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domingo, 23 de novembro de 2014

"The Smiths - A Light That Never Goes Out - A Biografia", Tony Fletcher (2014)





"Quando escrevi sobre o Echo and the Bunnymen e sobre o R.E.M.,
no fim dos anos 80,
o processo pareceu relativamente fácil.
Na época, eu não entendi que isso se devia ao fato de os dois grupos serem entidades em total funcionamento,
com integrantes seguros na companhia uns dos outros
a ponto de
apenas me contarem sobre os demais
o que gostariam de ouvir sobre si mesmos,
e suficientemente jovens para não serem especialmente
protetores com seus legados
ou terem deixado para trás qualquer lembrança ruim(...)
Com os Smiths o processo foi muito complicado."
Tony Fletcher



Sempre vou com uma certa reserva quando leio biografias de artistas porque muitas vezes os relatos que compõe o trabalho não passam de um amontoado de fofocas, diz-que-me-diz, achismos, especulações, fatos nunca confirmados ou sem evidências, restando apenas, de realidade mesmo, apenas fatos incontestes de domínio público que saíram no jornal, entrevistas concedidas e coisas do tipo (aí é mole). Mas fui surpreendido positivamente pela ótima biografia de uma das minhas bandas favoritas, “The Smiths – A Light That Never Goes Out – A Biografia”, onde autor, Tony Fletcher, um jornalista, biografo já experimentado, rodado, experiente com outras bandas, mergulha fundo na história do quarteto de Manchester, The Smiths, buscando elementos desde as origens históricas das famílias, do povoamento de Manchester, do contexto social da cidade, do país, até chegar à formação dos meninos em escolas católicas severas, em bairros operários, deparando-se com crise, desemprego, mas com as descobertas musicais que os levariam a serem o que foram.
Contemporâneo dos integrantes dos Smiths e até mesmo presente em alguns episódios, o autor destrincha com habilidade os fatos que envolveram a curta trajetória da banda, relatando-os de forma competente numa narração muito bem estruturada e envolvente.
Para os fãs, o livro só fará reforçar a admiração pela banda, pelas suas virtudes, suas técnicas individuais, suas inspirações, e por seu repertório, embora revele de forma bastante imparcial e impiedosa a personalidade difícil, egocêntrica e quase insuportável de Morrissey, revelando-a, entre outras razões, como um dos principais motivos para o fim prematuro do grupo.
Mas, de todo modo, é absolutamente fascinante conhecer um pouco da descoberta mútua de Morrissey e Marr, o início da parceria, as primeiras composições, conhecer um pouco mais sobre cada música, o sucesso, a idolatria e tudo mais.
“The Smiths – A Biografia” é extremamente revelador no que diz respeito ao regime praticamente amadorístico com o qual a banda conduzia suas questões empresariais, fato tão decisivo para a abreviação da história da banda como para o fato de torná-la diferenciada e fazer com que não caísse na vala comum de bandas de megasucesso; aprofunda a questão do envolvimento com drogas por parte do baixista Andy Rourke; mergulha nas turnês e em seus bastidores, conseguindo no êxtase e nas catarses do público; esmiúça o processo construtivo, passo a passo, de vários canções do grupo, com destaque especial para “How Soon Is Now?”, um dos maiores clássicos da banda e uma de suas grandes pérolas, cheia de camadas de guitarra e outros recursos de estúdio; e ajuda a esclarecer o fim, até então nunca muito bem explicado.
Nada daquelas biografias chatas, cansativas. Não! Ótimo livro, leitura fluída, fácil sem ser limitado e ainda por cima de uma banda do meu coração. Uma vida curta mas cheia de histórias, polêmicas, conflitos e desdobramentos. Pouco tempo de existência mas o suficiente para escrever seu nome definitivamente na história do rock.



Cly Reis



terça-feira, 6 de outubro de 2020

Propellerheads - "Decksdrumsandrockandroll" (1998)

 



“Uma união sinérgica que resulta em
paisagens sonoras eletrônicas 
ricamente cinematográficas, 
impregnadas de hip-hop e um funk encorpado
- com um sadio senso de humor. ”
Larry Flick, 
revista Billboard


Eles têm um gosto todo especial por trilhas de filmes, e a capa explosiva, uma clara alusão a filmes de ação, já dá uma boa pista disso. Mas a coisa toda só comeca aí: a versão para "On her majesty's secret service", uma releitura dançante e alucinante de um dos temas clássicos de James Bond, com quase dez minutos e repleta de improvisos e samples empolgantes, só comprova ainda mais esse gosto e essa atmosfera cinematográfica que está espalhada ao longo do álbum em outras faixas e em vários outros momentos. Mas ainda que o titulo do disco indique um conteúdo altamente roqueiro, outra das predileções dos Propellerheads é o jazz e, a unindo ao cinema como as duas influências que figuram praticamente o tempo todo no álbum, a participação luxuosa de Miss Shirley Bassey, uma das intérpretes mais marcantes de temas de 007, em "History Repeating", um electronic-jazz retrô embalado e inspiradíssimo, serve como catalisador da ideia e da estética sonora da dupla Alex Gifford, o homem do maquinário e dos samples, e Will White, o responsável pelas batidas no criativo, estimulante e dançante "Decksdrumsandrockandroll".

Mas nem o jazz nem o cinema se limitam a essas duas faixas: "Take California", que faz as honras de abertura do álbum vai na mesma linha com uma batida extremamente dançante, tempos musicais muito jazzísticos e uma levada bem característica de filmes de espionagem. Não à toa, "Spybreak", semelhante na pegada, serviu de trilha para o filme "Matrix" na antológica cena da entrada de Neo e Trinity no saguão do prédio para resgatar Morpheus. Bem como "Cominagetcha!", de percussão um pouco mais carregada para o afro, que também poderia servir perfeitamente para um filme de ação blaxpliotation dos anos 70, isso tudo sem falar nos diversos fragmentos de diálogos de filmes espalhados ao longo do álbum.

