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quinta-feira, 10 de junho de 2021

Protagonistas coadjuvantes

Michael dando um confere bem de perto no que seu
mestre Stevie Wonder faz em estúdio, nos anos 70
Não é incomum artistas da música que, mesmo sendo astros, têm por hábito participarem de projetos de outros, seja tocando em gravações, shows ou como convidados. George Harrison, por exemplo, muito tocou sua slide guitar em discos dos amigos John Lennon e Ringo Starr. Eric Clapton, igualmente, além da carreira solo e de bandas próprias como Cream e Yardbirds, também emprestou sua guitarra para Beatles, Yoko Ono, Tina Turner, Phil Collins e vários outros. Como eles, diversos: Brian Eno, Robert Wyatt, Flea, Eddie Van Halen ou brasileiros como Herbert Vianna, Gilberto Gil, Frejat e João Donato. Todos comumente contribuem com seus instrumentos e/ou voz na música que não somente a deles próprios.

Há também aqueles que dificilmente se supõe que fariam algo fora de seus trabalhos pelos quais são mais conhecidos. Mas vasculhando com atenção as fichas técnicas dos discos, acha-se. Vez ou outra se encontra um artista que geralmente é visto apenas como protagonista atuando, deliberadamente, como um coadjuvante. E não estamos nos referindo àqueles principiantes que, posteriormente, tornar-se-iam ilustres, caso de Buddy Guy em “Folk Singer”, de Muddy Waters, de 1959, na primeira gravação do jovem Guy, então com 18 anos, com o veterano bluesman, ou Jimi Hendrix nas gravações de 1964 com a Isley Brothers anos antes de transformar-se num ícone do rock.

Aqui, referimo-nos àqueles que, já consagrados, abriram mão de seu status em nome de algo que acreditavam seja para um disco, um projeto, uma música ou um show. São momentos em que se vê verdadeiros mitos descerem de seus altares para, humildemente, colaborarem com a música alheia, seja por admiração, amizade, sentimento de dívida ou o que quer que explique. O fato é que esses “protagonistas coadjuvantes”, mesmo que estejam escondidos ou somente encontráveis nas miúdas letras da ficha técnica, abrilhantam com seus talentos peculiares a obra de outros.


Robert Smith para Siouxsie & The Banshees

Os anos 80 foram de inquietude para Robert Smith, líder da The Cure. Sua banda já era uma das mais celebradas do pós-punk britânico em 1983 quando ele, que havia lançado um ano anos o disco único “Blue Sunshine”, da The Glove, projeto em parceria com Steven Severin, decide dar um tempo com o grupo. Mas para quem estava a pleno naquela época, Bob “descansou carregando pedra”, como diz o ditado. Ele decide fazer parte da Siouxsie & The Banshees, banda coirmã da The Cure, mas estritamente como integrante. Com os vocais e o palco já devidamente preenchidos por Siouxsie, Robert assume as guitarras e une-se a Severin (baixo) e Budgie (bateria) para compor a melhor formação que a Siouxsie & The Banshees já teve. Não deu outra: dois discos, duas pérolas, para muitos os melhores da banda: “Hyenna” e o ao vivo “Nocturne”




Miles Davis
para Cannonball Adderley
Mais do que na música pop, é comum no jazz grandes astros e band leaders tocarem na banda de colegas. Isso não funciona, entretanto, para Miles Davis. O talvez mais exclusivo músico do jazz havia tocado no início da carreira para Sarah Vaughan, mas depois jamais fez nada que não fosse tão-somente seu. Até que, com jeitinho, em 1958, o amigo Cannonball Adderley convida-o para participar das gravações de um disco que ele estava por lançar e no qual teria ainda Art Blakey, na bateria, Hank Jones, no piano, e Sam Jones, no baixo. Uma sessão de gravação apenas, só cinco números, algumas horinhas de estúdio com Rudy Van Gelder na mesa, engenheiro com quem Miles tanto estava acostumado a trabalhar. "Não vai custar nada. Diz, que sim, diz que sim!" Tanto foi, que Miles topou, e saiu "Somethin' Else", aquele que é o disco que antecipa a obra-prima “Kind of Blue”, em que, reassumido o posto de front man, aí é Miles que conta com o parceiro saxofonista na banda. Tudo de volta ao normal.


Paul McCartney para Foo Fighters
É conhecida a versatilidade de Paul McCartney. Multi-instrumentista, ele é capaz de tocar, em apenas um show, vários instrumentos ou gravar um disco inteirinho sozinho sem precisar de mais ninguém no estúdio. Quem também fez isso foi Dave Grohl, líder da Foo Fighters, que, no álbum de estreia da banda, em 1995, toca não apenas a bateria, que era seu instrumento na Nirvana, como todos os outros. A amizade e talvez essa semelhança tenham feito com que chamasse o eterno beatle para uma empreitada 12 anos depois. Fã de Macca, ele convidou o veterano músico para gravar para ele não a guitarra, o piano ou a voz. Isso, muita gente já havia feito. Ele pediu para Paul tocar justamente bateria. A “brincadeira” deu super certo, como se vê na canção "Sunday Rain" presente no disco "Concrete And Gold".


Michael Jackson para Stevie Wonder
É uma música apenas, mas considerando o tamanho deste “coadjuvante”, vale por um disco inteiro. A linda e melodiosa “All I Do”, que Stevie Wonder gravaria em seu “Hotter than July”, de 1980, conta com ninguém menos que Michael Jackson nos vocais. E não se trata da voz principal, e sim do backing vocals! Surpreende ainda mais que o Rei do Pop já havia lançado à época o megassucesso “Off the Wall”, de um ano antes, com o qual revolucionaria a música pop e que quebrara os paradigmas de vendas da música negra no mundo. Mas a devoção de Michael para com Stevie era tamanha, que ele nem se importou em fazer um papel secundário. Para quem era conhecido pela habilidade de canto e arranjos de voz, no entanto, o que seria uma mera participação contribui sobremaneira para a beleza melódica da canção.



David Bowie
 para Iggy Pop
Em meados dos anos 70, Iggy Pop e David Bowie estavam bastante próximos. Bowie havia chamado o amigo para uma temporada em Berlim, na Alemanha, onde desfrutariam do moderno estúdio Hansa para erigir alguns projetos, dentre estes, “The Idiot”, no qual dividem todas as autorias e gravações. O período foi tão fértil, que rendeu também uma turnê, registrada no álbum ao vivo “TV Eye Live 1977". Acontece que, no palco, não dá para apenas os dois se resolverem com os instrumentos. Foi então que chamaram os Sales Brothers para o baixo e bateria, Ricky Gardiner, para a guitarra, e... quem assumiria os teclados? Ah, chama aquele cara ali que tá de bobeira. O próprio David Bowie. Quando se escuta as versões ao vivo de “Lust for Life”, “I Wanna Be Your Dog” e “Funtime”, acreditem: os teclados que se ouvem são do Camaleão do Rock. 



