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terça-feira, 22 de novembro de 2011

cotidianas #117 - Daniéis


Eram dias de pavor. Ou pelo menos de desagrado. Toda vez que se anunciava ou, pior ainda, éramos surpreendidos com a não-anunciada visita da tia Terezinha esse pavor batia. Não por causa da tia Terezinha, mas pelo “o que” a acompanhava, sempre, como um rabicho: seu filho, ou seja, meu primo.
Aquele conotativo “ah, não!” era sempre manifestado quando o guri apontava na frente de casa, o que significava um real motivo para esconder os brinquedos – mesmo os não muito valiosos – e o iogurte da frigidér, claro.
Mas eu devia aceitar, afinal, era meu primo. Adotado, não tinha o meu sangue (minha mãe, estudada em Direito, ajudou a tia Terezinha a cometer a adoção...). Mas... tá! Pertencia à família, é como se fosse dela. Só que ele era um chato! Pequeno, inocente, mais criança do que eu, inconveniente, meio aloprado. Um chato. E pior: um chato meu primo. E pior 2: um chato meu primo e meu xará! Pois é: a cria se chamava Daniel também – teria sido uma imposição “coruja” de minha mãe feita à pobre tia com a condição de que, se esta tivesse a coragem de adotar um chato, pelo menos lhe pusesse um nome empiricamente nobre?...
Estava dado o conflito. O Daniel (eu) era criança. Aninhos mais velho do que o Daniel (ele), diferença que me dava, mesmo sendo igualmente um piá, mais direitos. Ora essa! E o Daniel (ele) vinha ao mundo indiscriminadamente, sem a minha permissão tanto para integrar a ilustre genealogia dos Rodrigues quanto, muito menos, ter a petulância de copiar meu “provado e comprovado” nome. O Daniel (ele) se metera na verdadeira cova dos leões, onde o leão Daniel (eu!) era o mais faminto.
Pra fermentar ainda mais meu desprezo pelo pirralho, certa vez, numa festinha de família, entre as crianças estava lá meu adversário, com aquele seu caráter mais-criança do que eu nas fuças. Minha mãe (começo a julgá-la como a grande culpada pelo crime), a certa altura da festa, ao observá-lo com candura, comentou: “Olha, Daniel (eu...), ele até parece um homenzinho!” Aquela frase me apunhalou. Mas nem por isso perdi a pose! Dono de mim, respondi num reflexo que o Daniel (ele) até podia parecer mais velho, mas que o tal era igual à antiga propaganda da Denorex: “parece, mas não é”. Ela caiu na gargalhada, e eu consegui disfarçar, inteligentemente (como talvez ainda o faça...), meu ciúme.
............................
Indo para o Centro, ali, pela Tristeza, adentrou ao ônibus Renascença o tal Daniel. Ele. Grande, adulto, maior do que eu, cortês, meio comedido. Conversamos rápida e alegremente no calor dos bancos de trás. Casado, mostrou-me a foto da filha (bela menina; não recordo o nome). Estava lá eu, admirado com ele e tentando esconder a surpresa, indo em direção ao Centro e rememorando, adultamente (?), aquela inveja subconsciente.
Despedimo-nos como primos.
Não vou abrir inquérito contra minha mãe, quanto menos a tia Terezinha, mas contra o Daniel. O Daniel eu. O Daniel chato meu que eu, infantilmente, projetei no Daniel outrora chato, porém vulnerável e simplesmente infantil como qualquer criança, ele. O chato era e talvez seja eu. Pelo menos foi o que eu suspeitei ao reviver aquela crise de identidade ali, bem próximo do Bom Fim, entre a Redenção e o ponto final desta linha.



Daniel Rodrigues
(escrito originalmente em 1997 e revisto em 2011)

terça-feira, 16 de junho de 2015

Di Melo – Festas “Voodoo” e “Cadê Tereza?” – Quadra dos Bambas da Orgia – Porto Alegre/RS (13/06/2015)



Di Melo com todo seu gogó e suingue em Porto Alegre
foto: Daniel Rodrigues
"Dos deuses o final de semana em Porto Alegre.
Mui-alegremente.
‘Unificando público e banda’, foi resplandescente...
deu liga, deu encaixe, foi uma festa in-dis-crê-vente.
Uma banda formada de mágicos músicos locais com a mesma proposta.
Nunca nos vimos e tocamos como se estivéssemos tocando durante longos anos.
Fica provado que a linguagem musical e a linguagem do amor são universais.
Que gratificante, meu Deus!"
Di Melo





Banda afiada acompanhando
o craque pernambucano
foto: Daniel Rodrigues
Se como o próprio diz, “para o imorrível, nada é impodível”, um acontecimento raro e inédito envolvendo ele aconteceu na minha Porto Alegre. O “ele” a quem me refiro é o mestre do pop-soul brasileiro Di Melo, que aterrissou em terras gaúchas nunca d’antes por ele exploradas com seus contagiantes suingue, simpatia e talento. Num memorável e descontraído show na quadra da escola de samba Bambas da Orgia lotada dentro da festa conjunta “Voodoo” e “Cadê Tereza?”, o cantor e compositor pernambucano mandou ver em clássicos do seu mítico LP de 1975 (recentemente listado por mim entre os ÁLBUNS FUNDAMENTAIS aqui no ClyBlog) e outras canções próprias que me impressionaram tanto quanto às que já conhecia.

Di Melo no palco e nós assistindo
ali, na primeira fila, ao centro do palco. (acharam?)

foto: Ariel Fagundes
Di Melo estava acompanhado da cozinha da banda gaúcha Ultraman mais dois sopros, que, admiradores de sua obra, sabiam de cor todas as faixas a ponto de nem precisarem ensaiar bastante para o conjunto soar super bem. No centro do palco, o protagonista, um senhor de 66 anos com certa protuberância abdominal e de feições tipicamente nordestinas que mantém o mesmo estilão, o mesmo groove e o mesmo poder vocal de quando lançou seu primeiro álbum, 40 anos atrás – até a boina de couro com a qual estampa a capa de “Di Melo”, quando ainda magro e jovem, é igual. Exatamente na frente de seu microfone, na primeira fileira, Leocádia e eu vimos com clareza todo o show, começando pela arrasadora “Kilariô”, seu grande sucesso, que abriu a apresentação pondo todos para cantar e dançar sob aquele fantástico jazz-funk de ares caribenhos. Na sequência, outros dois funks clássicos e cheios de molho da mesma época: “Aceito Tudo” e “Se o Mundo Acabasse em Mel”, esta última, bastante gostada pelo público.
Di Melo mandando ver
no funk 

foto: Leocádia Costa

Entre os temas para mim inéditos (Di Melo tem outros nove CD’s independentes), “Engano ou Castigo” foi a primeira apresentada. Um belo pop-rock romântico. Igualmente brilhantes, “Milagre”, balada soul belíssima que podia, como disse o próprio Di Melo, ser gravada por Tim Maia se este estivesse vivo; e “Fator Temporal”, com a tradicional poesia afiada de Di Melo, um funk sensual puxado no qual faz um jogo com terminações de palavras ("Tudo que me satisfaz é ter seu corpo desnudo/ Nudo/ Teus contornos iniguais me enlouquecem, vou fundo/ Fundo..").

