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sábado, 31 de outubro de 2020

"A Bruxa de Blair", de Eduardo Sánchez e Daniel Myrick (1999) vs. "a Bruxa de Blair", de Adam Wingard (2016)



Num Halloween, nada melhor que um confronto de bruxas no nosso Clássico é Clássico (e vice-versa). De um lado, um filme caseiro, de baixíssimo orçamento mas que além de ter um gigantesco e surpreendente retorno financeiro, tornou-se um dos novos clássicos do terror; do outro, um que, com um bom suporte, com algum investimento, teve a pretensão de aperfeiçoar o que nunca teve a pretensão de ser perfeito. Inglória missão.

Um remake (ou reboot, que seja) de "A Bruxa de Blair" jamais conseguirá igualar o original num quesito fundamental: a verdade. E não me refiro somente ao pseudo-realismo proposto pelo formato found-footage, mas também às reais condições de produção. "A Bruxa de Blair" original, o de 1999 era assim, porque era o que dava pra fazer: um mato, alguns amigos, câmera na mão, cortes abruptos, montagem ruim e era isso. Muita criatividade, algum talento cinematográfico, uma publicidade certeira, promovendo o filme como sendo fatos que teriam realmente acontecido, e temos um grande sucesso de bilheteria. O novo, por sua vez, por mais que tenha tentado reproduzir o clima e algumas situações do filme anterior, não consegue se livrar da artificialidade de uma mera cópia sem alma.

As histórias não são exatamente iguais. No primeiro, dos estreantes Eduardo Sánchez e Daniel Myrick, vemos as gravações das fitas encontradas de um grupo de curiosos estudantes de cinema, que, com a intenção de fazer um filme, um documentário, seguem o rastro de uma lenda de uma bruxa que levava crianças e as matava numa casa numa floresta nos arredores de uma pequena cidade; já no segundo, dirigido pelo bom Adam Wingard, de "Você é o Próximo", a lenda já é conhecida e um grupo vai atrás, exatamente, de uma das pessoas desaparecidas naquela primeira incursão do filme original.


"A Bruxa de Blair" (1999) - cena da barraca



"A Bruxa de Blair" (2016) - conhecendo a Bruxa


Ainda que não seja exatamente um grande filme, no que diz respeito à qualidade técnica, o time de 1999, bem treinadinho, com uns pratas da casa, não tem maiores dificuldades em superar seu rival de 2016. Faz um gol pelo "realismo" quase convincente do formato falso documentário que, se não inventou, consolidou e repopularizou, sendo copiado inúmeras vezes a partir de seu lançamento. Faz outro pela cena das "crianças" batendo e aterrorizado em volta das barracas, numa das cenas mais terríveis e angustiantes dos últimos tempos no cinema; e guarda outro numa jogada ensaiada de escanteio, quando um dos jogadores fica parado, de costas, no corner, pra bruxa vir e mandar a pancada. O reboot faz o seu de honra por conta da atmosfera labiríntica da casa, mas, na mesma cena, faz um gol contra ao nos revelar o aspecto da bruxa, que era muito mais interessante que continuasse misteriosa e materializada apenas pela nossa imaginação. Completamente desnecessário!

Fim de jogo. 4x1 para "A Bruxa de Blair" original.


À esquerda, o original: pouca gente, a câmera que tinha, imagem ruim... Futebol raiz!
À direita, o novo: gente demais, todo cheio de frufru, e drone e sei lá mais o que...
Futebol Nutella.

A garotada do time de 1999 apronta uma correria pra cima do de 2016 que fica perdidinho
como se estivesse correndo num mato, sem mapa nem bússola.
Deu a lógica: A Bruxa de Blair" original volta pra casa com a vitória.
Quero dizer, voltar pra casa, ninguém voltou, mas pelo menos mostraram quem é o verdadeiro clássico.




por Cly Reis

terça-feira, 31 de outubro de 2023

10 Filmes de Bruxas para o Halloween

 



Dia das Bruxas!

Não tem como pensar em Halloween e não remeter a filmes de terror. E o interessante é que, embora o cinema sempre tenha dado uma atenção às bruxas, talvez diante do desgaste de algumas outras vertentes do terror, como serial-killers indestrutíveis, violência gráfica extrema, remakes ineficazes e desnecessários, ou franquias comerciais de sustos pré-programados, elas estão em alta e voltam com força no cinema atual. Que o cinema tem algumas bruxas célebres isso não há como discutir, como as belas adolescentes de "Jovens Bruxas", as veteranas carismáticas da "comédia" "Convenção das Bruxas", a oculta e onipresente "A Bruxa de Blair", e, por que não, a icônica bruxa verde com verruga e vassoura voadora de "o Mágico de Oz". Mas vamos aqui lembrar algumas outras. Umas, novos ícones da cultura do terror, como a jovem Thomasin, de "A Bruxa", de 2015, outras, lá do início da história do cinema como as mulheres acusadas de feitiçaria do impressionante "Haxan - A Feitiçaria Através dos Tempos", de 1922, outras, de filmes cultuados, como as diretoras da escola de balé, do clássico "Suspíria", de Dario Argento.

Então vamos à nossa lista de bruxaria. 10 filmes de bruxas para este Halloween...


