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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

"Pinóquio", de Ben Sharpsteen e Hamilton Luske (1940) vs. "Pinóquio", de Robert Zemeckis (2022)

 


Uma partida que já começa com um favorito disparado: "Pinóquio" de 1940 tem mais talento, criatividade e um futebol mais vistoso, o famoso futebol arte. Já o longa recente do competente Robert Zemeckis, entra com um esquema defensivo defensiva, recuado, só espelhando a tática do adversário. Ambos começam lindamente e delicados, mas a originalidade e a delicadeza dos detalhes da animação original, se destacam muito.

Na história, que todo mundo conhece, um velho carpinteiro que faz um boneco de madeira que por meio de uma fada ganha vida e, um tanto rebelde, um tanto inocente e curioso, acaba saindo de casa e se metendo em uma série de apuros.

Os primeiros minutos são de futebol de alto nível, para frente, os dois com vontade de ganhar. "Pinóquio" de 2022 tenta inovar e mostrar que tem talento, apresentando a repaginada que deu em seus atletas e nisso bate um bolão, mas não o suficiente para superar o encanto do futebol do time de 1940, que, por sua vez, mostra que tem estrela. E é por aí que sai o 1x0. Cruzamento de Fada Azul, Gepeto escora para trás com a cabeça, e Pinóquio, mostrando que não é perna de pau, afunda a rede. 

As cenas inicias são bem parecidas, todo encanto que surge no início dos dois longas é bem impactante em ambos, mas como falei anteriormente, o primeiro, por ser original, se torna algo único e não tem como competir com a cena de Pinóquio ganhando vida, o grilo sendo introduzido como sua consciência, e uma apresentação de personagens linda e lúdica, ao passo que a nova versão apenas emula isso.

O jogo segue ainda igual, com momentos belos, mas termina o primeiro tempo bem morno. Segundo tempo se inicia sem novidades, apenas com uma certa acelerada que o jogo ganha. A equipe de 2022 coloca uma jogadora que parece que vai brilhar, a gaivota Sofia, personagem nova introduzida nessa nova versão, porém pouca coisa acontece e só vai mesmo acontecer lá pelo final do segundo tempo. Chegamos, então, aos minutos finais com cada time tentando surpreender da sua forma: o time de 2022, exagera nos ataques e fica exposto, toma o contra-ataque e... buuum!, leva o segundo gol. Acaba aprendendo que é melhor jogar simples de vez em quando. 2x0 para Pinóquio '40.


"Pinóquio" (1940) - trailer



"Pinóquio" (2022) - trailer


O novo longa tem um dos seus acertos ao nos apresentar a nova personagem que dá um sopro de originalidade ao filme e que até serve para fazer a história ir para frente, mas o roteiro faz questão de tirá-la da história e não entendi o motivo pelo qual, assim como aparece, ela some de tela. O lance da baleia ser substituída por uma fera do mar, desculpe, pode ser coisa minha, mas, particularmente, não gostei.

O quarto árbitro levanta a placa de +2 minutos e, aos 47 do segundo tempo o time de 2022 faz um gol de falta, mas já é tarde e o jogo chega ao fim. 

Por mais que eu tenha gostado do final do remake, que deixa a história muito aberta, o longa no geral não consegue ter a mesma magia do original que, desde do início já traz uma beleza, uma pureza, um encanto singulares. Devido a toda essa magia, bem característica da era de Ouro da Disney e que vale muito, o longa de 1940 sai vitorioso, e jogando muito melhor que seu adversário.

Mas esse torneio não acaba aqui! Logo logo, o time de Ben Sharpsteen e Hamilton Luske vai enfrentar um novo adversário treinado por ninguém menos que o fabuloso Guillermo Del Toro.

Continua...  

No alto, criador e criatura, o velho Gepetto e Pinóquio, à esquerda a animação e à direita o live-action;
na segunda linha, a Fada Azul das duas versões dando vida ao garoto de madeira;
e, abaixo, o que acontece quando se mente,
elemento clássico na história de Pinóquio mas que tem bem menos importância e destaque na nova versão.
 