O bailarino que encantou a
plateia com seus passos
foto: Leocádia Costa
Ele volta no tempo novamente para trazer as suingadas “Minha Estrela” e “Pernalonga”, incendiando a quadra. Com disco novo a ser lançado este ano, Di Melo adiantou ao público porto-alegrense algumas faixas, entre estas “Diuturno”, com versos que sintetizam várias ocasiões do dia a dia, corriqueiras ou não, num encadeamento maravilhosamente literário. Ainda por cima, este funk-rock traz brilhantes riff e arranjo, que a faz ir ganhando volume até encerrar grandiosamente. Das melhores do show e que já dá uma noção da maravilha que vem por aí no novo CD. Outra que conterá no próximo trabalho também executada é o samba-rock “Barulho de Fafá”, que me lembrou bastante os também pernambucanos Mundo Livre S/A. Esse momento foi especial no show pois, além de ser mais uma ótima música, contou ainda com a repentina participação de um lindo bailarino e cantor estilo black rio, elegantemente trajado de fatiota de linho bege e um chapéu coco vermelho, que subiu ao palco não apenas para encantar a plateia com seus passos deslizantes e tomados de malemolência, mas, ainda, mandar um rap de improviso totalmente dentro da harmonia. Di Melo e o público o aplaudiram.

O convidado articulando
um rap com Di Melo
foto: Leocádia Costa
Essa ponta foi mostra da interação entre Di Melo e o público. Ele demonstrava felicidade por estar ali, cumprimentando e se reportando com a galera, inclusive com este que vos fala mais de uma vez. Fez até poesia de improviso, dizendo: “Porto Alegre, te amo alegremente”. Acontece que ele sabe muito bem que essa fase lhe é especial, uma vez que sua redescoberta, ocorrida anos atrás com mais de 30 anos de defasagem, tem lhe proporcionado um novo estrelato junto ao público jovem. Mais uma obra resultante do momento atual é a cortante “Navalha”, um soul-rock de letra igualmente bem sacada. Nesta, a performance, tanto dele quanto da Ultraman, foram ótimas. Já “Kiprocô de Patrono”, outro samba-rock, este escrito em homenagem a Chico Buarque, está presente em um dos seus discos independentes (“Sons, sensações, sambas e tesões”) e no qual parafraseia inteligentemente o riff do clássico samba “Brasileirinho”.


Set list e a pulseira da festa
foto: Daniel Rodrigues
Seu outro grande sucesso, “A Vida em Seus Métodos Diz Calma”, ficou guardada para o fim, contagiando todo mundo antes de “Kilariô” ser tocada novamente como bis e finalizar o belo show. O primeiro de Di Melo em Porto Alegre, quatro décadas depois de lançado seu disco de estreia e pelo qual ficou mundialmente conhecido quando DJ’s ingleses e o selo norte-americano de jazz Blue Note recapturaram sua obra nos anos 90. O Brasil só fez ir atrás. Ainda bem. Antes tarde do que nunca, pois, pelo visto, este retorno de Di Melo, gravando disco novo em São Paulo – o que se presume estar sendo feito com a devida estrutura –, está no nível que ele merece pelo artista referencial que é.

A noite continuou lá dentro da quadra dos Bambas, mas não havia mais porque permanecermos. O show era o que queríamos ver. Antes de sair, entretanto, pedi ao roadie o papel com o set list. Ele pegou para mim justo o que ficava no pé de Di Melo, o qual, junto com a pulseirinha da festa (que traz a sábia frase da canção: “A Vida em seus métodos diz calma”), guardei como um amuleto. Com tudo isso, fui para casa pensando: será que, por obra de alguma magia, quem ficou com um registo físico do show, assistiu-o tão de perto e chegou até a apertar a mão de um imorrível se torna imorrível também?


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trecho do show: "Kilariô" - Di Melo



domingo, 17 de maio de 2015

Exposição “A Aventura de Criar” - Galeria Espaço Cultural Duque - Porto Alegre/RS (12/05/2015)










