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domingo, 26 de junho de 2022

Gilberto Gil - "Expresso 2222" (1972)


 

“Sou eu em relação a mim mesmo, a um momento de vida. Minhas músicas da época são assim, complementares. ‘Expresso 2222’ é meu disco mais elaborado no sentido de relatar um período.” 

“O número 8 dividido é o infinito pela metade. O meu objetivo agora é o meu infinito. Ou seja: a metade do infinito, da qual metade sou eu, e outra metade é o além de mim.”

Reza a lenda que o filósofo chinês Lao Tsé (604-517 a.C.) nascera com 80 anos. Já sábio, ele legou ao mundo seu "Tao Te Ching", eternizando-se. Permita-se, então, fazer uma viagem no tempo através de um expresso partindo direto de Bonsucesso. Um que dizem que parece o bonde do morro do Corcovado, só que, para cruzar tanto espaço-tempo, assim, como se não houvesse barreira, não se pega e entra e senta e anda, visto que o trilho é feito um brilho que não tem fim. Chega-se lá pelos idos do ano 2000, mais precisamente 2022. Ou seria 1972, 50 anos atrás? Quem sabe, 50 anos para a frente, 2072? Bem, em se tratando de Gilberto Gil, essas classificações temporais são meras ilusões. Tanto faz até onde essa estrada do tempo vai dar. Afinal, Gil é imortal, e imortais são infinitos. 

22. Não apenas a recente indicação do nome do baiano à Academia Brasileira de Letras, que o nominou àquilo que sempre foi, um imortal, que enche de simbologias este ano. A começar, neste 2022 Gil completa 80 anos de vida. Isso, somado à homenagem da centenária agremiação literária já seria bastante. Mas tem mais: em 2022 também se completam 60 anos de carreira do artista e cinco décadas de lançamento do emblemático “Expresso 2222”, o disco que, além da semelhança da terminação numérica, marca a volta de Gil do exílio em Londres, fincando de vez o pé no seu Brasil e proclamando que “o sonho acabou”, mas também que só colocaria chiclete no samba quando Tio Sam pegasse no tamborim, ora essa! 

Demarcador àquela época da nova fase da carreira do cantor e compositor, “Expresso...”, forte e significativo do primeiro ao último acorde, conecta-se com toda obra do artista seja anterior ou posterior. Antes deste, foram os discos da pré e da Tropicália, forçadamente interrompida pela repressão militar em 1969, e, logo em seguida, a produção londrina, inequivocamente interessante, mas claramente intermediária. De volta à sua terra, Gil provava que seu caminho pelo mundo era ele mesmo quem traçava, como havia reclamado em “Aquele Abraço” antes de embarcar para o exílio. E se ele se despedia com um samba carioca naquele momento, trazia como resposta no velho baú de prata em seu retorno o cosmopolitismo do Primeiro Mundo em um rock acachapante. O ponto de desembarque? A mesma Bahia de Todos os Santos que havia lhe dado “régua e compasso”. É “Back in Bahia”, assim, misto de inglês e português no título, união de velho e novo mundos, uma ponte musical sobre o Atlântico da diáspora negra.

Após uma introdução instrumental com “Pipoca Moderna” (a melhor de sua extensa discografia e como jamais havia feito e nem repetiria em seus álbuns de estúdio), vem, aí sim, a marcante “Back in Bahia”. Espécie de continuação de “Aquele Abraço” – seu maior sucesso na carreira até então –, nela Gil expressa com caráter autobiográfico a avassaladora consciência de um jovem fadado à imortalidade. “Lá em Londres vez em quando me sentia longe daqui”, abre dizendo. E que capacidade de ler a realidade! Embora a saudade “de calor, de cor, de sal, de sol” dos trópicos, Gil entendia que o tempo na Ilha do Norte, onde não sabia se por sorte ou por castigo dera de parar, afinal, passara “depressa, como tudo tem de passar”. A canção, por fim, completa os três pontos subentendidos deixados por “Aquele Abraço”. Gil agora pode dizer com contundência e coração aberto: “Hoje eu me sinto/ Como se ter ido fosse necessário para voltar/ Tanto mais vivo/ De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá”.  

Gilberto Gil tocando "Back in Bahia", logo depois de volta ao Brasil, em 1972 
("Sexta Nobre Especial" - Globo)

A veia rock da sua primeira fase tropicalista, que tinha forte influência de Jimi Hendrix (a quem Gil, inclusive, conheceu na Inglaterra, em 1970, poucos dias antes deste partir para a eternidade) agora funde-se ao jazz fusion de Miles Davis – outro ídolo a quem conheceu na mesma ocasião em que viu Hendrix, no festival da Ilha de Wight – e à sua primeira e enraizada referência: Luiz Gonzaga. “O Canto da Ema”, versão para o baião de João do Vale, chega a prescindir do tradicional acordeom, focando no arranjo pop-jazzístico de baixo elétrico-guitarra-bateria-teclado. E que performace! Além de Gil, excelente guitarman, estão Lany Gordin, na guitarra; Bruce Henry, no baixo; Tuti Moreno, bateria; e Antônio Perna, teclados. A banda soa solta neste estilo de sonoridade, que muito Gil ainda se valeria naquele período. Aliás, no próprio disco ele retoma o "Tao do Baião" em leitura moderna, desta vez em “Sai do Sereno", que tem a participação da mana Gal Costa. Rock, forró, jazz, blues, xaxado. Se anos antes a Tropicália restava praticamente isolada a ponto de sucumbir à opressão militar, agora Gil recebia o amparo da psicodelia à brasileira dos Novos Baianos, da resistência divina-maravilhosa de Gal e da renovação jovem-guardista de Erasmo Carlos. Aquele início de anos 70 via o “desbunde” da juventude, que tomava as ruas para celebrar a vida e ter voz.

Caetano Veloso, o irmão tropicalista, parceiro de exílio, música e vida e também oitentão em 2022, não poderia deixar de ter um lugar reservado neste bonde musical. A ligação entre ambos é tão forte que, além da coautoria com Sebastião Biano, da Banda de Pífaros de Caruaru, da música que abre de maneira impactante o disco, é sobre Caetano que Gil fala na canção mais densa do repertório: “Ele e Eu”. Profunda e até psicanalítica, traz em sua melodia intrincada e letra entremeada de símbolos metafóricos ("Porto da Barra", "beijo arrependido", "serpente do começo"), a tamanha simbiose que existe entre os dois, como um espelho que reflete faces parecidas, que confundíveis até linguisticamente. “Ele vive calmo/ E na hora do Porto da Barra fica elétrico/ Eu vivo elétrico/ E na hora do Porto da Barra fico calmo”.

Em “Chiclete com Banana”, Gil explora mais uma vez sua origem nordestina e pop exaltando a referência maior dessa conjunção: Jackson do Pandeiro. Ao invés, no entanto, de atribuir uma sonoridade importada, é no samba de breque que ele busca base. E que violão é este! Herdeiro da batida sintética de João Gilberto, Gil, contudo, é dos que lhe dão um passo à frente, injetando características muito próprias ao seu estilo de tocar que não se resumem apenas à estética, mas também ao espírito. No fim, tamanha é a personalização da música, que se consegue atribuir-lhe, novamente, um caráter de jazz, o genuíno reflexo da alma em sons dos negros levados para a outra ponta do Novo Mundo.

