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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Exposição "Andy Warhol - Ícones Pop" - Lounge do Shopping Leblon - Rio de Janeiro/RJ (12/07/2015)









Este blogueiro que vos escreve,
prestigiando a exposição.

E fui dar aquela olhada na mini-exposição de Andy Warhol aqui no Rio. Conforme já havia comentado aqui no blog, a mostra,  encerrada no último  sábado no Shopping Leblo, apresentava poucas obras, porém contando com algumas das mais conhecidas e significativas da produção do mais pop dos artistas pop. A massificação, a idolatria, o consumismo, a impessoalidade de personalidades, a popularização de líderes, a crítica ao capitalismo, a estética, enfim, todos os elementos do conceito warholiano estavam contemplados e condensados naquelas 16 obras.
Confira, abaixo, algumas imagens da exposição.




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Todas as cores do dinheiro

As latas de Campbell's, símbolos da massificação

A estética e a técnica de Warhol representada em sua 'natureza morta'.

O Mao de Warhol, uma das imagens 'criadas' pelo artista
que ajudam a explicar expressões como "O Papa é Pop"

Muitas bocas, sorrisos artificiais

A icônica Marylin multicolorida de Warhol




Cly Reis


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Nico - "Chelsea Girl" (1967)





"Tudo o que queria no álbum foi retirado por eles.
Pedi percussão, disseram que não.
Pedi mais guitarras, disseram que não.
Pedi simplicidade, e eles o encheram com flautas!
Trouxeram cordas também; não gostava delas,
porém podia aguentá-las.
Mas a flauta!
A primeira vez que ouvi o álbum,
chorei, e tudo por causa da flauta."
Nico


Depois de ter cantado no primeiro e legendário disco do Velvet Underground, a "afilhada artística" de Andy Warhol, Christa Päffgen, conhecida no meio artístico como Nico, partia para uma carreira solo acolhida e abraçada pelos ex-colegas de banda Lou ReedJohn Cale e Sterling Morrisson, que não só participaram das gravações como foram responsáveis por metade das faixas do álbum.
"Chelsea Girl" de 1967, trabalho solo de estreia de Nico, cujo nome é inspirado no filme do mentor Andy Warhol, "Chelsea Girls", é um notável exercício artístico-musical de sonoridade basicamente folk, carregado de cordas, sopros, romantismo e melancolia. Com seu inglês carregado de sotaque bávaro e interpretações inspiradas, Nico transmite sentimentos de maneira absolutamente profunda e envolvente. Tristeza, paixão, sensualidade, delírio, magia, tudo contido na voz peculiar de tom grave da cantora, da qual nunca se soube com exatidão a nacionalidade (para muitos é alemã, para outros seria húngara).
A lenta e ácida "These Days", de Jackson Browne, namorado de Nico na época; a ótima versão para ""I´ll Keep It with Mine" de Bob Dylan; e especialmente a espetacular  e minha favorita "Chelsea Girl", a única em que Nico participa da composição, merecem destaque especial.
"Chelsea Girls", pela participação dos músicos do Velvet Underground e pela semelhança sonora com as músicas mais suaves do primeiro álbum da banda poderia ser considerado um "Velvet Underground and Nico 2", não fosse o fato de á própria artista não ter gostado do resultado final, reclamando inclusive de ter sido traída pelo produtor e pelos colegas de gravação que teriam colocado as cordas e flautas sem a autorização dela. O disco teve má recepção do público num primeiro momento mas permanece vivo como um clássico através do tempos. Outro caso daqueles discos renegados pelo artista mas que tornaram-se objeto de adoração e admiração pelos amantes da música.
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FAIXAS:
1 - The Fairest of The Seasons
2 - These Days
3 - Little Sister
4 - Winter Song
5 - It Was a Pleasure Then
6 - Chelsea Girls
7 - I'll Keep it with Mine
8 - Somewhere There's a Feather
9 - Wrap your Troubles in Dreams
10 - Eulogy to Lenny Bruce


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Ouça:
Nico Chelsea Girl



Cly Reis

segunda-feira, 26 de maio de 2014

"Visões na coleção Ludwig" - CCBB - Rio de Janeiro (25/05/2014)






