Amigos do clyblog, muito honrado pelo convite de contribuir com essa resenha rockeira!
Vou falar sobre um assunto que com certeza já foi bastante debatido nas redes, que é o fato de
que hoje em dia, o mercado musical só produz single ou E.P.! São muitos artistas com sucesso
de uma música só! E isso não é exclusividade do universo tupiniquim. Sempre existiram bandas
que só fizeram sucesso com uma música. Mas o projeto hoje em dia é só comercial. Vender,
esgotar, exaurir a paciência até que a música vire jingle de supermercado. Faz parte!
Venho compartilhar com vocês algumas memórias afetivas de uma época onde o álbum era o
auge do artista. Ali ele colocava toda coerência estética e criatividade, todo seu ineditismo e sua
inventividade artística, do "Lado A ao Lado B". Estou falando de um tempo em que o vinil reinava
e chiava nas nossas vitrolas e, talvez, esse universo analógico e antológico sempre tenha seu
lugar. Seja Pop, underground, vintage… Quem não adoraria ter o disco da sua banda favorita em
vinil, mesmo nos dias de hoje? O vinil não saiu de moda, ficou caro!!! Hoje é só dar o play no
WAVE e MP3 e pronto: random na veia!
Fiz esse pequeno preâmbulo para situar a galera no tempo e trazer, na minha visão, alguns
dos álbuns fonográficos que são verdadeiras "obras completas". Não tem música ruim: o disco
é bom do começo ao fim!
Segue abaixo os 15 mais, mas com certeza tem muuuito mais…
E você que está lendo, pensa aí e me diz, qual álbum você acha perfeito, do início ao fim?
★★★★★★
1 - Pink Floyd - "The Wall" (1979)
FAIXAS:
1."In the Flesh?" 2."The Thin Ice" 3."Another Brick in the Wall (Part I)" 4."The Happiest Days of Our Lives" 5."Another Brick in the Wall (Part II)" 6."Mother" 7."Goodbye Blue Sky" 8."Empty Spaces" 9."Young Lust" 10."One of My Turns" 11."Don't Leave Me Now" 12."Another Brick in the Wall (Part III)" 13."Goodbye Cruel World"
14."Hey You" 15."Is There Anybody Out There?" 16."Nobody Home" 17."Vera" 18."Bring the Boys Back Home" 19."Comfortably Numb" 20."The Show Must Go On" 21."In the Flesh" 22."Run Like Hell" 23."Waiting for the Worms" 24."Stop" 25."The Trial" 26."Outside the Wall"
João Marcelo Heinz é músico, compositor, produtor musical e educador com 30 anos de estrada.
É integrante da banda Cidadão Free, com trabalho pop-rock autoral e com versões de
clássicos do rock nacional e internacional
Tem participações em produções para cinema, composições audiovisuais para artes plásticas, dirigiu peças teatrais, além de ter sido produtor musical e de eventos do centro cultural Othello, na Lapa, no Rio de Janeiro.
“Ai o cara assiste o show do Dr. Dre, vê os caras saindo de um telão tridimensional, fica inspirado e pensa o seguinte: ‘Vou fazer um Rap, porque rap é o que liga!’ E então o cara acorda!”
Mano Brown
Eu poderia começar esse texto com um milhão de relatos iguais a esse, inclusive o meu, e de outros tantos pretos periféricos que um dia ouviram e sentiram o peso da batida rap e a sensação de ser protagonista de alguma coisa relevante pelo menos uma vez!
Mas estou aqui sentado teclando no meu notebook para falar a história de quatro negros periféricos que foram salvos pelo rap: os Racionais MC’s simplesmente o maior grupo de rap do País, que ultimamente estrearam com um documentário maravilhoso na Netflix, “Racionais - Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”, de Juliana Vicente. Lógico, eu assisti e tenho certeza que como os outros tantos pretos que citei antes, eu me identifiquei... mas logo mais eu explico.
Verão de 1988, Vila Jardim, Porto Alegre. Tenho claro em minha memória o dia que ouvi a primeira vez as palavras RAP FUNK SOUL saindo da boca de um falecido primo, o Sandro, Lembro de estarmos nos preparando para ir até a Mariland, uma rua próxima ao Centro Histórico, para ajudar o Sérgio, seu irmão mais velho, a guardar uns carros e fazer uns trocos para ir curtir um baile no Jara Musisom. Naquele momento eu senti a onda funk, o movimento vivo, a mobilização da massa black para ter um momento de diversão, uma folga do sofrimento cotidiano.
