Topei, dia desses, com o livro
“Discoteca Básica: 100 personalidades e seus 10 discos favoritos” e, blogueiro como sou, com seção dedicada a
álbuns importantes, além de apaixonado por música e colecionador
de CD's e LP's, fiquei extremamente interessado. Trata-se de uma
série de listas elaboradas por 100 personalidades, em sua maioria
ligadas ao mundo da música, que destacam, cada um, 10 álbuns
musicais importantes de alguma forma em suas vidas. Por mais que
tivesse me dado coceira pra comprar, até hesitei um pouco em comprar
imaginando que as indicações dos convidados pudessem meramente cair
naqueles clichês tipo “progressivo é mais técnico e o resto é
pobre”, ou “sou do metal e escolhi 5 AC/DC e 5 Iron Maiden" ou
“Beatles é melhor que tudo” e simplesmente saírem nomeando 5
entre os 10, 7 de 10 ou mesmo 100% da lista só de Beatles. Mas não.
Um que outro até manifestou a intenção de relacionar Beatles nas
10 posições mas felizmente meus temores não se confirmaram. No
caso do Fab Four, em especial, tiveram, por óbvio, um número de
indicações proporcional à sua importância de maior banda de todos
os tempos, mas felizmente as listas mostraram-se bem diversificadas,
curiosas e contendo dicas bem interessantes. Os convidados em sua
maioria são de alguma maneira ligadas ao mundo da música, como os
músicos Arnaldo Baptista, Péricles Cavalcanti, Dinho e Andreas Kisser, por exemplo, mas também encontramos artistas visuais,
produtores, executivos de gravadoras, e ex-VJ's da MTV como Didi,
Gastão, Edgar e Thunderbird.
O que torna o livro mais interessante é
que a proposta do organizador, Zé Antônio Algodoal, não foi a de
necessariamente listar 10 discos qualitativamente ou em ordem de
preferência. Seus entrevistados podiam utilizar o critério que
quisessem e essa liberdade de escolha resultou em listas muito
bacanas. Questões afetivas, cronológicas, de formação,
profissionais, primeiras aquisições, parcerias, influências, os
critérios adotados são os mais diversos, alguns convidados
preferindo comentários mais genéricos, abrangentes, outros mais
detalhados, pontuais, disco a disco. Alguns relatos como o da
francesa Laetitia Sadier da banda Stereolab são muito amplos,
bonitos e completos, por outro lado, pessoas de quem gostaríamos de
ter alguma consideração a mais sobre suas escolhas, como no caso do
apresentador Jô Soares, foram extremamente econômicos, deixando uma
breve observação ou às vezes nenhuma.
A paixão demonstrada pelo músico
Hélio Flanders em suas descrições; o envolvimento do diretor de
cinema e teatro Felipe Hirsh; as metamorfoses da ex-diretora da MTV
Brasil, Ana Buttler; o caso dos primeiros dez discos que o Gordo
Miranda ganhou do pai; o texto criativo e bem escrito de Xico Sá; e
a emoção de Airto Moreira ao ser apresentado ao álbum “Miles
Ahead” pela cantora Flora Purim, no relato de Rodrigo Carneiro, são
alguns dos pontos mais legais do livro e que não podem deixar de
serem lidos. Como curiosidades, me chamou a atenção o fato do álbum
“Boys Don't Cry” do The Cure, que eu, fã, nem considero dos
melhores, aparecer bastante entre os votantes; a surpreendente
'disputa' acirrada entre o "Força Bruta", muito votado, e o
"Tábua de Esmeralda", que no fim das contas prevaleceu; e o fato
de que alguns dos meus xodózinhos como o "Psychocandy" do Jesus
and Mary Chain, que eu considero a melhor coisa que eu já ouvi, e o
"Loveless" do My Bloody Valentine, que eu costumo dizer que seria
o disco que eu levaria para uma ilha deserta, aparecem com bastante
frequência no livro em diversas listas, inclusive na do próprio
organizador. No mais, muitos dos meus favoritos aparecem com grande
destaque entre os mais escolhidos como, por exemplo, o "Nevermind"
do Nirvana, o "Transa" do Caetano e o "Tábua de Esmeralda" de Jorge Ben.
Elogios também para a parte gráfica
do livro muito caprichada, cuja arte, meio retrô e saudosista, faz
referência, desde a capa, a vinis, toca-discos e equipamentos de som
antigos.
Para quem gosta de listas, como eu,
especialmente aqs de música, é um livro que desperta a vontade de
montar as suas próprias, com critérios diferentes, de modo que se
consiga contemplar todos aqueles discos que, de certa forma quase
como filhos, e tem um lugar reservado no coração.
Independente da qualidade da contribuição musical dos Beatles ao mundo da música através dos tempos, inegável e fundamental, sempre tive para mim a impressão de que os Garotos de Liverpool eram os bons moços e os Rolling Stones os maus. Ainda que os Beatles também possuam polêmicas, episódios com mulheres e tal, a conduta de Mick Jagger e companhia sempre me pareceu muito mais roqueira. Até o jeito de cantar, de vestir, da postura do palco, tudo. Talvez por tudo isso sempre tenha gostado mais dos Stones.
O próprio título deste disco já é mostra desta diferença. É dasafiador e irônico em relação ao “Let It Be” dos Beatles. Algo como, “vocês fazem isso? nós fazemos ISSO!”.
E verdadeiramente o disco é TUDO ISSO. Uma obra admirável e grandiosa quase que sem igual na história do rock.
Pra começar, abre com “Gimme Shelter” que na minha opinião é a melhor canção de rock de todos os tempos. Jagger com um vocal impetuoso, quase agressivo; os vocais femininos de arrepiar, a guitarra precisa de Richards e aquele tom apocalítico da letra fazem de “Gimme Shelter” algo mágico e superior.
“Love in Vain” que vem na seqüência é demonstração evidente de uma das influências mais fundamentais da banda, o blues, e particularmente, Robert Johnson, que imortalizou a canção. A propósito, os chatos (mas bons) irmãos Reid do Jesus and Mary Chain, chegaram a afirmar que os Stones eram apenas “a melhor banda de blues do mundo”, e quando dizem APENAS de blues, quer dizer que não consideram uma banda de rock. Mas tirando essa antipatia dos Reid, eu compreendo a afirmação, pois no fim das contas os Rolling Stones incrementaram seu rock com muito blues e deram ao blues traços mais roqueiros e fizeram isso como ninguém.
O blues se faz presente em vários momentos no disco e outros bons exemplos no disco são a ótima “Midnight Rambler”, mais agitada, forte e vibrante, e a faixa título “Let It Bleed”, mais melancólica.
O álbum fecha com a grandiosa “You Can’t Always Get What You Want” pontuada por um belíssimo coral gospel, num crescendo mejestoso que confere um final digno a uma obra fantástica como esta. Se eu até posso não ter sempre o que quero, não sei, mas a sensação que se tem ao ouvir “Let It Bleed” é de que não se precisa de mais nada.
