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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Antonio Carlos Jobim - "Wave" (1967)


Acima, a capa original
seguida da capa da reedição.
“O essencial é invisível aos olhos
 e só pode ser percebido
com o coração.”
Antoine de Saint-Exupéry


O ano de 1967 carrega uma aura mítica para a música moderna, pois marcou incisivamente a vida e a obra de artistas importantes e, consequentemente, da música em geral. Na Inglaterra, os Beatles mandam às favas o Iê-Iê-Iê e ousam dar um passo adiante com o lançamento de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", mudando para sempre a rota da música pop. Com semelhante peso, mas nos Estados Unidos, o The Velvet Underground, sob a batuta de Andy Warhol, surpreenderia o mundo com um LP de estreia onde casam rock, poesia, psicodelia, contracultura e vanguarda. Aqui no Brasil, também ventos de revolução: Gilberto GilCaetano VelosoMutantes e cia. lançam “Tropicália”, disco-manifesto do movimento tropicalista, que influenciaria todas as gerações seguintes de “emepebistas” e roqueiros brazucas e estrangeiros. Isso para ficar em apenas três exemplos.

Porém, 1967 também selaria a carreira de outro artista, experiente e já consolidado desde os anos 50: o maestro e compositor Antonio Carlos Jobim. Depois da exitosa estreia solo no mercado fonográfico norte-americano quatro anos antes, Tom havia antes disso ajudado a difundir para o mundo a já consagrada bossa nova. Para completar, ainda realiza, no início daquele mesmo ano, um feito jamais alcançado por um músico latino até então: gravar com o maior cantor popular de todos os tempos, Frank Sinatra. O disco “Francis Albert Sinatra and Antonio Carlos Jobim”, um sucesso de vendas, é tão definitivo que decreta, aliado ao desencanto de uma Rio de Janeiro que passou de paradisíaca a ditatorial com o Golpe de 64, além da força dos festivais, popularescos demais para a sofisticação da bossa nova, o fim da chamada primeira fase deste estilo. Então, para que caminho ir agora? Render-se ao poderio yankee e seguir produzindo uma música “made in USA” ou voltar para um Brasil linha-dura e atrasado tecnicamente simplesmente para não fugir às raízes?

O que para alguém menos preparado seria uma encruzilhada, para o “maestro soberano” foi resolvido de forma leve como uma onda que quebra mansa na praia. Ao invés de criar um paradoxo, Tom criou “Wave”, álbum gravado em apenas três dias do mês de julho daquele fatídico 1967 no célebre estúdio Rudy Van Gelder, em Nova York (uma antiga igreja adaptada cuja elogiada acústica presenciou sessões memoráveis do jazz, como "Night Dreamer"  de Wayne Shorter  e “Maiden Voyage”, de Herbie Hancock). Nele, se vê um artista inteiro e num momento de alta criatividade. Valendo-se de toda a técnica disponível somente naquele país até então, além de contar participações mais do que especiais – como a do mestre Ron Carter deixando sua assinatura faixa por faixa com seu baixo acústico, ou da fineza do spalla da Orquestra Filarmômica de Nova York, Bernard Eichen –, Tom apura ainda mais a sofisticação harmônica e melódica da bossa nova, seja nas composições inéditas ou nos novos arranjos para as antigas.

A começar pela faixa-título, que já nasce clássica. “Wave”, uma das mais conhecidas e celebradas canções brasileiras, abre o disco em seu primeiro e primoroso registro, dois anos antes de receber do próprio Tom a linda letra que a identificaria – e a qual, mesmo ouvindo somente os sons, é impossível não cantarolar ao escutá-la: “Vou te contar/ Os olhos já não podem ver/ Coisas que só o coração pode entender/ Fundamental é mesmo o amor/ É impossível ser feliz sozinho...”. Instrumental como praticamente todo o disco, mostra a beleza e o refinamento da orquestração do maestro alemão Claus Ogerman (que assina os arranjos), em sua terceira parceria com o colega brasileiro.

 Elegante, o disco resgata o legado da bossa nova, porém, sempre lhe trazendo algo a mais. Em “The Red Blouse” e “Mojave” (minha preferida), principalmente, nota-se a força da influência do primordial violão sincopado e dissonante de João Gilberto, tocado pelo próprio Tom – que ainda opera piano e cravo no disco. Vinicius, o outro protagonista da bossa nova, também se faz presente indiretamente na letra da única cantada do álbum: “Lamento”. Nova versão para “Lamento no Morro”, interpretada por Roberto Paiva na trilha da peça “Orfeu da Conceição”, que Tom compusera com Vinícius em 1956 –, é mais uma vez resultado do avanço proposto por Tom. Mesmo meses depois de gravar com a maior referência em voz da época, ele não se intimidou e pôs-se a fazer algo que não lhe era tão comum até então: cantar. Insatisfeito com sua primeira experiência vocal, no LP anterior, “The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim” (1965), o maestro, ora veja!, voltou a estudar canto e respiração. O empenho resultou numa peça majestosa, que virou um marco da segunda fase da bossa nova. O lindo solo de trompete é um exemplo disso, uma vez que, pincelando-a com uma elegância toda jazzística, renova uma canção arranjada, em virtude do tema da peça original, como um samba de morro.

Há ainda “Dialogo”, um belo samba-canção em que o trompete e a trompa dizem notas sofridas um para o outro; “Look at the Sly” (regravação para “Olhe o Céu”), de perfeita harmonização entre orquestra e instrumentos solo; “Triste”, que, assim como a faixa-título, estreia aqui e viraria um clássico posteriormente – ainda mais na gravação de Elis Regina com o próprio compositor, sete anos depois; e “Batidinha”, um samba com os ares da Copacabana dos anos 50 fortes o suficiente para soprarem e serem sentidos na cosmopolita Big Apple. O disco termina alegre com a colorida “Captain Bacardi”, onde Tom aproxima Brasil, Cuba e Estados Unidos com leveza e sabedoria.

“Wave” é, por várias razões, um trabalho de homenagem à bossa nova mas, acima de tudo, um passo adiante na trajetória de seu autor e da música brasileira. Um disco que soube manter nova a bossa. Se Tom Jobim ainda sofria com a crítica dos detratores por fazer um samba sem personalidade e para estrangeiro ver, “Wave” se impõe com seu altíssimo refinamento e apuro, forjando uma obra tão homogênea que é impossível classifica-lo só como bossa nova, samba, jazz ou (termo que seria inventado tempo depois) world music. É, simplesmente, música, música sem fronteiras, daquelas que não perdem a validade e que poderia, se Tom estivesse vivo, ter sido gravada ontem sem se sentir a diferença de épocas. Ao mesmo tempo universal e fincada em suas raízes. Algo que só mesmo quem carrega “brasileiro” no nome poderia realizar, fosse no Brasil ou em qualquer parte do mundo.
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Os versos iniciais de “Wave”, contou Tom Jobim certa vez, surgiram de duas fontes: a primeira frase é de autoria de ninguém menos que Chico Buarque, a quem Tom entregara a música para que o amigo inventasse a letra. Porém, bloqueado, Chico não consegui passar do verso: “Vou te contar”. Cansado de esperar pelo parceiro, sobrou, então, o restante ao próprio Tom escrever, o qual se inspirou num texto do escritor infanto-juvenil francês Antoine de Saint-Exupéry extraído do clássico “O Pequeno Príncipe”, obra a qual Tom havia musicado em 1957 para a interpretação do ator e diretor teatral Paulo Autran.
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FAIXAS:
1. "Wave" - 2:51
2. "The Red Blouse" - 5:03
3. "Look To The Sky" - 2:17
4. "Batidinha" - 3:13
5. "Triste" - 2:04
6. "Mojave" - 2:21
7. "Diálogo" - 2:50
8. "Lamento" (Vinicius de Moraes/Tom Jobim) - 2:42
9. "Antígua" - 3:07
10. "Captain Bacardi" - 4:29

todas de Tom Jobim, exceto indicada
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Ouça:





terça-feira, 21 de dezembro de 2021

"Clube da Esquina: Milton Nascimento e Lô Borges", de Paulo Thiago de Mello - coleção "O Livro do Disco" - ed. Cobogó (2018)