Cena do filme com a banda reunida lembrando e refletindo sobre o passado, o presente e o futuro
Os bailes black eram como templos sagrados. Os irmãos vestiam a melhor roupa, erguiam seus black powers e celebravam a vida... Por que estou contando isso?
Porque aconteceu em todo o País, como contam os Racionais no documentário. As equipes de som eram quem faziam os eventos. Elas tinham a máquina nas mãos. Comigo foi a JS Musisom que tive o primeiro contato com o rap sendo feito ao vivo e nós, pretos, às vezes tínhamos uma oportunidade de mostrar na dança ou na expressão falada do rap algum tipo de talento. Nessa época, ainda não conhecíamos Racionais. As rimas eram toscas e feitas basicamente para animar o público. O show era do DJ, Nessa época, conheci o Nego Jay e montamos os Donos da Noite, que veio a ser um embrião da Código Penal.
Lá em São Paulo, os integrantes da Racionais (Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edi Rock) se encontravam na São Bento, na região central. Aqui, era na Rua dos Andradas, Centro de Porto Alegre, e assim como lá, aqui as equipes davam essa abertura com festivais de música e tudo acontecia. Essa revolução aconteceu meio que simultaneamente em todo mundo, um levante negro como eu vejo acontecendo hoje, em 2022, desde o movimento #Blackslivesmetter até os festivais Afropunk por aí afora.
Mas voltando aos Racionais MCs, vejo organização, vejo atitude, vejo uma revolução necessária para um país recém saído de uma ditadura onde o jovem negro sempre foi visto como marginal, padrão e, mesmo parecendo redundante, não tem como escrever sem comparar a história deles com a minha. Os caras mudaram a forma do Brasil fazer rap, mudaram a linguagem e tiveram a coragem que muitos até hoje não têm.
“Racionais - Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”, no Netflix. Imperdível!
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trailer de“Racionais - Das Ruas de São Paulo Pro Mundo”
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Algumas referências:
“Fear of a Black Planet, da Public Enemy
“The Revolution Will not be Televised”, de Gil Scott-Heron
"Rapazes que incorporam estados de anarquia para a excelência interna."
tradução para o significado da palavra "Beastie", originalmente: "Boys Entering Anarchistic States Towards Inner Excellence"
O rap, por sua natureza humilde e marginal, levou certo tempo para se maturar musicalmente. Vindos do gueto, fossem negros ou imigrantes, os primeiros artistas do hip-hop não tinham a menor condição de comprar instrumentos, por isso a ideia genuína de criarem sua música através de colagens de outras já feitas. Um DJ com LPs de vinil, uma mesa amplificada e um MC já bastavam. Uma solução genial, mas que custou um certo atraso de desenvolvimento ao estilo em termos harmônicos e melódicos (isso sem falar nas letras), desde as linhas simplórias, a melodia de voz quaternária e a sonoridade pouco elaborada. Somente em 1988, quando a Public Enemy lança “It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back” com um mês de diferença para “Straight Outta Compton”, da N.W.A., que o rap, finalmente, evolui. Ambas as bandas são as responsáveis por injetar ao gênero variações melódicas diversas, ampliarem-lhe as referências e usarem com criatividade (e sem economia) os samples e scratches, os quais se descobriu poderem ser não apenas um detalhe, mas um elemento da própria melodia ou arranjo.
Os Beastie Boys, se também pegaram no seu começo essa fase ingênua do rap com o aclamado – mas fraco – “Licensed to Ill”, de 1986, por outro lado, evoluíram mais rápido que qualquer outro artista ou banda do gênero, o que talvez seja explicado por sua origem distinta. Brancos e de ascendência judaica, Michael Diamond (Mike D), Adam Yauch (MCA) e Adam Horovitz (Ad-Rock) vinham da cena hardcore, “primo pobre” do estelar mundo pop, e se gozavam de condição social diferente da maioria de seus colegas rappers, tinham no grito punk um fator igualitário. Tanto que, já em “Paul’s Boutique”, de 1989, seu segundo álbum, mostram, não sem certa resistência pela cor da pele clara, esse alto nível de maturidade musical e, a partir dali, não pararam mais de progredir até chegarem a “Check Your Head”, de 1992, inaugurando o que pode ser chamado de rap moderno.
