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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

The Beach Boys - "Pet Sounds" (1966)

Os Sons de Estimação

 “ 'God Only Knows' é a música
que eu queria ter escrito.”
líder dos Beatles


A psichodelic era dos anos 60, sensacionalmente rica, produziu alguns dos maiores talentos da música mundial. John LennonPaul McCartneyJimmi HendrixSid BarretRay DaviesBrian JonesArthur LeeArnaldo BaptistaLou ReedRocky EriksonFrank Zappa e mais uma dezena de cabeças geniais. Todos produziram, quando não vários, pelo menos um trabalho fundamental para a história da música pop. Porém, um destes expoentes, também surgido à época, criou algo sem precedente dentro da discografia do rock. Ele é Brian Wilson, líder e principal compositor do The Beach Boys. A obra: “Pet Sounds”, de 1966, uma joia rara da música do século XX, comparável aos mitológicos "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" ou "The Dark Side of the Moon". Requintado e perfeito do início ao fim, é repleto de detalhismos que somente a mente obsessiva de Brian Wilson poderia conceber, o que, somado a seu empenho, conhecimento técnico e alta sensibilidade, resultou num disco inovador em técnicas de gravação, conceito temático, estrutura composicional, instrumentalização, arranjos, entre outros aspectos.

“Pet Sounds”, diz a lenda, surgiu de um sentimento de competitividade alimentado por Brian, um perturbado jovem com então 24 anos cujo quadro esquizofrênico era danosamente potencializado pelo vício em LSD. Para piorar: a relação com o pai era péssima, a ponto de, numa ocasião de briga entre os dois, levar uma pancada tão forte que o deixou surdo de um dos ouvidos – motivo pelo qual, reza outra lenda, teria concebido e gravado “Pet Sounds” em mono, uma vez que não conseguia perceber fisicamente os sons em estéreo. Todo este quadro e o temperamento vulcânico fizeram com que Brian, maravilhado mas enciumado com o resultado que os Beatles haviam atingido com seu “Rubber Soul”, lançado cinco meses antes, se pusesse na missão de superar a obra dos rapazes de Liverpool.

E conseguiu.

“Pet Sounds” é uma pequena sinfonia barroco-pop jamais superada, nem pelo próprio Beach Boys. Brian deixa para trás a pecha de mera banda de surf music creditada a eles (o que já se vinha notando desde “The Beach Boys' Christmas Album”, trabalho anterior da banda) e se lança na composição, produção, arranjo e condução de todo o trabalho, resultado de longas e exaustivas pesquisas à teoria musical e às musicas erudita, folclórica, jazz e pop. O desbunde já começa na faixa de abertura, a clássica “Wouldn't It Be Nice”. O som fino e lúdico do harpschord executa uma ciranda, que faz a abertura de “Pet...” lembrar a de outro LP histórico da época, "The Velvet Underground and Nico", de um ano depois, cujo sonzinho inicial vem de outras cordas, as de uma delicada caixinha de música. Mas a semelhança para por aí, pois, se “Sunday Morning” do Velvet varia para um sereno pop-jazz francês, a dos Beach Boys ganha amplitude e cor. O som do cravo repete o tempo três vezes até que é interrompido bruscamente por um forte estrondo seco em staccato da percussão. Aquele contraste entre o agudo cristalino das cordas e o timbre grave da batida faz da abertura do disco uma das mais belas, conceituais e inteligentes da discografia rock. Além disso, a música que se desenvolve a partir dali é absolutamente linda. Elevando o tom, joga o ouvinte num jardim da infância de sons vibrantes e coloridos num ritmo de banda marcial, onde já se nota que Brian vinha com tudo em seu desafio pessoal: som cheio, polifonia, coros em contracanto, abundância de instrumentos e ornados, consonância e equilíbrio total entre graves e agudos.

Um dos principais recursos utilizados por Brian no disco para obter esse resultado é a concepção múltipla da obra como um todo, seja na unidade entre as faixas, na harmonia ou no arranjo das peças. Bem ao estilo da música barroca dos séculos XVII e XVIII, ele vale-se da variedade instrumental e, numa decorrência mais impressionista, de timbres, uma vez que extrai sonoridades de toda a escala diatônica através de cordas, sopros, percussão, vozes, teclados e até eletrônicos. Há vários instrumentos exóticos, como mandolin, harpa francesa, ukulele, english corn, banjo, tack piano e temple block. A obsessão de Brian de superar o Fab Four, sabendo da prática dos "rivais" de valerem-se de variados instrumentos em estúdio, pode ser constatada, inclusive, na quantidade de instrumentos usados em todo o disco: cerca de 40, tocados por quase 70 músicos diferentes, incluindo a banda em si: os irmãos Carl (vocais, guitarra) e Dennis Wilson (vocais, bateria) mais Al Jardine (vocais, tamborim), Bruce Johnston e Mike Love (ambos, vocais), além do próprio Brian (vocais, órgão, piano). A belíssima balada “You Still Believe in Me”, das minhas preferidas, vale-se deste conceito polifônico. Além de baixar o tom da faixa inicial, explora mais ainda a riqueza dos ornamentos barrocos, como na complexidade melódica dos corais, que funcionam como um instrumento de teclado que acompanha o toque do cravo. A percussão, detalhada, vai do sutil som de sininho a tambores de orquestra, os quais dão um final épico à faixa em curtos rufares.