"O disco não era tropicalismo ou bossa nova, 
tampouco era canção de protesto, rock, MPB, 
clássica ou pop, como o Secos & Molhados, 
mas englobava a seu modo tudo isso 
de uma forma que soava 
simultaneamente "natural" e moderna. 
A sofisticação da música era perceptível até mesmo 
para uma audiência não especializada."
Paulo Thiago de Mello




Sempre gosto de comentar aqui sobre as publicações da série O Livro do Disco, exatamente por unir dois dos itens mais adorados por nós do blog: música e literatura. A coleção faz o serviço de dar o devido valor e esmiuçar origens, inspirações, trabalho técnico, contextualizações de obras que deixaram sua marca não só na música como mais também na sociedade e no comportamento a partir de sua existência.
Dessa vez tive o prazer de me deliciar com o trabalho do jornalista e pesquisador Paulo Thiago de Mello sobre o clássico álbum "Clube da Esquina", oficialmente de Milton Nascimento e Lô Borges, mas que envolveu muito mais gente talentosa e significativa em sua concepção e acabamento, os verdadeiros integrantes do clube. O livro, além de recuperar essa origem mineira do ponto de encontro dos integrantes para papos intelectuais, no cruzamento das rua Divinópolis com a rua Paraisópolis, examina as influências e formações musicais do time de músicos, de música clássica a Beatles, de jazz a samba, de música latina a rock progressivo; situa a importância e o impacto do disco em meio à ditadura militar, estabelece relações dele com outros álbuns importantes naquele prolífico 1972, de "Transa", "Ben", "Acabou Chorare", e especialmente com a Tropicália que, meio que estabelecia, à época, uma pequena rivalidade com a turma de Minas.
Ainda que considere todas essas facetas, todos esses envolvimentos paralelos, o autor, apaixonado desde sempre pela obra, aborda, como não poderia deixar de ser, a parte musical, especificamente, e dedica um capítulo inteiro especialmente para se debruçar sobre cada uma das 18 canções do disco que, por sinal, era singular até mesmo em seu formato, sendo um dos raros álbuns duplos em sua época.
Uma curiosidade que Paulo Thiago conta é que, embora carregassem o nome da "esquina" de Belo Horizonte e por ela fossem conhecidos, efetivamente, apenas os irmãos Márcio e Lô Borges, e Beto Guedes eram realmente frequentadores assíduos dos barzinhos do local. Milton já vivia no Rio e depois de problemas com os vizinhos em noitadas musicais com os parceiros Fernando Brant e Ronaldo Bastos, num apartamento no bairro do Jardim Botânico, acharam por bem alugar uma casa na praia de Piratininga, em Niterói, que acabou sendo a verdadeira base do clube e o lugar onde houve o maior avanço e desenvolvimento das canções e da ideia geral do disco. Um clube da praia, um clube da cidade, um clube de Minas, um clube do Rio, um clube do boteco, um do apartamento, enfim, de certa forma essa itinerância definia melhor do que qualquer coisa a universalidade do que aquela turma estava fazendo. O clube não era de nenhum lugar e era de todos. Era como aquela música: não era música de Minas, o que aqueles caras faziam era música do mundo. O próprio verso de Brant e Márcio Borges, em "Para Lennon e McCartney", de seu disco anterior quase premonitoriamente já definia o espírito daquele projeto artístico-musical ímpar: "Sou de Minas, sou do mundo".



Cly Reis

sábado, 5 de novembro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - Campeã

 



Chegou o grande momento.
Conheceremos a grande canção campeã.
Nossos especialistas se debruçaram sobre o confronto, ouviram e reouviram as duas concorrentes e chegaram às suas conclusões.
Querem saber qual a melhor música de Gilberto Gil?
Vamos lá, então!

(Esse suspense é que me mata.)


*****

PALCO 
X
REALCE



*******


Cly Reis

Final muito justa. Duas das canções mais significativas de Gilberto Gil chegam a esse momento máximo da nossa Copa. Dois times que jogam pra cima, duas músicas alto-astral, positivas. "Palco" com sua exaltação ao lugar sagrado do músico, onde ele se sente mais vivo, renovado, e "Realce" uma evocação do nosso poder interior e uma conclamação às belezas da vida.
Dentro do campo, se Palco começa com aquele seu "Papapapabaia, papapa pabaia, papapa papá...", Realce não deixa por menos e manda o seu "Hey-ah mama, hey-ah..."; letra por letra, ambas trazem toda a mestria da poesia de Gil, com seu jogo de palavras inigualável e recado repleto de sabedoria; se Realce tem aquela guitarra marcante, estridente, que já se apresenta logo na abertura, os metais precisos e o refrão muito disco; Palco traz um suingue rico e embalado, também cheio de metais e, por sua vez, uma pegada soul contagiante. O 0x0 persiste mas, o refrão decide o jogo: apesar do ótimo refrão de Realce, do título repetido entre as linhas de metais, o "fora daqui" de Palco é uma das coisas mais fantásticas da música brasileira. 1x0, apertado, no limite, no detalhe, mas o suficiente para despachar Realce. Vitória de Palco.
PALCO 1 x REALCE 0


****

Joana Lessa

O jogo já começa quente, com duas músicas na disputa que são o suprassumo de Gilberto Gil. O clássico dos clássicos. 
E como acontece nas finais de campeonato, que vença o melhor:
PALCO 2 x REALCE 3

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Leocádia Costa

Final de campeonato é sempre muito disputado, por isso o placar costuma ser taco a taco. Aqui não poderia ser diferente. Duas grandes finalistas foram pra decisão. Ambas muito identificadas com Gil, o maestro genial de toda essa temporada. Mas depois de muita torcida, desclassificações e reviravoltas, chegamos no essencial. Isso foi bonito! A canção vitoriosa foi Palco que traduz Gil por inteiro: essa voz que resgata com dignidade e crítica a história do povo negro, essa voz que eleva os ouvintes quando canta e nos coloca a repetir palavras e refrões supermelodiosos, essa voz que revela um artista completo, atemporal e genial. Palco é o lugar de Gil, é lá onde ele sempre estará, pra fora dos nossos corações.
PALCO 4 x REALCE 3


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Kaká Reis

Final mais que apertada, com duas das mais emblemáticas músicas do gênio Gil, que ambas trazem a essência musical do artista, ainda que de épocas muito parecidas (final de 70/inicio de 80) individualmente cada uma carrega um Gil diferente. Em comum, a celebração e a energia… Dito isso, adversarias no campo, Palco começa o jogo marcando 1 e na sequência Realce empata.. à medida que se passa os minutos da música, Realce marca mais um, dininuindo a diferença… e nos segundos finais, é um “real teor de belezaaa” Realce emplaca o terceiro, sendo a grande vencedora dessa emocionante disputa!
PALCO 1 x REALCE 3


