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sábado, 28 de novembro de 2020

"Herbie, Se Meu Fusca Falasse", de Robert Stevenson (1968) vs. "Herbie, Meu Fusca Turbinado", de Angela Robinson (2005)

 



São dois times com mecânica de jogo semelhantes, ou seja, histórias bastante parecidas. Com uma mudancinha aqui, outra ali, "Herbie, Se Meu Fusca Falasse", de 1968, e "Herbie, Meu Fusca Turbinado", de 2005, se resumem basicamente à de um fusquinha com "vida própria", desprezado e muito subestimado, que se apega a um novo dono e juntos passam a brilhar nas corridas despertando a ira de um concorrente das pistas. Mas como o próprio título da nova versão sugere, as pequenas mudanças dão uma turbinada no remake, e elas acabam sendo cruciais para seu sucesso diante do adversário. Uma rejuvenescida no elenco principal; uma caprichada na parte técnica; um roteiro mais ágil; e, tudo isso somado a uma dinâmica de filme bem mais mais envolvente, tornam "Herbie, Meu Fusca Turbinado" mais atraente e interessante para o espectador.
O novo filme troca algumas peças importantes: como dono do automóvel, põe uma garota, Meg Payton, no lugar de um fracassado corredor, Jim Douglas, dispensado de sua equipe extamente pela idade; troca o até carismático mecânico, que na versão antiga, era quem melhor entendia a personalidade do fusca, por um jovem mecânico que é também o crush da corredora; substitui o insosso dono de uma revenda de automóveis que gosta de participar de corridas, o Sr. Thorndyke, por um arrogante e mau caráter corredor profissional, Trip Murphy, e acrescenta a isso efeitos especiais bem utilizados, cenas de corrida muito mais eletrizantes e uma trilha sonora empolgante com muito rock'roll de Van Halen, T-Rex e Beach Boys.


"Herbie, Se Meu Fusca Falasse" (1968) -
cena vitória na corrida de El Dorado


"Herbie, Meu Fusca Turbinado" (2005)
 cena da vitória na corrida da Nascar


O original não é ruim mas parece aquele time que joga num esquema tático superado, num "vê-dobrevê", quase em desuso no futebol, e assim, o novo, por sua vez, mais atualizado, passa por cima do adversário. Um gol de Lindsay Lohan como a  então jovem protagonista que, na sua época boa, em forma, batia um bolão; Eddie Van Halen cruza e Dave Lee Roth PULA mais alto que a zaga para fazer outro por conta da trilha sonora; em uma disparada em alta velocidade, depois de deixar o zagueiro pra trás, Herbie marca mais um; e pra fechar, o bom ritmo que a trama ganha na nova versão garante mais um.
O vilão da refilmagem, interpretado por Matt Dillon, excessivamente caricato, quase entrega um gol para o adversário, mas o do filme original (David Tomlinson)tão ruim quanto nesse pormenor, não consegue se aproveitar da falha e não sai nada dessa jogada. O filme de 2005 nem precisa se dar ao luxo de usar muito a estrela Michael Keaton, o pai da corredora, que, sem grande brilho, só fica ali, encerando.
O time de 1968, como eu disse, não é ruim e por conta de seu bom conjunto até consegue descontar numa derrapada do zagueiro Beto Fuscão que, estabanado dá um carrinho dentro da área e comete o pênalti. O número 53 vai lá e bate com categoria para diminuir, mas não passa disso. O jogo fica nisso mesmo: o time de 2005 atropela o de 1968 por 4 x1.

Herbie em ação em duas épocas.
À esquerda, o de 1968, e à direita, o de 2005.




O Herbie de 1968 até funciona bem 
mas o Herbie turbinado é uma verdadeira máquina.




por Cly Reis



quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Coluna dEle #55




Olá, seus filha da..., quero dizer seus filho de Mim mesmo!
Olha só, gente, quero dar uma real pra vocês: larguei vocês de mão!
Já perdi a paciência algumas vezes durante a história desse planeta, já andei tomando umas atitudes meio radicais, tipo peste negra, dilúvio, etc., mas dessa vez, Eu tenho que admitir que vocês 'tão se superando e Eu, ó, não tenho mais idade pra aguentar certas coisas.

Mandei esse vírus aí sabendo que haveria baixas, é verdade - mas sempre teve ao longo dos séculos, não é mesmo? - Ao mesmo tempo que já era, tipo, um puxão de orelhas, era uma oportunidade pra vocês me mostrarem que Eu tava errado. "Não, eles não são tão maus assim". Que nada! São piores!


Dei aquala chancezinha boa pra vocês serem menos egoístas, mais solidários, exercitarem a empatia, pra aprenderem o valor do outro, pra passar mais tempo com a família, dar valor às pequenas coisas, se cuidarem, pra sujarem menos a casa que Eu dei pra vocês... E o que vocês  fazem??? Tudo ao contrário! Tem neguinho chegando aqui aos borbotões, véi! Eu mal tenho lugar pra enfiar tanta gente e vocês  continuam indo pra shopping, balada, futebol e o caraiaquatro!