Outro trunfo do disco, na tentativa de Brian de superar até a produção de George Martin para com os Beatles, é a adoção do modelo de gravação multitrack. Usando vários takes de vozes e instrumentos tocando ao mesmo tempo e uns sobre os outros, consegue atingir, assim, timbres únicos. Isso foi possível pelo ouvido apurado de Brian que, grande fã do produtor Phil Spector, “inventor” das teenage symphonies nos anos 50, chupou-lhe a ideia do “wall of sound”, refinando-a. A “muralha de som” de Spector aproveitava o estúdio como instrumento, explorando novas combinações de sons que surgem a partir do uso de diversos instrumentos elétricos e vozes em conjunto, combinando-os com ecos e reverberações. Isso se nota em todo o disco, como em “That’s Not Me”, outra espetacular. Lindíssima a voz de Love, que, limpa e sem overdub, desenha toda a canção, enquanto a base se sustenta num órgão, nos acordes de ukulele (guitarrinha havaiana) e na combinação grave/agudo da percussão, em que o tambor e o chocalho ditam o ritmo. “Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder)” é outra balada que faz, novamente, cair o andamento para um ar melancólico. Mas que balada! Tristonha, romântica e, como num ornamento rococó, toda cheia de enlevos. Nesta, Brian capricha na orquestração.

Por falar em orquestração, duas merecem destaque neste aspecto. A primeira, a não menos lírica “I’m Waiting for the Day”, que oscila entre um ritmo de balada, levada por um suave órgão, e momentos de empolgação, quando, lindamente, vozes em contracanto se juntam a flautas e uma percussão densa em que o tímpano se destaca na marcação. A orquestra, no entanto, entra por apenas rápidos segundos, suficientes para pintar a música com alguns traços, quando, lá para o fim da faixa, logo após Brian cantar com doçura os versos: I’m waiting for the day when you can love again”, violinos e cellos, sem dar pausa entre o fim da vibração da voz e o ataque de suas cordas, aparecem juntos em um fraseado lírico como uma suave nuvem sonora, integrando voz e instrumentos. Depois desse breve sonho, estes e todos os outros instrumentos voltam para encerrar a canção em tom maior, com a voz solo cantando: “You didn't think that/ I could sit around and let him work...”, enquanto um dos coros faz: “Ah aaah ah/ ah, aaah, ah...”, em três tempos, e o outro vocalisa: “doo- doo/ doo-roo/ doo- doo/ doo-roo...”, em dois. Estupendo.

A segunda especial em termos de arregimentação é "Let's Go Away for Awhile”. Como a faixa-título – uma rumba estilizada em que o compositor se vale da diversidade de instrumentos que vão desde sopros, como sax alto e trombone, e percussão, reco-reco e (pasmem!) latas de Coca-Cola, até um método de filtragem de entrada de som do alto-falante, que dá uma sonoridade específica à guitarra –, é instrumental, prestando mais um tributo à tradição medieval, uma vez que o conceito de dissociar música da dança ou do teatro iniciou-se, justamente, com mestres como Scarlatti e Vivaldi nesta época. Perfeita em harmonia, é quase um pequeno concerto para vibrafone, que conta também com um breve solo de bloco de madeira, finalizando com um arrepiante diálogo entre bateria e tímpano de orquestra, sustentados por um arranjo de cordas de caráter grandioso.

Depois do tom médio de “Let’s...”, o ânimo volta às alturas com a graciosa “Sloop John B”. Na introdução, outra clássica no disco, um toque de sininho e uma nota de flauta que se estende, ambos marcados pelo tic-tac de um metrônomo, dando início à alegre canção, com Brian, Love e Carl alternando a voz solo e na qual não falta beleza no arranjo das vozes em contraponto. Brian consegue dar colorações lúdicas a uma canção folclórica tradicional do Caribe, criando uma música em que dá a impressão de que toda a caixa de brinquedos ganhou vida e saiu a tocar pelo chão do quarto, cada um com um instrumento: o soldadinho do Forte Apache com a tuba, o marinheiro com o tamborim, o indiozinho Pele-Vermelha com os sinos, o playmobil com o clarinete e assim por diante.

Para os apaixonados por “Pet Sounds” como eu, que o conhecem de trás pra diante, o final da extrovertida “Sloop...” traz uma emoção especial, pois é sinal de que vem, na sequência, “God Only Knows”. Magistral, numa palavra. A música que fez o gênio Paul McCartney sentir inveja alinha-se em magnitude a ícones da música moderna como "Like a Rolling Stone""Bolero""A Day in the Life""Águas de Março" ou "Summertime". Com uma aura ao mesmo tempo celestial, emocionada e suplicante, “God...” não poupa o coração dos diletantes, pois o órgão e o toque do oboé já largam entoando em alto e bom som. Na suave percussão, chocalhos e temple block. As cordas e sopros, igualmente perfeitos. A voz de Carl transmite uma emoção intensa e não menos lírica. Após uma segunda parte em que sobe uma gradação, adensando a emotividade, a faixa se encerra sob belíssimas frases dos sopros e uma orquestração a rigor, quando as vozes de Carl, Brian e Johnston se misturam, criando um efeito onírico tal como um Cantus Firmus, tipo de melodia extraída dos cantochões polifônicos medievos em louvor ao Senhor. Impossível não lembrar, ouvindo-a, da famosa sequência do filme "Boogie Nights" em que a câmera sobrevoa os cenários mostrando os rumos tomados na vida de cada personagem, como se Deus estivesse vendo o destino de todos e dissesse: “só Eu sei”.

