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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Live sobre “Eu te Benzo” e "Diário de uma Benzedeira", com Jacqueline Naylah - Ed. BesouroBox - 66ª Feira do Livro de Porto Alegre

 

Abençoados!

Recordo que minha mãe benzia a mim e a minha irmã para tirar quebranto, não sei o que ela entoava porque falava baixinho. Então passava seus lábios e dedos em minha testa por três vezes seguidas. Quando eu perguntava o que ela estava dizendo fazia um gesto para ficar em silêncio, mas após a benção eu sempre me sentia muito melhor. A avó paterna do Daniel, Dona Edith, era conhecida da vizinhança porque benzia quem lhe procurava. Às vezes, batia-lhe a irritação em atender, mas mesmo contrariada fazia o atendimento em sua casa. Noutras vezes, as pessoas que tinham melhora ou até se curavam, voltavam com presentes em agradecimento, daí ela ficava muito brava, contam os netos que viam suas benzeduras. Ela não esperava nada em troca, benzia só com o coração. Quando conheci a benzedeira e escritora Jacqueline Naylah, autora da BesouroBox, ela me trouxe essas memórias e lembranças que tem muito a ver com a ancestralidade e o feminino. 

O benzimento é uma ciência ancestral de cura. Existem no mundo quatro grandes nações benzedeiras: a indígena, a africana, a cigana e a católica. No Brasil, temos todas elas graças a diversidade de povos que aqui chegaram. Entretanto, está presente em quase todas as culturas da humanidade onde pessoas reforçaram essa tradição ancestral. O benzimento se utiliza basicamente do instinto, da fé e de elementos da natureza. No benzimento compreende-se que não há separação do corpo com o pensamento ou com qualquer coisa no universo. Jacque, numa das entrevistas concedidas à Revista Bons Fluídos, comenta que o benzimento é “a tradição de abençoar". Ela diz que "a benzedeira conecta as pessoas à força da Criação. Auxilia e acolhe aqueles com males físicos e dores da alma, do coração e da mente”. Ainda acrescenta que o benzimento “é feito em rituais com elementos típicos (tecidos, brasa, velas, ervas, faca, tesoura) sempre entoando rezos, mantras ou orações particulares de cada benzedeira”.

A missão que Jacque tem é a de perpetuar esse legado. “Quero garantir que, no futuro, as pessoas tenham casas de benzedeiras para bater quando estiverem em situação de dor e reafirmar a sua fé”, diz. Nos últimos dois anos percebi uma abertura maior para relatos de benzedeiras de todas as partes do país, hoje totalmente conectadas com as tecnologias, fazendo atendimentos à distância, ministrando cursos e seminários para orientar benzedeiros. Dentre tantas formas de abençoar, ressaltadas por Jacqueline uma é bem inusitada. Ela conheceu uma benzedeira que em todos os atendimentos contava a história do nascimento de Jesus, “tão lindo, tão único, tão dela”, comenta Jacqueline.

Com formação em Biologia e especialidade em biopatologia, Jacqueline aliou conhecimentos científicos aos conhecimentos das medicinas milenares e promove encontros, cursos e palestras, observando o ser humano em sua totalidade. Essa prática resultou em dois livros publicados pelo selo BesouroLux: “Eu te Benzo - o legado de minhas ancestrais”, em 2019, e “Diário de uma Benzedeira – Rezos, Alquimias, Receitas, Benzimentos e Simpatias”, lançado em março de 2020. Idealizou e ministra o Curso de Benzimento transmitindo o legado das suas ancestrais peregrinando praticamente por todo o território brasileiro. Mora em Porto Alegre/RS, é casada com Gilberto e mãe de dois meninos, Nicolas e Pietro. Amanhã, a 2ª LIVE da editora BesouroBox será com ela, que dará dicas bem legais. Esperamos vocês, “abençoados” (dessa forma que Jacque se refere carinhosamente às pessoas nas redes sociais), às 19h30, no canal oficial do Youtube da editora.


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o que: Live com Jacqueline Naylah sobre "Eu te Benzo - o legado de minhas ancestrais” e "Diário de uma Benzedeira - Rezos, Alquimias, Receitas, Benzimentos e Simpatias"
quando: 6 de novembro, 19h30
mediação: Leocádia Costa
evento: Feira do Livro de Porto Alegre

Leocádia Costa

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Live "Seu Sete da Lira", com Cristian Siqueira - Ed. BesouroBox - 66ª Feira do Livro de Porto Alegre

Laroyê Mojubá, Exu! Abre alas que Seu Sete Rei da Lira é para quem te fé!


A Umbanda é uma das religiões mais brasileiras que existe, pois reúne conhecimentos dos indígenas, africanos e cristãos em seus cultos. Quando li sobre Umbanda já estava mergulhada no selo Legião da editora BesouroBox e ali comecei a conhecer mais sobre o assunto. Desmistifiquei muitas crenças, entre elas a de que os praticantes de Umbanda não estudam. Hoje em dia, a maioria dos dirigentes que se propõem a ingressar na missão de serem condutores de corações e mentes, estudam, escrevem, lidam bem com as redes sociais e ministram cursos e são pesquisadores ativos. Tudo isso faz parte do reconhecimento que a Umbanda vem angariando através dos 112 anos de existência e de muita resistência. 