Phlip Glass
 para Polyrock
O cara já tinha composto de um tudo: ópera, concerto, sinfonia, madrigal, trilha sonora, sonata, estudos. Faltava uma coisa: música pop. Próximo do músico e produtor Kurt Monkacsi, o gênio da vanguarda californiana Philip Glass “apadrinhou” junto com este a new wave art rock Polyrock. Dizem nos bastidores, que o cérebro da banda é Glass e não só os irmãos Billy e Tommy Robertson tamanha é a identificação com a música minimalista do autor de "Einsten on the Beach". Seja por grandeza, timidez ou algum problema legal, o fato é que isso não consta nos créditos. O que consta, sim, é a participação do maestro tocando piano e teclados nos dois discos do grupo, “Polyrock”, de 1980, e “Changing Hearts”, de um ano depois, no qual, inclusive, assina oficialmente o arranjo de cordas da faixa-título. Daqueles raros momentos em que a música de vanguarda se encontra com o rock.





João Gilberto para Rita Lee
Se hoje a participação de João Gilberto tocando violão para Elizeth Cardoso em duas faixas de “Canção do Amor Demais”, de 1958, é considerado o pontapé inicial para o movimento da bossa nova, àquela época o gênio baiano era apenas um músico iniciante ao qual não se havia ouvido ainda toda sua arquitetura sonora de instrumento, voz e harmonia. 24 anos depois, já um mito, João dificilmente repetia uma ação como aquela do passado. Quisessem tocar com ele, ele que convidava. Exceção feita nos anos 80 para sua então esposa, Miúcha (e somente o violão), mas especialmente para Rita Lee. Admirador confesso da Rainha do Rock Brasileiro, João topou o convite de gravar ele, seu violão e sua atmosfera única a faixa “Brasil com S”, do disco “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, autoria dos dois. Pode-se dizer que, como todo o cancioneiro de João, é mais uma obra-prima, porém a única em que põe sua voz à serviço de um outro artista fora da sua discografia. Privilégio.


Daniel Rodrigues

sexta-feira, 27 de junho de 2014

The Beatles Rock Cup - A Grande Campeã


É CAMPEÃO!
Sim, amigos, temos a grande campeã, a maior música dos Beatles.
Nossos beatlelistas especializados avaliaram o confronto A DAY IN THE LIFE x GOLDEN SLUMBERS  e, não sem dificuldade chegaram, cada um à sua decisão, que definiu a grande vencedora desta emocionante Copa do Mundo The Beatles.
E qual foi?
Bom, como era de se esperar, a copa da maior banda de todos os tempos só poderia ter mesmo o desfecho mais espetacular de todas as copas. Confira abaixo as avaliações da bancada e seus resultados para a finalíssima:



A DAY IN THE LIFE x GOLDEN SLUMBERS



Eduardo Wolff:
Se formos parodiar a Copa do Mundo no Brasil nos estilos de jogo apresentados até então, a "A Day In The Life" seria a Holanda e a "Golden Slumbers" uma Colômbia. A primeira esquadra ("a europeia") começou o torneio se apresentando como postulante ao título. E comprovou de fato. Foi passando por vários clássicos compostos pelos Beatles, sendo uns até por goleada, mostrando um futebol refinado e bonito. Nesta composição, Lennon seria Robben e Macca o Van Persie. Já a equipe "sul americana", veio desacreditada, mas mostrou um impressionante toque de bola e ganhando jogo a jogo com um certo respeito. O meio campo dessa música é James Paul McCartney, que seria um James Rodriguez. Ou seja, é o responsável pela classe e cadência do time, além de marcar alguns gols. Neste confronto, a balança pende para o lado "holandês", pois é uma música completa, rica em detalhes e efeitos. A outra é fragmento de uma sequência fantástica de Abbey Road. No final das contas, quem reluz como ouro de fato é...
A DAY IN THE LIFE.



Christian Ordoque:
Seguinte ó... As finalistas demonstram exatamente o que penso sobre os Beatles. Os Beatles foram uma banda formada pelo Lennon que por isso teve o mérito e também de ter sido o compositor que deu mais gás na fase Iê-iê-iê ( a maior parte das músicas do melhor disco dessa fase que é o A Hard Day´s Night foi ele quem compôs). E foi só. Depois disso se apagou. Fez uma música aqui e outra ali. Quem deu consistência, norte ao grupo e o desenvolveu apontando novos caminhos desde o revolver, passando pelo Peppers até o final foi o Macca. Ponto. Desenvolveu e abriu espaço para as suas próprias composições e também para as dos outros Beatles como o seu amigo de infância, George, que fez músicas lindíssimas como Something, Within You, Here Comes the Sun, While my Guitar e por aí vai. Estas duas músicas finalistas representam muito bem o que isso significa, essa hegemonia “Macarthiana”. Se fosse possível mensurar, diria que 66 % das músicas que deram consistência para a carreira dos Beatles tem o Macca. Isso se reflete também nessas duas músicas escolhidas visto que Golden Slumbers é dele e metade da Day in the Life também. Solucionando a questão. Taco a taco, considero que A Day in the Life é uma colagem (solução genial) de duas músicas, uma parte do Lennon e outra do Macca, sendo que até hoje ele a canta em seus shows. Música fundamental num disco fundamental. Golden Slumbers é uma pequena sinfonia utilizando o recorte não somente para duas partes, mas para três, que é Golden Slumbers, Carry That Weght e The End. Esse sim, um recorta e cola maduro, utilizando o potencial de todos os integrantes da banda e podendo ser notados todos os instrumentos sendo tocados com suas características dos músicos. Curiosamente, o Macca até hoje termina seus shows com a frase final de The End que é: And in the end, the Love you take, is equal to the Love you make. Por representar essa hegemonia do McCarney, sua posição de líder de fato dos Beatles e por saber utilizar e mostrar o que cada um tinha de bom dentro de si e da banda nesta música, para mim, GOLDEN SLUMBERS é a melhor música dos Beatles.


