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segunda-feira, 5 de julho de 2021

"Hachiko Monogatari", de Seijirô Kôyaman (1987) vs. "Sempre a Seu Lado", de Lasse Hallström (2009)




Pelé e Coutinho, Bebeto e Romário, Assis e Washington, Gullit e Van Basten, Maradona e Careca... Duplas perfeitas, companheiros feitos um para o outro, parceiros que se conheciam só pelo olhar. Assim como essas duplas lendárias do futebol, no universo do cinema, uma delas também encantou o público e produziu alguns momentos mágicos e inesquecíveis: Hachi e o Professor (seja o de agronomia da versão original, ou o de música, da refilmagem americana). Embora não sejam exatamente uma dupla de ataque, como as mencionadas acima, uma vez que nenhum dos dois, com seus temperamentos dóceis e cordatos, jamais atacariam alguém, a comparação se justifica pelo entrosamento e pela sintonia entre os dois.
Embora a história seja um pouco diferente em alguns pontos, tanto em "Hachiko Monogatari", de 1987, quanto em "Sempre a Seu Lado", de 2009, o que acontece é que um professor universitário adota um cão da raça akita e entre eles se desenvolve uma amizade acima de qualquer barreira. Qualquer barreira, mesmo! Até mesmo da morte, uma vez que, mesmo depois que o dono morre, durante um aula, Hachi continua o esperando na estação de trem, que foi o último lugar onde vira o amigo, embarcando no trem para lecionar em outra cidade. A diferença fundamental entre as versões, está no fato que, no primeiro, o cão é dado ao professor Uono, como um presente, e, no remake, ele é encontrado pelo professor Parker, por acaso, na estação de trem, perdido de sua carga original que iria para outra cidade.
Ainda que o filme original seja mais fiel à história verídica do cão fiel e seu dono falecido, ocorrida nos anos 1920, na cidade de Shibuya, no Japão, a versão adaptada americana funciona melhor cinematograficamente e o acaso do extravio, a indecisão inicial do que fazer com o bichinho, o acolhimento temporário que transforma numa adoção definitiva, dão uma contribuição melhor para a construção emocional do filme.

"Hachiko Monogatori" (1987) - trailer


"Sempre a Seu Lado" (2009) - trailer

E aí, por mais que o original tenha seus méritos, é exatamente nas "americanices", nos clichês, no apelo emocional que o remake ganha o jogo. O que muitas vezes seria defeito, neste caso específico, com um tema tão comovente e um personagem (canino) tão cativante, a aposta na "receita de bolo", aquela fórmula certa para tocar o espectador, foi extremamente acertada. E não que o filme antigo não pretenda emocionar, mas é que, se tem uma coisa que Hollywood é especialista, é nisso.
Assim, com um jogo simples, sem firula, sem enfeitar, jogando a bola na área na hora certa, ou seja, entregando para o espectador aquela cena emocionante em momentos chave, com uma série de jogadas manjadas mas eficientes, com um medalhão no time, Richard Gere, que entrega uma boa atuação, e com seu parceiro Hachi, ali, seguro, guardando a entrada estação de trem como se fosse a grande área, o time dirigido pelo bom técnico sueco Lasse Hallström, de "Minha Vida de Cachorro", se impõe diante de um bom adversário e vence a partida na casa do rival.

No alto, a dupla inseparável, nos dois filmes (à esquerda, o original).
Abaixo, a estátua para Hachiko, em Shibuya, no Japão.
Não tem estátua de grandes jogadores na frente de estádios?
A do nosso craque fica na frente da estação de trem, ora!


Um gol na jogada manjada de fazer o público chorar (mas que dá certo);
 outro da estrela do time Richard Gere, carismático e competente dando o toque de qualidade que o time precisava;
 e mais um pelo dedo do treinador, aliás experiente em assuntos caninos.
 O original faz o seu de honra pela boa qualidade do filme e pela maior fidelidade à história original. 
Placar final em Shibuya, no Japão: 3x1 para "Sempre a Seu Lado".
(A medalha de ouro não fica com os anfitriões)






Cly Reis

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

"Sexta-Feira 13", de Sean S. Cunnigham (1980) vs. "Sexta-Feira 13: Bem-Vindo a Crystal Lake", de Marcus Nispel (2009)



Alguns jogadores transcendem seus clubes e, de certa forma, são tão grandes que acabamos associando o time a eles de maneira indelével. Quando pensamos em Santos, inevitavelmente lembramos de Pelé, se falarmos em Barcelona, não tem como não pensar em Messi. Do mesmo modo, cinematograficamente, quando falamos em Sexta-Feira 13, não tem como não lembrar de Jason Vorhees. Mas nem todo mundo lembra que o primeiro "Sexta-Feira 13", lá de 1980, não tem o icônico assasino da máscara de hóquei. Quem mata no primeiro filme da franquia é a mãe, Pamela, vingando a morte do filho causada por irresponsabilidade de jovens monitores do acampamento de Crystal Lake. Assim, curiosamente, no confronto "Sexta-Feira 13" (1980) versus "Sexta-Feira 13: Bem-Vindo a Crystal Lake" (2009), o favorito joga desfalcado de sua principal estrela. Mas o time original não sente muito o desfalque. Parte para o ataque e a mamãe assassina dá conta do recado com bons recursos (machado, facão, arpão) e ótimas mortes, sustentadas pelos ótimos efeitos especiais de Tom Savini, craque na matéria. 