“Quando terminamos as bases e os
vocais para aquela leva de músicas, começamos a ensaiar um material que poderia
render ainda mais um disco, mas que eu havia composto para o filme. Quando
‘Little Creatures’ saiu, eu já estava no Texas para filmar ‘True Stories’. Levei as fitas de multicanal com as nossas faixas-base para as músicas do filme
até o set de filmagens em Dallas e adicionei um pouco do tempero texano”.
David
Byrne,
em seu livro
“Como funciona a música”.
O ano de 1986 é especial para quem pegou o rock dos anos 80. Talvez junto
apenas com o ano anterior (que viu nascerem "Meat is Murder", dos Smiths, "The Head on The Door", do The Cure, e "Psycho Candy", da The Jesus and Mary Chain),
tanto no Brasil quanto fora houve discos essenciais de bem dizer todas as
grandes bandas e artistas da cena pop da época. No cenário internacional, em
especial, muitos se superariam no sexto ano da chamada “década perdida”. Siouxsie and the Banshees poria na praça o sucesso “Tinderbox”, a P.I.L; de John Lydon chegaria ao auge com "Album" e Smiths e New Order estourariam nas
rádios com “The Queen is Dead” e "Brotherhood" respectivamente, para ficar em apenas quatro exemplos. Embora de sonoridades distintas, mesmo que afim em certos
aspectos, o ponto que os unia era o fato de que, já trilhados alguns anos e
discos lançados, todos chegavam naquele momento mais maduros e donos de sua música.
Assim, 1986 trouxe uma culminância de grandes álbuns não por coincidência, mas
por que representou o desenvolvimento artístico da geração vinda do punk.
Essa onda atingiu outra grande banda do final dos 70/início dos 80: o Talking Heads. Liderados pelo talentoso
esquisitão David Byrne, os Heads, surgidos na cena punk nova-iorquina, haviam largado
com o referencial "77", daquele ano, passado pela brilhante trilogia com Brian Eno (“More Songs about Bouildings and Food”/"Fear of Music"/"Remain in Light")
e pelo bom “Sepeaking in Tongues”, além de mais três registros ao vivo. Nesse
transcorrer, atravessaram a virada dos anos 70 para os 80 avançando em estilo e
personalidade. Se no começo, comandados pelo produtor Toni Bongiovi, foi o
proto-punk e, logo em seguida, Eno os tenha empurrado para o experimentalismo
pós-punk e para a world-music, em
“Speaking...”, de 1982, passam a produzir a si próprios e mostram uma intenção
pop-rock mais refinada. Afinal, a criatividade de Byrne, seu principal
compositor, nunca correspondeu exatamente à tosqueira do punk-rock genuíno dos
colegas de CBGB Ramones e Richard Hell. Veio, então, outra joia da safra 1985:
“Little Creatures”, para muitos o melhor trabalho da banda e um dos ápices do
pop-rock dos Estados Unidos. De admirável musicalidade, trazia pelo menos dois hits
marcantes: “Lady Don’t Mind” e “And She Was”. Seriam Byrne & cia. capazes
de superar aquele feito? A resposta veio um ano depois, no fatídico 1986, não
apenas em um disco, mas num até então incomum projeto multimídia: o
disco-filme-livro “True Stories”,
que está completando 30 anos em 2016.
Para a época, o que hoje é comum no showbizz,
em que um artista grava o CD, DVD, videoclipe e um documentário num mesmo
espetáculo sem precisar gastar uma fortuna, foi bem impressionante a ousadia de
Byrne, o verdadeiro “head” do projeto.
Não se via uma proposta naquele formato até então, no máximo os abastados
clipes-filmes de Michael Jackson. Neste, entretanto, de feições quase intimistas,
Byrne, dentro de um mesmo tema, dirigiu um filme, atuou nele, lançou um livro
de fotos e textos e ainda criou de cabo a rabo um disco, componto-o e
produzido-o por inteiro. E mais: tudo de altíssima qualidade! Da turma que
aprendeu com Andy Warhol a transformar produto em arte, Byrne e seus habilidosos companheiros de grupo – a ótima baixista Tina Weymouth, o
competente baterista Chris Frantz e o versátil guitarrista e tecladista Jerry
Harrison – traziam três “produtos culturais” interligados mas independentes
entre si. Pode-se ver o filme e não comprar o disco ou ler o livro e por aí vão
as combinações. Há quem teve o primeiro contato com a obra, por exemplo,
através dos clipes da MTV (de certa forma, um quarto tipo de produto cultural)
e depois ouviu o disco ou assistiu ao filme.
Para se falar sobre as músicas, no entanto, é fundamental que se comece
abordando sobre o filme. Em "Histórias Reais" (tradução nos cinemas no Brasil),
um narrador, encarnado pelo próprio Byrne, percorre como um repórter a pequena
Virgil, no estado do Texas, em plena comemoração dos 600 anos da cidade, onde
encontra diversos personagens hilários e típicos. Conforme as situações vão se
apresentando, as músicas da trilha vão surgindo. Byrne, escocês radicado nos
EUA, cria um filme no qual engendra com delicadeza e humor uma crônica cotidiana
da vida norte-americana, tudo permeado por um olhar aparentemente infantil mas
carregado de perspicácia e ligado à relação emocional do autor com o seu lugar.
Lindamente poético, algo entre o documental e a fantasia, o longa
sintetiza as belezas e as fragilidades do povo do país mais poderoso do mundo.
Como se vê, no filme está a razão do trabalho musical, pois este funciona
como uma trilha sonora que veste a narrativa da história filmada ao mesmo tempo
em que é “apenas” mais um disco de carreira do Talking Heads, seu sétimo de
estúdio. Na seara de avanço de seu próprio estilo, eles repetem acertos do
passado, principalmente de seu trabalho antecessor “Little Creatures”. A
começar, assim como o disco anterior, um pouco por coincidência “True Stories”
também tem dois hits marcantes. O primeiro deles é “Love for Sale”, que o abre.
A letra já denota com humor e distanciamento crítico o caráter pueril e
materialista do ser norte-americano, que põe tudo à venda, até – e
principalmente – o amor. “O amor está
aqui/ Venha e experimente/ Eu tenho amor pra vender”, canta, enquanto, no
clipe, imagens de publicidade pulam na tela em cores vibrantes e kitch. Divertido, o clipe é a própria
cena extraída do filme, numa total interação entre as obras. E que grande
música! A batida lembra a de “Stay up Late”, de “Little...”, só que mais
acelerada, e o riff, memorável, é
daqueles que se reproduz o som com a boca. Pode-se colocá-la na classificação
de perfect pop, músicas de estrutura
perfeita e próprias para tocar no rádio mas que guardam qualidades genuínas de
estilo e composição.
Com uma pegada bastante Brian Eno pela base no órgão, “Puzzlin'
Evidence“ – no filme, a cena de um culto religioso em que se projeta um vídeo
com as maravilhas da tecnologia e do poderio bélico e financeiro yankee – tem o vigor do gospel,
principalmente no refrão, com o coro cantando com Byrne: “Puzzling Evidence/ Done hardened in your heart/ Hardened in your
heart”. Em seu livro “Como Funciona a Música”, de 2012, ele comenta que
compôs as faixas de “Little...” e “True...” praticamente ao mesmo tempo, por
isso as semelhanças entre um e outro. No caso do segundo, o que já se
diferenciava em sua cabeça era a aplicação: seriam músicas para o filme que ainda
pretendia rodar. Assim, já no Texas para inteirar-se das locações, levou
consigo as demos ainda por finalizar e lá teve a ideia de inserir os elementos
mais peculiares do folk
norte-americano, como o acordeom Norteño, a steelguitar e o coral de igreja
protestante de “Puzzlin'...”.