“I Know There's an Answer” (que, nas extras, vem na versão “Hang on to Your Ego“, com mesma melodia e letra diferente) mantém a beleza polifônica e reforça uma outra base conceitual do disco: a “teoria dos afetos”. Princípio básico da música barroca, estabelece correspondência entre os sentimentos e os estados de espírito humanos. A alegria, consonante, por exemplo, é expressa através dos tons maiores, acontecendo o inverso para o sentimento de tristeza, em matizes menores e dissonantes em forma. Por isso, as idas e vindas durante todo o disco de temas calmos e/ou românticos alternados com outros alegres e mais pulsantes. Isso que acontece novamente com a “agitada” “Here Today”, que antecede outra obra-prima de Brian e Cia.: o baladão “I Just Wasn't Made for These Times”. Com base de cravo, num clima dos oratórios de Bach e Häendel, percussão que equilibra temple blocks, bateria e tímpanos, além de impressionantes contracantos, traz ainda uma inovação em termos de música pop: o electro-theremin, sintetizador muito usado pela vanguarda erudita da eletroacústica que pouco (ou nunca) havia sido usado em rock até então. E Brian não só usa como, inteligentemente, aplica-o de uma forma genial, pois, integrando uma ferramenta sonora moderna a outras marcantes da Idade Média (como o cravo e o tímpano), a faz homogeneizar-se ao coro, como se instrumento e voz, natureza e espírito, Deus e homem fossem a mesma matéria.

Se os Beatles de “Rubber...” louvavam o amor à sua Michelle, Brian, em mais uma estocada, vinha com a lenta e definitiva “Caroline No” com suas combinações de bongô/chocalho e hammond mantendo a base, além do engenhoso solo de cello com trombone, desfechando vitoriosamente o LP original.

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Se parasse por aí, já estava de bom tamanho, mas até os extras são dignos de nota. Haja visto a curta e brilhante “Unreleased Backgrounds”, toda a capella e na qual Brian evoca os mais ricos motetos barrocos – claro, numa roupagem pop e com a cara dele. Afinadíssimo, ele puxa um “lá”, prolongando seu corpo e baixando gradualmente a escala por cerca de 15 segundos até cair totalmente. O “good Idea”, ouvido ao fundo dito por algum dos integrantes da banda no estúdio mostra que a coisa agradou, motivando todos a se juntarem num coro. Eles exercitam melismas com acidentes, formando um verdadeiro canto gregoriano moderno. Lindíssimo. Depois disso, ainda há a ótima instrumental “Trombone Dixie”, em que, de uma feita, homenageiam o célebre bluesman Willie Dixie e evidenciam a sutil fronteira entre o folk e o erudito.

Brian Wilson vencera o desafio a que ele mesmo se propôs: apenas cinco meses depois, os Beach Boys superavam com “Pet Sounds” os Beatles de “Rubber Soul”. A história da música pop nunca mais seria a mesma, tendo em vista a alta influência deste trabalho para uma infinidade de outros artistas, que vão desde ZombiesPink Floyd e R.E.M., passando por Van Morisson, Genesis, Blur e, claro, os próprios Beatles. Mas a instabilidade emocional e o vício em drogas de Brian não o deixariam prosseguir combatendo no front da música pop – pelo menos, não à altura de Lennon, McCartney, Harrison e Ringo. Três meses adiante, o Quarteto de Liverpool se reinventa novamente e lança o espetacular “Revolver”; no ano seguinte, o histórico “Sgt. Peppers...”; logo em seguida, emendam o fecundo “Álbum Branco”. Brian perde o passo e não consegue mais conceber uma obra com início, meio e fim, quanto menos uma grandiosa como a que criou. Mas, para sorte da humanidade, havia dado tempo do mundo conhecer “Pet Sounds”, o álbum que é mais do que um “disco de cabeceira”, mas os verdadeiros “sons de estimação”.



por Daniel Rodrigues
(Consultas técnicas e agradecimentos: Maria Beatriz Noll e Leocádia Costa)

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FAIXAS:
1. Wouldn't It Be Nice - 2:26 (Wilson, Asher, Mike Love)
2. You Still Believe in Me - 2:31
3. That’s Not Me - 2:30
4. Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder) - 2:53
5. I’m Waiting for the Day – 3:06
6. Let's Go Away for a While - 2:21
7. Sloop John B - 2:54
8. God Only Knows - 2:46
9. I Know There's an Answer - 3:10 (Wilson, Terry Sachen, Love)
10.  Here Today - 2:55
11. I Just Wasn't Made for These Times - 3:10
12. Pet Sounds - 2:23
13. Caroline, No - 2:54
14. Unreleased Backgrounds - :50
15. Hang on to Your Ego – 3:17
16. Trombone Dixie – 2:53