E o filme novo ainda teve a ousadia
de tentar superar um verdadeiro clássico...
Que cara de pau!




por Vagner Rodrigues

domingo, 14 de agosto de 2022

"Procurando Nemo", de Andrew Stanton e Lee Unkrich (2003)




O cinema tem, ao longo de sua história, tantos pais marcantes, de todos os estilos, bons, maus, amorosos, relapsos, loucos, autoritários, passivos..., mas, por incrível que pareça, dentre tantos homens, o meu pai preferido do cinema, o que mais me emociona, não é um humano. Nem toda a ascendência de um Vito Corleone em "O Poderosos Chefão", o empenho de melhora como pai, de um Ted Kramer em "Kramer vs. Kramer", uma dedicação com sentimento de impotência de um Chris Gardner em "À Procura da Felicidade", fúrias vingativas como a de um Bryan Mills em "Fúria Implacável", ou uma inconformidade transformada em criatividade de um Daniel Hillard em "Uma Babá Quase Perfeita", se igualam à figura paterna de Marlin, de "Procurando Nemo". Um peixe, num filme de animação simboliza mais do que qualquer outro a condição de pai. 
Marlin, um peixe-palhaço, é um pai solteiro, e aí entra a habilidade da Disney/Pixar em lidar com tragédias dando-lhes a devida relevância no âmbito geral da história, sem contudo, deixar o filme pesado. A mãe de seu filho morre, tragicamente, quando seu ninho com as ovas que ela pusera, é atacado por uma barracuda. Apenas um ovo se salva e este será Nemo. Nemo nasce com uma nadadeira menor que a outra, mais um ponto sensível da trama que lida com deficiências físicas de uma maneira muito natural e bonita, mas até por isso e por ser o filho único de uma ninhada quase totalmente exterminada, é tratado por seu pai com um cuidado excessivo. Merlin não permite que Nemo faça nada minimamente arriscado, que se afaste alguns metros a mais, que tente alguma coisa diferente do rotineiro, que explore possibilidades, que descubra coisas novas. Essa restrição toda faz com que Nemo, que é um bom "menino", na verdade, meio que se rebele e desobedeça o pai em uma orientação importante. Só que essa teimosia pontual, em especial, é determinante para o destino do peixinho, que acaba sendo apanhado por mergulhadores que o levarão para ser peixe decorativo em algum aquário, em algum lugar, sabe-se lá onde.
Tudo perdido! Não há como encontrar alguém assim... Pode ter ido parar em qualquer lugar do mundo. Impossível! Não para o Marlin.
Com uma determinação comovente, juntando o mínimo de pistas que vai conseguindo, a partir de uma máscara perdida de um dos mergulhadores, ele vai seguindo o rastro do filho numa contagem regressiva antes que aquele seja vendido, descartado ou comido, num destino que ele desconhece mas que sabe que precisa impedir que aconteça. Para isso ele rompe mares com uma coragem que nem ele mesmo conhecia em si mesmo, enfrentando seus piores medos e passando por cima de suas próprias regras e restrições, tudo isso contando com a "ajuda" da atrapalhada mas simpaticíssima e cativante Dory, uma peixinha cirurgiã-patela com problemas de memória que, por mais que muitas vezes ponha o amigo em enrascadas, é decisiva para que o peixe-palhaço encontre o filho. 

Cena em que um pelicano conta para Nemo
 as peripécias do pai à sua procura


Ele passa do limite que estabelecera para que o próprio filho nunca passasse, ele enfrenta tubarões famintos, ele nada entre águas-vivas, pega correntes perigosas, conhece tartarugas centenárias, pega carona numa baleia, escapa de gaivotas e, por todas essas façanhas, praticamente se torna uma lenda: a história do pai que atravessou oceanos enfrentando a tudo e a todos para encontrar o filho é contada pelos sete mares. Predadores, moluscos, crustáceos, cardumes e até pássaros conhecem a lenda e a contam, exaltando os feitos do pai-herói. E, exatamente, pelo fato da lenda ter ido tão longe e chegar até de outras espécies, um desses pássaros, um pelicano acaba tornando possível o tão improvável reencontro entre pai e filho.
Marlin é um pai exemplar, um pai que faz a gente chegar a se perguntar se iria a tal ponto, tão longe como ele foi (e a reposta acaba sendo sim). Um pai para o qual nada importa mais no mundo do que o filho. Mas Marlin é, sobretudo, um pai que aprende a lição de que é importante ser zeloso, sim, cuidadoso mas que, na verdade, não se cria um filho para si mesmo, se cria um filho para o mundo. E essa condição, a de pai, é uma condição na qual se está sempre aprendendo. e o mais importante nela é, exatamente, ficar atento às lições.
Sejamos, nós pais, todos, um pouco como Marlin, e aprendamos todos os dias mais um pouco sobre essa coisa mágica mas desafiadora que é ser pai.