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1. "Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos" - de Benjamin Christensen (1922) - Meio documentário, meio ficção, mistura documentos históricos com reconstituições encenadas, mas que de todo esse experimento cinematográfico consegue obter uma obra singular. "Häxan", apesar de toda sua condução documental, textos na tela, limitações técnicas, soluções primárias, etc., ainda nos primórdios do cinema, consegue prender a atenção causar, sim, terror no espectador. Numa exposição sobre as superstições, interpretações, temores coletivos, preconceitos, punições, ignorância e poder, o diretor, um visionário para sua época, nos apresenta diversas situações de pessoas que eram julgadas como bruxas, ou possuídas por demônios, baseado em suas aparências, gênero, condição mental, ou até mesmo interesse social religioso, sem, necessariamente, terem qualquer ligação com bruxaria. Mas onde entra a bruxaria no filme? Bem, nas dramatizações, de modo a demonstrar o que estava em julgamento ou como aquelas "bruxas" eram vistas, nos são apresentadas torturas, demônios, feitiçarias e mutilações. Sim! Isso em um "documentário" de 1922. Obra de arte. Aqui não temos UMA bruxa e sim várias, que, no entanto, muito provavelmente não tinham nada a ver com essas atividades. Por incrível que pareça, filme ainda muito pertinente na nossa época de preconceitos, julgamentos e condenações automáticas.


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2. "A Maldição do Demônio" ou "A Máscara de Satã" - de Mario Bava (1960) - Clássico do terror italiano! No século XVII, uma nobre, acusada de bruxaria, antes de ser executada com seu amante, lança uma maldição sobre a família de seus executores. Ela os perseguirá para toda a eternidade. Isso é logo no início do filme, é a primeira sequência e, com certeza a mais impactante dada o método de execução da princesa. Uma máscara com pregos é aplicada ao rosto da bela mulher. Até por todo esse impacto inicial, o filme inevitavelmente cai um pouco depois, com uma estranha mistura de vampiros e zumbis, mas mesmo assim vale como um dos grandes exemplares do terror gótico europeu. Sem contar que o fato de ser estrelado por Barbara Steele, uma das rainhas do terror, nos papeis principais, primeiro da bruxa Asa, condenada e morta, e depois de sua descendente a sobrinha Katja, possuída pela tia e pronta para aterrorizar o vilarejo e seus amaldiçoados, dois séculos depois.


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3. "Suspíria" - de Dario Argento (1977) - Uma obra de arte de Dario Argento. A fotografia labiríntica, a iluminação intensa, a trilha sonora inquietante, a direção de arte muito geométrica e o sangue excessivamente vermelho e vibrante, compõe uma obra esteticamente incrível em uma história sobre bruxas em uma escola de dança. Uma estudante norte-americana, Suzy Bannion, chega à Alemanha para prestar estudos numa conceituada academia de balé só que, uma vez integrada ao corpo de alunas, em meio a um ambiente frio e pouquíssimo receptivo, começa a perceber coisas estranhas... Há uma aluna desaparecida, outra morre tragicamente no hall do prédio onde mora atingida por uma estrutura de vidro, um instrutor é brutalmente devorado por seu próprio cão, sua colega de quarto é dilacerada por lâminas... Ela começa a desconfiar que há alguma coisa de errado com aquele lugar, resolve bisbilhotar e descobre que ali funciona secularmente um covil de bruxas comandado por uma lendária bruxa grega conhecida como Rainha Negra. Péssima ideia ter se metido nisso, cara Suzy! Só que agora que mexeu, vai ter que enfrentar. 

O filme tem um remake de 2018, bem interessante do também italiano Lucca Guadagnino, com algumas mudanças na história, é bem verdade, um final diferente, mas bem sangrento e bastante competente. Também merece uma boa olhada.



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4. "As Bruxas de Eastwick", de Geroge Miller (1987) - Raramente lembrado quando se fala em filmes de bruxas mas que, particularmente, gosto bastante. 

Três mulheres solitárias, cansadas de tudo, desestimuladas, mas sobretudo carentes, Michelle Pfeiffer, Susan Sarandon e Cher, vivendo na pacata e bucólica cidadezinha de Eastwick, resolvem fazer um feitiço em conjunto para materializarem o "homem dos sonhos". Ele vem. Mas não é bem dos sonhos. A vida das três vira de cabeça para baixo. Daryl Van Horne, encarnado por Jack Nicholson, planta entre as três o ciúme e a discórdia, e somente a união delas, novamente, poderá expulsar aquele mal de suas vidas. 

Sexy, divertido, carregado de questionamentos à condição da mulher de meia idade, especialmente naquele momento, nos anos 80, das idealizações e do verdadeiro valor do papel de um homem na vida de uma mulher. Elencaço de primeira com atuações brilhantes de todos mas, em especial do diabão Jack Nicholson.


