verdade das crianças, sempre resulta em beleza.
E nós, que não temos nada a ver com as diferenças que eles tinham, ganhamos, aquele que tenha sido, possivelmente, o momento mais brilhante daqueles quatro caras.
Brilhante...
Sim, tão alvo, tão claro que chega a ser... brilhante.
Branco.

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FAIXAS:
(no formato LP)

Lado 1

1. "Back in the U.S.S.R." (voz de Paul McCartney) 2:43
2. "Dear Prudence" (voz de John Lennon) 3:53
3. "Glass Onion" (voz de Lennon) 2:17
4. "Ob-La-Di, Ob-La-Da" (voz de McCartney) 3:08
5. "Wild Honey Pie" (voz de McCartney) 0:52
6. "The Continuing Story of Bungalow Bill" (voz de Lennon) 3:14
7. "While My Guitar Gently Weeps" (composição e voz de George Harrison) 4:45
8. "Happiness Is a Warm Gun" (voz de Lennon) 2:43

Lado 2
9. "Martha My Dear" (voz de McCartney) 2:28
10. "I'm So Tired" (voz de Lennon) 2:03
11. "Blackbird" (voz de McCartney) 2:18
12. "Piggies" (composição e voz de Harrison) 2:04
13. "Rocky Raccoon" (voz de McCartney) 3:33
14. "Don't Pass Me By" (composição e voz de Ringo Starr) 3:51
15. "Why Don't We Do It in the Road?" (voz de McCartney) 1:41
16. "I Will" (voz de McCartney) 1:46
17. "Julia" (voz de Lennon) 2:54

Lado 3
18. "Birthday" (vozes de McCartney e Lennon) 2:48
19. "Yer Blues" (voz de Lennon) 4:04
20. "Mother Nature's Son" (voz de McCartney) 2:48
21. "Everybody's Got Something to Hide Except Me and My Monkey" (voz de Lennon) 2:24
22. "Sexy Sadie" (voz de Lennon) 3:15
23. "Helter Skelter" (voz de McCartney) 4:29
24. "Long, Long, Long" (composição e voz de Harrison) 3:04

Lado 4

25. "Revolution 1" (voz de Lennon) 4:15
26. "Honey Pie" (voz de McCartney) 2:41
27. "Savoy Truffle" (composição e voz de Harrison) 2:54
28. "Cry Baby Cry" (vozes de Lennon e McCartney) 3:02
29. "Revolution 9" (vocalizações de Lennon, Harrison, George Martin e Yoko Ono) 8:22
30. "Good Night" (composição de Lennon e voz de Starr) 3:11

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Ouça:
The Beatles - "The Beatles" A.K.A. "White Album" (1968)





por Cly Reis

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Exposição “The Beatles Kids & Fans” – Acervo fã-clube Revolution – Praia de Belas Shopping – Porto Alegre/RS



A semana não poderia ser melhor para os fãs de Beatles porto-alegrenses. No último dia 9,  terça, completaram-se os 77 anos de nascimento de um dos maiores gênios da história da música: o beatle John Lennon. Além disso, o outro gênio da banda, Paul McCartney, se apresenta na cidade no próximo dia 13, no Estádio Beira-Rio, repetindo (se não, superando) o histórico show que fizera neste mesmo palco e chão em 2010 – ocasião em que eu felizmente estava presente.

Para fechar essa programação com topete mullet, o Praia de Belas Shopping, próximo ao local do show da sexta e num ponto bem central da cidade, ainda está promovendo, até dia 15, o “The Beatles Kids & Fans”. Com entrada gratuita, a mostra traz artigos do acervo do Revolution, de São Paulo, único fã-clube de Beatles da América Latina reconhecido oficialmente pela Apple, corporação fundada pelo grupo que cuida da marca The Beatles. Na exposição, é possível conferir objetos como: revistas, cards, fotos, matérias, reportagens, bonecos e discos, que contam um pouco da trajetória do grupo.

Tive a oportunidade de conhecer e conversar com o diretor do fã-clube Revolution, o Marco Antonio Mallagoli. Com muita simpatia e amor pela banda, Marco, único brasileiro que esteve com as quatro lendas, me disse: “Os Beatles são precursores não só na música, mas na liberdade das pessoas. É uma música muito forte a que eles fizeram, tanto que, 50 e poucos anos depois que eles começaram, ainda estamos falando deles”.