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Daniel Rodrigues

É chegada a hora da grande decisão! “Realce” e “Palco” entram em campo sob os efusivos aplausos das torcidas. De um lado, a galera de “Realce”, toda colorida e entusiasmada pela Coligay. Do outro, a torcida mais cheirosa do campeonato rufava o louco bum-bum do tambor da arquibancada. O jogo nem parece uma final, pois ambas as equipes são propositivas, afirmativas, sem medo de serem felizes. Tanta igualdade, que 1 x 1 é o placar da primeira etapa. Na volta do intervalo, “Realce”, empurrada pela torcida, que jogou quilos de serpentina no gramado, vai pra cima e marca o segundo. Será que temos uma campeã? Mas, calma, que tem muito jogo – e muita música – pela frente! Consciência é o que não falta para “Palco”, que põe a bola no chão e, no ritmo do “la la ia”, entra na área adversária de pé em pé e empata novamente. Faltam apenas 5 minutos mais os acréscimos para terminar! Será que vamos para os pênaltis? Que nada. Valendo-se do talento de um tal de Lincoln, tipo meio magrão mas muito bom armador, “Palco” tira da cartola aquele que seria o gol definitivo. O gol da vitória. O gol do título. Final: “Palco” 3, “Realce” 2. No palco montado sobre o campo, “Palco” levanta a taça! Sua torcida, em respeito, vibra mas não canta o “Fora daqui!” como fez pras outras adversárias durante o torneio, e a torcida de “Realce” responde com festa em embalo disco, porque a essas alturas tudo é tipo Parada Gay. “Palco” campeã da Copa Gil!
PALCO 3 x REALCE 2


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Rodrigo Dutra

Como não amar “Realce”? A campeã poderia ser qualquer uma de “Refazenda”, qualquer uma de “Tropicália”, poderia ser “Domingo no Parque”, qualquer releitura de João, de Bob, qualquer parceria com Caetano... mas o fato é que “Realce” é a beleza em si. “Palco” é a beleza no todo. A razão por Gil estar em nossas vidas. Onde tudo faz sentido pra criador e criaturas. “Palco” ganha com eficiência. Tem o melhor elenco de palavras e versos. Viva Gil! Viva “Palco”!
PALCO 2 x REALCE 0



E Palco conquista a Copa do Mundo Gilberto Gil!
E agora, o próprio homenageado sobe ao PALCO para receber
a taça.
Pode soltar o grito de É CAMPEÃ!!!



PALCO CAMPEÃ
DA 
COPA DO MUNDO
GILBERTO GIL




E ficamos com o som da campeã:


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados da segunda fase


Eis os classificados na segunda fase, que avançam no nosso pequeno certame futebolístico-musical.
Rapai..., a coisa foi braba nessa segunda fase! Nossos julgadores tiveram enorme dificuldade e alguns nomes grandes, potenciais candidatos, ficaram pelo caminho: "A Paz", "Se eu quiser falar com Deus", "Barracos", Ê, povo, ê", "Parabolicamará", "Extra", foram algumas das "camisetas pesadas" que deram tchau para a competição.  
E quer saber? 
Vai piorar. 
Ou melhorar, dependendo do ponto de vista. 
A partir de agora, a coisa afunila mesmo, e só as fortes sobreviverão. 
Aguardemos para ver. Aguardemos.
Confere aí, abaixo, quem avança na competição:






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resultados de Leocádia Costa


La Renaissence Africane 2x3 Ilê Ayê
O jogo virou e favoreceu esse hino que ecoa ancestralidade por todos os poros. Vitória justa!


Copo Vazio 1x3 Marginália 2
A poesia profética e cortante de Torquato Neto arrasou a canção cheia de lirismo. Sem chance de reação.


O Som da Pessoa 3x2 O Eterno Deus Mu Dança!
A disputa foi acirrada, mas “O Som da Pessoa” é pura poesia. E esse violão, minha gente!!! Agitou a galera!


Filhos de Gandhi 4x0 Ê, Povo, Ê
A canção que arrasta milhares de pessoas quando esse bloco sai em Salvador emociona demais. Essa música é “Filhos de Gandhi”. Clássico é clássico!


Three Little Birds 3x0 Ela
Bob Marley na voz de Gil é mágico. É como Garrincha jogando com Pelé, sabe? Essa canção é uma das minhas prediletas. Me sinto voando quando a escuto.


Panis et Circenses 3x2 Refavela
Jogo difícil, porque ambas são muito representativas, timaços em campo. Dessa vez fico com a lendária “Panis et Circenses”, que migrou para outros intérpretes e continua intacta, eterna.


Serafim 1x 3 Sítio do Pica-Pau Amarelo
O jogo foi fácil, porque o emocional atingiu a concentração dos competidores. Primeira infância emplacando os corações.


Oriente 3x0 Chuck Berry Fields Forever
A magistral canção que cresce quando executada não deu espaço e ganhou de lavada do adversário.

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resultados de Kaká Reis


Flora 1x0 Joao Sabino
Essa disputa já chegou de forma bem desafiante! Joao Sabino era até então desconhecida por mim, porém de uma enorme genialidade. Mesmo assim, nessa disputa. Flora vence por 1x0.

Esotérico 5x0 Norte da Saudade
Nem bem o juiz apitou e Esotérico meteu 5 bolas na rede! Essa é quase imbatível!

Punk da Periferia 1x3 Domingo no Parque
Complicou o meio de campo! O jogo abre com Domingo No Parque abrindo vantagem. Punk da Periferia consegue emplacar um gol, mas antes do final do 2º templo, Domingo no Parque fecha o Placar em 3x1. É muita música!!!!

Amarra o teu arado a uma estrela 1x0 Cores Vivas
Mais um confronto com uma “inédita” pra mim. Dessa vez, dificílimo julgamento da juiza! Rs. E acreditem se quiser, nessa disputa, conseguiu cravar 1x0 em Cores Vivas, ganhando a disputa.


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resultados de Joana Lessa


Drão 3x2 Barracos
Num clássico como esse, a disputa é apertada. Drão veio metendo 2, até que Barracos encostou. Mas no final deu Drão.


Lamento sertanejo 1x2 Andar com Fé
Placar apertado, mas pode se dizer que Andar Com Fé ganhou com uma certa tranquilidade.


Zumbi 5x2 Batmacumba
Zumbi já chegou goleando, mesmo com uma pequena reação de Batmacumba


Cinema Novo 1x3 Vitrines
Vitrines levou com facilidade. Já era superior antes mesmo de entrar em campo.


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resultados de Rodrigo Dutra


Lugar Comum 0x2 Maracatu Atômico
Ah, eu amo Lugar Comum por ser a cara de Donato, mas “Maracatu Atômico” é de Jorge Mautner e lembro como a versão de Chico Science definiu o Mangue Beat nos anos 90. “Manamaê ô!”


Quilombo, o Eldorado Negro 0x1 Aquele Abraço
“Aquele Abraço” pros quilombos. A música que Gil fez pra se despedir do Brasil é uma das favoritas ao título. Alô, Alô ClyBlog, olha o breque!


Queremos Saber 1x2222 Expresso 2222
Uma pena “Queremos Saber” enfrentar esse verdadeiro trem de ferro que é a magnífica “Expresso 2222”. É o retorno de Gil pro Brasil, é o olhar pro futuro, além do balanço forrozeiro único. Goleada absurda!