O trio não apenas passa a construir músicas bastante elaboradas, com colagens inteligentes e bem acabadas, como evoluem no modo de cantar, intercalando (ou não) as vozes e no proveito de outros ritmos que não só o funk, como é comum ao rap. Tem o groovea laJames Brown, claro, mas tem jazz, música latina, soul, AOR, psicodelia e... hardcore! Forjados nos pubs alternativos de Nova York, passam a integrar sem constrangimento sua veia punk ao rap. Eles entenderam que haviam chegado onde ninguém jamais havia conseguido. Cientes disso, concebem “Ill Communication”, de 1994, mostrando que ainda era possível dar passos adiante mesmo depois de terem chegado à sua obra-prima 2 anos antes.
Os Beastie Boys abrem “Ill...” com “Sure Shot”, um exemplo claro do art rap que somente anos depois MF Doom atingiria. Big beat, controle total do andamento, variações de ritmo e os samples, diversos, comandados pelo DJ Hurricane e totalmente a serviço da arquitetura sonora. Com esta joia abrem em alto estilo o disco, repetindo o feito de “Check...” com a faixa inaugural “Jimmy James”. Seguros de sua música, eles emendam “Tough Guy”, um hardcore puro, tiro curto, no melhor estilo baixo-guitarra-bateria tal como aprenderam com os ídolos Bad Brains no início dos anos 80. São os rapazes dando a entender que não voltavam depois de seu aclamado trabalho para brincar. Queriam mais.
Como já vinham exercitando desde “Paul’s...”, os Beastie Boys engendram uma música de tamanha plasticidade, que é difícil distinguir o que é sampleado, o que é programação e o que é tocado, resultado o qual devem grandemente ao produtor brasileiro Mário Caldato Jr., peça fundamental para esta virada evolutiva promovida pela banda. Certamente, é por influência de Caldato que as sonoridades brasileiras começaram a aparecer, solidificando-se em “Ill...”. “Shmabala” e “Sabrosa” são provas disso.
Com seu ritmo marcadamente funk, o rap dá o tom, seja na psicodélica "B-Boys Makin' With The Freak Freak", na magnífica “Root Down”, cheia de groove e na qual não dá pra identificar o que é tocado ou sampleado, ou “Get It Together”, rapzão gangsta de dar inveja em muito negrão metido a perigoso. Porém, a variedade de ritmos aparece como em nenhum disco do gênero até então, bem como a pegada hardcore, que entremeia a narrativa desta ópera-rap. É o caso da já citada “Sabrosa”, um funk suingado e de pegada latina – a se ver pelas percussões – e que é um dos sete temas instrumentais de “Ill...”. Também, “The Update”, outra com lances caribenhos e um contrabaixo sampleado de algum jazz muito bem pescado. Mas a química se dá principalmente na clássica “Sabotage”, misto perfeito entre as duas vertentes da banda, o hip-hop e o hardcore, e provavelmente a melhor música da carreira da banda. Hit do álbum, “Sabotage” tem ainda aquele que é considerado não-oficialmente o melhor videoclipe de todos os tempos, em que os integrantes da Beastie Boys, dirigidos pelo cineasta Spike Jonze, vivem um canastrão filme policial B.
O histórico clipe de"Sabotage", de Jonze
Diferencial do disco também são as instrumentais, que adensam esse caráter peculiar de um grupo que achou seu caminho. A psicoldelia de “Bobo On The Corner” casa com o funk pesadão de “Futterman's Rule”, bem como com a arábica “Eugene's Lament” e o jazz fusion de “Ricky's Theme”, clara homenagem ao primeiro produtor da banda, o lendário Rick Rubin.
Evidentemente, não pode faltar nesta “música de plástico” dos Beastie Boys mais rap e mais rock. “All right, scratch right now”, diz a abertura de “Alright Hear This”. É fácil supor que vem um show de scratches e samples, que variam e se entrecortam, tudo sob uma base de baixo acústico (sampledo, tocado?). “The Scoop” e “Bodhisattva Vow” seguem na linha de rap ornado de brilhantes ideias, como um canto gregoriano servindo de base que sacam sabe-se lá de onde, ou “Flute Loop”, cujo nome já indica que se valem do som de uma flauta para o riff – o que executam com precisão, aliás. Em compensação, o hardcore mantém-se presente, caso de “Heart Attack Man”. Mais uma instrumental: assim como “Ricky’s...” com cara de trilha sonora de série de TV, “Transitions”, parceria com Money Mark, vem para fechar um disco de quase 1 hora de duração e 20 faixas, mas que em nenhum momento fica cansativo.