Leocádia Costa:
Queridos colegas da Copa Beatles, Confesso que não tive muita dúvida em escolher entre as duas canções finalistas, votando na grande campeã a meu ver depois de tantos embates. Várias canções prediletas caíram nos confrontos, mas tudo bem, as escuto sempre que o coração manda. A escolha da canção aconteceu por predileção, porque nesta etapa as duas finalistas deixaram claro para mim o seu significado. Os Beatles são uma banda, certo? Lennon, Ringo, Paul e George tocaram juntos, compuseram e criaram uma qualidade musical que serviu de referência a muitas pessoas sendo trilhas sonoras de suas vidas ou inspirando novos músicos a experenciarem ainda mais. Como banda os considero imbatíveis. Ainda não escutei uma banda que reúna tanta qualidade aliada à emoção, e atentem, sou uma ouvinte sempre ligada, antenada em tudo, curiosa sonoramente. Através dos Beatles conheci John Lennon a quem admiro e sempre escutei individualmente, viajei com Ringo em sua percussão, me emocionei com as composições malucas que Paul propõe e, ainda hoje, descubro o oriente através de George. Enfim, vejo essa banda como uma união de talentos, um grupo que esteve aqui para deixar essa mensagem sonora para todos nós. Por isso, quando escuto The Day in the Life escuto todos eles fazendo música equilibradamente. Escuto cada conversa e troca de ideias dos bastidores, vejo Lennon e McCartney compondo, percebo a atmosfera dos Beatles. Eles estão ali, presentes a dupla de compositores lendária, os músicos Ringo e George arrasando e a particpação de George Martin que participa como um quinto besouro encantado. Em The Day in the Life, a variada inspiração em fatos do cotidiano, contados em um dia das nossas vidas, recoloca os Beatles num ranking de comunicadores de todas as loucuras humanas, de todos os delírios e de todas as formas de relacionamento que nos encaminham ao amor. Desta forma Golden Slumbers ocupa o segundo lugar, porque eu estaria privilegiando uma composição que é a cara de McCartney e ele sozinho não fez os Beatles. Por isso, escolho essa canção dentre tantas que passaram por nós, nesta Copa e me sinto em boa companhia com estes besouros que nasceram dourados pela sabedoria de espalhar e eternizar canções pelo mundo. Sorte nossa, não é mesmo?
A DAY IN THE LIFE é a minha vencedora.


Rodrigo Lemos:
Que final emocionante. Méritos não faltam às duas equipes. A obra dos The Beatles está muito bem representada nestas duas canções. Curiosamente uma é composta por duas composições diferentes justapostas e a outra é quase que um movimento, uma parte de uma sinfonia junto com carry that weight, etc. A Day in the Life, até por ser uma música 2 em 1 tem quase todos os ingredientes das diferentes fases da Banda. Tem efeitos de estúdio, instrumentos de orquestra, referências à cultura e a vida no Reino Unido, referências ao consumo recreacional de substâncias ilícitas, harmonias de vocal, muita criatividade e só falta o refrão pegajoso iê-iê-iê. Mas como dizem em Liverpool, "A Jack of all trades is a master of none" ou, mal traduzindo, "quem sabe de tudo um pouco não é especialista em coisa alguma" e posso pensar em outras músicas que considero mais interessantes para cada uma das características mencionadas. Golden Slumbers é quase que um exército de um homem só. Não fosse por George Martin ter escrito o arranjo para os instrumentos de orquestra, seria Macca no gol, Macca na defesa, no meio campo, no ataque, no banco, Macca cruzando para Macca cabecear, fazendo corta luz para si mesmo e gastando a bola. Apesar desse individualismo, ou talvez até justamente por causa disso é uma puta música. Golden Slumbers é daquelas para botar numa espaçonave para que outros seres se iludam achando que aqui na terra todos somos talentosos e temos bom gosto. Me desculpem, mas Golden Slumbers é hors-concours. Tudo é muito bem colocado, não tem uma nota fora do lugar. O vocal é matador e o baixo desta música é uma aula de como complementar e dar liga aos outros instrumentos. Pode não representar tão bem a diversidade da obra da banda mas música por música é muito superior a A Day in the Life.
Minha campeã é GOLDEN SLUMBERS.


Inacreditável!
Incrível!
Que final!
Em um final inédito nas Copas, o confronto acabou empatado.
Como se decide uma partida empatada numa copa?
Vamos para os pênaltis.
E os penais serão as escolhas dos amigos do Clyblog no Facebook.
Então vamos lá. Vamos ver o que a torcida decide. Vamos desempatar esse jogo:



e  A DAY IN THE LIFE é
A GRANDE CAMPEÃ!!!



E pra comemorar vamos com ela, A DAY IN THE LIFE para embalar o título:

sábado, 19 de outubro de 2013

Black Sabbath - Praça da Apoteose / Rio de Janeiro (13/10/13)



O velho Ozzy mandando ver, acompanhado pelo 
competente Tommy Clufetos
foto JB Online
Um show histórico!
Mais um dos grandes nomes da música, uma das lendas do rock mundial, que tive o privilégio de ver ao vivo.
Estavam ali, no palco à minha frente, Tony Iommi, Geezer Buttler e nada mais nada menos que Ozzy Osbourne, sim, o Black Sabbath, se não com sua plena formação original, inegavelmente com a maior e mais significativa parcela.
A bem da verdade, tirando o caráter formal ou simbológico do que representaria ter Bill Ward nas baquetas, o atual substituto, Tommy Clufetos não fez feio e não deixou nada a desejar, sendo responsável inclusive, por um dos momentos mais legais do show, num solo arrasador antes de "Iron Man", que serviu também para que os outros três, mais velhos, fossem tomar uma aguinha.
O show foi um desfile dos grandes clássicos da banda intercalados com algumas canções do último trabalho, "13", que, deve-se dizer, não conseguem ter o mesmo apelo que as antigas, mas que, diga-se a seu favor, gnham muito ao vivo, como nos casos, especialmente, de "End of the Beggining" e "God is Dead?".
Mas como eu disse, foram as imortais do Sabbath que mexeram com a galera e comigo, como não podia deixar de ser. A abertura com "War Pigs" (trecho em vídeo) já foi de arrepiar; "N.I.B.", uma das minhas favoritas do grupo, foi avassaladora, com grande participação da platéia; a monumental faixa que leva o nome da banda, "Black Sabbath", parecia ter jogado uma teia de energia sobre o público;  "Children of the Grave" memorável; a já mencionada "Iron Man" com a introdução marcada e marcante de bateria, seu peso, a interpretação única de Ozzy, foi tudo o que se esperava dela: êxtase absoluto; e "Paranoid" que fechou o espetáculo, extremamente enérgica, forte, potente, visceral e vigorosa, levou o público ao delírio final no bis.
Uma aula de metal! Um resumo da trajetória do gênero ao longo dos últimos 43 anos, representada ali por aqueles quatro homens, especialmente por aquele cara de cabelos pretos e longos ao microfone.
É verdade que o tal do cara já está meio sequelado, meio gagá, meio sem noção, por vezes parecendo um animadorzinho amador de auditório, fazendo 'bracinhos-pra-cá, bracinhos-pra-lá', ou dando corridinhas curtinhas ridículas de um lado para o outro no palco. É, né... Bom, não se pode ter tudo.
O que importa é que, além de ter assistido a uma apresentação de muito vigor e qualidade, tirando o Led Zeppelin que insiste em não nos dar uma canja, já vi, praticamente, uma espécie de "Santíssima Trindade" do rock, com Rolling StonesDeep Purple e, agora, Black Sabbath. Alguns perguntarão, " E o Paul?". E eu lhes responderia, "Não, né!". Em primeiro lugar, Paul  é igual a Beatles. Se fossem os 4, se estivesse todos vivos, ou que fosse os 3 a alguns anos atrás, ou mesmo os dois que sobraram (JUNTOS) eu até me esforçaria em ver. Paul McCartney não me tira de casa. E em segundo lugar, vocês acham mesmo que aquele cara é o Paul de verdade? Ora...