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OUÇA O DISCO


sábado, 2 de abril de 2011

The Stooges - "The Stooges" (1969)

"Então pensei: o lance é tocar
meu próprio blues simples (...)
Me apropriei de um monte de formas vocais deles
[os negros] e das linhas melódicas também
- ouvidas, ou mal ouvidas,
ou deturpadas, das canções de blues.
Assim, "I Wanna be Your Dog"
provavelmente é resultado da minha má interpretação
de "Baby Please Don't Go".
Iggy Pop

No embalo do lançamento do material raro dos Stooges, o duplo "Dirty Power", é bom não deixar passar o ensejo sem falar de um álbum verdadeiramente fundamental na história do rock. Estou falando do primeiro do “The Stooges", de 1969, e que leva o mesmo nome da banda que, aliás, proporcionou o aparecimento de Iggy Pop para o mundo do rock.
Disco importantíssimo para a formação do punk e para as gerações seguintes do rock dali para a frente. Com sua sonoridade crua, suja e barulhenta contribuiu grandemente para a identidade sonora daquele momento. Bandas como Velvet Underground, Doors, Television, artistas como David Bowie já vinham trilhando um caminho que levaria ao que se caracterizou depois como o punk rock, mas parece que com os Stooges o passo final da evolução do conceito tinha finalmente acontecido. Provas desta linhagem são os fatos, por exemplo de Iggy ter se estimulado a ter uma banda depois de ter visto um show do Doors, de John Cale ex-integrante do Velvet ter produzido o primeiro disco dos Stooges ou mesmo de Bowie ter sido parceiro e produtor de Iggy depois em carreira solo. Os Stooges traziam o minimalismo, a sujeira, a agressividade que faltava para que a coisa tomasse forma e a partir dali o caminho estava pavimentado para nomes como Ramones, e Sex Pistols aparecerem alguns anos depois.
Mas falando propriamente do disco, o negócio já começa detonando com a grande “1969”, um daqueles clássicos eternos do rock; na seqüência, sem sair de cima, já vem outra das fantásticas, “I Wanna Be Your Dog”, básica, ‘burra’, simples e matadora. Quatro acordes incansavelemente repetidos o tempo inteiro e um piano insistente ao fundo numa nota só. Cru e genial. “No Fun”, que viria a ser gravada depois pelos Pistols, é outra das grandes do disco, igualmente com uma concepção simplérrima e acordes muito básicos; destaque também para “Not Right” e para a excelente “Little Doll” que passa a régua e fecha a conta.
Na época o disco foi praticamente ignorado, vendeu mal até por conta dos problemas que teve antes do lançamento quando já concluído teve que voltar para a mesa de mixagem uma vez que a gravadora desaprovou o resultado da produção de John Cale atrasando o lançamento e então já saindo com um certo descrédito e desconfiança. Como muitas grandes obras, este álbum acabou só sendo reconhecido alguns anos depois de seu lançamento e só então se percebeu o quanto ele havia sido realmente ousado e pioneiro.
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FAIXAS:
1."1969" – 4:05
2."I Wanna Be Your Dog" – 3:09
3."We Will Fall" – 10:18
4."No Fun" – 5:15
5."Real Cool Time" – 2:32
6."Ann" – 2:59
7."Not Right" – 2:51
8."Little Doll" – 3:20

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Ouça:
The Stooges 1969



Cly Reis

segunda-feira, 21 de julho de 2014

cotidianas #310 - O Presente


capa comemorativa do álbum "White Light / White Heat"
do Velvet Underground, para formato cassete
concebida por um fã conhecido como eidee
Waldo Jeffers alcançara seu limite.
Era agora meio de agosto, o que significa que ele estava separado de Marsha a mais de dois meses.
Dois meses, e tudo o que ele tinha pra mostrar eram três cartas com orelhas e duas ligações de longa-distância extremamente caras.
Verdade, quando ela terminou o colegial e voltou para Wisconsin, e ele pra Locust, Pennsylvania, ela teve que jurar que manteria uma fidelidade incorruptível.
Ela marcará encontros ocasionais, mas só por mera distração.
Ela permanecerá fiel.

Mas ultimamente Waldo começou a se preocupar.
Teve problemas para dormir à noite e quando conseguiu, teve sonhos horríveis.
Ele fica acordado na cama à noite rodando e virando de um lado pro outro buscando proteção embaixo de seu edredom, lágrimas jorrando em seus olhos conforme ele imaginava Marsha, quebrando seu juramento de não beber e ao afago tranquilizador de algum troglodita, finalmente submetendo-se às carícias finais de um sexo entorpecedor, era mais do que a mente humana poderia suportar.
Visões da traição de Marsha o assombravam.
Fantasias diurnas de abandono sexual permeavam seus pensamentos.
E o ponto era que eles não entenderiam como ela realmente era.
Ele, Waldo, só, entendia isso.
Ele intuitivamente entendeu cada “cantinho” da sua psique.
Ele a fez sorrir.
Ela precisou dele, e ele não estava lá (Ahwww...).