Durante todo o disco, a bateria de Chris é especialmente amplificada,
ótimo ensinamento pescado da faixa “Television Man”, de “Little...” – resgatada,
porém, de antes, pois já nota-se isso em “Electric Guitar”, de “Fear of Music”,
de 1979. Pois a caribenha “Hey Now” é marcada com essa batida forte,
acompanhada de bongôs e de uma guitarrinha ukelele,
a mesma que faz um solo totalmente no espírito ula-ula. Por conta de seu ritmo e melodia quase lúdicos, no filme,
Byrne a arranjou diferentemente: são crianças, todas com instrumentos
improvisados como pedaços de pau e latas, quem, numa das passagens mais bonitas,
entoam os versos: “I wanna vídeo/ I wanna
rock and roll/ Take me to the shopping mall/ Buy me a rubber ball now”.
“Papa Legba”, das melhores de “True...”, é outra que mostra como a
banda aprendeu consigo própria. A programação eletrônica faz intensificar o
ritmo sincopado da música africana, que começa com percussões típicas do
brasileiro Paulinho da Costa, um craque, e um canto quase tribal extraído por
Byrne. Visível influência dos trabalhos com Eno, principalmente do world-music “Remain in Light”. O tema em
si é lindo: um canto ritualístico do vuduhaitiano (“Papa Legba” significa aquele que serve como intermediário entre
a loa – mundo dos espíritos – e o
homem) que é usado no filme quando o personagem de John Goodman, um homem em
busca de uma carreira como cantor, recorre a esta espécie de pai-de-santo –
vivido pelo cantor Pops Staple, que a canta lindamente. No disco, é Byrne quem
está nos microfones, esbaldando-se em seu vocal rasgado e emotivo.
O segundo lado no formato LP abre com outro hit e outro perfect pop: a sacolejante "Wild
Wild Life", marco dos anos 80 e da música pop internacional. Impossível
ficar parado se estiver tocando numa pista. Além da letra ácida, a canção, bem
como seu clipe, também extraído do filme, é superdivertida, num convite a se assumir
o “lado selvagem”. Várias pessoas, os integrantes da banda e atores, sobem num
palco em um programa de tevê fazendo playback
e interpretando as figuras mais exóticas. O refrão, de versos móveis, é daqueles inesquecíveis de tão naturalmente
cantaroláveis: “Here on this moutain-top/
Oh oh/ I got some wild wild life/ I got some news to tell ya/ Oh oh/ About some
wild wild life...”.
Alegre e ritmada, "Radio Head" lembra a levada das bandinhas
folclóricas europeias (as que migraram para os EUA em várias localidades),
ainda mais pelo uso da gaita-ponto. Mas, claro, com o toque todo dos Heads,
desde a forte batida de Chris, as percussões de Paulinho da Costa –
contribuinte costumaz da banda –, e o vocal aberto de Byrne, perito em criar
refrãos pegajosos, como o desta: “Transmitter!/
Oh! Picking up something good/ Hey, radio head!/ The sound... of a brand-new
world”, “Radio Head” guarda uma curiosidade: é a música em que Byrne se
inspirou num verso de Chico Buarque – de “O último blues”, da trilha do filme
“Ópera do Malandro” – e que, por consequência, inspirou o nome da banda inglesa, que juntou as duas palavras.
A melódica “Dream Operator” – que no filme transcorre numa engraçada
sequência de um desfile, mais bizarro e brega impossível – tem uma bela letra,
a qual versa sobre o eterno estado de sonho em que vivem os norte-americanos: “Todo sonho tem um nome/ E nomes contam a
sua história/ Essa música é o seu sonho/ Você é o operador de sonho”. Algo
nem bom nem ruim: apenas verdadeiro. Outra clássica do álbum, “People Like Us”,
tema-chave do filme, é, assim como “Creatures of Love”, de Little...”, um
típico country-rock, com direito a
guitarra com pedal steele de Tomy
Morrell. Uma verdadeira declaração de amor do estrangeiro Byrne para os EUA,
reverenciando a cultura daquele país e ao mesmo tempo totalmente integrado
nela. Os versos iniciais dizem tudo: “Quando
nasci, em 1950/ Papai não podia comprar muita coisa para nós/ Ele disse:
‘Orgulhe-se do que você é’/ Há algo de especial em pessoas como nós”. E o
refrão, dentro da mesma ideia de “Creatures...”, não deixa por menos,
impelindo-nos a enxergar a alma norte-americana com um olhar mais humano: “Não queremos liberdade/ Não queremos
justiça/ Só queremos alguém para amar”.
De ritmo parecido a outra faixa de “Little...”, “Walk it down”, bem
como a outras daquele álbum no refrão de coro em tom entoado, como “Perfect
World” e “Road to Nowhere” (a ideia vem desde o primeiro trabalho com Eno, em
“The Good Thing”, de 1978), “City of Dreams” desfecha a obra com puro lirismo.
A letra fala da perda de identidade provocada pelas aculturações e dizimações,
algo muito presente na formação de sociedades modernas como a norte-americana: “Os índios tinham uma lenda/ Os espanhóis
viviam para o ouro/ O homem branco veio e os matou/ Mas eles não sabem quem realmente
foram”. Porém, artista sensível como é, Byrne joga luzes otimistas sobre o
futuro daquela nação e suas gentes, tendo como metáfora a pequena Virgil: “Vivemos na cidade dos sonhos/ Nós dirigimos
na estrada de fogo/ Devemos despertar/ E encontrá-la por fim/Lembre-se disso,
nossa cidade favorita”.
Se “True...” deve muito a “Little...”, que lhe serviu de espelho em
vários aspectos, também é fato que o disco de 1986 supera seu antecessor em
completude conceitual, uma vez que conversa o tempo todo com a obra filmada e,
consequentemente, com o trabalho fotográfico posto em páginas. Além do mais, o
sucesso alcançado por “True...”, seja motivado pela mídia televisiva e
radiofônica ou pelas telas do cinema, foi consideravelmente maior de tudo o que
já jamais conseguiriam, tendo em vista que “Wild Wild Life” ficou por 72
semanas no 25º posto da Billbord, melhor posição de uma música da banda nesta
parada. Comparações afora, o fato é que ambos os discos revelam um grupo no auge
de sua capacidade criativa, produzindo música pop sem descuidar das próprias
intenções e aspirações.