A curadora e a obra de Augusto Rodrigues, de seu acervo próprio
Tive a felicidade e o privilégio de presenciar – e fotografar! – a abertura da exposição “A Aventura de Criar”, na Galeria Espaço Cultural Duque, em Porto Alegre. Isso porque a curadora é ninguém mais, ninguém menos, que minha amada Leocádia Costa, costumaz colaboradora do Clyblog. Desta vez, a sensível fotógrafa usou suas habilidades de arte-educadora e produtora cultural para montar essa mostra que reúne obras de artistas e educadores que participaram da história do Instituto de Artes e da Escolinha de Arte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esta última, com mais de 50 anos de existência e pela qual passaram diversos artistas consagrados das artes do Rio Grande do Sul e de outros estados.
Tela do precursor da arte-educação,
Augusto Rodrigues
A ligação emocional, profissional e artística que Leocádia tem com a Escolinha vem de bastante tempo. Resultado do seu trabalho de conclusão  para a Especialização em Arte-Educação na Feevale, em 2011, a mostra “A Aventura de Criar” é uma materialização daquilo que só estava no papel até então, considerando também o filme que ela dirigira para o cinquentenário da Escolinha e o período em que esteve lá dentro. Isso, graças ao fato de a proposta dela no Curso de Curadoria, ministrado por José Francisco Alves ano passado no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, ter essa temática e ser uma das três escolhidas para a montagem de uma exposição. Deu nessa mostra, que, na prática, funcionou realmente muito bem.
O traço delicado de Alice Soares em três quadros
Estão ali obras de: Ado Malagoli, Alice Soares, Alice Brueggemann, Ângelo Guido, Augusto Rodrigues, Cristina Balbão, Fayga Ostrower, Fernando Corona, João Fahrion, Plinio Bernhardt, Romanita Disconzi e Teresa Poester. Todos feras. Espacialmente, foram divididos, nas duas compridas paredes do segundo piso da galeria, obras dos artistas homens de um lado e mulheres do outro, as quais se interpõem apenas quadros do mais feminino deles: o pernambucano Augusto Rodrigues, principal difusor da Arte-Educação no Brasil. Dele, são quatro obras: um desenho, uma pintura e duas serigrafias, sendo uma delas a única do acervo pessoal de Leocádia. Ainda, a mostra traz sete obras convidadas da artista Cecília Machado Bueno, falecida no ano passado, arte-educadora dedicada cuja arte (basicamente desenho) é de visível delicadeza. A renda obtida com a venda dos quadros dela será revertida para a Associação De Peito Aberto, na qual, entre outras atividades, era voluntária pelo calendário anual da entidade.
De resto, todas as obras, à venda, pertencem ao acervo da Galeria Duque. E tem maravilhas. Ao mesmo tempo, a exposição homenageia a Escolinha de Artes, seus principais artistas e educadores e dá um panorama da diversidade de estilos e referências de cada um. Ainda, evidencia a rica variedade de técnicas desses artistas, que datam desde os anos 50 à década atual. É o que se vê nas três selecionadas de Alice Soares: uma pintura, uma xilogravura e um desenho a grafite. Nas quatro de Alice Brueggemann e de Fayga Ostrower, também: total domínio e multiplicidade de técnicas.
Obras de Cecília Machado Bueno, 
homenageada especial da exposição
Merecem destaque ainda o trio de telas de Plinio Bernhardt, com sua temática tradicionalmente picante aliado à grande expressividade, dois desenhos lindos de Cristina Balbão – um deles, “Borracha”, que reproduz em tamanho natural o rosto de um negro –, dos mais antigos entre os selecionados, um vistoso óleo sobre tela de Ado Malagoli, autor que também foi contemplado com uma sensível litogravura chamada “Pomba”.
Haverá duas visitas guiadas com a presença da curadora e do colecionador e proprietário da Duque,  Arnaldo Buss, agendadas para final de maio e para julho, além da apresentação da pesquisa de Leocádia, no próximo dia 6. Porém, independente dessas datas, vale a pena visitar a mostra. E olha que não é parcialidade minha: “A Aventura de Criar” está realmente muito interessante, tanto pela importância do tema que aborda quanto pela qualidade das obras e do recorte curatorial que foi empregado. E como desta vez foi com isso e com a recepção aos vários convidados e amigos que prestigiaram a abertura que Leocádia teve que se preocupar, a maioria das fotos ficaram a cargo da minha pessoa mesmo.



Movimentação na galeria na abertura da mostra


A fotógrafa Iris Borges foi prestigiar

A também fotógrafa Tânia Meinerz esteve lá

Arte e desejo nos quadros de João Fahrion

Carolina Costa foi conferir as flores de Cecília Machado Bueno

Loecádia Costa com as historiadoras
Luísa Khul Brasil e Luciana de Oliveira

Leocádia e a arte-educadora Maria Lúcia Varnieri,
autora do texto de apresentação da exposição

Alice Brueggermann e a força de sua arte
em quatro quadros

Publico interessado n'Aventura de Criar

Galeira movimetada




fotos: Daniel Rodrigues, Carolina Costa e

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"A Aventura de Criar", vários artistas ligados ao Instituto de Artes do RS e da Escolinha de Artes da UFRGS
onde: Galeria Espaço Cultural Duque (R. Duque de Caxias, n° 649 - Centro/POA)
quando: segunda a sábado, das 18h às 20h
entrada: gratuita
curadoria: Leocádia Costa

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"Anarquia na Passarela - A Influência do Movimento Punk nas Coleções de Moda", de Daniel Rodrigues (Ed. Dublinense, 2012)



"Um dos êxitos da onda punk
foi ratificar uma propriedade antropológica do homem:
a existência de um impulso estético
natural dentro do espírito humano
que lhe é necessário para a vida,
sendo a indumentária uma das mais potentes formas de comunicar e expressar  esse impulso."
Daniel Rodrigues



Tenho que admitir que mesmo extremamente orgulhoso pelo fato de meu irmão, Daniel Rodrigues estar lançando um livro, fiquei com um pé atrás quanto ao que me esperaria nas páginas do seu "Anarquia na Passarela - A Influência do Punk nas Coleções de Moda" (Dublinense, 2012). Não digo pela qualidade. Conheço sua capacidade, sua inteligência, seus textos tanto do seu blog de cinema O Estado das Coisas Cine quanto daqui mesmo do ClyBlog com suas resenhas, poemas e contos brilhantes. Não! Não me refiro a isso. Ficava um pouco receoso de que esforçando-se em embasar solidamente suas premissas, afirmações, teses, o livro pudesse acabar ficando maçante e arrastado.
Pra ser sincero, acho que isso até acontece na introdução ("O Início do Fim do Mundo"), que embora instigante quanto ao conteúdo que irá ver-se dali para diante, fica meio preso às explicações e porquês de uma maneira meio ansiosa de resumir muito em pouco espaço. Mas é só a introdução, a impressão logo se desfaz e a partir do primeiro capítulo, "No Fun", embarcamos numa deliciosa viagem músico-comportamental empolgante e envolvente. Dá vontade de não para de ler! Dá vontade de ouvir imediatamente aquelas bandas, aqueles cantores, aquelas músicas citadas. Dá vontade de sair pogueando! O livro é uma caixa de som! Sai música dele. Mas não só isso: dá vontade de usar aquela calça rasgada no joelho, de usar aquele bracelete de couro, uma camisa com dizeres desaforados...
Ele é extremamente bem fundamentado, estudado, repleto de referências, citações, com alto grau e profundidade de pesquisa mas passa longe de ser pedante e cansativo. Ele flui. Flui muitíssimo bem.
Consegue conjugar um gosto pessoal musical, inequívoco e indesmentível, com muita informação, embasamento teórico e análise detalhada e  numa proporção perfeita e exata de modo a tornar a leitura absolutamente agradável e sempre interessante.
O ponto de convergência específico do punk com a moda, tema central do livro, além de muito bem sustentado como já foi dito, é analisado com enorme sensibilidade e perspicácia de modo que não escapa do autor nenhum elemento que possa ser realmente relevante no paralelo proposto. Especificamente, a análise pormenorizada da coleção primavera-verão 2002 de Jean-Paul Galtier, onde esmiuça praticamente todos os ingredientes do trabalho do estilista francês é brilhante e admirável, indo de um baile vienense a uma festa de pogo com a naturalidade de quem realmente se jogou de cabeça no assunto.
Em suma, um baita livro! Vencendo minha desconfiança inicial, revela-se não só como uma leitura altamente recomendável como uma publicação de referência em ambos os âmbitos, o da música (punk, pré, pós e todos seus derivados) quanto o da moda, abrangendo o comportamento de um modo geral.
Talvez minha análise fique um tanto suspeita por eu ser irmão do autor, blablablá e aquela coisa toda. Garanto-lhes que não há aqui nenhuma tendenciosidade. Até por isso, pelo meu parentesco, tratei de ler o livro com o botão do senso crítico acionado no nível máximo, pronto para se tivesse que ser duro, severo, antipático, fazê-lo sem titubear. Mas nõa precisei. É impossível não se render e deixar-se levar pelo som das páginas de "Anarquia na Passarela".
Recomendabilíssimo!!!
Leia no volume máximo.