Embora muito significativa no contexto todo do trabalho, não é apenas a bagagem cinematográfica o que sustenta o álbum. Como eu já mencionei, o jazz é outra das influências bem presentes no disco e ela pode ser notada de diversas formas ao longo do disco, em várias faixas, seja na fluência, seja nas linhas de base, seja nos improvisos, ou na subversão dos tempos, ao melhor estilo de um Herbie Hancock ou do quarteto de Dave Brubeck. Mas, tudo isso, é claro, muito bem sustentado pelas picapes, mesas e samples da dupla, que garantem, em meio a uma enxurrada de tendências e possibilidades musicais, muito ritmo e uma experiência dançante rica e excitante. Mas já falamos dos decks, da bateria mas onde, afinal, fica o rock'n roll sugerido no título do álbum? Embora apareça de forma mais explícita na frenética "Bang On!", o rock'n roll está em toda parte! A própria proposta em si é extremamente rock. A pegada, a mistura de influências, a concepção de álbum, é tudo muito próprio do rock e, certamente, o duo britânico tinha isso em mente ao planejar seu ótimo "Decksdrumsandrockandroll".

O disco teve edições diferentes da original britânica em outros lugares, sendo que a versão japonesa tem até mesmo um disco extra que traz, assim como a norte-americana, participações muito legais do DeLa Soul com a soul suave e sensual "360º (Oh Yeah)", e dos Jungle Brothers, em "You Want It Back", um hip-hop crescente que vai de uma batida quase ambient a um trip-hop acelerado e frenético. Curiosamente, o álbum foi o único da dupla que, num primeiro momento por questões de saúde de White e depois por motivos de agenda e de desencontros profissionais entre os dois intergrantes, encerrou suas atividades não muito tempo depois. Mas ambos continuam na ativa com trabalhos de produção, especialmente Gifford que, como não podia deixar de ser, não raro, aparece em colaborações para trilhas para TV e cinema.

Uma pena que juntos tenham ficado só nisso mas, certamente, "Decksdrumsandrocandroll" com sua qualidade, criatividade e diversidade, representa um dos melhores trabalhos do gênero em sua época e, por isso mesmo, um importante legado para tudo o que o sucedeu. Um único trabalho mas acima de tudo, um trabalho único. 

*******************

FAIXAS:

  • edição original (GB)

1."Take California" 7:23
2."Echo and Bounce" 5:29
3."Velvet Pants" 5:49
4."Better?" 2:05
5."Oh Yeah?" 5:28
6."History Repeating" (com Shirley Bassey) 4:05
7."Winning Style" 6:00
8."Bang On!" 5:57
9."A Number of Microphones" 0:48
10."On Her Majesty's Secret Service" 9:23
11."Bigger?" 2:22
12."Cominagetcha" 7:07
13."Spybreak!" 7:00

  • disco bonus da edição japonesa
1."You Want It Back" (featuring Jungle Brothers) 6:01
2."360° (Oh Yeah)" (featuring De La Soul) 4:29
3."Go Faster" 6:12
4."Ron's Theory" 6:38
5."Dive!" 7:04

  • edição norte-maericana
1."Take California" 7:21
2."Velvet Pants" 5:46
3."Better?" 2:03
4."360° (Oh Yeah?)" (com La Soul) 4:27
5."History Repeating" (com Shirley Bassey) 4:02
6."Winning Style" 5:58
7."Bang On!" 5:44
8."A Number of Microphones" 0:45
9."On Her Majesty's Secret Service"John Barry 9:20
10."Bigger?" 2:20
11."Cominagetcha" 7:02
12."Spybreak!" 6:58
13."You Want It Back" (com Jungle Brothers) 5:59

********************
Ouça:
Propellerheads - "Decksdrumsandrockandroll" (1998):
https://www.youtube.com/watch?v=XKKw-8jKYMI&list=PLZ6N_J_H1xqekfsCJdHAqzJj8d-DR_Q7Z



por Cly Reis


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Bar Opinião - Porto Alegre (20/11/2010)

Aproveitei breve passagem por Porto Alegre por motivos profissionais e dei uma pequena esticada no final de semana. Além de churrascada com tios e tias na sexta-feira, curti a noite de sábado com os amigos. Fomos ao Bar Opinião, uma das melhores casas de espetáculo de POA, meio sem saber o que nos aguardava e tivemos a agradável surpresa de assitir à banda Os Maquinados. Cara, bem legal! Competentes, repertório bom. Basicamente aquele pop rock tradicional de bandas cover da noite mas incrementado com uns clássicos ("Jump" do Van Halen, "Rock'n Roll" do Led, "Jumping Jack Flash" dos Stones) muito bem executados. Bem boa a banda!
Além de tudo, também foi legal voltar ao Opinião. Tenho boas recordações musicais de lá: Lá vi Morrissey, Echo & the Bunnymen e assisti a trocentos shows dos Replicantes, sempre lá na roda-punk.
Demoramos pra decidir, ficou naquela de vamos pra lá ou pra cá, mas meio que na sorte acabou sendo uma boa pedida o nosso programa do sábado. Ponto negativo foi que o lugar só tinha Devassa ou Nova Schin. Aí, ninguém merece, né?. Mas no mais...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

"A Garota de Rosa-Shocking", de Howard Deutch (1986) vs. "Alguém Muito Especial", de Howard Deutch (1987)