por Cly Reis


Já que o 'selfie' está na moda,
eis aqui um deste blogueiro
coma tela "Cabeças Grandes",
de Pablo Picasso, ao fundo
Um programa furado que acabou dando certo. Assim pode ser descrita minha visita à exposição "Visões na coleção Ludwig", no CCBB, aqui no Rio. Não que a exposição fosse uma furada. Não! longe disso. Sabia de antemão que a mostra com diversas peças de artistas renomados seria no mínimo interessante de ser vista. O que me refiro, é que o programa não era este. Era ali pertinho, no MAM, para ver as gigantescas e hiper-reais esculturas de Ron Mueck. O que que não deu certo? Bom, só o fato de que a fila para comprar ingresso fazia voltas pelo saguão térreo do museu e a fila para entrar não era menos gigantesca. Aquilo foi desestimulante. Demoraria pelo menos duas horas para entrar, acredito. O que fiz? Para não perder a viagem até o Centro da cidade dei uma caminhada de mais ou menos uns 10 minutos e caí no Centro Cultural Banco do Brasil, onde sabia que o acervo pessoal do colecionador Peter Ludwig e sua esposa, Irene, estava exposta.
E a visita valeu demais! Logo de entrada o visitante se depara com o impressionante Picasso, "Cabeças Grandes", algo assim simplesmente fantástico. O traço, a tridimensionalidade a proporção... Genial. Olho pro lado tem um Lichenstein, olho pro outro tem o retrato do colecionador, trabalhado em serigrafia por ninguém menos que Andy Warhol, no fundo da sala um Basquiat. Uau!!! Isso sem falar em outros artistas que, sinceramente, não conhecia e que me impressionaram bastante como Johns, Heisig e Pistoletto. Outra obra bastante  é a "Cabeça de Criança", de  Gotttfried Helnwein um gigantesco óleo sobre tela, de um realismo impressionante, que recebe os visitantes da mostra logo no átrio do local.
A exposição fica aberta até 21 de julho. Quem tiver a oportunidade de visitar, não deve perder.
Confira abaixo algumas imagens da mostra:


Reprodução de andy Warhol, para o
retrato do próprio colecionador,
Peter Ludwig


Público admirando a exposição.
Ao fiundo o quadro "Ruínas" de
Roy Lichennstein

Escultura de George Segal,
"Garota Perdendo o Cabelo"

Tela de Paul Basquiat...

...e a mesma, em detalhe.

Instalação em madeira, "Livros"

Visitantes curtindo a exposição

Claudia Schiffer fotografada
como Cleópatra

Curiosa obra do artista russo Yankilevski,
"Tríptico nº14"

"Garrafa" e ´"Águia" de Georg Baselitz

"Grande punho de ferro" de Anselm Kiefer

Outros dos espaços da mostra

E a impressionante tela, no saguão,
"Cabeça de Criança", de Gottfried Helwein


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"Visões na coleção Ludwig"
local: CCBB - Centrol Cultural Banco do Brasil 
Rua Primeiro de Março, 66, Centro
Rio de Janeiro - 2º andar
vistação até 21 de julho de 2014
ingresso: Gratuito

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

"Ela é o Cara", de Andy Fickman (2006)


Podem dizer o que quiserem, mas, para mim, uma das melhores adaptações de Shakespeare para o cinema é "Ela é o Cara". "Ah, é filmezinho teen...", "ah, é comédia romântica...", "ah, não é totalmente fiel à história...", "...sacrifica o texto original.". Ora, por isso mesmo! "Ela é o cara" adapta uma das comédias mais divertidas do gênio inglês sem soar excessivamente reverente nem pedante. Não incorre no mesmo erro, por exemplo do "Hamlet", de 2000, com Etahn Hawke, que mesmo se passando em um cenário contemporâneo, faz uso do texto original, ou do "Romeu+Julieta" (1996), de Baz Luhrmann, que num ambiente quase cyber-punk , em meio a muita bala e ao som de muito rock, fica cheio de "vós sois...", "se quiserdes...", e coisa e tal. A maior demonstração de respeito à obra do diretor Andy Fickman é fazer rir, e tenho certeza que por utilizar tão bem seu argumento original, Shakespeare ficaria orgulhoso.

Se na peça que inspira o filme, "Noite de Reis" a protagonista Viola é uma jovem que, supondo a morte do irmão num naufrágio, no reino onde vai parar, assume a identidade de seu gêmeo e passa a trabalhar como mensageiro para o Duque Orsino, por quem se apaixona, não podendo, no entanto, revelar quem verdadeiramente é, até porque sua tarefa, como serviçal, é, justamente, ajudar o nobre a conquistar a bela Olivia; na adaptação a garota, de mesmo nome, interpretada pelo ícone dos filmes adolescentes, Amanda Bynes, é uma adolescente apaixonada por futebol e boa de bola, que sabendo da dissolução do núcleo de futebol feminino de sua escola, aproveita uma viagem do irmão Sebastian ao exterior, para, disfarçada de rapaz, assumir sua identidade e ingressar no time de futebol masculino na outra escola. A semelhança com o irmão e o futebol, tudo bem, mas como lidar com a anatomia feminina, hábitos masculinos, paqueras e coisas do tipo? Sem falar nos percalços, contratempos, encontros e desencontros com a namorada do irmão, que não sabe que ele está em Londres, com a colega Olivia que acaba se apaixonando por ele (ela), um colega intrometido que começa a desconfiar da coisa toda; e a situação com o colega de time, Duke, por quem acaba se apaixonando.