Cly Reis

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Copa do Mundo The Smiths - Finalistas


Chegou a hora da verdade!
Apenas dois chegarão à grande decisão.
Depois de uma longa caminhada eliminando terríveis oponentes, duas grandes canções de uma das maiores bandas de todos os tempos se enfrentarão na finalíssima a fim de definir qual delas é a maior de todas.
Para isso, nossos especialistas em The Smiths, José Júnior, Fernanda Calegaro, Eduardo Almeida e Patrícia Ferreira, junto a nós os editores do Clyblog, Cly Reis e Daniel Rodrigues, avaliaram os duelos de semifinais e definiram os dois classificados. Confira como cada um encarou cada jogo e decidiu os classificados:


  • GIRL AFRAID x THE QUEEN IS DEAD


Eduardo Almeida
Muitos dizem que essa seria a final, mas o chaveamento fez com que se encontrassem na semifinal. O jogo é equilibrado. Duas equipes com torcida grande, e muita qualidade das equipes. Muitas chances de lado a lado. Bolas na trave. Pênalti perdido por GIRL AFRAID. Gol anulado de THE QUEEN. Final de jogo: 0 X 0. Disputa de pênaltis. GIRL AFRAID é mais eficiente nas cobranças, e elimina a rainha. GIRL AFRAID 0 (5) x 0 (4) THE QUEEN IS DEAD
GIRL AFRAID classifica

Patrícia Ferreira
The Queen ganha. 4× 1.
THE QUEEN IS DEAD classifica

Daniel Rodrigues
Para aqueles que pensavam que seria um jogo aberto de dois times que vão pro ataque, o que se viu dentro das quatro linhas foi o contrário. Respeito. Muito respeito dos dois lados. Afinal, times bastante sólidos e bem estruturados que se equiparam. Qualidade não faltou, mas as defesas trabalharam tão bem que teve, bem dizer, uma chance clara pra cada lado. 0 x 0, prorrogação e pênaltis. Nas penalidades, “Girl” erra uma cobrança, até bem batida, mas o goleiro de “The Queen” acertou o canto e defendeu. Final: 5 x 4 nos pênaltis, e “The Queen” na final!
THE QUEEN IS DEAD classifica.

Fernanda Calegaro
Girl afraid 3x2
GIRL AFRAID classifica.

José Júnior
Girl Afraid e The Queen is Dead entram em campo em um jogo maduro, sem cartões, num duelo de vitoriosos. O placar marca 2x2, até quando Morrissey canta "And the church - all they want is your money", marcando o gol da vitória.
THE QUEEN IS DEAD classifica.

Cly Reis
É o encontro do jogo cadenciado, equilibrado, bonito de Girl Afraid contra o estilo agressivo, ofensivo de The Queen Is Dead. "A Rainha" já parte pra cima tentando sufocar o adversário no seu próprio campo, mas aquele conjunto, aquele entrosamento todo de Girl Afraid se sobressai e desafoga o jogo com muita categoria. Apesar de toda a pressão e do ímpeto de TQID, numa jogada individual de Johnny Marr com aquela guitarra serpenteante e sedutora "A Garota", sem medo algum, abre o marcador. O adversário que já não alivia em circunstância alguma parte mias ra cima ainda, põe mais um atacante, tira volantes e num contra-ataque, no último minuto (ou no ultimo verso) toma mais um naquele lindo "I'll never make that mistake again...". 2x0.
GIRL AFRAID classifica


EMPATE NA DECISÃO


João Carneiro * (convidado para voto de desempate)
Pra mim, Girl Afraid ganha.
GIRL AFRAID classifica


pelo voto de desempate, GIRL AFRAID está classificada para a final.


***


  • WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE? x THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT

Eduardo Almeida
Grande surpresa do campeonato, WHAT DIFFERENCE chega a essa semifinal cheia de moral. Começa a partida mostrando por que chegou até essa fase, colocando duas bolas na trave. Mas THERE’S A LIGHT marca no final do primeiro tempo, muito pelo conjunto da equipe. WHAT DIFFERENCE consegue marcar numa cobrança de falta aos 25 minutos, e se empolga, parte pra cima, e com um ritmo mais cadenciado, vira a partida aos 40 minutos. Cinco minutos não são suficientes para THERE’S A LIGHT empatar. WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE? 2 x 1 THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT.
WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE? classifica

Patrícia Ferreira
There is light that Never Goes Out ganha de goleada te What Difference Does It Make.
THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT

Daniel Rodrigues
Se a outra semifinal era entre adversários parecidos, que vão pro ataque, esta aqui é ainda mais equilibrada em estilos de jogo. Canções de amor sem serem baladas, são canções pop rascantes e sentimentais. No melhor estilo Smiths. A paridade se reflete dentro de campo, com cada um marcando uma vez no primeiro tempo. No segundo, a força de “What”, entretanto, se sobressai, principalmente quando entra naquela hora do falsete de Morrissey, jogada que já fez a música vencer partidas em rodadas anteriores. Aqui, o expediente é fundamental para superar a escalada emocional de “There’s”, mesmo com aquela seção de cordas e o tecladinho “flauta doce”. Resolvido nos 90 minutos, mas por um detalhes de diferença. 2 x 1 para “What”, a outra finalista!
WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE? classifica


Fernanda Calegaro
There's a light 5x4
THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT classifica

José Júnior
What Difference Does it Make? tem feito um excelente jogo, mostrando que sabe driblar e empolgar a torcida. Mas There is a Light That Never Goes Out mantém sua luz contínua e manda um gol de cabeça, garantindo sua presença na final!
THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT classifica.