Procissão 0x0 Palco (2x3)
“Palco” ganha nos pênaltis, porque “Procissão”, embora seja pura poesia e tenha ouvido tanto na vida, não atinge o grau festeiro, oitentista, sagrado e popular de “Palco”, trilha até de Chiquititas.


Parabolicamará 2x4 Tempo Rei
Sou noveleiro, mas tenho que reverenciar a Coroa. “Tempo Rei” ganha com autoridade oitentista. Clássica!


Back in Bahia 1x0 Geleia Geral
Essa faço chorando, porque “Geleia Geral” é tão legal! Torquato Neto, Tropicália, Pindorama, a mistura regurgitofágica desses anos de ouro. Mas “Back in Bahia” é mais poderosa, em melodia e significado.


A Paz 4x5 Toda Menina Baiana
Outra parada duríssima. Queremos paz para nuestro pueblo, mas as meninas baianas imperfeitas se sobressaem. Foi um placar acirrado que Deus deu.


Kaya N'gan Daya 2x0 Nêga
“Nêga” caiu no ritmo contagiante da tribo fumacê jamaicana e perdeu o jogo. Trench Town ganhou de Londres.


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resultados de Daniel Rodrigues


Pai e Mãe 0x3 Refazenda 
Clássico Regional! Jogo de clubes (músicas) do mesmo lugar (disco). Mas é mais ou menos Inter x São José, Flamengo x Ameriquinha ou Atlético Mineiro x América Mineiro, sabe? Por mais que “Pai e Mãe” tenha bons momentos, emocionantes até, não tem como competir com “Refazenda”, que impõe seu esquema, refazendo tudo. Time que tem paciência de ver amadurecer o gol. Sabes ao que estou me referindo, né? O tempo demora a trazer o gol, mas, sem desistir, “Refazenda” chega ao primeiro e depois a bonança veio ao natural. Com tranquilidade, “Refazenda” fecha com uma quase goleada de 3 x 0.


Extra 0x1 Realce 
Reggae versus disco music. Seriedade versus alegria. Reflexão versus espontaneidade. Quem sai vencedor neste duelo de opostos? “Realce” se vale de seu futebol propositivo, sem medo de ser feliz, enquanto “Extra” tem um esquema bem pensado, que sabe onde quer chegar. Mas “Realce” não desespera, pois quando vai pro ataque fere a tal ponto que nenhum mágico interferirá. Tanto foi que, de repente, brilhou: “Realce” marca ali pela metade do primeiro tempo aquele que seria o gol da vitória. Apertada, mas suficiente para lhe colocar na próxima fase da Copa Gil. E a organizada LGBTQIA+ na arquibancada vai à loucura!


Super-Homem (A Canção) 2x1 Tradição 
Outro clássico de músicas irmãs. Os dois se sentem em casa. Mas “Super-Homem” entra em campo com uma vantagem, pois é ela que antecede justamente “Tradição” no disco e tem a função de lhe “passar a bola”. Só que ela devolve a bola no círculo central, porque conseguiu abrir o placar. Mas não tem jogo perdido! É o tipo da partida que tem emoção até o fim. “Tradição”, como o nome diz, tem uma camiseta pesada e muito recurso de gingado e empata. No segundo tempo, segue a igualdade: a emotividade de “Super-Homem” e a qualidade amadiana de “Tradição”. Até que, mudando como um Deus o curso da história, o super-homem veio restituir sua canção à glória, que marca no finazinho (ali quando Gil dá aquele agudo lindo: “Por causa da mulheeeer...”) e esta grande partida se encerra assim: 2 x 1 para “Super-Homem (a canção)”


Essa é pra tocar no rádio 0x1 São João Xangô Menino 
Jogo disputado, com muitas oportunidades de cada lado, chances de gol, bola na trave, gol anulado e... nada de sair do zero. Times bem parelhos: “São João” com status de Doce Bárbaros e “Essa...”, que já entra em campo desta vez não com a formação de “Refavela”, mas a de “Gil & Jorge”, ou seja, com um futebol mais malandro, ousado, pautado no “dibre”. Mas ninguém resiste àquele refrão móvel de “São João”, ainda mais naquele em que tasca várias referências a discos de Caetano, Gil, Gal e Bethânia (“Viva Refazenda/ Viva Dominguinhos/ Viva qualquer coisa/ Gal canta Caymmi/ Pássaro proibido”). Partida resolvida no detalhe, “São João” marca o seu e solta foguete pra comemorar. 1 x 0, placar final.


Meio de Campo 0x1 Raça Humana 
Outra parada dura. “Meio de Campo” se vale do privilégio de ser das poucas músicas de Gil com referência ao futebol, o que já a põe em vantagem. Outro fator importante: música pra voz de Elis Regina. Ou seja, daquelas de respeito. Só que ela, naquela filosofia “Eu não sou Pelé nem nada, se muito for eu sou um Tostão”, atacava, atacava, e nada de sair do zero. “Fazer um gol nessa partida não é fácil, meu irmão”, falou o técnico já irritado. E como camiseta não ganha jogo e não adianta manter o jogo só no meio de campo, a adversária, com leitura cirúrgica do fator humano, riscou, rabiscou e pintou um golaço na meta defendida pelo goleiro que joga na seleção. “Entrou com bola e tudo!”, disse o narrador. E foi assim que a partida se resolveu: com um belo gol, construído com trabalho de Deus. 1 x 0 “Raça Humana”.


Haiti 1x0 Se eu quiser falar com Deus 
Pedreira num jogo de iguais, mesmo que de épocas diferentes. A diferença de 12 anos a mais não fez com que “Se eu...” se intimidasse com o vigor da adversária e abre o placar. Mas “Haiti” não se assusta com a reza brava da adversária e reage em seguida, empatando. A partir daí o jogo fica encroado, nervoso, com os dois times se respeitando. Foi então que, numa distração de “Se eu...”, a ousada “Haiti” aproveita uma escapada pela ponta, na hora do rap de Gil (“111 presos, mas presos são quase todos pretos...”) e define: 1 x 0. “Haiti”, que não veio pra brincadeira nessa Copa, tira uma das fortes candidatas. Mas futebol é isso, e a torcida canta: “O Haiti é aqui!”


Cálice 2x0 Tenho Sede 
“Tenho Sede” é daquelas músicas tão bonitas que lhe cabe com precisão o termo “terna”. Só que pra jogar um torneio tão disputado tem que estar com a condição física em dia. “Cálice”, agressiva e com time bem posicionado (tendendo, muitas vezes, a fazer suas jogadas pela esquerda, obviamente), vale-se que a adversária cansou um pouco, precisava se hidratar, e aproveita essa queda de rendimento para forçar o jogo. Depois de uma tabelinha entre Gil e aquele atacante contratado do Politheama fã de Canhoteiro, o Chico, mete na rede. Na comemoração, dedinho em riste no lábio mandando recado pra torcida adversária: “Cale-se!”. Com mais um pra decretar o placar final, “Cálice” faz 2 x 0 e fecha a conta.


Só quero um xodó 0x1 Barato Total
Sabe aquele time que tem um futebol bonito, que todos gostam de ver, e que tem carisma junto ao público? “Só quero um xodó” é assim. Parceria Gil e Dominguinhos não poderia dar noutra coisa, né? Mas o problema é que ela pegou pela frente a potente “Barato Total”. Música de muitos recursos (rítmicos, timbrísticos, harmônicos, vocais), que entra em campo com aquela aparente displicência, cantando “lalalá”, mas, no fundo, tá superligada na partida. A aposta é no futebol alegre, afinal, quando a gente 'tá contente, nem pensar que está contente a gente quer: a gente quer, a gente quer, a gente quer é fazer gol, claro! Vitória simples de 1 x 0, que poderia ter sido 2 ou 3 se “Barato...” não se esquecesse de vez em quando do seu compromisso de ganhar a partida.