A ideia lhe veio na quinta-feira antes do Desfile de Máscaras ser agendado para acontecer.
Ele tinha acabado de aparar a grama dos Edelsons por um dólar e cinquenta e tinha verificado a caixa postal para ver se havia ao menos uma palavra de Marsha.
Não havia nada a não ser uma carta-circular da Amalgamated Aluminum Company of America inquirindo-o a respeito de suas necessidades.
Ao menos se importaram o suficiente para escrever.

Era uma companhia de Nova York.
Pode-se chegar a qualquer lugar por correspondência.
Então isso o fez perceber.
Ele não tinha dinheiro suficiente para ir a Wisconsin numa roupa aceitável, é verdade, mas porque não enviar-se pelo correio?
Seria incrivelmente simples.
Enviaria a si mesmo num embrulho pelo correio, entrega especial.
No dia seguinte, Waldo foi ao supermercado para comprar o equipamento necessário.
Comprou fita adesiva, uma pistola de grampo e uma caixa de papelão de tamanho médio apropriado para uma pessoa de seu porte.
Ele descobriu que, com o mínimo de bagagem, poderia viajar perfeitamente confortável.
Algumas aberturas, um pouco de água, talvez algum aperitivo para a noite, e seria provavelmente tão bom quanto um passeio turístico.

Sexta-feira pela tarde, Waldo estava pronto.
Estava perfeitamente empacotado e o carteiro concordou em apanhá-lo às 3 horas.
Ele marcou o pacote como "Frágil" e, enquanto ele estava lá dentro sentado, enroscado, descansando no forro de espuma de borracha, ele tinha tudo bem planejado.
Tentou visualizar o olhar espantado e feliz no rosto de Marsha quando ela abrisse a porta e visse o pacote, daria gorjeta ao entregador.
E então abriria e finalmente veria Waldo em pessoa.
Ela o beijaria e então talvez eles pudessem assistir a um filme.
Se ele tivesse pensado nisso antes.
De repente, mãos brutas seguraram seu pacote e ele sentiu ser puxado pra cima.
Foi jogado com um baque dentro de um caminhão e se foi.

Marsha Bronson tinha acabado de arrumar o cabelo.
Tinha sido um final de semana muito difícil.
Ela teve que se lembrar de não beber tanto.
Bill tinha sido gentil de qualquer forma.
Depois que terminou ele teve que dizer que ainda a respeitava e, depois de tudo, era certamente a maneira natural, e mesmo assim, não, ele não a amava, mas sentiu uma afeição por ela.
E, depois, eles eram adultos crescidos.
Ah, o que Bill poderia ensinar a Waldo - mas isso parecia ser a muitos anos atrás.

Sheila Klein, sua amiga, chegou pela porta de tela da varanda e foi pra cozinha.
"Meu Deus, a coisa lá fora está absolutamente temperamental."
"Ach, sei o que quer dizer, me sinto repulsiva!"
Marsha apertou o cinto de seu robe de algodão com a borda exterior de seda.
Sheila friccionou o dedo sobre alguns grãos de sal na mesa da cozinha, lambeu o dedo e fez uma careta.
"Creio que eu deveria pegar esses grãos de sal mas", enrugando o nariz, "eles me dão ânsia de vômito"
Marsha começou a dar tapinhas embaixo do queixo, uma prática que ela viu na televisão. "Deus, nem fale nisso."
Ela se levantou da mesa e foi até a pia onde pegou um frasco de vitaminas rosa e azul.
"Quer um? Era pra ser melhor que um bife", então tentou tocar seus joelhos.
"Acho que eu nunca mais vou tocar num daiquiri outra vez".
Ela levantou e sentou, dessa vez mais próxima da pequena mesa onde estava o telefone.
"Talvez Bill ligue", respondendo ao olhar que Sheila lhe deu.
Sheila mordiscou uma cutícula.
"Depois da noite passada, eu pensei que talvez você fosse sincera com ele."
"Sei o que quer dizer. Meu Deus, ele parecia um polvo. Mãos por toda parte."
Ela gesticulou, levantando a os braços para cima em defesa.
"A coisa é que, depois de um tempo, você se cansa de lutar com ele, entende, e depois de tudo eu realmente não fiz nada sexta e sábado, então eu meio que devia isso a ele. Você sabe o que quero dizer."
Ela começou a se coçar.
Sheila estava rindo com a mão tampando a boca.
"Vou te dizer, eu senti a mesma coisa e mesmo depois de um tempo", aqui ela se curvou num sussurro, "Eu queria isso!"
Agora ela estava rindo bem alto.

