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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Edu Lobo e Antonio Carlos Jobim - “Edu & Tom/Tom & Edu” (1981)




“Edu sabe música, orquestra,
arranja, escreve, rege,
 canta e toca violão e piano.
O Edu é um compositor fabuloso, formidável.”
Tom Jobim, sobre Edu Lobo


“Mais do que a alegria e o prazer deste trabalho,
 fica o orgulho de dividir alguns momentos da música
com o Brasileiro Antonio das águas de março,
do matita, do porto das caixas, do amparo, das luísas,
da sinfonia de Brasília, das saudades do Brasil.
O maior compositor da música popular
de todos os países.”
Edu Lobo, sobre Tom Jobim



Há momentos em que uma obra-prima surge do acaso. Não foi assim com o sonho em comum tido por Salvador Dali e Luís Buñuel na mesma noite e que os motivou a filmar “Um Cão Andaluz”? Ou o processo intuitivo de Jackson Pollock, que formava seus quadros com tintas de pura aleatoriedade? Pois em música acasos como estes também acontecem. Em 1981, Edu Lobo, cantor, compositor e arranjador, um dos mais criativos e respeitados artistas da música brasileira pós-Bossa Nova, estava de saída de sua então gravadora, a PolyGram. Como era de praxe, haveria de realizar um disco com a participação de vários artistas, como uma despedida festiva pelos anos de casa. Em cumplicidade com o produtor Aloysio de Oliveira, o primeiro a ser convidado sem pestanejarem foi Tom Jobim.

Num clima de admiração mútua, auxiliados pela direção não menos afetuosa e sábia de Aloysio, chamaram Tom para tocar piano em “Pra dizer adeus”, faixa de um dos primeiros discos de Edu, logo após esse ser descoberto por Vinícius de Moraes, no início dos anos 60. Tom o fez, mas não sem lançar contracantos, cantar alguns versos e ainda adicionar-lhe acordes, os quais passariam a partir dali a integrar a partitura da canção. Ou seja: chegou para uma participação e mudou a música para sempre. Ao final da gravação, visto que todos estavam felizes com o resultado e com a egrégora formada no estúdio, Tom pergunta: “Era só isso?”. Aloysio propôs, então, de modo a não desapontar o maestro, que se gravasse outra de Edu, desta vez, uma parceria com aquele que representava o elo entre os dois: Vinicius. Edu, claro, gostou da ideia.

Mandaram ver, então, “Canção do Amanhecer”, esta, do primeiro álbum de Edu, de 1965, dando à precoce parceria daquele jovem músico de 22 anos com o tarimbado e mítico poetinha uma versão amadurecida. A presença de Vinicius, como ele gostava de fazer com os amigos, mesmo que imaterial nesta ocasião só vinha a reforçar a afinidade entre Edu e Tom. Como no primeiro take, o resultado foi incrível novamente: sintonia pura, descontração e musicalidade aflorando. Quando termina, Tom capciosamente solta de novo a pergunta: “Era só isso?”. Aloysio, que conhecia bem o parceiro desde os anos 50 – época em que já compunham juntos clássicos como “Dindi” e “Inútil Paisagem” –, entendeu o recado e ligou para o executivo da gravadora. Estava claro que o “canto do cisne” de Edu Lobo na PolyGram não teria vários músicos convidados, mas apenas um: Antonio Carlos Jobim. O maior deles.

Com trabalhos solo recentemente lançados, ambos tinham poucas novidades em suas pautas. Uma das inéditas, entretanto, abre o lado A do LP: a graciosa “Ai quem me dera”, composição antiga de Tom em parceria com Marino Pinto até então guardada para uma ocasião especial. A ocasião surgiu. Sente-se o sabor dos primeiros temas da Bossa Nova, aquele mais carioca e gingado, com Tom e Edu cantando em uníssono com perfeição. É nítida a afinidade entre os dois. Outra de ânimo florescente é “Chovendo na Roseira”, composição instrumental de 1970 regravada por Elis Regina quatro anos depois com a participação de Tom e já com a letra lírico-ecológica do próprio autor. Aqui, esta valsa de cores tipicamente debussyanas (“Olha, que chuva boa, prazenteira/ Que vem molhar minha roseira/ Chuva boa, criadeira/ Que molha a terra, que enche o rio, que lava o céu/ Que traz o azul!”) recebe um tratamento harmônico de alto requinte. A voz de Edu se apropria de tal forma que parece um tema coescrito por ele.