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CLASSIFICADOS PARA A TERCEIRA FASE:
Drão
Andar com Fé
Zumbi
Vitrines
Barato Total
Cálice
Haiti
Raça Humana
São João Xangô Menino
Super-Homem (A Canção)
Realce
Refazenda
Kaya N'gan Daya
Toda Menina Baiana
Back in Bahia
Tempo Rei
Palco
Expresso 2222
Maracatu Atômico
Aquele Abraço
Flora 
Esotérico
Amarra o teu arado a uma estrela
Domingo no Parque
Oriente
Sítio do Pica-Pau amarelo
Panis et Circences
Ilê Ayê
Marginália 2
O Som da Pessoa
Filhos de Gandhi
Three Little Birds



Agora, tem novo sorteio, e nos próximos dias, 
divulgaremos os confrontos da nova fase da Copa Gil. 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados para a final




Quatro grandes músicas!
Apenas duas delas chegarão final e somente uma delas será consagrada a Melhor Música de Gilberto Gil.

A contundente Haiti, música do disco de parceria com Caetano Veloso, comemorativo dos 25 anos da Tropicália, teve pela frente a emblemática Palco, uma das canções mais marcantes e adoradas da carreira de Gil. Na outra ponta, a poderosa canção Super-Homem, letra sensível e inspirada, encara a radiante, festiva, positiva, Realce.
E agora, gente? 
Nossos seis comentaristas-jurados-técnicos-especialistas-gilbertogilólogos, encararam a dificílima tarefa de escolher as 2 classificadas para a final, as que, agora, apresentamos para vocês. 
Será que são as mesmos que você classificaria?

Dá uma olhada:


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HAITI 

PALCO



resultado de Leocádia Costa

Jogo bem difícil, meus amigos! "Haiti" entra em jogo com muita força, porque tem em si, letra e música, muito importantes e faz parte das canções de Gil que tocam no fundo da alma da gente. Ancestralidade pulsando. Porém, "Palco" é uma canção que se pudesse ser vestida, com certeza, seria Gil totalmente dos pés à cabeça. Vibrante, crítica, cheia de poesia, espiritualidade faz parte do meu repertório desde 1981. Não consigo pensar "Palco" na voz de outra pessoa e palco é o lugar onde Gil arrasa! Placar final, de goleada, 4X1 para Palco.
HAITI 1 x 4 PALCO

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resultado de Cly Reis

Mal começa o jogo e Haiti já sai tomando um gol pelo fato de, para meus critérios, não ser uma música da obra exclusiva de Gil. Baita música, coisa e tal mas é GIL E CAETANO. Quando tiver a Copa Gil e Caetano, ela pode ganhar, mas na Copa Gilberto Gil, ela está fora. 1x0 para Palco que, além disso tem muitos méritos e é uma das melhores músicas da discografia do baiano imortal. 
HAITI 0 x 1 PALCO

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resultado de Kaká Reis

Bem, minha batalha certamente é das mais decisivas. Haiti sempre favorita ao título enfrenta o sucesso absoluto Palco.
Nos 15 primeiros minutos ja estamos em 1x1, os versos e a crítica social de Haiti aumentam a vantagem, e logo em seguida, Palco marca mais um por ser quase um hino às mazelas de todos os tempos “o inferno, fora daqui!!!!”.
Nos minutos finais, prorrogação, Haiti marca seu desempate, por carregar consigo tanta genialidade, batuques do nosso povo e por ser uma das músicas mais importantes historicamente para a minha pessoa.
É, Palco… vc é e foi fundamental nessa discografia, mas hoje, quem vai pra final é
HAITI 3 x 2 PALCO


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SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) 
REALCE



resultado de Joana Lessa

Uma semifinal com cheiro de final: Super Homem e Realce entram em campo como grandes campeões. 
Mas a tradição se impõe e o espírito que cristaliza o estilo de jogo do Gil, faz Realce ganhar por 1x0.
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE 

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resultado de Rodrigo Dutra
 
Foi muito difícil. A lindeza da melodia e a inspiração fílmica resultando na fragilidade e no lado feminino do homem, na harmonia entre casais. Mas não foi o suficiente pra derrotar a própria ode à beleza que é o disco/funk Realce. Dessa vez o Super Homem não vai mudar o curso da História. Está eliminado.
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE


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resultado de Daniel Rodrigues

Daqueles clássicos de times do mesmo disco. E numa semifinal! Me segura! De um lado, “Super-Homem- A Canção”, de uniforme azul e vermelho e escudo com o “S” em fundo amarelo. Um babado! Do outro, “Realce” com sua camiseta multitons nas cores do arco-íris combinando a mesma estampa na camiseta, no short e nas meias (e mais umas purpurinas pelos por cima, porque quem vai pro jogo tem que ir montada, né, bicha?). Pode-se dizer que é o clássico que saiu do armário para o campo. Nessa igualdade de canções tão sensíveis quanto fortes, “Super-Homem” pede ajuda da porção mulher, resguardada até certa altura da partida pelo técnico, o que foi um erro estratégico tremendo diante da adversária. Atrevida, sem dever nada e sem medo de cara feia, “Realce” entra dançando na área estilo Dancin’ Days e marca aquele que foi o gol da vitória. Vitória de quem, de forma empodeirada, mudou o curso da história sem precisar de superpoderes. “Realce” lacrou!
SUPER-HOMEM 0 x 1 REALCE


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FINALISTAS
REALCE
PALCO



Nossos julgadores irão analisar o confronto, cada um dos times, seus méritos, virtudes, possibilidades, pontos fracos e fortes e decidirão quem leva o caneco. 
Fique ligado que, no sábado, dia 05 de novembro, sai o campeão.




segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Copa do Mundo Gilberto Gil - classificados para as semifinais


 Momentos decisivos, senhoras e senhores!

Apenas quatro passam nessa fase e a hora da decisão se aproxima.

Surpresas? A essas alturas não se pode dizer que algum resultado tenha sido surpreendente nessas quartas-de-final, com tantas boas concorrentes. Só musicão! No entanto, não dá pra ignorar que uma potencial (forte) favorita ao título ficou pelo caminho: "Palco" deu um abraço de despedida em "Aquele Abraço" e mandou o samba exaltação ao Rio de Janeiro fazer as malas e tomar o caminho do Galeão. 

Uau! Por essa muita gente não esperava, hein!

Será que teve alguma outra "zebra"? 

Vamos ver então como foram os enfrentamentos das quartas e quais as quatro que avançam para as semifinais da Copa do Mundo Gilberto Gil:



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resultado de Daniel Rodrigues

PANIS ET CIRCENCES 1 x 2 SUPER-HOMEM (A CANÇÃO)
Duas equipes que cadenciam o jogo. "Panis" tenta surpreender com algumas quebras de ritmo, buscando os atalhos, fazendo ataques num tempo diferente do comum. Na manha, porém nunca óbvia. Já "Super-Homem" é pura harmonia em campo. O respeito mútuo e o equilíbrio das camisetas faz a partida ir igual pro intervalo. "Panis", no entanto, é afiada, e quando parece que perdeu a rotação, ressurge e acelera alucinadamente o ritmo, tirando o zero do placar. Só que, inconstante, assim como põe toda a velocidade, também para de repente. E parar de repente tendo "Super-Homem" do outro lado é pedir pra se ocupar em morrer. Na sua melodiosidade, ela vai lá e empata e, novamente, se valendo daquele trunfo do: "por causa da mulheeer!", que faz arrepiar a torcida, põe a segunda na rede no finalzinho, mudando como um deus o curso da história da partida. Final: 2 x 1 para Super-Homem (A Canção) sobre Panis et Circences.