A nova versão, por sua vez, não é um bem um remake, embora recupere alguns fatos do original como a morte por decapitação da mãe de Jason, por exemplo. No reboot, vinte anos depois da primeira série de crimes, um grupo de jovens, informado sobre uma possível plantação de maconha, vai a Crystal Lake e acaba aniquilado por Jason, com exceção de uma garota que é capturada por ele e mantida em cativeiro. Algum tempo depois, o irmão da garota também segue para o local, acompanhado por um grupo de amigos, desta vez para procurar a desaparecida e, logicamente tudo o que temos são mais vítimas para o "nosso herói".


"Sexta-Feira 13" (1980) - todas as mortes


"Sexta-Feira 13: Bem-Vindo a Crystal Lake" (2009) - todas as mortes


O fato de contar com o nosso maníaco favorito desde o início não traz nenhuma vantagem para o novo filme. Muito pelo contrário, o torna óbvio e previsível. Embora, de um modo geral, nenhum dos dois filmes tenha nada de especial e ambos não passem de um banho de sangue, a presença revelada de Jason o tempo todo na nova versão faz com que não tenhamos nenhum expectativa diferente do que imaginemos que deva ser. Ele vai matar esse, aquele, aquele outro, o casalzinho fazendo sexo e assim por diante. No original, de 1980, pelo menos, num primeiro momento, existe a dúvida sobre quem está comentendo os crimes, e o próprio ritmo do filme, posteriormente tão copiado em filmes slasher, era, ainda então, algo um tanto instigante para o espectador. Já no novo, a figura de Jason num acampamento, numa cabana, no mato, com um facão na mão, um monte de adolescentes, peitos de fora, correria pela floresta... é o mais do mesmo de todas as outras desgastadas e cansativas sequências que a franquia original teve.

O que temos é uma vitória fácil e incontestável do filme de 1980. Um gol pelo pelo bom desenvolvimento da trama (dentro das limitações do gênero e considerando sua época, é claro); outro para o conjunto e variedade de mortes, de tudo que é tipo e com todo tipo de instrumento; outro para os efeitos especiais que mesmo antiguinhos, com menos recursos que os atuais, ainda são bem impressionantes; e mais um Pamela Vorhees que mesmo no curto período em que aparece em cena, cumpre bem seu papel e é simplesmente perturbadora com aquele seu "Mate ele, mamãe!", imitando uma vozinha de criança. A bela atuação de Betsy Palmer, como a mãe mortal, no entanto, é manchada (de sangue) quando ela perde a cabeça, no final, e deixa o time com um a menos. O time de 2009 aproveita a vantagem numérica e a boa forma de Jason, mais fininho e em boa forma, e desconta com um golzinho pela cena em que o serial-killer faz uma espécie de churrasco num casulo, assando uma garota numa fogueira, pendurada num saco de dormir. Mas fica nisso.

Garoto promissor. Jason aparece só no finalzinho 
do filme original mas já guarda o seu.


 Ainda dá tempo de, no apagar das luzes, levar mais um de um garoto que já despontava como uma grande revelação. O jovem Jason entra no finalzinho, dá o bote, puxa a marcação e surge por trás da zaga mergulhando com tudo para botar pro fundo. Esse tem tudo pra ser um grande matador.

Fim de jogo em Crystal Lake.

Um massacre! 5x1.

O filme de 1980 nem precisou de sua principal estrela para trucidar o adversário.
Parece que o Jason do filme de 2009 mascarou.



Jogo pegado, jogadas bem violentas mas o original, mais afiado,
soube usar as pontas (de facas, arpões, machados...)
 e matou o jogo sem maiores problemas.



por Cly Reis

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Gal Costa - "Legal" (1970)

 

“Entramos em campo com o que tínhamos na mão. Gal já era a maior cantora do Brasil naquele momento e esse trabalho foi muito especial, pois nós juntamos os melhores músicos da época, como Chiquinho de Moraes e Lanny Gordin. A gente procurou pensar que tínhamos que fazer o melhor naquele clima de ditadura militar: Caetano e Gil exilados, a Copa do Mundo em cima, uma confusão danada. E fizemos o nosso trabalho".  
Jards Macalé

“Genial, contemporâneo e perturbador”. 
Assucena Assucena, da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, sobre “Legal”

Ao mesmo tempo em que começa a se tornar cada vez mais comum ver os ídolos brasileiros da geração dos anos 50/60 se irem, caso de João Gilberto, Sérgio Ricardo, Moraes MoreiraLuiz Melodia e, mais recentemente, Gerson King Combo, em contrapartida, é uma enorme satisfação presenciar estas mesmas figuras referenciais chegarem à idade avançada. É mais do que só um motivo de comemoração, e sim de emoção. Caso da "água viva" da MPB: Gal Costa, que, mais do que viva, está operante e produzindo muito bem, obrigado. Gal chega aos 75 anos de idade e 55 de carreira celebrada como uma das maiores vozes do Brasil, posto que ocupa desde os anos 60 quando, junto com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Mutantes e toda a turma da Tropicália, revolucionou a musica brasileira para sempre. Parte dessa revolução, contudo, está de aniversario junto com ela: o genial disco da artista “Legal”, de 1970, que completa 50 anos de lançamento.