Foi aí que o Sr. Jameson dos Correios de Clarence Darrow tocou a campainha da ampla casa ornada com estuque colorido.
Quando Marsha Bronson abriu a porta ele a ajudou a carregar o pacote para dentro.
Ele tinha esse recibo amarelo e outro verde assinado junto com os quinze centavos de gorjeta que Marsha havia pegado na pequena carteira bege de sua mãe que estava num esconderijo.
"O que você acha que é?", perguntou Sheila.
Marsha ficou de pé com os braços cruzados atrás das costas.
Olhou fixamente para a caixa marrom no meio do quarto. "Eu não sei."
Dentro do pacote, Waldo revirava-se de excitação em ouvir as vozes abafadas.
Sheila arranhou sua unha na fita adesiva percorrendo-a até o centro da caixa.
"Porque você não olha o endereço do destinatário e vê de quem é?”
Waldo sentiu seu coração batendo.
Ele podia sentir a vibração dos passos.
Seria em breve.
Marsha andou em volta da caixa e leu a etiqueta com a tinta borrada.
"Ah Deus, é de Waldo!"
"Que babaca!", disse Sheila.
Waldo tremia com a expectativa.
"Bem, talvez você deva abrir", disse Sheila.
Ambas tentaram erguer as abas grampeadas.
"Ah, merda!", disse Marsha, grunhindo, "Ele deve ter lacrado com pregos."
Elas puxaram os grampos de novo.
"Meu Deus, precisa de uma broca pra abrir essa coisa!"
Elas puxaram de novo.
"Não se pode apertar tanto."
As duas continuavam de pé, respirando pesadamente.
"Porque você não pega uma tesoura?", disse Sheila.
Marsha correu pra cozinha, mas tudo o que conseguiu encontrar foi uma pequena tesoura de costura.
Então se lembrou de que seu pai mantinha uma coleção de ferramentas no porão.
Ela correu escada abaixo, e quando voltou carregava um enorme cortador com lâmina de metal na mão.
"Isso foi o melhor que eu consegui encontrar."
Estava bastante ofegante.
"Agora, você corta. Eu acho que morrer."
Ela afundou num grande sofá macio e expirou ruidosamente.
Sheila tentou abrir uma brecha entre a fita adesiva e a extremidade do grampo do cartão, mas a lâmina era muito grande e não havia espaço suficiente no quarto.
"Deus amaldiçoou essa coisa!", ela disse, sentindo-se bastante irritada, sorrindo depois.
"Tive uma ideia."
"O quê?", disse Marsha.
"Apenas olhe", disse Sheila, tocando com o dedo em sua cabeça.
Dentro do pacote, Waldo estava tão transtornado com a excitação que mal conseguia respirar.
Sua pele pinicava com o calor, e ele podia sentir seu coração batendo na garganta.
Seria em breve.
Sheila postou-se completamente reta e deu a volta até o outro lado do pacote.
Então dobrou os joelhos para baixo, agarrou o cortador por ambos os punhos, respirou profundamente, e mergulhou a longa lâmina através do meio do pacote, através da fita adesiva, através do cartão, através do forro e (thud!) bem no meio da cabeça de Waldo Jeffers, que se rompeu instantaneamente, formando pequenos e harmoniosos arcos em vermelho a pulsarem suavemente no sol da manhã.

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O Presente
(John Cale/ Lou Reed)
(tradução com colaboração de Carolina Milanez)

Ouça:
The Velvet Underground - "The Gift"

domingo, 8 de março de 2020

7 discos feitos para elas cantarem

ESPECIAL DIA DA MULHER
Eles compõem. Mas a voz é delas

por Daniel Rodrigues
com colaboração de Paulo Moreira

Michael Jackson e Diana Ross:
devoção à sua musa
Mestre Monarco disse certa vez que, embora a maioria quase absoluta de sambistas compositores sejam homens, nada sairia do zero sem a autoridade das pastoras. Se aquele samba inventado por eles entrasse numa roda de pagode e as cantoras da quadra não o "comprassem", ou seja, não o considerasse bom o suficiente para ser entoado, de nada valia ter gasto tutano compondo-o. Era como se nem tivesse sido escrito: pode descartar e passar para o próximo. Isso porque, segundo o ilustre membro da Velha Guarda da Portela, são as cantoras da comunidade que escolhem os sambas, que fazem passar a existir como obra de fato algo até então pertencente ao campo da imaginação. A voz masculina, afirma Monarco, não tem beleza suficiente para fazer revelar o verdadeiro mistério de um samba. A da mulher, sim.

Cale e Nico: sintonia
Talvez Monarco se surpreenda com a constatação de que seu entendimento sobra a alma da música vai além do samba e que não é apenas ele que pensa assim. Seja no rock, no pop, no jazz ou na soul music, outros compositores como ele partilham de uma ideia semelhante: a de que, por mais que se esforcem ou também saibam cantar (caso do próprio Monarco, dono de um barítono invejável), nada se iguala ao timbre feminino. Este é o que casa melhor com a melodia. Se comparar uma mesma canção cantada por um homem e por uma intérprete, na grande maioria das vezes ela é quem sairá vencendo.