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resultado de Leocádia Costa

HAITI 4 x 0 CÁLICE

Jogo ganho de saída, confiança em alto estilo! Goleada! "Haiti" 4 x 0 "Cálice". Cresci escutando "Cálice" e sempre foi emocionante, tanto na voz de Gil quanto na voz de outros intérpretes como Chico e Milton. Porém, quando escutei pela primeira vez "Haiti" que abre o disco "Tropicália 2" (aliás, CD que de tanto escutá-lo furei, como se diz!) fiquei paralisada e totalmente imersa na história cadenciada e cheia de vozes que essa canção traz. Um hino de resistência que se mistura com a história dos negros reverberando até hoje, com imensa atualidade.


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resultado de Rodrigo Dutra

PALCO 3 x 0 AQUELE ABRAÇO
O Palco de Gil é a razão de seu encanto, de sua música, de ser em si o cantor, o intérprete. É onde a gente acha seu fogo eterno, sua chama musical, seu sacerdócio, sua missão, cheio das raízes africanas e mandando um fora daqui aos seus algozes da ditadura. Aquele abraço pro “Aquele abraço”!


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resultado de Cly Reis

ESOTÉRICO 0 x 2 REALCE
Adoro Esotérico, é uma das canções mais gostosas de Gil, mas mesmo todas as suas qualidades não foram o suficiente para segurar o alto astral contagiante de Realce. E a torcida comemora com uma chuva de serpentinas. 2 x 0, Realce.


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CLASSIFICADAS PARA AS SEMIFINAIS
Super-Homem (A Canção)
Haiti
Palco
Realce



Aqui não tem sorteio dirigido para coisa não ficar previsível.
Teremos novo sorteio para a definição das semifinais
e, é claro, você saberá quais são, aqui no ClyBlog.
Aguarde, aguarde...

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Cinema Marginal #5 - "Meteorango Kid, Herói Intergalático", de André Luiz Oliveira (1969)



Uma obra extremamente provocativa, tanto para o final dos anos 60, época de lançamento do filme, como para os dias atuais. Seu objetivo é tirar os jovens da zona de conforto e mostrar a eles que as mudanças que eles desejam tem que partir deles.
"Meteorango Kid, Herói Intergalático" narra as aventuras de Lula, um estudante universitário, no dia do seu aniversário. De forma absolutamente despojada, anárquica e irreverente, mostra sem rodeios o perfil de um jovem desesperado, representante de uma geração oprimida pela ditadura militar e pela moral retrógrada de uma sociedade passiva e hipócrita.
Lula (Antônio Luiz Martins),
o nosso "herói"
Vou ser sempre repetitivo nesta parte, não espere que as obras marginais sejam um primor técnico pois os filmes são feitos praticamente de forma amadora, a cortes bruscos, cenas onde o áudio some e mais uma vez você, amigo, vai ter que superar isso, ok?
Se não é um primor técnico o longa é no mínimo muito bem realizado. Temos ótimas escolhas de câmera, a iluminação muito boa na maior parte das vezes, e as atuações, muito reais, dão margem de comparação entre as personalidades dos personagens, sobretudo com o “Vampiro” de "A Mulher de Todos". Esse foi o primeiro longa dirigido por André Luiz Oliveira que por conta de seu ótimo trabalho acabou sendo muito bem recebido pela crítica e pelo público. Menos pela censura.
A "viagem" e o discurso.
Que cena, senhoras e senhores!
Se você analisar o filme vai ver que ele é bem direto, utiliza do seu humor estranho e exagerado para fazer suas críticas sendo a juventude um dos seus principais alvos uma vez que muitos jovens ainda se encontravam numa zona de conforto presos a sonhos utópicos, alienados à cultura de astros de cinema e música, e aí encontra-se a explicação para o título do filme. Uma obra feita no local certo no momento certo: na Bahia, no final turbulento da década de 60, repressão forte, surgimento da tropicália e um sentimento de rebeldia surgindo com força. O longa tem um momento onde podemos ouvir como "trilha" de fundo o famoso discurso de Caetano Veloso de revolta com a juventude em "É Proibido Proibir", no Festival de 1968. Muito bom! Uma das cenas mais impactantes é quando Lula e seus amigos se reúnem em pequeno apartamento para fumar maconha. É uma cena longa na qual acompanhamos toda a viagem dos rapazes desde o cigarro sendo feito até a completa loucura na qual um deles saca a arma e acaba atirando (ou não) em outro no meio da “noia”. Além da cena ser muito bem filmada, com corte perfeitos, temos uma câmera subjetiva nesta cena que dá todo o suspense necessário. É simplesmente perfeita, mostrando todo o recurso técnico do diretor. Um grande destaque para o diálogo desta cena com o fenomenal o discurso que um dos amigos faz que mesmo em meio a todo a loucura da cena e muito bom. Ao final de seu monólogo o que senti foi “Nossa!Esse maluco cheio de erva na cabeça, está certo”.
Uma sociedade totalmente presa a valores atrasados que vende falsa ideia de família tradicional brasileira, uma juventude passiva, que se recusa a se rebelar com medo da não aceitação. Não o longa não é deste ano, é de 1969, mas fala a nossa língua. É um filme do nosso tempo. Um filme forte, um manifesto pela luta que na época era fundamental que existisse. Não temos mais a ditadura, mas a repressão ainda está por aí e os falsos ídolos também. "Meterorango Kid" convida-nos, ainda hoje, a não nos conformarmos a nos revoltarmos. Aceite o convite. Assista o filme. Rebele-se.
O que seria de um filme destes se fosse feito nos dias de hoje?
Talvez não fosse proibido mas com certeza sofreria sérios problemas.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

“Narciso em Férias”, de Renato Terra e Ricardo Calil (2020)


"Quando eu me encontrava preso/
Na cela de uma cadeia."
Versos iniciais de "Terra"

Quase ao fechar das cortinas de 2020 assisti, finalmente, uma elogiada produção deste ano sobre um dos artistas que mais admiro: “Narciso em Férias”, documentário com e sobre a vivência de Caetano Veloso dos 54 dias da prisão entre 1968 e 69 durante a ditadura militar. Dirigido pela dupla Renato Terra e Ricardo Calil – afeita a documentários sobre artistas da música brasileira, visto que têm na bagagem os ótimos “Uma Noite em 67”, de 2010, e “Eu Sou Carlos Imperial”, de 2016 –, o filme traz coisas boas e outras nem tanto, embora as qualidades superem os problemas.

O projeto, motivado pelo recente descobrimento dos documentos com os interrogatórios concedidos por Caetano ao exército, que o havia prendido em dezembro de 1968 – quatro dias depois da instituição do AI5 – por causa de uma apresentação supostamente difamadora na boate Sucata, no Rio de Janeiro, é por si admirável. O formato também. Basicamente, composto por depoimentos de um Caetano filmado de frente (apenas com variações de plano/profundidade), fotografia fria, poucos cortes e cenografia tão seca como uma prisão: uma cadeira escura sem braços e a figura do entrevistado engolida por um cenário cinza, opressor, monocromático e sem respiro, semelhante à cela sem janela que Caetano descreve quando recorda os dias de solitária.