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5. "Quando Éramos Bruxas", de Nietzchka Keene (1990) - Filme belíssimo baseado num conto dos irmãos Grimm, "Quando Éramos Bruxas", ou no original 'A Amoreira', traz a estreia da, então, jovem Björk, no cinema. Ela faz o papel de Margit, uma das filhas de uma mulher que fora morta por feitiçaria, e que foge junto com a irmã para um lugar remoto, onde não possam ser encontradas pelos executores de sua mãe. Lá, a irmã, Katla, enfeitiça e se casa com um viúvo local. O filho do homem, Jonas, no entanto, percebendo alguma coisa de estranho na madrasta, se opõe à união, a rejeita e tenta convencer o pai a deixá-la, no entanto, se afeiçoa à irmã mais nova, Margit, que, filha de bruxa, tem visões da própria mãe e da mãe falecida do garoto. Enquanto Katla usa seus poderes para sedução e para o domínio, a mais nova, Margit, os usa positivamente. Caso da bruxinha boa e da bruxinha má. 

Belíssima releitura feminista do conto dos Grimm, com espetacular fotografia em preto e branco.


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6. "As Senhoras de Salem", de Rob Zombie (2012) - Rádio, rock'n roll, vinil.... terror. O mundo de Rob Zombie! 

Em Salem, a cidade onde ocorreram os conhecidos julgamentos de bruxas do século XVII, nos Estados Unidos, uma DJ recebe um LP com uma música estranhíssima, sons indistintos, ruídos confusos, de uma suposta banda chamada The Lords. Depois de ouvir o troço, ela então passa a ter visões esquisitas, sonhos perturbadores, coisas atormentadoras. Heidi procura um especialista em ocultismo que entende que aqueles sons gravados no disco tinham as mesmas notas de um cântico de invocação de uma seita de bruxas que pretendem sua vingança contra os habitantes da cidade que as condenou. 

Para garantir que o destino da cidade seja cumprida, um trio sinistro de tiazinhas, vizinhas da DJ, vigiam a moça e vão garantir que ela, como uma das descendentes dos inquisidores seja o instrumento da vingança. 

Zombie constrói cenas de uma psicodelia macabra impressionante, sobretudo na sequência final quando finalmente parece que a profecia das bruxas se cumprirá. Padres se masturbando, bebês crucificados, anões deformados, tentáculos fálicos, freiras purulentas, fazem parte de um sabá orgíaco surrealista à espera da chegada do demônio pelo ventre de uma herdeira da linhagem dos Senhores de Salem. A maturidade de Rob Zombie na direção depois dos decepcionantes remakes de "Halloween".



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7. "A Bruxa", de Robeert Eggers (2015) - Clássico instantâneo, inegavelmente "A Bruxa" é uma das novas referências do terror. Um filme que assusta muito mais pelo todo, pelo ambiente, do que por sangue, surpresas, violência ou clichês batidos.

No século XVII, uma família, expulsa de sua comunidade, é obrigada a abandonar a aldeia onde viviam e morar no limite da floresta. Lá eles se instalam, constroem um casebre, um estábulo, tentam começar uma nova vida mas, certo dia, do nada, praticamente diante dos olhos da filha mais velha da família, seu irmão, ainda bebê some. Some... Simplesmente some. Ela não sabe o que fazer, onde procurar, como procurar e passa a ser responsabilizada pelo sumiço pelo próprio pai que, supersticioso e fanático como é, a acusa de bruxaria. Aos poucos a floresta que margeia a casa parece começar a dar sinais, atrair o irmão do meio, atiçar a primeiro curiosidade da jovem Thomasin e depois a simpatia, como uma amiga que chama, "Venha, venha...".

O bosque estático, o bode preto, o corvo, tudo é assustadoramente silencioso. Nada de pulos, de sustos, de correrias. Só a tensão. O Bode Black Phillip, por si só, é uma das coisas mais assustadoras do cinema. Posso afirmar que nunca mais olhei para um bode da mesma forma depois de assistir ao filme.



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8. "Hagazussa - A Maldição da Bruxa", de Lukas Feigelfeld (2017) - Filme, à primeira vista, esquisitíssimo mas que carrega uma série de metáforas e questionamentos sobre a condição da mulher. Pessoas, locais, situações se confundem e confundem o espectador, especialmente na parte final, numa sucessão de delírios da protagonista, a jovem Albarn, que depois da morte de sua mãe, mal vista pela comunidade onde vive, é obrigada a se afastar para as montanhas, nos alpes suíços. Lá, depois de adulta, com sua filhinha (não vemos, não somos informados, nem temos ideia de quem seja o pai), ela tenta levar a vida, no entanto, continua, como sempre em sua vida, desde criança, sente que algo lhe observa, lhe acompanha e talvez determine seu destino.

Um pouco de "A Bruxa", um pouco de "Quando Éramos Bruxas", "Hagazuza", destaca-se, sobretudo pela fotografia incrível, a luz sempre muito precisa e uma direção de arte econômica mas igualmente certeira.

Uma experiência estética incrível.