A recente parceria de Gil
e Roberta Sá
Isso talvez não seja facilmente explicável, mas é com certeza absorvível pelos ouvidos com naturalidade. Por que, então, o Pink Floyd poria para cantar "The Great Gig in the Sky" Clare Torry e não os próprios Gilmour ou Waters? Ou Milton Nascimento, um dos mais admirados cantores da música mundial, em chamar Alaíde Costa especialmente para interpretar "Me Deixa em Paz" em meio a 20 outras faixas cantadas por ele ou Lô Borges em “Clube da Esquina”? Ao se ouvir o resultado de apenas estes dois exemplos fica fácil entender o porquê da escolha.

Nesta linha, então, em homenagem ao Dia da Mulher, selecionamos 7 trabalhos da música em que autores homens criaram obras especialmente para as suas “musas” cantarem. De diferentes épocas, são repertórios totalmente novos, fresquinhos, dados de presente para que elas, as cantoras, apenas pusessem suas vozes. “Apenas”, aliás, é um eufemismo, visto que é por causa da voz delas que essas obras existem, pois, mais do que somente a característica sonora própria da emissão das cordas vocais, é o talento delas que preenche a música. Elas que sabem revelar o mistério. “Música” é uma palavra essencialmente feminina, e isso explica muita coisa.

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Elizeth Cardoso – “Canção do Amor Demais” (1958)
Compositores: Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes

"Rua Nascimento Silva, 107/ Você ensinando pra Elizeth/ As canções de 'Canção do Amor Demais'", escreveu Tom Jobim na canção em que relembra quando, jovens, ele e o parceiro Vinicius compuseram um disco inteirinho para a então grande cantora brasileira: Elizeth Cardoso. Eram tempos de pré-bossa nova, movimento o qual este revolucionário disco, aliás, é o responsável por inaugurar. Mesmo que o gênero tenha ficado posteriormente conhecido pelo canto econômico por influência de João Gilberto e Nara Leão, o estilo classudo a la Rádio Nacional da “Divina” se encaixa perfeitamente às então novas criações da dupla, que havia feito recente sucesso compondo em parceria a trilha da peça “Orfeu da Conceição”, de 3 anos antes. Um desfile de obras-primas que, imediatamente, se transformavam em clássicos do cancioneiro brasileiro: “Estrada Branca”, “Eu não Existo sem Você”, “Modinha” e outras. O próprio João, inclusive, afia seus acordes dissonantes em duas faixas: a clássica “Chega de Saudade” e a talvez mais bela do disco “Outra Vez”.

FAIXAS
1. "Chega de Saudade"
2. "Serenata do Adeus"
3. "As Praias Desertas" 
4. "Caminho de Pedra"
5. "Luciana" 
6. "Janelas Abertas"
7. "Eu não Existo sem Você"   
8. "Outra Vez" 
9. "Medo de Amar" 
10. "Estrada Branca" 
11. "Vida Bela (Praia Branca)" 
12. "Modinha"  
13. "Canção do Amor demais"
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Dionne Warwick‎ – “Presenting Dionne Warwick” (1963)
Compositores: Burt Bacharach e Hal David 


Raramente uma cantora começa uma carreira ganhando um repertório praticamente todo novo (cerca de 90% do disco) e a produção de uma das mais geniais duplas da história da música moderna: Burt Bacharach e Hal David. Mais raro ainda é merecer tamanho merecimento. Pois Dionne Warwick é esta artista. A cantora havia chamado a atenção de David e Bacharach, que estavam procurando a voz ideal para suas sentimentais baladas. Não poderia ter dado mais certo. Ela, que se tornaria uma das maiores hitmakers da música soul norte-americana – inclusive com músicas deles – emplaca já de cara sucessos como "Don't Make Me Over", "Wishin' and Hopin'", "Make It Easy on Yourself", "This Empty Place".



FAIXAS
1. "This Empty Place"
2. "Wishin' and Hopin'"  
3. "I Cry Alone"  
4. "Zip-a-Dee-Doo-Dah" (Ray Gilbert, Allie Wrubel)
5. "Make the Music Play"
6. "If You See Bill" (Luther Dixon)
7. "Don't Make Me Over"
8. "It's Love That Really Counts"
9. "Unlucky" (Lillian Shockley, Bobby Banks)
10. "I Smiled Yesterday"
11. "Make It Easy on Yourself"
12. "The Love of a Boy"
Todas de autoria David e Bacharach,, exceto indicadas
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Nico – “The Marble Index” (1968)
Compositor: John Cale

Diferente de Dionne, Nico já era uma artista conhecida tanto como modelo, como atriz (havia feito uma ponta no cult movie “La Dolce Vita”, de Fellini) como, principalmente, por ter pertencido ao grupo que demarcaria o início do rock alternativo, a Velvet Underground, apadrinhados por Andy Wahrol e ao qual Cale era um dos cabeças ao lado de Lou Reed. Já havia, inclusive, gravado, em 1967, um disco, o cult imediato “Chelsea Girl”. Porém, coincidiu de tanto ela (que não gostara do resultado do seu primeiro disco) quanto Cale (de saída da Velvet) quererem alçar voos diferentes e explorar novas musicalidades. Totalmente composto, produzido e tocado por Cale, “Marble”, predecessor do dark, é sombrio, denso, enigmático e exótico. A voz grave de Nico, claro, colabora muito para essa poética sonora. A parceria deu tão certo que a dupla repetiria a mesma fórmula em outros dois ótimos discos: “Deserthore” (1970) e “The End” (1974).