Quer saber? Querem se matar se matem. De Minha parte, vou colaborar com isso. Tô liberando todos os meus recursos aqui. Coisas que eu não usava fazia um tempão, tipo nuvem de gafanhoto que tava guardado aqui numa caixae Eu não usava desde as pragas do Egito. Agora segura a ira, merrrmão! Não sabe brincar, num desce pro play! Cansei de ser bonzinho. Tô quase cancelando vocês. Já acionei tempestade de areia, ciclone, tornado, furacão, barata gigante e tô pensando seriamente em usar um desses meteoros e cometas que tão rondando por aí em volta do planeta de vocês, e fazer algum deles mudar levemente a rota...
Ainda em análise.


Vamos ver como é que vai estar o Meu humor nos próximos dias.

Por hoje, era isso!
Juízo, hein!
É o juízo de vocês ou Juízo Final.


god@voxdei.gov tá momentaneamente bloqueado pra vocês. Não tô mais recebendo orações, nem pedidos, nem súplicas porque vocês só rezam, Me louvam, Me fazem mil juras de amor e bibibibobobó mas saem sem máscara na rua, ajoelham no pescoço do amiguinho, guardam material explosivo sem cuidado e etcétera, etcétera....

Quando Eu perceber que a atitude de vocês melhorou, Eu libero de novo o SAC (Serviço de Atendimento do Criador).
Enquanto isso, vão pro cantinho e pensem sobre o que andam fazendo.



Por enquanto, fiquem Comigo e que Eu os abençoe.




Ele

domingo, 10 de maio de 2020

Mãe é Mãe - Algumas das Mães Mais Marcantes do Cinema


Todo mundo tem mãe e, como não podia deixar de ser, no cinema, todo personagem tem mãe. Muitas vezes elas não são mencionadas, não aparecem, são secundárias, não tem sequer relação com a história, mas sabemos que elas existem. Contudo, em outros casos, elas são tão essenciais ou têm participação tão destacada na trama que é impossível não lembrar delas. o ClyBlog destaca algumas dessas mães aqui. Sei que cometeremos injustiças, vai faltar uma que outra, alguém vai dizer que essa ou aquela não podia faltar, mas procuramos fazer uma lista interessante e heterogênea em características, estilos, época, nacionalidade, ambiente, gênero cinematográfico, etc.
Então, vamos à lista:
* (Cuidado! Pode conter spoilers)


************


Ela, inatingível, pairando sobre tudo.
1. "O Espelho", de Andrey Tarkovski (1975) - Para mim, desde que vi pela primeira vez, "O Espelho", filme semiautobiográfico do diretor russo Andrei Tarkovski, representa uma obra sobre mães. No filme Maria (Margarita Terekova), uma mãe abandonada pelo marido, voluntário para o exército, vive com seus dois filhos em uma propriedade campestre e ali acompanhamos parte do cotidiano desse núcleo familiar corajosamente conduzido por uma mulher. Filme cheio de simbologias e metáforas, embora traga elementos como infância, saudade, nostalgia e seja passível de diversas interpretações, para mim, é a maternidade o elemento que mais chama atenção e emociona. O olhar e as imagens sempre poéticas de Tarkovski mostram aquela mulher como uma espécie de entidade superior, uma criatura inabalável, altiva, incólume, impenetrável, mesmo com o mundo desabando à sua volta. A cena de sonho em que ela flutua, elevada da cama, confere a ela ares de divindade, de magia, de alguém com um poder inexplicável que talvez até ela mesmo desconheça. E, na maioria das vezes, não é bem assim que são nossas mães?



2. "Psicose", de Alfred Hitchcock (1960) - Esse é o caso de uma mãe que é fundamental para a trama mas, na verdade, não está presente fisicamente o tempo inteiro durante o filme. 
Hitchcock, genial como era, até nos deixa com a pulga atrás da orelha num primeiro momento, sugerindo alguma farsa ou assombração, uma vez que nos tornando conhecedores do fato que a mãe do dono do motel, Norman Bates, está morta, faz aparecer um vulto feminino na janela da casa, nos deixa ouvir uma bronca de voz feminina envelhecida no filho Norman e, por fim mostra-nos uma senhora de cabelos brancos e coque esfaqueando a cliente loura no chuveiro, numa das cenas mais clássicas do cinema. "Como assim?", pergunta-se o espectador de primeira viagem. Acho que não  vou dar *spoiler porque a essas alturas, mesmo quem não  viu, está  cansado de saber que é o próprio Norman que, perturbado e esquizofrênico assume o papel da mãe, vestindo-se como ela e punindo quem quer que seja que venha a despertar algum tipo de desejo no reprimido Norman.
É  incrível mas uma das mães  mais célebres  do cinema, não está verdadeiramente no filme. Loucura!

"Psicose" e sua famosa cena do chuveiro.








3. "O Bebê de Rosemary", de 
Roman Polanski (1968) - Rosemary (Mia Farrow) é uma futura mãe que pressente uma ameaça ao filho que ainda está  em sua barriga, vinda de seus vizinhos, um casal de velhotes estranhos e enxeridos e, por incrível que pareça, de seu próprio marido. Tudo começa quando se mudam para o novo apartamento, conhecem os vizinhos e não muito tempo depois, o esposo, um ator pouco valorizado, ganha um papel importante em um filme em virtude da morte do ator que interpretaria o papel. O marido passa agir estranhamente, os velhos passam a estar constante e inconscientemente presentes em sua casa e sua vida e até mesmo administram à grávida uma estranha dieta à base de algumas ervas de origem e efeitos duvidosos. Aos poucos Rosemary, fragilizada física  e emocionalmente, começa a desconfiar estar sendo vítima de alguma espécie de seita para a qual o bebê que leva dentro de si, provavelmente, virá a ser elemento chave.
Paranoia, imaginação, ansiedade, fantasia, reflexo de sua fraqueza física, estresse da gravidez? Exagero ou não, essa mãe vai brigar até o último instante para proteger seu filho de algo que, na verdade, nem ela sabe bem ao certo do que se trata mas que, pelo que vai se apresentando a ela, parece algo muito, muito maligno.