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SETLIST:
  • War Pigs 
  • Into the Void 
  • Under the Sun/Every Day Comes and Goes 
  • Snowblind 
  • Age of Reason 
  • Black Sabbath 
  • Behind the Wall of Sleep 
  • N.I.B. 
  • End of the Beginning 
  • Fairies Wear Boots 
  • Rat Salad
  • Iron Man 
  • God Is Dead? 
  • Dirty Women 
  • Children of the Grave 

Bis:
  • Paranoid


Cly Reis

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

The Beach Boys - "Pet Sounds" (1966)

Os Sons de Estimação

 “ 'God Only Knows' é a música
que eu queria ter escrito.”
líder dos Beatles


A psichodelic era dos anos 60, sensacionalmente rica, produziu alguns dos maiores talentos da música mundial. John LennonPaul McCartneyJimmi HendrixSid BarretRay DaviesBrian JonesArthur LeeArnaldo BaptistaLou ReedRocky EriksonFrank Zappa e mais uma dezena de cabeças geniais. Todos produziram, quando não vários, pelo menos um trabalho fundamental para a história da música pop. Porém, um destes expoentes, também surgido à época, criou algo sem precedente dentro da discografia do rock. Ele é Brian Wilson, líder e principal compositor do The Beach Boys. A obra: “Pet Sounds”, de 1966, uma joia rara da música do século XX, comparável aos mitológicos "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" ou "The Dark Side of the Moon". Requintado e perfeito do início ao fim, é repleto de detalhismos que somente a mente obsessiva de Brian Wilson poderia conceber, o que, somado a seu empenho, conhecimento técnico e alta sensibilidade, resultou num disco inovador em técnicas de gravação, conceito temático, estrutura composicional, instrumentalização, arranjos, entre outros aspectos.

“Pet Sounds”, diz a lenda, surgiu de um sentimento de competitividade alimentado por Brian, um perturbado jovem com então 24 anos cujo quadro esquizofrênico era danosamente potencializado pelo vício em LSD. Para piorar: a relação com o pai era péssima, a ponto de, numa ocasião de briga entre os dois, levar uma pancada tão forte que o deixou surdo de um dos ouvidos – motivo pelo qual, reza outra lenda, teria concebido e gravado “Pet Sounds” em mono, uma vez que não conseguia perceber fisicamente os sons em estéreo. Todo este quadro e o temperamento vulcânico fizeram com que Brian, maravilhado mas enciumado com o resultado que os Beatles haviam atingido com seu “Rubber Soul”, lançado cinco meses antes, se pusesse na missão de superar a obra dos rapazes de Liverpool.

E conseguiu.

“Pet Sounds” é uma pequena sinfonia barroco-pop jamais superada, nem pelo próprio Beach Boys. Brian deixa para trás a pecha de mera banda de surf music creditada a eles (o que já se vinha notando desde “The Beach Boys' Christmas Album”, trabalho anterior da banda) e se lança na composição, produção, arranjo e condução de todo o trabalho, resultado de longas e exaustivas pesquisas à teoria musical e às musicas erudita, folclórica, jazz e pop. O desbunde já começa na faixa de abertura, a clássica “Wouldn't It Be Nice”. O som fino e lúdico do harpschord executa uma ciranda, que faz a abertura de “Pet...” lembrar a de outro LP histórico da época, "The Velvet Underground and Nico", de um ano depois, cujo sonzinho inicial vem de outras cordas, as de uma delicada caixinha de música. Mas a semelhança para por aí, pois, se “Sunday Morning” do Velvet varia para um sereno pop-jazz francês, a dos Beach Boys ganha amplitude e cor. O som do cravo repete o tempo três vezes até que é interrompido bruscamente por um forte estrondo seco em staccato da percussão. Aquele contraste entre o agudo cristalino das cordas e o timbre grave da batida faz da abertura do disco uma das mais belas, conceituais e inteligentes da discografia rock. Além disso, a música que se desenvolve a partir dali é absolutamente linda. Elevando o tom, joga o ouvinte num jardim da infância de sons vibrantes e coloridos num ritmo de banda marcial, onde já se nota que Brian vinha com tudo em seu desafio pessoal: som cheio, polifonia, coros em contracanto, abundância de instrumentos e ornados, consonância e equilíbrio total entre graves e agudos.

Um dos principais recursos utilizados por Brian no disco para obter esse resultado é a concepção múltipla da obra como um todo, seja na unidade entre as faixas, na harmonia ou no arranjo das peças. Bem ao estilo da música barroca dos séculos XVII e XVIII, ele vale-se da variedade instrumental e, numa decorrência mais impressionista, de timbres, uma vez que extrai sonoridades de toda a escala diatônica através de cordas, sopros, percussão, vozes, teclados e até eletrônicos. Há vários instrumentos exóticos, como mandolin, harpa francesa, ukulele, english corn, banjo, tack piano e temple block. A obsessão de Brian de superar o Fab Four, sabendo da prática dos "rivais" de valerem-se de variados instrumentos em estúdio, pode ser constatada, inclusive, na quantidade de instrumentos usados em todo o disco: cerca de 40, tocados por quase 70 músicos diferentes, incluindo a banda em si: os irmãos Carl (vocais, guitarra) e Dennis Wilson (vocais, bateria) mais Al Jardine (vocais, tamborim), Bruce Johnston e Mike Love (ambos, vocais), além do próprio Brian (vocais, órgão, piano). A belíssima balada “You Still Believe in Me”, das minhas preferidas, vale-se deste conceito polifônico. Além de baixar o tom da faixa inicial, explora mais ainda a riqueza dos ornamentos barrocos, como na complexidade melódica dos corais, que funcionam como um instrumento de teclado que acompanha o toque do cravo. A percussão, detalhada, vai do sutil som de sininho a tambores de orquestra, os quais dão um final épico à faixa em curtos rufares.