Numa pesquisa realizada a poucos anos, ficamos sabendo que boa parte das pessoas que se dizem umbandistas hoje são brancos e jovens é a conhecida "Umbanda de Allstar". Isso aponta para uma mudança profunda na relação com as nossas raízes mais genuínas. Outro aspecto que temos percebido é a grande diversidade de altares, não somente com imagens sincretizadas vindas dos tempos de que o culto por crenças afro era algo ameaçador aos senhores de engenho, mas mesclados com imagens e crenças vindas também do Oriente, ou seja, é uma religião em evolução, em uma fase de mudança e abrangência de saberes. 

Desse grupo de estudiosos e divulgadores da Umbanda, surge o jovem Cristian Siqueira, que aos 18 anos funda o Acervo Histórico Sete da Lira na cidade de Cuiabá, Mato Grosso. A partir desse fato, ele não somente acolhe e organiza esse acervo, como recebe a missão espiritual e o aval da família de Mãe Cacilda para escrever um livro sobre a médium que parou o país. “O Fenômeno Seu Sete da Lira – a médium que parou o Brasil” foi gestado por alguns anos por Cristian e a família de Mãe Cacilda, que depositou nele toda a confiança da missão oferecida e cumprida com êxito. Em 2019, uma campanha de divulgação para o lançamento em março de 2020 deixou claro o legado de Mãe Cacilda. Em plena pandemia desse ano, Seu Sete foi lançado, como uma âncora de esperança e cura, pois em Santíssimo, no Rio de Janeiro, ele curou milhares de pessoas com o seu marafo e o seu axé.  

Mãe Cacilda esteve em dois programas de maior audiência da década de 70/80: os programas do Chacrinha e Flávio Cavalcanti, ambos ligados a Seu Sete. Ela também sofreu ataques da imprensa, pois de certa forma expôs publicamente uma crença que não tinha espaço numa sociedade fechada e católica. A trajetória da médium Cacilda e da entidade curativa e magnetizadora de multidões de Seu Sete desaguaram num livro instigante, com uma narrativa jornalística e cheia de fatos históricos. Como diz Cristian, Seu Sete é um "divisor de águas" na história da Umbanda. Que ele seja igualmente um bom motivo para praticantes conhecerem melhor tudo aquilo que envolve a Umbanda no Brasil e se apossem desse conhecimento para continuar estudando e registrando seu legado a novas gerações. Diferente do que muitas pessoas dizem e pensam, há excelentes estudos sobre a Umbanda, basta querer aprender com quem sabe ensinar, e que antes de tudo conhece a sua própria história. 

Hoje, o selo Legião da Editora BesouroBox realiza das 19h30 às 20h30 a LIVE com o autor Cristian Siqueira e mediação minha, no canal de Youtube da editora. Será com certeza uma ótima oportunidade para conhecer mais sobre o Rei da Lira e Mãe Cacilda. Saravá!

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o que: Live com Cristian Siqueira sobre "Seu Sete da Lira"
quando: 4 de novembro, 19h30
mediação: Leocádia Costa
evento: Feira do Livro de Porto Alegre


Leocádia Costa

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

“A Vida não me Assusta”, de Maya Angelou e ilustrações de Jean-Michel Basquiat - ed. DarkSide Books (1993)

Basquiat e Angelou



Numa edição caprichada por ocasião da exposição de Jean-Michel Basquiat no CCBB/RJ em 2018, “Jean-Michel Basquiat Obras da Coleção Mugrabi”, e dos 25 anos do premiado poema de Maya Angelou encontrei na Livraria da Travessa do mesmo local, sob holofotes, o livro, não à toa, o que me pareceu ser uma síntese muito sensível do que eu havia visitado visualmente horas antes. 

O livro traz o poema ilustrado com pinturas de Basquiat. Conforme comenta Sara Boyers, que assina o posfácio do livro, “A Vida não me Assusta” é sobre a experiência de vida, perseverança e orgulho. Basquiat e Angelou encontraram o seu lugar na história das próprias vidas. Nem sempre é fácil ou óbvio que isso aconteça. A maior parte das pessoas escolhe viver iludido, viver a vida de outros, achar que um dia será algo diferente do que traz internamente. alguns vivem toda a sua existência distantes de si. Mas eles reinventaram suas existências. Trouxeram suas falas para questões raciais, cheias de obstáculos e superações que eles mesmos vivenciaram minuto a minuto. Cada um deles criou obras singulares. Ambos nos deixaram uma dica preciosa: a de utilizarmos nossas experiências pessoais para construirmos novos olhares para outras pessoas além de nós. 

A história deles é um convite para você mergulhar em sua própria história. Coragem, porque a vida não deve nos assustar, mas sim nos desafiar a oferecer esse tempo de aprendizado sobre si mesmo da melhor forma. E, sem dúvida, a Arte é sempre uma inquieta e profunda companheira de viagem!   

Vídeo gravado em 2020 #fiqueemcasa


Leocádia Costa

domingo, 1 de novembro de 2020

Live "Um universo de semelhanças, diferenças e tolerância", com Monja Coen e Norberto Peixoto - 66ª Feira do Livro de Porto Alegre



Monja Coen me foi apresentada duas vezes nesta encarnação. Primeiro a conheci através do Waldemar Falcão. A história é a seguinte: o astrólogo chegou à nossa família através da minha irmã, que numa viagem ao Rio de Janeiro fez com ele um mapa astral. Waldemar, que além de ter esse oficio ligado ao Cosmos é também jornalista e havia escrito dois livros superconectados com a Espiritualidade: “Encontros com Médiuns Notáveis”, em que relata suas vivências no campo espiritual ao lado de diversos sensitivos, inclusive daquela que Chico Xavier denominou “a maior médium do mundo”, publicado pela Editora Nova Era, em 2006. E depois, dois anos mais tarde, o genial “O Deus de cada Um” em que reúne Frei Betto e Marcelo Gleiser, com o subtítulo “Conversa sobre a ciência e a fé” em que esse trio dialoga, num período de reclusão na serra carioca, sobre diversos assuntos ligados a esse tema, publicado pela Editora Agir, em 2008. Eu só fui ler sobre a Monja Coen em 2008, quando li o primeiro livro de Waldemar e num texto sobre ela fiz a minha sintonia imediata. Eu já estava lendo muito sobre Budismo, mas não havia chegado com mais foco ao zen-budismo. 