As falas extensas, respeitando o fluxo de raciocínio de Caetano, tem o ganho de, semiologicamente, simbolizarem o marasmo e a opressão do tempo de encarceramento. É a voz dele e silêncios apenas. Mas em termos de conteúdo passam longe de serem monótonas. Pelo contrário, visto que carregadas de detalhes, ponderações, emotividade e surpresas, A própria música, diretamente ligada à sua figura, é quase ausente, servindo muito bem para amarrar os três "blocos" que o filme forja com bastante sensibilidade. No entanto, os diretores-entrevistadores, fora do enquadramento mas de frente para Caetano, pecam ao deixar o curso da conversa correr em alguns momentos. Num deles, bem nas primeiras declarações, Caetano menciona algumas vezes "a gente" ao referir-se a quem estava junto com ele no momento da prisão em São Paulo. Não é muito difícil de se suspeitar - ainda mais sendo ele uma personalidade famosa e essa história já ter sido contada em outras ocasiões - que se está falando de Gilberto Gil. Mas até mesmo eu, que tenho intimidade com a biografia de ambos, fiquei em dúvida dessa suposta afirmativa. Afinal, estava assistindo um documentário que podia trazer revelações novas. 

Não eram. Nem mesmo uma tática narrativa, visto que a resposta confirmativa do mais provável veio sem nenhum requinte. Espera-se que, uma vez escolhido um formato como este, que todas as informações que se precise saber estejam expostas e ordenadas. Igualmente, que os entrevistadores ajudem a conduzir o andamento quando necessário. Cinema não é jornalismo, sei, mas quando o primeiro busca fazer as vezes do segundo, há de se lhe respeitar um dos princípios básicos, que é o da não presunção do conhecimento por parte do receptor. Naquele ponto, ainda mais em se tratando do começo do filme, quando o espectador ainda está se familiarizando com a narrativa, soou como uma leve lacuna, até certo descuido.

Noutra sutil inconsistência, Caetano fala e toca um pedaço de uma das três músicas presentes no filme, "Irene" (as outras são "Terra", também autoria dele, e "Hey Jude", dos Beatles, todas fortemente ligadas à experiência da prisão). O que não se diz (e nem se questiona a Caetano na hora certa) é que a canção foi composta dentro das grades, o que apenas se supõe uma vez que, noutro trecho mais adiante, o músico relata que lhe foi negado o pedido feito pela então esposa Dedé aos militares para que lhe permitissem ter um violão na cadeia. Ou seja, ele inventou a melodia só na imaginação e a guardou na cabeça. Este fator, se tornado mais claro, seria bastante contributivo à obra, haja vista que é a única música escrita por ele em tal condição e ainda mais em se tratando de um artista que, mesmo com a reclusão brutal e injusta, tentou com todas as forças manter-se lúcido e íntegro.

Caetano Veloso cantando "Hey Jude", dos Beatles

Aliás, a integridade do baiano é exaltada por ele próprio não com afetação, mas com a consciência de um homem experiente revivendo aquele episódio traumático. Os próprios documentos, a que Caetano há pouco havia tomado conhecimento da existência, visto que por muito tempo confinados à confidencialidade, evidenciam essa integridade. Mesmo não criticando abertamente o regime militar durante os depoimentos aos oficiais (o que seria, se não suicídio, no mínimo uma autoincitação à tortura), também não deixa de se posicionar, por exemplo, quando perguntado da inocência do amigo e parceiro Rogério Duarte, vítima muito mais séria do que ele das barbaridades do regime. Poderia ter lhe comprometido, mas por sorte, não.

De tudo, é evidente que a grande força de “Narciso...” está, justamente, nos depoimentos de Caetano. A lucidez e a memória do autor de “Alegria Alegria” são admiráveis a um senhor de quase 80 anos, pois possibilitam montar um documento fundamental para se entender o nefasto período de ditadura no Brasil de alguém ainda vivo e nestas condições de discernimento. Há outros registros dele ao longo dos mais de 50 anos que dividem o episódio em questão do filme, como entrevistas, filmes e livros. Porém, nenhum se concentra tanto e tão bem neste recorte específico, o que garante ao filme uma saudável concisão.

Enquadreamento, fotografia,
cenário e figurino frios para
lembrar os dias de "férias
forçadas" do "Narciso"
Mais do que ser conciso, entretanto, “Narciso...” é também incisivo. Há lances comoventes, como quando Caetano emociona-se ao rever um exemplar da mesma revista que Dedé lhe apresentou na cadeia do batalhão de paraquedistas em Deodoro, no Rio, trazendo notícias sobre a chegada do homem à Lua (e que motivaria a criação da música “Terra” anos depois). Ou quando relembra do militar negro e conterrâneo seu que, sensibilizado com a situação, autorizou que ele e a esposa tivessem encontros íntimos na cela. Mas a construção narrativa pensada por Terra e Calil é, certamente, a grande responsável por tal contundência. Ao concentrar a ação em quase 100% da fita em praticamente a mesma imagem de Caetano, deixando para o final apenas um pequeno percentual que quebra a linearidade a qual os diretores acostumaram os olhos do espectador por mais de uma hora, dão, assim, a devida carga de suspense ao tão mencionado interrogatório, que Caetano conta ter sido o motivo de sua captura, mas que demorou meses para acontecer. Valendo-se de um expediente fílmico bastante interessante, que é o de gerar expectativa a algum elemento onipresente, quando finalmente o trazem à tela é quase como se estivessem dando-lhe um caráter de personagem até então escondido.

Mas o que havia realmente motivado a prisão? Caetano conta, por exemplo, que um oficial mais intelectualizado chamou-lhe à sua sala somente para discursar-lhe que foi, inconsciente ou conscientemente, a subversão do tropicalismo que o levara ao cárcere. Para ele, nas entrelinhas tropicalistas estava a verdadeira mensagem de rebeldia contra o governo militar. E Caetano diz-se obrigado a concordar. O motivo da prisão, aliás, por muitos anos nebuloso, fica mais bem explicado também no documentário por conta da revelação dos tais documentos, uma vez que está registrado com todas as letras que foi o jornalista Randal Juliano, da TV Record, quem dedurou aos militares que Caê e Gil haviam cantado o hino nacional na boate Sucata com uma letra “subversiva”. Provavelmente, este se referia a “Tropicália”, o tema-manifesto do movimento tropicalista que, em sua estrutura e abordagem inovadoras, expõe o Brasil daqueles novos tempos: com suas belezas (“A Banda”, “a bossa”, “Carmem Miranda”) e mazelas (“a palhoça”, “a criança feia e morta”). Ou seja: com ufanismo, mas também com crítica. 

O que me soa – e que talvez até escape a Caetano por mais leonino que este seja – é que Juliano ouviu, sim, o hino nacional. Na sua mentalidade conservadora e mal resolvida, a música, em letra e em música, fez-lhe identificar o nacionalismo de um hino mesmo que jamais pronunciados os versos oficiais, visto que foi provado ser mentira a acusação. Este é o lado inconsciente. No consciente, Juliano ofendeu-se com os versos, aí sim, da própria canção, a parte crítica que nenhum intransigente quer aceitar. Perversa ou desavisadamente, o fato é que Juliano fez um elogio a “Tropicália” e ao movimento que a turma de Caetano e Gil formaram. Tanta subversão que acabaria por levá-los à prisão por razões inconscientes ou não.