Outro trunfo do disco, na tentativa de Brian de superar até a produção de George Martin para com os Beatles, é a adoção do modelo de gravação multitrack. Usando vários takes de vozes e instrumentos tocando ao mesmo tempo e uns sobre os outros, consegue atingir, assim, timbres únicos. Isso foi possível pelo ouvido apurado de Brian que, grande fã do produtor Phil Spector, “inventor” das teenage symphonies nos anos 50, chupou-lhe a ideia do “wall of sound”, refinando-a. A “muralha de som” de Spector aproveitava o estúdio como instrumento, explorando novas combinações de sons que surgem a partir do uso de diversos instrumentos elétricos e vozes em conjunto, combinando-os com ecos e reverberações. Isso se nota em todo o disco, como em “That’s Not Me”, outra espetacular. Lindíssima a voz de Love, que, limpa e sem overdub, desenha toda a canção, enquanto a base se sustenta num órgão, nos acordes de ukulele (guitarrinha havaiana) e na combinação grave/agudo da percussão, em que o tambor e o chocalho ditam o ritmo. “Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder)” é outra balada que faz, novamente, cair o andamento para um ar melancólico. Mas que balada! Tristonha, romântica e, como num ornamento rococó, toda cheia de enlevos. Nesta, Brian capricha na orquestração.

Por falar em orquestração, duas merecem destaque neste aspecto. A primeira, a não menos lírica “I’m Waiting for the Day”, que oscila entre um ritmo de balada, levada por um suave órgão, e momentos de empolgação, quando, lindamente, vozes em contracanto se juntam a flautas e uma percussão densa em que o tímpano se destaca na marcação. A orquestra, no entanto, entra por apenas rápidos segundos, suficientes para pintar a música com alguns traços, quando, lá para o fim da faixa, logo após Brian cantar com doçura os versos: I’m waiting for the day when you can love again”, violinos e cellos, sem dar pausa entre o fim da vibração da voz e o ataque de suas cordas, aparecem juntos em um fraseado lírico como uma suave nuvem sonora, integrando voz e instrumentos. Depois desse breve sonho, estes e todos os outros instrumentos voltam para encerrar a canção em tom maior, com a voz solo cantando: “You didn't think that/ I could sit around and let him work...”, enquanto um dos coros faz: “Ah aaah ah/ ah, aaah, ah...”, em três tempos, e o outro vocalisa: “doo- doo/ doo-roo/ doo- doo/ doo-roo...”, em dois. Estupendo.

A segunda especial em termos de arregimentação é "Let's Go Away for Awhile”. Como a faixa-título – uma rumba estilizada em que o compositor se vale da diversidade de instrumentos que vão desde sopros, como sax alto e trombone, e percussão, reco-reco e (pasmem!) latas de Coca-Cola, até um método de filtragem de entrada de som do alto-falante, que dá uma sonoridade específica à guitarra –, é instrumental, prestando mais um tributo à tradição medieval, uma vez que o conceito de dissociar música da dança ou do teatro iniciou-se, justamente, com mestres como Scarlatti e Vivaldi nesta época. Perfeita em harmonia, é quase um pequeno concerto para vibrafone, que conta também com um breve solo de bloco de madeira, finalizando com um arrepiante diálogo entre bateria e tímpano de orquestra, sustentados por um arranjo de cordas de caráter grandioso.

Depois do tom médio de “Let’s...”, o ânimo volta às alturas com a graciosa “Sloop John B”. Na introdução, outra clássica no disco, um toque de sininho e uma nota de flauta que se estende, ambos marcados pelo tic-tac de um metrônomo, dando início à alegre canção, com Brian, Love e Carl alternando a voz solo e na qual não falta beleza no arranjo das vozes em contraponto. Brian consegue dar colorações lúdicas a uma canção folclórica tradicional do Caribe, criando uma música em que dá a impressão de que toda a caixa de brinquedos ganhou vida e saiu a tocar pelo chão do quarto, cada um com um instrumento: o soldadinho do Forte Apache com a tuba, o marinheiro com o tamborim, o indiozinho Pele-Vermelha com os sinos, o playmobil com o clarinete e assim por diante.

Para os apaixonados por “Pet Sounds” como eu, que o conhecem de trás pra diante, o final da extrovertida “Sloop...” traz uma emoção especial, pois é sinal de que vem, na sequência, “God Only Knows”. Magistral, numa palavra. A música que fez o gênio Paul McCartney sentir inveja alinha-se em magnitude a ícones da música moderna como "Like a Rolling Stone""Bolero""A Day in the Life""Águas de Março" ou "Summertime". Com uma aura ao mesmo tempo celestial, emocionada e suplicante, “God...” não poupa o coração dos diletantes, pois o órgão e o toque do oboé já largam entoando em alto e bom som. Na suave percussão, chocalhos e temple block. As cordas e sopros, igualmente perfeitos. A voz de Carl transmite uma emoção intensa e não menos lírica. Após uma segunda parte em que sobe uma gradação, adensando a emotividade, a faixa se encerra sob belíssimas frases dos sopros e uma orquestração a rigor, quando as vozes de Carl, Brian e Johnston se misturam, criando um efeito onírico tal como um Cantus Firmus, tipo de melodia extraída dos cantochões polifônicos medievos em louvor ao Senhor. Impossível não lembrar, ouvindo-a, da famosa sequência do filme "Boogie Nights" em que a câmera sobrevoa os cenários mostrando os rumos tomados na vida de cada personagem, como se Deus estivesse vendo o destino de todos e dissesse: “só Eu sei”.

“I Know There's an Answer” (que, nas extras, vem na versão “Hang on to Your Ego“, com mesma melodia e letra diferente) mantém a beleza polifônica e reforça uma outra base conceitual do disco: a “teoria dos afetos”. Princípio básico da música barroca, estabelece correspondência entre os sentimentos e os estados de espírito humanos. A alegria, consonante, por exemplo, é expressa através dos tons maiores, acontecendo o inverso para o sentimento de tristeza, em matizes menores e dissonantes em forma. Por isso, as idas e vindas durante todo o disco de temas calmos e/ou românticos alternados com outros alegres e mais pulsantes. Isso que acontece novamente com a “agitada” “Here Today”, que antecede outra obra-prima de Brian e Cia.: o baladão “I Just Wasn't Made for These Times”. Com base de cravo, num clima dos oratórios de Bach e Häendel, percussão que equilibra temple blocks, bateria e tímpanos, além de impressionantes contracantos, traz ainda uma inovação em termos de música pop: o electro-theremin, sintetizador muito usado pela vanguarda erudita da eletroacústica que pouco (ou nunca) havia sido usado em rock até então. E Brian não só usa como, inteligentemente, aplica-o de uma forma genial, pois, integrando uma ferramenta sonora moderna a outras marcantes da Idade Média (como o cravo e o tímpano), a faz homogeneizar-se ao coro, como se instrumento e voz, natureza e espírito, Deus e homem fossem a mesma matéria.