Arte de Aldo Luiz para a
contracapa original do disco
Por falar em violão, o jornalista e pesquisador musical José Ramos Tinhorão, adepto do materalismo histórico, defendia a tradição da viola seresteira como originária da verdadeira música popular brasileira. Embora contrário ideologicamente a Gil, é este quem melhor materializa essa ideia. “Expresso 2222”, além de faixa-título, é uma das obras-primas do cancioneiro do artista e cujo violão exerce um papel central melódica, harmônica e conceitualmente. Colocada de forma estratégica na sétima posição na ordem da playlist, mais para o final do que para começo, a música que intitula o álbum resume em letra e em sonoridade toda a sua proposta: um baião puxado no violão, riff complexo de executar mas saboroso de se ouvir, letra filosófica e uma pegada pop inequívoca, haja vista o delicioso e cantarolável refrão: "Começou a circular o Expresso 2222/ Que parte direto de Bonsucesso pra depois...”.

O recado de resistência dado explicitamente em “Back In Bahia”, no começo do disco, reaparece no final do mesmo, só que de forma mais sutil. Toda a energia e eletricidade vistas até o terceiro quarto do álbum propositalmente vão arrefecendo para, ao final, retornarem gradativamente aquilo que lhe é o cerne: Gil e seu violão. Lao Tsé diz em "Tao Te Ching" que "20 raios rodeiam a roda, mas é onde os raios não rodam que a roda roda". O violão de Gil é esta roda motriz, concentradora de toda a tradição do samba do morro e do Recôncavo, dos ritmos nordestinos e da herança ibérica, das religiosidades afro e católica, da modernidade do rock e da vanguarda europeia, do matiz africano e do sincretismo. A sinuosa “O Sonho Acabou”, de embalo roqueiro, mais que uma confirmação, representa uma tomada de consciência madura de que as ilusões da geração pós-Guerra, enfim, terminavam. As marcas da prisão e do exílio, a repressão militar nas Américas, a lisergia e a revolução sexual, os reflexos da Guerra Fria, o 1968 inacabado, a derrota da geração hippie: tudo se resumia ao símbolo do término dos Beatles e a frase dita por John Lennon quando da separação da mítica banda inglesa. E Gil, recém vindo justamente da Terra da Rainha, faz questão de reafirmar isso tudo através da relação voz/violão, ironicamente, a única alternativa que lhe foi dada antes de embarcar para o exílio em Londres, quando gravou às pressas, em 1969, todas as faixas do disco que seria lançado naquele ano sem a presença física de seu autor. Naquela feita, a master só com a voz e o violão serviria de base para que Rogério Duprat arranjasse e pusesse por cima o restante da banda. Aqui, mesmo podendo contar com os outros instrumentos, Gil fazia um protesto às avessas.

E se o violão de Gil vale por uma orquestra, por que não, então, representá-la? É isso que ele faz em “Oriente”, última e triunfante faixa de “Expresso...”. Ainda mais conectada com “Back in Bahia”, haja vista sua abordagem autorreferente, a canção é uma reflexão íntima do artista e homem do seu lugar no mundo, como um questionamento se, de fato, soubesse mesmo de si como afirmou anos antes em “Aquele Abraço”. "Se oriente, rapaz/ Pela constelação do Cruzeiro do Sul/ Se oriente, rapaz/ Pela constatação de que a aranha/ Vive do que tece/ Vê se não se esquece/ Pela simples razão de que tudo merece/ Consideração", enfatizam os versos. Para se aludir à orquestra, no entanto, precisa-se viajar para o futuro mais uma vez, especificamente a 2012, quando Gil grava o álbum ao vivo “Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo”. Neste show, o maestro Jaques Morelenbaum escreve aquele que foi provavelmente o mais fácil arranjo de sua vida, visto que o mesmo estava, quando não subentendido, sugerido na própria harmonia e modo de tocar de Gil na gravação original, seja nos acorde, nos ataques, nas extensões, nos adornos ou na pronúncia de um sustenido. Certamente, uma das harmonias mais complexas já escritas por Gil. Não há outro instrumento que não seu violão, mas é como se toda uma filarmônica tocasse junto. Ele encerra seu disco mais representativo até então fazendo pontes com o passado e criando outras para o futuro – que nunca terminará. “Que não tem fim, ô menina, que não tem fim”.

Mas isso ainda não é tudo, e agora as simbologias começam a tomar forma de coincidências – ou superstições, como preferir. Já parou para somar os números do título do disco, 2 + 2 + 2 + 2? O resultado é 8, o mesmo número de décadas de vida que Gil completa. Quer mais sincronicidade? O número 8 é o símbolo do infinito pela cultural oriental. Gil mesmo previa, décadas atrás, que seria este seu caminho: “O número 8 é o infinito, o infinito em pé, o infinito vivo, como a minha consciência agora”, disse numa de suas letras. Auspicioso, o numeral 22 representa essa infinitude do baiano, do oriental, do africano, do americano, do universal Gil. Um Irokô, senhor das horas, que reduz o tempo a frações e dissolve-o. Uma Benzaiten, deusa taoísta da fluidez, seja para as palavras, a música ou o amor. Como um sábio imortal, que nasce aos 80 anos, ele já andou no expresso lá pelo ano 2000 e pode contar, pois testemunha ocular, que, depois de 2001, Cristo continua sendo como o que foi visto subindo ao céu. Que o percurso-vida cabe dentro de um figo maduro ou num copo vazio. Que a vida é um fragmento quântico infinitésimo ou o tempo de uma saudade. Que o tempo e o espaço navegam todos os sentidos ou na vazante da infomaré. Que o melhor lugar do mundo é aqui e agora, na eternidade da arte.


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FAIXAS:
1. "Pipoca Moderna" - com a Banda de Pífanos de Caruaru (Sebastião Biano, Caetano Veloso) - 1:57
2. "Back in Bahia" - 4:35
3. "O Canto da Ema" (João do Vale, Aires Viana, Alventino Cavalcanti) - 6:20
4. "Chiclete com Banana" - (Almira Castilho, Gordurinha) - 3:23
5. "Ele e Eu" - 2:17
6. "Sai do Sereno" - participação de Gal Costa (Onildo Almeida)- 3:20
7. "Expresso 2222" - 2:38
8. "O Sonho Acabou" - 3:32
9. "Oriente" - 6:00
Faixas bônus da versão em CD de 1998:
10. "Cada Macaco no seu Galho" - participação de Caetano Veloso (Riachão) - 04:25
11. "Vamos Passear no Astral" - 02:55
12. "Está na Cara, Está na Cura" - 02:40
Todas as composições de autoria de Gilberto Gil, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO

Daniel Rodrigues

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Gilberto Gil - "Refavela" (1977)