Tudo isso está ligado bastantemente à iniciativa de David Byrne que,
com o passar do tempo, foi se tornando cada vez mais o principal compositor e criador
da banda, a ponto de passar a ser o único. Assim, se “True...” é o ápice dos
Heads, também é o começo de seu declínio. A redução paulatina mas permanente da
participação de Chris, Tina e Jerry enfraqueceu-os enquanto conjunto, sufocando
os companheiros de Byrne. O fim estava próximo. Ainda tentaram um sopro de
comunhão, “Naked”, de 1988, mas o mais fraco álbum deles só serviria para
denotar que não tinha mais saída que não a separação de uma das grandes bandas do
pop-rock mundial. Os discos, porém, estão aí até hoje, longe de se datarem e
donos de alguns dos melhores momentos do que se produziu nos anos 80, a tal
“década perdida” – que, aliás, de “perdida” não teve nada em termos de rock.
Basta uma audição de “True Stories” para se certificar de que essa história,
por mais onírica que tenha sido, é real e muito especial.
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O filme “Histórias Reais” tem, aliás, uma trilha sonora própria, a qual
traz temas incidentais. Apenas “Dream Operator”, em versão instrumental
arranjada por Philip Glass (“Glass Operator”), se repete, além da faixa “City
of Steel”, que é, na verdade, a melodia de “People Like Us”, também só com
instrumentos. As outras são de artistas variados, como “Road Song”, da genial
Meredith Monk, “Festa para um Rei Negro” (“Olê
lê/ Olá lá? Pega no ganzê/ Pega no ganzá...”), com a banda brasileira
Eclipse, e a mexicana “Soy de Tejas”, de Steve Jordan, além de seis composições
do próprio Byrne que só se encontram em “Sounds From True Stories”.
Hoje no ClyBlog é dia da coluna de... do... vocês sabem de quem.
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"Cheguei! Estou no paraíso", como diria o Compadre Washington. E Eu estou literalmente (hehehe).
E aí, tudo na boa?
Feliz Dia do Amigo atrasado pra toda a galera aí embaixo. Atrasado, mas sincero. Apesar de muita gente ficar achando que Eu não ligo pra vocês, "que tipo de Pai é esse que abandona seus filhos numa hora dessas?" e outras choradeiras, eu queria dizer que tenho todos vocês no meu coração e que não dá pra ficar interferindo em tudo a toda hora e não é por não ficar salvando o pescoço de vocês a todo momento que Eu deixo de ser parceiro.
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Vi a alguns dias neste blog uma tal de uma lista dos 100 melhores discos de todos os tempos escolhidos pelo blogueiro.
Esse cara deve estar de pilha! Deve estar de sacanagem comigo.
Jesus and Mary Chain como melhor? O negócio parece uma furadeira elétrica enguiçada e o cara Me põe esta... esta... coisa, pra não dizer algo pior, no topo da lista. Ah, larguei! Sem falar que os caras ainda põe no meio da história o nome do meu guri e da minha patrôa.
Não posso deixar de concordar com os Stones, com o Nirvana, com os Led, mas com todo o respeito, colocar o veadinho do Prince entre os 10, não dá pra agüentar.
Bom, vou parar de meter o pau na lista dos outros e apresentar a minha.
Com vocês...
OS 10 MELHORES dELE
1. The Beatles "White Album"
(Cara, Eu tenho o "Álbum Branco" original da época. Bolachão pesado, sabe? Puts! Os Beatles foram os caras que eu botei no mundo pra fazer o que Eu faria se tivesse uma banda de rock)
2. Rolling Stones "Beggars Banquet"
(Que é o disco que tem a fantástica "Sympathy for the Devil")
3. Pink Floyd "The Darkside of the Mooon"
(Essa eu tenho que concordar com o blogueiro. Mas também, desse acho que não tem cristão que não goste)
4. Michael Jackson "Thriller"
(Todo mundo tem esse disco, vocês acham que Eu não teria?)
5. Madonna "Like a Prayer"
(Não só por ter o nome da Minha Senhora, mas o disco é bom pacas. O título também ajuda pra Eu gostar. Tem toda aquela coisa de cruzes, clipe com igreja, santo preto e tal. A loira é foda)
6. Jimmy Hendrix "Electric Ladyland"
(Deus da guitarra. Nem eu conseguiria fazer as coisas que o cara fazia nas seis cordas)
7. Muddy Waters "Fathers and Sons"
(Nesse eu apareço na capa NEGÃO e criando o homem. Hehehe! Bárbaro! Mas não só pela capa, o disco é demais mesmo!)
8. Stan Getz e João Gilberto "Getz/Gilberto"
(Esse é pra baixar a rotação. A interpretação do João é de levar às nuvens. E o que são aqueles solos do Getz, hein? Simplesmente divinos!)
9. Cream "Fresh Cream"
(Olha, diziam na época que Eric Clapton era Deus. Eu sei que ele não é por que Eu sou, mas que o disco é bom pra caralho, é)
10. Cocteau Twins "Heaven or Las Vegas"
(Eu só dei pra uma mortal uma voz que representasse a Minha celestialidade na Terra e esta mortal é a Liz Fraser. "A voz de Deus")
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Até a próxima, galera!
Isso se a minha coluna for mantida depois das minhas divergências musicais com o dono do blog.
Abraços.
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Palpites, reclamações, pitacos, opiniões e discordâncias sobre a lista,
Descobri o The Horrors em Londres.
Eu estava em uma loja de CD's, a HMV, quando ouço aquele som muito interessante tocar nos alto-falantes da loja. Puxa! Que bom isso, hein! Talvez até já fosse conhecido no Brasil, mas pra mim era novidade. Lembrava o som dos góticos dos anos 80 mas tinha identidade própria. A voz era algo entre um Ian Curtis e um Peter Murphy, o som tinha a crueza do punk do Joy Division, as atmosferas do The Cure, o barulho de Jesus and Mary Chain, o experimentalismo de um Sonic Youth. Bom isso, hein!
Perguntei a uma vendedora que som era aquele e ela me disse que era de uma banda chamada The Horrors, e me mostrou o CD que estava em destaque no balcão. Para minha surpresa, não apenas o som remetia aos darks oitentistas, a capa do álbum era uma referência clara (ou escura) ao disco clássico do The Cure, "Pornography" de 1982. Aí fui ver o nome das músicas e as referências àquele pessoal da minha época aumentava na medida que muitos dos nomes das canções remetiam de certa forma a títulos da banda Joy Division, como "The New Ice Age" (quase igual a "Ice Age" do Joy Division); Can You Remember (lembrando "I Remember Nothing", também do Joy); Three Decades, de certa forma remetendo a "Decades" e "I Can't Control Myself" ao controle perdido do clássico "She's Lost Control" da banda de Ian Curtis. Coincidência?
Até acho que não. Mas em defesa deles, deve-se dizer que mesmo os nomes tendo certa semelhança, tais faixas não tem nenhuma relação direta com a sua correspondente do grupo de Manchester.
Mas semelhanças à parte, o fato é que nem todas essas referências, homenagens, inspirações fazem de "Primary Colours" de 2008 um arremedo dos discos do pós-punk do início da década de 80. Com personalidade, com qualidade, com incremento de elementos mais atuais e com uma produção caprichada do Portishead Geoff Barrow, trouxeram de volta o climão pesado e sombrio de outrora, a melancolia barulhenta dos shoegazers e a tradicional psicodelia do rock britânico, em um dos melhores trabalhos de bandas dos últimos tempos.