O contexto no qual o lançamento de “Legal” ocorreu, no entanto, não foi nada festivo. O que faz aumentar ainda mais seus méritos. AI5 em vigor há pouco mais de um ano; Caê e Gil exilados em Londres; Allende eleito no Chile; Seleção de Pelé e Jairzinho fazendo a alegria do povo; Estados Unidos bombardeando o Vietnã; Roberto Carlos tornando-se um rei “adulto”. Tudo isso sob a capa negra da “linha dura” da Ditadura Militar, que reprimia, perseguia, sequestrava, torturava e matava. Afora esta pior parte das violações à liberdade imposta pela ditadura, a repressão recaía, em maior ou menor grau, sobre qualquer um que se opusesse ao Estado. Para isso, os militares contavam, inclusive, com o policiamento da própria sociedade civil. Gal, que permaneceu no Brasil com a missão de manter tesa a sina do tropicalismo, não o fez sem vigília ou pressões. Ela conta que chegou, àquela época, a ser quase linchada em praça pública por "cidadãos do bem", que a viam como uma hippie subversiva e comunista. Afinal, pensar definitivamente não é um atributo de quem domina pela força.

Gal em 1970: cabelos repartidos
ao meio em novo visual, que
inspirou Oiticica
Toda essa brutal condição de medo e tensão – mas também de orgulhos e belezas inexoráveis – era despejada imediatamente na musica de Gal, e “Legal” é o seu álbum que melhor sintetiza esse momento. Amplificando a psicodelia e a postura rebelde dos seus trabalhos imediatamente anteriores, de 1968 e 1969, Gal vinha para não fazer concessões. Agora, ela explodia. A doce cantora que começara a carreira seguindo o estilo cool da bossa nova de João Gilberto agora soltava a voz da maneira mais aguerrida como jamais havia feito até então. Estridente, raivosa, intensa, provocadora - mas também doce quando quer. Com o auxílio nos arranjos e na banda dos igualmente arrojados Lanny Gordin – o histórico guitarrista inglês da Tropicália responsável aqui também pelas ensandecidas guitarras do disco – e do "maldito" Jards Macalé – antecipando o que este faria dois anos depois noutro LP clássico da música brasileira, “Transa”, de Caetano –, a “divina maravilhosa” baiana torna-se, agora, “terrível”. É com o então recente sucesso de Roberto que ela, num arranjo monstruoso, inicia o disco. Se “Eu Sou Terrível” soava como um ato de rebeldia na voz do seu careta autor, na de Gal, transformava-se num manifesto anti-ditadura. Na boca dela, versos como: "Estou com a razão no que digo" ou "Não tenho medo nem do perigo" significavam muito mais do que a mera e ingênua afirmação sexista da original. Ressignificadas, as palavras querem dizer, sem hesitação: "Não adianta me perseguir, que sou mais forte que vocês" e "vocês é que devem ter medo de mim".

E Gal tinha urgência. O rock com influências soul dessa indignada Etta James dos trópicos tem nos sopros arranjados por Chiquinho de Moraes e na guitarra rascante de Lanny a velocidade certa para acompanhar a cantora. Ou seja: com muita rapidez! Os garotos que andavam ao seu lado tinham certeza que ela andava mesmo apressada. Em resposta, a banda pratica o que em teoria musical se chama de “antecipação”, quando se encurta o tempo entre os acordes e joga-se uma nota estranha à harmonia, a qual, se verá logo em seguida que pertence ao acorde seguinte. Se Gal havia permanecido no Brasil, sua terra, ouvi-la dizer “Eu corro mesmo aqui no chão” fazia realmente muito sentido.

Se “Legal” começa assim, mostrando que não veio para brincadeira, o negócio era prender o fôlego e acostumar-se, pois seria assim até a última rotação da agulha no sulco. Em novo recado pros militares, Gal manda na sequência “Língua do Pe”, do exilado Gil. Já que o parceiro não podia como ela estar no seu próprio país, Gal dava um jeito de materializá-lo. Um novo rock se anuncia... só que não! Subvertendo a si mesma, de repente, a música torna-se um xaxado “pé de serra” animado no melhor estilo Luiz Gonzaga: zabumba, triângulo e sanfona. A letra, cifrada, tirava um sarro dos milicos: “Garanto que você/ Nãpão vapai não vai/ Compomprepeenpendeper/ Bulhufas”. Não compreenderam bulhufas, mesmo.

Não precisa mais do que duas faixas pra se notar que “Legal”, contrariamente ao vocábulo, não se presta a ser nada amigável com os hipócritas devotos da moral e dos bons costumes. De pura ironia e musicalidade, “Love, Try And Die”, este Broadway jazz chistoso tem a luxuosa participação de dois mitos da música pop brasileira: o jovem Tim Maia, que recém havia lançado seu exitoso disco de estreia, e de Erasmo Carlos, que, na direção oposta do pop romântico de Roberto no pós-Jovem Guarda, corajosamente alinhava-se aos tropicalistas. Autoria de Gal com seus fiéis escudeiros Macalé e Lanny, lembra a invencionice transgressora de "Cinderella Rockfella", de Rogério Duprat com os Mutantes, de 1968, e a galhofa que os próprios Roberto e Erasmo criariam em 1971 com a canção "I Love You", o solfejo tropicalista de RC.

