A coleção "O Livro do Disco" é um achado! Obrigatória para apaixonados por música e por grandes álbuns que fizeram história. São pequenas publicações, no formato poket e não excedendo a duzentas páginas, que prestam-se a dissecar, examinar, destrinchar grandes discos da história da música. Particularmente já havia lido o bom "Unknown Pleasures" do autor Chris Ott, jornalista britânico que entrou a fundo em toda a atmosfera do primeiro trabalho da lendária banda de Manchester, o Joy Division, apresentando uma análise detalhada e pormenorizada de todo o processo de composição e gravação da obra e dos singles que faziam parte daquele momento com comentários de integrantes e informações técnicas verdadeiramente relevantes; mas este, do Sonic Youth, do "Daydream Nation" consegue ser ainda melhor, mais fascinante, mais empolgante, mais arrebatador.
O autor, Matthew Stearns, fã ardoroso e apaixonado, não se limita a transmitir informações técnicas sobre a obra ou analisar as letras de maneira convencional. Ele deixa-se deixa envolver de tal forma em suas próprias apresentações que as faz de maneira entusiástica, incontida, visceral, conferindo imagens e metáforas desconcertantes e perturbadoras às descrições de cada faixa do emblemático álbum dessa revolucionária banda nova-iorquina.
O livro é um mergulho em todos os elementos que envolvem o álbum, desde a aparente tranquilidade da capa, com sua quieta vela levemente deslocada para o lado direito, passando pelas intenções ocultas por trás de símbolos como a fonte de escrita dos nomes das faixas, os ícones muito ledzeppelinianos utilizados na arte interna e a concepção de um álbum duplo; chegando, é claro, na música, na forma atípica de composição do grupo, sua sonoridade singular, as influências de artes plásticas e a minuciosa ordenação das faixas do disco compondo uma crescente de tensão sonora e psicológica, tudo isso tendo como pano de fundo Nova Iorque. A cidade como inspiração e repúdio com todo seu fascínio, sua opressão e seu horror.
Adorei o trecho em que o autor fala apaixonadamente sobre os silêncios entre as faixas nos nossos álbuns prediletos e a imortal expectativa pela próxima música mesmo que já estejamos cansados de conhecer aquele disco: "Nos nossos discos favoritos [a presença dos vãos silencioso que cercam as faixas] é parte ativa na assimilação da música. Parecem abrigar fantasmas eletromagnéticos semimudos, permanentemente pendurados em órbita suspensa, cada figura espectral silenciosa contando parte da história do disco." Um barato também toda a imagem que faz da faixa instrumental "Providence"; a análise pormenorizada da faixa de abertura "Teenage Riot" nos fazendo definitivamente penetrar no disco a a partir daquele momento; as diversas descrições dos momentos dos turbilhões sonoros tão comuns na música do Sonic Youth; e o fato de, assim como eu, considerar "'Cross the Breeze" a faixa mais bem construída de "Daydream Nation".
Em vários momentos o autor se preocupa de estar sendo preciso, de estar conseguindo transmitir a intensidade, a força, a importância de "Daydream Nation". Posso afirmar que com a paixão que coloca em cada frase, em cada detalhe, em cada faixa, ele não apenas consegue passar estas sensações como nos coloca dentro do disco e amplifica todas estas emoções de forma praticamente sônica.