4. "Sexta-Feira Muito Louca", de Mark Walters (2003) - Quantas vezes já não ouvimos que só estando no lugar da outra pessoa para saber como ela se sente, não? Pois é, "Sexta-Feira Muito Louca" promove essa possibilidade justamente em uma relação de uma mãe e uma filha. Relação difícil, intolerância, falta de compreensão mútua... Só mesmo uma troca de corpos para fazer com que cada uma perceba as dificuldades da vida da outra. E nessa confusão quem sai ganhando é o espectador com situações muito divertidas, com Jamie Lee Curtis fazendo uma adolescente no corpo de uma "coroa", e da maluquete Lindsay Lohan curtindo uma de senhora responsável presa num corpo de garota de colégio. Mamãe vai entender, ou talvez lembrar, que existe pressão por notas, coleguinhas implicantes e insuportáveis, professores chatos, paqueras, necessidade de privacidade, tempo para lazer, etc. e talvez, a partir de tudo isso, se remodelar; e a filhota vai perceber que ser mãe, ter obrigações, preocupações, casa, trabalho, e, principalmente filhos aborrecentes, não é tarefa para qualquer uma.



 
Mães e filhas e suas histórias.
5. 
“Clube da Felicidade e da Sorte”, de Wayne Wang (1993) – Filme emocionante sobre mulheres que foram filhas, se tornaram mães e viram as filhas se tornarem mães.
Quatro chinesas com histórias diferentes em seu país de origem, vão parar nos Estados Unidos e lá constroem famílias, se conhecem e tornam-se grandes amigas. Muitos anos depois, após a morte de uma delas, Suyuan, é revelado à sua filha June, que as filhas gêmeas que a mãe tivera na China e que abandonara bebês durante a guerra em circunstâncias pouco esclarecidas, às quais todos acreditavam não terem sobrevivido, estavam, sim, vivas e dispostas a conhecê-la. Então, a festa de despedida de June, que embarcará para a China para conhecer as irmãs, serve de pano de fundo para conhecermos as histórias de vida de cada uma delas, de suas dificuldades na China, das particularidades das relações com suas próprias filhas quando crianças, e dos problemas da vida adulta destas como mulheres.
Traumas, reminiscências, roupa-suja, desabafos, remorsos, sacrifícios, esqueletos dentro do armário são trazidos à tona em momentos chave do filme de modo a preencher lacunas em aberto e colocar as coisas nos seus devidos lugares e apenas reafirmar aquilo que todos sabemos: que ela pode ter todos os defeito que tiver, mas que não existe ninguém como a mãe da gente.



6. "Dançando no Escuro", de Lars Von Trier (2000) - Tudo o que Selma queria era guardar um dinheirinho para fazer a cirurgia de olhos de seu filho para que ele não acabasse como ela, quase sem enxergar nada, uma vez que herdara dela a doença progressiva de perda de visão. Mas um vizinho, um policial proprietário do terreno onde ela vive num trailer com o filho, descobre sobre o dinheiro e rouba as economias da pobre coitada que, além de tudo, acabara de ser demitida da fábrica onde trabalhava. Tentando recuperar seu dinheiro, Selma acaba matando o vizinho e é presa por isso. Uma história dura, dramática, pesada, é verdade. Mas a vida de Selma, de certa forma, é embalada e seus momentos difíceis amenizada pela música. Amante dos musicais cinematográficos, Selma foge mentalmente de sua realidade imaginando estar em cenas de filmes musicais onde tudo à sua volta suscita sons e canções, desde as máquinas da metalúrgica onde trabalha ou mesmo passos, enquanto é levada pelos guardas na cadeia.
Filme do sempre controverso , com atuação brilhante da cantora Björk, no papel da protagonista, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.
Eis uma mãe que deu cada centavo de seu trabalho e fez tudo que estava a seu alcance pelo bem do filho. Até as últimas consequências.

"Dançando no Escuro", 107 passos




A maluca mãe de Carrie, disposta tudo para
que a filha continue pura.
7. "Carrie, A Estranha", de Brian De Palma (1976) - Não tem como falar em mães no cinema e não lembrar da maluca, crente e super-protetora mãe de Carrie White. Fanática religiosa, Margareth mantém a filha afastada e alienada em relação ao mundo que a rodeia, expondo a jovem a constrangimentos diários como, por exemplo, o do início do filme em que se desespera por ter menstruado e é ridicularizada pelas outras meninas no vestiário da escola. Ah, mas não é uma boa ideia zoar com uma garota como Carrie com poderes psicocinéticos que se manifestam especialmente quando ela se altera emocionalmente, e essa galera que adora tocar um terror nos outros, vai entender isso da forma mais dolorosa possível.
Uma das garotas do bullying no vestiário, verdadeiramente arrependida e na boa intenção de se redimir com Carrie, convence o namorado, os gostosão da escola, a convidá-la para o baile, de modo que a esquisitinha se enturme, socialize. A mãe, brilhantemente vivida por Piper Laurie, tenta evitar de todas as maneiras que a filha vá, utilizando-se de seus argumentos religiosos, chantagens psicológicas e sua por fim de sua autoridade de mãe, mas Carrie, decidida a viver pelo menos um dia de sua vida, começa a mostrar seus poderes em casa, contra a própria mãe e termina de fazê-lo na festa, onde vítima de um trote de muito mau gosto, do restante da turminha da pesada, proporciona um banho de sangue em uma das cenas mais marcantes da história do cinema.