Cly Reis
Jogo muito equilibrado! Outro daqueles que poderia tranquilamente ter sido a final. Dois times com muitas qualidades. Se WDDIM? mostra-se vulnerável em alguns momentos ("But now you make me feel so ashamed because I've only got two hands..."), é extremante agressiva em outros ("and you must be looking very old tonight") levando perigo ao gol de TIALTNGO que tem um estilo de jogo bem parecido mas chega mais vezes à área do adversário. A aparente fragilidade de There's A Light faz com que What Difference se jogue mais pra frente dando espaços e aí que "Os Iluminados" se aproveitam. Numa dessas, num contra-ataque, aos 32 do segundo tempo, There's a Light chega ao ataque e invade a área com perigo ao que o zagueiro de What Difference entra desgovernado como um ônibus de dois andares e comete o pênalti. O batedor de TIALTNGO bate com categoria e marca. 1x0. What Difference vai com tudo pra tentar o empate a começa a meter bola alta. Num desses levantamentos, um enrosco na área a bola sobra pro atacante de What Difference que chuta para o gol e o zagueiro de There's a Light se joga no frente da bola como se ela fosse uma bala de revólver e evita o gol. Os jogadores de What Difference reclamam que teria sido com o braço, o árbitro consulta o recurso de vídeo e confirma a decisão. Nada! Jogada legal. Placar final 1x0 para TIALTNGO.
THERE'S A LIGHT THST NEVER GOSES OUT classifica.

por maioria, "THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT classificada para final.


finalistas
GIRL AFRAID 
e
THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

II Festival de Cinema Negro em Ação - Longas-Metragens

 

Tive a satisfação de participar, pelo segundo ano consecutivo, do Festival Cinema Negro em Ação, que é realizado com muita garra pela competente cineasta Camila de Moraes juntamente à Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) e Instituto Estadual de Cinema (Iecine). Como já abordei noutras ocasiões, o festival tem uma importância singular no cenário audiovisual gaúcho e brasileiro por sua simbologia e ação. Particularmente, por meio da ACCIRS, tive o prazer e a felicidade de ser novamente convidado a integrar o corpo de jurados, desta vez na seleção de longas-metragens.

"Trem do Soul": a história dos bailes
negros dos anos 70/80
Iniciado no Dia da Consciência Negra, a segunda edição do evento, teve este ano ainda maior relevância, tanto por sua resiliência quanto por integrar as comemorações pelo cinquentenário do 20 de novembro. Em um formato híbrido, o festival ocorreu durante uma semana com programação na grade da TVE-RS e do Prime Box, na Cinemateca Paulo Amorim e na plataforma Cultura em Casa, da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Se o primeiro festival, juntamente com todas as vozes que reverberam o protagonismo negro em Porto Alegre, marcou lindamente uma trajetória que começa a se consolidar, ao mesmo tempo também foi maculado pelo terrível assassinato de João Alberto horas antes da estreia, desviando por força maior o foco das manifestações. Manifestações de luta, mas de revolta e não artísticas. 

Este ano, impossível não lembrar deste episódio, mas também – como é característica do povo negro – novos passos de superação foram dados. Em resposta, o próprio festival representa um marco nas políticas afirmativas das instituições envolvidas, resultado de um programa de inclusão e representatividade que aposta no audiovisual como um caminho de desenvolvimento econômico e social.

Sob o axé de Oliveira Silveira, cujo movimento em favor da criação desta data ainda tão fundamental completa meio século, o II Festival Cinema Negro em Ação transcorreu somente dentro do que o feito merece: com celebração e respeito.

Cena de "A Última Negra", que recebeu Menção Honrosa

O belo doc sobre
os clubes sociais do RS
Entre os sete longas e médias-metragens que competiram a mim e aos queridos e competentes colegas de júri Jeferson Silva, do Coletivo Macumba Lab, e Alexandre Mattos, da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC) escolher, destaco os que, após longa e saudável discussão, selecionamos: o aprazível documentário “Trem do Soul”, do carioca Clementino Junior, com o Prêmio Nacional; o tocante e revelador documentário “Meu Chão: Clubes Negros do Rio Grande do Sul”, de  Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga, na categoria Destaque RS – Direção; e a Menção Honrosa à instigante ficção futurista “A Última Negra”, de Silvana Rodrigues e Camila Bauer, também gaúcho.

Justo falar ainda, porém, de outro dos quatro documentários em competição, que é o paulista “Tambores da Diáspora”, de João Nascimento. Pode-se dizer que é o filme mais bem acabado entre todos desta categoria, inclusive dos três premiados, embora por critérios consensuais não o tenhamos escolhido. Aliás, cabe ao mesmo tempo um olhar generoso e compreensivo, visto que ainda deficiente por reflexo de um contexto sociocultural muito mais amplo e complexo, mas também o do vislumbre de um avanço técnico por parte destes realizadores e de políticas públicas e privadas que fomentem a produção audiovisual negra. Com condições técnicas e oportunidades melhores, não há dúvida de que, em pouco tempo, despontarão novos Jeferson De fazendo cinema negro com autenticidade, propriedade e competência.

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Confira a lista dos premiados do II Festival Cinema Negro em Ação:

CATEGORIA VIDEOARTE
Prêmio Estadual: A GOTA D’ÁGUA (Direção: Luis Ferreirah)
Prêmio Nacional: A QUEDA (Direção: Lia Leticia, Pernambuco)
Destaque RS - Direção: LANCEIROS NEGROS (Thaise Machado)
Menção Honrosa: UM TRANSE DE DEZ MILÉSIMOS DE SEGUNDOS (Direção:
Jamile Cazumbá, Bahia)
Jurados: Sérgio Nunes (Conselho De Ações Afirmativas), Valéria Barcellos (IEACen - Instituto Estadual de Artes Cênicas) e Ana Medeiros (IEAVI - Instituto Estadual de Artes Visuais)

CATEGORIA VIDEOCLIPE
Prêmio Estadual: PULSO - DESSA FERREIRA (Direção: Kaya Rodrigues)
Prêmio Nacional: KOLAPSO - MONKEY JHAYAM, ENME E TERRA TREME
(Direção: Lazaro e Jessica Lauane, Maranhão)
Destaque RS - Direção: SORRISO MARFIM - W NEGRO feat. N JAY (Direção:
Deivid Makaveli)
Menção Honrosa: AMBIÇÃO - CRISTAL (Direção: Cleverton Borges, Rio Grande
do Sul)
Jurados: Sérgio Nunes (Conselho De Ações Afirmativas), Valéria Barcellos (IEACen - Instituto Estadual de Artes Cênicas) e Ana Medeiros (IEAVI - Instituto Estadual de Artes Visuais)