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9. "A Avó", de Paco Plaza (2021) - Helena, uma modelo vivendo em Madri, às portas de uma oportunidade importante dentro do mundo da moda, é obrigada a voltar às pressas à sua cidade natal, no interior, em virtude de um derrame de sua avó, a quem sempre fora muito ligada desde a infância e que a criara depois do falecimento dos pais. Ela retorna supondo que seria uma estada breve, tempo o suficiente para tomar algumas providências quanto à avó, mas as coisas vão a prendendo e ela não consegue se desvencilhar. A idosa está catatônica, completamente dependente, mal a reconhece mas ela é a única parente próxima e, primeiro reluta e depois tem alguma dificuldade em encontrar uma cuidadora de idosos. Os dias vão se passando e Helena vai notando comportamentos estranhos da avó que, embora não fale com ela, fique sentada, quieta olhando para o vazio o dia todo, por vezes, do nada, ri, fala sozinha, murmura umas ladainhas, levanta, some repentinamente para reaparecer logo em seguida.

A jovem tenta sair, tenta voltar, mas parece que a velha não deixa, quando consegue contratar uma enfermeira, a pessoa morre tragicamente ao sair de seu apartamento, sob o olhar frio da velha na janela.

Teria a avó alguma coisa a ver com aquela morte? Com o fato de ela, Helena, não estar conseguindo sair dali? Estaria a avó a segurando ali? E a jovem amiga misteriosa que vem aparecendo para visitar a avó? quem era? Ela diz conhecer Helena da infância mas que ligação teria com uma idosa quase inválida?

Helena começa a remexer nas coisas, físicas e emocionais, fotos, memórias, presentes, pessoas... Começa a ligar alguns pontos... a morte dos pais, ela ficando aos "cuidados" da avó... Eaquela velha amiga que costumava estar com ela? Por onde andaria? E jovem amiga da avó... Será...?

Rejuvenescimento? Apropriação de outro corpo? Roubo de alma? Imortalidade? 

Bruxaria?


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10. "Você Não Estará Só", de Goran Stolevski (2022) - Por incrível que possa parecer, um filme lindíssimo! A bruxa é deformada com pele enrugada de queimaduras, tem garras de animal, ela estripa bicho, come gente mas o filme é belíssimo. O importante aqui é a descoberta da beleza que é SER HUMANO.

Navena, quando bebê, fora prometida pela mãe a uma bruxa que ameaçava comê-la. A proposta desesperada, para salvar a filha, era que a bruxa a buscasse apenas quando tivesse 16 anos de idade, com o pretexto de lhe a menina poderia lhe fazer companhia mais tarde. A bruxa concorda e deixa a criança, mas quando a garota completa a idade, mesmo com uma última resistência da mãe, a feiticeira volta para buscar o que lhe fora acordado. A adolescente vai, acompanha a nova "mãe" e, embora marcada por ela e também transformada em bruxa, não tem a menor aptidão para aquilo e é abandonada no bosque pela maligna tutora. Só que descobrindo a capacidade de adquirir a forma de quem devora, a menina, com a inocência de uma criança que mexe no que não deve, admirando pelos mais diversos motivos as pessoas que vai encontrando e conhecendo, as mata, come e assume por algum tempo suas vidas, experimentando experiências diferentes, no corpo, ora de uma mulher madura, ora de um rapaz, ora um animal, ora de uma criança. 

Uma jornada de descobertas, de experimentos, de provar, como diz a canção, a dor e a delícia de se ser o que é. E mesmo com todos os prós e contras, comprovar, como diz aquela outra música, que a vida, no fim das contas, é bonita, é bonita e é bonita.



Aproveitem o Halloween, bruxos e bruxas!



por Cly Reis

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Os 100 Melhores Filmes de Terror da IndieWiere (e aquelas 12 títulos que faltaram)


 
Cada vez mais fica claro que listas são feitas para serem complementadas. As famosas (e polêmicas) seleções de melhores do cinema não desmentem: por mais criteriosas que sejam em suas elaborações, sempre deixam aquela sensação de que algo faltou. Ainda mais quando o tema envolve os melhores “de todos os tempos ", que, por motivos óbvios - o de abarcar tudo que o universo daquela temática ou recorte deve oferecer -, corre muito mais risco de erro.

"O Iluminado", um clássico do terror incontestável.
Mas há outros
Caso da lista divulgada recentemente pelo IndieWire, reconhecido portal sobre cinema, que elaborou uma publicação com os 100 melhores filmes de terror de todos os tempos. Por si só, aliás, um gênero polêmico, seja pela classificação de um filme dentro desse gênero (às vezes, discutível se é terror ou não), seja pela paixão que exerce sobre seus milhares de fãs (o que supõe uma maior diversidade de preferências). 

Porém, a IndieWire encarou a empreitada. E o fez muito bem, por sinal. Tem de tudo: zumbi, monstro, slasher, vampiro, espírito, lobisomem. Sangue, morte e medo para todos os gostos. Podem se achar listados os principais filmes de terror que se conhece. Clássicos incontestes como "O Iluminado", "O Bebê de Rosemary", "Tubarão" e "O Massacre da Serra Elétrica" estão lá. Igualmente, a consideração a obras nem tão badaladas, mas inegavelmente merecedoras, tal "A Beira da Loucura", de John Carpenter (69°), "Irmãs Diabólicas", de Brian De Palma (87°) e "Violência Gratuita", de Michael Haneke (15°). Até mesmo a primeira colocação a "Possessão" (de Andrezej Żulawski) surpreende, mas é bem interessante em se tratando de uma lista claramente revisionista. Também é apreciável o prestígio aos orientais com várias produções do Japão e Coreia do Sul da década de 50 até a de 2000. Como diz a própria publicação, “prestamos atenção às seleções que abriram caminho em inovações para o gênero e para o cinema como um todo”.