Se os Beatles de “Rubber...” louvavam o amor à sua Michelle, Brian, em mais uma estocada, vinha com a lenta e definitiva “Caroline No” com suas combinações de bongô/chocalho e hammond mantendo a base, além do engenhoso solo de cello com trombone, desfechando vitoriosamente o LP original.

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Se parasse por aí, já estava de bom tamanho, mas até os extras são dignos de nota. Haja visto a curta e brilhante “Unreleased Backgrounds”, toda a capella e na qual Brian evoca os mais ricos motetos barrocos – claro, numa roupagem pop e com a cara dele. Afinadíssimo, ele puxa um “lá”, prolongando seu corpo e baixando gradualmente a escala por cerca de 15 segundos até cair totalmente. O “good Idea”, ouvido ao fundo dito por algum dos integrantes da banda no estúdio mostra que a coisa agradou, motivando todos a se juntarem num coro. Eles exercitam melismas com acidentes, formando um verdadeiro canto gregoriano moderno. Lindíssimo. Depois disso, ainda há a ótima instrumental “Trombone Dixie”, em que, de uma feita, homenageiam o célebre bluesman Willie Dixie e evidenciam a sutil fronteira entre o folk e o erudito.

Brian Wilson vencera o desafio a que ele mesmo se propôs: apenas cinco meses depois, os Beach Boys superavam com “Pet Sounds” os Beatles de “Rubber Soul”. A história da música pop nunca mais seria a mesma, tendo em vista a alta influência deste trabalho para uma infinidade de outros artistas, que vão desde ZombiesPink Floyd e R.E.M., passando por Van Morisson, Genesis, Blur e, claro, os próprios Beatles. Mas a instabilidade emocional e o vício em drogas de Brian não o deixariam prosseguir combatendo no front da música pop – pelo menos, não à altura de Lennon, McCartney, Harrison e Ringo. Três meses adiante, o Quarteto de Liverpool se reinventa novamente e lança o espetacular “Revolver”; no ano seguinte, o histórico “Sgt. Peppers...”; logo em seguida, emendam o fecundo “Álbum Branco”. Brian perde o passo e não consegue mais conceber uma obra com início, meio e fim, quanto menos uma grandiosa como a que criou. Mas, para sorte da humanidade, havia dado tempo do mundo conhecer “Pet Sounds”, o álbum que é mais do que um “disco de cabeceira”, mas os verdadeiros “sons de estimação”.



por Daniel Rodrigues
(Consultas técnicas e agradecimentos: Maria Beatriz Noll e Leocádia Costa)

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FAIXAS:
1. Wouldn't It Be Nice - 2:26 (Wilson, Asher, Mike Love)
2. You Still Believe in Me - 2:31
3. That’s Not Me - 2:30
4. Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder) - 2:53
5. I’m Waiting for the Day – 3:06
6. Let's Go Away for a While - 2:21
7. Sloop John B - 2:54
8. God Only Knows - 2:46
9. I Know There's an Answer - 3:10 (Wilson, Terry Sachen, Love)
10.  Here Today - 2:55
11. I Just Wasn't Made for These Times - 3:10
12. Pet Sounds - 2:23
13. Caroline, No - 2:54
14. Unreleased Backgrounds - :50
15. Hang on to Your Ego – 3:17
16. Trombone Dixie – 2:53

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OUÇA O DISCO


quinta-feira, 9 de maio de 2019

The Beatles - "Abbey Road" (1969)




"Com 'Abbey Road', os Beatles 
tocaram a glória 
pela primeira vez (...)
Todos os quatro brilharam: 
as composições 
e trabalho vocal de John,
o ofício musical supremo 
de Paul nos medleys,
a habilidade musical de George
em duas canções maravilhosas 
e o toque de bateria 
excelente de Ringo."
Mark Lewisohn,
historiador considerado
uma das maiores autoridades
sobre Beatles