Equilibrando as autorias – ora de um ora de outro com ou sem parceiros –, escolheram-se mais duas em que Tom assina letra e melodia. Uma delas é “Ângela”, das obras-primas do compositor. Tema da segunda fase da Bossa Nova presente no clássico disco “Matita Perê” (1973), a romântica e melancólica “Ângela” guarda traços da complexidade harmônica da música de Chopin. Ivan Lins, um dos ilustres aprendizes do “maestro soberano”, contou certa vez que esta é canção que ele gostaria de ter escrito – precisa dizer mais? A outra, igualmente lírica e impressionista, é “Luíza”, a segunda e última inédita do disco, das mais queridas do cancioneiro jobiniano e que abre o lado B do vinil. Composta recentemente por Tom para o tema de uma novela da Globo, de tão vigorosa, saiu neste álbum e ainda na trilha sonora da novela, ficando meses nos ouvidos dos brasileiros todos os dias sem que jamais tenha se desgastado. E que letra! “Rua/ Espada nua/ Boia no céu imensa e amarela/ Tão redonda a lua/ Como flutua/ Vem navegando o azul do firmamento/ E no silêncio lento/ Um trovador, cheio de estrelas/ Escuta agora a canção que eu fiz/ Pra te esquecer, Luiza...”.

Os parceiros de Tom e de Edu são de extrema importância no repertório afetivo escolhido pela dupla para este projeto quase acidental. É o caso de Chico Buarque. Assim como Vinicius, o autor de “Olhos nos Olhos” é outro que os liga musical e afetuosamente. Parceiro de Tom desde os anos 60, tivera a mão de Edu nos arranjos da trilha de sua peça/disco “Calabar/ChicoCanta”, em 1973. Mas, por incrível que pareça, toda a grande obra da parceria Chico-Edu, que hoje faz parte do inconsciente coletivo da música brasileira, veio somente depois de “Moto-contínuo”, esta, sim, a primeira dos dois, escrita naquele ano e lançada praticamente junto com a versão do álbum “Almanaque”, de Chico. Já na estreia da parceria, Chico se esmerava na letra, uma de suas melhores. Ao expressar em hipérboles a admiração intrínseca do homem pela figura feminina, lança, através de anáforas e epíforas (“Um homem pode...” e “se for por você”), versos da mais alta beleza poética: “Juntar o suco dos sonhos e encher um açude/ se for por você (...) Homem constrói sete usinas usando a energia/ que vem de você”. Ainda, Tom faz-se presente categoricamente, introduzindo neste samba cadenciado e denso ricos contracantos de seu piano e a voz em uníssono com Edu – com timbres muito parecidos, aliás.

Outros dois sambas melancólicos: “É Preciso Dizer Adeus”, de Tom e Vinicius (“É inútil fingir/ Não te quero enganar/ É preciso dizer adeus/ É melhor esquecer/ Sei que devo partir/ Só nos resta dizer adeus”), representando a reverência à parceria gênese de toda a geração da qual Edu pertence; e “Canto Triste”, mais uma dele com Vinicius, esta imortalizada, assim como “Chovendo...”, por Elis (“E nada existe mais em minha vida/ Como um carinho teu/ Como um silêncio teu/ Lembro um sorriso teu/ Tão triste”), fechando o disco de forma altamente melodiosa: só ao violão e a voz de seu autor.

Não sem antes, entretanto, registrarem a talvez melhor do disco: “Vento Bravo”. Faixa do obscuro e hoje cult “Missa Breve”, gravado por Edu em 1972, trata-se de uma composição feita com outro parceiro e amigo em comum com Tom: Paulo César Pinheiro. Em entrevista para o programa O Som do Vinil, do Canal Brasil, Edu comenta que não entendera bem porque Tom, que pedira para incluí-la no set-list, gostava tanto desta música. Parece, porém, evidente. A letra, com marcas da literatura regionalista – remetendo à prosa de Guimarães Rosa de “Sagarana” e a de Monteiro Lobato de “Urupês” –, confere estilisticamente com o que o próprio Pinheiro escrevera para Tom anos antes para a música "Matita Perê". As leis dos homens e da natureza, com emboscadas e perseguições, bem como a implacável ação do tempo, são marcas de ambas as obras. “Vento virador no clarão do mar/ Vem sem raça e cor, quem viver verá/ Vindo a viração vai se anunciar/ Na sua voragem, quem vai ficar/ Quando a palma verde se avermelhar/ É o vento bravo/ O vento bravo”, diz a letra, que narra a fuga de um escravo mata adentro. O refrão, melodicamente intrincado e encantador, ainda diz: “Como um sangue novo/ Como um grito no ar/ Correnteza de rio/ Que não vai se acalmar...”. Ao contrário da sinfônica peça de Tom, porém, traz uma melodia intensa baseada no som dos violeiros folclóricos do sertão. Remete ainda, no trítono do piano que lhe faz base, às trilhas de filmes e séries policiais norte-americanas dos anos 50/60, as quais Edu sempre soube adicionar à sua música com brilhantismo.