A velha podia ser louca, mas não dá pra dizer que ela não avisou.



Sarah Connor não vai permitir que robô nenhum 
se meta com seu filho.
8. "O Exterminador do Futuro II – O Julgamento Final", de James Cameron (1991) - Tá certo que no início, lá no primeiro filme, por mais que tivesse sido informada por um carinha do futuro que seria a mãe de um líder da resistência humana numa guerra contra as máquinas, Sarah Connor estava mais interessada era em salvar a própria pele do que de um bebê que, a bem da verdade, ela nem tinha certeza se viria a existir mesmo. Mas a partir do momento que se convenceu, da pior forma possível, depois de ter sido perseguida por um ciborgue sanguinário e impiedoso, de que o papo de apocalipse das máquinas era quente, foi determinada em ter a criança e, no pouco tempo em que teve com ele antes de ser internada num hospital psiquiátrico, em treiná-lo e prepará-lo para cumprir seu destino no front dos humanos contra as máquinas.
Durante todo o tempo em que esteve mantida no manicômio penitenciário por ter destruído uma fábrica de eletrônicos e alegar que o fizera porque um robô exterminador teria vindo do futuro para matá-la e a seu filho, Sarah (Linda Hamilton) sempre ficou pensando numa maneira de sair dali para proteger o filho. A desconfiança que o garoto tem, posteriormente no filme, quando a resgata do hospício, de que a mãe está mais preocupada com a humanidade do que com ele, não demora para se desfazer diante de toda o amor com que ela o protege.
Ela é fria é pragmática, objetiva, dura, durona, mas não poderia ser de outra maneira quando se sabe que seu filho, além de já ser naturalmente importante somente por ser seu filho, pode ser a salvação da humanidade.




9. "Leonera", de Pablo Trapero (2008) - Circunstância estranhas... Um homem morto, outro ferido, uma mulher inconsciente. Um dos dois seria o assassino? Teria sido uma quarta pessoa? Por que não ela não lembra de nada? Teria sido drogada? Ou não quer lembrar? O fato é que nesse mistério todo, a garota é quem vai parar na cadeia, só que grávida como se encontra, é enviada a uma instituição onde é permitido que as internas tenham lá seus bebês e depois permaneçam com as crianças no presídio, até os 4 anos de idade. Revoltada com a gravidez, relutante e resistente em ter o filho, num primeiro instante, Julia Zarate (Martina Gusmán), aos poucos vai sendo conquistada pelo seu pequeno rebento e seu instinto e amor de mãe acabam prevalecendo, fazendo dela uma mãe atenciosa e carinhosa, mesmo dentro daquele ambiente prisional.
O lugar, mesmo com as características tradicionais de uma instituição carcerária, em muitos momentos acaba parecendo uma creche e a presença das crianças acaba iluminando um pouco o lugar e garantindo-lhe, de certa forma, sempre um rasgo de alegria e esperança.
Só que em meio às situações corriqueiras de um presídio, envolvimentos íntimos, desavenças com outras internas, visitas do advogado, audiências de apelação, Julia vê-se às voltas com as investidas de sua mãe para levar o neto dali daquele ambiente que considera pouco apropriado para a criação  de uma criança. Sob pretexto de tratar um resfriado do menino, a avó consegue convencer a mãe a tirá-lo de lá, em princípio, apenas para uma consulta médica, com a promessa de levá-lo de volta. Só que isso não acontece e aí Julia vai fazer de tudo para ter seu filho de volta.
Filme de uma mãe que até hesita um pouco no ofício divino que lhe é concedido mas que a partir do momento que se sente mãe, não vai deixar que ninguém tire isso dela. Uma leoa que protege sua cria a qualquer custo.