“Em 77, eu fui a Lagos, na Nigéria, onde reencontrei uma paisagem sub-urbana do tipo dos conjuntos habitacionais surgidos no Brasil a partir dos anos 50, quando Carlos Lacerda fez em Salvador a Vila Kennedy, tirando muitas pessoas das favelas e colocando-as em locais que, em tese, deveriam recuperar uma dignidade de habitação, mas que, por várias razões, acabaram se transformando em novas favelas [...] ‘Refavela’ foi estimulada por este reencontro, de cujas visões nasceu também a própria palavra, embora já houvesse o compromisso conceitual com o ‘re’ para prefixar o título do novo trabalho, de motivação urbana, em contraposição a ‘Refazenda’, o anterior, de inspiração rural.” Gilberto Gil

Não bastasse o movimento cíclico dos acontecimentos da história, que de tempos em tempos retornam à pauta pelo simples fato de não terem sido totalmente resolvidas no passado, parece que outros motivos retrazem espontaneamente questões importantes de serem revisitadas. Caso dos negros no Brasil, cuja história, escrita com a sangue e dor mas também com bravura e beleza, faz-se sempre necessário de ser discutida. Se o 20 de Novembro carrega o tema com pertinência, por outro lado, fatos recentes, como a ascensão neo-fascista na Alemanha e Estados Unidos ou ocorridos racistas como o do “flagra” do jornalista William Waack, mostram o quanto ainda há de se avançar nos aspectos do preconceito racial, desigualdade social e intolerância. Por detrás desses fatos, há, sim, muito a se desvelar justiça.

Dentro deste cenário, entretanto, outro fato, este extremamente positivo, também vem à cena para, ao menos, equilibrar a discussão e trazer-lhe um pouco de luz. Estamos falando dos 40 anos de lançamento de “Refavela”, disco que Gilberto Gil lançara no renovador ano de 1977 e que, agora, em 2017, é revisto e celebrado com uma turnê comemorativa – a qual conta com as participações de Moreno Veloso, Bem Gil, Céu, Maíra Freitas e Nara Gil.

Não à toa “Refavela” mantém-se atual e referencial. O disco tem a força de um manifesto da nova negritude. Elaborado num Brasil ainda sob o Regime Militar de pré-anistia, O disco capta o momento político-social brasileiro, especialmente, dos negros, sobreviventes de uma recente abolição (menos de 90 anos àquele então) e, bravios e corajosos, tentando avançar num país subdesenvolvido e repleto de desafios sociais. Desafios estes, claro, superdimensionados a um negro, cujos índices de estrutura social eram – e ainda são – injustamente inferiores. Em conceito, Gil reelabora as diferentes vertentes de manifestação cultural negras, do axé baiano ao funk, do afoxé ao reggae jamaicano, do samba aos símbolos do candomblé. Assim, atinge não apenas uma diversidade rítmico-sonora invejável quanto, representando o status quo do povo afro-brasileiro (urbano, porém fincado em suas raízes), mas uma diversidade ideológico-étnica, o motivo de ser de toda uma raça a qual ele, Gil, faz parte.

Do encarte do disco: Refavela: revela, fala, vê
A melhor tradução disso é a própria faixa-título, um hino do que se pode chamar de “neo-africanidade”. De tocante clareza, a qual busca bases na filosofia do geógrafo e amigo Milton Santos, a música demarca um novo ponto de partida dos negros, cujas condições sociais, econômicas, habitacionais e culturais enxergam, diante de muita dificuldade, um horizonte. “A refavela/ Revela aquela/ Que desce o morro e vem transar/ O ambiente/ Efervescente/ De uma cidade a cintilar/ A refavela/ Revela o salto/ Que o preto pobre tenta dar/ Quando se arranca/ Do seu barraco/ Prum bloco do BNH”. A “refavela”, assim, não é somente o lugar de morar, mas um novo espaço ideológico até então não ocupado pelos negros e que lhes passa ser devido. Isso, encapsulado por uma sonoridade igualmente contemplativa, como num sereno jogo de capoeira, de notas que se equilibram entre a suavidade da raça negra e a seriedade da situação a se enfrentar.

Enfrentamento. Isso é o que a faixa seguinte traduz muito bem. Referenciando a visão revanchista da situação negra (a qual, posteriormente, muito se verá discurso do rap nacional), “Ilê Ayê” traz as palavras de ordem de inspiração no movimento Black Power entoadas pelo primeiro bloco de carnaval baiano a se debruçar sobre essas ideias de maneira forte e posicionada. A música, que impactara as ruas de Salvador em 1975, vem com uma mensagem rascante: “Branco, se você soubesse o valor que o preto tem/ Tu tomava um banho de piche, branco/ E ficava preto também/ E não te ensino a minha malandragem/ Nem tampouco minha filosofia, porque/ Quem dá luz a cego é bengala branca em Santa Luzia.” Algo diferente estava acontecendo no “mundo negro”.

Gil, que havia retornado do exílio há quatro anos e viajara recentemente à Nigéria, onde viu de perto situações análogas ao presente e o passado do Brasil, começara o projeto “Re” há dois com o rural e introspectivo “Refazenda”. Agora, voltava seu olhar também para dentro de si, mas por outro prisma: o do pertencimento. “O que é ser um negro no Brasil?”, perguntou-se. A interposição entre estes dois polos – roça e cidade, sertanejo e negro, interno e externo – está na mais holística canção do álbum: "Aqui e Agora". Das mais brilhantes composições de todo o cancioneiro gilbertiano, é emocionante do início ao fim, desde a abertura (que repete os acordes de “Ê, Povo, Ê”, de “Refazenda”, mostrando a sintonia entre os dois álbuns) até a melodia suave e elevada, intensificada pelo arranjo de cordas. A letra, tanto quanto, é de pura poesia. O refrão, tal um mantra (“O melhor lugar do mundo é aqui/ E agora”), desconstrói a lógica materialista de que “lugar” é necessariamente relacionado ao físico, uma vez que este também é “tempo”, é imaterial. Gil mesmo comenta sobre o misticismo da letra: "’Aqui e Agora’ é de uma sensorialidade tanto física quanto álmica, quer dizer, fala de como ver, ouvir, tocar as superfícies do que é sólido e do que é etéreo, denso e sutil; de uma visão voltada para dentro, o farol dos olhos iluminando a visão interior.”

“Refavela” é realmente cheio de historicidades. Uma delas é a primeira aparição do reggae na música brasileira. Caetano Veloso já havia estilizado o ritmo em “Transa” com “Nine Out of Ten”, de 1972, quando ainda no exílio londrino. Porém, assim, tão a la Bob Marley, começou, sim, com "No Norte da Saudade". Igual importância tem outro reggae: “Sandra”, escrita quando Gil tivera que cumprir pena em um centro psiquiátrico em Florianópolis após ser preso portando droga numa turnê. Ele relata o rico encontro que tivera com várias mulheres (Maria Aparecida, Maria Sebastiana, Lair, Maria de Lourdes, Andréia, Salete), entre enfermeiras, tietes e pacientes. Em contrapartida, o músico também reflete sobre o quanto aquela loucura, simbolizada no porto-seguro sadio de sua então esposa, Sandra, praticamente não se distinguia da vida tresloucada do lado de fora do hospício.