Cly Reis

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Sergei Prokofiev - "Pedro e o Lobo" (1936)



Duas capas de "Pedro e o Lobo":
acima, a primeira gravação, com a 
Boston Symphony Orchestra, de
1939, e abaixo, versão em português
narrada por Rita Lee, de 1989
”Na Rússia, há um grande esforço para a educação musical das crianças. Uma das minhas peças orquestrais, ‘Pedro e o Lobo’, foi uma experimentação. As crianças recebem impressões de diversos instrumentos da orquestra apenas ouvindo a peça sendo apresentada”. 
Sergei Prokofiev

“[O estilo de Prokofiev é uma] combinação do simples com o intrincado, da complexidade do conjunto com a simplificação do particular”. 
V. Karatygin, crítico musical

“Todo o instável, transitório, acidental ou caprichoso foi excluído de sua obra (...) Nada efêmero, nada acidental. Tudo é distinto, exato, perfeito. Por isso, Prokofiev é um dos maiores compositores do nosso tempo”. 
Sergei Eisenstein

O compositor russo Sergei Prokofiev pode ser considerado um artista moderno em vários aspectos. Não apenas por ter contribuído para a construção da música contemporânea uma vez que pertencente à geração modernista, mas por ter sentido na pele o maior dos dilemas de um artista dos tempos atuais: ser pop ou não ser pop. Eis a questão. Para quem vivia de arte na Rússia de Stálin, o estrelato até era possível, mas não sem preço. O instituído conceito de Realismo Socialista exigia dos artistas maior comunicação com o publico. Trocando em miúdos: que suas criações servissem, como em qualquer ditadura, de propaganda política. Entre os grandes músicos de sua geração, todos, sem exceção, tiveram problemas para exercer justamente aquilo que os fazia importantes inclusive para o governo bolchevique, que se aproveitava de seus talentos para potencializar o discurso comunista. Stravisnky, Rachmaninoff e Shostakovitch, por exemplo, sofreram ora com a apropriação do Estado, ora com a ferrenha vigília do mesmo. Se não obedeciam, eram postos numa geladeira mais fria do que a Sibéria: aquela destinada aos traidores da nação. Fosse numa prisão domiciliar ou mesmo no autoexílio, não raro o resultado era uma depressão pela falta de liberdade ou, pior, pelo nacionalismo ferido. Não havia o que lhes salvasse.

Com Prokofiev ocorreu tudo isso também: talento descoberto cedo, alçamento à estrela, tentativa de doutrinação, contrariedade a esta condição, longo período sabático no exterior, amadurecimento artístico e... retorno para a Rússia. Nessa ordem. O bom filho, ainda mais um nacionalista como todos da sua geração, à casa tornaria hora ou outra, mesmo que o cenário não fosse dos mais favoráveis como aquele de 1933, 16 anos após a Revolução Socialista. Produzir? Podia, só que dentro dos ditames que o estado determinava. Passar a compor marchas diatônicas, corais para amadores e cantatas meramente comemorativas era o que lhe restava se quisesse trabalhar. Neste processo de simplificação linguística e aproximação com o lirismo tradicional russo escreveu trilhas para cinema em contribuições memoráveis nos filmes “Alexandre Nevsky” e “Ivan, o Terrível”, ambos de Sergei Eisenstein. Mas longe daquilo que gostava: dissonâncias, polifonia, riqueza harmônica e exageros aqui e ali. 

Só que, diferentemente dos seus pares, Prokofiev tinha dentro de si um anjo para lhe salvar. Compositor desde os 5 anos de idade, quando surgiu como pianista prodígio, Prokofiev resgata da memória as tenras melodias folclóricas que ouvia dos camponeses quando criança em Sontsovka, na Ucrânia, onde nascera, e do incentivo dos pais para a vida musical para se inspirar e pincelar com cores vivas a sua inevitavelmente intrometida obra. É neste contexto que nasce aquela que, além de ser sua obra mais conhecida, é também uma das mais revolucionárias da música erudita de todos os tempos: o conto sinfônico infantil “Pedro e o Lobo”, de 1936, para narrador e orquestra, Opus 67.