E como conjugar tanto talento, tanta sabedoria musical e sensibilidade artística e de tão vastos cancioneiros? Por incrível que pareça, nem sempre juntar isso resulta em boa coisa, pois se pode pecar para mais ou para menos. Em “Tom & Edu”, primeiro, a opção foi por uma estética limpa, enxuta. Nada de grandes bandas ou orquestra. Pretendeu-se, já que “só tinha de ser com você”, reproduzir o clima de admiração mútua. A ausência das cordas, que chegou a ser motivo de crítica à época do lançamento na “vira-latas” imprensa brasileira – que achava um desperdício dois regentes dispensarem a orquestração – é de um acerto categórico. Basicamente, ouve-se o piano de Tom e/ou de Edu, o violão de Paulo Jobim e Luiz Cláudio Ramos, o baixo dividido por Sérgio Barroso e Luiz Alves e apenas a bateria como percussão, tocada por Paulo Braga. Quando muito, o flugehorn impecável de Marcio Motarroyos, como em “Chovendo...” e “Vento...”. E, claro, o canto dos dois experientes artistas. A essência clássica de ambos, cujas musicalidades não à toa são parecidas, retraz naturalmente harmonias ao estilo de DebussyRavel, Bach e Villa-Lobos. Menos, para quem tem conteúdo, é sempre mais.

O segundo motivo de acerto do projeto é a presença de Aloysio como produtor. Parceiro dos dois de longa data, o ex-dono do selo mítico selo Elenco (pelo qual gravara e lançara inúmeros artistas fundamentais à MPB nos anos 60, entre os quais o próprio Edu Lobo) tinha a mão apurada nas mesas de som, conhecia com profundidade harmonia e composição, compartilhava-lhes do mesmo carinho e, principalmente, tinha maturidade para saber influir apenas no que devia. Afinal, quem ousaria mandar em Edu Lobo e Tom Jobim dentro de um estúdio? Tendo recentemente coordenado dois projetos de Tom semelhantes àquele (os discos com Miúcha de 1977 e 1981), Aloysio soube dar a arquitetura sonora certa às faixas.

Já mais satisfeito ao final das 10 gravações que acabava de ajudar a deixar para a história, Tom enaltece o pupilo: “Eu vos saúdo em nome de Heitor Villa-Lobos, teu avô e meu pai”. Edu, por sua vez, contou em entrevista que tem a felicidade de ter dito em vida a Tom de que este era o maior nome da música brasileira de todos os tempos, palavras que, segundo ele, emocionaram Tom. “De todos os arquitetos da música da música que conheço, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é, sem dúvida, o de traço mais amplo e perfeito”, pontuou o seguidor inconteste do maestro. Tanta identificação, tanta confluência entre os artistas, que somente o próprio Aloysio de Oliveira, no alto de sua sapiência, para saber definir: “Edu e Tom, Tom e Edu. E até, se você quiser, Tu e Edom”. Definitivamente, não foi por acidente que eles se juntaram para esse encontro, pois eram almas irmãs.

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FAIXAS:
1. Ai Quem Me Dera (Tom Jobim/Marino Pinto) - 2:13
2. Prá Dizer Adeus (Edu Lobo/Torquato Neto) - 4:41
3. Chovendo Na Roseira (Tom) - 3:24
4. Moto-contínuo (Chico Buarque/Edu) - 3:30
5. Ângela (Tom) - 3:10
6. Luíza (Tom) - 2:59
7. Canção Do Amanhecer (Edu/Vinicius De Moraes) - 3:30
8. Vento Bravo (Edu/Paulo César Pinheiro) - 4:16
9. É Preciso Dizer Adeus (Tom/Vinicius) - 4:18
10. Canto Triste (Edu/Vinicius) - 3:44

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OUÇA O DISCO





terça-feira, 27 de novembro de 2012

Luciano Berio - "Folk Songs" (1964)




"Até Cathy Barberian sabe/
Não há uma volata que
 ela não possa cantar"
da música "Your Gold Teeth"
do Steely Dan