Novos petardos: uma versão futurista de “Acauã”, de Zé Dantas, reafirmando a cultura do Nordeste como desde o início propôs o tropicalismo. A pegada regionalista, contudo, vem empunhando uma peixeira como Lampião. Inversamente a “Língua do Pe”, que inicia rocker e depois alivia, aqui é o folk regional que prevalece até boa parte da faixa, mas que ganha uma reviravolta para um baião-heavy de dar inveja a qualquer guitar band enfezada. Bem que dava para desconfiar quando Gal, no começo da música, calmamente entoa os versos: “Teu canto é penoso e faz medo/ Te cala, acauã/ Que é pra chuva voltar cedo”.

Mais uma inédita de Gil: a psycho-bossa “Mini-Mistério”. Uma só dele seria pouco pra confrontar os militares. E se “Língua do Pe” soa quase anedótica, o recado desta é bem mais direto: "Compre, olhe/ Vire e mexa/ Não custa nada/ Só lhe custa a vida". Ou que tal isso aqui?: “Procure conhecer melhor/ O cemitério do Caju/ Procure conhecer melhor/ Sobre a Santíssima Trindade/ Procure conhecer melhor/ Becos da tristíssima cidade/ Procure compreender melhor/ Filmes de suspense e de terror”. E Gal, que não tinha medo nem de filmes de suspense e de terror, repete ostensivamente a última palavra: “Terror, terror, terror, terror”. Afinal, este era o melhor termo para definir o sentimento que tomava conta daquele Brasil de terríveis minimistérios: delações, perseguições, olhos vigiando por todos os cantos, amigos presos, “amigos sumindo, assim, pra nunca mais”. Sob um suingue jazzístico acachapante, Gal ainda aconselha: “Ande muito/ Veja tudo/ Não diga nada/ Além de dois minutos”.

Gal e Macalé: alta qualidade musical contra a repressão

Jards, totalmente presente na concepção do disco, vem com outras duas suas. Primeiro, a emblemática e não menos provocativa “Hotel das Estrelas” (“No fundo do peito esse fruto/ Apodrecendo a cada dentada/ Mas isso faz muito tempo...”), que o próprio gravaria apenas dois anos depois em seu primeiro álbum solo. Interpretação tristonha e sensual de Gal na primeira parte, quando um blues jazzístico. Mas o andamento é bem mais variante que isso, e a banda acelera o ritmo para entrar numa soul quase gospel e, daí, voltar novamente à melancolia. Um arraso! De Jards e de Duda Mendonça também é o falso jazz “The Archaic Lonely Star Blues”. Falso até no idioma, pois, iniciando com versos em inglês, envereda, em seguida, para um samba-canção em que Gal deita e rola na interpretação sob o arranjo de cordas primoroso de Chiquinho de Moraes.

Transgressão pouca era bobagem para a combativa Gal. Ela guardava ainda mais munição em sua metralhadora sonora e poética. E, como as canções de Gil, vinham encomendadas também da Inglaterra as do mano Caetano. Primeiro, a carnavalesca “Deixa Sangrar”, cujo duplo sentido do título, obviamente, não é mera coincidência: “Deixa o coração bater, se despedaçar/ Chora depois, mas agora deixa sangrar/ Deixa o carnaval passar”. Alguma semelhança com a situação política de então? Neste aspecto, “Legal” ainda se beneficia pelo fato de ter sido lançado logo após o endurecimento da ditadura, ainda muito mais preocupada em reprimir a luta armada do que necessariamente censurar músicas – isso, até perceberam em seguida que o “perigo” era justamente a junção dos dois. Talvez por isso (e pela letra em inglês, esta na totalidade) tenha-se liberado “London London”, o tristonho canto de exílio de Caetano que atravessou o Atlântico trazendo ao Brasil os gélidos ventos do Velho Mundo poucos meses depois do próprio autor tê-la gravado no seu álbum londrino. Nesta rumba desenhada pela guitarra de Lanny e uma gaita de boca bem rithum n’ blues, toda a estridência que domina boa parte do disco dá lugar de vez à cantora melodiosa e de profundo apuro técnico. 

Igual à matadora versão de “Falsa Baiana”, reduzindo de vez o compasso em alta voltagem que havia iniciado o disco lá em “Eu Sou Terrível”. Bossa nova pura. Leve e melodiosa. Um contraste tremendo com o fervente início do disco. Os distraídos podem até achar que se trata de uma contradição por não perceberam mais uma ironia. “Falsa baiana” não é necessariamente aquela que "requebra direitinho", mas a que, contrariando a pecha de um povo "preguiçoso" e "acomodado", se levanta contra a atrocidade humana. Fora isso, Gal, saudavelmente apressada de novo, antecipa justamente seu mestre João Gilberto, que gravaria este samba de Geraldo Pereira somente três anos depois em semelhantes moldes.