A África-Brasil também se manifesta através dos ritos. Caso do afoxé moderno "Babá Alapalá", cuja letra celebra as divindades do candomblé: “Alapalá, egum, espírito elevado ao céu/ Machado alado, asas do anjo Aganju/ Alapalá, egum, espírito elevado ao céu/ Machado astral, ancestral do metal/ Do ferro natural/ Do corpo preservado/ Embalsamado em bálsamo sagrado/ Corpo eterno e nobre de um rei nagô/ Xangô.” A música, escrita por Gil originalmente para a cantora e atriz Zezé Mota - sucesso com ela naquele mesmo ano - também integrou a trilha sonora do filme "Tenda dos Milagres", de Nelson Pereira dos Santos, o qual também trazia como tema a ancestralidade. Detalhe: uma das vozes do coro é a do mestre da soul brasileira Gerson King Combo.

Gil à época de "Refavela"
A presença de King Combo faz total sentido. Aquele 1977, de fato, foi de um “re-nascimento” da cultura negra no Brasil. Se o samba via o gênio Cartola chegar, aos 69 anos, a seu celebrado terceiro disco solo, e uma inspirada Clara Nunes reafirmar a brasilidade de raiz, paralelamente, a soul music e o funk extrapolavam os limites do subúrbio e chegavam ao grande público. Estamos falando da geração “do black jovem, do Black Rio, da nova dança no salão”, como diz um trecho da canção “Refavela”. Sintonizado com isso, Gil olha novamente para dentro de si, neste caso, a influência latente da bossa nova, e redesenha o clássico "Samba do Avião" sob novas cores. As harmonias jobinianas originais ganham, aqui, um suingue funkeado ao melhor estilo do soul brasileiro, na linha do que faziam Banda Black Rio, Carlos Dafé, Tim Maia, King Combo e outros.

Moderna em harmonia e arranjo – que poderia tranquilamente ter sido gravada na atualidade por algum artista “gringo” fã de MPB, como Beck ou Sean Lennon –, “Era Nova” é outra joia de “Refavela”. Nela, o baiano sublinha uma crítica à ideia de o homem ter a necessidade de sempre querer decretar a disfunção de certos tempos e prescrever a vigência de outros, buscando instalar um novo ciclo histórico, seja do ponto de vista religioso ou do político. Os versos iniciais são taxativos – e sábios: “Falam tanto numa nova era/ Quase esquecem do eterno é”...

Visivelmente influenciada pela então recente vivência de Gil na Nigéria, "Balafon" – nome de um tradicional instrumento da África Ocidental –, pinta-se de tons do afrobeat de Fela Kuti e, por outro lado, da poliritmia percussiva que desembarcara na Bahia negra vinda do Continente Africano há séculos. Já o encerramento do disco não poderia ser mais simbólico com “Patuscada de Gandhi”. Trata-se de um afoxé entoado pelo bloco Filhos de Gandhi, ao qual Gil não apenas integra como, mais que isso, foi fundamental para sua manutenção no carnaval baiano quando, dois anos antes, compusera a música “Filhos de Gandhi” como forma de convocar todos os orixás para que o grupo não se extinguisse. Deu certo. Tanto que, três anos depois, renovado o bloco e sua importância antropológico-social para a cultura afro-brasileira, Gil pode, feliz com a meta cumprida, aproveitar e fazer a folia.

Provavelmente estarei presente no show em celebração ao aniversário de “Refavela”, que vem em dezembro a Porto Alegre, e devo voltar a falar sobre este trabalho por conta dos novos arranjos e da ocasião comemorativa em si. Entretanto, intacta já é a importância deste disco para a música brasileira em todos os tempos. Vendo-se tantos artistas da atualidade em dia que, cada um a seu modo, representam a negritude em sua diversidade (Criolo, Chico Science, Teresa Cristina, Emicida, Seu Jorge, Fabiana Cozza, Mano Brown, Paula Lima, MV Bill), é impossível não associá-los a “Refavela”. Todos filhos daquela geração que se emancipava, e que, agora, crescida, segue para enfrentar novos desafios. Para conquistar novos espaços. Em um Brasil que ainda tem muito em se que avançar, isso é o que se extrai de “Refavela” a cada audição: a “re-significação”.

Gilberto Gil comenta e canta "Babá Alapalá"


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FAIXAS:
1. "Refavela" - 3:40
2. "Ilê Ayê" (Paulinho Canafeu) - 3:10
3. "Aqui e Agora" - 4:13
4. "No Norte da Saudade" (Gilberto Gil, Moacyr Albuquerque, Perinho Santana) - 4:19
5. "Babá Alapalá" - 3:35
6. "Sandra" - 3:03
7. "Samba do Avião" (Tom Jobim) - 4:11
8. "Era Nova" - 4:51
9. "Balafon" - 2:39
10. "Patuscada de Gandhi” (Afoxé Filhos de Gandhi) - 4:20
Todas as músicas compostas por Gilberto Gil, exceto indicadas

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OUÇA

por Daniel Rodrigues

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Caetano Veloso & Gilberto Gil – “Dois Amigos, Um Século de Música” – Auditório Araújo Vianna – Porto Alegre/RS (28/08/2015)





Caetano e Gil, pura genialidade.
foto: Júlio Cordeiro
“Gil é um rouxinol de grandes mistérios”.
Caetano Veloso


“Eu faço música primeiro pra mim,
depois pra ele e depois pros outros”.
Gilberto Gil,
sobre Caetano



Sabe aqueles acontecimentos em que se cria uma grande expectativa e a recompensa vem completa? Pois ter assistido Caetano Veloso e Gilberto Gil juntos e ao vivo foi assim: momento completo de se guardar para a vida. Folgados os nós dos sapatos, das gravatas, dos desejos e dos receios, fui, na doce e astral companhia das hermanas Leocádia e Carolina, ao Araújo Vianna presenciar uma noite inesquecível na cidade (ao menos, a nós). Dois gênios vivos da arte mundial celebrando algo incomparável e irrepetível: a união de 50 anos de carreira de cada um. As vivências artísticas e próprias ou em comum; as conexões com vários tempos e movimentos; a confluência com diversas manifestações da Arte e culturas; a musicalidade e a poesia constantemente desenvolvidas ao longo dos muitos anos; as parcerias entre eles e com outros. A significância inequívoca de cada um dentro do cenário sociocultural brasileiro e mundial. Enfim: uma gama de motivos que fazem de “Dois Amigos, Um Século de Música” um marco só por sua realização.