Capa do livro original 
em russo, de 1936
Na história, Pedro é um jovem pastor de ovelhas que vive com o seu avô no campo. Um dia, farto de algo mais divertido, decide gozar com as pessoas da aldeia, mentindo que estava sendo atacado por um lobo. Desmascarado, ele não é acudido pelos camponeses irritados com sua atitude mentirosa quando, de fato, o perigoso animal espreita. O lobo engole o pato, que havia fugido por descuido do menino, e só não o faz o mesmo com o gato porque este, ágil, sobe à árvore. 

O sucesso universal que “Pedro...” obteria século XX adiante faz com que seja difícil imaginar o quanto foi penoso para Prokofiev compô-la. Autor acostumado às construções intrincadas de melodia e harmonia, subvertidas com perícia e austeridade, o que geralmente lhe dificultava o entendimento, Prokofiev via-se agora diante da encomenda de Natalya Sats, diretora de um teatro infantil de Moscou, em um projeto no qual era necessário ser compreendido por todos os públicos, principalmente o infantil. Desta forma, o compositor usa toda sua inteligência musical para, num processo cartesiano, limpar as complexidades desnecessárias e edificar uma peça que, devido à sua beleza lúdica e clareza conceitual, passou a servir de referência a obras voltadas para crianças. Na Rússia e no mundo! Sendo forçosamente pop, Prokofiev inferiu de maneira inapagável na cultura pop.

Ledo engano, no entanto, supor que o compositor russo apenas despiu de experimentalismo sua música para criar um mero número fácil e vulgar. O grande mérito dele está em, sabendo valer-se de toda sua sensibilidade musical e extenso cabedal técnico – adquirido desde a infância com mestres como Glière, Rimsky-Korsakov e Stravisnky, e mais tarde, no convívio com figuras como Picasso, Cézanne, Diaguilev e Maiakowsky –, não desfazer a inteligência do público a quem se dirigia: as crianças. Situando-se entre a música absoluta, a realização de uma paisagem sonora ideal desvinculada do ambiente externo, e a música programática, gênero instrumental criado no período romântico que transforma o espaço natural em sala de concerto, “Pedro...” tem o objetivo pedagógico de ensinar música às crianças.

Prokofiev: um revolucionário
entre o erudito e o popular
Prokofiev deu a cada personagem da história a representação por um instrumento: Pedro, o quarteto de cordas; passarinho, a flauta transversal; pata, oboé; gato, clarinete; vovô, fagote; lobo, três trompas; e os sons dos caçadores, tímpanos e bombo. Através da linguagem musical plástica e literária, faz-se entender e entreter. No espaço simbólico entre a elite e o povo, Prolofiev optava pelos dois. Como Richard Wagner, o russo vale-se da aliteração poética para fazer com que a música participe do enredo, evocando sugestões e harmonias. Uma das ferramentas usados é outra técnica largamente usada pela ópera: o leitmotiv. Elemento recorrente na composição de “Pedro...”, ajuda Prokofiev a desenvolver temas que constituem, cada um, um “motivo”, isto é, uma reiteração ao longo da composição, que apela com frequência ao resgate de trechos e sons anteriores.

Ao suavizar sua estética geralmente arrojada por uma simplificação estilística, Prokofiev marca uma viragem que, talvez sem perceber, provocaria uma revolução na música mundial. Quantos artistas posteriores a ele oriundos do meio alternativo, da vanguarda ou do erudito também se depararam com a dicotomia entre popular e alta cultura? Manterem-se fiéis aos preceitos e restringir sua comunicação a poucos ou mudar de paradigma e expandir o alcance de suas obras? E quantos, sem saber lidar, se perderam nisso? Beatles, Salvador Dalí e Federico Fellini, cada um em sua área, sabem bem do que se trata. 

O fato é que é certo dizer, por exemplo, que “Fantasia”, realizado três anos após o lançamento de “Pedro...”, jamais sairia do raff de Walt Disney não fosse o conceito linguístico cunhado por Prokofiev, que foi aos Estados Unidos em 1938 apresentar-lhe a peça ao piano especialmente. Tanto que o próprio Disney produziu, em 1946, sua versão para a obra, introjetando seus ensinamentos. “Pedro...” influenciou as cabeças de Hollywood, que perceberam naquela “fórmula” de casamento música-imagem um poderoso elemento narrativo de comunicação com o público espectador, e não só o infantil. Filmes, animações, publicidade, televisão e tudo que se imagine da relação som/personagem bebem até hoje nesta inaugural sinfonia para crianças – e adultos, claro. Não precisa ir muito mais longe para notar essa influência. Os acordes de cordas que designam Pedro são exaustivamente copiados em praticamente todas as trilhas sonoras cinematográficas de filmes minimamente voltados ao público infanto-juvenil, visto que o principal reinventor do conceito musical do cinema moderno, John Williams, é claramente um adepto de Prokofiev.