Arte de Oiticica completa, com as
duas faces: capa e contracapa
A capa, autoria do célebre artista visual Helio Oiticica – pivô acidental no episódio da boate Sucata motivador da expulsão de Caetano e Gil do Brasil meses antes – emula o policulturalismo da capa clássica de "Sgt. Peppers", dos Beatles, ao reproduzir diversas fotos de referências constituidoras daquela proposta de obra. No entanto, além das diferentes figuras – por exemplo, Elis Regina, James Dean e a Marcha dos 100 Mil no lugar de Bob Dylan, Marylin Monroe e Karl Marx –, a arte de Oiticica direciona incisivamente esta intenção ao impregnar essas imagens fragmentadas nos cabelos de Gal (visual trazido de Londres, de onde ela recentemente viera de uma viagem) e cuja metade do rosto se agiganta em relação a todo o resto. O mundo pertence a ela, esta Medusa empoderada e resistente. Metáfora cortante de um álbum que cumpre a corajosa missão de falar por todos os exilados, os de fora e os de dentro do país. Se as vozes restavam sufocadas pelo poder das armas, havia a de Gal para representar-lhes. E acelerada, atenta e forte, sem tempo de temer a morte. Em “Legal”, como nunca ela foi porta-voz de toda uma geração. E quanta voz tem essa (verdadeira) baiana para portar!


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Gal Costa cantando "Acauã", programa Ensaio (1970)


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FAIXAS:
1. “Eu Sou Terrível” (Erasmo Carlos, Roberto Carlos) - 2:30
2. “Lingua Do P” (Gilberto Gil) - 3:40
3. “Love, Try And Die” (Gal Costa, Jards Macalé, Lanny Gordin) - 2:23 – partic.: Tim Maia e Erasmo Carlos
4. “Mini-Mistério” (Gil) - 4:16
5. “Acauã” (Zé Dantas) - 2:49
6. “Hotel Das Estrelas” (Duda Machado, Jards Macalé) - 4:22
7. “Deixa Sangrar” (Caetano Veloso) - 2:53
8. “The Archaic Lonely Star Blues” (Duda, Macalé) - 3:03
9. “London, London” (Caetano) - 4:00
10. “Falsa Baiana” (Geraldo Pereira) - 2:11


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OUÇA O DISCO:

Daniel Rodrigues

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Música da Cabeça - Programa #186

 

O MDC vem tal essa imagem aí da bandeira: separando o joio do trigo. Nessa com a gente estão Moacir Santos, Steely Dan, Cartola, New Order, Gilberto Gil, Lobão e mais. Além da conquista democrática dos hermanos chilenos no "Música de Fato", vamos ter um "Sete-List" lembrando os 80 de Pelé e um "Palavra, Lê" para o também recém aniversariante Milton Nascimento. Tudo assim hoje: sem resquício de autoritarismo, 21h, na constitucional Rádio Elétrica. Produção, apresentação e estallido social: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

COTIDIANAS nº 654 - Especial Dia do Saci - Saci Pererê



Vou prestigiar o time do Saci-Pererê
Ê, ê, ê, ê, ê
Saci de Ziraldo
Vou prestigiar
O neguinho deve ser da grande escola Pelé
É, é, é, é, é
Vou prestigiar

O moleque Saci-Pererê com uma perna só
Ó, ó, ó, ó, ó
Vai ver que é melhor
Do que muitos por aí com duas pernas-de-pau
Ah, ah, ah, ah, ah
Vai ver que é melhor

Entra um time novo, troca o time inteiro, muda tudo
Tem jeito não
Falta alguma coisa tipo liberdade, profissão de fé
Devoção
Vou buscar a fantasia no conto da carochinha
Com a varinha de condão

Moleque Saci
Vou prestigiar
Um gol Pererê
Pra gente vibrar

Moleque Saci
Saci-Pererê
Um gol de Pelé
Que é pra gente ver

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"Saci-Pererê"
Banda Black Rio
(música: Gilberto Gil)

terça-feira, 19 de junho de 2018

cotidianas #573 - Pinga



Torcedores mexicanos tirando o uniforme do jogador Tostão
na final da Copa do Mundo de 1970
Eu tomo pinga
Eu não sei o que é melhor pra mim
Eu tomo pinga
Mesmo já sabendo o que vai dar no fim
Eu tomo pinga
Será que eu tô gostando de viver assim?
Eu tomo pinga
Será que isso é bom ou ruim?

Aah... Aah....

Se eu fosse o Pelé tomava café
Se eu fosse o Tostão tirava o calção
Se eu fosse o Dario pulava no rio
Se eu fosse o Garrincha não pulava não


Eu tomo pinga
Eu não sei o que é melhor pra mim
Mesmo já sabendo o que vai dar no fim
Será que eu tô gostando de viver assim?
Será que isso é bom ou ruim?


Aah... Aah....