De forma parecida, os Beastie Boys e a Body Count, do também rapperIce-T, promoveram naquele início de anos 90 uma aproximação aparentemente improvável, mas bastante lógica entre rap e punk. Os gêneros, marginais em suas concepções e filosofia, tinham, sim, muito a ver um com outro, mas ninguém ainda havia se dado conta com tamanha perspicácia. No caminho aberto por “Check...”, o trio nova-iorquino consolida em “Ill...” essa revolução na música pop, que muito serviu para quebrar preconceitos, sejam musicais ou raciais mostrando que homens brancos também sabiam enterrar. Afinal, tanto o rap quanto punk sabe que, para se mudar alguma coisa nesse mundo tão desigual, é necessário incorporar uma boa dose de anarquia para a excelência, seja pessoal ou coletiva.
"Eu estava ouvindo metal normal e punk rock como Black Flag, Slayer, Suicidal.
Esses foram grupos que realmente nos influenciaram.
Eu pensava, aqueles caras que não estavam realmente cantando.
Eles meio que gritavam, e eu podia fazer aquilo (...)
Nós escolhemos o estilo.
O hardcore de Nova York foi muito influente.
Eu pensava, nós podemos fazer aquilo!
Mas nunca o chamamos de rap rock.
Eu realmente não gosto desse termo porque não é realmente rap rock.
Rap é diferente. Rap é funkeado.
Eu acho que se você latir os vocais em uma cadência e rima, você pode chamá-lo de rap rock.
Não sei se Rage Against The Machine é rap rock. Rap é diferente.
Eu só chamo de hardcore."
Ice-T sobre as origens
e influências do Body Count
Resolvi falar de uma banda obvia na minha playlist desde 1992: Body Count. Sou um fã incondicional e acompanho a banda desde sempre, mas nesse ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, para ser mais específico, quero destacar um disco que na minha opinião é um marco histórico, assim como foi o homônimo "Body Count", de 1992. "Carnivore" é uma paulada atrás da outra e ainda tem uma capa fenomenal criada por Zbigniew M. Bielak, cuja arte, toda vez que olho, percebo algo novo. Disco lançado em março de 2020, é um álbum fundamental pois, além de várias pauladas como "Carnivore", "Bum-Rush", "When I'm Gone", com a participação da Amy Lee (ex-Evanescense), "Carnivore" ainda tem a monstruosa cover de, ninguém menos que, Motörhead, com "Ace of Spades"; uma paulada do primeiro disco de Ice Mothafuckin' T, "A Six in The Morning", que recebeu um trato violento; e, para meu delírio uma regravação de "Colors" que ficou uma animalice, com algo que eu, Lucio, já havia feito lá em 1994, que foi colocar uma distorção feladaputa num baixo, mas é claro, loooonge da minha tentativa, até porque não somos o Body Count (rsrsrsrs).
O detalhe interessante é que o vinil, que, a propósito, é fenomenal, vem com um CD junto para dar de presente ou ouvir no carro, além de mais um pôster animal da banda. Também é interessante mencionar que a música "Bum-Rush" foi premiada com o Grammy de melhor performance de heavy-metal de 2020. Mais do que merecido!
Enfim, "Carnivore" um álbum fundamental pelo qual estou viciado. Coisa que há muito não acontecia.
porL U C I O A G A C Ê
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FAIXAS:
1. Carnivore 2. Point the Finger (com Riley Gale) 3. Bum-Rush 4. Ace of Spades 5. Another Level (com Jamey Jasta) 6. Colors (2020) 7. No Remorse 8. When I’m Gone (com Amy Lee) 9. Thee Critical Beatdown 10. The Hate Is Real 11. 6 in Tha Morning (2020) (demo inédita)
"The Wall" definitivamente não é melhor trabalho do Pink Floyd, não é melhor que "Wish You Were Here" ou "The Dark Side of the Moon", mas é tão icônico quanto. É um álbum fundamental pela qualidade musical aliada a temática existencialista e, também, pela enorme capacidade de adaptação as novas mídias, adaptação para cinema, shows e novas versões, que cativam o público fiel da banda e atraem novos admiradores para Pink Floyd.