No entanto, há controvérsias, claro. A começar pela má colocação de alguns títulos que fazem jus a uma melhor pontuação, seja por sua importância para o gênero ou para a própria história do cinema, como "A Hora do Pesadelo", pondo o icônico Freddie Krugger apenas no 98° lugar; o referencial "Psicose", obra-prima de Alfred Hitchcock e possivelmente top of the tops numa relação mais tradicional, aqui contentando-se somente com o 39° posto; ou o já citado "O Bebê...", 42°, recorrentemente tido como um dos principais filmes da história do cinema em todos os gêneros. E "Nosferatu" de Murnau, na 40ª? Ou "O Exorcista" só 51ª? Sinistro...

Mas são as ausências que mais gritam tal qual a mocinha clichê fugindo do serial killer no meio da noite. Ver uma seleção de 10 dezenas de obras de terror e enxergar algumas sendo esquecidas (ou preteridas) motiva àquilo que referimos no início do texto: o ímpeto de querer complementá-la. Por isso, trazemos aqui 12 títulos não listados pela IndieWire, mas que consideramos essenciais de constarem. Tirar alguns? Ampliar? Adicionar aquele "plus"? Tanto faz. Importante é contribuir com mais filmes certamente cabíveis numa lista como esta: legal, mas incompleta. Os amantes do terror hão de concordar.


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"O MAL QUE NOS HABITA", de Damián Rugna - ARG (2023) - Um desses recentes, mas que já mexeu com as estruturas do universo do horror é o aterrorizante argentino "O Mal Que nos Habita". Tem possessão, tem gore, tem violência extrema, tem canibalismo, tem sobrenatural, tem perseguição e, de quebra, ainda, na entrelinha, crítica social. A gente fica apavorado com o que vê, cenas gráficas e sangrentas daquelas de fechar os olhos, como a famosa sequência do cachorro matando a menininha; espantado com o que aconteceu mas não viu, como o garoto que comeu a avó; e amedrontado pelo que não vê, a maldição que persegue os moradores de uma cidadezinha interiorana na argentina e que pode estar em qualquer um, em qualquer lugar. Um dos grandes filmes do gênero nos último anos.





"TERRIFIER", de Damien Leone - USA (2016) - "Terrifier" surgiu meio que como um cult. Era uma espécie de clássico do underground daqueles que só tinha visto quem conseguia por algum meio menos convencional. Mas o fato é que, mesmo difícil, restrito a alguns fanáticos sanguinários e incansáveis ratos de internet, o filme era muito comentado pelas barbaridades, atrocidades e brutalidades de um palhaço mímico que comete uma verdadeira carnificina numa noite de Halloween. E de fato, a fama não era a toa. "Terrifier" é dos filmes mais brutais que já assisti. As coisas que faz o palhaço Art são duvidáveis até para o mais acostumado fã de slashers. Tipo, "Ele não vai fazer isso... não vai fazer...  Fez!!!". O visual da fantasia preto e branco com uma mini-cartola, aquele sorriso sujo assustadoramente amplo, a determinação em seus objetivos assassinos, o sadismo doentio, e o talento para as execuções de suas vítimas fazem de Art um dos novos grandes matadores do cinema e mais um personagem clássico do horror.



"INVASÃO ZUMBI", de Yeon Sang-ho - KOR (2016) - Os zumbis foram mudando ao longo da história do cinema desde que George Romero os 'inventou". Já foram apalermados, organizados, individualistas, inconscientes, cruéis, devoradores, possuídos, experimentais... Em "Invasão Zumbi" um dos grandes baratos é que ao invés de zumbis lentos, descoordenados, capengando com os braço estendidos para a frente e babando, temos zumbis rápidos. Velozes, determinados, imparáveis e vorazes! A partir do momento que o primeiro infectado entra no trem de Seul para Busan o frenesi não tem mais fim. Aí ele morde um que morde outro que morde outro, e os corredores apertados do trem são o cenário perfeito para um dos filmes de zumbi mais alucinantes que já se viu.





"ATIVIDADE PARANORMAL", de Oren Peli - USA (2007) - Sei que o found-footage já tá enchendo no saco de tanta coisa que se fez no formato desde o sucesso do fenômeno "A Bruxa de Blair", mas não dá pra ignorar e deixar de fora o igualmente criativo "Atividade Paranormal". Basicamente uma câmera num tripé posicionada no quarto de um jovem casal que suspeita sua casa, suas vidas, estejam sendo atormentadas por alguma força sobrenatural, um espírito, um demônio ou algo assim. Para tentar tranquilizar a esposa Katie e esclarecer as dúvidas, o marido, Micah, aficionado por eletrônicos, vídeos, filmagens, coloca câmeras gravando o tempo inteiro em vários pontos da casa, inclusive no dormitório do casal. É, e para desespero dos dois, as imagens revisadas nos dias seguintes às gravações, depois de suas noites de sono, confirmam seus piores temores: tem alguma coisa lá. Simples? Sim, mas eficiente. O passar dos dias, o aumento gradual da atividade, dos fenômenos mantém o interesse do espectador. Sem graça? Uma câmera fixa na mesma posição... Que nada! Aquele silêncio, aquela imagem parada na amplitude do quarto faz a gente ficar com o olho atento a cada detalhe, a cada cantinho. Será que a porta vai mexer? Será que sai alguma coisa debaixo da cama? E o lençol? E o chinelo? E o pé dela? E o pé dele?... Pior é, depois de ver o filme, ir dormir e ter que apagar a luz do quarto.