Sabe aquela máxima do futebol que diz que "em time que está ganhando não se mexe"? Pois é,... não se aplica se John Hughes for o cartola. Depois do sucesso de "A Garota de Rosa-Shocking", o produtor e roteirista, insatisfeito com o produto final e contrariado pelo fato do desfecho original, escrito por ele, ter sido mudado para agradar o público, resolveu, um ano depois, rodar outro filme, "Alguém Muito Especial", para fazer as coisas do jeito que realmente queria. Para isso resolveu trocar toda a comissão técnica, demitindo, num primeiro momento, até o treinador mas voltando atrás logo em seguida e dando a ele, novamente, o comando do projeto. Ambos os filmes foram dirigidos por Howard Deutch, que na primeira versão fez um filmes típico de adolescentes dos anos 80, bem ao estilo de John Hughes, como em "Gatinhas e Gatões", "Mulher Nota 1000", "Curtindo a Vida Adoidado, bem descontraído, colorido, com personagens bem carismáticos, ritmo ágil e uma trilha sonora recheada de hits da década. Já na segunda versão, embora mantenha o clima juvenil, gere situações engraçadinhas, Deutch conduz um filme mais sério e com abordagens um pouco mais profundas sobre as relações humanas, dinheiro, futuro, aparências e escolhas pessoais e profissionais.
Uma diferença crucial é a mudança do gênero dos personagens principais de um filme para o outro: enquanto no primeiro a protagonista é uma garota, Andie, que é vidrada no bonitão ricaço da escola; no segundo, até para dar uma virada geral no panorama, o personagem central é um rapaz, Keith, cujo alvo é uma bela garota, Amanda Jones, que até não é tão endinheirada, mas só anda com a classe alta. No primeiro, Blane, o boa pinta, até está a fim de Andie e arrasta uma asa violenta pra ela, mas se leva muito pelas aparências e no que vão pensar os amigos e a família rica; Amanda, por sua vez, no remake, parece inalcansável num primeiro instante, com um namorado risquinho e babaca e andando com a turminha esnobe da zona nobre da cidade. No entanto, em ambos os casos, nossos heróis estão tão cegos com a beleza dos seus desejados que não percebem que o verdadeiro amor está debaixo dos seu narizes. Duckie, o engraçado e esquisitão amigo de Andie é até contundente em alguns momentos e não esconde dela sua paixão; já a alternativa baterista Watts, embora mais discreta quanto a seus sentimentos, até disfarçando, se escondendo, fazendo beicinho, também não deixa de transparecer o que tem em seu coração.
Assim, escalados, os dois times entram em campo. O time de rosa-choque sai na frente por uma jogada individual. Molly Ringwald, uma das atrizes símbolo dos anos 80 e, no caso particular, uma protagonista bem mais marcante do que é Eric Stoltz na refilmagem, assume o protagonismo do jogo e tira o primeiro zero do placar. Só que a refilmagem, com um esquema de jogo mais bem mais pensado, com um conjunto melhor, empata o jogo.

"A Garota de Rosa-Shocking"
 Duckie na loja de dicos dublando "Try a Little Tenderness"

"Alguém Muito Especial" 
Watts ensinando Keith a beijar



 Em outra jogada individual, Duckie, numa performance incrível na cena da loja de discos, em que dubla "Try a Little Tenderness", de Otis Redding, marca o segundo para o time original. Mas se o melhor amigo de lá marca um, o do remake responde também com o seu. Mary-Stuart Masterson, como Watts, está tão espetacular que chega a dar vontade de pegar no colo e consolá-la cada vez que ela chora ou se decepciona pelo amigo. Sua atuação de luxo é outro gol para a segunda versão. 2x2. Mas aí vem a trilha sonora do filme de 1986 e aí é um golaço. É New Order tabelando com Echo and The Bunnymen, tocando para Otis Redding, que passa pra The Smiths, que rola para OMD e... toca a múúsicaaaa! 3x2 para "A Garota de Rosa-Shocking". Mas se o quesito é música, a referência aos Rolling Stones nos nomes dos três personagens principais, Keith, Jones e Watts garante novo empate para "Alguém Muito Especial". 3x3.
Jogo se encaminhando para o final. A segunda versão quer ser melhor e para isso a cartolagem intervém. A ordem vem lá de cima, da sala da diretoria, e o técnico do time de 1987 obedece e queima sua ultima troca. Sobe a placa: sai o final em que um protagonista fica com um personagem dos sonhos e entra o final em que o protagonista fica com quem realmente o merece. Gol do remake! Golzinho chorado , aos 44 do segundo tempo. Que virada!
A torcida vaia o resultado, acha injusto. Mas não adianta, o time de 1986 é mais badalado mas o de 1987 é melhor.

Substituição:
Sai "final de conto de fadas" e entre "final mais justo e realista".
Vitória com o dedo do treinador (mas com a mão da diretoria).



A Garota Rosa até pode ser a queridinha da galera, mas descobriu que tem alguém que é mais especial.








por Cly Reis

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Ornette Coleman – “The Shape of Jazz to Come” (1959)



"Ornette é um dos meus astronautas favoritos"
Wayne Shorter


“’Kind of Blue’ era um álbum bonito, delicado,
mas não lembro de ele ter realmente
virado minha cabeça na época.
 Então, quando Ornette surgiu,
 ele de fato soava como se
 pertencesse a uma outra era, 
a um outro planeta.
A novidade estava ali”.
Joe Zawinul