A partir dali, fui me aproximando do zen, devagar. Na mesma época, eu fazia terapia com a Maria da Paz (falecida recentemente, em 2018), que sempre esteve ligada ao zen, e inclusive fez parte da formação de algumas sangas bem conhecidas no RS. Ela então me apresentou mais a Monja Coen, de quem era uma admiradora e parceira da mesma geração da contracultura e de todas as revoluções realizadas coletivamente. Monja Coen é uma mulher com uma trajetória espiritual que chegou a essa condição por sua construção moral. Sua mente é arejada, suas falas muito lúcidas e divertidas, conseguem mesclar os profundos ensinamentos de Buda entre as cenas do cotidiano vivido por todos nós mundanos. Estar no mundo e se relacionando uns com os outros é a única forma de aprender a amar. Dar um passo à frente no autoconhecimento. Ser Monja é estar em constante evolução, por ser alguém melhor, firmar o exemplo, assim a entendo. 

Na 63ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, em 2017, pude ter um momento único em que troquei algumas palavras com a Monja Coen, no palco do Teatro Carlos Urbim, antes da sua palestra lotadíssima. Iris Borges, que estava lá fotografando para a nossa equipe da Feira, me chamou no palco minutos antes da Monja iniciar a sua fala e eu tive a oportunidade de agradecer por suas palestras virtuais que tanto me ajudaram a refletir sobre meu processo de saúde. Neste domingo, a 66ª Feira do Livro de Porto Alegre abre espaço para mais um encontro ecumênico, em que a Monja Coen e o médium-sacerdote umbandista Norberto Peixoto (Pérolas de Ramatís), estarão presentes virtualmente. Com Norberto tive a oportunidade de mediar dois encontros, em duas edições da Feira do Livro, pois ele é um dos autores que mais escreve para o selo Legião, da editora em que trabalho, BesouroBox. Monja Coen e Norberto Peixoto irão conversar sobre tolerância, diferenças e semelhanças, algo tão relevante num momento polarizado como este que estamos atravessando, em que a empatia e o diálogo são imprescindíveis. 

Não perca: dia 1º de novembro de 2020, às 19h30, no canal de Youtube da Feira do Livro!


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o que: Live com Monja Coen e Norberto Peixoto
tema: Um universo de semelhanças, diferenças e tolerância
quando: 1º de novembro, 19h30
como: Feira do Livro de Porto Alegre, plataforma on-line
realização: Câmara Rio-Grandense do Livro


texto: Leocádia Costa
foto: Íris Borges

sábado, 31 de outubro de 2020

Live "As sintonias da vida e da morte”, com Rosa Montero - 66ª Feira do Livro de Porto Alegre



Rosa Montero é espanhola, mulher, professora, escritora e jornalista. Sim, essas quatro fracções de vida dizem muito da literatura que ela produz. Rosa fala em seus livros de questões as vezes autobiográficas, daquilo que sente, do modo como percebe a sua condição, que está interligada a esses e outros tantos aspectos da vida. É premiada por alguns setores de relevância literária e como professora inspirou jovens a escreverem aquilo que lhes motiva, seja de ordem emocional ou simplesmente aquilo que vivem. 

Descobri-a em dois momentos interessantes da minha vida e guardo seus livros como artigos preciosos desse saber feminino que fala de uma maneira tão próxima, que a elegi como uma amiga faz 15 anos. O primeiro livro comprei durante uma Feira do Livro em 2005 quando entrei na loja do MARGS com a minha irmã. Queríamos ver as novidades, mas nada agradou de imediato. Este livro, porém, me chamou a atenção pelo título: “A Louca da Casa”. Pronto, eu disse: “sou eu, esse livro fala de mim!” E não deu outra: comprei-o e comecei a ler no mesmo dia. Devorei-me! (risos) Não seria diferente com um livro que começa assim: “Estou acostumada a organizar as lembranças da minha vida em torno de um rol de namorados e de livros”, por exemplo. A forma coloquial e desapegada aparentemente com que Rosa escreve e o senso de humor que ela tem de si mesma ou de suas personagens me fez rir, chorar, refletir e, por fim, procurar outro livro dela para ler. Um "tira-dúvidas", pensei, ainda duvidando se noutra publicação ela se manteria fiel à sua essência. 

Rosa Montero: 
inspiração feminina
Demorei mas, em 2009, buscando um presente de Dia das Mães para a minha, entrei noutra livraria (que dúvida!) e descobri outro título dela: “História de Mulheres”. Bah! A espera valeu a pena! Nesse livro ela recupera, sem nenhum pudor, mulheres conhecidas e, nem tanto, da história mundial e fala sobre elas de uma forma tão comovente que todas ficaram vivas ali no instante em que eu lia sobre as suas vidas. Além disso, Rosa faz um firme posicionamento feminista em relação ao lugar que nós mulheres ocupamos na história de tudo o que há nesse mundo, vasto mundo!.