Por séculos a música erudita pautou a música popular, ditando com autoritarismo estético e formal o que seria aproveitado ou não na música de acesso geral – já que, historicamente, a música clássica nunca foi acessível. O contrário mal acontecia, ou seja, da música pop ou folclórica influenciar a clássica (quando ocorria, prevalecia o lado “clássico”). Até que, na senda aberta pelos modernistas da primeira metade do século XX, Shoenberg, Berg, StravinskiOrff, entre outros, a turma de compositores da vanguarda erudita que veio logo em seguida entrou para derrubar todas as barreiras. Um deles foi o italiano Luciano Berio (1925-2003), prolífero autor que, em 1964, compôs o que para muitos é (e para mim também) sua obra-prima: as “Folk Songs”, marco da fusão entre pop, folclore e erudito.Concisão, precisão e requinte em pouco mais de 20 minutos. Resultado de um trabalho de pesquisa de Berio a cantigas folclóricas de diversas partes do mundo, "Folk Songs" é perfeito em tudo: sonoridade, melodia, harmonia, métrica. As sonoridades típicas do lugar de onde se originaram ganham uma síntese, um corpo, como que uma nova linguagem sonora. O arranjo se resume a sete grupos de instrumentos: flauta, clarinete, cello, violino, viola, percussão e harpa. Ah! Claro, tem um oitavo instrumento fundamental e sem o qual a obra não existiria: a voz da mezzo-soprano norte-americana Cathy Barberian. À época casada com Berio, Cathy ganhou do marido esse ciclo de músicas, feitas especialmente para seu vocal apurado e expressivo. Altamente influente em trabalhos para voz na música como um todo, as "Folk Songs" se tornaram uma referência tanto para compositores desta linha, como Meredith Monk e Phillip Glass  quanto para cantoras pop como Elizabeth Frazer (Cocteau Twins), Sinéad O'Connor, Joni Mitchell, entre várias outras.
 E as faixas? Todas impecáveis. Abrindo, "Black Is the Colour (Of My True Love's Hair)" e "I Wonder as I Wander" – minha preferida, com um lindo conjunto harmônico de viola, cello e harpa que forma um som de sanfona “caipira” –, são adaptações livres de canções do compositor folk norte-americano John Jacob Niles. A valsa “Loosin Yelav”, da Armênia, país dos antepassados Cathy, descreve de forma fantástica a trajetória da lua, transmitindo para os sons a impressão deste movimento onírico. “Rosssignolet Du Bois” vem suave e assim se mantém, límpida, contrastando com a intensidade dramática siciliana da seguinte, “A La Femminisca”.
 "La Donna Ideale" e "Ballo" não provêm de bardos populares anônimos; porém, são composições de Berio sobre temas folclórico-amorosos de sua terra natal. A primeira vem de um poema no velho dialeto genovês, "A Mulher Ideal", o qual diz que, se um homem encontrar uma mulher educada, bem formada e com um bom dote, não pode deixá-la escapar. Já a outra, intensa em seus arpejos de violino e cuja letra também é extraída de um antigo poema, diz que o mais sábio dos homens perde a cabeça por amor, mas, em contrapartida, resiste a tudo por causa desse sentimento. Ainda na Itália, a melancólica e dissonante “Motettu de Tristura” baixa o tom lindamente.
 A França retorna nas duas seguintes, inspiradas em peças resgatadas pelo musicólogo Joseph Canteloube no idioma occitano. "Malurous qu'o uno Fenno", bastante medieval com sua flauta doce acompanhando o canto, fala sobre os desencontros conjugais entre homens e mulheres. Já "Lo Fïolairé", em que uma menina em sua roda de fiar canta uma imaginária troca de beijos com um pastor, é uma das mais belas do círculo. Com uma maravilhosa performance de Cathy, que executa uma impressionante progressão harmônica, abre com um violoncelo grave e introspectivo do desejo reprimido da moça, mas progride e termina em acordes cristalinos e deleitosos de harpa. Um gozo.
 A alegre “Azerbaijan Love Song” termina a obra em dança típica russa e uma interpretação bem mais solta da solista, fechando este trabalho que é, do início ao fim e através de várias lógicas, uma declaração de amor do autor à sua amada.
 Um disco pop com ares clássicos ou vice-versa, onde as faixas têm, inclusive, como que feito para tocar nas rádios, o mesmo tempo médio de 2 min e 30 seg de duração. Enquanto, nos anos 50 e 60, vários outros compositores modernos como Berio, ao tentar exprimir os horrores do pós-guerra e as tensões de um mundo dividido faziam de tudo para combater a tonalidade da música, ele não só acolheu a escala cromática como, ainda, a reelaborou, criando uma obra única e agradável a todos os ouvidos, do mais rebuscado ao mais desavisado. Afinal, quando a música é boa, tudo acaba sendo, saudavelmente, a mesma coisa.
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O CD original traz ainda o “Recital I for Cathy” (para voz feminina e 17 instrumentos), considerada uma das mais importantes releituras musicais da segunda metade do século passado. Luciano Berio escreveu esta debochada peça de 35 minutos de teatro em que inclui numerosas citações de história musical (Bach, Monteverdi, Ravel, Wagner, Prokofiev, Bizet e vários outros, inclusive ele mesmo) em estilo tragicômico.
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FAIXAS:
1. Black Is The Colour (Of My True Love's Hair) (EUA) - 3:01
2. I Wonder As I Wander (EUA) - 1:42
3. Loosin Yelav (Armênia) - 2:34
4. Rosssignolet Du Bois (França) - 1:17
5. A La Femminisca (Sicília, Itália) - 1:38
6. La Donna Ideale (Itália) - 1:02
7. Ballo (Itália) - 1:20
8. Motettu De Tristura (Sardenha, Itália) - 2:16
9. Malorous Qu'o Uno Fenno (Auvergne, França) - 0:55
10. Lo Fiolaire (Auvergne , França) - 2:50
11. Azerbaijan Love Song (Azerbaijão) - 2:09