Chego ao meu 50° ÁLBUM FUNDAMENTAL por um motivo especial. Embora todos os discos sobre os quais escrevi sejam caros a mim, quando percebi que chegava a essa marca não queria que fosse apenas mais um texto. Tinha que ser por um motivo especial. Escreveria sobre os artistas brasileiros a quem ainda não resenhei: Chico BuarqueEdu LoboMilton NascimentoPaulinho da Viola? Ou das minhas queridas bandas britânicas, como The CureThe SmithsCocteau Twins, Echo and The Bunnymen? De algum dos gênios da soul, Gil Scott-Heron, Otis Reding, Curtis Mayfield, que tanto admiro? Do para mim formativo punk rock (Stranglers, Ratos de Porão, New York Dolls)? Obras consagradas de um Stravinsky ou alguma sinfonia de Beethoven? Outro de John Coltrane ou Miles Davis? Nenhum desses, no entanto, me pegava em cheio. A resposta me veio no último dia 11 de junho, quando o saxofonista norte-americano Ornette Coleman deu adeus a esse planeta. Aos 85 anos, Coleman morreu deixando não apenas o mérito da criação do free-jazz como uma das mais revolucionárias obras do jazz. A cristalização da proposta de inovação musical – e espiritual – de Coleman veio pronta já em seu primeiro disco, o memorável “The Shape of Jazz to Come”.

Gravado no mesmo ano de 1959 que pelo menos outros dois colossos do jazz moderno – "Kind of Blue", de Miles, arcabouço do jazz modal (agosto), e “Giant Steps”, de Coltrane, a cria mais madura do hard-bop (dezembro) –, “The Shape...”, vindo ao mundo a 22 de maio, não aponta para o lado de nenhum deles. Pelo contrário: engendra uma nova direção para a linha evolutiva do estilo. Nascido no Texas, em 1930, Coleman era daquelas mentes geniais que não conseguiam pensar “dentro da caixa”. No início dos anos 50, já em Nova York, nas contribuições que tivera na banda de seu mestre, o pistonista Don Cherry, ele, saudavelmente incapaz de seguir as progressões harmônicas do be-bop, já demonstrava um estilo livre de improvisar não sobre uma base em sequências de acordes, mas em fragmentos melódicos, tirando do seu sopro microtons e notas dissonantes, arremessadas contra às dos outros instrumentos, contra si próprias. Fúria e espírito. Carne e alma.

Seu processo era tão complexo que, exorcizando clichês, atinge um patamar até psicanalítico de livre associação e reconstrução do inconsciente coletivo, o que levou um dos pioneiros do cool jazz, John Lewis, a dizer: “Percebi que Coleman cunhou um novo tipo de música, mais semelhante ao ‘fluxo de consciência’ de James Joyce do que o entretenimento operado por Louis Armstrong com sua variação sobre uma melodia familiar”. Se na literatura este é seu melhor comparativo, faz sentido colocá-lo em igualdade também a um Pollock nas artes plásticas ou um Luis Buñuel no cinema. Na música, remete, claro, a Charlie Parker e Dizzie Gillespie, mas tanto quanto a compositores atonais da avant-garde como John Cage e György Ligeti.

Em “The Shape...”, a desconstrução conceitual já se dá na formação da banda. Traz o desconcertante sax alto de Coleman, a bateria ensandecida de Billy Higgins, o duplo baixo de outro craque, Charlie Haden (de apenas 22 anos à época), e o privilégio de se ter o próprio Cherry, com sua mágica e não menos desafiadora corneta. Nada de piano! Tal proposta, tão subversiva da timbrística natural do jazz a que Coleman convida o ouvinte a apreciar, assombra de pronto. “Lonely Woman”, faixa que abre o disco, é uma balada fúnebre e intempestiva. O free jazz, consolidado por Coleman um ano depois no LP que trazia o nome do novo estilo, dá seus primeiros acordes nesse brilhante tema. Dissonâncias na própria estrutura melódica, compasso discordante da bateria e um baixo inebriado que parece buscar um plano etéreo, longe dali. Algo já estava fora da ordem, anunciava-se. Coleman e Cherry, pupilo e mestre, equiparados e expondo uma nova construção composicional aberta, incerta, em que a música se cria no momento, numa exploração dramática conjunta.

Na revolução do free jazz, cada membro é tão solista quanto o outro. “Eventually”, um blues vanguardista em alta velocidade, e “Peace”, com seus 9 minutos de puro improviso solto, sem as amarras do encadeamento tradicional, são mostras disso. Cada músico está ligado ao outro primeiramente pelo estado de espírito, não apenas pela habilidade técnica. E eles perdem o apelo momentâneo? Jamais, apenas o centro melódico é outro. Os riffs e o tom estão lá como os do be-bop; a elegância do blues trazida do swing também. Mas o conceito e a dinâmica aplicados por Coleman e seu grupo fazem com que se desviem das formas tradicionais a as diluam, direcionando a uma tonalidade expandida como praticaram Debussy, Messiaen e Stravinsky.

Nessa linha, "Focus on Sanity" se lança no ar inquieta, mas logo freia para entrar o maravilhoso baixo de Haden, suingando, serenando-a. Não por muito tempo: por volta dos 2 minutos e meio, Coleman irrompe e o grupo retorna em ritmo acelerado para seu novo solo da mais alta habilidade de fúria lírica. O mesmo faz Cherry, que entra raspando com o pistão e forçando que o compasso reduza-se novamente. “Foco” e “sanidade”, literalmente. A inconstância desse número dá lugar ao blues ligeiro "Congeniality". Mais “comportada” das faixas, traz, entretanto, a fluência do quarteto dentro de um arranjo em que se prescinde da referência harmônica das cordas – o piano. Pode parecer um be-bop comum, mas, ditado pela intuição e não pelo arranjo pré-estabelecido (tom, escala, variação), definitivamente não é. Fechando o álbum, “Chronology” mais uma vez ataca na desconstrução da progressão acorde/escala. As explosões emocionais súbitas de Coleman e seu modo atritado e carregado de tocar estão inteiros neste tema.