"CREEPSHOW", de George A. Romero - USA (1982) - Se um filme dirigido por George A. Romero com argumento e roteiro de Stephen King, inspirado nos clássicos quadrinhos de terror dos anos 50 não é uma das melhores coisas do mundo do terror, eu não sei mais o que é bom ou não. Com todo aquele colorido e visual de HQ na tela, com arte desenhada, fontes Comic Sans, layout de tela como uma página de papel, os mestres do terror nos apresentam cinco contos recheados de medo, morte, sangue e humor, com mortos-vivos, criaturas assassinas, coisas de outros planetas, infestações incontroláveis, em tramas envolventes que desfilam ódio, traição, vingança, ambição e repugnância. King, Romero, quadrinhos, sangue, decapitações, zumbis, insetos nojentos, monstros... O que pode ser melhor que isso?







trailer de "Creepshow"



"O SEGREDO DA CABANA"
, de Drew Godard - USA/CAN (2012) - Reverência e crítica ao mesmo tempo, "O Segredo da Cabana" brinca com os clichês dos filmes de horror construindo a partir disso, por incrível que possa parecer, uma obra inteligente e singular. Grupo de jovens, cabana no meio do nada, lenda local, livro no porão, despertar de algo sobrenatural... Sei, sei. Já vimos tudo isso. Mas e se tudo isso estivesse sendo meticulosamente controlado por uma espécie de central mundial de eventos paranormais que decide qual monstro, assombração ou criatura será destinado para cada local, e quando e como o maligno deverá agir? Tipo de arma, tipo de morte, ambiente, essas coisas... Enquanto o 'escolhido' entra em ação, os funcionários do local, que já prepararam tudo, luz, nevoeiro, trilhas, dificuldades, obstáculos, apostam entre si, enquanto assistem por um circuito privado de vídeo, como se dará, efetivamente, cada execução: morte rápida, lenta, decapitação, mutilação, estrangulamento, muito sangue, pouco sangue, etc. Lá pelas tantas as coisas fogem do controle desse pessoal da retaguarda da 'empresa' e dois dos jovens descobrem suas instalações secretas subterrâneas, e é quando muita coisa passa a entrar em jogo, incluindo a existência da humanidade se aquela horda de aberrações, mantida até então sob controle, for libertada e sair pelo mundo afora. A hora em que os garotos abrem os elevadores das criaturas é um dos momentos de maior caos que já se viu em filmes do gênero, e ao mesmo tempo um dos momentos mais "lindos" para fãs de terror. Tudo está ali: Lobisomens, vampiros, bruxas, ciclopes, górgonas, dragões, duendes doentios, crianças malignas, palhaços assassinos, répteis gigantes, zumbis famintos, surgem todos ao mesmo tempo, remetendo a diversas referências do mundo do cinema que entusiastas do gênero com certeza não deixam de notar. "Hellraiser", "It", "O Chamado", "Poltergeist", "O Iluminado", "A Noite dos Mortos-Vivos", "A Múmia", "O Monstro da Lagoa Negra", "O Massacre da Serra Elétrica" e outros mais... todos estão homenageados nas celas de vidro ou corredores de sangue da tal 'empresa', a fábrica de pesadelos do diretor Drew Godard. Um deleite para nós, cultuadores desses filmes! Uma crítica ao cinema hollywoodiano, seus vícios, seus padrões, seus métodos, sua influência e abrangência, mas também, de certa forma, uma cutucada quanto ao mundo em que vivemos como um todo, no qual uma minoria de poderosos, 'donos do mundo', decide como as coisas são e como devem continuar sendo. 


"POLTERGEIST, O FENÔMENO", de Tobe Hooper – USA (1982) - Assim como "O Exorcista", "Tubarão" e "Pânico", o filme de Tobe Hooper - àquela altura, início dos anos 80, bem melhor aparado pela indústria do cinema do que quando realizou na raça o independente "O Massacre da Serra Elétrica" em 1974 - é daqueles que títulos que, independentemente da colocação conforme o critério adotado para a seleção, não pode faltar a uma lista de 100 best horror of all times de jeito nenhum. Produzido por Steven Spielberg e com trilha do craque Jerry Goldsmith, além do enorme sucesso que fez à época de lançamento, tornando-se um marco dos filmes de terror assim como os citados acima, "Poltergeist" "cumpre" algo que nem sempre filmes do gênero, por mais bem feitos que sejam, conseguem alcançar: ele assusta. Depois de assisti-lo, nunca mais se olha para uma árvore ao lado da janela da mesma maneira.