Rigorosamente todas as faixas são ótimas mas em especial a de abertura, "Mirror's Image", ruidosa, perturbadora e viajante; "Who Can Say", canção de amor triste cheia de guitarras flutuantes ao melhor estilo My Bloody Valentine; a que dá nome ao disco, "Primary Colours", colorida sob os matizes do punk na faixa provavelmente mais pegada e básica do disco; e a excepcional "Sea Within' a Sea", faixa longa, de estrutura um pouco mais complexa, bem trabalhada e encantadoramente sombria que encerra de maneira gloriosa este ótimo álbum.
Soube depois que o grupo não era bem assim em seu primeiro disco, que passou por uma certa transformação e que era algo tipo um Strokes, um Libertines ou algo do tipo, só que ruim. Bom..., ainda bem que o que eu conheci foi a banda do segundo disco. Nunca me interessei em ouvir o trabalho anterior e nem preciso. Tenho certeza que não pode ser melhor que isso e que a transformação, que dizem ter ocorrido, por certo foi para melhor. E mesmo, se um dia 'der na veneta' e venham a desistir dessa linha, dessa sonoridade, mudem de ideia de novo, resolvam ser extremamente pop e fazer música para o grande público, já terão deixado um dos grandes discos deste início de século.
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FAIXAS: 1."Mirror's Image" – 4:51 2."Three Decades" – 2:50 3."Who Can Say" – 3:41 4."Do You Remember" – 3:28 5."New Ice Age" – 4:25 6."Scarlet Fields" – 4:43 7."I Only Think of You" – 7:07 8."I Can't Control Myself" – 3:28 9."Primary Colours" – 3:02 10."Sea Within a Sea" – 7:59
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Ouça: The Horrors Primary Colours
Ei, querida, o que você está tentando dizer Enquanto eu estou aqui Não vá embora O mundo está desmoronando
De mãos dadas em uma vida violenta Fazendo amor na ponta de uma faca E o mundo desmoronando
E é difícil pra mim, Dizer E é difícil pra mim, Ficar Estou afundando Para ser eu mesmo Estou voltando Pro bem da minha saúde E há uma coisa Que eu não poderia fazer Me sacrificar por você Sacrificar
Amor, amor, eu não consigo ver Realmente o que você significa pra mim Eu traço meu alvo e digo palavras falsas Eu sou só sua longa maldição E se você for embora Eu não vou aguentar
Mas é assim que você é E essas são as coisas que você diz Mas agora você foi longe demais Com todas as coisas que disse Volte para o lugar de onde você veio Eu não consigo evitar Sob o céu de Abril Sob o sol de Abril
O sol esfria O céu fica negro E você se separou de mim E agora você não vai voltar
Dando as mãos, a vida está morta E um coração partido E alguém que grita Sob o céu de Abril
"Andy Warhol me disse que estávamos fazendo na música o mesmo que ele na pintura, no cinema e na literatura."
Lou Reed
"Todos nós sabíamos que algo revolucionário estava acontecendo. A gente sentiu isso. As coisas não pareceriam estranhas e novas se alguma barreira não estivesse sendo quebrada."
Andy Warhol
No embalo da exposicão de Andy Warhol aqui no Rio, aproveito pra destacar aqui nos FUNDAMENTAIS um dos discos mais influentes de todos os tempos, "The Velvet Underground and Nico" de 1967. Como uma espécie de 'tentáculo' musical do projeto multimídia de Warhol, que também incluía artes plásticas, cinema, moda e literatura, o Velvet Underground apadrinhado pelo gênio da pop-art, era composto por músicos extremamente inventivos, ainda que nem todos brilhantes, como eram os casos da limitada percussionista Maureen Tucker e do esforçado Sterling Morrisson, por outro lado destacavam-se especialmente o guitarrista e vocalista Lou Reed com suas influências folk, suas levadas pesadas e letras cáusticas; e o multi-instrumentista criativíssimo John Cale, cara técnico, metódico mas aberto a todas as possibilidades e experimentações musicais. No entanto o projeto musical de Warhol ficaria completo mesmo com o acréscimo da modelo alemã Nico, agregando aos vocais da banda sua voz singela e aveludada, cheia de sotaque e sex-appeal apesar de toda a relutância inicial de Lou Reed. O resultado de tudo isso, Warhol+Velvet+Nico, foi um álbum brilhante, notável, uma referência musical e artística, um dos discos mais influentes da hstória do rock.
O produtor (na verdade, financiador) Andy Wahol
"The Velvet Underground and Nico" é marcante antes mesmo de ser ouvido, já por sua capa concebida pelo mentor e produtor Andy Warhol, com a clássica e conhecidíssima banana; mas é inegavelmente na parte musical que as coisas foram verdadeiramente impressionantes: "Sunday Morning" que abre a obra lembra uma canção de ninar embalada ao som de uma caixinha de música. Em "I'm Waiting for My Man" a guitarra ganha peso acompanhada por um piano insistente e barulhento com o vocal de Lou Reed soando escrachado enquanto versa sobre as drogas nas ruas de Nova Iorque.
"Venus in Furs", a melhor do álbum e uma das maiores da história do rock, é um épico arrastado com uma batida marcial, pontuada pela viola elétrica de Cale e com Reed, desta vez, cantando de maneira quase hipnótica.
"Heroin" outra das grandiosas do disco vai serpenteando como uma montanha-russa sonora com variações de aceleração, intensidade, ênfases e ruídos como fundo para que Reed conte detalhadamente o uso e as sensações causadas pela droga, com a bateria de Mo Tucker chegando a parecer desordenada em determinados momentos e com tudo culminando numa loucura instrumental total e o violino alucinado de Cale 'bagunce' tudo de vez num final caótico-apoteótico. Aliás, bagunça mesmo (num bom sentido), é o que não falta em "European Son" que chega a ficar praticamente inaudível tal a aceleração, a mistura de sons, as microfonias, a distorção que alcança; mas afinal o que seria do Sonic Youth, do Jesus and Mary Chain, do My Bloody Valentine sem isso?
Nico, a vocalista que Warhol praticamente impôs mas que deu grande contribuição
Nico aparece apenas como vocal de apoio em "Sunday Morning" mas faz as vezes de principal na lenta "I'll Be Your Mirror", na intensa "All Tomorrow's Parties" e na luxuriante "Femme Fatale" com um vocal sensualíssimo e uma interpretação de 'melar a cueca'.
De resto tem também a galopante e elétrica "Run Run Run", tem outra interpretação bárbara de Reed em "There She Goes Again" falando sobre prostituição, tem outra vez o violino esquizofrênico de Cale em "The Black Angel's Death Song", cara... todas demais, porra!
O disco na época não foi lá muito apreciado; vendeu mal e não obteve grande sucesso. Sua importância foi sendo notada aos poucos e já na década seguinte se sentiria sua influência com a explosão do punk rock. Mas foi só um pouco depois ainda, com o passar do tempo, que se reconheceu definitivamente seu justo status de obra-prima.