Wayne Shorter, Anthony Braxton, Eric Dolphy, Albert Ayler, Pharoah Sanders e o próprio Coltrane, mesmo anterior a Coleman, não seriam os mesmos depois de “The Shape...”. O fusion e o pós-jazz nem existiriam. Coleman influenciou não apenas jazzistas posteriores como, para além disso, roqueiros do naipe de Jimi Hendrix, Don Van VlietFrank Zappa e Roky Erickson. Ele seguiu aprofundando esse alcance em vários momentos de sua trajetória. No ano seguinte ao de sua estreia, emenda uma trinca de discos, começando pelo já referido “Free Jazz” (dezembro) mais “Change of the Century” (outubro) e “This Is Our Music” (agosto). Em 1971, surpreende novamente com a sinfonia cageana “Skies of America”, para orquestra e saxofone. No meio da década de 70, ainda, adere ao fusion, quando lança o funk-rock “Body Meta” (1976), recriando-se com uma música dançante e suingada.

Além disso, Coleman teve a coragem de legar ao jazz um sobgênero, o que, juntamente com o contemporâneo “Kind of Blue”, referência inicial do jazz modal, ajudou a desafiar conceitos e padrões estabelecidos. O jornalista e escritor Ashley Kuhn, em “Kind of Blue: a história da obra de Miles Davis”, recorda a receptividade de “The Shape...” à época entre músicos e críticos, os quais vários deles (como um dos pioneiros do fusion, o pianista Joe Zawinul), colocavam os dois discos em polos opostos: free jazz versus modal. No entanto, como ressalta Kuhn: “No fim das contas, Coleman e Davis parecem mais filosoficamente compatíveis do que musicalmente opostos: ambos dedicaram suas carreiras a reescrever as regras do jazz”.

Desde que meu amigo Daniel Deiro, que mora em Nova York, disse-me anos atrás tê-lo assistido em um bar da Greenwich Village, fiquei esperançoso de também vê-lo no palco um dia. Não deu. O astronauta do jazz, capaz de fazer quem o ouve também flutuar sem gravidade, deixa como suficiente consolo uma obra gigantesca e densa a ser decifrada, sorvida, descoberta. Como a de um Joyce, Pollock ou Buñuel. Se a função do astronauta é desbravar o espaço, Ornette Coleman cumpriu o mesmo papel através da arte musical, que ele tão bem soube explorar em sua dinâmica atômica e imaterial através da propagação dos sons no ar, na atmosfera. E o fez de forma livre, como bem merece um free jazz. Agora, então, foi ele que se libertou para poder voar sobre outros planetas igual à sua própria música.

********************

FAIXAS:
1. "Lonely Woman" - 4:59
2. "Eventually" - 4:20
3. "Peace" - 9:04
5. "Focus on Sanity" - 6:50
5. "Congeniality" -  6:41
6. "Chronology" - 6:05

********************
OUÇA O DISCO:






quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Música da Cabeça - Programa #129


Não tem jeito: nem a bala que atinge inocentes, nem a ofensa a nossos ídolos, nem discursos desastrosos nos abalam. Vejam só o quão forte está o Música da Cabeça de hoje: João Gilberto, Echo & The Bunnymen, Trio Mocotó, Ice-T, Tim Maia e Pixies são apenas algumas mostras disso. Se você é dos que seguram todas mesmo em meio a tanta perversidade, é sinal que você merece escutar o MDC. É às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e casca grossa: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sábado, 21 de setembro de 2013

ClyBlog 5+ Shows


Em época de grandes apresentações ao vivo por essas bandas, é interessante também saber com os amigos quais foram os grandes espetáculos musicais que presenciaram. Palco, luzes, a banda ali pertinho, o empurra-empurra, pegar a palheta do guitarrista, filas, subir no palco pra fazer jump-stage, poguear na roda-punk, ir ao camarim, ouvir a banda tocar sua música preferida, são coisas que só quem esteve lá pôde sentir. Por isso, em mais uma dos 5 anos do clyblog, 5 convidados nos contam quais os 5 shows que, de alguma forma marcaram suas vidas.
Com vocês clyblog 5+ shows:



1 Marcos Rocker Mattos
analista de logística e DJ
(São Paulo)
"O Peter Murphy, no Carioca Club, foi muito bacana, esse ano."


Peter Murphy em ação, em SP

1. Einstürzende Neubauten - SESC Belenzinho- São Paulo/ SP
2. The Cure - (Hollywood Rock 1996) - Pacembu- São Paulo/ SP
3. Teenage Fanclub (Whisky Festival) - The Week- São Paulo/SP
4. Primal Scream - HSBC Hall - São Paulo /SP
5.  Peter Murphy - Carioca Club- São Paulo/ SP




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2 Anderson Reis
estudante
(Porto Alegre)

"O Nightwish foi incrível 
mas no Lacuna Coil a vocalista me viu e abanou pra mim."




1. Guns'n Roses (Chinsese Democracy Tour) - FIERGS - Porto Alegre/RS
2. Ozzy Osbourne - Gigantinho - Porto Alegre/RS
3. Nightwish - Opinião - Porto Alegre
4. Lacuna Coil - Opinão - Porto Alegre/RS
5.  Evanescence - Pepsi on Stage - Porto Alegre/RS



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3 Christian Ordoque
consultor de História
colaborador do ClyBlog
(Porto Alegre)
"This boy 'craiou' horrores "

1. Paul McCartney - Beira-Rio - Porto Alegre/RS
2. The Cure - Arena Anehmebi - São Paulo/SP


3. Echo and the Bunnymen - Opinião - Porto Alegre/RS
4. Legião Urbana (turnê "O Descobrimento do Brasil") - Gigantinho - Porto Alegre/RS
5.  Camisa de Vênus (turnê "Viva") - Gigantinho - Porto Alegre/RS