“O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO”, de José Mojica Marins - BRA (1968) - O máximo que a lista da IndieWire vai fora da América do Norte, da Ásia ou da Europa é um filme do Oriente Médio (“Garota Sombria Caminha pela Noite”, do Irã) e outro da América do Sul, o chileno “Santa Sangre”. Talvez por essa pouca atenção além do circuito tradicional tenham deixado de voltar seu olhar para o Brasil e o seu grande ícone do cinema de horror: José Mojica Marins, o homem por trás do personagem cujo mundo é tão estranho quanto magnífico. Os gringos que não se façam de loucos, pois o conhecem muito bem como Coffin Joe, quando o brasileiro foi descoberto nos festivais internacionais de cinema como Avoriaz, nos anos 90, e passou a ser cultuado. Poderia ser o seminal “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” ou o lisérgico “O Despertar da Besta”, mas “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” é sua obra mais bem acabada e sintética do estilo híbrido de seu cinema, que vai do trash e o vampirismo ao gótico e o body horror.



“O MENSAGEIRO DO DIABO”, de Charles Laughton – USA (1955) - Se tem um filme absolutamente injustiçado nessa listagem publicada esse filme é "O Mensageiro do Diabo". Clássico da segunda fase do cinema noir, o único longa dirigido pelo experiente ator inglês Charles Laughton impressiona pela perfeição em todos os aspectos fílmicos: fotografia, roteiro, edição, trilha, atuações. E que atuações! Robert Mitchum, que encarnaria o perigoso Max Cady na primeira versão de "Cape Fear" 12 anos depois, leva muito para aquele papel o clima do personagem deste filme, o assassino de viúvas ricas Harry Powell. Mas não só Mitchum: a perseguida Willa, vivida por Shelley Winters e, principalmente, as crianças (Lilian Gish e Billy Chapin) dão um show de interpretação, lembrando o desempenho acima da média de outra dupla de pequenos atores noutro título clássico do terror: "Os Inocentes" (41° da lista).





“AS DIABÓLICAS”, de Henri-Georges Clouzot – FRA (1955) - Um dos critérios adotados pela IndieWire para compor a lista é de que os filmes não fossem somente fantásticos, mas também dessem medo. Seguindo esta lógica, "As Diabólicas" não estar presente é definitivamente um equívoco. Uma das mais marcantes obras da cinematografia francesa dos anos 50 pré-Nouvelle Vague, "As Diabólicas" assusta pra caramba! Michel Delassalle dirige com mão de ferro um pensionato para meninos, assistida por sua doce esposa Christina. Ele tem por amante Nicole Horner, professora da instituição. Cansadas do despotismo de Michel, as duas mulheres unem para assassiná-lo. Alguns dias depois do crime, no entanto, o cadáver desaparece e situações estranhas começam a se suceder. Esteticamente impressionante, algo expressionista, é contado de forma magistral pelo diretor Henri-Georges Clouzot, mestre de narrativas tensas a se ver pelo sufocante Palma de Ouro "O Salário do Medo", de 1953. O ambiente sombrio do pensionato, a figura arrepiante de Simone Signoret como a fria Nicole e, principalmente, as reviravoltas do roteiro, fazem deste filme uma obra-prima do gênero do terror. Ah: e é uma das inspirações de Hitchcock para produzir "Psicose". Não precisa dizer mais nada, né?


trailer de "As Diabólicas"



"A CASA QUE PINGAVA SANGUE", de Peter Duffell - ING/IRL (1971) - Típico filme de terror inglês "das antigas": histórias criativas, instigantes e bem contadas. Reunião de quatro histórias que são contadas ao Inspetor Holloway, que investiga o misterioso desaparecimento do ator de filmes de terror Paul Henderson após mudar-se para uma antiga casa. Assassinos que saem dos livros para a realidade, um museu de cera que desperta desejos proibidos, uma menina alijada de uma boneca e uma capa capaz de dar poderes a um homem fazem dessa reunião de pequenos filmes - mas interligados entre si - daqueles clássicos que dava gosto de assistir na tevê com a dublagem da TKS. E ainda conta no elenco com o veterano Peter Cushing, que viveria Sherlock Holmes no cinema em 1984, e ele: Christopher Lee, lenda do terror.





“HALLOWEEN III – A NOITE DAS BRXAS”, de Tommy Lee Wallace – USA (1982) - Tá ok: já tem o clássico “Halloween” do Carpenter, o filme que melhor captou o lado sombrio dessa comemoração muito peculiar da cultura norte-americana, abrindo a porta para uma interminável sequência que perdura até hoje, mais de 40 anos após seu lançamento. Mas é impossível não referir nessa relação de melhores de terror uma dessas sequências, a de nº 3. Curiosamente (e isso é uma das qualidades do filme de Tommy Lee Wallace), não tem nada a ver com a história do assassino Michael Myers entabulada nos até então outros dois anteriores. Mas a principal qualidade de “Halloween III” é o de ser absolutamente arrepiante como poucos filmes o são. Antecipando a viagem paranoico-televisiva de “Videodrome” de Cronenberg e resgatando ideias de obras como “Invasores de Corpos”, dos filmes de zumbis, inova a abordagem dos filmes de bruxa ao adicionar, inclusive, a crítica ao sistema capitalista, capaz de penetrar no cérebro dos consumidores e lobotomizá-los para vender seus produtos. Isso tudo sem deixar de ser sanguinolento. Em uma época em que se começava a discutir os efeitos nefastos da propaganda subliminar, é de arrepiar só de ouvir aquele jingle maldito mas aparentemente inocente.