Dentre as relíquias expostas, um baixo Hofner 63 idêntico ao que Paul usava no início da banda – e autografado pelo autor de “Hey Jude”. Igualmente, uma agenda assinada por John Lennon do dia em que Marco o conheceu em frente ao famoso edifício Dakota, em Nova York, onde o músico morava e onde, fatidicamente, foi assassinado. Detalhe: a foto é de 10 de outubro de 1980, um dia depois do aniversário de John e menos de dois meses antes do trágico acontecimento.

A mostra tem ainda um espaço dedicado, como o nome sugere, às crianças. Estive na exposição e pude ver que a gurizada realmente se divertem e interagem com os elementos e a história dos Quatro Rapazes de Liverpool. Para elas, têm atividades como: oficina de paper toys; Guitar Hero; pinturas; painel de fotos com o Beatles Cartoon; entre outras.

Gurizada tocando Beatles no Guitar Hero
Não irei ao show de Paul desta vez, mas conferir a exposição "The Beatles Kids & Fans" e poder conversar com alguém que conheceu não apenas Paul, mas todos os seus três companheiros de jornada, me deixa, pelo menos, com um gostinho de estar perto do universo beatle.

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serviço
exposição “The Beatles Kids & Fans”
Acervo fã-clube Revolution
endereço: Praia de Belas Shopping - Av. Praia de Belas, 1181 (1º piso)
período: até 15 de outubro
horário: Segunda a Sábado – 10h às 22h / Domingos e Feriado – 11h às 22h.


Entrada: Gratuita
Mais informações: www.praiadebelas.com.br

Totens com a história da Fab Four
Outra relíquia do acervo: um baixo Hofner 1963 autografado por Paul
O disco de ouro de "She Loves You", presente de John a Mallagoli
Fotos de e com Paul McCartney
Criançada aproveitando para pintar 


Joguinhos dos anos 60 com temática beatle
A agenda com o autógrafo de John e a foto tirada 2 meses antes da morte do artista
Baquetas e objetos relativos a Ringo Star
Paper toys de John, Paul, George e Ringo
Visão superior de toda a exposição
Selfie em plena Abbey Road (eu estou de pés descalços, mas não aparece)

Daniel Rodrigues

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Nei Lisboa - Show "Duplo H" - Teatro Renascença - Porto Alegre/RS (12/06/2018)




Sou daqueles diletantes que comemoram datas de aniversários dos discos que gosto. Tenho feito isso direito no Clyblog por meio, principalmente, de resenhas da seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, que me dão oportunidade de falar a respeito de obras que admiro e ainda homenageá-las por estarem completando alguma idade fechada. Agora, nas comemorações de 10 anos do blog, tivemos o prazer de ter um desses discos aniversariantes resenhado pelo músico, escritor e jornalista Arthur de Faria: o “Hein?!”, do Nei Lisboa, que completa 30 anos de lançamento em 2018. Pois que, justo no Dia dos Namorados, tive – junto com Leocádia Costa, obviamente –, a felicidade de conferir pela primeira vez um show desse talentoso artista gaúcho especial não somente às três décadas do referido “Hein?!” como, igualmente, aos 20 de outro ótimo trabalho de sua discografia: o ao vivo “Hi-Fi”.

O show, muito bem intitulado “Duplo H”, referência às letras iniciais em comum do título de cada disco, fez lotar o Teatro Renascença em duas sessões naquele dia, sendo a anterior a que assistimos extra, devido à grande procura. Tocando os dois discos inteiros e na sequência, um simpático e sempre sagaz Nei Lisboa hipnotizou o público com o repertório ao mesmo conhecido, mas capaz de emocionar ao ser reouvido – ainda mais considerando a egrégora particular da ocasião.