Porém, no palco, Caetano e Gil justificam o show, cuja turnê, iniciada na Europa, em junho, passou pelo Brasil e já ganha a América Latina. Repertório escolhido com inteligência e cuidado, como sempre fizeram em seus projetos. Aliás, conheço essa qualidade não só dos discos ao vivo mas por já ter assistido tanto a um quanto outro por duas ocasiões. Coincidentemente, as duas primeiras vezes nos anos 90, quando cinquentões, e as recentes há bem pouco tempo: 2013 (Gil, “Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo”), e 2014 (Caetano, "Abraçaço"), já passados dos 70 anos. Pela tevê ainda tive, em 1993, a oportunidade de assisti-los num memorável megashow aberto em São Paulo com duas superbandas mais a cozinha da Timbalada com Brown e tudo por ocasião do disco “Tropicália 2” (à época, gravei em VHS e revi várias vezes o que hoje tem no Youtube). Ou seja: vê-los agora de novo e reunidos é como se fechasse um panorama de compreensão da extensão e da perenidade de suas obras ao longo do tempo, esse “tambor de todos os ritmos”.

E foi justo a diversidade de ritmos que, trazidos pelo ecletismo tropicalista ainda hoje revolucionário, pautaram o show. O arrebatamento se deu do primeiro ao último acorde. O inicial, aliás, foi de emocionar qualquer um que admire e entenda um pouco de suas obras. A música escolhida para abrir o espetáculo foi a magistral “Back in Bahia”, rock ‘n’roll escrito por Gil na volta do exílio de Londres, início dos anos 70, na qual ele expõe de forma madura, consciente e transformadora tudo o que aprendeu com a (que poderia ter sido) traumática experiência. O tom de identificação de um se refletiria no outro durante todo o desenrolar do show – aliás, uma mostra daquilo que um sempre foi para o outro: um espelho. Foi o que aconteceu no número seguinte. Se “Back...” traz as reminiscências de Gil de um período marcante de sua vida, Caetano preferiu reviver outro tipo de memória afetiva com a bossa nova que abriu seu primeiro disco (na voz de Gal Costa, à época), em 1966: “Coração Vagabundo”.

Arranjos bem pensados, ambos dividiram os violões e os microfones nas duas de abertura para, na sequência, trazerem uma cantada por cada um. E foram dois hinos tropicalistas: a própria “Tropicália”, numa bela e impensável versão acústica (difícil imaginá-la sem a orquestração de Duprat) com Caetano à voz, e a tocante “Marginália II”, poesia brasilianista de Torquato Neto que Gil, magistralmente, musicara para o disco-manifesto “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, de 1968. Primeiro momento do show a me levar às lágrimas ao ouvir Gil entoando aquela letra do mais alto lirismo e identidade: “A bomba explode lá fora/ E agora, o que vou temer?/ Oh, yes, nós temos banana/ Até pra dar e vender/ Olelê, lalá/ Aqui é o fim do mundo/ Aqui é o fim do mundo...”

Passeando por suas histórias, foi a vez de reverenciar com afinco a bossa nova e, mais que isso, ao ídolo João Gilberto. Outras duas dividindo os vocais: “É Luxo Só”, samba de Ary Barroso “convertido” em bossa por João quando da inauguração do estilo, em 1959, e “É de Manhã”, primeira composição de Caetano e mais antiga escrita por um dos dois em todo o show, em 1963. Nesta, destacaram a importância de Maria Bethânia, primeira da turma dos baianos a gravá-la e a registrar uma música do irmão, então um jovem compositor iniciante.

Contraponto à canção mais antiga, num dos momentos especiais do show, eles apresentaram uma composição de 2015, primeira parceria em 22 anos escrita em São Paulo quando retornaram da temporada europeia. Ou seja: somente São Paulo e Curitiba, shows imediatamente anteriores ao de Porto Alegre, a tinham escutado. Uma joia chamada “As camélias do Quilombo do Leblon”, samba poético e filosófico que repensa as condições socioculturais que o Brasil tem de criar e colher, como dizem os versos, “as camélias da Segunda Abolição”. Numa resposta a toda polêmica gerada pela tentativa de boicote do ex-Pink FloydRoger Waters, ativista anti-Estado de Israel, quando da passagem dos brasileiros por Tel-Aviv, a letra não deixa por menos, evidenciando as possibilidades emancipadoras que o miscigenado e “cordial” povo brasileiro (aka Sérgio Buarque de Hollanda e Domenico de Masi) tem diante de outras civilizações do planeta: “Vimos as tristes colinas logo ao sul de Hebron/ Rimos com as doces meninas sem sair do tom/ O que fazer/ Chegando aqui?/ As camélias do Quilombo do Leblon/ Brandir.”

Caetano, uma das maiores forças criativas da MPB.
foto: Júlio Cordeiro
Uma sequência de várias de Caetano emocionou o público – de uma complacência um tanto fria até então, mas que a partir dali se derreteu de vez. Não era para menos, pois vieram a clássica “Sampa” e a não menos épica “Terra”, talvez a mais bem arranjada de todo o show. Somente aos dois violões, de longe superou a versão original, revelando toda a atmosfera etérea da melodia, com seus traços árabes e folks. Enquanto Caetano cantava com emoção e destreza, Gil percutia levemente na madeira do pinho. No refrão, providenciava para o amigo todos os complementos que o arranjo original suscita. As percussões cintilantes, o som da cítara, a viola, o andamento cadenciado: tudo é substituído e condensado no dedilhar magistral de Gil. De arrepiar.

Caetano emenda outras de três momentos importantes de sua carreira: “Nine Out of Ten”, presente em "Transa", de 1972, seu melhor disco e que, gravado em Londres, foi responsável por fazê-lo sair da depressão do exílio; “Odeio”, do visceral “Cê”, já dos anos 2000, uma confissão de amor ao estilo rock: fazendo sexo virtual a esmo, o que ele queria mesmo era a ex ali consigo; e a castelhana “Tonada de Luna Ilena” (de Simón Diaz, que gravou em 1994, em “Fina Estampa”), numa impressionante interpretação que, claro, tocou a nós gaúchos tão próximos dos irmãos portenhos.

Mais outras três encantadoras tocadas em dupla: a excelente bossa nova “Eu Vim da Bahia”, das primeiras composições de Gil; “Come Prima”, em que ambos mandaram um afiado italiano; e "Super-Homem, a canção", noutro momento de emoção. Caetano, com a afinação e o timbre doce que lhe foram presenteados por Deus, começa cantando. Na segunda parte, Gil, comovido por ouvir o parceiro, engasga a voz e é aplaudido.

Gil e o violão qu expressa tudo.
foto: Júlio Cordeiro
O repertório, seguindo o conceito de espelhamento, trouxe, então, uma série com Gil, começando pela gostosa “Esotérico”, cantada em coro pela plateia. Tomado pela acolhedora egrégora criada pelos dois, me deu até a impressão de esta ser uma música de Caetano – embora saiba que é de fato de Gil – devido às repetições de versos, às assimetrias de métrica e o tom desafiador típicos deste. Depois, esmerilhando as cordas, Gil sacou uma impecável “Tres Palavras”, do mexicano Osvaldo Farrés, para, na sequência, emocionar novamente todos com “Drão” que – assim como ocorrera antes, quando o companheiro desnuda-se ao tocar “Odeio” – revela a dor da separação da antiga esposa. Caetano, que a gravou em 1998 (no ao vivo “Prenda Minha”), nem ousou cantar junto. 