"Pedro e O Lobo", de Walt Disney (1946)

Além disso, é possível ouvir versões de “Pedro...” nas mais diversas línguas e culturas, que se identificam com a história independentemente do local e tempo dada sua universalidade. David Bowie, Sean Connery, Bono Vox, Boris Karloff (inglês), Gérard Philipe, Pierre Bertin (francês), Antonio Banderas (espanhol), Sophia Loren (italiano), Paul de Leeuw (holandês), Rita Lee e até Roberto Carlos (português) já narraram a peça em seus respectivos idiomas em mais de uma centena de gravações.

O feito de Prokofiev, mesmo que a duras penas, foi o de contribuir sobremaneira para a cultura pedagógica da música na sociedade e para a popularização da música erudita, taxada de difícil e chata (muitas vezes, não sem razão) pelo grande público. Em “Pedro...”, sem abrir mão da tradição clássica e da veia vanguardista, Prokofiev, salvo pela própria alma infantil, ajudou a democratizar a música de alta qualidade, tornando-a popular no melhor sentido da palavra. Fez o que talvez camarada Stálin nem suspeitasse ser possível sem rigidez: uma obra literalmente “comuna”.

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FAIXAS:

1. "Parte 1" - 00:56
2. "Parte 2" - 01:25
3. "Parte 3" - 02:17
4. "Parte 4" - 01:49
5. "Parte 5" - 01:47
6. "Parte 6" - 01:04
7. "Parte 7" - 01:43
8. "Parte 8" - 01:25
9. "Parte 9" - 02:31
10. "Parte 10" - 01:31
11. "Parte 11" - 01:11
12. "Parte 12" - 00:33
13. "Parte 13" - 01:55
14. "Parte 14" - 00:19
15. "Parte 15" - 01:50

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OUÇA O DISCO:
Sergei Prokofiev - "Pedro e o Lobo"*

*Versão com a New Philharmonia Orchestra, narrada por Richard Baker com dondução de Raymond Leppard, de 1971, considerada pela revista de música clássica Gramophone como a melhor gravação de "Pedro e o Lobo"


Daniel Rodrigues

sábado, 7 de dezembro de 2019

"A Dama e o Vagabundo", de Charlie Bean (2019)




A história de amor entre a Dama (Tessa Thompson), uma cocker spaniel mimada, e um vira-lata chamado Vagabundo (Justin Theroux), que salva a cadelinha do perigo de vagar sozinha perdida pelas ruas. Leve, lindo e muito fofo, assim é “A Dama e o Vagabundo”. A Disney acerta mais uma vez, em uma obra live-action, além de manter o espirito Disney, ainda consegue colocar representatividade no longa.
O filme sofre, como todos live-actions, das comparações com as animações originais, por tirar algumas coisas e acrescentar outras, as quais para mim, em sua maioria foram decisões acertadas. Neste caso específico, o longa ganha no seu enredo com mais história para os personagens mas perde um pouco de romantismo e quanto a isso, o roteiro poderia ter colaborado tirando um pouco de cenas do homem da carrocinha para focar mais no casal de protagonista e crescimento do sentimento entre eles. Por ser um filme com orçamento menor, ele também tem problemas nos efeitos especiais, na movimentação dos animais em algumas cenas, mas nada que atrapalhe o bom andamento.
 A obra, e muito “fofa”, você percebe que é um trabalho feito com muito carinho, atenção e muito cuidado. Nesse quesito “fofura” o filme é nota 1000, pois desde os cachorrinhos que são muito lindos e simpáticos, até a voz dos dubladores (que ficaram perfeitas), tudo funciona conforme a magia Disney manda. Mas não é só a fofura que se destaca no longa: o que podemos dizer sobre a diversidade que o longa mostra? Em grande maioria os personagens do filme são negros. Até em papeis menos relevantes, de uma cena só, está lá: atores negros. Mas também temos latinos, asiáticos, indianos... todos representados em um cinema globalizado que reflete o mundo à sua volta. Um cinema ideal onde TODOS são representados.
Com um ar moderno dialogando com o mundo atual mas sem perder a essência Disney, “ A Dama e o Vagabundo” me fez refletir sobre o papel do cinema na sociedade e seu poder em relação a ela através da diversidade étnica dos personagens mas ao mesmo tempo me fez ficar vidrado em cães fofos, brincando, dando vontade de adotar mais um filhote, me sentindo uma criança outra vez. A última vez que tive essa sensação foi com “Baby: O Porquinho Atrapalhado” e foi maravilhoso voltar a sentir isso oura vez.
Eu nunca canso da magia da Disney e a"A Dama e o Vagabundo" é cheio dessa magia.