Amigos, as edições que tenho são antigas, das editoras AGIR e EDIOURO, mas procurem ler Rosa Montero, porque ela é transformadora. Uma vez lida, será para sempre sua amiga e com certeza fará você rir mais de si mesmo, de um jeito carinhoso, engraçado e ao mesmo tempo profundo. Coragem, Olé! A LIVE com ela im-per-dí-vel será dia 31/10/2020, às 15h, no canal da Feira do Livro de Porto Alegre, tendo como tema “As sintonias da vida e da morte”.

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o que: Live com Rosa Montero
tema: As sintonias da vida e da morte
quando: 31 de outubro, 15h
como: Feira do Livro de Porto Alegre, plataforma on-line
realização: Câmara Rio-Grandense do Livro

Texto: Leocádia Costa
Fotos: Daniel Rodrigues e divulgação

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

66ª Feira do Livro de Porto Alegre

Janelas Abertas para o Mundo



Sim, levamos 66 edições para aderir à tecnologia. Não fosse a pandemia, talvez nossa Feira ficasse ainda restrita aos encontros presenciais, às atividades que somente quem ia até a Praça poderia usufruir. Hoje, com a chegada da virtualidade para ficar por mais tempo ativa entre todos nós, as janelas se abrem para todos os locais do planetinha. Pessoas até então inviáveis, dada a distância geográfica, os custos e os compromissos, agora estão na programação oficial da Câmara Rio-Grandense do Livro. 

Que bom. Eu não podia ficar fora dessa edição, por isso, estarei publicando diariamente considerações sobre o que gosto de fazer quando o tema é literatura, através das janelas da minha casa, da minha biblioteca, do estúdio da editora onde vou encontrar todos vocês, os autores e seus convidados nas LIVES da Besouro Box para compartilharmos vida! Acesse os conteúdos no fanpage do Clyblog e no álbum 66ª FLPOA _ Janelas Abertas para o Mundo no meu Facebook.


o que: 66ª Feira do Livro de Porto Alegre
quando: de 30 de outubro a 15 de novembro de 2020
como: plataforma on-line
mote: "As janelas do mundo abertas para a Praça"
realização: Câmara Rio-Grandense do Livro
patrono da edição: Jeferson Tenório
www.feiradolivropoa.com.br 

Leocádia Costa

sábado, 24 de outubro de 2020

"Os Frutos da Terra", de André Gide - Grandes Sucessos da Literatura Internacional - ed. Rio Gráfica (1986) - originais de 1897/1935

 



"Quando não puderes dizer 
'tanto melhor',
dize 'não faz mal';
há nisso grandes promessas de felicidade."
"Os Frutos da Terra", 
André Gide


"Os Frutos da Terra"
é, para mim, uma espécie de amigo. É um livro ao qual eu recorro com frequência em momentos que preciso de algum rumo, orientação, tranquilidade ou mesmo beleza. Ainda que, para mim funcione como uma espécie de auto-ajuda, o autor, André Gide, Prêmio Nobel de Literatura, faz questão  de esclarecer isso logo no início, num pequeno prefácio de uma segunda edição, extremamente sincero, que me conquistou imediatamente. "Frutos da Terra é o livro, se não de um doente, de um convalescente, pelo menos de um curado - de alguém que esteve doente. Há em seu lirismo, o excesso de quem abraça a vida como algo que por pouco perdeu." .

Procurando por algo para ler, naquele momento em que se finaliza um livro e fica-se naquela dúvida sobre qual será o proximo, recorri à coleção do meu pai que, embora assíduo nas leituras, não tirava grande proveito do que lhe passava pela frente. Assim, tinha, muitas vezes, bons títulos, grandes autores, mas sequer tinha lido ou não tinha a noção exata do que determinada obra representava ou o quanto aquilo guardava de qualidade literária. Em busca de algo novo, diferente, que fugisse de padrões convencionais, fui vasculhar no meio de sua pequena biblioteca. Me deparei então o tal "Os Frutos da Terra". Francês, premiado, uma coleção boa da editora Rio Gráfica, que eu já conhecia e sabia que costumava ter bons títulos... Hum... Vou dar uma olhada no prefácio... "Escrevia este livro num momento em que a literatura cheirava furiosamente a convenção e a mofo; em que me parecia urgente fazê-la tocar de novo a terra e pousar simplesmente um pé no chão". Era exatamente o que eu procurava.

E esse formato inquieto, inconformado, ágil, é exatamente o que se encontra nas páginas de "Os Frutos da Terra". Gide transita entre a prosa, o verso, a crônica, a ficção, a autobiografia, o onírico, o fantástico, de maneira apaixonada e apaixonante, com o prazer de quem saboreia a vida a cada gota. 

André Gide relata experiências, reais e imaginárias, em lugares que visitou ou em que nunca esteve, com pessoas que conhecera de verdade ou que nunca existiram ("... se nele falo pr vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi (...), não é por hipocrisia..."), que o teriam feito adquirir um gosto ainda maior pela vida, numa verdadeira revelação dos prazeres nas pequenas coisas, pelo valor de cada momento, de cada vivência. 