Com Nei e Paulinho Supekóvia no violão/guitarra e Luis Mauro Filho ao piano/teclados, a apresentação deu a largada, conscientemente, pelas 14 faixas de “Hi-Fi”, cujo formato acústico original mostrou-se ideal para “começar os trabalhos” e por caber mais a este tipo de formação do conjunto. Os standarts, hits e AOR da música pop internacional, muito bem pescados por Nei para o set-list de “Hi-Fi”, são imbatíveis, visto que muito afins com o estilo e gosto pessoal dele. Tocando e, principalmente, cantando muito bem, Nei e a banda executaram as versões já tão queridas quanto suas originais, oscilando entre o folk, o blues, o country rock e as baladas no estilo da “Mellow Mafia” dos californianos anos 60/70. Casos de “Everbody's Talking”, do norte-americano Fred Neil; a linda “Summer Breeze”, da dupla setentista Seals & Croft; a beatle “Norwegian Wood”; “Fifity Ways to Leave you Lover”, do craque Paul Simon; e a sensibilíssima releitura de “Still... You Turn Me On”, da Emerson, Lake & Palmer.

Nei, ao centro, com sua enxuta e competente banda
Isso sem falar na emocionante “Cool Water”, de Bob Nolan e imortalizada na voz de Joni Mitchell, no reggae estilizado para “I Shot the Sherif”, de Bob Marley, no bluesão “Walking Away Blues”, de Ry Cooder, e em “Ruby Tuesday”, dos Rolling Stones, que, segundo Nei, embora não tenha entrado no show acústico em 1998, foi gravada em estúdio obedecendo a mesma ideia de arranjo, pois, “se tinha Beatles, não poderia faltar uma dos Stones”.

Completado “Hi-Fi”, agora era partir para as desafiadoras 11 faixas de “Hein?!”. Desafio duplo: primeiro, porque a formação do grupo não contava com bateria, fator essencial para a sonoridade do disco de 1988. “Como Nei vai resolver o arranjo?”, perguntava-me enquanto curtia o primeiro “H” da noite. O segundo desafio era mais íntimo ao próprio autor, uma vez que o disco foi composto sob a aura de uma tragédia na vida de Nei: a perda da então namorada, Leila Espellet, com quem se acidentou de carro na estrada, matando-a. “Como está o coração dele hoje, passadas três décadas, depois daquele acontecimento fatal? O que guarda no peito ainda: culpa, remorso, saudade, serenidade?”, passava-me à mente.

Parte da resposta veio na conversa com a plateia antes de começarem os números. De forma muito aberta e bonita, Nei pediu uma salva de palmas à memória da ex-companheira e executou na íntegra aquela que é apenas uma vinheta de abertura no álbum, “Zen”, escrita para o filho de Leila, à época com apenas 6 anos de vida. A música, a qual não conhecia por completo, apenas os poucos versos que foram parar na edição final de “Hein?!”, são um tocante recado de conforto de um padrasto talvez tão perdido e triste quanto àquele então pequeno órfão. “A vó da gente é mãe/ Da mãe da filha/ A filha da tia/ O pai do filho/ O espírito são/ Gente do bem, do mal/ Gente gorda, gente fina/ Quando vai pro céu/ O céu se ilumina”, diz a letra. Noutra parte (que também não consta no disco), Nei mostra o quanto aquelas palavras são tanto para ele quanto para o garoto: “Não tem desculpa, não tem culpa/ A culpa é sempre minha/ A culpa é da vizinha/ É uma chatice infernal.”

Um show carregado de canções fortes e emocionais já começou assim! O coração seguiu batendo forte com “No Fundo” e a brilhante faixa-título, uma das melhores do cancioneiro do gaúcho de Caxias do Sul. Nela foi possível conferir o acerto na escolha do arranjo, visto que se trata de uma música-chave do disco e que, se não funcionasse sem a bateria (possante nas baquetas de Renato Mujeiko no disco de 1988), correria sério risco de perder intensidade e, por consequência, identidade. Não foi o que aconteceu. Harmonizando com o arranjo dado à primeira parte do show, o formato violão/guitarra/teclado se encaixou muito bem também na segunda metade da apresentação. A mesma sensação ficou em outras duas igualmente adoradas por mim e pela plateia: a sentida “Nem Por Força” (“Nem por força do diabo/ Eu volto a vegetar/ Nessas malditas esquinas/ Na pressa de te encontrar”) e “A Fábula (Dos 3 Poréns”), debochada mas igualmente ferida pela perda que a motivou ser escrita: “Quebrei uns vinte, trinta espelhos/ De perguntar/ Se tinha alguém mais bela que ela/ Noutro lugar/ Comi todas maçãs da feira/ Pra adormecer/ E em vez do príncipe encantado/ Veio um baixinho assim”.

“Faxineira”, um blues elétrico, ganhou uma sonoridade de piano-bar muito adequada, além de uma leve modernização na letra que, segundo Nei, são para a “faxineira empoderada” dos tempos atuais. Outras que sofreram adaptação para o arranjo foram a country-rock “Fim do Dia”, menos acelerada, e o sucesso “Telhados de Paris”, que, embora parecesse a mais fácil de se adaptar – haja vista que é originalmente só no violão e voz –, ganhou o acertado acompanhamento do piano de Mauro Filho e teve a linha vocal levemente modificada. Nada que comprometesse um dos hinos da Porto Alegre moderna.

Mas os questionamentos que levantei intimamente no início do show sobre o envolvimento emocional de Nei Lisboa com o marcante motivo de “Hein?!”, mesmo que não tenham sido respondidos totalmente, deram-me a entender que permanecem de alguma maneira ainda latente nele, homem amadurecido e vivido em relação àquela época da composição do disco, anos 80. O que talvez tenha me passado a impressão de que as baladas não eram de uma época, assim, tão remota foi a supressão dos últimos versos de uma das preferidas da galera: “Baladas”. Emotiva, a canção fala sobre a referida perda de Leila e a briga interna para manter-se íntegro e desvencilhado do passado. Porém, os versos de “Baladas” escritos depois do acidente, como relatou Arthur de Faria, desta vez não foram cantados: "Só, muito além do jardim/ Viajo atrás de sombras/ Não sei a quem chamar/ Mas sei que ela diria ao acordar/ ‘Tudo bem/ Você me arrasou, meu bem/ E qualquer dia desses eu como as tuas bolas/ Mas agora esqueça o drama na sacola/ Não puxe o cobertor/ Não tape o sol que resta nessa dor’/ Foi bom: não durou”.

Se Nei optou por não cantá-los por não enxergar-lhes mais sentido ou por qualquer outro motivo, os da talvez ainda mais carregada “Teletransporte nº 4” foram ditos na íntegra. Faixa que finaliza o disco num clima de balada triste, foi tocada exatamente como é originalmente: violão, guitarra, piano e muita dor. E que versos fortes! “Porém o céu parece estúdio/ Nem o silêncio não diz nada/ Mesmo essas frases vão pro lixo/ São como lenços de papel/ Ainda por cima aquelas pernas/ Algumas coisas serão eternas/ Que bela ideia acreditar/ Que o mundo te aprendeu.” Para arrebatar os corações apaixonados em pleno 12 de junho.

Depois de 25 sessões em que a carga emocional só foi aumentando, partindo das músicas de “Hi-Fi” para as de “Hein?!”, Nei Lisboa encerra com uma que não entrou no repertório do primeiro por acaso: “Live and Let Die”, de Paul McCartney, numa competentíssima versão que dispensou até a orquestra que embala as aventuras de James Bond. Show perfeito do início ao fim deste que é um dos ícones da cultura de Porto Alegre. Se já tinha assistido ao vivo Tangos & Tragédias, Replicantes, De Falla, Renato Borghetti e Orquestra da Ospa na Praça da Matriz, faltava-me um show de Nei Lisboa para completar a lista dos patrimônios culturais da minha cidade. Uma estreia de luxo.

SET-LIST:

"Hi-Fi":
1 Everbody's talking   
(Fred Neil)
2 Bennie & The Jets  
(Bernie Taupin, Elton John)
3 Summer breeze  
(Dash Crofts, Jim Seals)
4 Norwegian wood  
(John Lennon, Paul McCartney)
5 Sometimes it snows in April  
(Lisa Coleman, Rogers Nelson, Prince, Wendy Melvoin)
6 Fifty ways to leave your lover   
(Paul Simon)
7 I'm having a gay time  
(Alberta Hunter)
8 That's why God made the movies  
(Paul Simon)
9 Walking away blues  
(Ry Cooder, Sonny Terry)
10 Still... you turn me on  
(Lake)
11 Cool water  
(Nolan)
12 Ventura highway  
(Deney Bunnel)
13 I shot the sheriff   
(Bob Marley)
14 Ruby Tuesday  
(Mick Jagger, Keith Richards)


"Hein?!"
15 Zen [Vinheta] 
16 No fundo 
17 Hein!? 
18 Nem por força 
(Ricardo Cordeiro, Nei Lisboa)
19 A fábula [Dos três poréns] 
20 Faxineira 
21 Baladas 
22 Rima rica / Frase feita 
23 Fim do dia 
24 Telhados de Paris 
25 Teletransporte n 4 
(Glauco Sagebin, Nei Lisboa)
Todas composições de Nei Lisboa, exceto indicadas

Bis:
26. Live and Let Die
(Paul McCartney) 



texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa

quinta-feira, 21 de abril de 2022

60 Anos de 007: Os melhores na escolha dos bondfãs

 

Seja nas salas de cinema, pela Sessão da Tarde ou Corujão da Globo, pelos VHS ou DVDs alugados, pela TV fechada ou streaming. Filmes mais antigos ou mais novos. Com este ou aquele ator de protagonista. Independentemente destas variáveis – todas cabíveis neste caso – os filmes da série 007 encantam fãs de diversas gerações. Desde os que pegaram o nascer de James Bond, há 60 anos quando do lançamento de “007 Contra o Satânico dr. No”, primeiro da celebrada franquia inspirada no romance de Ian Fleming, até as superproduções recentes, o famoso agente da MI-6, invariavelmente a serviço secreto da Coroa britânica, tornou-se um dos mais queridos – e longevos – personagens da história do cinema. Um ícone que excede os limites da tela.

Assim como super-heróis dos quadrinhos, figuras fictícias, mas de tamanha realidade em sua existência que se tornam mais críveis que muita gente de carne e osso, JB vive graças ao imaginário do público. Tal Batman, Super-Homem ou Homem-Aranha, cujas características físicas, psicológicas e visuais vão sendo manipuladas ao longo do tempo pelas mãos de diversos autores tendo como base um conceito, este fenômeno acontece com 007 tendo ainda como atenuante um fator: o de ele não ser um desenho, mas uma pessoa “de verdade”. Quem ousa dizer que Pierce Brosnan ou Daniel Craig são menos James Bond do que Sean Connery ou Roger Moore?

Connery, Lazemby, Moore, Dalton, Brosnan e Craig:
qual o melhor James Bond?

Mas a idolatria a Bond e à série não se resume somente ao ator que o interpreta - embora este fator seja de suma importância. A produção caprichada e milionária, os efeitos especiais, a construção narrativa, os lançamentos de moda e design, a trama aventuresca: tudo foi ganhando, à medida que a série ia tendo continuidade, um alto poder midiático. As produções de 007 passaram a ser uma vitrine que dita moda, tendências, comportamentos e parâmetros, inclusive na indústria do cinema, uma vez que os filmes de espionagem nunca mais foram os mesmos depois que este personagem foi parar nas telas. De certa forma, 007 acompanhou e desenvolveu muitas das invenções que o cinema de ação presenciou ao longo deste tempo, funcionando como criador e criatura. Isso tudo sem falar nos detalhes fundamentais: o charme canastrão de Bond, os vilões maníacos, a beleza das bond girls, o tema original e as trilhas sonoras, as invenções estapafúrdias de Q, as paisagens incríveis pelas quais se passeia (não raro, a quilômetros por hora)...

Quem tem autoridade para dizer se tudo isso confere ou não são, claro, os fãs. Por isso, convidamos 8 desses aficionados por James Bond para nos dizerem três coisas: qual o seu ator preferido entre os que encarnaram o espião ao longo destas seis décadas, qual a sua melhor trilha e, principalmente, quais os seus 5 títulos preferidos da franquia. Todos eles conhecem muito bem as artimanhas, os clichês, os truques, as piadinhas, as gags e as viradas narrativas a ponto de antecipá-las mentalmente enquanto assistem algum filme da série. Há longas melhores que outros? Qual o James Bond preferido da galera? E das músicas-tema, muitas vezes oscarizadas, qual a mais “mais”? Para isso, esse time de bondfãs foi chamado. Numa coisa, contudo, todos concordam: é sempre uma emoção ver aquelas aberturas com efeitos especiais conceituais, prólogo e, principalmente, aquela figura elegante surgindo de dentro do círculo branco para virar-se na direção do espectador e atirar enquanto a toca a trilha clássica de Monty Norman e John Barry. É a certeza de que, a partir dali, vem mais uma grande aventura de Bond, James Bond.


 

*********

Rodrigo Dutra

formado em Letras e editor do Rodriflix
(Porto Alegre/RS)
"Contra o Foguete da Morte":
"
Tá, filme ruim, mas o

 cara tá no bondinho do
Pão de Açúcar...
já vale
🤣🤣🤣"


Melhor James Bond:
Roger Moore

Filmes preferidos:
1. "007: O Espião que me Amava" (Lewis Gilbert, 1977)
2. "007 Contra Goldfinger" (Guy Hamilton, 1965)
3. "007 Contra o Satânico Dr. No" (Terence Young, 1962)
4. "007 Contra GoldenEye" (Martin Campbell, 1995)
5. "007 Contra o Foguete da Morte" (Lewis Gilbert, 1979)

Trilha preferida:
"Live and Let Die", Paul McCartney (filme: "Com 007 Viva e Deixe Morrer")

Christian Ordoque

historiador
(Porto Alegre/RS)


Melhor James Bond:
Connery como JB mais velho jogando 
charme para Kim Basinger
em "Nunca Mais..."
Roger Moore

Filmes preferidos:
1. "007 Contra Goldfinger"
2. "007 Contra o Foguete da Morte"
3. "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade" (Peter R. Hunt, 1970)
4. "007: Nunca Mais Outra Vez" (Irvin Kershner, 1983)
5. "007 Contra Spectre" (Sam Mendes, 2015)

Trilhas preferidas:
"All the Time in the World" - Louis Armstrong (filme ""007: A Serviço Secreto de Sua Majestade")
"You Only Live Twice" - Nancy Sinatra (filme "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes")
"Goldfinger" - Shirley Bassey (filme "007 Contra Goldfinger")


Luna Gentile Rodrigues

estudante
(Rio de Janeiro/RJ)

As várias versões do poster de
"Sem Tempo...", último filme da série,
um dos escolhidos de Luna

Melhor James Bond:
Roger Moore

Filmes preferidos:
1. "Com 007 Viva e Deixe Morrer" (Hamilton, 1973)
2. "007 Na Mira dos Assassinos" (John Glen, 1985)
3. "007: O Mundo Não é o Bastante" (Michael Apted, 1999)
4. "007: Operação Skyfall" (Mendes, 2012)
5. "007: Sem Tempo Para Morrer" (Cary Fukunaga, 2021)

Trilhas preferidas:
"Skyfall" - Adelle (filme "007: Operação Skyfall")
"Goldfinger" - Shirley Bassey 
"GoldenEye" -Tina Turner (filme "007 Contra GoldenEye")
"Diamond Are Forever" - Shirley Bassey (filme "007: Os Diamantes São Eternos", 1971)
"On her Majesty's Secret Service" - John Barry (filme "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade")


Vagner Rt

professor e blogueiro
(Porto Alegre/RS)


Melhor James Bond:
1. Daniel Craig - "Ele bate sem cerimonia, foge do que esperamos do 007, por isso adoro ele."
2. Sean Connery - "Clássico e único, até hoje." 
3. Pierce Brosnan - "Meu 007 da infância, de jogar do Nintendo 64." 

Filmes preferidos:
1. "007: Quantum of Solace" (Marc Forster, 2008)
2. "007 Contra GoldenEye"
3. "007: Operação Skyfall"
4. "007: O Amanhã Nunca Morre" (Roger Spottiswoode, 1998)
5. "007 Contar Goldfinger" "simplesmente clássico"

"007: O Amanhã Nunca Morre":
"Minha mãe era fã desses filmes então eles tem espaço no meu 
coração, sem falar que foi o 007 da minha época"



Trilhas preferidas:
"Writing's On The Wall" - Sam Smith (filme "007 Contra Spectre")
"Skyfall" - Adelle
"Goldfinger" - Shirley Bassey 


Leocádia Costa

publicitária e produtora cultural
(Porto Alegre/RS)


Craig: melhor JB na
opinião de Leocádia
Melhor James Bond:
Daniel Craig
Sean Connery

