Há algum tempo atrás fui assistir a uma apresentação "despretensiosa" em um domingo de manhã no Parque Farroupilha, em Porto Alegre, de Paulinho da Viola e surpreendentemente, pra mim que já tinha visto U2, Madonna, Cure ao vivo, aquele pequeno show superou em qualidade estes de monstros do pop rock, os quais aprecio muitíssimo. O show do sambista brasiliero só veio a ser superado na minha avaliação, pelo do Pearl Jam em Porto Alegre em 2005. Nem gostava tanto dos caras na época mas fui ver só porque há tempos não havia um show grande em POA e aquela era uma oportunidade, e, NOSSA!, o Pearl Jam destruiu! Quase pôs a baixo o Gigantinho. Um repertório consagrado e de tirar o fôlego, com uma intensidade, vibração e garra que foram de arrepiar, incrementado pela participação de Marky Ramone tocando bateria em "I believe in miracle" dos próprios Ramones. Aquilo foi quase inacreditável.
E eis que na última sexta-feira o Peral Jam perdeu o seu trono!
Sempre tivera grande expectativa para ver ao vivo o Kraftwerk, mas às vezes, a própria expectativa exagerada frustra. Que nada!!! Kraftwerk ao vivo foi tudo o que eu imaginava, queria ver e ouvir ( e + um pouco ainda!).
Pra quem acha que um show do Kraftwerk não passa de quatro caras parados mexendo nos seus laptops com programações pré-gravadas e com um monte imagens passando num telão ao fundo, não nota, com certeza, a profundidade, a penetração, o trabalho de composições que são preciosas e elaboradas, e que são executadas AO VIVO (sim) com a precisão de um relógio, de uma máquina, que é exatamente o conceito com o qual o grupo trabalha, e que é lógico, traz bases pré-gavadas também, mas até mesmo o próprio Radiohead que viria depois apresentava este recurso também. As imagens projetadas, por sua vez, são parte componente do espetáculo, uma vez que estão sincronizadas às letras, a ruidos, às batidas de forma ativa e integrada e se por uma lado, não se vê uma performance ativa e vibrante dos membros da banda, o contexto visual o faz por eles. E é essa a idéia!
"The Man Machine" na abertura já sai dando esse recado: nós somos "homens-máquina", e daí pra frente são só clássicos e composições geniais. "Radioactivity" destruidora com seu conceito RADIO-RADIOATIVIDADE-ENERGIA perfeitamente integrado em som, imagem e performance, "Trans-Europe Express" emenda "Metal on Metal" em outra seqüência de arrepiar, "Aerodynamic" como parte de "Tour de France" trouxe fotos antigas e trechos de filmes antigos da volta ciclística da França, que interagiam admiravelmente com a música. "Showroom Dummies" cantada em francês virou "Les Manequins" e completou o passeio musical de moda e estilo da banda com "The Model".
Depois de um intervalinho em que a banda sai do palco, eles retornam em roupas com detalhes fosfluorescentes lembrando o visual do disco "Electric Café" e, acabam o show exatamente com uma música deste álbum, "Music Non Stop", como sempre toda misturada com "Boing Boom Tschak" e Technopop".
A propósito deste intervalo, todo mundo está careca de saber que em algum momento os robôs vão ser colocados no palco e vão se mover naquela espécie de balé mecânico, mas é sempre uma expectativa vê-los e é um barato quando eles substituem a banda no palco durante "Robots", pelo tempo suficiente para aquela pausinha para a água. Afinal de contas, eles também são gente. (?)
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OUTROS TOQUES:
1. Nem com o Cure que é minha banda do coração fiquei tão REPLETO quanto, agora, assistindo ao show do Kraftwerk.
2. Felizmente cheguei ao Sambódromo já ao final do show do Los Hermanos e só tive que agüentar duas músicas. Nossa! Eles me impressionaram! São muito PIORES do que pareciam.
É muito ruim!
3. Minha intenção antes de ver o show dos alemães era a de ficar mais um pouco no show do Radiohead, pelo menos pra ver os caras tocando "Creep", mas acabando o show dos "robôs", me pergunta se eu, com a alma cheia, vou ficar vendo Radiohead? Quem vê Kraftwerk não fica pra ver Radiohead.
4. Não fui o único a ir embora. É lógico que não esvaziou o local, não ficou às moscas, mas notei pelos menos umas 50, 60 pessoas indo embora. Outros que, como eu, não precisavam de mais nada.
5. Todo mundo sabe da influência do Kraftwerk para a música eletrônica em geral, mas por esses dias, vendo as publicações que faziam referência ao show, li algumas manifestações impressionantes, mas que não ficam muito longe da verdade, como por exemplo que o Kraftwerk seria possivelmente a banda mais influentes do século passado ao lado apenas dos Beatles e também li que figuraria entre as cinco maiores bandas de pop/rock de todos os tempos. Exagero? Provavelmente não.
6. Complemento dizendo que na minha opinião a música do Kraftwerk é a continuidade da tradição alemã de música clássica representada por nomes como Händel, Bach, Orff entre outros, tendo dado o passo adiante em modernidade que é necessário em todas as épocas, para todas as artes, em todas as culturas, fazendo a interação de linguagens como a arquitetura, as artes-plásticas, o design e a tecnologia alemãs, traduzindo todos estes elementos em MÚSICA.
Cly Reis
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