Conforme disse anteriormente, "Os Frutos da Terra" atua na minha vida quase como um conselheiro e essa sensação de proximidade, de cumplicidade fica amplificada pelo fato do autor se dirigir, praticamente durante todo o livro, a um interlocutor fictício a quem ele chama de Nathanael, mas que por conta de sua pessoalidade e sinceridade, faz com que pareça estar se dirigindo de uma forma muito direta a nós leitores, como seu estivesse sentado com a gente, debaixo de uma árvore, conversando sobre as coisas da vida ("Nathanael, gostaria de te dar uma alegria que nenhum outro te houvesse dado ainda. Não sei como dá-la e no entanto possuo essa alegria. Desejaria voltar-me para ti mais intimamente do que ninguém o fez ainda (...) Desejaria aproximar-me de ti, e que me ames.").

O livro se divide em duas partes, "Os Frutos da Terra" e "Os Novos Frutos", escritas, curiosamente, em épocas diferentes, com um grande espaço de tempo entre a conclusão de um (1897) e o início do outro (1935). Embora contenha uma boa unidade e uma coerência, a primeira metade é, por assim dizer, mais encantadora que a complementar, que por sua vez é um pouco mais reflexiva e espiritualizada. No entanto não seria justo afirmar que a sequência seja "pior" que o escrito original pois há nela há passagens belíssimas, o teor das reflexões é tão valioso quanto o do inicial e a qualidade literária permanece intocada. "Os Novos Frutos", dentre tantas frases, trechos, pensamentos que poderia destacar, traz os maravilhosos "Encontros", capítulos em que o autor conhece ou interage com outros personagens (reais ou não), que de alguma forma, lhe proporcionam alguma nova perspectiva para sua existência, como o que conhece o inventor da casa de botão, e a impagável conversa com Deus, num "papo-reto", sincerão no qual, se tivesse acontecido mesmo, não duvido, que o Criador dissesse exatamente o que Gide imaginou. Reproduzo aqui parte da passagem: 

"- Pois bem. Então escuta-me - disse Deus - Alguns desejariam sempre que eu interviesse e perturbasse para eles a ordem estabelecida. Seria complicar demasiado as coisas, e trapacear, se eu não permanecesse fiel a minhas leis. Que aprendam um pouco melhor a submeter-se a elas; que compreendam que é dessa maneira que melhor proveito tirarão delas. O homem pode muito mais do que imagina.

- O homem está na merda - disse eu.

- Pois que saia dela - continuou Deus; - é para patentear-lhe a minha estima que o deixo safar-se sozinho."

Depois de todas as lições, experiências, conselhos, absorvidos, devo admitir que, invariavelmente, ainda hoje, mesmo depois de já tê-lo lido inúmeras vezes, chego às últimas páginas às lágrimas. Mesmo quando é pretensioso em aconselhar, Gide é fascinante, e sua convicção no que aprendeu na vida e os caminhos que o fizeram chegar às conclusões que ali descreve, são cativantes o bastante para que o leitor feche a última página determinado a viver mais e mais e mais e tente, cada dia, ser uma pessoa um pouquinho melhor, e para afiançar o que digo, assim termina "Os Frutos da Terra":

"Nathanael, agora joga fora meu livro. Emancipa-te dele. Abandona-me (...) Estou farto de fingir educar alguém. Quando te disse que te queria igual a mim? É porque diferes de mim que te amo; só amo em ti o que difere de mim (...).

O que um outro poderia fazer tão bem quanto tu mesmo, não o faças. o que um outro poderia dizer tão bem quanto tu mesmo, não o digas - e o que poderia escrever como tu, não o escrevas. Só te apegues em ti ao que sintas que não se encontre alhures senão em ti, e cria em ti, impaciente e pacientemente, ah! o mais insubstituível dos seres.".


Cly Reis

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

cotidianas #694 - tarde nunca

 

sou homem velho 

coisa velha 

Detalhe de auto-retrato de Rembrandt quando
velho, 1869
artista velho

que chegou velho

- que chegou tarde

artista

tarde


isso:

artista do velho

artista do tarde

da arte

artistarde 

do que nunca


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poema "tarde nunca"
de Daniel Rodrigues
(out/20)

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

cotidianas #688 - Pílula Surrealista #42


Ouviram-se várias batidas de portas de entrada fechando-se, todas praticamente ao mesmo momento, ecoando pelos corredores permanente gélidos do condomínio. Reuniram-se pontualmente na hora marcada no hall de entrada, exatamente 16 vizinhos. Todos de máscara no rosto. Dividiram-se em seus vários carros em direção ao local onde se encontrariam, exatamente 28 minutos e 31 segundos depois de partirem do bairro nobre da Zona Norte. Chegaram naquele casebre na região Sul, pobre e desfavorecida. Mas não se importavam com a desvalia do lugar e nem muito menos com quem procuravam. Queriam, aliás, isso mesmo: seu desfavorecimento. Saídos de seus apartamentos devidamente alimentados para poderem executar a tarefa conjunta a qual haviam se proposto, um linchamento seguido de incêndio à propriedade (se é que dá para chamar aquela maloca velha e irregular de “propriedade”), não levaram muito tempo para, tomados de uma raiva supervalorizada e de uma razão a qual nem sabiam que suportavam, darem por realizado o serviço. Ainda com as mãos sujas e um tanto transpirados, um deles teve a preocupação de alcançar álcool em gel aos outros, que, muito agradecidos por aquele cuidado, se desinfetassem. Emocionaram-se, na verdade, com o gesto. Afinal, os riscos são muitos nessa vida. Notou-se, entretanto, que aquele ato de compartilhamento era o primeiro gesto social que acontecia entre eles, que, embora exitosos coletivamente na demanda a qual haviam se proposto, entre eles mesmos, nada haviam trocado além de um sentimento de vingança consensualmente justificado. Foi quando um deles, sob a iluminação intermitente do fogo incendiário que os aquecia mesmo que a certa distância, propôs amigavelmente que se conhecessem melhor. O primeiro e instintivo movimento foi de tirarem as máscaras. Viram, ou melhor, constataram que todos tinham o mesmo rosto. Idênticos. Menos por surpresa e mais por constrangimento, um a um repuseram suas máscaras faciais e retornaram sem pronunciar uma palavra a seus veículos blindados e insufilmados de modo que ninguém, nem mesmo eles entre si, os vissem tornarem a seus seguros, réplicos, espaçosos e gélidos apartamentos.