Se eu fosse o Pele...
Se eu fosse o Tostão...
Se eu fosse o Dario...
Eu não pulava não, eu não pulava não


****
"Pinga"
Pato Fu
(John Ulhoa)

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Museu Madame Tussauds - Londres - UK









Londres tem inúmeros museus dos mais variados estilos, assuntos e interesses, desde arte a tecnologia, de história natural a moda, mas dentre todos, um dos mais legais, clássicos e imperdíveis é o lendário museu de cera de Madame Tussauds. Com suas reproduções altamente fiéis de celebridades, o museu é um dos mais famosos e frequentados do mundo. O acervo vai sempre se renovando, adequando-se à época e aos ídolos e grandes nomes que façam parte do momento, mas algumas figuras como Pelé, Michael Jackson, Marilyn Monroe, Beatles e a realeza britânica estão sempre presentes nas coleções. Vai a Londres? Não deixe de visitar o Tussauds, que como mais uma atração, curiosamente, fica exatamente na rua que inspirou o famoso livro de Arhtur Conan Doyle para o detetive Sherlock Holmes, a Baker Street, que tem até uma estátua para o icônico personagem de romances de mistério.
Confira abaixo algumas imagens do Madame Tussauds:





Deus Salve a Rainha.
(Rainha Elizabeth e o Príncipe Consorte Philip)


Royalle with Cheese
(Samuel L. Jackson e John Travolta)
Bond, James Bond.
(Sean Connery)

Tudo é relativo.
(Albert Einstein)

Meu brother Morgan
(Morgan Freeman)

E aí, Nicolinha, será que rola?
(Nicole Kidmann)

A benção, João de Deus.
(João Paulo II)

Supense!
(Alfred Hitchcock)

Acelera, Lewis!
(Lewis Hamilton)

Beckham e a Posh Spice
(David e Victoria Beckham)

Oscar e eu, divagando.
(Oscar Wilde)

Os quatro rapazes
(The Beatles)

Vamos fazer um som, aí, Jimi!
(Jimi Hendrix)

Hum! Que peitinhos, Britney.
(Britney Spears)

Nos contentamos com o que há de melhor, não é, Winston?
(Winton Churchill)

Guilhotina neles
(Luís XVI e Robespierre, os dois à esquerda
e Maria Antonieta, bem à direita)

E na parte de fora, Sherlock Holmes, na Baker Street.


terça-feira, 29 de novembro de 2016

"Quando é Dia de Futebol", de Carlos Drummond de Andrade - Ed. Companhia das Letras (2014)



"Quando é Dia de Futebol", reunião de crônicas, poemas e cartas de Carlos Drummond de Andrade que tem o futebol como pano de fundo é meramente interessante. Com textos que atravessam o período de nove Copas do Mundo, começando na de 1954 na Suiça e culminando na do México em 1986, o poeta mineiro muito sutil e poeticamente vai montando uma linha de tempo político-social-antropológica do Brasil enquanto versa, muito descompromissadamente, sobre o esporte que é paixão nacional. E é essa paixão e a maneira como ela se manifesta no íntimo do brasileiro que o escritor consegue captar com rara sensibilidade. Drummond não era um grande entendedor de futebol, muito pelo contrário, fato que  mesmo humildemente admite comparando-se com outros cronistas como João Saldanha e Sérgio Cabral Sênior, ("Tenho que (...) fingir uma competência que nunca tive  e ir na retaguarda do Sandro, do Novais, do Saldanha do Cabral e outros cobras, deitando sabença especializada..."), mas talvez exatamente por essa "ignorância" técnica das especificidades do esporte dentro das quatro linhas e das particularidades de seus bastidores é que sua visão de leigo aficionado torne-se tão pura e válida. É curioso observar o crescimento do valor do futebol dentro do conceito e admiração de Drummond, uma vez que num primeiro momento vê com muita estranheza a demasiada atenção e importância que as pessoas dão a uma partida de futebol ("Não posso atinar bem como uma bola, jogada à distância, alcance tanta repercussão no centro de Minas") passando ao longo do tempo a fazer parte da massa fanática de torcedores sequiosos por mais um título para a Seleção Canarinho como na "oração" pedindo ao Velho lá de cima a posse definitiva da Jules Rimet, "Meu coração agora tá no México batendo pelos músculos de Gérson, unha de Tostão, a ronha de Pelé (...)/ Dê um jeito, meu velho, e faça com que essa taça/ com milagre ou sem ele nos pertença/ para sempre, assim seja... Do contrário/ ficará a nação melancônica/tão roubada em seu sonho e ardor/ que nem sei como feche a minha crônica".
Os poemas, de um modo geral, salvo algum que outro, não são dos mais inspirados de sua careira literária, beirando em determinados momentos à puerilidade, e muitos dos escritos pela brevidade ou pela ingenuidade futebolística são mesmo de valor discutível, mas devo admitir que os textos sobre Pelé e Garrincha são lindos bem como o da eliminação para a Itália na Copa de 82.
Compilação válida pela apresentação organizada e criteriosa desta outra faceta menos conhecida do grande escritor brasileiro, por essa sensível percepção do efeito que este jogo exerce sobre as pessoas,  mas no fim das contas nada que acrescente qualitativamente a tudo que já era conhecido e apreciado do grande mestre de Itabira. Craque ele era mas neste em "Quando É Dia De Futebol" não dá pra dizer que tenha sido um Pelé.