Minha relação com os Beatles é curiosa... É interessante que, até algum tempo atrás, eu sequer gostava de Beatles. Gostava naquelas... uma aqui, outra ali. "Twist and Shout", por causa do filme "Curtindo a Vida Adoidado""Can't Buy Me Love" por causa do "Namorada de Aluguel", "Dear Prudence" por causa da versão da Siouxsie, "Helter Skelter" por causa dos Banshees também e pela versão do U2 no "Rattle and Hum" sendo que a original eu sequer conhecia... Na boa, achava Beatles, aquela coisa dos arranjos de orquestra, dos vocais em coro, daquela levada tipo bandinha alemã, tudo muito perfeitinho demais. Não tinha como negar a qualidade, mas pra mim parecia pouco rock'n roll. Tanto que, naquela tradicional disputa Beatles ou Stones, eu sempre fui mais Stones. Ainda sou, tenho que admitir. Acho Stones mais visceral, mais rock no sentido mais sujo da coisa, sabe. Mas o meu respeito e minha admiração pelos Beatles tornou-se uma realidade e uma vez consolidada, só foi crescendo.
Eu já ficava intrigado pelo fato que uma porção de ídolos meus, vários artistas que eu admiro sempre diziam que tinha começado a tocar por causa dos Beatles, que quando ouviram Beatles resolveram ter uma banda, que fizeram tal música  porque queriam fazer que nem os Beatles... "Cara ... Mas será possível?", pensava eu. Aí  comecei a ouvir com mais carinho, com mais atenção e, quando se OUVE, ouve mesmo, não  como não reconhecer que os caras eram absurdos! Toda a técnica de estúdio, a criatividade, o talento, a inovação e tal, tudo isso eu entendia mas não tinha dado aquela liga. Não tinha acendido a chama. Ela foi acendendo aos poucos: aí o cara vê que uma música que gosta da sua banda preferida é muito Beatles, percebe onde tá aquela influenciazinha, vê coisas que os caras fizeram sem recurso nenhum e hoje em dia com tudo a favor, não se consegue fazer igual e, aí ficha cai. Foi o caso de "Tomorrow Never Knows" que fui conhecer por causa de "Setting Sun" dos Chemical Brothers, e que me estimulou a comprar o "Revolver". A dupla eletrônica de Manchester chegou a responder processo por plágio mas foi inocentada, uma vez que não negavam a inspiração, apenas negavam a cópia. É bem o caso do que os caras conseguiam fazer em 1966, com recursos técnicos escassos e algo parecido só é conseguido com a parafernália eletrônica dos dias de hoje.
Mas antes do "Revolver", o primeiro  que tive dos Beatles foi o "Magical Mystery Tour", que no meu mode de ver era mais "anárquico", menos certinho. Tem aquela 'desordem' da música titulo, "Magical Mystery Tour", tem "I'm The Walrus que também é mais atípica, mais louca, enfim, aquilo me agradava mais num primeiro momento. Depois veio o "Revolver" e depois o 
"Rubber Soul", que devo admitir que, apesar de não retirar nenhum mérito, não sou dos mais apaixonados.
O "Abbey Road" (1969) chegou a mim de uma forma interessante. É lógico que eu já conhecia "Come Together", e essa eu já gostava muito e na minha cabeça essa era uma exceção a tudo aquilo que eu colocara acima sobre rockzinho comportado, arranjos rebuscados e coisas assim, só não ligava uma coisa a outra e com meu conhecimento parco da obra dos caras, não sabia que era exatamente a primeira do "Abbey Road". Mas o que me instigou pra ouvir o disco, conhecer a obra foi o fato que, certa vez, na noite por aí, uma banda dessas de clássicos do rock, tocou "I Want You (She's So Heavy)" e, cara..., eu fiquei louco com aquilo. Aí eu quis saber de onde era aquilo e descobri que era do tal do "Abbey Road". Eu já tava numas de curtir mais Beatles e resolvi conhecer melhor o disco. Pedi pro meu irmão, meu parceiro de blog, Daniel Rodrigues, que já apreciava a banda havia mais tempo, pra me passar o MP3 do disco pra eu ouvir no computador, no I-Pod e tal, e fui gostando cada vez mais. Até que, sabendo que eu tava ficando fissuradão, o meu irmão de novo, desta vez, me deu o CD.
E se um cara tem restrição a Beatles, o "Abbey Road" é pra acabar com qualquer frescura! Tem baixo estourando, tem vocal gritado, tem solinho de bateria, tem música curta, música quilométrica, tem música  pra todos os gostos, tem música de todo mundo, tem vocal de quase todo mundo...  e que disco bem produzido, hein! Tudo perfeito, tudo no seu devido lugar. Era o desejo da banda, mesmo já um tanto fragmentada, já dando sinais de desgaste, fazer um grande disco depois de uma certa decepção com as gravações de "Let It Be", que acabou saindo depois mas que na verdade fora gravado antes e ficou ali, meio que engavetado. Pois é, na verdade o "Abbey Road" é o último álbum dos Beatles. E tem cara de último disco. Tem a grandiosidade, a estrutura, a maturidade, o total controle sobre o objeto final, tem cara de gran finale. Algo espetacular!
"Come Together", como eu disse, eu já conhecia e admirava e é daquelas aberturas de álbum matadoras. Aliás os Beatles abriam muito bem seus discos, não é mesmo? Vide "Taxman", "Back um The U.S.S.R.", "Sgt. Peppers...", "Drive My Car". "Come Together" é uma música que vai crescendo em intensidade e mudando a cada parte, ganhando um novo elemento. É fantástica! Lembra, não por acaso, aquele tipo de composição que marcou Pixies, Nirvana, com ênfase na linha de baixo no corpo principal da música, e uma certa explosão, com as guitarras e os vocais entrando de forma mais intensa no refrão. Pode-se dizer, de certa forma que, lá em 1969, foi um pré-grunge. "Something" sempre me arrepia com aquela guitarra chorosa, melancólica, aquele vocal doce... É considerada por muitos a melhor música dos Beatles e a própria  banda manifestou, na época, uma certa preferência por ela dentre as gravadas para o disco. "Maxwell's Silver Hammer" é daquelas que eu falei, com cara de bandinha de coreto de praça, e apesar de ser uma boa música, no fim das contas, e funcionar como um ponto de equilíbrio no lado A do disco, nem a banda gostava muito dela na época do lançamento.  Atribuo a ela este papel de fiel da balança, até porque na sequência vem "Oh, Darling", uma das minhas preferidas com aquele vocal rasgado, gritado. Um balada típica dos anos 50 com o vocal do Paul calculadamente descontrolado. Tipo da coisa que, no meu desconhecimento, sentia falta nos Beatles e que encontrei no "Abbey Road". Sei que tem "Helter Skelter", até mais furiosa por sinal, mas, nesse caso específico, como confessei acima, conhecia mais as covers do que a original.
O disco segue com "Octopuss Garden", que é do Ringo, e normalmente é um pouco subestimada mas que é um country-rock muito gostoso. Num disco muito bem planejado, a leveza da composição de Ringo Starr serve meio que como preparação para a pesada, longa, extensa, "I Want You (She's So Heavy)". Uma amarração quase improvável de duas melodias bem distintas mas que juntas acabaram funcionando como uma especie de peça épica, algo grandioso. Aquele início, e final também, dramático, solene, combinado a um blues meio rumba em que a guitarra ora dialoga, ora imita, ora disputa com a voz de Lennon. E, apoteoticamente, tudo se encaminha pr'aquele final, como eu disse, dramático, que se repete, repete e corta... abruptamente como se a música, que já é gigantesca, nunca fosse acabar. É de arrepiar.
Depois vem a ensolarada "Here Comes The Sun", que seria a primeira do lado B, na versão original em LP. Sempre que o dia está feio e abre, que vem aquele solzinho depois de uma chuva, eu lembro dela. Sempre iluminada. Na sequência vem a linda "Because" uma balada cheia de inspiração e melancolia. Uma das mais belas melodias dos Beatles e um trabalho vocal excepcional. Segue com a mutante e imprevisível "You Never Gove Me Your Money", cheia de variações: começa de um jeito dando a pinta que vai ser uma doce balada ao piano, de repente vira um rock descontraído, modifica a voz, ganha intensidade, ganha uma guitarra bem incisiva, lá pelo final ganha um coro fazendo uma contagem e acaba num ruído que vai introduzir para o genial medley de músicas "inacabadas" concebido por Paul McCartney que é simplesmente de tirar o fôlego. Trechinhos, praticamente vinhetas, mas que são de deixar o cidadão de boca aberta, não só pelas qualidade de cada uma, mas também pela diversidade entre elas, pelo papel dentro do álbum, pela sequência em que estão dispostas.
"Sun King", de John Lennon, uma delicada baladinha, uma pequena piração com uma letra que mistura inglês, italiano e francês, é a primeira da sequência mágica  e lembra um pouco "Something", com alguma semelhança também com "Because" embora sempre me remeta um pouco a "Don't Let Me Down"; segue o rock gostoso de "Mean Mr. Mustard"; depois "Polithene Pam", bem "yeah-yeah-yeah', uma espécie de uma voltá às raízes só que mais sofisticada; vem "She Came Through The Bathroom" outro rock cativante; e então o epílogo grandioso se aproxima com a beleza de "Golden Slumbers" que é misturada/invadida com/por "Carry That Weight" que, por sua vez, em grande estilo, encaminha o encerramento do disco para nada mais apropriado que o FIM. "The End", mais uma "criatura mutante", cheia de variações, é um rock direto e certeiro com direito a solo de bateria de Ringo e tudo. É o fim, como anuncia o título da canção? A última do disco? A última da discografia dos Beatles? Errado. O disco acaba mas não acaba. Antecipando um conceito de faixa-oculta que só viria a se consolidar na era CD, segundos depois da "última música" aparece "Her Majesty", um trechinho curto acústico, mais uma vinheta, uma brincadeira por assim dizer "comemorativa" ao título de Membros do Império Britânico concedido pela coroa inglesa, que o grupo então acabara de receber. Típico dos Beatles. A inversão da lógica, o improvável, a surpresa, o que mais ninguém faria. E "The End" que seria também a última música do último lado de um disco deles, acabou não sendo pois o "Let It Be", o antecessor, acabou sucedendo "Abbey Road".
Aí o cara acaba de ouvir um disco desses e fica se perguntando "por que que eu fiquei de nhem-nhem-nhem com os Beatles por tanto tempo?"
Se você também tem um ranço, nhem-nhem-nhem, mi-mi-mi com Beatles, e sei que muito gente tem, recomendo veementemente que você ouça o "Abbey Road". Talvez os Beatles tenham discos melhores, muitos preferem o "Branco", muitos o "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", mas o "Abbey Road" este trabalho brilhante que completa 50 anos neste 2019, é tão perfeito, tão impecável, tão bem produzido, tão diversificado que eu acho que até o mais resistente anti-Beatles vai acabar se rendendo. Eu me rendi.