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Ouça:



segunda-feira, 29 de maio de 2023

CLYLIVE Especial de 15 anos do ClyBlog - Kraftwerk - C6 Fest - Vivo Rio - Rio de Janeiro/ RJ (18/05/2023)

 



Somos apenas humanos
por Cly Reis



Há 15 anos atrás tinha o privilégio de assistir a um show do Kraftwerk. Desde então, tive, para mim, a convicção de que havia presenciado o melhor show de minha vida. Até por conta disso, não  tinha a intenção de vê-los ao vivo novamente. Pra que? Já  havia me satisfeito e, provavelmente, não  seriam melhores do que foram naquela vez.

Só que o tempo passou e, dentro desses 15 anos que me separam daquele show, tive uma filha. Ela tem 11 anos hoje e, ao longo de sua formação musical, sem que eu forçasse, sem que eu influenciasse decisivamente, acabou por adorar Kraftwerk. E eis que, eu que já me dava por satisfeito por tê-los visto uma vez, descubro que os caras vêm pro Brasil de novo! Eu tinha que levar minha filha para ver. Não sei se, a essas alturas, eles vêm de novo, se vão continuar fazendo turnês, se Ralph Hütter não vai pendurar as chuteiras, ou mesmo se sua "bateria" ainda vai durar por muito mais tempo, uma vez que, brincando brincando, já são 76 anos nas costas ("toc, toc", batendo na madeira). Era agora ou, possivelmente, nunca mais.

Então fiz o "esforço" de ir ao show no C6 Fest. Sinceramente, fora o fato da oportunidade de minha filha ter essa experiência, não guardava maiores expectativas. Imaginei que, velhinhos, com a vida ganha, com um repertório incontestável, depois de várias passagens por aqui, os homens-máquina fossem entrar no palco só pra cumprir tabela: aquele showzinho burocrático, tipo entro lá, ligo a programação eletrônica, cumpro uma horinha de show, ganho minha grana vou embora...

Que nada!

Os caras tavam pilhados!

Um show dinâmico, com espontaneidades, "improvisos", uma pedrada emendando na outra e, mesmo dentro daquele tradicional comedimento dos alemães, uma certa animação e uma movimentação incomum, especialmente do líder e fundador Ralph Hütter.

"Numbers" que abriu o show, combinada com "Computer World" já foi algo espetacular, musical e visualmente, com as impressionantes projeções sincronizadas no telão. "Spacelab" a seguiu trazendo a todos a surpresa da homenagem ao Rio de Janeiro, no telão,  com a nave do Kraftwerk sobrevoando a cidade e pousando em frente ao Vivo Rio, levando o público à loucura. E teve uma "The Model" empolgante, "Autobahn" reinventada, muito mais livre e quase espontânea, "The Man-Machine emocionante, "Trans-Europe Express" arrasadora, um medley das partes de "Tour De France" e um gran-finale com uma "Music Non Stop" descontraída e cheia de pequenas variações. Senti falta, é verdade, de "Radioactivity" que podia muito bem ter entrado no lugar de "Planet of Visions", mas nada que desvalorize tudo o que acontecera lá. 

Para quem achava que já havia visto o suficiente da banda, que era dispensável assistir a outro show, que eles estariam apenas cumprindo uma formalidade, acabei saindo com a sensação de ter presenciado outro dos grandes espetáculos da minha vida. Uma banda muito a fim, quase um "show de rock" por sua dinâmica, Ralph Hütter cheio de tesão, quase elétrico naquela sua movimentação contida. Balançou a cabeça, mexeu os ombros, bateu o pezinho e, no final, naquele momento em que os integrantes vão deixando o palco, um a um, desceu de seu posto, fez uma reverência, até sorriu e bateu no peito, agradecido, me parecendo, ali, até um pouco emocionado... Será? Será que o robô está se tornando humano? A convivência com nossa espécie teria feito com que, mesmo, uma máquina como ele adquirisse a capacidade de sentir emoções? Em época de discussões sobre Inteligência Artificial, a questão bem que procede, não. Mas como diria o policial Murphy, a propósito, um homem-robô, na frase final de "Robocop 2", "Somos apenas humanos". 