CATEGORIA CURTA-METRAGEM
Prêmio Estadual: ROTA (Direção: Mariani Ferreira)
Prêmio Nacional: A SÚSSIA (Direção: Lucrécia Dias, Tocantins)
Prêmio Distribuição - Produtora Tarrafa: TÁ QUENTE (Direção Bruno Ferreira,
Amazonas)
Destaque RS - Direção: DESVIRTUDE (Gautier Lee)
Destaque RS - Roteiro: NAÇÃO PRETA DO SUL- O CURTA (Nando Ramoz)
Destaque RS - Intérprete: ALÉM DA FRONTEIRA (Clara Meireles)
Destaque RS - Montagem: ROTA (Rodolfo de Castilhos)
Destaque RS - Trilha Sonora: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção: Alexandre Mattos
Meirelles)
Destaque RS - Desenho de Som: OLHOS DE ANASTÁCIA: CONEXÕES
QUILOMBOLAS (Técnico de Som Giuliano Lucas)
Destaque RS - Direção de Arte: SERIAM OS DEUSES AFRONAUTAS (Direção:
Rogério Fanrandóla)
Destaque RS - Direção de Fotografia: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção de
Fotografia: Felipe Campal)
Prêmio TodesPlay: ALÉM DA FRONTEIRA (Direção: Alexandre Mattos Meirelles,
Rio Grande do Sul)
Menção Honrosa: SUBSIDÊNCIA (Direção: Beatriz Vilela, Alagoas)
Menção Honrosa: PELE DE MONSTRO (Direção: Barbara Maria, Minas Gerais)
Jurados: Uilton Olivieria (APAN - Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro), Miriam Juvino (SIAV-RS - Sindicato da Indústria Audiovisual RS) e Mario Costa (EDTRS)

CATEGORIA LONGA-METRAGENS
Prêmio Nacional: TREM DO SOUL (Direção: Clementino Junior, Rio de Janeiro)
Destaque RS - Direção: MEU CHÃO: CLUBES NEGROS DO RIO GRANDE DO SUL
(Direção: Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga)
Menção Honrosa: A ÚLTIMA NEGRA (Direção: Silvana Rodrigues e Camila
Bauer, Rio Grande do Sul)
Jurados: Daniel Rodrigues (ACCIRS), Jeferson Silva (Coletivo Macumba Lab), Alexandre Mattos (Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos - APTC)

PRÊMIO DONA DE SI
1- Thaise Machado, do Rio Grande do Sul, diretora da videoarte “Lanceiros
Negros”
2- Lia Letícia, de Pernambuco, diretora da videoarte “Queda"
3- Jessica Lauane, do Maranhão, diretora dos videoclipes “Kolapso - Monkey,
Enme e Terra Treme”, e “Garruncha do Sampaio - Marco Gabriel”
4- Rosandra Leone, do Rio de Janeiro, diretora do videoclipe “Melhor Assim -
Cesanne"
5- Roberta Liana Vieira, do Rio Grande do Sul, diretora do longa-metragem “O
Futuro do Mundo é Preto”
6- Gabriela Cardozo Barrenho, do Rio Grande do Sul, diretora do curta-metragem
“Nação Preta do Sul - O Curta”
7- Silvana Rodrigues, do Rio Grande do Sul, diretora do longa-metragem “A
Última Negra”
8- Alini Guimarães, de São Paulo do curta-metragem “Inventário do Corpo”
9- Beatriz Vilela, de Alagoas, diretora do curta-metragem “Subsidência"
10- Raquel Cardozo, do Rio Grande do Norte, diretora do curta-metragem “Curta
Os Congos”
11- Barbara Maria, de Minas Gerais, diretora do curta-metragem “Pele de
Monstro”
12- Vanessa Rodrigues, do Rio Grande do Sul, diretora do curta-metragem
“Olhos de Anastácia: Conexões Quilombolas”
13- Domenica Guimarães, de São Paulo, roteirista Mercado & Conteúdos
14- Manoela Ramos, de São Paulo, roteirista Mercado & Conteúdos
15- Dandara de Morais, de Pernambuco, roteirista Mercado & Conteúdos
16- Diana Paraíso, de Pernambuco, roteirista Mercado & Conteúdos
17- Adry Silva, do Rio Grande

Confira também os vídeos com as defesas de todos os jurados para os filmes escolhidos nesta segunda edição do festival.


Daniel Rodrigues

terça-feira, 4 de junho de 2013

Jamelão - "Jamelão Interpreta Lupicínio Rodrigues" (1972)





“Eu não sou músico, não sou compositor,
não sou cantor, não sou nada.
Eu sou é boêmio.”
Lupicínio Rodrigues


Há quem ironize que Lupicínio Rodrigues era, como cantor, um grande compositor. O célebre músico gaúcho é, inegavelmente, um dos maiores nomes da história da música brasileira, precursor do chamado samba-canção, antes mesmo de contemporâneos seus como Cartola, Herivelto Martins e Nelson Cavaquinho. É reconhecido nacionalmente – mesmo nunca tendo saído da (até hoje) nada promissora mercadologicamente terra-natal Porto Alegre – e já foi gravado por centenas de intérpretes das mais distintas gerações e vertentes, que vão de Orlando Silva a Elis Regina, de Ângela Maria a João Gilbertode Isaura Garcia a Caetano Velosode Nelson Gonçalves a Arrigo Barnabé. Mas era comum acharem que Lupi não servia para cantar. A voz miúda, a la Mário Reis, dolorida como suas letras, não tinha, principalmente naquele longínquos anos 30, quando surgiu para a música, nada a ver com o, este sim, apreciado vozeirão dos cantores impecáveis e técnicos da Rádio Nacional, a “Globo” da época, primeira era Vargas.