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FAIXAS:
1 - Come Together
2 - Something
3 - Maxwell's Silver Hammer
4 - Oh! Darling
5 - Octopus's Garden
6 - I Want You (She's So Heavy)
7 - Here Comes the Sun
8 - Because
9 - You Never Give Me Your Money
10 - Sun King
11 - Mean Mr. Mustard
12 - Polythene Pam
13 - She Came in Through the Bathroom Window
14 - Golden Slumbers
15 - Carry That Weight
16 - The End
17 - Her Majesty


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Ouça:


Cly Reis

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

The Beatles - "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967)


A Revolução do Sargento Pimenta



"Mais do que um mero disco pop,
"Sgt. Peppers" é um momento significativo
na história da civilização ocidental".
Jornal The Times (1967)



Você pode achar que o disco "Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, não seja o melhor de todos os tempos, mas uma coisa há de se concordar: foi revolucionário. Não estou me referindo somente a parte musical, mas sim os vários elementos em torno deste disco. Chamado por alguns especialistas de “obra de arte”, esse rótulo se deve ao fato que, além das suas canções, esse registro mexeu com uma idéia de conceito, incluindo as artes gráficas e a moda. Naquele momento, nenhuma banda tinha se caracterizado de personagens, como os Beatles fizeram. Se fardar de banda do Sargento Pimenta, com direito a uniformes psicodélicos de uma unidade militar regada à LSD, foi uma ideia inédita.

O que dizer da capa desse disco? Uma platéia de celebridades que foram “convidadas” a participar do encarte. Cheia de significados e de mensagens sublimares, as quais os Beatles tinham adoração e eram peritos em despertar a curiosidade no público. Essa “pegadinha” aos fãs vinha desde a época do Rubber Soul, com pistas que davam conta de que Paul McCartney estava morto, o que, na verdade, havia apenas se acidentado de carro, no entanto virou um excelente marketing para a banda. Macca segue mais que vivo do que nunca, apresentando vitalidade e músicas de grande nível, mesmo tendo passado, há alguns anos, dos seus Sixty-Four, como projetou em Pepper. A capa do Sargento é marcante e, não é à toa, que é uma das mais reproduzidas da história.

Importante salientar neste disco a proposta de conceito que ele apresenta, pois, anteriormente, os grupos gravavam, num LP, uma compilação de músicas. Além disso, Pepper apresentou técnicas e métodos diferenciados de gravação para a época, nos anos 60. Por mais que todas as músicas não foram compostas de uma maneira que fossem ligadas uma a outra, conforme John Lennon e George Harrison afirmaram em entrevistas, isso não impede afirmar que é conceitual. São os Fab Four acompanhados da banda do Sargento Pimenta, que, é claro, foi orquestrada pela batuta de George Martin, o quinto Beatle.

Sobre as canções, bom lembrar que o aquecimento do Pepper veio com um compacto com duas preciosidades: “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lanne”. O que podia esperar? Era o prenúncio de que uma grande obra estava por vir.

O disco começa com uma inovação, uma transição da música título com a “With a Little Help from My Friends”. Outra novidade é a reprise dessa mesma canção tema – numa versão mais rock and roll -, que aparece na décima segunda faixa. Já com “Within You Without You", Harrison faz mais um esforço para popularizar a música oriental, até então pouca explorada. E não é só, it´s getting better, ou melhor, tem mais considerações importantes para comentar. Em “She's Leaving Home", Macca demonstra seu peculiar dom de compor canções emotivas. Fora que terminar o disco com “A Day in the Life”, uma música em que Lennon faz o “papel” de uma pessoa sonhando e McCartney o de uma acordada, é um grande desfecho. Aliás, de um sonho, ou de uma ajuda lisérgica, veio a inspiração para “Lucy in the Sky with Diamonds”. Enfim, uma obra que apresenta magia e criatividade, todas materializadas e verdadeiras.

Com esses argumentos que descrevi, se nota o quanto admiro e respeito o disco. É um registro que marcou época e eternamente vai ser lembrado. "Pepper" segue soando contemporâneo e digno de continuar sendo comentado e, lógico, escutado.
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FAIXAS:

  1. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
  2. With A Little Help From My Friends
  3. Lucy In The Sky With Diamonds
  4. Getting Better. Fixing A Hole
  5. She's Leaving Home
  6. Being For The Benefit Of Mr. Kite.
  7. Within You Without You
  8. When I'm Sixty-Four
  9. Lovely Rita
  10. Good Morning Good Morning
  11. Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band (reprise)
  12. A Day In The Life

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OUÇA:
The Beatles Sgt Pepper's Lonely Heart Club Band

por Eduardo Wolff




Eduardo Wolff é jornalista formado pela PUC/RS e também radialista. Atualmente, é assessor de imprensa, com passagens em algumas rádios. É devorador de CDs, DVDs, livros e qualquer coisa relacionada à boa música. O ecletismo está no sangue, no entanto os clássicos do rock dos anos 60 estão no top da sua lista de preferências. Baterista frustado, pretende um dia engrenar em alguma banda, mesmo que toque num buteco mais xinfrim da cidade.