Aliás, a deferência e a admiração de Caetano para com Gil ficam visíveis. Não que ele se apequene; não que desconheça seu tamanho e relevância; mas Caê reverencia “aquele preto que ele gosta” e deixa que ele estabeleça o clima do show, o qual se dá de forma leve e elevada. Bonito de se perceber. Em “Expresso 2222”, obra-prima visionária de Gil, é ele quem, além de tanger os complexos acordes da melodia, comanda o forró que se instala. O Araújo Vianna dança. No embalo da animação, vem o afoxé “Toda Menina Baiana”, outro clássico.

Junto com a nova composição já apresentada, a lírica “São João, Xangô Menino” é a única do set-list composta em parceria. Linda, outra que me emociona sempre (e não foi diferente desta feita), principalmente no refrão de versos móveis, um verdadeiro canto de louvor à riqueza do folclore nacional e às forças da natureza: “Viva São João/ Viva o milho verde/ Viva São João/ Viva o brilho verde/ Viva São João/ Das matas de Oxóssi/ Viva São João”. A crença e a espiritualidade voltam em outro sucesso de Gil: “Andar com Fé”. Na mesma atmosfera, eles enfim me desmontam ao tocarem "Filhos de Gandhi". Das melhores e mais significativas canções de todo o vastíssimo cancioneiro de Gil. Um privilégio ouvi-la ali naquela ocasião tão especial, acompanhado de quem estava e, tendo recentemente ido à Bahia e sentido todo esse universo que a canção carrega. E ainda mais com Caetano entoando junto essa verdadeira oração aos orixás (“Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré/ Todo o pessoal/ Manda descer pra ver/ Filhos de Gandhi...”).

O primeiro bis teve uma que já nasceu clássica: “Desde Que o Samba e Samba”, a qual parece ter sido composta por aqueles bambas dos anos 30/40 tipo Wilson Baptista ou Ataulfo Alves. Mas não: é do próprio Caetano e do já mencionado “Tropicália 2”, dos anos 90 – que teve também a eletrizante “Nossa gente” no repertório. “Luz de Tieta”, forte e cantarolável, não foi suficiente para que os deixassem ir embora. Teve ainda um segundo bis com a beatle “Leãozinho”, muito querida da plateia, uma impressionante "Domingo no Parque", em que Gil novamente faz daquele violão uma orquestra completa e, fechando de vez a apresentação, “Tree Little Birds”, de Bob Marley. Um final alegre e sereno.
Caê e Gil, andando com fé pela música.
foto: Júlio Cordeiro

Poucas foram as repercussões pré ou pós na cidade. Parafraseando Caetano, o “silêncio sorridente de Porto Alegre” de quem não quer admitir admiração por outrem. Talvez, em decorrência de um intimidamento provocado pela interferência internacional de Roger Waters ao show de Israel (muitos pensaram alarmados: “Nossa, um estrangeiro importante dando atenção para tupiniquins como eu?!”) ou pela polêmica em torno do valor dos ingressos, “caros demais para artistas que se dizem populares”, como ouvi. Uma proposital confusão entre “popular” e “populista” de quem não se autoentendeu diante da situação de existirem representantes do seu país com merecido destaque tanto lá fora quanto aqui – haja vista que a turnê de “Dois Amigos, Um Século de Música” foi um sucesso na Europa. Detração que vem, certamente, de quem criticou o preço do ingresso de um show como este (que não teve nada de diferente de qualquer outra bilheteria de artista brasileiro, muitas vezes infinitamente menos expressivo) mas paga caro para ver algum dinossauro do rock caquético e descontado que vem tirar uma grana naquela cidade que se submete a isso. Desculpe frustrá-lo, Caetano, mas Porto Alegre não faz jus à sentença de que a “verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul”.

De minha parte, só elogios. Uma ocasião que, até pelo mote, jamais se repetirá, e sabe-se lá se ainda tocarão assim juntos novamente em vida. Óbvio que, como fã, passou-me pela cabeça músicas das preferidas que não foram incluídas, como “Trilhos Urbanos”, “Trem das Cores”, “Cajuína”, “Cores Vivas”, “Palco”, "Lamento Sertanejo", “Aqui e Agora”. Ou mesmo não terem escolhido apenas duas das coautorias: quiçá uma “Divino Maravilhoso”, “Iansã”, “Haiti”, “Panis et Circensis”, “Cinema Novo” ou “Beira-mar”. Mas é evidente que, em 100 anos de carreiras somadas tão profícuas quanto extensas e constantes, fica impraticável condensar tudo em uma hora e meia. Ao menos, foi possível neste tempo sentir a riqueza infindável da arte que emana de Caetano Veloso e de Gilberto Gil. Minutos, na verdade, dentro de toda a amplidão. Minutos que valeram por um século.

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Caetano Veloso e Gilberto Gil - As Camélias do Quilombo do Leblon - Porto Alegre 28/08/2015






quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Grupo Corpo – “Sete ou Oito Peças para um Ballet" e "Gil” – Teatro do SESI – Porto Alegre (03/11/2019)



"Confesso que recebi o convite para criar uma trilha para o Grupo Corpo com satisfação mas com preocupação também, especialmente quando eles manifestaram o desejo de denominar a peça GIL - ou seja, de concentrar a criação no conjunto, num arco que fosse o mais amplo possível do meu trabalho, que tem tantas influências baianas, do samba, da música pop em geral. De todo modo, ouvindo a trilha no final, percebo que ela tem muitos elementos da minha dimensão rítmica mesmo, com elementos da música afro-baiana". 
Gilberto Gil

O Grupo Corpo é, mais do que qualquer banda, cineasta ou outro tipo de artista no Brasil, o que mais tem o poder de me surpreender. A cada nova montagem, e até mesmo a cada repetição de alguma das antigas, a capacidade da companhia mineira de balé – sem dúvidas uma das melhores em atuação no mundo – de reinventar-se e trazer novas visões estéticas e conceituais é invejável. Não foi diferente na última apresentação deles em Porto Alegre, em razão da mais recente montagem,“Gil”, cujo nome já diz tudo: um retrospecto sintético da obra do genial músico baiano Gilberto Gil. Para arrematar, além da iluminada companhia das "Costa", Leocádia, Carolina e a amiga Amanda, a ocasião caiu justamente no dia de meu aniversário. Muita emoção envolvida.

Como disse, não só as novas montagens surpreendem. O hábito comum do grupo de trazer na primeira parte alguma de suas peças anteriores, não raro é tão estimulante quanto a estreia. Foi assim em 2015, quando trouxeram, junto à então recente “Dança Sinfônica” – com trilha de Marco Antônio Magalhães, parceiro de longa data do Corpo –, que perdeu impacto diante de sua talvez mais representativa montagem, “Parabelo” (1997, José Miguel Wisnik e Tom Zé). Desta vez, abriram com uma das que mais tinha vontade de assistir mas que nunca tivera a oportunidade: ”Sete ou Oito Peças para Ballet”, de 1994. Marco na trajetória recente da companhia de mais de 40 anos, tem trilha com arranjos e execução do grupo mineiro instrumental Uakti – liderado por Magalhães – e autoria do, assim como Gil, gênio: o norte-americano Philip Glass.