Daniel Rodrigues

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

"Essa Gente", de Chico Buarque, ed. Companhia das Letras (2019)



"Essa Gente", último trabalho literário de Chico Buarque, não chega a ser uma decepção, mas passa longe das melhores expectativas que eu pudesse ter. Se a irregularidade de "O Irmão Alemão" podia ser relevada pelo caráter autobiográfico do romance e alguma possível dificuldade de conciliar as características ficcionais com as realísticas, aliadas a um compromisso com os fatos ocorridos e sua cronologia, somados ainda a uma eventual carga emocional que o relato pudesse carregar, no novo romance não há tantos atenuantes para uma obra tão simplória. Chico escreve bem, é claro, o livro não é um lixo, mas em "Essa Gente" parece excessivamente relaxado e quase descompromissado com o produto final. O livro concentra suas atenções na vida do personagem Duarte, um escritor que alcançara sucesso com um de seus romances mas que no momento vive uma crise criativa, sendo constantemente cobrado pelo editor para concluir seu prometido novo trabalho. Em meio a isso convive com questões mal-resolvidas com as ex-esposas, tenta uma aproximação com o filho adolescente, vai sobrevivendo do jeito que pode às dificuldades financeiras, conhece pessoas em suas caminhadas pelo Leblon e idas à praia e vivencia situções cotidianas, que vão lhe servindo de material para a construção do livro que vai se escrevendo e se confundindo com sua prórpia vida ao mesmo tempo que vamos acompanhando o passar de seus dias, num relato em forma de diário. Embora Duarte seja o protagonista, "Essa Gente" é mais sobre todo o entorno do personagem, todo o contexto, do que exatamente sobre ele mesmo. A crise econômica, política, social e moral do país; a natureza das pessoas que o cercam; as distorções sociais com a dura realidade do brasileiro comum e os privilégios das classes altas... e ele, Duarte, como que vivendo entre dois mundos, em meio a isso tudo, por uma lado ainda desfrutando do prestígio de seu romance de sucesso, de um sobrenome de respeito, da sombra de uma antiga condição social, e por outro, se equilibrando na corda bamba com para pagar as contas, para viver, longe de viver seus melhores momentos como escritor e sentindo-se mais à vontade com o pessoal da favela do que com os da alta-roda carioca.
No fim das contas, embora não seja ruim e tenha lá seus méritos, a gente lê "Essa Gente" e sai com aquela sensação de "Tá bom, né...", mas, no íntimo, lá no fundo querendo mais. E a gente quer mais porque sabe que dali sai mais. É que Chico meio que nos deixou mal acostumados. Depois da boa estreia com "Estorvo", aquela crescente empolgante com "Benjamim", "Budapeste" e "Leite Derramado", nos fez esperar sempre por coisas maravilhosas e às vezes vem coisas... normais. Coisas que parecem ter saído de um escritor comum. O problema é que nós sabemos que não é.


Cly Reis

sexta-feira, 10 de julho de 2020

“Robôs em Apuros”, de Neusa Sá e ilustrações de Maria Luiza Salvador - ed. RiMa Editora (2020)



“Sempre fui apaixonada por estória! Quando pequena eu conversava com personagens imaginários. Ao perguntarem com quem estava falando, narrava muitas estórias desses meus amigos: quem eram, de onde vinham, o que faziam. Se eles existiram de verdade? Não sei. O certo é que me deram todo o suporte para eu continuar contando estórias e criando outras, como a que está neste livro ‘Robôs em Apuros’.”
Neusa Sá

Taí um livro superinteressante, que promete conquistar leitores pequenos e também mais grandinhos: é “Robôs em Apuros”, escrito pela educadora Neusa Sá e ilustrado por Maria Luiza Salvador, que está sendo lançado pela RiMa Editora. Nessa aventura infanto-juvenil, a linha de produção de robôs de uma fábrica, em Robocópolis, entra em pane. É nesse contexto que surge Robolino, um robô criança que vai tentar desvendar o misterioso defeito na fabricação dos Robôs Assistentes para o Lar. É possível, no entanto, que a descoberta de Robolino possa ajudar os leitores a desvendarem algum mistério em sua vida.

O simpático Robolino, o personagem que tem a missão de salvar Robocópolis
Quando pensou em colocar no papel as estórias que lhe chegavam, Neusa Sá não imaginava que reuniria cinco textos para crianças. Tanto a autora como a editora possuem um olhar diferenciado para os leitores a quem essa publicação se dirige, visto que decidiram lançar o livro em plena pandemia para oportunizar que mais crianças pudessem conhecer a história de transformação que Robolino promove em sua comunidade.

Ilustração de Maria Luiz para a estória
de Neusa
"Graças ao incentivo da Profa. Dra. Tânia Fortuna (UFRGS) e do Prof. Dr. Euclides Redin (UNISINOS), me dediquei ao estudo da importância do brincar na educação e na vida. Acredito que nesse momento emergiu o Robolino, que estava adormecido dentro de mim", conta Neusa.