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4  Lucio Agacê
músico, DJ
colaborador do ClyBlog
(Sapucaia do Sul/RS)

"Teve vários, mas o ParaNóia foi o primeiro de todos
e a minha incursão no movimento Punk RS.
Suicidal e Biohazard, no Opinião, foram shows nos quais
tive o prazer de abrir, com a Grosseria"


Tá pensando que é só show de rock que é bacana? 
Bezerra detonou, na opinião de Lúcio Agacê

1. Insanidade (Festival "Não ParaNóia 0) - Novo Hamburgo/ RS
2. Bezerra da Silva - Auditório Araújo Vianna - Porto Alegre/RS
3. B-Negão com Autoramas (Fórum Social Temático) - São Leopoldo - Porto Alegre/RS
4.  Suicidal Tendencies - Opinião - Porto Alegre/RS
4.  Biohazard - Opinião - Porto Alegre/RS



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5 Tiago Bagesteiro Mafra
funcionário de transportadora
baterista
(São Bernardo do Campo/SP)

"Teria muito mais pra colocar nessa lista.
Tentei escolher os melhores."


1. Rolling Stones - Pacaembu - São Paulo/SP
2. The Cure (Hollywood Rock 1996) - Pacaembu - São Paulo/SP
3. Aerosmith (Hollywood Rock 1994) - Pacaembu - São Paulo/SP
4. Ramones - Palace - São Paulo/SP
5.  Foo Fighters (Lollapalooza 2012)  Jockey Club -São Paulo/SP

quinta-feira, 16 de julho de 2009

OS 100 MELHORES DISCOS DE TODOS OS TEMPOS

Coloquei no blog o primeiro da minha lista do melhores álbuns de todos os tempos e então agora resolvi listar o resto.
Sei que é das tarefas mais difíceis e sempre um tanto polêmica, mas resolvi arriscar.
Até o 10, não digo que seja fácil, mas a concepção já está mais ou menos pronta na cabeça. Depois disso é que a gente fica meio assim de colocar este à frente daquele, tem aquele não pode ficar de fora, o que eu gosto mais mas o outro é mais importante e tudo mais.
Mas na minha cabeça, já ta tudo mais ou menos montado.
Com vocês a minha lista dos 100 melhores discos de toda a história:



1.The Jesus and Mary Chain “Psychocandy”
2.Rolling Stones “Let it Bleed”
3.Prince "Sign’O the Times”
4.The Velvet Underground and Nico
5.The Glove “Blue Sunshine”
6.Pink Floyd “The Darkside of the Moon”
7.PIL “Metalbox”
8.Talking Heads “Fear of Music”
9.Nirvana “Nevermind”
10.Sex Pistols “Nevermind the Bollocks"

11.Rolling Stones “Exile on Main Street”
12.The Who “Live at Leeds”
13.Primal Scream “Screamadelica”
14.Led Zeppellin “Led Zeppellin IV
15.Television “Marquee Moon”
16.Deep Purple “Machine Head”
17.Black Sabbath “Paranoid”
18.Bob Dylan “Bringing it All Back Home”
19.Bob Dylan “Highway 61 Revisited”
20.The Beatles “Revolver”
21.Kraftwerk “Radioactivity”
22.Dead Kennedy’s “Freshfruit for Rotting Vegettables”
23.The Smiths “The Smiths”
24.The Stooges “The Stooges”
25.Joy Division “Unknown Pleasures”
26.Led Zeppellin “Physical Graffitti
27.Jimmy Hendrix “Are You Experienced”
28.Lou Reed “Berlin”
29.Gang of Four “Entertainment!”
30.U2 “The Joshua Tree”
31.David Bowie “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”
32.David Bowie “Low”
33.My Bloody Valentine “Loveless”
34.The Stone Roses “The Stone Roses”
35.Iggy Pop “The Idiot”
36.The Young Gods “L’Eau Rouge”
37.The 13th. Floor Elevators “The Psychedelic Sounds of The 13th. Floor Elevators”
38.The Sonics “Psychosonic”
39.Ramones “Rocket to Russia”
40.The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”
41.PIL “Album”
42.REM “Reckoning”
43.Love “Forever Changes”
44.Madonna “Erotica”
45.Grace Jones “Nightclubbing”
46.Pixies “Surfer Rosa”
47.Pixies “Doolitle”
48.Rolling Stones “Some Girls”
49.Michael Jackson “Off the Wall”
50.Michael Jackson “Thriller”
51.Beck “Odelay”
52.Nine Inch Nails “Broken”
53.The Fall “Bend Sinister”
54.REM “Green”
55.Neil Young and the Crazy Horse “Everybody Knows This is Nowhere”
56.Kraftwerk “Trans-Europe Expreess”
57.The Smiths “The Queen is Dead”
58.New Order “Brotherhood”
59.Echo and The Bunnymen” Crocodiles”
60.Prince “1999”
61.Morrissey “Viva Hate”
62Iggy Pop “Lust for Life”
63.Pixies “Bossanova”
64.Chemical Brothers “Dig Your Own Hole”
65.Prodigy “Music For Jilted Generation”
66.Van Morrisson “Astral Weeks”
67.Pink Floyd “Wish You Were Here”
68.Muddy Waters “Electric Mud”
69.Sonic Youth “Dirty”
70.Sonic Youth “Daydream Nation”
71.Nirvana “In Utero”
72.Björk “Debut”
73.Nirvana “Unplugged in New York”
74.Björk “Post”
75.Jorge Ben “A Tábua de Esmeraldas”
76.Metallica ‘Metallica”
77.The Cure "Disintegration"
78.The Police ‘Reggatta de Blanc”
79.Siouxsie and the Banshees “Nocturne”
80.Depeche Mode “Music for the Masses”
81.New Order “Technique”
82.Ministry “Psalm 69”
83.The Cream “Disraeli Gears”
84.Depeche Mode Violator”
85.Talking Heads “More Songs About Building and Food”
86.The Stranglers “Black and White”
87.U2 “Zooropa”
88.Body Count “Body Count”
89.Massive Attack “Blue Lines”
90.Lou Reed “Transformer”
91.Sepultura “Roots”
92.John Lee Hooker “Hooker’n Heat”
93.The Cult “Love”
94.Dr. Feelgood “Malpractice”
95.Red Hot Chilli Peperrs “BloodSugarSexMagik”
96.Guns’n Roses “Appettite for Destruction”
97.The Zombies “Odessey Oracle”
98.Johnny Cash “At Folson Prison”
99.Joy Division “Closer”
100.Cocteau Twins “Treasure”