"Sete ou Oito Peças para um Ballet", com trilha de Glass: êxtase no palco
Afora a deliciosa surpresa de que a tal trilha que nunca achava para ouvir pelo nome da peça era a mesma de “Águas da Amazônia”, lançada em disco com este título anos depois da apresentação nos palcos, a coreografia é simplesmente extasiante. Aproveitando-se da construção minimalista da música, que se monta a partir de células sonoras móveis em variações de volume, intensidade e harmonia, Rodrigo Pederneiras cria uma coreografia em que extrai o máximo da trilha através de movimentos e danças, intercalando constantemente contenção e expansão. Como uma dança da natureza em que a terra determina criação e recriação. Isso auxiliado pela linda luz (Paulo Pederneiras) e pelo figurino (Freusa Zechmeister), que remetem diretamente à organicidade, e a cenografia (Fernando Velloso), igualmente inspirada na fauna e na flora brasileiras. Para mim, que ouço seguidamente “Águas...” , foi emocionante vê-la encenada, principalmente a parte final, quando uma das composições mais icônicas de Glass, “Metamorphosis”, ganha a instrumentalização característica da Uakti, de sonoridade tão brasilianista quanto de vanguarda. No encerramento, num ápice típico das composições de Glass, fica a sensação de que talvez nem precisasse de segunda parte.

Luz amarela e fendas pelo corpo: o
sertão de Gil representado
Mas precisava, sim. Afinal, era a representação em dança pelo filtro artístico do Grupo Corpo de ninguém menos que o “Buda Nagô” Gilberto Gil, talvez o mais completo músico de sua geração. Com um conceito totalmente diferente de “Sete ou Oito...”, o que fez parecer tratar-se de outra companhia, “Gil” inicia. Tons de um amarelo intenso, como um sol implacável do sertão nordestino, iluminam o tablado. Eu, fã ardoroso de Gil, mas suficientemente resistente para não buscar nenhuma informação sobre a montagem antes de assisti-la para não estragar a surpresa, pensava: “De que forma ele irá começar a trilha?” Seria com o toque de seu violão, instrumento tão simbiótico a ele? Ou acordes de sanfona, herança do baião de Luiz Gonzaga e memória de sua infância? Ou as percussões, as quais sempre fora intimamente ligado por conta das raízes da África? Eis que o mestre me surpreende emitindo os primeiros sons da peça em que ele próprio é tema com vocalizes e sons guturais reelaborados eletronicamente. O título: “Choro”. A voz, representação primeira da identidade do ser humano, do músico, do artista, do ser humano. Afinal, qual o primeiro som que emitimos quando nascemos?

Nascida a peça, a partir daí o autor constrói uma verdadeira sinfonia gilbertiana, em que traz, em uma síntese tocante, todos os elementos de sua extensa e abarcante obra: a Bahia, o candomblé, a bossa nova, o sertão, a tecnologia, o tropicalismo, o samba, o concretismo, o rock, o Oriente. E também Villa-Lobos, Beatles, SatieChico Science, Smetak, Domenico, Caymmi, Arnaldo, Caetano. João. Que tarefa difícil, visto a amplitude de sua importância como artista no mundo e o paradigma simbólico de uma obra tão representativa da cultura moderna de um país continental como o Brasil. Gil acompanhou tudo o que aconteceu em termos de movimentos musicais em mais de 60 anos para cá. Agora, foi a vez de ele mesmo fazer esse autopercurso revisitando-se para extrair uma nova compreensão de si próprio.

Gestual que lembra a performance do próprio artista
inspirador da montangem
A coreografia, também de Rodrigo Pederneiras, se vale enormemente de gestos amplos e expansivos (com referências ao frevo, ao samba, aos caboclos de lança, aos orixás, à assimetria roqueira) e não raro referindo-se aos conhecidos gestos performáticos de Gil quando no palco. O tempo todo o ritmo dos passos é marcado pela luz quente e amarelada criada por Paulo e Gabriel Pederneiras, a qual persegue em fachos os dinâmicos movimentos dos corpos. O figurino escuro, autoria de Freusa, traz estampas de colorido africano (Joana Lira) que dão, sob o jogo de luz, a impressão de porem à mostra fendas da carne corpórea. Com um conceito cenográfico bastante limpo – poucos bailarinos no palco por vez, utilizando-os muito mais como linhas ora em pequenas composições, ora individualmente –, a montagem, assim, desenha a concepção musical proposta pelo compositor: organismos que se formam (as três “Intros”), tomam fisionomia própria (“Choro nº 1”, “Seraphimu” e “Fragmento Lírico”, além do knee "Balafon"), brincam em suas existências efêmeras (os três “Improvisos”) para, na segunda metade, aí sim, ganharem concretude, ganharem corpo (“Círculo”, “Triângulo”, “Quadrado”, “Retângulo” e “Pentágono”). O final não poderia ser mais lógico e emblemático com um tema intitulado, justamente, de “Gil”.

Rica em variações, harmonias, timbres e texturas, a encadeada e emocionante trilha dá ao espetáculo coesão e dinâmica em seus quase 40 minutos de duração. “Intro”/“Choro nº 1/”Improviso”, logo nos primeiros movimentos, é especialmente marcante, pois encerra várias vertentes do universo musical do músico baiano: o chorinho, o rap, o afoxé, o samba, o eletro-pop e o baião, passando por uma seção clássica de piano até progredir na reelaboração de si mesmo e de sua música ao parafrasear "Filhos de Gandhi" (1974) e "Ela Falava Nisso Todo Dia" (1968). Outras duas, "Aquele Abraço" (1969) e "Andar com Fé" (1982) sevem de motivo para um auto-sample, em que traços minimamente reconhecíveis de suas melodias se entrecruzam - repetindo e ressignificando, aliás, as vozes fragmentadas da introdução.

Ritmo e movimento:
a Bahia africana de Gil
Já a segunda sequência, o movimento “Seraphimu”, ideia extraída de outra canção dele, "Serafim", de 1992, começa como um legítimo kraut-rock alemão em que cita o riff de “A Novidade”, para, mais adiante, dar um caráter erudito-religioso aos tambores e às percussões politonais do matiz africano fazendo da mesma "Serafim" um fio condutor ("Quando o agogô soar/ O som do ferro sobre o ferro/ Será como o berro do bezerro/ Sangrado em agrado ao grande Ogum", diz a letra original). Também, de extrema sensibilidade e responsável por um dos momentos mais belos do espetáculo, “Fragmento Lírico” é com certeza das melodias mais bonitas já criadas por Gil. Igualmente empolgante, inclusive na coreografia, o rock "Círculo", com citação a "Toda Menina Baiana", de 1979.