Há controvérsias. Tanto que o histórico “Roteiro de um Boêmio”, álbum com quatro discos de 78 rpm gravado em 1952 por Lupicínio com seu vocal original, daquele jeito mesmo, cool e sutil, é considerado por fãs como o definitivo registro do autor de “Se Acaso Você Chegasse”. Mas o jornalista e compositor Hamilton Chaves, mesmo tentando dar uma força ao amigo, mandou-lhe ver na veracidade: “Tu não é cantor, rapaz. Põe na tua cabeça! Neste país subdesenvolvido, cantor é quem tem voz operística”. O próprio Lupi sabia que estava longe de um Caruso. Considerava-se, antes de tudo, um boêmio – o que, de fato, era acima de qualquer coisa. As paixões, os remorsos, as angústias, as brigas, as bebedeiras, as traições, as desilusões, enfim, tudo o que há de mais intenso e sentimental vivido por ele de bar em bar pelas ruas da cidade servia de substrato para o universo de suas composições. Misto de Lord Byron com Nelson Rodrigues, este dândi do subúrbio compôs, fosse sozinho ou com parceiros de copo e canção (como Alcides Gonçalves, Felisberto Martins e David Nasser), obras-primas do chamado samba “dor-de-cotovelo”, uma magnífica metonímia inventada por ele próprio para classificar seu estilo mais característico.

Porém, como dizia outro célebre sambista, Ataulfo Alves, “a maldade desta gente é uma arte”, e a desconfiança com sua autointerpretação sempre pairou, ainda mais por quem, a estas alturas, já tinha sido imortalizado na voz de Francisco Alves, Cyro Monteiro e uma penca de cantores “oficiais”.

Até que surge alguém para dar ponto final à discussão. Amigo pessoal de Lupicínio desde quando, excursionando pelo Rio Grande do Sul nos anos 50, o conheceu, o ilustre Jamelão se encantou com a obra de Lupi e passou a incluir suas músicas em seu repertório tanto de shows como em discos. Autointitula-se, então, sem o menor zelo, como seu principal intérprete. E tinha razão. Nem a impostação excessiva, nem o minimalismo asséptico, mas, sim, um canto possante com toques da malandragem do morro. A lapidação disso está em “Jamelão Interpreta Lupicínio Rodrigues” (Continental, 1972), que traz 12 joias representativas do tesouro que é a obra deste autor, desde as primeiras canções “Meu Pecado” e “Sozinha”, os sucessos radiofônicos “Exemplo” e “Vingança” até clássicos absolutos, como “Nervos de Aço” – aqui, bonita num compasso mais ligeiro que o normal.

Carrancudo e de personalidade forte, Jamelão, antes de tornar-se marca registrada do Carnaval do Rio de Janeiro como o maior puxador de sambas-enredo pela escola Mangueira, desde os anos 60, já era conhecido nas gafieiras como crooner por sua voz encorpada tomada de intensidade e sentimento. E o cancioneiro de Lupicínio fecha totalmente com isso. Acompanhado da excepcional Orquestra Tabajara, uma big-band ao estilo dos grandes grupos de jazz norte-americanos, Jamelão dá um verdadeiro show. Os arranjos, notados com perfeição pelo maestro Severino Araújo, também caem como uma luva, o que não é de se estranhar, uma vez que a melodia lupiciniana, marcadamente escrita em tom menor, carrega com bastante originalidade o arrebatamento sensual do tango e a breguice cult do bolero - além, é claro, da malemolência do samba carioca. Jamelão, por sua vez, solta o gogó a serviço da obra do amigo, um constante flerte entre o vulgar e o sofisticado, entre o coloquialismo e a alta literatura, entre a ironia e o drama. As versões incluídas neste trabalho ganham, assim, a força interpretativa do cantor e o apuro das harmonias, achando a roupagem certa que a música do mulatinho merece.

“Vingança”, de abertura pontuada no naipe de sopros, é notável. “O remorso talvez seja a causa/ Do seu desespero/ Ela deve estar bem consciente/ Do que praticou/ Me fazer passar tanta vergonha/ Com um companheiro/ E a vergonha/ É a herança maior que meu pai me deixou”. Versos de um gênio. A interpretação, que parece sair do âmago de Jamelão, é intensificada pela orquestração, que intercala o andamento suave do piano com os arroubos emocionados da orquestra. “Ela disse-me assim”, a respeito da culpa torturante de um homem pego com as calças na mão pelo marido da amante com ela, é outro destaque do disco: cadenciada, sentida, quase chorosa.

Mais uma história tragicômica é contada em “Um favor”, em que um pobre-diabo pede a quem lhe possa ajudar a encontrar a amada que lhe deu um pé na bunda (“Faça esse mundo acordar/ Para que onde ela esteja/ Saiba que alguém rasteja/ Pedindo pra ela voltar”). O arranjo é especial, principalmente na “deixa” metalinguística da letra ao clamar que músicos e seus instrumentos auxiliem neste chamado desesperado. Claro que a “flauta o trombone e clarim” atenderam. E assim segue em todas as faixas, repletas de dor, angústia e amores não correspondidos como é típico na música de Lupicínio Rodrigues. E Lupicínio Rodrigues cantado por Jamelão, aí mesmo que fica insuperável.

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FAIXAS:

1. Meu recado (Felisberto Martins/ Lupicínio Rodrigues)
2. Homenagem
3. Sozinha
4. Um favor
5. Exemplo
6. Quem há de dizer (Alcides Gonçalves/Lupicínio)
7. Cigano (Martins/Lupicínio)
8. Amigo ciúme (Onofre Pontes/Lupicínio)
9. Torre de babel
10. Nervos de aço
11. Ela disse-me assim
12. Vingança

todas de Lupicínio Rodrigues, exceto indicadas

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Ouça:




quinta-feira, 19 de abril de 2018

Copa do Mundo The Smiths- definição das quartas-de-finais




Senhoras e senhores, que jogaços, hein! 
Só pedreira!
Não à toa convocamos uma equipe de especialistas para nos ajudar a descascar esse abacaxi.
O álbum "The Queen Is Dead" chega com três representantes  mas já sabe que não vai poder colocar todos nas semis pois dois deles se encontram e não é qualquer joguinho, não. São dois dos maiores clássicos da banda. Já 'Meat Is Murder" tem dois times nesta fase sendo uma delas a surpreendente "I Want The One I Can't Have" que veio comendo pelas beiradas e chegou entre as oito. Completam as quartas-de-finais a forte e competitiva "What Difference Does It Make?" representando o disco de estreia e o time entrosado e de futebol envolvente de "Girl Afraid" do álbum "Hatful of Hollow".
Pois então, amigos do ClyBlog, chegou a hora então de conhecermos os quatro semifinalistas e para isso, vamos então saber, um a um, como nossos técnicos encararam e definiram cada confronto das quartas-de-finais.
Vamos aos jogos:




*****



Chave 1
(jogos para José Júnior, Fernanda Calegaro e Cly Reis)


  • THE QUEEN IS DEAD x IWANT THE ONE I CAN'T HAVE


José JúniorI Want The One I Can't Have tem feito um ótimo jogo, mas The Queen Is Dead faz um gol de cabeça.
THE QUEEN IS DEAD classifica.