trecho de "Computer Love"

trecho de "The Robots"




★★★


A revolução das máquinas
por Daniel Rodrigues

Se me perguntassem quais shows que eu ainda gostaria de ver de artistas que estejam em atividade (ou minimamente estejam vivos), listaria alguns difíceis e outros quase impossíveis. Das possibilidades, Ministry, John Cale e Pixies são um caso. Já dos improváveis, Th’ Faith Healers, Can e My Bloody Valentine encabeçam a lista. Claro: tem aqueles grandes shows que nunca fui mas que ainda são passíveis de um dia, seja no Brasil ou numa ocasião fora do país, serem presenciados por mim, como Madonna, Björk, David Byrne, Neil Young, Stevie Wonder e os Rolling Stones, que pode ser que venham à minha terra novamente como Roger Waters, que retornará a Porto Alegre por conta das memoráveis apresentações que fez na cidade para sua despedida dos palcos em novembro.

Mas de todos estes posso dizer com tranquilidade que o que mais queria ver era a Kraftwerk, desejo que foi realizado no último dia 18, no Vivo Rio. Desejo, não: sonho. Após duas vindas dos alemães ao Brasil, uma no Free Jazz Festival de 1998, quando eu nem sequer trabalhava para custear um ingresso tão caro a São Paulo, e outra, em 2009, quando estiveram no Rio de Janeiro, em plena Praça da Apoteose. Esta sim eu lamentei por não ter ido. Mesmo com os reiterados convites do meu irmão, que foi ao show, para que eu tentasse dar um jeito de ir ao Rio, onde pelo menos pouso garantido teria, as condições financeiras da época fecharam totalmente a porta. Minha lamentação foi alimentada durante estes 15 anos que se transcorreram desde aquela última apresentação da Kraftwerk em terras tupiniquins, ainda mais quando da morte de um dos cabeças do grupo neste meio tempo, Florian Schneider, em 2020. Embora já fora da banda há algum tempo, sua morte despertou o alerta de que o outro principal integrante, Ralf Hütter, já com quase 80 anos, pudesse, pelo óbvio, também ter sua “máquina desligada”.

Com a menor atividade da Kraftwerk, pensava que, para eles retornarem ao Brasil, quiçá, somente lá em 2024 ou 25, já que, ao menos, os shows estão retornando com tudo neste pós-pandemia. Considerando que os velhinhos já puseram seus sistemas em modo slow, até seria um tempo considerável um ou dois anos para que se mexessem. Mas eis que, para minha surpresa, eles são anunciados para estrelarem o C6 Fest, no Rio e em São Paulo. E agora, primeiro semestre do ano, em maio! E mais: meu irmão iria ao show com minha mãe, que aprendeu a adorá-los conosco, e minha sobrinha, Luna, fã da banda e que presenciaria seu primeiro grande show ao vivo. Num esforço coletivo, peguei uma mesa ao lado da deles e embarquei para o Rio. Todo o empenho, expectativa e lamentação foram totalmente recompensados.

Os desenhos estilo new look
em movimento em "Autobahn"
Num formato pocket ("calculator", claro), adequado ao line-up de um festival, o quarteto liderado por Ralf entregou uma apresentação empolgante e empolgada em aproximadamente 1 hora e 20 de palco. A disposição foi a de sempre: os quatro enfileirados com roupas iluminadas em led e com suas mesas mágicas com programadores, sintetizadores, computadores e outras engenhocas saídas do estúdio Kling Klang direto de um laboratório de Düsseldorf, e, ao fundo, projeções magníficas que dialogam com os sons através de imagens, luzes, grafismos e vídeoartes. Porém, o grupo estava muito a fim e deu a plateia brasileira um espetáculo cheio de vontade e musicalidade, que se percebia no manejo altamente espontâneo dos “leitmotiv” de cada música. 

Já no repertório, somente clássicos, que se emendaram uns aos outros sem pausa para respirar e, sim, para se admirar e absorver. Foi uma sequência para tirar lágrimas de qualquer fã, a começar pelo duo “Numbers/Computer World”, na abertura e com o qual eles poderiam ficar ali no palco por 1 hora inteira só brincando com os elementos de cada música, os números e os algoritmos digitais provocando sons, que jamais cairia na monotonia. Pra acabar com o coração dos kraftwekianos, mandam na sequência uma surpreendente execução de “Spacelab”, que além de ser um barato ouvi-la ao vivo e tocada de forma tão espontânea dentro dos limites do que o aparato eletrônico permite, foi uma atração à parte sua projeção, que mostrou a viagem da nave espacial (comandada por eles, obviamente) do espaço até chegar na Rio de Janeiro e pousar em frente ao próprio Vivo Rio, para delírio da galera.