Pink Floyd foi uma banda inglesa formada em Londres no ano de 1965, liderada por Syd Barret (1946-2006), cujo período marcado pelo psicodelismo durou até o ano de 1968, quando foi substituído por David Gilmour (1946) nos vocais e guitarra. Roger Waters (1943) nos vocais e guitarra baixo, Richard Wright (1943-2008) nos vocais e teclados e Nick Mason (1944) na bateria completam a formação clássica que imprimiu uma linha de som progressiva, período que lançou o álbum The Wall.
"The Wall", álbum duplo produzido e lançado em 1979, é uma “ópera rock” que rivaliza com outros sucessos do gênero, como "Tommy" (1969) do The Who e "...Ziggy Stardust" (1972) de David Bowie. São exatamente 26 músicas compostas na sua maioria por Roger Waters, que apresentou a proposta temática a banda, assumiu as letras, a maioria das músicas, a coprodução, e o design do álbum. A personalidade de Waters se agigantou ao longo da produção de "The Wall", tomando o controle da banda para si, quando os componentes do Pink Floyd já demonstravam a incapacidade de administrar seu egos e anseios artísticos.
O tema elaborado por Waters de The Wall, em tom autobiográfico, trata da perda do pai (Eric Fletcher Walter morto na Batalha de Anzio na Itália durante a 2ª Guerra Mundial), a imagem da mãe protetora, a repressão do sistema educacional inglês, a sexualidade reprimida na adolescência e a traição, que vão compondo partes de um muro protetor ao redor do solitário personagem do trama, que em meio ao medo e ao ódio, renasce na pele de um líder fascista.
Musicalmente, "The Wall" segue a linha criativa dos trabalhos anteriores do Pink Floyd, com uma base instrumental irrepreensível, marcada pela pegada firme do baixo de Waters em sintonia com o peso da bateria de Mason, os voos solos da guitarra de Gilmour, mas pouca coisa de Wright (em processo de saída da banda). Mixagens e efeitos sonoros estabelecem um diálogo que alterna velocidade e ritmo, com Waters em uma vocalização esquizofrênica contrapondo o tom vocal mais contido de Gilmour.
No meio de tantas faixas, destacam-se "Another Brick in the Wall", música em três partes, a conhecida música do helicóptero foi faixa de trabalho nas rádios por ocasião do lançamento do álbum, sendo considerada um hino contra a repressão escolar. "Mother", trata da superproteção e castração materna, e "Hey You" um pedido desesperado de ajuda. Mas é "Comfortably Numb", considerada por muitos como a melhor composição do grupo, criação original de Gilmour para seu trabalho solo, mas que apresentado a Walters, este deu letra à música, e incorporou ao álbum, com o destaque do virtuoso solo da guitarra de Gilmour.
"The Wall", o filme, foi adaptado para o cinema em 1982, conduzido pelo ótimo diretor Alan Parker (cuja filmografia também é fundamental), cineasta recentemente falecido, com Roger Walters de roteirista. O filme narra a vida de Pink, astro de rock interpretado por Bob Geldof, cuja estória é ancorada pelas músicas do álbum. O filme obteve boas críticas em geral, considerado por alguns como uma das melhores obras do gênero musical e do rock. "The Wall" custou US$12 milhões e arrecadou $22 milhões só nos Estados Unidos. Em Porto Alegre as exibições ocorreram no antigo e saudoso cinema Baltimore, onde a sala de exibição tinha uma atmosfera própria, um névoa londrina tomava conta do local, provocada pelo consumo cigarros proibidos e embalada pela poderosa trilha sonora. Terminado a exibição os expectadores se misturavam com a horda que habitava o bairro Bonfim, reduto boêmio da cidade da época.