Cly Reis
Daniel Rodrigues

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

"Atividade Paranormal" de Oren Peli (2009)




Fui ver ontem no cinema “Atividade Paranormal”. Muito parecido com “A Bruxa de Bair”, muito mesmo. É um filão do cinema que está na moda esta coisa documentarística, câmera na mão, filmagem sugeridamente amadora; tipo “REC” e “Cloverfield-Monstro”, por exemplo; e este “Atividade Paranormal” segue o mesmo rumo com uma inteligência de gancho de roteiro que confere uma saudável sensação de realismo às cenas. A ideia? Filmagem de fenômenos paranormais dentro de uma casa. Ótima! Pena os atores serem fracos, mas o que afinal não acaba prejudicando a idéia do filme, porque a favor do realismo proposto, faz parecer às vezes que são pessoas comuns que não se sentem de todo confortáveis em frente à câmera.
O lance todo é uma garota se diz atormentada desde criança por alguma coisa paranormal, assombração, espírito ou algo assim, e o namorado meio cético resolve tirar a limpo o negócio filmando tudo que fazem durante o dia e deixando a câmera e microfones ligados à noite e, principalmente nestas horas, a câmera parada registra coisas ora silenciosas, ora barulhentas, ora estaticamente assutadoras. Portas mexendo, sombras, passos na escada, luzes acendendo. Tudo sem que o “negócio” apareça. E este é o grande ganho do filme. O invisível!
“A Bruxa de Blair” que certamente o inspirou, também joga com os mesmos elementos, e é claro investe neste desconhecido também, mas talvez a vantagem que “Atividade Paranormal” tenha em relação a seu antecessor de sucesso seja o ambiente CASA. Casas assombradas sempre foram símbolos de terror, e o coquetel casa+escuridão+movimentos+portas+invisível+desconhecido formam uma combinação verdeiramente assustadora.
Ao passo que em “Blair Witch Project” os sustos e as expectativas eram mais raros e esperados, aqui eles são uma constante cada vez que o casal apaga a luz e vai dormir. Só de vê-los deitados já ficamos com a atenção aguçada para os ruídos e para todo canto da tela. Ponto alto é quando a menina é puxada por algo que não aparece e arrastada corredor afora (e a câmera só ali parada no tripé).
No fim das contas, você no cinema pode até achar “ah, nem é muuuito assutador”; até mesmo ouvi risos ao final da sessão – que seja dito, dos mesmos que quase grunhiam durante algumas cenas. Que seja. “Atividade Paranormal” não é exatamente um filme pra assustar na hora, ele deixa a sensação de medo. Queria ver estes mesmos que riram no cinema, ao chegar em casa na hora de apagar a luz pra dormir.
***
OBS. Curiosamente é o tipo do filme que, em nome da sensação, é melhor ver em DVD em casa do que ver no cinema. Imagina desligar o aparelho e ir da sala até o quarto? E depois no quarto?



Cly Reis

terça-feira, 2 de maio de 2023

Coleção "Os Melhores Filmes de Todos os Tempos - Terror", coordenação de Paulo Basso Jr. - ed. Europa (2020)



 

Filmes de terror
Ganhei de aniversário - a meu pedido - o livro  de Terror da coleção "Os Melhores Filmes de Todos os Tempos".
Meio decepcionante.
Uma breve coletânea de posters de grandes clássicos do gênero com algumas informações, observações e curiosidades. A verdade é que deveria ter me interado melhor do que se tratava a publicação antes de querer tê-la em minha biblioteca. Tem as obviedades, como "O Bebê de Rosemary", "A Noite dos Mortos-vivos", algumas boas surpresas, como o assustador "O Babadook", justiças, como o inovador "A Bruxa de Blair", e novos clássicos como o impressionante "A Bruxa".
Esperava uma vasta lista, com dicas improváveis, coisas pouco conhecidas, informações que me fizessem querer ver algum filme que nunca me interessara etc., mas o que ganhei foi apenas uma publicação bem básica para iniciantes no assunto.
Para ser justo, algumas das curiosidades são realmente muito interessantes e algumas delas eu sequer tinha conhecimento, como o fato de Jamie Lee Curtis só ter sido a escolhida para "Halloween" por ser filha de Janeth Leigh, a estrela do clássico "Psicose"; de Christopher Lee ter feito "O Homem de Palha" de graça e colocar o filme como o ponto alto de sua carreira; ou da Disney ter manifestado a intenção de comprar o roteiro de "A Hora do Pesadelo', com a intenção de suavizá-lo para crianças e adolescentes. Mas só seria bom mesmo se tivesse uns duzentos ou trezentos filmes, como no número anual especial da antiga revista Set, que trazia um guia com os melhores filmes de todos os tempos em cada gênero e uma publicação especial dedicada ao terror. Aquilo lá, sim, muito me serviu de base e orientação.
Quem sabe uma hora dessas encontro algo assim. 
Mas não foi dessa vez.



Cly Reis