10. Kill Bill – vol.2”, de Quentin Tarantino (2004) – No final do volume 1 é revelado, apenas para o espectador, que a criança que a noiva baleada na cabeça num massacre numa igrejinha de interior, sobrevivera à chacina. Recuperada de um coma de quatro anos, a mãe, uma assassina treinada que não perdera seus instintos mortais, depois de se vingar de parte do grupo que tentara matá-la, vai agora em busca do líder e ex-amante, Bill. O tempo inteiro, a grande motivação da vingança de Beatrix Kiddo (Uma Thurman), também conhecida como a Mamba Negra, é o fato de terem-lhe tirado seu bebê, tanto que a primeira coisa que faz quanto desperta do coma, sem noção de quanto tempo estivera ali, é levar a mão à barriga e perceber que não tem mais ali a criança. Aquela é a vingança de uma mãe. Cada um que sucumbe a ela paga pelo fato de terem lhe tirado a oportunidade de poder ter um filho, estar perto da criança, curtir cada momento. Ah, todos terão que pagar por isso! O que ela não contava é que, às portas de seu confronto final, ao encontrar Bill, encontraria também uma graciosa menina, doce, dengosinha e com carinha de anjo. Ah, amigos, ela desaba! A determinação com que ela adentra a vila onde habita o algoz, de arma em punho, pronta para aniquilar o homem que lhe causara tanto sofrimento e privação, é completamente desestruturada assim que vê a menina.
Ele, cavelheiresco como é, apesar de seu ofício, permite a elas algumas horas juntas antes do inevitável duelo final entre os dois, que serão os momentos mais gostosos e bem aproveitados por aquela mãe. Horas que valerão por anos, até porque, ela não sabe o que acontecerá assim que sair daquele quarto e colocar sua espada Hatori Hanzo em ação contra a de seu oponente, o tão perseguido, Bill.



11. “Volver”, de Pedro Almodóvar (2003)Almodóvar gosta de destacar mulheres em seus filmes e não raro, trata especificamente de mães, como acontece, por exemplo em "Julieta" (2016), "A Flor do Meu Segredo" (1995) e, é claro, "Tudo Sobre Minha Mãe" (1999). Mas não vamos cair na obviedade de destacar o filme que explicitamente dedica, já no título, sua temática às mães e sim um outro do qual gosto muito e que traz as questões das relações entre mães e filhas de uma maneira mais leve, mesmo contendo elementos dramáticos, polêmicos e sombrios. "Volver" é uma espécie de comédia surrealista onde uma mãe, Irene, brilhantemente interpretada por Carmen Maura, "retorna dos mortos" para alguns acertos, alguns ajustes, uma reconciliação com suas filhas, especialmente com Raimunda, vivida por Penélope Cruz, com quem nunca tivera, em vida, uma relação muito boa. Raimunda, diante da novidade da misteriosa volta da mãe, ainda vê-se às voltas com o assassinato cometido por sua filha adolescente  Paula,que matara o padrasto que tentara abusar sexualmente dela. A não ser pelos relatos de Raimunda, não sabemos como era a mãe quando viva, mas o que sabemos é que a Irene "fantasma" é um personagem adorável que dá um brilho todo especial ao filme de Almodóvar. Um filme delicioso com uma mãe que vai nos mostrando, e às filhas, que tudo o que sempre fez, foi protegê-las, assim como a filha Raimunda faz agora em relação à sua pequena Paula. Aquele instinto que passa de mãe para filha.



12. "Indochina", de Régis Wargnier (1992) - Eliane (Catherine Deneuve), dona de uma vasta extensão de seringais na Indochina francesa e mãe adotiva de uma garota indochinesa, se apaixona e tem um romance com um oficial francês da Marinha, Jean-Baptiste, mas o rapaz também cai nas graças da filha Camille em um incidente na rua onde o militar salva sua vida. Em parte por ciúmes, em parte para protegê-la do cenário efervescente pela libertação da colônia, Eliane, rica e influente consegue fazer com  que transfiram o oficial para os quintos-dos-infernos, numa ilha, literalmente, lá na cochinchina, de modo que fique longe da filha, imaginando assim que a jovem desista dele e, por fim, o esqueça. Só que aquela mãe não contava que o amor da menina pelo oficial fosse muito maior do que ela imaginava. A menina atravessa o país atrás do seu amor e, agora sem a proteção de sua posição social, como uma indochinesa comum e misturada a seu povo,  conhece a relidade local, se afeiçoa à sua gente ele e se solidariza com sua luta pela independência.
A busca e Camille por Jean-Baptiste é comovente e tem momentos verdadeiramente lindos, mas em paralelo a isso, a mãe, verdadeiramente amorosa apesar do ato egoísta, desesperada, não mede esforços para encontrar a menina e move mundos e fundos para tê-la de volta. Mas aí já é tarde, a pequena e frágil Camille já virou uma revolucionária procurada e praticamente uma lenda em seu país.
O fato de ter afastado a filha da pessoa que ela amava pode parecer desqualificar Eliane no quadro das grandes mães. É verdade, ela foi um tanto egoísta, autoritária, até insensível. Mas não se engane, leitor. É o tipo do caso da mãe que acha que está fazendo o melhor para o filho, mesmo que isso tenha que custar algum sacrifício o qual, neste caso específico, era para ambas. A gente até fica com uma raivinha dela durante o filme mas na cena do reencontro das duas é de morrer de pena daquela mãe.
mostrando que mãe adotiva é tão mãe quanto qualquer outra.