FAIXAS
1. "Prelude"
2. "Lawns of Dawns"
3. "No One Is There"
4. "Ari's Song"
5. "Facing the Wind"
6. "Julius Caesar (Memento Hodié)"

7. "Frozen Warnings"
8. "Evening of Light"


Aretha Franklin – “Sparkle” (1976)
Compositor: Curtis Mayfield 


Na segunda metade dos anos 70, quando a era disco e a black music dominavam as pistas e as paradas, foi comum a várias cantoras norte-americanas gravarem discos com esta atmosfera. Aretha Franklin fez a seu modo: para a trilha sonora de um filme inspirado na história das Supremes, chamou um dos gênios da soul, Curtis Mayfield, para lhe escrever um repertório próprio. Deu em um dos melhores discos da carreira da Rainha do Soul, álbum presente na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. As gingadas “Jump” e “Rock With Me”, bem como as melodiosas ‘”Hooked on Your Love”, “Look into Your Heart” e a faixa-título, não poderiam ter sido compostas por ninguém menos do que o autor de “Superfly”.



FAIXAS:
1. "Sparkle" 
2. "Something He Can Feel" 
3. "Hooked on Your Love" 
4. "Look into Your Heart" 
5. "I Get High" 
6. "Jump" 
7. "Loving You Baby"
8. "Rock With Me"


Diana Ross – “Eaten Alive!” (1985)
Compositor: Barry Gibb



Já que lembramos das Supremes, então é hora de falar da mais ilustre do conjunto vocal feminino: Diana Ross. Com uma longa discografia entre os discos com a banda e os da carreira solo, em 1985 ela ganha de presente do amigo e admirador Barry Gibb, líder da Bee Gees, baladas e canções pop esculpidas para a sua voz aguda e sentimental. De sonoridade bem AOR anos 80, o disco tem, além de Gibb, a da devoção de outro célebre músico à sua idolatrada cantora: Michael Jackson. Seu ex-parceiro de palcos, estúdios e de cinema, o autor de “Thriller” coassina a esfuziante faixa-título para a sua madrinha na música. Merecida e bonita homenagem.



FAIXAS:
1. “Eaten Alive”
2. “Oh Teacher” 
3. “Experience” 
4. “Chain Reaction”
5. “More And More” 
6. “I'm Watching You”
7. “Love On The Line” 
8. “(I Love) Being In Love With You” 
9. “Crime Of Passion” 
10. “Don't Give Up On Each Other”


Gal Costa – “Recanto” (2011)
Compositor: Caetano Veloso

A afinidade de Caetano e Gal é profunda e vem de antes de gravarem o primeiro disco de suas carreiras juntos, em 1966, “Domingo” – quando ele, aliás, compôs as primeiras músicas para a voz dela, como as célebres “Coração Vagabundo” e “Avarandado”. Ela o gravaria várias vezes durante a longa carreira, não raro com temas escritos especialmente. “Recanto”, disco que já listamos em ÁLBUNS FUNDAMENTAIS e entre os melhores da MPB dos anos 2010, é, de certa forma, a maturidade dessa relação pessoal e musical de ambos. “Recanto Escuro” e “Tudo Dói” são declarações muito subjetivas de Caetano tentando perscrutar a alma de Gal, o que vale também para o sentido inverso. Referência da música brasileira do início do século XXI, o disco, que tem a ajuda fundamental de Kassin e Moreno nos arranjos e produção, é, acima de tudo, a cumplicidade entre Caê e Gal, estes dois monstros da música, vertida em sons e palavras.

FAIXAS
1. Recanto Escuro
2. Cara do Mundo 
3. Autotune Autoerótico 
4. Tudo Dói 
5. Neguinho 
6. O Menino
7. Madre Deus 
8. Mansidão 
9. Sexo e Dinheiro 
10. Miami Maculelê 
11. Segunda


Roberta Sá – “Giro” (2019)
Compositor: Gilberto Gil 


Talvez este seja o único caso entre os listados em que a cantora não está à altura do repertório que recebeu. Não que Roberta Sá não tenha qualidades: é afinada, graciosa e tem lá a sua personalidade. Mas que sua interpretação fica devendo à qualidade suprema da música do mestre Gil fica. “Giro”, no entanto, é bem apreciável, principalmente faixas como “Nem”, “Afogamento”, “Autorretratinho” e “Ela Diz que Me Ama”, em que a artista potiguar consegue reunir novamente Gil e Jorge BenJor, num samba-rock típico deste último: os contracantos, o coro masculino como o do tempo do Trio Mocotó e a batida de violão intensa, a qual Gil – conhecedor como poucos do universo do parceiro –, se encarrega de tocar.




FAIXAS
1. “Giro”
2. “O Lenço e o Lençol”
3. “Cantando As Horas”
4. “Ela Diz Que Me Ama”
5. “Nem”
6. “Fogo de Palha”
7. “Autorretratinho”
8. “A Vida de um Casal”
9. “Xote da Modernidade”
10. “Outra Coisa”
11. “Afogamento”