“Autobahn”, com a ideia genial de animação dos carros desenhados manualmente da capa original de 1974, e a sequência “Tour de France/ Tour de France – Etape 1 e 2", com as imagens "vintage" da tradicional volta da França para a qual eles compuseram a trilha-tema em 1983, também foi de tirar o fôlego. Igualmente, o perfect pop “The Model”; a autorreferenciativa “The Robots”, com sua arte geométrica ao estilo da escola soviética; a altamente dançante “Planet of Visions”, motivando uma arte orgânico-digital-futurista; e a apoteótica “Trans-Europe Express/Metal on Metal”, cuja viagem do trem em 3D pelos trilhos europeus acompanha um desfile de execução dos quatro, mostrando que estavam se divertindo com a energia que emanava do público.

trecho de "Tour de France"

De todas as grandes performances, talvez a mais marcante tenha sido justamente a que fechou o show: a minissinfonia “Electric Cafe”: “Boing Boom Tschak/ Techno Pop/ Musik Non Stop”. As projeções, com a estrutura dos robôs e desenhos feitos em computador, mesclado arquitetura, design, música e arte, foi um digno final. Na despedida, um a um executava improvisos (sim, improvisos!) e saí do palco, até a vez do líder Ralf, ovacionado. Não à toa: Ralf Hütter é um “computer hero”, um esteta, um gênio da modernidade.

O maior show que já vi. Um dos maiores espetáculos da Terra. Uma das mais importantes bandas da música de todos os tempos, e não apenas da música pop, isso digo com certeza. Tanto quanto obras de Bach, Mozart, Wagner, Cage, Beatles, Dylan, ColtraneJoão, a Kraftwerk é importante para a evolução da humanidade como espécie, pois que excede o patamar simplesmente artístico. Toda a parafernália tecnológica, como nossos smartphones ou aparelhos digitais que nos rodeiam, não teriam a comunicabilidade sonora que têm hoje não fosse os "homens-máquina" terem inventado esta linguagem. Somente robôs como eles teriam esta sensibilidade: a de saber como seus pares se comunicam conosco, humanos. E se a tecnologia é reflexo de nossa capacidade de criação, talvez ser robô seja o verdadeiro sentido de ser humano.

PS: De quebra, ainda levamos um showzaço da Underworld para fechar a noite, que não deixou nada a desejar para os mestres da eletrônica.

Hino autorreferente: "The Man-Machine"

Brincando com os teclados em "The Model"


Trecho da emplogante "Planet of Visions"


Um trem eletrônico passou pelo Rio: "TEE" + "Metal on Metal"


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Philip Glass & Robert Wilson - "Einstein on the Beach" (1976)




“’Einstein [on the Beach]’ parece um estudo de sobrecarga sensorial, o que significa ser tudo e nada ao mesmo tempo.”
Tim Page 


Com a vinda do maestro e compositor norte-americano Philip Glass ao Brasil neste mês de setembro, não podia deixar de aproveitar para falar um pouco sobre a inconfundível obra deste revolucionário artista de nosso tempo. Dono de uma música hermética e profundamente instigante que questiona as fronteiras entre arte culta e popular, o ativo Glass vem empilhando ótimos trabalhos desde os anos 70, seja em trilhas para cinema, teatro, ópera, sinfonia, câmara e até música pop. Mas o seu ápice de explosão criativa é a inclassificável e genial “Einstein on the Beach”, de 1976.
Só pelo fato de ter contribuído com a invenção do estilo minimalista para a música Philip Glass já teria seu espaço no Olimpo dos grandes autores da história evolutiva da arte musical. Porém, ele fez mais. Filho da contracultura e admirador de rock, jazz, MPB, entre outros estilos “não-eruditos”, mas permanentemente conectado ao classicismo, Glass criou uma forma única de compor onde, a partir de células sonoras mínimas, gera variações graduais muito bem escritas que vão aos poucos formando uma massa complexa e densa, muitas vezes totalmente diferente daquilo de como começou.
“Einstein on the Beach” é um marco da música do final do século XX. Usando os instrumentos e as vozes de forma cirúrgica, tanto cordas e madeiras tradicionais como sintetizadores próprios da vanguarda, Glass compôs uma obra que não é propriamente uma ópera, nem sinfonia, nem um disco pop. Em quatro atos para orquestra, coro e solistas, “Einstein” é, sim, uma peça extremamente rica que mudou totalmente em forma e linguagem a música para grandes conjuntos. Composto originalmente
para teatro, onde contou com a direção do parceiro Robert Wilson, (que é creditado na capa do disco, embora não tenha contribuição musical efetiva) seu exemplo radical abriu caminho para muito do que se tornou comum hoje em diversas áreas, como teatro, cinema, publicidade, televisão, entre outros.
Glass, à esq. com o parceiro,
Robert Wilson
Como dá para supor, a obra flerta com o nonsense. A frase do título foi extraída de ‘Einstein on the beach on Wall Street’, uma das diversas sentenças sem significado lógico ditas pelo seu “co-autor”, Christopher Knowles, um autista que “canta” em algumas das 20 peças que a perfazem. Glass, confesso admirador do punk rock (aliás, ele foi integrante e produtor de uma excelente banda pós-punk, a Polyrock), usou a voz solo de Knowles salpicando palavras soltas na faixa “’Mr. Bojangles’”, lembrando muito o vocal esganiçado de Johnny Rotten dos Sex Pistols . Contemporâneo ao movimento punk, “Einstein” traz essa verve radical não só neste aspecto como nas próprias estruturas melódicas, que exploram bastante as repetições e a simplicidade composicional, igual aos riffs de guitarra do punk. Em sentido inverso, a influência do estilo de Glass também pode ser percebida fortemente em alguns artistas do rock, como Cocteau Twins, Laurie Anderson e Diamanda Galas.