Além do uso intenso de percussão em vários momentos (que chama a coreografia a movimentos igualmente carregados), o trabalho de sopros é, não à toa, bem destacado, assim como os elementos eletrônicos (comandados por Domenico Lancellotti). Mas o que ganha realce é o violão de Gil, quase que seu segundo corpo. É no violão que o autor, ao compor, se materializa enquanto som, em que revive e logo se esvai a cada nota que o vento leva. E é sobre isso que, em suma, “Gil”, aborda: vida e morte. Ao varrer através do tempo a própria vida, do começo desta até o presente, Gil, com 76 anos e sapiente da maior proximidade da partida deste plano, escreve uma espécie de réquiem. Porém, diferente de Mozart, Gil a completa ainda de olhos abertos. Sente-se um olhar enevoado tanto para o passado esvaído quanto para o futuro implacavelmente cada dia mais encurtado. Tudo está embrenhado: memória, perspectivas, sentimentos, razão, espírito, matéria. Num só corpo. Por isso, os altos e baixos da narrativa, em que alegria e tristeza, luz e sombra, vida e morte, se confundem, já são a mesma coisa para Gil. A releitura desconstruída e uns dois tons abaixo na escala de “A Raça Humana” (“Triângulo”) é uma mostra “viva” disso. O que era originalmente um reggae dançante vira uma missa fúnebre, como os passos sofridos a caminho da morte dos retirantes nordestinos sob (aquele) sol calcinante.

A riqueza da obra do compositor baiano representada em gestos pelo Grupo Corpo
Nova guinada e volta animada a manipulação eletrônica da própria voz com o eletro-funk “Quadrado” emulando “Cérebro Eletrônico” (1969) e “Realce” (1979). A misteriosa e oriental “Retângulo” e a marcha “Pentágono”, com ares de jazz funeral de New Orleans, dão, como se diz na linguagem vulgar, a “morta”. Gil pronuncia, agora com a voz inteira e sem processamentos de mesa, palavras soltas. Mas não tão soltas assim, visto que simbolizam ele, a montagem e a sua arte:

“Corpo/ Carpa/ Corvo/ Cravo/ Cedro
Corpo/ Perna/ Braço/ Fauna/ Flora
Corpo/ Palco/ Pedra/ Preto/ Porco”.

Por fim, todos os metais e madeiras, um a um, dão aquilo que pode ser classificado prática e simbolicamente como o último sopro. Pois que, numa inesperada alteração de textura, timbre e sensação, Gil tira das cordas do violão, este sim, o derradeiro acorde. Dissonante, enigmático e inconcluso. Um som cuja energia vibratória tem tempo de vida de alguns segundos, desde seu ataque até sua queda, esvaindo aquilo que em música se chama justamente de “corpo”. Finda-se o som e um proposital silêncio se faz mesmo depois que as luzes se apagam, mas ainda sem o cerrar das cortinas (ou seria o fechar os olhos?). A plateia reage com estranhamento e desconforto, pois realmente a intenção era desacomodar. Se a sensação não foi de êxtase, ainda mais em comparação com a primeira parte de “Sete ou Oito...”, a proposta dos autores, Gil e Grupo Corpo, foi totalmente exitosa, visto que simbólica e profunda. E se não é tão arrebatadora a montagem, com certeza mais uma vez a companhia surpreende, ainda mais desta feita, inspirada na força criativa do autor de "Drão". Aliás, não é exagero dizer que se trata de um dos melhores trabalhos da carreira de Gilberto Gil.

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trechos de "Sete ou Oito Peças para um Ballet" e "Gil"


Daniel Rodrigues

domingo, 9 de janeiro de 2022

DOSSIÊ ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2021




O velho Wayne de olho no trono dos Beatles
Chegou a hora da verdade! A hora dos número. Mais um ano se foi e é chegada a hora de fazer aquele habitual levantamento dos álbuns que entraram para a seleta galeria dos Fundamentais do Clyblog. Lembrando sempre que, na verdade, a seção não tem por objetivo promover disputa ou qualquer tipo de comparação entre artistas e obras, mas a gente mesmo fica curioso para saber quais as marcas e quantitativos e aí, então, levantamos e, em forma de ranking, passamos para vocês. 

2021 foi o ano do jazz nos ÁLBUNS FUNDAMENTAISÁLBUNS. Das 29 obras destacas na nossa seção de discos, 11 foram do refinado estilo norte-americano. Se aproveitando desse predomínio, neste período, o craque Wayne Shorter encostou definitivamente no pessoal de cima. Ainda não alcançou os Beatles, que continuam liderando, mas, junto com seu companheiro de sopro, Miles Davis, que também chegou nas cabeças, já começam a botar uma certa pressão nos rapazes de Liverpool. A propósito da Terra da Rainha, curiosamente no último ano, não tivemos NENHUM artista britânico teve discos incluídos na nossa seção. as ações ficaram basicamente divididas entre norte-americanos e brasileiros, com destaque para o primeiro japonês na lista, o versátil Ryuichi Sakamoto.

No que diz respeito aos brasileiros, Caetano Veloso que dividia a liderança com Jorge Ben, agora toma a frente isoladamente por conta pela participação no disco "Brasil", com João Gilberto, Bethânia e Gilberto Gil. Mas  a disputa está tão apertada quanto no internacional e qualquer disco aqui, disco ali, no ano que chega, pode mudar o panorama.

Entre as décadas com mais obras mencionadas, os anos 70 continuam imbatíveis, embora o ano que aparece mais vezes seja o de 1986. Chama atenção que cada vez mais é inevitável que seja reconhecida a qualidade e se projete a relevância de trabalhos recentes, o que faz com que venham aparecendo com mais frequência, em maior número e cada vez mais fresquinhos, como foi o caso do recém lançado "Carnivore", do Body Count, que mal nasceu  e já figura entre os melhores.

Então, vamos aos números que é o que interessa. Chegou a hora da verdade!


  • The Beatles: 6 álbuns
  • David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis e Wayne Shorter: 5 álbuns cada
  • Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan, John Coltrane e John Cale*  **: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Lee Morgan e Lou Reed**: 3 álbuns cada
  • Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, Body Count, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"
**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 6 álbuns*
  • Jorge Ben: 5 álbuns **
  • Gilberto Gil*  **: 5 álbuns
  • Tim Maia e Chico Buarque: 4 álbuns
  • Gal Costa, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Hawaii e João Gilberto*  ****: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**, João Bosco, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura e Milton Nascimento**** : todos com 2 álbuns 

*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil
**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"
**** contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 19
  • anos 60: 96
  • anos 70: 138
  • anos 80: 116
  • anos 90: 89
  • anos 2000: 13
  • anos 2010: 15
  • anos 2020: 2


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 22 álbuns
  • 1977: 19 álbuns
  • 1969 e 1985: 17 álbuns
  • 1967, 1972, 1973 e 1976: 16 álbuns cada
  • 1968 ,1970 e 1991: 15 álbuns cada
  • 1971, 1979, 1980 e 1991: 14 álbuns
  • 1965, 1975 : 13 álbuns
  • 1965 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1964, 1966, 1987,1989, 1990 e 1994: 11 álbuns cada
  • 1978: 10 álbuns



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 192 obras de artistas*
  • Brasil: 139 obras
  • Inglaterra: 114 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
  • Japão, País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de páises diferentes, conta um para cada)