"Indochina" - trailer



Uma das mortes clássicas de "Sexta-Feira 13".
Jason aprendeu direitinho com a mamãe.
13. “Sexta-Feira 13”, de Sean S. Cunnigham (1980) – Quando pensamos em “Sexta-Feira 13”, a primeira lembrança que nos vem à mente é o assassino psicopata da máscara de hóquei, Jason Voorhees, mas pouca gente lembra que quem mata no primeiro filme da franquia (alerta de spoiler) é a mãe de Jason. Sim! Pamela Voorhees traumatizada e perturbada pela morte do filho, afogado por negligência dos monitores do acampamento de Crystal Lake, responsabiliza, de um modo geral, a todos os jovens cheios de vida e resolve que deve se vingar de todos aqueles que venham a acampar no lugar onde o filho morreu. E a mamãe capricha! É um banho de sangue com algumas cenas das mais clássicas do terror slasher como, por exemplo, a que Kevin Bacon, estreando, novinho ainda, tem a garganta atravessada por uma faca, deitado na cama. Caso em que o filho aprendeu direitinho os ensinamentos da mãe pois, dali em diante, nas  sequências da franquia, é Jason quem assume o facão e mostra-se extremamente competente em sua tarefa.
Quem assistiu a “Sexta-Feira 13 – parte 1”, jamais vai esquecer a frase, dita com aquela vozinha fininha, imitando a de uma criança, sempre antecedendo mais uma atrocidade: “Mata ele, mamãe!”.



14. "A Troca", de Clint Eastwood (2009) - Agora, imagina se seu filho desaparece, você denuncia o fato às autoridades e depois de algum tempo eles vem pra você com uma outra criança e querem que você engula e aceite aquilo. Cara, é exatamente o que acontece em "A Troca", filme dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Angelina Jolie, e o pior é que a coisa toda é baseada num fato real ocorrido em Los Angeles na década de 20. 
Aquela mãe insiste, Christine Collins, reafirma que não é o mesmo menino que sumira, tenta provar de todas as maneiras, com os professores, com exames médicos, com fotos, mas a polícia não só tenta lhe impor que é o garoto que ela procura como a acusa de insanidade mental por não reconhecer o próprio filho.
Uma história angustiante em que ficamos cada vez mais envolvidos e torcendo por aquela mãe. Mas infelizmente, amigos, tenho que revelar que a situação só piora.
Caso de uma mulher que não desiste do filho, não desiste da verdade, mas que, mãe solteira, vê-se impotente e cada vez mais sufocada pelas autoridades, pelo machismo e pela conjuntura social de sua época.



15. "Mãe!", de Darren Aronofsky (2017) - Essa é a mãe de todos nós. Salvo outras possíveis interpretações, a Mãe, interpretada por Jennifer Lawrence no filme de Darren Aronofsky, representa mãe natureza, a vida. E tudo o que aquela mãe mais quer é viver em paz e preservar sua casa, que é, na verdade, a nossa casa. A casa em questão, uma propriedade retirada em reformas, é onde ela vive com Ele, um escritor em crise criativa, vivido por Javier Barden, que, vaidoso e inconsequente, permite visitas inconvenientes que cada vez mais vão tumultuando a vida e o lar dos dois. Primeiro são um homem e uma mulher, convidados por Ele (Adão e Eva); depois uma multidão mal-educada que chega para o funeral de um dos filhos do homem e da mulher, morto pelo irmão (Caim e Abel), e com seu mau comportamento, mesmo diante de todas as advertências, acabam causando um enorme vazamento (Dilúvio) e a ira da dona da casa; e por fim, quando ela já está grávida, os convidados que chegam para celebrar a nova obra do escritor que finalmente rompera seu bloqueio criativo e que assim que ela tem o bebê, em meio à sua noite de consagração, exibido, faz questão de levar e entregar seu filho, recém nascido à turba de insensatos que..., (* alerta de spoiler)  literalmente, o devoram (Jesus Cristo).
Um filme complexo, para o qual cabem diversas outras interpretações ou variações, mas que não deixa dúvida quanto a uma coisa: o zelo que uma mãe tem pelo seu lar e pelos seus.
À parte as reflexões religiosas, com "Mãe!" você vai entender melhor o desespero da sua mãe quando chegava em casa e via aquele lugar de cabeça pra baixo. 



Alguns outros filmes com mães marcantes que merecem destaque e poderiam perfeitamente estar na nossa lista: "O Óleo de Lorenzo", de George Miller (1992); "Mamãe Faz Cem Anos", de Carlos Saura (1979); "Mommy", de Xavier Dolan (2014); "Minha Mãe é Uma Peça", de André Pellenz (2013); "Tudo Sobre Minha Mãe", de Pedro Almodóvar (1999); "Mom", de Ravi Udyawar (2017); "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert (2015); "O Quarto de Jack", de Lenny Abrahamson (2016);  "Precisamos Falar Sobre Kevin", de Lynne Ramsay (2012), "Juno", de Jason Reitman (2008); "Zuzu Angel", de Sérgio Rezende (2006)





por Cly Reis




terça-feira, 21 de maio de 2019

"Fúria de Titãs" de Desmond Davis (1981) vs. "Fúria de Titãs" de Louis Leterrier (2009)