Fernanda Calegaro5x1 pra I Want The One I Can't Have.
I WANT THE ONE I CAN'T HAVE classifica

Cly ReisConvenhamos,... I Want Th One I Can't Have é legalzinha e tal mas já foi longe demais. Uma quarta-de-final e apossibilidade de chegar entre as QUATRO melhores dos Smiths tá muito pra bolinha dela. Ainda mais pegando The Queen Is Dead pela frente e aquele fúria avassaladora que invade o palácio e cospe na cara da monarquia. 3x0 molinho pra Rainha.
Pra mim, THE QUEEN IS DEAD classifica

Por maioria, THE QUEEN IS DEAD CLASSIFICADA


  • WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE? x MEAT IS MURDER

José Júnior:What Difference Does It Make? entra no campo com vontade. Uma música que tem minha torcida. Mas confrontou Meat Is Murder, com um ataque mais eficaz (ataque ao governo, violência infantil, matança de animais).
MEAT IS MURDER classifica.

Fernanda Calegaro6x0 pra What difference does it make
WHAT DIFFERENCE DOES T MAKE? classifica

Cly ReisEssa sim é páreo duro. Times com boas qualidades e alternativas. Jogo decidido lá pelos 35 do segundo tempo numa bola parada. WTDIM? 1x0.
Para mim, WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE? classifica

Por maioria, WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE? CLASSIFICADA


***

Chave 2
(jogos para Eduardo Almeida, Patrícia Ferreira e Daniel Rodrigues)

  • THE BOY WITH THE THORN IN HIS SIDE x GIRL AFRAID

Eduardo AlmeidaOutro jogo digno de uma final. Equipes bem estruturadas. Atacam bem. Defendem bem. O jogo é bem movimentado, de tirar o fôlego. The boy marca logo no início. É dado o reinício do jogo, e no primeiro ataque, Girl empata o jogo. No final do primeiro tempo, Girl vira o jogo com um jogo mais cadenciado. O segundo tempo continua movimentado, e Theboy marca logo dois gols, virando a partida a seu favor. Mas Girl não desiste, e empata o jogo. Decisão por pênaltis. Cada time converte seu gol, mas o goleiro de Girl consegue agarrar a última cobrança de The Boy. Jogo dificílimo. Resultado final: THE BOY WITH THE TORN IN HIS SIDE 3 (4) X 3 (5) GIRL AFRAID
GIRL AFRAID classifica

Patrícia FerreiraApesar da popularidade de The Boy... o placar fica empatado 3x3 The Boy and Girl. Como não pode haver empate, nos pênaltis The Boy faz 4 a 3 em Girl Afraid.
THE BOY WITH THE THORN IN HIS SIDE classifica

Daniel Rodrigues: Jogo aberto, cheio de chances e gols. “The Boy”, com a imponência de clássico, de hit, marca 2. “Girl”, confiante e atrevida, empata. E vira! E “The Boy” empata de novo. Tudo isso nos primeiros 45 minutos! Que jogo, meus senhores amantes do esporte bretão, pois smithiano! Ambos mexem nos times no segundo tempo tentando conter o adversário. O jogo se transforma numa partida de respeito dos dois lados. Mesmo assim, cada time marca mais um gol. 4 x 4. Muito equilíbrio. Como ficará essa partida? Resultado: prorrogação com direito a gol de ouro. Tensão! Primeiros 15 minutos, nada. Até que, quase encerrando, numa bola lançada pro ataque, “Girl” entra pelo flanco e faz um cruzamento despretensioso da linha de fundo que bate no zagueiro adversário e engana o goleiro e vai parar mansa no fundo das redes. É aquele final surpreendente de “Girl”, que acaba acabando. Final: 5 x 4 para GIRL AFRAID, que classfica.

Por maioria, GIRL AFRAID CLASSIFICADA


  • BIGMOUTH STRIKES AGAIN x THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT

Eduardo Almeida: Bigmouth é daqueles times cheios de craques falastrões, tipo Túlio Maravilha, Romário, Dadá Maravilha. There´s a light é um time mais classudo, com jogares tipo Sócrates, Andrade e Falcão. Ótimos times, Cada um com seu ritmo de jogo. Bigmouth é mais acelerado, e de tanto atacar, marca um gol. O problema é que resolve segurar um pouco o jogo, e There’s a light, como quem não quer nada, numa ótima troca de passes de seus craques, empata a partida. Ambos os técnicos vão para o intervalo cheio de táticas para vencer o jogo. A correria de um, e a tranquilidade de outro. Tudo leva a crer em outra disputa de pênaltis, mas num descuido da defesa adversária, Bigmouth consegue um lançamento bem eficaz, e encontra um de seus artilheiros lvre para marcar o gol da classificação. Resultado Final: Bigmouth 2 x 1 There's a Light.
BIGMOUTH STRIKES AGAIN classifica

Patrícia Ferreira: There is a light...vs Bigmouth é um jogo MUITO difícil.
Mas There's a Light ganha.
THERE'S A LIGHT THT NEVER GOES OUT classifica

Daniel Rodrigues: Clássico do universo smithiano, é um jogo entre iguais: dois hits, duas faixas da mesma idade, do mesmo disco, com a mesma aura mítica. “Bighmouth”, mais atrevida, agitada, de toques rápidos. “There”, mais cadenciada, mas que sabe onde quer chegar. 1 x 1 até a segunda metade do segundo tempo, quando “There”, com seu estilo manso vai adensando seu jogo, principalmente quando entram aquelas cordas e aquele solo de teclado que mais parece uma flauta doce. Time que sabe as qualidades que tem. Com isso, “There” marca o segundo e fica em vantagem. Bigmouth”, como time grande que é, vai pra cima e cria diversas oportunidades. Bola na trave, defesaça do goleiro, gol perdido pelo centroavente que nunca erra. Não teve jeito. Não era dia de “Bigmouth” e “There” consegue uma vitória no sufoco no talvez mais difícil jogo até aqui da Copa Smiths. THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT classifica.

Por maioria, THERE'S A LIGHT THAT NEVER GOES OUT CLASSIFICADA


***

Classificados para as semifinais:
THE QUEEN IS DEAD
WHAT DIFFERENCE DOES IT MAKE?
GIRL AFRAID
THERE'S  LIGHT THAT NEVER GOES OUT