******************************* FAIXAS:
"Sunday Morning" (Reed, Cale) - 2:56
"I'm Waiting for the Man" - 4:39
"Femme Fatale" - 2:38
"Venus in Furs" - 5:12
"Run Run Run" - 4:22
"All Tomorrow's Parties" - 6:00
"Heroin" - 7:12
"There She Goes Again" - 2:41
"I'll Be Your Mirror" - 2:14
"The Black Angel's Death Song" (Reed, Cale) - 3:11
foram basicamente a primeira banda de rock psicodélico
lá por 1965.
Johhny Depp, ator e músico
Não sei como é que eu cheguei até aqui na minha vida sem ter ouvido The 13th. Floor Elevators!
Fiquei curioso para ouvi-los depois que li sobre o álbum ‘The Psychedelic Sounds of the 13th. Floor Elevators”, no livro “1001 Discos para ouvir antes de morrer”, que mencionava, por exemplo, o fato do Primal Scream ter gravado a música deles “Slip Inside this House”. Achei que só pelo fato de ter merecido uma releitura em 1992 de uma banda tão vanguarda como o Primal Scream, já recomendaria bem a música em questão e a própria banda.
Não me enganei!
“Slip Inside this House” é realmente grandiosa e é tão boa quanto sua versão posterior (cada uma com méritos diferentes, é claro), só que não era do mesmo disco. Esta compõe o álbum “Easter Everywhere” e o que eu queria era ouvir o “Psychedelic Sounds...”.
Fui ouvir o tal do disco e é simplesmente demais. A capa já é uma viagem e dá uma mostra do que nos espera. O álbum com todo seu psicodelismo, é praticamente um precursor do que se chamou de “madchester”, cenário no qual figuraram bandas como o próprio Primal Scream, Stone Roses, Ride e outros tantos. Criativos, doidos, ousados, fizeram uma mistura sonora que ia desde um ensaio de progressivo a uma tendência punk. Músicas como “Reverberation”, também regravada pelo Jesus & Mary Chain, mostram claramente que os Elevators foram uma das fontes que os irmãos Reid beberam para consolidar sua sonoridade. “You’re Gonna Miss Me” é fantástica, “Kingdom of Heaven” é um blues ácido psicodélico, “Roller Coaster” é uma verdadeira montanha-russa com sua inconstância de ritmo e “Fire Engine” mantém a doideira mas com uma veia de surf music tradicional.
Imperdoável que nunca tivesse ouvido falar nessa banda vendo hoje o quão influentes eles foram e continuam sendo.
Bom, antes tarde do que nunca para eu ter descoberto o 13th. Floor Elevators.
Acesso pelo elevador principal pros caras!
Destino: décimo terceiro andar.
Sobe, sobe, sobe... até ficar bem alto.
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FAIXAS:
"You Don't Know (How Young You Are)" (Powell St. John)
"Through the Rhythm" (T. Hall, S. Sutherland)
"Monkey Island" (Powell St. John)
"Roller Coaster" (T. Hall, R. Erickson)
"Fire Engine" (T. Hall, S. Sutherland, R. Erickson)
"Reverberation" (T. Hall, S. Sutherland. R. Erickson)
"Tried to Hide"* (T. Hall, S. Sutherland)
"You're Gonna Miss Me" (R. Erickson)
"I've Seen Your Face Before (Splash 1)" (C. Hall, R. Erickson)
"Don't Fall Down" (T. Hall, R. Erickson)
"The Kingdom Of Heaven (Is Within You)" (Powell St. John)
Coloquei no blog o primeiro da minha lista do melhores álbuns de todos os tempos e então agora resolvi listar o resto.
Sei que é das tarefas mais difíceis e sempre um tanto polêmica, mas resolvi arriscar.
Até o 10, não digo que seja fácil, mas a concepção já está mais ou menos pronta na cabeça. Depois disso é que a gente fica meio assim de colocar este à frente daquele, tem aquele não pode ficar de fora, o que eu gosto mais mas o outro é mais importante e tudo mais.
Mas na minha cabeça, já ta tudo mais ou menos montado.
Com vocês a minha lista dos 100 melhores discos de toda a história:
1.The Jesus and Mary Chain “Psychocandy” 2.Rolling Stones “Let it Bleed” 3.Prince "Sign’O the Times” 4.The Velvet Underground and Nico 5.The Glove “Blue Sunshine” 6.Pink Floyd “The Darkside of the Moon” 7.PIL “Metalbox” 8.Talking Heads “Fear of Music” 9.Nirvana “Nevermind” 10.Sex Pistols “Nevermind the Bollocks"
11.Rolling Stones “Exile on Main Street”
12.The Who “Live at Leeds”
13.Primal Scream “Screamadelica”
14.Led Zeppellin “Led Zeppellin IV
15.Television “Marquee Moon”
16.Deep Purple “Machine Head”
17.Black Sabbath “Paranoid”
18.Bob Dylan “Bringing it All Back Home”
19.Bob Dylan “Highway 61 Revisited”
20.The Beatles “Revolver”
21.Kraftwerk “Radioactivity”
22.Dead Kennedy’s “Freshfruit for Rotting Vegettables”
23.The Smiths “The Smiths”
24.The Stooges “The Stooges”
25.Joy Division “Unknown Pleasures”
26.Led Zeppellin “Physical Graffitti
27.Jimmy Hendrix “Are You Experienced”
28.Lou Reed “Berlin”
29.Gang of Four “Entertainment!”
30.U2 “The Joshua Tree”
31.David Bowie “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”
32.David Bowie “Low”
33.My Bloody Valentine “Loveless”
34.The Stone Roses “The Stone Roses”
35.Iggy Pop “The Idiot”
36.The Young Gods “L’Eau Rouge”
37.The 13th. Floor Elevators “The Psychedelic Sounds of The 13th. Floor Elevators”
38.The Sonics “Psychosonic”
39.Ramones “Rocket to Russia”
40.The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”
41.PIL “Album”
42.REM “Reckoning”
43.Love “Forever Changes”
44.Madonna “Erotica”
45.Grace Jones “Nightclubbing”
46.Pixies “Surfer Rosa”
47.Pixies “Doolitle”
48.Rolling Stones “Some Girls”
49.Michael Jackson “Off the Wall”
50.Michael Jackson “Thriller”
51.Beck “Odelay”
52.Nine Inch Nails “Broken”
53.The Fall “Bend Sinister”
54.REM “Green”
55.Neil Young and the Crazy Horse “Everybody Knows This is Nowhere”
56.Kraftwerk “Trans-Europe Expreess”
57.The Smiths “The Queen is Dead”
58.New Order “Brotherhood”
59.Echo and The Bunnymen” Crocodiles”
60.Prince “1999”
61.Morrissey “Viva Hate”
62Iggy Pop “Lust for Life”
63.Pixies “Bossanova”
64.Chemical Brothers “Dig Your Own Hole”
65.Prodigy “Music For Jilted Generation”
66.Van Morrisson “Astral Weeks”
67.Pink Floyd “Wish You Were Here”
68.Muddy Waters “Electric Mud”
69.Sonic Youth “Dirty”
70.Sonic Youth “Daydream Nation”
71.Nirvana “In Utero”
72.Björk “Debut”
73.Nirvana “Unplugged in New York”
74.Björk “Post”
75.Jorge Ben “A Tábua de Esmeraldas”
76.Metallica ‘Metallica”
77.The Cure "Disintegration"
78.The Police ‘Reggatta de Blanc”
79.Siouxsie and the Banshees “Nocturne”
80.Depeche Mode “Music for the Masses”
81.New Order “Technique”
82.Ministry “Psalm 69”
83.The Cream “Disraeli Gears”
84.Depeche Mode Violator”
85.Talking Heads “More Songs About Building and Food”
86.The Stranglers “Black and White”
87.U2 “Zooropa”
88.Body Count “Body Count”
89.Massive Attack “Blue Lines”
90.Lou Reed “Transformer”
91.Sepultura “Roots”
92.John Lee Hooker “Hooker’n Heat”
93.The Cult “Love”
94.Dr. Feelgood “Malpractice”
95.Red Hot Chilli Peperrs “BloodSugarSexMagik”
96.Guns’n Roses “Appettite for Destruction”
97.The Zombies “Odessey Oracle”
98.Johnny Cash “At Folson Prison”
99.Joy Division “Closer”
100.Cocteau Twins “Treasure”
"Muitos dos samples eram de feedbacks. Nós aprendemos que do feedback da guitarra, com muita distorção, que você pode fazer qualquer instrumento, qualquer um que você possa imaginar."