É aquele caso que uma produtora grande vê num filme antigo, cheio de potencial de ação, a oportunidade de pôr uma boa grana e utilizando novos recursos técnicos, inexistentes na época daquela produção, “renová-lo” para os novos padrões de exigência do público e ganhar uma grana maior ainda.
 E é o tipo do caso em que nada dá certo.
Nem consegue superar o antigo com todas suas limitações, nem fatura tanto assim pelo simples fato que a tentativa resulta numa gloriosa porcaria.
A refilmagem de “Fúria de Titãs” revela-se completamente frustrante e mesmo com toda a limitação de técnica e de recursos da época, os efeitos do clássico de 1981 são bem mais legais, até mesmo pela inovação que representavam na cena cinematográfica em sua época.
Efeitos especiais, 3D e o escambau não garantem acréscimo algum à versão de 2009. A direção de arte é risível, a ambientação, os figurinos, tudo... Deuses em pé em cima de umas nuvenzinhas no Olimpo é algo assim de pedir pra morrer; e o look de Zeus com uma roupitcha brilhante-desfocada não é nada menos que ridículo. No original, por mais simplórios que os cenários, figurinos e efeitos fossem, por incrível que pareça, refletiam de uma forma mais verossímil o imaginário do que seria a morada dos deuses supremos do Olimpo.
No tocante à história, à trama, ao desenvolvimento, à trama, além de muito mal amarrado, mal conduzido, o novo peca em se desfazer de elementos extremamente interessantes do clássico de 1981. A pureza de Perseu e a predileção dos deuses por ele são esquecidas em detrimento a uma ira desmedida. O novo Perseu é orgulhoso, é egoísta e impulsivo, ao contrário do antigo, cuja grande motivação era o amor da bela Andrômeda, é movido pela vingança pela morte dos seus pais adotivos. A busca pela amada, no original, o humanizava e o tornava, genuinamente heroico, uma vez que cumpria sua missão independente dos interesses dos deuses.
Numa sucessão de correrias, lutas, saltos e voos, o remake nessa tentativa de adequação da linguagem pra os novos padrões de ação, acaba constituindo um protagonista pouco inteligente e pouco racional, o que fica evidente, por exemplo, na cena da Medusa, uma das mais clássicas da versão original, na qual o antigo Perseu, aguarda o momento certo e finalmente age; sendo que nesse novo, desde que entram no covil da Górgona, é só “loucura total”, culminando numa desenfreada perseguição entre as ruínas do mundo subterrâneo que vai, aí sim desfechar-se da mesma maneira que no outro filme mas de um modo muito mais ‘estrepitoso e exagerada, com um salto acrobático e tudo mais. Isso tudo sem falar que a nova Medusa também não ajuda... Esta, da refilmagem, que ainda conserva resquícios de sua quase extinta beleza, não é nem sombra da apavorante criatura da primeira versão que, lembro bem, me deixou arrepiado na época em que vi o filme pela primeira vez.

Perseu contra Medusa - "Fúria de Titãs" (1981)


Perseu contra Medusa - "Fúria de Titãs" (2009)


A nova versão é tão mal pensada que opta por desprezar as oferendas dos deuses a Perseu, o que, penso, seriam elementos valorizadores na trama e altamente enriquecedores para os novos objetivos de um remake de ação e efeitos visuais. Os apetrechos colocados pelas entidades do Olimpo à disposição do filho de Zeus, fariam dele uma espécie de James Bond de Argos com um brinquedinho para cada situação difícil: a espada, a nova pistola que o Q lhe entregaria; o cavalo alado Pégasus aquele carrão esporte irado; o elmo um capacete multi-função; a coruja, um daqueles relógios altamente tecnológicos que faz de tudo; e o escudo, que por sinal o salva no confronto com a Medusa, uma blindagem com visor interno. Que tal? Pra um filme de ação não podia ser uma pedida melhor, não? Mas, não! Nosso Perseu. por birra, por orgulho, por criancice, insiste em não utilizar na maior parte do tempo a não ser quanto, lá pelo final, a coisa aperta e ele acaba tendo que usar a espada e montar no cavalo. Mas mesmo assim, muito a contragosto.
Um remake burro que desperdiça exatamente o que o original tinha de mais meritório e que certamente colaboraria para o seu sucesso. Some-se a isso a fotografia escura e imprecisa, as motivações tolas dos personagens, os diálogos infantis e previsíveis e as atuações caricatas, temos um produto completamente desprezível.
Tipo do time que tem mais dinheiro, mas contrata errado, amontoa jogadores em algumas posição mas fica faltando em outras e vai jogar contra um time certinho, com suas limitações, com um trabalho bem feito, com uma proposta de jogo, e aí, meu chapa, toma um chocolate, um “arrodião”, uma “saranda”.

O Olimpo do filme de 1981 é bem mais modesto, mais sóbrio,
mas parece traduzir melhor a ideia de morada dos deuses
do que o de 2009 que parece mais a Sala de Justiça dos Super-Amigos.

“Fúria de Titãs”  de 2009 até tem chances mas desperdiça e, com a zaga praticamente petrificada, como se tivesse visto a Medusa, só assiste ao "Fúria de Titãs" de 1981 meter 3x0, mole, mole, ainda no primeiro tempo, com direito a olé. Sendo colocada na roda, Medusa perde a cabeça e, com dez em campo , o filme de 2009 leva o quarto, na segunda etapa, pra sacramentar.
Vitória da Fúria. Não a Fúria Espanhola, Campeã do Mundo de 2010, mas a "Fúria de Titãs", o verdeiro clássico, de 1981.






por Cly Reis

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Música da Cabeça - Programa #109


Neguinha, pode tirar selfie à vontade, que aqui não é BB, mas MDC, rapá! Sim, o Música da Cabeça vem como sempre calcado na diversão e na diversidade. Rolling Stones, GilbertoGil, Kula Shaker, Ira!Prince  e Lô Borges provam isso. A notícia musicada do “Música de Fato” e a letra lida do “Palavra, Lê” também teremos em nosso caldeirão de ideias e gêneros. Ah, também um “Sete List” com uma lista mais beijoqueira que a moça aí da propagada. Marcado o encontro hoje à noite, 21h, na Rádio Elétrica, então? Podem vir, que aqui não tem veto! A produção e a apresentação são de Daniel Rodrigues. 