por Vagner Rodrigues

terça-feira, 30 de julho de 2019

"O Rei Leão", de Rob Minkoff, Roger Allers (1994) vs. "Rei Leão", de Jon Favreau (2019)



São times iguais. Mesmo esquema tático, posicionamentos iguais, as mesmas jogadas, jogadores com as mesmas características. O que muda é o uniforme: um com um material mais rústico, menos confortável, e o outro com aqueles materiais altamente tecnológicos tipo aqueles que absorvem o suor, melhoram o desempenho, diminuem o atrito com o vento e o escambau. Sem falar no estádio de primeiro mundo padrão FIFA, do Centro de Treinamentos moderníssimo e equipamentos de estatística e performance e outras modernices que o outro não tem. Mas, no mais, é tudo igual. Igualzinho. Isso porque o novo "O Rei Leão", dirigido por Jon Favreau, do semelhante "Mogli, O Menino Lobo", reconhecendo a grandeza e a ascendência do antigo "O Rei Leão", imita exatamente todos os movimentos daquele time mágico de 1994 que encantou o mundo com seu futebol. Só teve uma coisa que o técnico do time de 2019, mesmo com todo o investimento, não conseguiu repetir em sua equipe: a alma. O novo filme, o novo não tem o coração do antigo. O novo Rei Leão não consegue, nem de perto, transmitir a mesma emoção que o original. E esta deficiência não se deve somente ao fato de que praticamente todos nós  já conhecemos a história e sabermos exatamente o que acontece nos momentos chave. Se deve muito mais à questão que eu referi do "uniforme novo". A tecnologia, a tecnologia!!! Ainda que salte aos olhos e faça grandiosas as imagens e a fotografia do longa, por outro lado o torna frio. Mesmo que muitas vezes nem pareça, tamanho e tão impressionante que é o realismo visual do longa, mas, assim como o original, à sua maneira e com seus recursos, trata-se, sim, de uma "animação" (computação gráfica) e, neste caso, a opção por caracterizações rigorosamente realísticas dos animais, com movimentos mínimos de boca nas falas e a menor relação possível com as maneiras humanas, acabou por afastar os personagens do espectador. O Simba é fofinho, o Timão é uma graça, mas no fim das contas, tudo parece mais um grande documentário do National Geographic, do Discovery Chanel ou do Animal Planet só que com uma historinha shakesperiana. Daria quase na mesma se o narrador de um desses canais de vida animal narrasse com aquela voz fria, quase sussurrada, com comedida e calculada dramaticidade, a saga do pobre leãozinho exilado, "...E Mufasa, tentando proteger o filhote, cai e é  pisoteado pela manada. O pobre Simba, impotente, assiste à morte do pai. O que será dele agora?". O espectador assiste a cenas como esta que mencionei, na qual se debulhou em lágrimas há 25 anos atrás, hoje, com uma naturalidade tal como se estivesse vendo, simplesmente, um leão caçar um antílope. 

Comparação cenas de "O Rei Leão" (1994) e "O Rei Leão" (2019)