Kevin Shields
- Não interessa, só pode escolher um.
- Só um? Uns dez que seja. Pra ter mais variedade, mais opções...
- Só um.
- Então...então..., vai o "Loveless" do My Bloody Valentine.
Este hipotético diálogo não seria muito diferente do real se, algum dia por alguma circunstância qualquer, um incêndio, uma enchente, um terremoto, um roubo, uma divisão de bens, um exílio, fosse obrigado ter que apenas escolher UM álbum na minha discoteca para levar comigo para qualquer lugar, para uma ilha deserta, por exemplo. Não que seja o melhor CD que tenho, se fosse por isso o por exemplo"Let It Bleed" estaria à frente; não que seja a banda que mais gosto, se prevalecesse este critério provavelmente Cure e Smiths teriam prioridade, mas o "Loveless" é um daqueles discos que poderia-se chamar um xodó. Mas não um xodó injustificável, daqueles que a gente sabe que é ruim, não contraria o fato, mas morre abraçado com ele, por qualquer motivo que... só Deus sabe. Não, é um álbum absolutamente prazeroso de se ouvir, com seu harmonioso e cativante ruído que constrói a todo tempo inusitadas sinfonias. Além do mais, este disco do My Bloody Valentine é um dos melhores, mais significativos e influentes das últimas décadas e a banda é uma das mais cultuadas e respeitadas no universo underground mesmo com uma discografia rigorosamente pequena.
Com inegáveis influências do noise-rock, caracteristico de bandas como Sonic Youth, por exemplo, do gótico dos '80 e de bandas como Jesus and Mary Chain , o MBV conseguiu em apenas dois álbuns incorporar novas características a estes estilos, praticamente reinventando-os, conferindo-lhe então uma assinatura própria de tal forma original que tornam o som da banda absolutamente peculiar e inconfundível.
"Loveless" o segundo álbum da banda é avanço em relação ao bom "Isn't Anything", seu trabalho de estreia, agregando às distorções, aos efeitos, aos ruídos e à criatividade do cérebro da banda, Kevin Shields, mais vocais femininos de Belinda Butcher, arranjos mais melodiosos e muito mais ousadia nas experimentações.
"Only Shalow", a primeira do disco, é daquelas coisas que a gente mal acredita que esteja ouvindo algo daquele tipo: depois de uma introdução com uma tempestade de guitarras e distorções, que poderia fazer supor algo enérgico, violento, inaudível; tudo desemboca numa canção cantada suave e melodiosamente por uma doce voz feminina, até voltar, a cada 'refrão', a maravilhosas e improváveis explosões sonoras .
"Loomer", que a segue é cheia, concentrada e suavemente barulhenta; "Touched", a terceira, é uma pequena sinfonia 'desafinada' com a rotação alterada que provoca algum descons(c)erto de sentidos no ouvinte. Uma mistura de sensações de belo e bizarro, de harmônico e desrítmico, de clássico e contemporâneo.
A segue a fantástica "To Here Knows When", lindíssima a seu modo; uma cortina sonora que vai se dissipando aos poucos até ficar praticamente dissolvida, restando ao final apenas uma tênue conexão que ainda possa identificá-la em meio à névoa sonora que se transforma.
"When You Sleep" é outra grandiosa, com outro inusitado e indefinível riff conseguido por Kevin Shields em suas muitas experimentações de estúdio.
A lindíssima "I Only Said" já introduz com uma emocionante 'explosão estrelar' que conduz a uma base fantástica que de certa forma, cheia de guitarras, efeitos, samples e tudo mais, lembra uma orquestra de violinos, e os violinos de Kevin Shields são suas guitarras, suas distorções, seus efeitos.
"Come in Alone" é forte, completa e funciona como um catalisador de elementos; "Sometimes" é doce e agradável; "Blown a Wish" apenas compõe bem; "What You Want" é acelerada, empolgante e numa passagem mágica, quase que vacilante, introduz às baterias sampleadas da fantástica "Soon", uma joia cheia de efeitos de marcação, ruídos de fundo e incríveis guitarras que sobrevoam uma base ritmada e carregada de peso e beleza, tudo isso sob a maviosa voz de Belinda Butcher que quase desaparece em meio ao barulho. Num final absolutamente emocionante e épico, "Soon" atinge um clímax sonoro, um êxtase instrumental até praticamente se apagar, se desvanecer, com uma guitarra ao fundo ainda tentando sobreviver ao final inevitável. Um encerramento digno de um disco como este!
Um dos meus preferidos da discoteca, um dos meus xodós da coleção, um dos discos mais cultuados, um dos melhores discos dos anos 90 e um dos grandes da história do rock. Por todas estas razões, pelas sensações que causa, por toda essa estranha beleza, "Loveless" passaria à frente de discos mais completos, mais perfeitos, mais clássicos, mais geniais talvez e seria o disco que eu, se por uma inevitável e cruel escolha tivesse que optar, levaria para uma ilha deserta.
Mas aí penso no meu "Trans-Europe Express", no meu "Gil e Jorge", no meu "Aftermath" e lembro que felizmente, trata-se apenas de um exemplo, de uma hipótese absurda e totalmente improvável, e posso ir curtindo todos os outros também.
Ufa!
FAIXAS: 1."Only Shallow" (Butcher, Shields) - 4:17 2."Loomer" (Butcher, Shields) - 2:38 3."Touched" ( Colm Ó Cíosóig ) – 0:56 4."To Here Knows When" (Butcher, Shields) - 5:31 5."When You Sleep" - 4:11 6."I Only Said" – 5:34 7."Come in Alone" – 3:58 8."Sometimes" – 5:19 9."Blown a Wish" (Butcher, Shields) - 3:36 10."What You Want" - 5:33 11."Soon" – 6:58
“ ‘White Light/White Heat’ é tão
escuro como encarte do álbum.”
Jason Thompson
O The Velvet Underground conseguiu um feito que pouquíssimos artistas do
rock alcançaram: tornar praticamente toda sua discografia essencial. Tá certo
que gravaram poucos discos de estúdio, mas em sua absoluta maioria imprescindíveis.
Poderiam entrar tranquilamente nessa lista “The Velvet Underground”, de 1969,
“Loaded”, de 1970, e até o póstumo “V.U.”, de 1984, sem falar, claro, de seu
primeiro e histórico trabalho, The Velvet Undeground and Nico, de 1967, já
constante entre os ÁLBUNS FUNDAMENTAIS deste blog. Depois de uma estreia tão marcante
como a deste “divisor de águas” da música moderna do século XX, o grupo, até
então apadrinhado por Andy Wahrol, que lhes coordenava toda a parte artística –
influindo, inclusive, no conceito e repertório –, tinha à frente duas das mais
geniais cabeças que o rock já conheceu: Lou Reed e John Cale. E quem tem uma
dupla desse calibre não iria ficar muito tempo associado à figura de outro
artista, por mais que a amizade se mantivesse – como, de fato, ocorreu. Foi
assim que Reed e Cale pensaram ao criar o ousado, selvagem e brilhante “White
Light/White Heat”.
Neste disco, gravado ao vivo no estúdio, o Velvet manda às favas as pré-concepções
intelectualódes que vinham sendo atribuídas a eles e fazem um álbum de puro rock
’n’ roll. Eles se despem de toda a aura de sofisticação, da elegância cool da
ex-integrante Nico e do colorido da pop art para gerar uma obra suja e
corrosiva. Algo ruidoso e psicodélico como jamais registrado antes. Nunca se
tinha ouvido tanta distorção de guitarra, tanto ruído. Parece uma demo! E o
mais incrível: conseguem um resultado tão vanguarda e sofisticado quanto, só
que de outra forma. Ao limparem sua estética de todos os floreios, extraíram a
musicalidade mais bruta e seminal possível, atingindo, por esse viés, níveis sonoros que vão do free-jazz
ensandecido de Ornette Coleman à atonalidade de Shöenberg, passando pela multiplicidade
timbrística de Mahler e pelo folk-rock rural de Hank Williams e à aleatoriedade
dissonante de Cage ou à “música mântrica” de Stockhausen.
A começar pela capa: no lugar da “banana artística” de Warhol, um
design mínimo e seco: fundo preto e letras em fonte simples. Só. O que
importava era o “recheio”. E que recheio! Voltando no trabalho anterior, que
termina no mar de ruídos e improvisos de “European Son”, “WL/WH” inicia com
essa pegada em sua faixa-título, um rockabilly fenomenal em que a voz de Reed
faz tabelinha com o coro, e todas as outras faixas seguem nesta linha até o fim.
O som, tosco e tomado de distorções de pedal, parece rasgar a caixa, e uma
visível (e proposital) equalização estourada, formando uma massa sonora densa.
Tudo está sobreposto: baixo, guitarras, bateria, órgão, vozes. E a letra, mais
corrosiva impossível: narra a experiência de um tratamento de choque a que Reed foi
submetido aos 17 anos na tentativa de “curar-lhe” do homossexualismo. Recado dado, vem “The
Gift”, tribal e minimalista, que conta pela primeira vez na obra do Velvet com
a elegante voz de Cale. O galês recita uma extensa história sobre um homem que
queria assassinar seu desafeto escondido dentro de uma caixa de presente, mas ele
é quem acaba morto.
A terceira é uma das melhores músicas da banda: “Lady Godiva’s
Operation”. Ao estilo das clássicas “All Tomorrow’s Parties” e “Venus in Furs”,
traz uma composição soturna e sensorial com influências da música medieval para
contar sobre uma cirurgia de troca de sexo em uma drag queen, que tem o nome da
histórica personagem anglo-saxã
do séculos I e II. Além da instrumentação crua sobre uma melodia rebuscada, a
harmonia envolve o ouvinte de tal forma que parece criar um mantra. Também
cantada por Cale, lá pelas tantas Reed começa a entrar progressivamente, até
formar com o parceiro o mais psicodélico dueto já visto no rock, em que um solta
uma palavra enquanto o outro emite sons guturais e onomatopeias, e vice-versa.
Nada menos que incrível.
A melodiosa “Here
She Comes Now” dá uma pequena aliviada na pauleira, até entrar “I Heard Her
Call My Name”, que retorna à alta voltagem. Altíssima, no caso. Fico imaginando
o choque que foi isso em plenos anos 60, que, mesmo respirando contarcultura e
rebeldia jovem por todos os lados, nunca tinha visto tamanha radicalidade.
Levei os 20 primeiros segundos da música para entender o seu centro tonal, seu
riff. Mas não é só barulho, não. Em meio
a microfonias e urros de guitarra, descobre-se uma bela canção. Impossível não se
lembrar do épico "Psyco Candy", do Jesus and Mary Chain,claramente inspirado nessa fórmula e
conceito.
O disco
termina com a clássica “Sister Ray”, uma performance protocênica de 17 minutos
tal como a banda fizera várias vezes para as projeções audiovisuais de Warhol
ou para trilhas do cinema alternativo norte-americano. A base, simples e muito
punk, é desenhada pelos improvisos de vocal de Reed e sua guitarra junto com a
de Sterling Morrison, além das inteligentes variações de ritmo de Moe Tocker na
bateria e pelo órgão tresloucado de Cale. Segundo o crítico e historiador
musical italiano Piero Scaruffi, “Sister Ray” é “uma peça épica que rivaliza
com as sinfonias de Beethoven e as improvisações metafísicas de John Coltrane”.
“WL/WH” é, assim, o primeiro disco genuinamente punk da história, antes
mesmo do debut de Stooges e MC5, ambos em 1969, e mais ainda de Ramones, Sex Pistolsou The Clash, que nem pensavam em tanger seus primeiros acordes. Não só
pela sonoridade, mas também por introduzir de vez a postura do “faça você
mesmo”, seja na produção deliberadamente desleixada, seja na execução ao vivo no
estúdio sem esconder possíveis erros, seja na secura da arte gráfica. Um disco
que, completando 45 anos de seu lançamento, é um marco em estética e plasticidade.
Punks, new-waves, ingleses dos ‘80, grunges e indies até hoje deitam e rolam nessa
viagem subterrânea do Velvet, pois “WL/WH” é exemplo de que basta iniciativa e
um sentimento genuíno para fazer rock ’n’ roll. E que bom rock ’n’ roll!
*****************************************
FAIXAS:
1. "White
Light/White Heat" (Reed) - 2:47 2. "The
Gift" (Reed, Morrison, Cale, Tucker) - 8:18 3. "Lady Godiva's
Operation" (Reed) - 4:56 4. "Here She Comes
Now" (Reed, Morrison, Cale) - 2:04 5. "I Heard Her
Call My Name" (Reed) - 4:38 6. "Sister
Ray" (Reed, Morrison, Cale, Tucker) - 17:28 ************************************************