Apesar do pé no pop, o legal é que a música de Glass nunca se desvincula da tradição erudita. Estão lá, preservados, Bach, Palestrina, Beethoven, Rossini. As melodias de voz (por vezes, o centro do tema, como em “Knee 3” e “Night Train”), ora se valem de modernos mezzo-sopranos e mezzo-barítonos, ora remetem diretamente ao uníssono homofônico do canto gregoriano medievo, como na base coral que sustenta a falação fora de compasso (e de senso) de Knowles em “’Mr. Bojangles’” ou na linda “Knee 4”, cuja letra resume-se a um metalinguístico “dó re mi fa sol”. Há ainda as hipnóticas “Dance 1” e “Building”, em que os teclados eletrônicos conflitam com as vozes e os outros instrumentos;  as delicadas “Entrance” e “Knee 5”; ou a impressionista “Train 1”, que coloca o ouvinte a bordo de um trem de notas metafísicas.
Extenso, “Einstein on the Beach” tem aproximadamente 3 horas e 10 minutos de duração sem interrupção entre as partes, interligadas pelos cinco “knees” (“joelhos” que, literalmente, ligam uma articulação à outra). A obra é, de fato, feita para ser sorvida do início ao fim, pois guarda a unidade temática própria da ópera, como na proposital repetição de motivos em mais de uma faixa. O coro contando números de “Knee 1” e “Knee 2”, que aparece novamente em “’Prematurely Air-Conditioned Supermarket’” e, lá no final, em “Knee 5”, mostram isso claramente.
No teatro, a estrutura musical de “Einstein” está completamente entrelaçada com a ação dos atores e a iluminação. No entanto, como toda boa “ópera”, ela não precisa necessariamente do palco para existir. A forte cena clímax, em “Spaceship”, é um ótimo exemplo: somente em sons, “descreve” o holocausto nuclear: linhas vocais pulsantes, explosão de instrumentos amplificados e notas repetitivas de um coro histérico cantando rápida e freneticamente, num reflexo das tensões fin-de-siècle.
Assim, a peça de Glass sugere uma outra ideia mais abrangente: se em formato “Einstein” subverte a tradição clássica por não contar uma história trágica, elemento básico da ópera, em contrapartida, levanta um sério questionamento: há tragédia maior do que os tempos atuais? Para traduzi-los, só mesmo com uma narrativa sem trama e ruídos musicados que transmitam loucura e ilógica através de sensações extremas. Tudo e nada. Afinal, quer imagem mais surreal do que Albert Einstein tomando sol numa praia em Wall Street após o fim do mundo?
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FAIXAS:
    1. KNEE 1 (8:04)
    2. TRAIN 1 (21:25)
TRIAL 1:
    1. Entrance (5:42)
    2. "Mr. Bojangles" (16:29)
    3. "All Men Are Equal" (4:30)
    4. KNEE 2 (6:07)
    5. DANCE 1 (15:53)
    6. NIGHT TRAIN (20:09)
    7. KNEE 3 (6:30)
TRIAL 2/ PRISON:
    1. "Prematurely Air-Conditioned Supermarket" (12:17)
    2. Ensemble (6:38)
    3. "I Feel The Earth Move" (4:09)
    4. DANCE 2 (19:58)
    5. KNEE 4 (7:05)
    6. BUILDING (10:21)
BED:
    1. Cadenza (1:53)
    2. Prelude (4:23)
    3. Aria (8:12)
    4. SPACESHIP (12:51)
    5. KNEE 5 (8:04)

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Ouça: