sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Novos Baianos - "Novos Baianos F.C." (1973)
terça-feira, 9 de agosto de 2011
“Filhos de João - O admirável mundo novo baiano”, de Henrique Dantas (2011)
Para mim, adorador de música brasileira e da banda, ver um filme como este é um deleite. E fiquei extremamente feliz quando percebi já no título uma afinidade de pensamento, uma vez que há alguns meses escrevi para este blog uma resenha sobre o melhor disco dos Novos Baianos, “Acabou Chorare”, de 1971. Intitulada "Lá Vem o Brasil Bater à Minha Porta" , abordei justamente a relação da banda com o “velho baiano” João Gilberto e o episódio em que ele, numa aparição tão inesperada quanto mágica no apartamento dos músicos no Rio, levou àquele grupo de hippies “os requebros e maneiras” do samba, ensinando-lhes a batida de violão da bossa nova e abrindo a cabeça da galera para os ritmos brasileiros, tornando-se pai espiritual da galera. Impressionou tanto que Moraes, por exemplo, chegou a cogitar de não tocar nunca mais depois daquilo! A narrativa do filme, bem estruturada, ressalta com assertividade este ponto, mostrando como os Novos Baianos passaram a introduzir o toque afro-brasileiro no seu estilo por indicação de João, mudando para sempre o modo de fazer rock e de fazer música popular no Brasil e no mundo.
Há revelações interessantes, como a de que o nome artístico Baby Consuelo foi atribuído a então Bernadete Dinorah inspirado no de uma personagem prostituta do filme “udigrudi” brasileiro “Caveira My Friend” (de Álvaro Guimarães, 1970). Também, a ideia da música “Acabou Chorare” – primeira bossa nova composta por aqueles jovens roqueiros e talvez a composição mais linda do grupo –, que surgiu das histórias que João Gilberto contava sobre sua pequena filhinha, a hoje cantora mundialmente conhecida Bebel Gilberto. E se quem escuta a música já se emociona (eu, em pleno cinema, me peguei às lágrimas), imagina o sentimento do autor! E foi isso que Moraes confessou: de tão impactado pela beleza e emoção de ter feito aquela canção, passou quatro dias sem dormir, tocando repetidas vezes a obra-prima que acabara de criar.
Baby, Galvão, Moraes e Paulinho, o núvleo da banda |
“Filhos de João” é mais um bom registro documental tal como vem se fazendo no Brasil nos últimos 10 anos, período em que o cinema nacional avançou muito neste formato, resgatando momentos e personagens importantes como a Velha Guarda da Portela, Dzi-Croquettes, Paulinho da Viola, Oscar Niemeyer, jornal Sol, Wilson Simonal e vários outros. Agora, é a vez de saudar os Novos Baianos, no “passado, presente, particípio”, como diz naquela letra.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Novos Baianos - "Acabou Chorare" (1972)
Acima, a capa original de 1972,
e abaixo, a do relançamento em 1984
|
os mestres da MPB
com os sons internacionais
resultou num dos melhores discos
da história da música pop nacional.”
Era só um grupo de hippies doidões que, na utopia de viver em uma comunidade de “paz e amor”, saiu em bando da Bahia para se socar em um sítio em Vargem Grande, no Rio de Janeiro, estado onde a indústria fonográfica de fato acontecia naquele início de anos 70. Almejavam ganhar a vida tendo como inspiração seus ídolos do rock: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Beatles, Mama’s & The Papa’s e por aí vai.
Num Brasil tricampeão de futebol e em plena ditadura de AI-5, os “heróis da resistência” e também baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso recém voltavam do exílio em Londres. Os festivais, sufocados, já não tinham a mesma efervescência político-cultural. Nas rádios, o predomínio do pop mezzo-caipira mezzo-brega mezzo-romântica (ou seja: para tentar agradar a todo mundo) da dupla Antonio Carlos & Jocafi não desagradava aos militares, e isso era o que importava. O movimento hippie, assim como qualquer outra manifestação artística e cultural, não tinha a menor voz naquele cenário (a ver a repressão ao tropicalismo). Ou seja: aquela turma estava fadada a cair no esquecimento.
Até que um dia, ainda morando na cidade, aparece na porta do apartamento da galera um senhor sério de terno e gravata. Era a “cana”? O cheiro do baseado tinha incomodado tanto assim os vizinhos? Depois de muito se amontoarem para espiar pelo olho-mágico, perceberam de quem se tratava: era simplesmente o Brasil que lhes batia à porta. Ah! O outro nome do Brasil é João Gilberto, caso não saibam. E a turma de ripongos – formada por Baby Consuelo (vocal, percussão), Paulinho Boca de Cantor (vocal, percussão), Pepeu Gomes (guitarra, violão solo, craviola, arranjos), Dadi (baixo), Jorginho (bateria, bongô, cavaquinho), Baixinho (percussão e baixo), Bolacha (bongô) e liderada por Moraes Moreira (vocal, violão base, arranjos) e Luiz Galvão (composições) – era a banda Novos Baianos.
Formado ainda em Salvador, em 1968, os Novos Baianos lançariam um ano depois seu disco de estreia, “Ferro na Boneca” que, embora o relativo sucesso comercial, não podia ser repetido para um segundo trabalho. A fórmula roqueira já não condizia com o que a mídia e nem os próprios músicos ansiavam. Eram talentosíssimos: Moraes e Galvão, criativos compositores; Pepeu, o primeiro virtuose da guitarra brasileiro; Baby, uma intérprete irreverente e moderna; Dadi, um baixista de mão cheia. Mas sentiam que precisavam de sangue novo.
Foi então que, naquela aparição divina, o “velho baiano” trouxe-lhes o dendê que faltava na receita. A bossa nova, que o João Gilberto ajudara a cunhar em 1958 com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, além de modernizar o samba, diminuindo seu compasso e adicionando toques do cool jazz americano, tinha impregnada na sua estrutura melódica e harmônica toda a tradição do samba, do maxixe aos standards da Rádio Nacional. Quer dizer: o exemplo da bossa de João Gilberto vai além da música: é o reconhecimento de um Brasil etiologicamente desenvolvido enquanto força artística. E os Novos Baianos captaram isso. Com o talento e experiência que tinham, em 1972, eles entraram no estúdio da Som Livre sob o comando de Eustáquio Sena para criar o disco que hoje é um dos mais importantes da música popular brasileira: “Acabou Chorare”.
A veia brasileira já diz a que veio de cara, abrindo o disco com “Brasil Pandeiro” numa versão histórica do samba de Assis Valente (composição de 1940, imortalizada na voz de Carmen Miranda) incluída no repertório por indicação de João Gilberto. Ali já estava tudo pelo o que a banda passou a ser reconhecida a partir de então: a fusão incrivelmente harmoniosa e orgânica do regional e do universal, onde tudo é samba ao mesmo tempo em que é rock, que é baião, que é frevo, que é pop. E com rebeldia, bom humor e pegada!
Em seguida, talvez grande obra-prima dos Novos Baianos enquanto conjunto: “Preta Pretinha”. Uma balada de mais de seis minutos que inicia apenas com voz e violões brejeiros, e que vem num crescendo aonde os outros elementos da banda vão sendo adicionados aos poucos até um final emocionante em que todos brilham. Aliás, esta é uma das características do disco: ser extremamente bem executado, a ver a bela instrumental "Um Bilhete Pra Didi", de pura técnica e inúmeras referências melódicas que vão de Hendrix a Jacob do Bandolim.
Há "Mistério do Planeta", "A Menina Dança" e “Tinindo Trincando”, canções pop com levada de MPB e um trabalho de guitarra excepcional de Pepeu Gomes. Mas é mesmo a raiz afro-brasileira que dá o tom: em "Swing de Campo Grande" (“Minha carne é de carnaval/ Meu coração é igual”) e “Besta é Tu” a galera chama no pé! Esta última, claramente surgida de um momento de discussão que acabou dando samba.
A ligação com as raízes do Brasil, que João Gilberto tão bem traduziu na bossa nova na sua inaugural batida de violão e seu modo econômico mas completo de cantar, entraram na música dos Novos Baianos de forma consistente e definitiva. Mas não com exageros. E esta releitura inteligente do moderno e do antigo fez com que “Acabou Chorare” se alinhasse ao tropicalismo, tão carente de um novo gás naquele instante. “Nós vimos o tropicalismo de Gil e Caetano e acreditamos que era possível criar algo novo”, disse Galvão certa vez.
O fato é que esta obra abriu portas para que bandas como Paralamas do Sucesso, Pato Fu, Rappa e Skank tenham hoje terreno para misturar o pop que vem de fora com ritmos brasileiros sem que se lhes torçam a cara por isso. Com justiça, “Acabou Chorare” é considerado discoteca básica essencial, tanto que consta como primeiríssimo da lista dos 100 discos fundamentais da música brasileira pela revista Rolling Stone.
Mas falta falar ainda da verdadeira pérola do disco: a faixa-título. Se em “Preta Pretinha” o talento de todos é chamado em cena, na faixa “Acabou Chorare” são apenas os violões de Moraes e Pepeu que brilham. E isso basta. Bossa nova total, esta delicada canção de ninar, além da linda melodia (e o rico solo de Pepeu ao final), traz na letra uma novidade na música brasileira enquanto estilo. Antes mesmo de grandes obras musicais para crianças como “A Arca de Noé” de Vinícius ou “Os Saltimbancos” de Chico Buarque, ela versa palavras do imaginário lúdico infantil com uma pureza e inocência que suscitam imagens incomuns e até surreais. Neologismos, palavras que se encadeiam pela sonoridade, frases “sem sentido”. Afinal, quem não há de se emocionar com os singelos versos que dizem que a abelhinha “Faz zunzum e mel”, ou que ela “Tomou meu coração e sentou/ Na minha mão”?
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“Acabou Chorare” têm como “musa” a filha de João Gilberto, a hoje internacionalmente conhecida Bebel Gilberto, com 6 anos na época. A coisa toda surgiu do convívio dos dois com a banda. O título, algo como “parou o choro”, era dito por Bebel e vem da confusão que ela fazia entre os idiomas português, espanhol e inglês por conta dos períodos de residência no México e EUA, além do Brasil.
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Foi João Gilberto também quem, um dia, sentado na rua ao lado de Moraes e Galvão, ao ver uma linda mulata passar caminhando com “seus requebros e maneiras”, disse aos dois a frase que inspirou a música Moraes, gravada em 1979: “olha lá, gente: lá vem o Brasil descendo a ladeira!”
1. "Brasil Pandeiro" (Assis Valente)
2. "Preta Pretinha" (Luiz Galvão / Moraes Moreira)
3. "Tinindo Trincando" (L. Galvão / M. Moreira)
4. "Swing de Campo Grande" (Paulinho Boca de Cantor / L. Galvão / M. Moreira)
5. "Acabou Chorare" (L. Galvão / M. Moreira)
6. "Mistério do Planeta" (L. Galvão / M. Moreira)
7. "A Menina Dança" (L. Galvão / M. Moreira)
8. "Besta é Tu" (L. Galvão / Pepeu Gomes / M. Moreira)
9. "Um Bilhete Pra Didi" (Jorginho Gomes)
10. "Preta Pretinha (reprise)" (L. Galvão / M. Moreira)
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Ouça:
Novos Baianos Acabou Chorare
por Daniel Rodrigues
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
Seleção Brasileira - 11 discos nacionais que têm a cara do nosso futebol
A relação do futebol com a música, no Brasil, é algo muito especial e particular. A ginga, o ritmo, a malandragem, a criatividade, a poesia, são compartilhadas por ambos e é como se um se utilizasse das virtudes do outro. Seja pela constituição do povo, pela formação cultural, pela configuração social, por questões comportamentais, por tudo isso, o jogo de bola, popular, democrático, que se pode praticar na rua, num pátio, num terreno qualquer, com qualquer coisa que seja ligeiramente arredondado, é ligado intimamente à musicalidade do brasileiro que pode ser colocada em prática em qualquer lugar ou esfera social, numa mesa, numa lata, numa caixinha de fósforo, no morro numa roda de amigos, ou numa garagem com três caras, duas guitarras e uma bateria.
Nessa época de Copa, pensando nessa íntima ligação, selecionamos alguns discos que tem tudo a ver com esse laço. Quando artistas de música colocaram o futebol de forma significativa dentro de suas obras.
É lógico que teríamos muitos, inúmeros exemplos e possibilidades, aqui, mas ilustramos esse caso de amor futebol & música com 11 discos que têm a cara do futebol. Onze!!! Um para cada posição.
Uma verdadeira Seleção Brasileira.
Dá uma olhada aí:
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Gilberto Gil - "Cidade de Salvador" (1973): Embora tenha feito o tema brasileiro para a Copa do Mundo de 1998, Gilberto Gil não é exatamente um cara de referências tão constantes ao futebol em sua discografia. Tem, lá, o Hino do Bahia, em 1969, no disco ao vivo com Caetano, tem "Abra o Olho", do disco Ao Vivo de 1974, que faz menções a Pelé e Zagallo, mas, em sua obra, o álbum mais relevante nesse sentido e que mais traz referências ao esporte das massas do Brasil, é "Cidade de Salvador", de 1984. Nele temos a faixa "Meio de Campo", que reverenciava o, então jogador, Afonsinho, do Botafogo, jogador atuante, engajado, um dos pioneiros na luta pelo direito ao passe-livre, além da luta própria liberdade pessoal, uma vez que seu clube, na época, o Botafogo, exigia que ele tirasse a barba e cortasse o cabelo comprido, ao que o mesmo resistiu, exigindo a rescisão de contrato.
Como se não bastasse uma música tão relevante sobre um personagem tão simbólico do futebol brasileiro, o álbum ainda trazia a faixa "Tradição", belíssima crônica cotidiana, que, embora não fosse uma música sobre futebol, também citava o jogo, mencionando Lessa, um lendário goleiro do Bahia nos anos 50, segundo a letra, "um goleiro, uma garantia".
Blanc e Bosco tem mais um monte de futebolices em sua discografia, mas "Galos de Briga", é um dos trabalhos que melhor simboliza bem esse entrosamento.
Neguinho da Beija-Flor - "É melhor sorrir" (1982): Quando uma música tem o poder de ser adaptada para todos os grandes times de uma cidade e ser cantada por cada uma de suas torcidas num estádio lotado, essa música tem lugar garantido entre as mais significativas do futebol. "O Campeão", conhecida também por "Meu Time", de Neguinho da Beija-Flor, integrante do álbum "É Melhor Sorrir", celebra um dia de futebol, desde a preparação, a espera, a ansiedade, até o momento mágico de torcer e vibrar pelo time do coração dentro do estádio. "Domingo, eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro time que sou fã / Vou levar foguetes e bandeira / Não vai ser de brincadeira / Ele vai ser campeão / Não quero cadeira numerada / Vou ficar na arquibancada / Prá sentir mais emoção / Porque meu time bota pra ferver / E o nome dele são vocês que vão dizer / Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô..........", e aí completa com o nome do seu time. Quem já ouviu isso no Maracanã, só trocando o nome do time no refrão, não tem como não se arrepiar.
O restante das faixas do disco não tem ligação com futebol, mas com uma dessas, que foi oficializada como hino do estádio, que serve para quatro dos maiores clubes do país, normalmente é entoado por milhares de vozes no maior templo do futebol mundial, há motivos mais que suficientes para incluir "É Melhor Sorrir" entre os álbuns importantes na relação música-futebol.
Jackson do Pandeiro - "Jackson do Pandeiro" (1955): Uma das músicas mais marcantes na qual o futebol figura com protagonismo é a clássica "Um a Um", de Jackson do Pandeiro. A letra discorre sobre todas as posições de um time, setores do campo, situações de jogo, xinga o juiz, e exalta entusiasticamente as qualidades e virtudes do time do coração ("O meu clube tem time de primeira / Sua linha atacante é artilheira / A linha média é tal qual uma barreira / O center-forward corre bem na dianteira / A defesa é segura e tem rojão / E o goleiro é igual um paredão (...) / Mas rapaz uma coisa dessa também tá demais / O juiz ladrão, rapaz! / Eu vi com esses dois olhos que a terra há de comer / Quando ele pegou o rapaz pelo calção / O rapaz ficou sem calção!..."). E, mais atual do que nunca, não aceitando derrota ou empate em hipótese alguma, ainda adverte: "Se o meu time perder vai ter zum zum zum". E não é assim sempre ainda hoje?
Chico Buarque - Chico Buarque (1984): Chico Buarque, apaixonado por futebol, volta e meio tem alguma coisa relacionada ao esporte mais popular do mundo em seus discos. Um detalhezinho aqui outro ali, um verso, uma metáfora, uma referência... Poderia citar um monte delas aqui, mas escolhemos a música "Pelas Tabelas", do álbum "Chico Buarque", de 1984, por reunir uma série de elementos interessantes como o Maracanã, a torcida, a tabelinha e uma multidão na rua de verde e amarelo que naquele momento, poderia ser pela Seleção ou pelas manifestações pró-diretas, mas que nos últimos tempos se transformou numa imagem de terror de fanáticos conservadores fascistas. Saudades do tempo em que sair na rua de verde e amarelo era só para comemorar vitórias da Seleção ou reivindicar direitos democráticos.
"(...) Quando vi um bocado de gente descendo as favelas/ Achei que era o povo que vinha pedir / A cabeça do homem que olhava as favelas / Minha cabeça rolando no Maracanã / Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas /Jurei que era ela que vinha chegando / Com minha cabeça já numa baixela / Claro que ninguém se toca com minha aflição / Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela / Pensei que era ela puxando um cordão".
Engenheiros do Hawaii - "Várias Variáveis" (1991): Os Engenheiros do Hawaii, banda da capital gaúcha, sempre demonstrou estreita ligação com o futebol. Volta e meia usavam em suas letras expressões referentes ao jogo ("jogam bombas em Nova Iorque / jogam bombas em Moscou / como se jogassem beijos pra torcida / depois de marcar um gol" - "Beijos Pra Torcida" 1986); subiam ao palco, não raro, com camisetas de seus clubes do coração, Gessinger, gremista fanático, coma do Tricolor, é claro; e tinham, até mesmo, em uma de suas músicas, "Anoiteceu em Porto Alegre", uma narração de rádio do gol do título mundial do Grêmio, de 1983. No entanto "Várias Variáveis", de 1991, que não continha especificamente nenhuma música com qualquer menção ao esporte, destaca-se pela capa, que o justifica em estar nessa lista. Nela, entre várias engrenagens, símbolo adotado pelo grupo como marca, preenchidas com ícones pop, símbolos, imagens geográficas, históricas, comerciais, encontramos os escudos dos dois grandes clubes do Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio. Uma capa que dimensiona bem a importância do futebol e a paixão dos gaúchos por seus clubes situando-os entre as coisas mais importantes entre tantos elementos como ideologias, religiões, comportamento, economia, coisas que fazem mexer as engrenagens do mundo. Afinal, como dizem, o futebol é a coisa desimportante mais importante do mundo. Não é mesmo?
Novos Baianos - "Novos Baianos F.C. (1973): O que era aquilo? Uma banda? Uma família? Uma comunidade? Um time de futebol? Tudo isso! Os Novos Baianos meio que inauguraram um novo conceito de grupo musical: moravam juntos, todos colaboravam em tarefas, faziam música e, apaixonados por futebol, batiam uma bolinha. Para isso, montaram dois campos de futebol no sítio onde a banda vivia, na zona leste do Rio, onde, entre uma gravação e outra, jogavam aquela pelada, ou ao contrário, entre uma partidinha e outra, rolava algum som. Um desses momentos de descontração e atividade paralela é captado na capa do disco "Novos Baianos F.C.", de 1973, com a banda "rolando um caroço" no seu campinho em Jacarepaguá. Além do registro da foto, e da extensão (Futebol Clube) não deixa dúvidas quanto à paixão daquela turma pelo jogo de bola, o disco ainda traz a faixa "Só se não for brasileiro nessa hora", que exalta a pelada, o jeito moleque, o gosto por correr atrás da bola: "Que a vida que há no menino atrás da bola / Pára carro, para tudo / Quando já não há tempo / Para apito, para grito / E o menino deixa a vida pela bola / Só se não for brasileiro nessa hora".
"Novos Baianos F.C", de certa forma, resume o espírito do grupo. Um time. Uma equipe entrosada, quase um Carrossel Holandês onde todos se revezavam e executavam mais de uma tarefa dentro de campo. Futebol total. Ou seria música total?
Pixinguinha - "Som Pixinguinha" (1971) - Uma das primeiras composições alusivas ao futebol foi "1x0" do mestre Pixinguinha. Gravada no final dos anos 1920, a canção instrumental, homenageava o grande feito da conquista do Campeonato Sul-Americano de 1919, numa partida contra o Uruguai, vencida arduamente, depois de duas prorrogações, pelo placar mínimo, 1x0, gol do ídolo da época, Arthur Friedenreich.
A música até ganhou letra nos anos 1990, do músico Nelson Ângelo, que a regravou então, cantada, em parceria com Chico Buarque, mas nem precisava: instrumentalmente ela, com seu ritmo, fluidez, construção, já consegue transmitir a dinâmica de um jogo, a ginga, a expectativa do torcedor, a movimentação dentro de campo..., tudo!
A canção foi gravada, originalmente, nos anos 1920, saiu em compactos posteriores, em algumas coletâneas, mas o registro que destacamos aqui é o álbum "Som Pixinguinha", de 1971, o último disco gravado pelo mestre do choro, que viria a ser reeditado, anos depois, no Projeto Pixinguinha, rebatizado como "São Pixinguinha". Nada mais justo. Só coisas divinas. Amém, Pixinguinha! Amém!
Skank - "Samba Poconé" (1996): Logo depois que o Brasil ganhou a Copa do Mundo de 1994, o futebol voltou a virar mania nacional. Literalmente, virou moda. As camisetas de clubes, antes restritas às peladas e aos estádios, naquele momento tomavam as ruas. Embora vários artistas manifestassem esse momento, nenhuma banda soube traduzir tão bem esse momento como o Skank. Além dos integrantes se apresentarem, não raro, com camisetas de seus clubes do coração, os grandes de Minas Gerais, Cruzeiro e Atlético, talvez tenham feito a mais empolgante e entusiástica música daquele período e uma das mais marcantes da história da música braseira, sobre futebol. "É Uma Partida de Futebol" transmitia, com rara felicidade às emoções de dentro e fora de campo, com expectativa do jogo, lances de perigo, reação da torcida, tudo com muita alegria e ritmo ("Bola na trave não altera o placar / Bola na área sem ninguém pra cabecear / Bola na rede pra fazer o gol / Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? / A bandeira no estádio é um estandarte / A flâmula pendurada na parede do quarto / O distintivo na camisa do uniforme / Que coisa linda é uma partida de futebol (...)"). Sem dúvida, um marco na histórica relação bola-microfone, tão estreita na música brasileira.