Cly Reis

sábado, 6 de agosto de 2016

Cinema e Esporte - As Modalidades Olímpicas na Telona


Começaram os jogos olímpicos!
As Olimpíadas estão oficialmente abertas e pra entrar no clima, o Claquete selecionou filmes que destacam esportes. Alguns são obras-primas, outros nem tanto, outros valem a pena serem vistos por alguma cena específica ou por alguma curiosidade mas o caso é que aqui juntaremos a Sétima Arte ao esporte e o resultado é uma lista bastante interessante. A lista foi feita assim de memória, sem buscar muito, sem grande pesquisa, então pode ter ficado faltando alguma coisa relevante que o leitor possa dar falta e que eu mesmo venha a morrer de remorso por não ter mencionado, assim como, logicamente, a lista não pretende contemplar todas as modalidades olímpicas, mas assim, de lembrança, sem pensar muito e destacando alguns esportes, eis aí:




No que diz respeito a cinema certamente não ha nada mais olímpico do que o clássico "Carruagens de Fogo" (1981). É impossível pensar num filme de atletismo sem pensar nele. Ambientado às vésperas das Olimpíadas de Paris, em 1924, "Carruagens de Fogo" centra as atenções em dois corredores da equipe inglesa, um judeu e outro cristão, que buscam classificação para os jogos evidenciando ao longo do drama suas diferenças de estilo, crenças e convicções. Filme que imortalizou a famosa trilha sonora do grupo Vangelis sobretudo pela cena de abertura com os atletas correndo em câmera lenta pela praia, Que criança nos anos oitenta não correu como se estivesse em câmera lenta imitando com a boca o som da canção tema do filme? Atire a primeira pedra.


Sequência inicial de "Carruagens de Fogo"

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Rúgbi não é um esporte muito popular no Brasil mas na África do Sul, apesar de todos os conflitos sociais e raciais pós-apartheid era um esporte que atraía a atenção do povo, o problema era que não conseguia unir brancos e negros uma vez que a população negra, apesar de apreciar o jogo, via o esporte como símbolo do regime segregacionista. Às vésperas da Copa do Mundo de Rugbi, em 1995, Nelson Mandela, recém eleito presidente do país e ainda sofrendo da desconfiança dos próprios negros e da resistência dos brancos, vê no esporte a oportunidade de unir o país como um todo em torno de um ideal e reforçar com isso o patriotismo e a autoestima de seu povo.
"Invictus" (2009) não é um filme espetacular mas é mais um dos bons filmes de Clint Eastwood e conta com a boa performance de Matt Damon como o capitão da equipe nacional sul-africana e uma atuação extraordinária e marcante de Morgan Freeman como Nelson Mandela, pelo qual foi indicado ao prêmio de melhor ator.



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"Fuga Para a Vitória", referência em filmes  de futebol.
Se o rúgbi não tem lá todo esse público por aqui, vamos falar então do esporte mais popular do país olímpico, o futebol. Sim, porque mesmo num momento desfavorável por conta da corrupção, desmandos, escândalos, desorganização, ausência de craques, resultados vexatórios, ainda é a bola redonda que manda por essas bandas. Mas o fato é que é difícil se fazer filmes de futebol. As dimensões do campo e a própria dinâmica do jogo não são facilitadores pra quem pretende fazer um longa dentro das quatro linhas. Talvez por isso, alguns dos melhores exemplos de bons filmes sobre futebol se passem fora de campo. O bom "Linha de Passe", de Walter Salles (2008) onde o sonho de um garoto pobre em alcançar o sucesso no esporte é pano de fundo para os problemas sociais na periferia de São Paulo, e o ótimo "Boleiros" de Ugo Giorgetti (1998), em que m grupo de amigos de alguma forma ligados ao futebol no passado, jogam conversa fora em um bar relembrando fatos engraçados, curiosos, tristes de suas vidas, seja na arquibancada, com um apito na ão, na casamata ou dentro do campo.
Mas dentro do campo, o filme que provavelmente conseguiu o melhor resultado prático na telona, transformando-se em um clássico do cinema, é o sempre lembrado "Fuga Para a Vitória" (1982), filme que narra a história de prisioneiros aliados na Segunda Guerra Mundial que terão uma partida contra os alemães e vêem nela a oportunidade de escapar. Apesar da falta de traquejo com a redondinha de atores como Sylvester Stallone e Michael Caine, o mestre John Huston consegue cenas de grande emoção e alta plasticidade como por exemplo a do gol de bicicleta. Sabe de quem? Vou dar uma pista: sabe o filme do Pelé que o Chaves queria tanto ver?



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Curiosamente, apesar de altamente popular nos Estados Unidos e de uma plasticidade  e dramaticidade favoráveis, o basquete, que até tem grande número de produções, não apresenta filmes de qualidade destacada. Talvez possa-se destacar o bom "He Got the Game - Jogada Decisiva", de Spike Lee com Denzel Washington (1998), o subestimado mas interessante e bem dirigido "Homens Brancos Não Sabem Enterrar", cujo título infeliz em português que parece mais de um filme pornô deve ter afugentado muita gente dos cinemas e repelido espectadores até hoje. Mas por incrível que pareça um dos mais lembrados quando se fala de bola no cesto e certamente o mais olímpico dos filmes deste esporte é "Space Jam - O Jogo do Século", que mistura personagens dos desenhos animados da Looney Tunes com astros da NBA. Tentando se libertar de alienígenas que os aprisionaram, Pernalonga e sua turma convocam ninguém menos que o astro Michael Jordan para jogar em seu time e conquistar a liberdade. Um grande barato.