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trailer de "Narciso em Férias"


Daniel Rodrigues

terça-feira, 1 de outubro de 2013

"Biografia Incompleta" Exposição Coletiva – Museu de Arte Contemporânea - Niterói /RJ (08/08/2013)









Eu reencontrando o MAC, em Niterói
Ao lado da amorosa companhia de Leocádia Costa, que empresta seu olhar fotográfico para este registro, voltei ao MAC, em Niterói (RJ), o qual havia visitado em 2011 e me impressionado muito com aquele traçado em forma uma flor, de um cálice, lindo de qualquer ângulo que se contemple. Dois anos depois, constatei que a admiração pela obra de Niemeyer continua intacta naquela arquitetura tão poética e em plena simbiose com a natureza local, simbiose aparentemente improvável haja vista o desenho futurista e quase extraterrestre que é o prédio do museu.

A obra de Antônio Dias
que deu nome à mostra
Como se não bastasse a beleza e grandiosidade da natureza e da arquitetura num radiante domingo de sol e praia, que já valeriam o passeio, deparei-me com exposições maravilhosas em seu interior. Uma delas é a da mostra Biografia Incompleta, que reuniu obras do colecionador João Sattamini que compreende quase 30 anos com peças de alguns dos principais artistas da vanguarda das artes plásticas brasileira: Antonio Dias, Loio-Pérsio, Nelson Leirner, Raymundo Colares e Rubens Gerchman. Tomadas de sarcasmo, crítica e personalidade, as obras desses artistas ligados ao neoconstrutivismo, corrente das artes plásticas brasileira iniciada nos anos 60 que, de forma pungente e mordaz, traz novos elementos ao construtivismo e ao abstratismo próprios de uma nova realidade urbana, como a cultura de massas (quadrinhos, cinema americano, publicidade, erotismo) e a vida social (violência, religiosidade, censura, política, indústria). Incrivelmente atuais para um “Brasil ano 2000”.

Acrílico sobre madeira Raymundo Colares
Isso fica evidente nas obras de Raymundo Colares, que, em telas que brincam a tridimensionalidade, explora os elementos kitsch, dos quadrinhos, da dinâmica da montagem do cinema e até do àquela época já midiatizado universo do automobilismo. “Objeto ônibus”, da série de 1969, é um tinta esmalte industrial sobre metal que traz bem esta ideia. Outra, um belo acrílico sobre madeira, é magnífico em sua simplicidade conceitual, movimento e ideia de equilíbrio.

Antonio Dias, um dos dois únicos vivos entre os cinco artistas junto com Nelson Leirner, é dono de uma obra altamente peculiar marcada pelo minimalismo e pela exploração minuciosa de texturas visuais, porém não menos crítica, valendo-se, por exemplo, da secura visual dos códigos binários da linguagem dos computadores para expor sua indubitável simbologia maniqueísta. Além disso, revela fortemente a massificação imperialista através dos debochados grafismos em inglês. Sua identificação com o pop é absurdamente atual. Uma das obras expostas, “The Place”, poderia ser a capa de qualquer disco de artista tecno. O aspecto enterteinment, no entanto, se esvai rapidamente: a crítica, presente, está na observância de que o escrito “mente” (mind) encontra-se disperso no nada (preto da tela), enquanto que a palavra “mapa” (“map”), ou seja, aquilo que a mente deveria circunscrever, é justamente a que está localizada dentro de um espaço delimitado. Outro quadro, o que dá nome à exposição, é um acrílico sobre tela que lança, em poucos elementos simbólicos, a dimensão das utopias do mundo moderno: o “desejo” tão distante do percurso do traço.

"Milagre", de Nelson Leirner
A seleção de Leirner é outra espetacular. Numa linguagem própria que, igualmente, caminha entre o severo e o deboche, vale-se de técnicas inovadoras e até insólitas (colagem de asas de borboleta em sua Santa Ceia), além de miniaturas e recursos “não nobres” para as artes plásticas, como a serigrafia e o off-set da publicidade.  A religiosidade católica, moral e eticamente comprometida, assim como a violência urbana, convivem sem nenhuma fronteira. Dois brilhantes: “Milagre”, serigrafia e pintura sobre madeira em que Nossa Senhora de Fátima ganha traços e dimensões pop e tupiniquins ao colocar-lhe aos pés suplicantes mendigos da cidade grande; e, a mais impressionante, “São Sebastião do Rio de Janeiro” (2002), assustadoramente atual numa cidade de balas perdidas e de dessacralização dos mitos pela ação humana, um conjunto de imagens sacras enfileiradas ao lado de “patrióticas“ flâmulas em que cada um dos santos têm cravado no peito uma bala de revólver. Impossível não se lembrar dos versos de “Estação Derradeira”, de Chico Buarque: “São Sebastião crivado nublai minha visão/ Na noite da grande fogueira desvairada”.

Se Leirner tem correlação com a MPB, Rubens Gerchman está essencialmente ligado à vanguarda da música brasileira. Dono de uma arte que mistura erotismo e dinheiro, violência  e beleza, morro e asfalto, futebol e escola de samba, tradição e ruptura, Gerchman, irônico e crítico ao extremo, é diretamente ligado ao tropicalismo (é dele a arte da capa de “Tropicália”, de 1967, e, inspirados em uma peça homônima sua, Caetano Veloso e Gilberto Gil escreveram, para este mesmo disco, a canção “Lindonéia”, cheia de críticas à esquizofrenia mortífera e ao endeusamento do belo da sociedade moderna), o que fica evidente em suas obras daquela época (décadas de 60 e 70): coloridamente tropicais e conscientemente globalizadas e cáusticas.
"Monalou", a Monalisa
fascista de Gerchman
Suas “monalisas” dão diretamente este tom: uma, “Monalou” (tinta óleo sobre fotográfica colada em eucatex, 1975) a quebra do elemento clássico (a perspectiva ao fundo da personagem, aqui chapada e carregada de simbologia política), a outra, a revelação/massificação (a Gioconda com beiços de negra). Maravilhoso e forte, igualmente, o quadro em que um acontecimento da mídia dos anos 60, o sumiço de um ajudante de obra durante a Ditadura Militar pego pela polícia por um suposto porte de drogas, serve de denúncia e mostra de inconformismo. Ele se vale da linguagem corriqueira e sensacionalista dos jornais e da dissolução folclore/cultura pop para evidenciar de forma ainda mais reveladora a realidade obscura. Alguma semelhança com o caso Amarildo não é mera coincidência.

Igualmente revolucionário em conceito (seu falso díptico, que, na verdade, forma um tríptico, é muito interessante), porém trabalhando volumes e cores com a intenção de não atribuir-lhes nenhuma associação figurativa, acabou deixando Loio-Pérsio um tanto deslocado dentro da mostra se comparado ao impacto e transgressão dos outros autores. Um lapso da curadoria (Luiz Guilherme Vergara) totalmente perdoado, tendo em vista o enorme acerto da seleção como um todo.



Abaixo, mais alguns momentos da mostra:



Denúncia social na obra
de Rubens Gerchman

Eu diante da versão tupiniquim
da Monalisa de Gerchman

O 'díptico-tríptico' de Loio-Pérsio

"Ônibus ônibus",
Raymundo Collares

"The Place", de Antônio Dias,
capa de disco de tecno

Visitantes se deparando com o São Sebastião
crivado de balas, de Leiner