Além disso, o projeto tem mais uma proposta superinteressante e louvável: para a pré-venda, até o dia 15 de julho, foi estabelecida uma parceria entre a autora, a editora e a Casa do Jardim, entidade espírita assistencial de Porto Alegre/RS. Na compra dois exemplares, um deles é automaticamente doado às instituições atendidas pela Casa do Jardim, que reúnem crianças leitoras em situação carente. Além disso, toda a venda do livro foi doada por Neusa Sá à Casa do Jardim.

Saiba mais sobre a autora e a ilustradora de “Robôs em Apuros”:



Natural de Porto Alegre, Neusa Sá é formada no Magistério desde 1986. Anos mais tarde, formou-se em Pedagogia com ênfase em Educação Infantil/UFRGS e Psicopedagoga Clínica e Institucional pela PUCRS. Tem Mestrado em Educação pela UNISINOS. Trabalhou como professora na RME de Porto Alegre (RS). “Esse livro com certeza será lido por educadores, famílias e jovens leitores estimulando ainda mais o ensino através da literatura”.








Maria Luiza Salvador: Nascida no interior de São Paulo, cresceu apaixonada por desenhos animados da Disney, animes japoneses, revistinhas da Turma da Mônica e pelos desenhos do próprio pai. Possui graduação em Desenho Industrial, na Universidade Mackenzie (SP), até se aperfeiçoarem dentro da Quanta Academia de Artes. Atualmente, mora na Bahia e seus desenhos ilustram livros, roteiros, cenários e personagens de desenhos animados.







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“Robôs em Apuros”
de Neusá Sá
ilustrações: Maria Luiza Salvador 
Ed. RiMa (2020)
16 páginas

Pré-Venda: Até 15 de julho, ao comprar o livro, você estará participando de uma Campanha que beneficiará crianças e jovens leitores de instituições assistidas pela Casa do Jardim. Na compra de 2 livros, um deles é automaticamente doado. Isso mesmo: ao comprar 2 livros (R$50,00+ frete), um deles será doado às instituições. Dessa forma milhares de crianças e jovens terão acesso a essa linda estória! 

Links:
Casa do Jardim:
Site: http://www.casadojardim.com.br/web/
Rádio Web: https://www.radiocasadojardim.com.br
Instagram: https://www.instagram.com/casa.do.jardim
Facebook: https://www.facebook.com/jardimmaior129


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 16 de março de 2020

cotidianas #672 - Pílula Surrealista #41


Sem apreciar o sabor de nada, Fábio almoçava no restaurante da esquina a mascadas lentas e sem vontade quando seus dentes morderam algo pedregoso. De má fama perante os colegas de firma, o restaurante era para os padrões não muito exigentes de Fábio aceitável. Mas pedra na comida?! Isso ele não esperava. Teria vindo misturado ao arroz de má qualidade? Ou uma pedra escura disfarçada entre os feijões, que também foi para a panela junto com os grãos mas, diferentemente destes, não amoleceu? Teria de admitir aos colegas que, sim, eles estavam certos com relação àquele estabelecimento “morte lenta”, aquele “pé-sujo” desqualificado.

Mas não demorou para perceber que estava enganado: o pedaço duro e um tanto esfarelento que mordera era, na verdade, um dente. Seu próprio dente, mais especificamente um segundo pré-molar inferior. Recolheu-o entre os lábios discretamente com a ponta dos dedos para que ninguém à sua volta percebesse, mas
não conseguira esconder o espanto quando enxergou aquele pedaço de osso bucal, que se desprendera inteiro de sua boca como que arrancado com instrumento de extração. Ficou a admirá-lo por alguns segundos escondido à altura da mesa, assombrado com algo de seu próprio corpo que lhe parecia um desconhecido. Um pedaço de si usado todos os dias mas que, estranhamente, nunca tinha visto por aquele ângulo, por aquela perspectiva em três dimensões. “Será que é assim que minha dentista enxerga meus dentes?”, refletiu Fábio.

Enrolou o novo conhecido num guardanapo de papel, guardou-o no bolso e foi embora dali. Nem sequer terminou o almoço, o qual recém havia dados as primeiras garfadas. Foi direto para o banheiro da dispensa da firma. Mirou-se no pequeno espelho e refletiu sobre a oportunidade que se abria diante de si... Nunca conseguira enxergar-se por dentro, conhecer-se, ir àquilo que é no íntimo. Terapia, remédios, livros de autoajuda, palestras motivacionais, tudo pra quê? Sempre se mostraram totalmente inúteis. Aquilo, sim, era um autorreconhecimento.

Desembrulhou o dente e o acomodou sobre a pia, cujo branco da cerâmica quase fazia confundirem-se um e outro. Na caixa de ferramentas logo abaixo, sacou o alicate e, um a um, arrancou os outros 31 dentes da boca. À medida que os ia tirando, passava na água corrente para tirar o excesso de sangue e os enfileirava junto ao abençoado pioneiro até, por fim, formar uma nova boca fora de si próprio. Enfim, sonho realizado: podia conversar consigo mesmo pela primeira vez em infelizes e malvividos 38 anos. O papo rendeu horas, tarde e noite adentro, sem perceber o tempo passar, de dois amigos há muito esperando por aquele encontro.