Filme"The Wall", de Alan Parker
"The Wall", o show, originalmente apresentado entre 1981 e 1982 na Europa e EUA, passou pelo Brasil em turnê de Roger Waters, por três cidades brasileiras (Porto Alegre, São Paulo e Rio) em março de 2012, sendo um dos maiores espetáculos musicais apresentados no país. O palco era constituído de um muro de 137 metros de largura, onde eram projetadas imagens originais de Gerald Scarfe do álbum, e incluía o famoso avião cruzando o estádio do Beira-Rio (estádio do Sport Club Internacional, que estava em obras na época) e explodindo junto ao muro. Segundo a revista Billboard, a turnê arrecadou mais de 450 milhões de dólares, o que faz dela a terceira de maior sucesso na história.
Passados 40 anos do lançamento de "The Wall", e 75 anos do fim da 2ª guerra mundial, com o fim da vida daqueles que testemunharam e lutaram contra a escalada do fascismo na Europa, assistimos o renascimento da cultura do ódio e do medo em vários cantos do mundo. Sim, "The Wall" continua atual, o que o eleva a categoria de Álbum Fundamental.
"The child is grown
The dream is gone"
versos finais da música "Confortably Numb"
por Á L V A R O S T E I W
************************* FAIXAS:
Lado 1 (primeiro vinil)
1."In the Flesh?" 2."The Thin Ice" 3."Another Brick in the Wall (Part I)" 4."The Happiest Days of Our Lives" 5."Another Brick in the Wall (Part II)" 6."Mother"
Lado 2 (primeiro vinil)
1."Goodbye Blue Sky" 2."Empty Spaces" 3."Young Lust" 4."One of My Turns" 5."Don't Leave Me Now" 6."Another Brick in the Wall (Part III)" 7."Goodbye Cruel World"
Lado 3 (segundo vinil)
1."Hey You" 2."Is There Anybody Out There?" 3."Nobody Home" 4."Vera" 5."Bring the Boys Back Home" 6."Comfortably Numb"
Lado 4 (segundo vinil)
1."The Show Must Go On" 2."In the Flesh" 3."Run Like Hell" 4."Waiting for the Worms" 5."Stop" 6."The Trial" 7."Outside the Wall"
Álvaro Steiw é arquiteto e mestre em Sensoriamento Remoto, trabalha na área ambiental. Gosta de filmes, fotos e músicas antigas. Seu álbum preferido do Pink Floyd é "Ummagumma".
Então resolvi sentar e finalmente escrever sobre um grupo que simplesmente revolucionou a
história do rap hip-hop moderno.
O N.W.A. foi simplesmente, na minha opinião, um marco zero entre o velho e o novo
movimento hip-hop. Os caras trouxeram uma visão urbana direto dos guetos para nossa casa,
tipo o que os Racionais fizeram aqui no Brasil nos anos 90.
Na contramão dos rappers tradicionais como Kool Moe Dee, Grandmaster Flash, Afrika Bambaataa, os garotos de Compton, Califórnia, trouxeram para as ruas um discurso afiado
cheio de gírias e muita raiva, causando uma verdadeira revolução por onde passavam. Aos gritos
de "Fuck tha Police" e outros hinos como "Straigth outta Compton" e "Real Niggaz", criaram um estilo agressivo e diferente tanto no ritmo das batidas criadas pelo monstro Dr. Dre, quanto nas
rimas de Ice Cube e Eazy-E, fazendo o planeta vestir, ouvir e swer N.W.A.
E nesse ÁLBUNS FUNDAMENTAIS falo desse disco, "Straight Outta Compton",que acredito
que todos devam ter em casa!
Esse disco, em especial, é um marco histórico criado por esses monstros que até hoje seguem
fazendo rap de verdade pelo mundo!
* Para saber um pouco mais sobre o grupo, uma boa pedida é dar uma conferida no ótimo filme que leva o nome deste álbum, "Straight Outta Compton", indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original que conta a trajetória da banda com total credibilidade, até por contar, não somente com o aval, mas também com a produção dos ex-integrantes Dr. Dre e Ice Cube.
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FAIXAS: 1. Straight Outta Compton (4:18) 2. Fuck Tha Police (5:46) 3. Gangsta Gangsta (5:36) 4. If It Ain't Ruff (3:34) 5. Parental Discretion Iz Advised (5:15) 6. 8 Ball (Remix) (4:52) 7. Something Like That (3:35) 8. Express Yourself (4:25) 9. Compton's N The House (Remix) (5:20) 10. I Ain't Tha 1 (4:54) 11. Dopeman (Remix) (5:20) 12. Quiet On Tha Set (3:59) 13. Something 2 Dance 2 (3:22)