Vortex
por Carlos Gerbase
"A fudê!"
final de "Porque Não"
A palavra “Vortex” já significou muitas coisas na minha vida. Meu primeiro encontro com ela foi em meados dos anos 70, numa máquina de fliperama, aquelas antigas, de bolinha, imortalizadas no musical “Tommy”. Os desenhos da máquina eram futuristas, misturando sexo e violência em doses perfeitas para a adolescência. Na minha interpretação, esses desenhos representavam um planeta distante, cheio de monstros e mulheres maravilhosas. Eu jogava e, mesmo perdendo as cinco bolas rapidamente, curtia o visual.
Lá pelo final de 1983, Os Replicantes estavam fazendo suas primeiras músicas, e eu, as primeiras letras. Creio que “Nicotina” (grande letra do Cláudio Heinz) foi a primeira canção a ficar pronta. E, logo depois, numa ordem difícil de recuperar, vieram “Ele quer ser punk”, “Porque não”, “O princípio do nada” e “O futuro é Vortex”. Com certeza aquelas imagens da velha máquina de fliper ajudaram na evocação de um planeta hostil em que “pra comer tem que matar”. Quando lançamos nosso compacto-duplo, uma das quatro músicas era “O futuro é Vortex”, e, na hora de escolher o nome do nosso selo, foi fácil: selo Vortex.
Alguns anos depois, na hora de decidir como o nosso primeiro LP se chamaria, alguém sugeriu (provavelmente eu mesmo, mas não tenho certeza) que o disco se chamasse “O Futuro é Vortex”. Foi uma boa escolha. Ele estava cheio de canções de ficção científica, e esse título era uma boa síntese. A palavra voltaria na nossa primeira fita VHS, “Os Replicantes em Vortex”. Enfim, aquele planeta parecia ser um bom local para Os Replicantes quando eles fugiam da Terra.
Em 1987, quando a banda resolveu abrir um lugar para ensaiar, vender fitas cassete e beber cerveja (mas eu bebia conhaque...) o nome ficou Vortex. Não creio que foi falta de imaginação, e sim a vontade de usar uma marca que já estava plenamente identificada com a estética da banda. O bar (ou o que quer que fosse) durou apenas um ano, mas que ano... Dezenas de lançamentos, dezenas de shows transmitidos por circuito fechado, dezenas de noites memoráveis com os amigos, regadas a punk rock e loucura. O bar Vortex faz parte das memórias afetivas de muita gente.
Finalmente, Vortex também foi o nome de fantasia da produtora de vídeo que tenho em sociedade com a Luciana Tomasi, que nasceu como “Invideo”, lá em 1982. No final dos anos 90, achamos que “Invideo” era muito careta e mudamos para... “Vortex”. A denominação veio até 2011, quando saímos da Casa de Cinema e resolvemos mudar para “Prana Filmes”. Hoje, portanto, Vortex é uma máquina de fliper que não existe mais, um bar que não existe mais, um nome de fantasia que não existe mais, um selo musical que não lança nada há uns 20 anos (mas quem sabe, no futuro...), um LP fora de catálogo e uma fita VHS que ninguém consegue ver mais. Mas “O futuro é Vortex”, a música, ainda está muito viva. No show dos Replicantes, dia 9 de dezembro, será executada, com pompa e circunstância, celebrando os 30 anos da banda. Quem viver, verá. Mas, cuidado!, o futuro é Vortex.
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FAIXAS - "O Futuro é Vortex":
- "Boy do Subterrâneo" (Carlos Gerbase, Heron Heinz) – 2:22
- "Surfista Calhorda" (Carlos, Heron) – 3:30
- "Hippie-Punk-Rajneesh" (Carlos, Heron) – 2:43
- "One Player" (Carlos, Cláudio Heinz) – 2:43
- "A Verdadeira Corrida Espacial" (Carlos, Cláudio) – 2:24
- "O Futuro é Vortex" (Carlos, Heron) – 2:17
- "Choque" (Carlos, Heron) – 3:03
- "Ele Quer Ser Punk" (Carlos, Cláudio) – 2:06
- "Motel da Esquina" (Cláudio) – 2:24
- "Mulher Enrustida" (Cláudio, Heron) – 0:52
- "Hardcore" (Carlos, Heron) – 2:20
- "O Banco" (Heron, Luciana Tomasi) – 2:19
- "Censor" (Carlos, Heron) – 2:01
- "Porque Não" (Carlos, Cláudio, Heron) – 1:14
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Ouça:
Doutor em Comunicação Social, Carlos Gerbase é cineasta e ex-líder da banda Os Replicantes, a qual fez parte entre 1983 e 2002. Em cinema, integrou por 24 anos a Casa de Cinema de Porto Alegre.
Escreveu e dirigiu longas como “Tolerância” (2000), “Sal de Prata” (2005), “Verdes Anos” (1984), “3 Efes” (2007), "Menos que Nada" (2012) e o documentário "A Batalha dos Aflitos" (2005), além de curtas, como "Sexo e Beethoven" (1997), "Passageiros" (1987) e "Deus ex-machina" (1995).
Realizou ainda diversos programas de teledramaturgia para TV. Leciona, desde 1981, nos cursos de Cinema e Televisão da PUCRS, onde coordena a pós-graduação em Cinema. Como escritor é autor do romance Professores (Record, 2006), Cinema: Direção de atores (Artes & Ofícios, 2003), Contos cinematográficos (Artes & Ofícios, 2000), entre outros.
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