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O tenso jogo de tênis de "Pacto Sinistro".
O tênis também rende bons filmes para a telona. Apesar de sua dinâmica para muitos um tanto monótona, o vai-e-vem da bolinha por si só já gera uma tensão toda particular que somente mestres conseguem explorar com verdadeira competência. É o caso, por exemplo, de Woody Allen no seu excelente "Match Point" (2005) no qual partidas de tênis mesmo aparecem em poucos momentos, e para falar a verdade, nem partidas são, são apenas treinos. Mas, a partir da genial cena de introdução que coloca o destino de uma bola que bate na rede e pode cair para qualquer dos lados na conta meramente da sorte, o filme passa a ser um jogo. Bola lá e bola cá. Quem vai matar o ponto e fechar  partida?
Mas ainda mais notável que o suspense policial de Allen, é o do mestre do gênero, Alfred Hitchcock. "Pacto Sinistro", filme de 1951, trata de dois homens que se conhecem casualmente em um trem sendo que um deles reconhece o outro como um tenista famoso, Guy Haynes, que pelo que se sabe pelos tabloides e jornais de fofoca, teria uma amante e estaria insatisfeito com seu casamento. O estranho do trem, Bruno Anthony, então propõe ao tenista uma troca de "favores", ele se livraria da esposa do tenista que insiste em não ceder o divórcio, e Haynes mataria seu pai. Ok? Claro que não! Só que mesmo sem concordância do tenista o doido dá o acordo por selado e cumpre sua parte. Só que aí ele vai cobrar a parte do outro e é aí que o negócio esquenta.
Absolutamente genial! A cena da morte da esposa de Guy, a cena do carrossel e logicamente a tensa cena do jogo de tênis são daquelas coisas de assistir de joelhos. No jogo da bolinha pequena, o mestre Hitch mais uma vez bate um bolão.



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Filmes de capa e espada sempre foram comuns e muito populares no cinema. Duelos mortais, filmes de pirata, de cavaleiros, guardas reais, e até de ficção científica como as lutas de sabre de luz na série "Star Wars", mas a esgrima propriamente dita, como esporte também parece em alguns momentos interessantes na história da sétima arte. "O Último Duelo " de F. Murray Abrahams (1993); o filme estoniano "O Esgrimista" de 2015; na parte de Louis Malle, adaptação do conto "William Wilson" de Allan Poe no coletivo "Histórias Extraordinárias" de 1968; no bom mistério juvenil "O Enigma da Pirâmide" de Barry Levinson que traz as origens do detetive Sherlock Holmes, são apenas  alguns exemplos da esgrima no cinema, mas gostaria de destacar aqui o divertido duelo de James Bond contra o milionário Gustav Graves em "007 - Um Novo Dia Para Morrer" (2002) em que os adversários começam a disputa disciplinados, nas regras da competição, mas que aos poucos vão as abandonando até causar um verdadeiro caos e destruição no elegante clube inglês que frequentam. Filme de mediano pra fraco mas gosto muito dessa cena que tem inclusive a participação da cantora Madonna. 


A cena da esgrima em duas partes: até onde o esporte estava sendo respeitado
e quando Bond e o adversário mandam tudo às favas e passa a valer qualquer coisa.




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Nas cordas, no córner, no ringue. Lá se passam alguns dos grandes filmes que o cinema já nos deu. Desde o incipiente filme de Kubrick "A Morte Passou por Perto" de 1955; o clássico do neo-realismo italiano "Rocko e Seus Irmãos", de Luchino Visconti (1960); a saga Rocky, da qual os dois primeiros filmes (1977 e 1980) são os grandes clássicos mas cujo restante da franquia mantém toda uma mitologia particular; passando pelo comovente "o Campeão" de Franco Zeffirelli (1979); por "Hurricane", de Norman Jewison (1999); pelo boxe feminino no premiado "Menina de Ouro" de Clint Eastwood (2005);"o Vencedor" (2010) com Mark Wahlberg cujas cenas de luta deixam muito a desejar; até chegar ao recente (2015) "Nocaute" de ótima atuação de Jake Gyllenhaal, a Sétima Arte vem com frequência nos proporcionado filmes com bons roteiros, qualidade técnica e requinte sobre a Nobre Arte. Verdadeiros balés de direção que parecem tentar compensar ou contrapor a violência do esporte com cenas inesquecíveis.
Talvez o que melhor traduza todas essas qualidades, sendo frequentemente apontado em diversas listas como um dos 5 melhores filmes de todos os tempos, seja "Touro Indomável" (1980), mais um das obras de arte de Martin Scorsese. As cenas de luta são extremamente bem filmadas, intensas, inquietantes com sua fotografia em preto e branco e ambiente esfumaçado, contudo o filme não se fixa meramente na trajetória atlética de um boxeur dentro do ringue. "Touro Indomável" conta a história de um boxeador talentosíssimo, Jake LaMotta, que tinha tudo para alçar vôos cada vez maiores mas que por seu temperamento e indisciplina, vai aos poucos pondo toda sua carreira e, por consequência, sua vida a perder. A contagem foi aberta.





Cly Reis