Daniel Rodrigues

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Música da Cabeça - Programa #149


Que tal um programa bem subversivo hoje? Então manda chamar Machado de Assis, Petra Costa, Franz Kafka, Glenn Greenwald, Bong Joon-ho, Jane Fonda e toda a galera que teima em pensar pro Música da Cabeça! Stevie Wonder, Lennie Tristano, Elton John, David Bowie, Lisa Stansfield e outros pervertidos também vêm com a gente. Sintoniza na Rádio Elétrica às 21h, e assume essa transgressão que tá dentro de ti. Produção, apresentação e "Macunaíma" de cabeceira: Daniel Rodrigues.

Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Música da Cabeça - Programa #145


A democracia anda dando vertigem em muita gente por aí. Mas vertiginoso mesmo é o Música da Cabeça de hoje! Sente só o que terá: Small Faces, João Gilberto, João Cabral de Melo Neto, U2, Curtis Mayfield e mais. Tem também “Sete-List” sobre o grande baterista Neil Peart, falecido esta semana, e homenagem a Geraldo Azevedo. Sentiu uma tonturinha? Fica tranquilo: é só ouvir o MDC, às 21h, na Rádio Elétrica que passa. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Foi golpe.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sábado, 16 de novembro de 2019

Leia o que quiser ler - parte II



Fechando mais uma edição da Feira do Livro de Porto Alegre, deixo aqui mais algumas indicações de livros a partir de um fragmento.




"É na adolescência em Salvador que aparece a pessoa, propriamente dita, diante das outras pessoas. A cidade exige isso, essa caracterização da individualidade, que você comece a ter noção do que quer ser na vida. Tudo se configura ali em Salvador."
"Gilberto bem perto" - Gilberto Gil e Regina Zappa






"Enquanto observo Rarus e seu público, depois deixo o olhar vagar através das barricadas até o grande campus povoado de sinais exaltados, de exaltadas conversas silenciosas, tenho uma impressão avassaladora não só de um outro modo de comunicação mas de outro modo de sensibilidade, um outro modo de ser."
"Vendo vozes- Uma viagem ao mundo dos surdos" - Oliver Sacks






"Camille, a sequestrada; Camille, a prisioneira. Coxa e dedutora Camille, escultora de gênio, artista maldita e esquecida. Esta é a aterradora história de uma mulher que não "pôde ser". Tinha tudo para triunfar: talento, inteligência, coragem, beleza. Mas as circunstâncias foram desestruturando."
"Histórias de mulheres" - Rosa Montero







“É um livro sobre amor, sobre entrega. Mas também é um livro sobre política. Porque a Laura permitiu que eu me desse conta o quão forte e estruturante, da nossa política, é o machismo. E como, dentre as coisas que eu posso viver – eu jamais serei uma mulher negra, assim como não sou uma mulher lésbica – dentre as coisas que eu posso viver, a maternidade, talvez seja ela que mais desnude, como eu costumo brincar, é a última porrada na cara, pra gente se dar conta do que é o machismo no nosso mundo.”
"Revolução Laura" - Manuela D'Ávila









"Pelas ondas sabem-se os mares lambem-se as margens"
"Poesia Total" - Waly Salomão










"Amanda tem vontade de responder: eu sou puta. Ou: ih, eu não faço nada, não. Mas acaba dizendo: eu escrevo. Ah é? Escreve o quê? Livros? É? Que tipo? Romances? Ah sobre amor, essas coisas? Não exatamente - sobre a puta que te pariu, seu escroto, filho-da-puta, burro, merdalhão, medíocre, babaca. Eu escrevo sobre nós. Sei, sei, explica isso. Desculpe, mas não tenho como explicar. Um livro impresso deveria ser respeitado por aquilo que é: a finalização de imensa dor, exaustão e generosidade."
"As pessoas dos livros" - Fernanda Young






“Alimento é vida, nutre o corpo, a mente e a alma. Para a Ayurveda, nutrir-se é muito mais do que apenas ingerir alimentos. Tudo o que entra em contato com os nossos sentidos é alimento. Ao olhar para o seu prato, para a refeição que vai consumir lembre-se: isto é apenas 1/5 da sua dieta. Aquilo que você vê, ouve, sente e inala também são alimentos. Logo você nutre o corpo com alimentos, pensamentos , sensações. Bons pensamentos geram tecidos saudáveis; maus pensamentos, desequilíbrios.”
"O sabor da harmonia" - Laura Pires






“Num dia de verão abri a janela de par em par. Pareceu-me que o jardim entrara na sala. Eu tinha vinte e dois anos e sentia a natureza em todas as fibras. Aquele dia estava lindo. Um sol mansinho, como se nascesse naquele instante, cobria as flores e a relva. Eram quatro horas da tarde. Ao redor, o silêncio.”
"Todos os contos" - Clarice Lispector







“As tribos germânicas, que no século V invadiram o Império Romano, constituíam uma ramificação dos povos-europeus. A expressão indo-europeu aplica-se a um grupo de línguas: indo-arianas, armenianas, anatolianas, eslavas, célticas e germânicas. O primitivo habitat dos povos pertencentes a essa família linguística provocou muitas hipóteses. É provável que sua origem estivesse na Ásia Central, ou entre a Rússia Meridional e a Europa Setentrional e Central. A dispersão dos povos indo-europeus ocorreu no início do terceiro milênio.”
"Uma viagem através da Idade Média" - Armindo Trevisan








"DORME, DORME, DORME
SONHA, SONHA, SONHA
BRINCA, BRINCA, BRINCA
VOA, VOA, VOA
DORME, SONHA, BRINCA, VOA"
"Cuidado que ronca" - Raquel Grabauska e Gustavo Finkler






por Leocádia Costa  
direto da Feira do Livro de Porto Alegre