quinta-feira, 2 de maio de 2019

Dead Kennedy's - "Frankenchrist" (1985)





“No contexto do disco,
está bastante claro que o pôster 
não é só uma brincadeira idiota”
Jello Biafra



É complicado a gente apontar um álbum melhor do que o grande clássico de uma banda porque o disco legendário vai estar, sempre ali fazendo sombra, sussurrando "Eu sou o maior!" e, no fundo, lá  no fundo, não  há  muito como negar. Mas tem aqueles que, se não são tão emblemáticos, representam o sinal definitivo de crescimento e maturidade. É o caso de "Frankenchrist" (1985) em relação  a "Fresh Fruit for Rotting Vegetables" . O álbum de estreia  dos Dead Kennedy's, de 1980, é clássico inconteste, amado e idolatrado de uma ponta à outra do planeta, e não sem razão. É um trabalho visceral no qual a sonoridade reflete perfeitamente o que o grupo pretendia e conseguia transmitir naquele momento. Mas "Frankenchrist", de 1985, é muito melhor tecnicamente. As músicas tem mais estrutura, são mais elaboradas, deixam mais evidente a influência da surf-music californiana que muitas vezes ficava escondida sob a fúria e a velocidade que definiram as músicas dos Kennedy's por quase toda sua existência. Existência  que, aliás,  foi abreviada exatamente em "Frankenchrist" por uma razão, de certa forma, um tanto banal. O encarte do álbum, idealizado pelo artista suíço H.R. Giger, o criador do design do personagem Alien, foi considerado obsceno, a banda processada, e o grupo não abrindo mão da arte, entendendo que a mesma complementava o conjunto artístico proposto no álbum, teve seus discos recolhidos e impedidos de serem comercializados, gerando prejuízos, transtornos e, no fim das contas, um desgaste que custou a vida da banda, depois de uma enorme demora para a definição do processo. 
"Landscape  #XX", mais conhecida como Penis Landscape,
a arte da polêmica. 
"Soup is a good food", que abre o disco, construída sobre um riff ondulante e cheia de alternâncias entre os instrumentos; a também bem estruturada "A growing boys need his lunch", de refrão poderosos e marcante; "Chicken farm", com seu andamento cadenciado e vocal ecoante; e as fantásticas "Goons of Hazard" e "This could be anywhere" de interpretação intensa e dramática de Jello Biafra, só comprovam o crescimento musical da banda e o salto de qualidade naquele momento com composições mais longas, mais elaboradas e com qualidade de produção. Mas faixas como "Hellnation", "Jock-O-Rama" e "MTV Get out the air", apesar da introdução enganosa, garantem a tradicional sonoridade mais rápida e barulhenta e mostram que os Kennedy's podiam até ter agregado mais elementos mas não haviam esquecido do hardcore. Aproximando-se do fim do disco, esquisita e 'pesadona' "At my job" por sua vez, está mais para o dark do que para o punk, e para fechar, os DK acertam perfeitamente no equilíbrio entre o ímpeto punk e a evolução técnica com a boa "Stars and stripes of corruption".
Um disco do tempo em que os Dead Kennedy's encaravam o sistema e brigavam por uma arte mesmo que isso viesse a custar caro, ao contrário do que aconteceu recentemente na divulgação da turnê brasileira, quando remanescentes da banda que seguiram com o nome e lançaram outros trabalhos mesmo depois da saída do líder Jello Biafra, cederam a pressões e, como se não bastasse, num primeiro momento, terem renegado o genial poster idealizado por uma artista brasileiro que havia mobilizado ainda mais os fãs para o evento e causado a ira dos apoiadores do atual governo brasileiro, ainda cancelaram as apresentações em terras brasileiras. Se tem um disco que simboliza de forma bem ilustrativa o oposto do ocorrido neste imbróglio da frustrada turnê brasileira, que simboliza o que é ser verdadeiramente punk e não se dobrar ao sistema, brigar contra censura, sistema jurídico, pressões sociais, falsa moral, conservadorismo e hipocrisia, esse disco é "Frankenschrist". 

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FAIXAS:
  1. "Soup Is Good Food" – 4:18 (Jello Biafra)
  2. "Hellnation" – 2:22 (D.H. Peligro)
  3. "This Could Be Anywhere (This Could Be Everywhere)" – 5:24 (Jello Biafra)
  4. "A Growing Boy Needs His Lunch" – 5:50 (Jello Biafra)
  5. "Chicken Farm" – 5:06 (Jello Biafra)
  6. "Jock-O-Rama (Invasion of the Beef Patrol)" – 4:06 (Jello Biafra)
  7. "Goons of Hazzard" – 4:25 (East Bay Ray, Jello Biafra)
  8. "M.T.V. - Get off the Air" – 3:37 (Jello Biafra)
  9. "At My Job" – 3:41 (East Bay Ray)
  10. "Stars and Stripes of Corruption" – 6:23 (Jello Biafra)

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Ouça:
Dead Kennedy's - Frankenchrist


Cly Reis