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Música da Cabeça - programa #356

 


Carnaval chegando e a mensagem é clara: "não é não"! "Sim" só pro MDC desta semana, que vem pronto pra entrar na avenida. 

Echo & The Bunnymen , RPM , Caetano Veloso , Red Hot Chilli Peppers , Don Von Vliet e outros. Ainda, um Cabeção com o compositor polonês Witold Lutoslawski. 

Na folia, mas de boa, o programa põe o bloco na rua às 21h. Produção, apresentação e "respeita as mina": Daniel Rodrigues






quarta-feira, 12 de novembro de 2008

As Melhores Capas de Discos








Grandes capas de discos. Aqui vai uma seleção das 10 melhores capas de discos, na minha modesta opinião.
No topo da minha lista está o Joy Division e seu "Unknown Pleasures" com sua capa minimalista, enigmática, que é na verdade um medidor de pulsos de uma estrela, em uma concepção de Peter Saville que aparece novamente na lista com a ótima capa de "Power, Corruption & Lies" do New Order, banda fruto do Joy, da qual o designer sempre foi colaborador.Outro que faz "dobradinha na minha lista é Andy Wahrol com a famosa capa do Velvet e com a provocante "Sticky Fingers" dos Stones.
Capas como as do PIL (Public Image Ltd.) "Metalbox" e a do Marley em seu "Catch a Fire" podem parecer muito simples numa primeira olhada mas sua concepção, conceito e formato as justificam. "Metalbox" vinha, efetivamente, em uma caixa de metal. O LP ficava em uma lata tipo rolo de filme que funcionava quase que como "proteção" ao ouvinte quanto ao material contido ali. "Catch a Fire", caso não dê pra notar, imita um isqueiro e aí, quanto ao conceito, em tratando-se de Bob Marley, não precisa falar mais nada. Uma curiosidade é que, assim como o álbum do PIL, este foi concebido para o formato vinil e sua capa abria como se fosse o isqueiro, mesmo, para cima.
A do Alice Cooper também pode se enquadrar nessas aparentemente comuns, mas note que a capa imita uma carteira de couro e as do "Sgt. Peppers..." e do "Dark Side..." dispensam comentários.

Dêem uma olhada na lista e se quiserem deixem a sua também.

Menções honrosas também para "Physical Graffiti" do Led com sua capa cheia de janelas, símbolos e enigmas, também para "Mezzanine" do Massive Attack, "Bandwagonesque" do Teenage Funclub, "Highway to Hell do ACDC, "Number of the Beast" do Iron, "In the court of King Crimson", "The Queen is Dead" dos Smiths, "Songs to Learn and Sing" do Echo com foto de Anton Corbjin e "Violator" do Depeche, concebida pelo mesmo, e ainda para a demoníaca "Live Evil" do Black Sabath com suas figuras simbolizando cada um dos seus clássicos.
ABAIXO, AS MINHAS 10 MELHORES:


1. Joy Division, "Unknown Pleasures"; 2. The Velvet Underground and Nico, "The Velvet Underground and Nico; 3. Nirvana, "Nevermind"; 4. PIL, "Metal Box"; 5. The Beatles, "Sargent Pepper's lonely Hearts Club Band"; 6. Alice Cooper, "Billion Dollar Babies; 7. bob Marley and the Wailers, "Catch a Fire"; 8. New Order, "Power, Corruption and Lies"; 9. Pink Floyd, "The Dark Side of the Moon"; 10. The Rolling Stones, "Sticky Fingers"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

30 grandes músicas dos anos 80 (não necessariamente as melhores)

Os irlandeses da U2, no topo da lista, em foto de
Anton Corbjin da época de "Bad"
Sabe aquela música de um artista pop que você escuta e se assombra? E o assombro ainda só aumenta a cada nova audição? “Caramba, que som é esse?!”, você se diz. Pois bem: todas as décadas do rock – principalmente a partir dos anos 60, quando as variações melódico-harmônicas se multiplicaram na reelaboração do rock seminal de Chuck Berry, Little Richard e contemporâneos – são repletas de músicas assim: clássicos imediatos. Mas por uma questão de autorreconhecimento, aquelas produzidas nos anos 80 me chamam bastante a atenção. É desta década que mais facilmente consigo enumerar obras desta característica, as que deixam o ouvinte boquiaberto ou, se não tanto, admirado.