Filmes preferidos:
1. "007 Contra Spectre" 
2. "007 Contra GoldenEye"
3. "007: Um Novo Dia para Morrer" (Lee Tamahori, 2002)
4. "Moscou Contra 007" (Young, 1964)
5. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"

Trilhas preferidas:
"James Bond Theme" - John Barry (filme ""007 Contra o Satânico dr. No")
"Goldfinger" - Shirley Bassey
"GoldenEye" -Tina Turner 
"Die Another Day" - Madonna (filme "007: Um Novo Dia para Morrer")




Clayton Reis

arquiteto, cartunista e blogueiro
(Rio de Janeiro/RJ)

Melhor James Bond:
Roger Moore

Filmes preferidos:
1. "007: O Amanhã Nunca Morre"
2. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"
3. "007: Operação Skyfall"
4. "007: O Espião que me Amava"
5. "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" (Hamilton, 1974)

Trilhas preferidas:
"Diamonds are Forever" - Shirley Bassey 
"Tomorrow Never Knows" - Sheryll Crow (filme: "007: O Amanhã Nunca Morre")
"GoldenEye" - Tina Turner
"The World is so Enough" - Garbage (filme: "007: O Mundo Não É o Bastante")
"Live and Let Die" - Paul McCartney

A Garbage está entre as trilhas preferidas



Paulo Altmann

publicitário e blogueiro
(Campinas/SP)

"Goldfinger", listado pela maioria
e preferido de Altmann

Melhor James Bond:
Sean Connery

Filmes preferidos:
1. "007 Contra Goldfinger"
2. "007 Contra a Chantagem Atômica" (Terence Young, 1966)
3. "007 Contra o Satânico Dr. No"
4. "007: Operação Skyfall"
5. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"

Trilhas preferidas:
"You Only Live Twice" - Nancy Sinatra



Daniel Rodrigues

jornalista, escritor e blogueiro
(Porto Alegre/RS)

Moore: 0 James Bond mais querido pelos bondfãs

Melhor James Bond:
Roger Moore

Filmes preferidos:
1. "Com 007 Viva e Deixe Morrer"
2. "007: O Espião que me Amava"
3. "007 Contra Goldfinger" 
3. "007: O Amanhã Nunca Morrer"
4. "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade" 
5. "007: Operação Skyfall"

Trilhas preferidas:
"Live and Let Die" - Paul McCartney
"GoldenEye" - Tina Turner


*********

Resultado final:
Melhor James Bond:
Roger Moore - 5 votos
Sean Connery - 2 votos
Pierce Brosnan e Daniel Craing - 1 voto
George Lazemby e Timothy Dalton - o votos

Filmes preferidos:
6 votos
"007 Contra Goldfinger"

5 votos
"007: Operação Skyfall" e "Com 007 Viva e Deixe Morrer"


3 votos
"007: O Espião que me Amava", "007 Contra GoldenEye" e "007: O Amanhã Nunca Morre" 

2 votos
"007 Contra o Satânico Dr. No", "007 Contra GoldenEye", "007 Contra Spectre", "007 Contra o Foguete da Morte" e "007: A Serviço Secreto de Sua Majestade"

1 voto
"007 Contra a Chantagem Atômica", "007: Cassino Royale", "007 Contra o Foguete da Morte""007 Na Mira dos Assassinos", "007: O Mundo Não é o Bastante", "007: Sem Tempo Para Morrer", "007: Quantum of Solace", "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" , "007: Nunca Mais Outra Vez", "007: Um Novo Dia para Morrer" e "Moscou Contra 007"

Trilhas preferidas:
4
"GoldenEye" - Tina Turner
"Goldfinger" - Shirley Bassey 

3 votos
"Live and Let Die" - Paul McCartney

2 votos
"Diamonds are Forever" - Shirley Bassey 
"Skyfall" - Adelle
"You Only Live Twice" - Nancy Sinatra

1 voto
"On her Majesty's Secret Service" - John Barry
"James Bond Theme" - John Barry
"Writing's On The Wall" - Sam Smith
"Tomorrow Never Knows" - Sheryll Crow
"The World is so Enough" - Garbage
"All the Time in the World" - Louis Armstrong 
"Die Another Day" - Madonna


Daniel Rodrigues