Luiz Américo - "Camisa 10" (1974): É o típico exemplo de artista de uma música só. Luiz Américo gravou a música "Camisa 10" para a Copa do Mundo de 1974, lamentando a ausência de Pelé, que se despedira da Seleção depois da Copa do México em 1970, e questionando as escolhas do técnico Zagallo, campeão na Copa anterior, mas de escolhas bastante duvidosas para o Mundial seguinte. A letra, inteligente, cheia de boas sacadas e trocadilhos com os nomes dos jogadores ("Desculpe seu Zagalo/ Puseram uma palhinha na sua fogueira / E se não fosse a força desse tal Pereira / Comiam um frango assado lá na jaula do leão / Mas não tem nada não!"), acabaria por confirmar os temores dos autores, Hélio Matheus e Luís Vagner, de um time confuso, mal convocado e mal escalado que não convenceu em nenhum momento e acabou eliminado de maneira impiedosa pela Laranja Mecânica de Johan Cruyff.
Lançada em um álbum sem outras alusões a futebol, "Camisa 10", além de ser, com certeza, a maior cornetada musical da discografia nacional, talvez seja a canção mais marcante da tabelinha música-futebol no Brasil.
Jorge Ben - "Ben" (1972): Jorge Benjor, talvez seja o músico com mais referências ao futebol em sua obra. Volta e meia tem! Tem menção a clube, exaltação a craque de verdade, para craque inventado, música por posição, para infração dentro de campo, pra negociação entre clubes... Tem de tudo. "África Brasil" , disco já destacado aqui no ClyBlog, nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, provavelmente seja o álbum que mais contém referências ao esporte, com uma música cuja letra conta o desejo de um de seus filhos em querer ser jogador de futebol ("Meus filhos, meu tesouro"), uma para o craque Zico ("Camisa 10 da Gávea), e uma para um fictício meia-atacante africano de futebol encantador, "Umbabaraúma, Ponta de Lança Africano". No entanto, a canção de Jorge Benjor mais marcante sobre futebol, é, sem dúvida, uma das mais lembradas no quesito em toda a música brasileira, está no disco "Ben", de 1972. "Fio Maravilha" descreve, quase com a precisão de um locutor esportivo, o lance mágico do atacante Fio, do Flamengo, dos anos 70, em que ele faz, segundo o autor "uma jogada celestial". Jorge Benjor, exímio construtor de imagens musicais, soma à narração do lance, a reação da torcida e o grito de reverencia e agradecimento da massa para o craque, num dos refrões mais populares da música brasileira, "Fio Maravilha / Nós gostamos de você /Fio Maravilha / Fazmais um pr'a gente ver".
Curiosamente, anos depois, Fio acabou processando Jorge Benjor pela utilização de seu nome sem autorização. O próprio Fio desistiu do processo sem sentido até porque, antes da música ele não era ninguém e, pelo contrário, era conhecido, exatamente, por perder muitos gols. Simplesmente, um hino do futebol brasileiro!
por Cly Reis
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
ClyBlog 5+ Discos
Esse assunto é tão importante aqui no blog que até mesmo temos uma seção dedicada exclusivamente a grandes representantes neste campo, os ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Assim, nesta série especial dos 5 anos do clyblog, não podíamos deixar de perguntar para nossos convidados quais os 5 grandes discos que fazem suas cabeças. Os indispensáveis, os clássicos, os xodózinhos, os indiscutíveis, os do coração, os que você levaria para uma ilha deserta, enfim, aqueles discos que para estas 5 pessoas são os top 5.
Então, sem mais, com vocês, clyblog 5+ discos.
músico
(Balneário Camboriú /SC)
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funcionário público e músico
(Viamão/RS)
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radialista
(Porto Alegre/RS)
e este é o verdadeiro caso em que esta mitologia está a serviço de um disco impecável;
Jeff Beck, numa era de jazz-rock e fusion, gravou O disco do gênero. Genial!!;
em "The Mad Hatter", Corea mistura Lewis Carroll com metais e cordas;
Belchior se superou com "Alucinação", falando das agruras de ser artista em plena ditadura militar;
e o "Abbey Road" é uma enciclopédia da pop music. Tudo o que veio depois já estava ali. "