Conseguiu entender de que tipo de música estou falando? Creio que talvez precise de maior elucidação. Bem, vamos pela didática das duas maiores bandas rock de todos os tempos: sabe “You Can´t Always Get What You Want”, dos Rolling Stones, ou “A Day in the Life”, dos Beatles? É esta espécie a que me refiro: podem não ser necessariamente as músicas mais consagradas de seus artistas, nem grandes hits, mas são, inegavelmente, temas grandiosos, emocionantes, que elevam. Você pode dizer: “mas têm outras músicas de Stones ou Beatles que também emocionam, também são grandes, também provocam elevação”. Sim, concordo. Porém, estas, além de terem essa característica, parecem conter em sua gênese a ideia de uma “grande obra”. Dá pra imaginar Jagger e Richards ou Lennon e McCartney – pra ficar no exemplo da tabelinha Beatles/Stones – dizendo-se um para o outro quando compunham igual Aldo, O Apache em "Bastardos Inglórios": “Olha, acho que fizemos nossa obra-prima!”

Quer mais exemplos? “Lola”, da The Kinks; “Heroin”, da Velvet Underground; “Marquee Moon”, da Television; "We Are Not Helpless", do Stephen Stills; "Kashmir", da Led Zeppelin. Sacou? Todas elas têm uma integridade especial, uma alma mágica, algo de circunspectas, quase que um selo de "clássica". 

Pois bem: para ficar claro de vez, selecionamos, mais ou menos em ordem de preferência/relevância, as 30 músicas do pop-rock internacional dos anos 80 as quais reconhecemos esse caráter. Para modo de poder abarcar o maior número de artistas, achamos por bem não os repeti, contemplando uma música de cada - embora alguns, evidentemente, merecessem mais do que apenas uma única indicada, como The Cure, U2 e The Smiths. Haverá as que são mais conhecidas ou mais obscuras; as que, justamente por conterem certo tom épico, se estendem mais que o normal e fogem do padrão de tempo de uma "música de trabalho"; artistas de maior sucesso e outros de menor alcance popular; músicas que inspiraram outros artistas e outras que, simplesmente, são belas. 

E desculpe aos fãs, mas, claro, muita gente ficou de fora, inclusive figurões que emplacaram superbem nos anos 80, como Michael Jackson, Elton John, Bruce Springsteen e Queen. Até coisas que adoraria incluir não couberam, como “Hollow Hills”, da Bauhaus, “Hymn (for America)”, da The Mission, "51st State", da New Model Army, "Time Ater Time", da Cyndi Lauper, "Byko", do Peter Gabriel, "Up the Beach", da Jane's Addiction, "Pandora", da Cocteau Twins, "I Wanna Be Adored", da Stone Roses... Mas não se ofendam: tendo em vista a despretensão dessa listagem, a ideia é mais propositiva do que definidora. Mas uma coisa une todos eles: criaram ao menos uma música diferenciada, daquelas que, quando se ouve, são admiradas de pronto. Aquelas músicas que se diz: “cara, que musicão! Respeitei”. 


1 – “Bad” - U2 ("The Unforgatable Fire", 1984) OUÇA
2 – “Alive and Kicking” - Simple Minds (Single "Alive and Kickin'", 1985) OUÇA
3 –
Capa do compacto de
"How...", dos Smiths
“How Soon is Now?”
- The Smiths 
("Hatful of Hollow", 1984) OUÇA








4 – “Nocturnal Me” - Echo & The Bunnymen ("Ocean Rain", 1984) OUÇA
5 – “A Forest” - The Cure ("Seventeen Seconds", 1980) OUÇA
6 – “World Leader Pretend” - R.E.M. ("Green", 1988) OUÇA
7 – “Ashes to Ashes” - David Bowie ("Scary Monsters (and Super Creeps)", 1980) OUÇA
8 – “Vienna” - Ultravox ("Vienna", 1980)

Videoclipe de "Vienna", da Ultarvox, tão 
clássico quanto a música


9 – “Road to Nowhere” - Talking Heads ("Little Creatures", 1985) OUÇA
10 – “All Day Long” - New Order ("Brotherhood", 1986) OUÇA
11  “Armageddon Days Are Here (Again)” - The The ("Mind Bomb", 1989) OUÇA
12 – “The Cross” - Prince ("Sign' O' the Times", 1986) OUÇA
13 – “Live to Tell” - Madonna ("True Blue", 1986) OUÇA

Madonna estilo diva, no clipe de "Live..."

14 – “Hunting High and Low” - A-Ha ("Hunting High and Low", 1985) OUÇA
15 – “Save a Prayer” - Duran Duran ("Rio", 1982) OUÇA
16 – “Hey!” - Pixies ("Doolitle", 1989) OUÇA
17 – “Libertango (I've Seen That Face Before) - Grace Jones ("Nightclubbing", 1981) OUÇA
18 – “Black Angel” - The Cult ("Love", 1985) OUÇA
19 – “Children of Revolution” - Violent Fammes ("The Blind Leading the Naked", 1986) OUÇA
Os pouco afamados
Alternative Radio
emplacam a fantástica
"Valley..."
20 – “Valley of Evergreen” - Alternative Radio 
("First Night", 1984) OUÇA









21  “USA” - The Pogues ("Peace and Love'", 1989) OUÇA
22  “Decades” - Joy Division ("Closer", 1980) OUÇA
23 – “Easy” - Public Image Ltd. ("Album", 1986) OUÇA
24  “Teen Age Riot” - Sonic Youth ("Daydream Nation", 1988) OUÇA
25 – “One” - Metallica ("...And Justice for All", 1988) OUÇA
26 – “Little 15” - Depeche Mode ("Music for the Masses", 1987) OUÇA
27 – "Never Tear Us Apart" - INXS ("Kick", 1987)

Hits também têm seu lugar: 
"Never Tear Us Apart", da INXS


28 – “Lands End” - Siouxsie & The Banshees ("Tinderbox", 1986) OUÇA
29 – “US 80's–90's” - The Fall ("Bend Sinister", 1986) OUÇA
30 – “Brothers in Arms” Dire Straits ("Brothers in Arms", 1985) OUÇA


Daniel Rodrigues