Normal! Um leão caça antílopes. Ok, é isso aí. E esse é grande parte do problema: no novo filme um leão é um leão, uma hiena é uma hiena, um javali é  um javali e parece que não há nada muito a mais que isso. Eles quase não são os personagens carismáticos que fizeram do filme um cult até os dias de hoje. E o que falta a eles então? Falta a molecagem. Uma careta aqui, um esticão ali, um absurdo acolá, uma caricatura, um exagero... Falta ser mais desenho. E é aí  que o antigo ganha de vez o jogo. O desenho animado tinha a grande vantagem da flexibilidade que o modelo possibilita e, este princípio aplicado às expressões dos personagens faz toda a diferença. O novo Simba filhote é um amorzinho mas é um bichinho de pelúcia, enquanto o anterior fazia cara de sapeca, de medo, de triste e a gente ia junto na emoção. O Mufasa novo tem imponência, tem postura de pai, mas falta aquela cara de reprovação às travessuras de Simba; o vilão Scar, embora até bem constituído na nova proposta, sombrio, sinistro, convincente, carece um pouco daquele ar cínico e malicioso que o desenho apresentava e que nos fazia até gostar um pouco daquele canalha perverso e maquiavélico. E um Rafiki inxpressivo, um Pumba vago e vazio, uma Nala sem sal/sem açucar, uma Sarabi nula, e por aí vai. Um misto de medo de ousar com respeito excessivo trouxe resultados desastrosos para o novo Rei Leão. Não querendo correr riscos, entocado, como um bicho acuado, acabou chamando o adversário prro seu território e aí,foi o que se viu...
O remake toma um pela falta de originalidade e inventividade; toma outro pela ausência de emoção; outro pela falta de expressão e e carisma dos personagens; e mais um pela excessiva seriedade e negação do "futebol moleque". O Rei 2019 ainda fez o de honra por conta da maravilha que é a parte técnica e visual mas o jogo fica nisso mesmo. 4x1 para "O Rei Leão" original, não deixando nenhuma dúvida de quem manda naquele território.

O antigo Rei Leão mostra quem ruge mais alto.

O Simba de 1994 dá uma surra no de 2019 e mostra quem ruge mais alto.
Rei só existe um.





Cly Reis

sábado, 21 de julho de 2018

"Os Incríveis 2", de Brad Bird (2018)



A abordagem de "Os Incríveis 2", dando um protagonismo maior para sua personagem feminina e examinando questões de igualdade de gênero, de direitos e obrigações, não joga nem contra nem a favor do filme de Brad Bird enquanto produto final. Não o prejudica em nada, não o faz perder em dinâmica, ação, carisma dos personagens, mas também não o consegue fazer superar seu antecessor, que, com todo seu humor cativante e criatividade, já tratava de assuntos relevantes em relação à vida familiar na sociedade atual há quatorze anos atrás. "Os Incríveis 2" é apenas um bom filme, um bom entretenimento com este incremento de debate, de reflexão, de atualidade que a Pixar sabe fazer tão bem.
Nesta sequência, que começa exatamente de onde a última aventura acabou, na saída do estádio, com o vilão Escavador saindo debaixo da terra e causando pânico e destruição à cidade, a família de super-heróis vê-se novamente às voltas com a proibição da atuação dos paladinos mascarados e dificuldades financeiras, só que desta vez uma oportunidade "ilegal" surge para a Mulher-Elástico, patrocinada por um fã de super-heróis que pretende contribuir para revogar a lei e vê-los de novo livremente em ação. O problema é que a escolha da esposa Helena e sua exposição na mídia, além de causar uma enorme ciumeira em Beto Pêra, o Senhor Incrível, o colocam diante das obrigações do dia a dia como às quais ele não é nada afeito e para as quais ele vai descobrir que para dar conta tem que ser mais que um super-herói.
Em grande parte é esse o reconhecimento que o filme quer fazer às mulheres, mostrando o quanto é difícil ser mãe, dona de casa, administradora, professora, psicóloga e tudo o que o cotidiano mandar pela frente, e colocar em discussão a necessidade da colaboração, da divisão de tarefas, de tempo, de preocupações dentro da vida de um casal.
A ideia central do filme, não só na questão conjugal específica como também na trama, no combate ao vilão e na resolução do caso, parece ser a ênfase à importância do trabalho em conjunto, tentando mostrar que unindo forças as dificuldades podem vir a tornar-se menor árduas. Se o filme trata com sua forma sutil e inteligente de assuntos sérios, as risadas são garantidas pelo bebê Zezé que, agora exibindo seus poderes, ainda sem muito controle, causam uma série de confusões e trapalhadas.
Algumas cenas de ação meio longas demais; o roteiro ainda que bem bem desenvolvido, um tanto esparso ali pela metade, tentando atender a todos os personagens, mas no geral um filme bem agradável e divertido. Não, não é melhor do que "Os Incríveis", mas seria querer muito que superasse uma das melhores e mais maduras animações que a Pixar já fez. Mas dá pra ver numa boa e curtir sem decepção nem arrependimento.
Em "Os Incríveis 2", a Mulher-Elástico tira o traje antigo do armário,
sai pra trabalhar e deixa o marido em casa tomando conta das crianças.




Cly Reis