A cena da quermesse em que Viola se compromete em comparecer, com as duas identidades, e tem que se desdobrar para ser Viola e Sebastian, alternadamente, conforme a situação, é hilária! A do bar, quando tem que provar para os novos amigos que é um cara, e convoca as amigas para simular serem suas 'namoradas', fazendo os colegas de time pensar que é um gostosão, é outra de gargalhar. Mas nada se compara à cena do jogo final: primeiro o irmão, Sebastian, de volta da viagem e sem saber de nada, tendo Viola sido desmascarada pelo colega enxerido, é acusado de ser garota e abaixa o short para provar que não. Depois ela, tendo Sebastian confirmado que é homem, e ela ainda sob disfarce, tendo que provar o contrário para Duke, levantando a camiseta durante o jogo, para choque da torcida, numa das cenas mais cult das comédias teen.

Digam o que quiserem: "Ah, é filme de Sessão da Tarde...", "ah, é comédia teen...", "ah, é muito clichê...", "...Shakespeare deve estar se virando no túmulo". Que seja! Eu morro de rir!

"Acredita agora?".
Viola provando quem é em um dos momentos mais engraçados do filme.


Cly Reis


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Antonio Carlos Jobim - "Wave" (1967)


Acima, a capa original
seguida da capa da reedição.
“O essencial é invisível aos olhos
 e só pode ser percebido
com o coração.”
Antoine de Saint-Exupéry


O ano de 1967 carrega uma aura mítica para a música moderna, pois marcou incisivamente a vida e a obra de artistas importantes e, consequentemente, da música em geral. Na Inglaterra, os Beatles mandam às favas o Iê-Iê-Iê e ousam dar um passo adiante com o lançamento de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", mudando para sempre a rota da música pop. Com semelhante peso, mas nos Estados Unidos, o The Velvet Underground, sob a batuta de Andy Warhol, surpreenderia o mundo com um LP de estreia onde casam rock, poesia, psicodelia, contracultura e vanguarda. Aqui no Brasil, também ventos de revolução: Gilberto GilCaetano VelosoMutantes e cia. lançam “Tropicália”, disco-manifesto do movimento tropicalista, que influenciaria todas as gerações seguintes de “emepebistas” e roqueiros brazucas e estrangeiros. Isso para ficar em apenas três exemplos.

Porém, 1967 também selaria a carreira de outro artista, experiente e já consolidado desde os anos 50: o maestro e compositor Antonio Carlos Jobim. Depois da exitosa estreia solo no mercado fonográfico norte-americano quatro anos antes, Tom havia antes disso ajudado a difundir para o mundo a já consagrada bossa nova. Para completar, ainda realiza, no início daquele mesmo ano, um feito jamais alcançado por um músico latino até então: gravar com o maior cantor popular de todos os tempos, Frank Sinatra. O disco “Francis Albert Sinatra and Antonio Carlos Jobim”, um sucesso de vendas, é tão definitivo que decreta, aliado ao desencanto de uma Rio de Janeiro que passou de paradisíaca a ditatorial com o Golpe de 64, além da força dos festivais, popularescos demais para a sofisticação da bossa nova, o fim da chamada primeira fase deste estilo. Então, para que caminho ir agora? Render-se ao poderio yankee e seguir produzindo uma música “made in USA” ou voltar para um Brasil linha-dura e atrasado tecnicamente simplesmente para não fugir às raízes?

O que para alguém menos preparado seria uma encruzilhada, para o “maestro soberano” foi resolvido de forma leve como uma onda que quebra mansa na praia. Ao invés de criar um paradoxo, Tom criou “Wave”, álbum gravado em apenas três dias do mês de julho daquele fatídico 1967 no célebre estúdio Rudy Van Gelder, em Nova York (uma antiga igreja adaptada cuja elogiada acústica presenciou sessões memoráveis do jazz, como "Night Dreamer"  de Wayne Shorter  e “Maiden Voyage”, de Herbie Hancock). Nele, se vê um artista inteiro e num momento de alta criatividade. Valendo-se de toda a técnica disponível somente naquele país até então, além de contar participações mais do que especiais – como a do mestre Ron Carter deixando sua assinatura faixa por faixa com seu baixo acústico, ou da fineza do spalla da Orquestra Filarmômica de Nova York, Bernard Eichen –, Tom apura ainda mais a sofisticação harmônica e melódica da bossa nova, seja nas composições inéditas ou nos novos arranjos para as antigas.

A começar pela faixa-título, que já nasce clássica. “Wave”, uma das mais conhecidas e celebradas canções brasileiras, abre o disco em seu primeiro e primoroso registro, dois anos antes de receber do próprio Tom a linda letra que a identificaria – e a qual, mesmo ouvindo somente os sons, é impossível não cantarolar ao escutá-la: “Vou te contar/ Os olhos já não podem ver/ Coisas que só o coração pode entender/ Fundamental é mesmo o amor/ É impossível ser feliz sozinho...”. Instrumental como praticamente todo o disco, mostra a beleza e o refinamento da orquestração do maestro alemão Claus Ogerman (que assina os arranjos), em sua terceira parceria com o colega brasileiro.

 Elegante, o disco resgata o legado da bossa nova, porém, sempre lhe trazendo algo a mais. Em “The Red Blouse” e “Mojave” (minha preferida), principalmente, nota-se a força da influência do primordial violão sincopado e dissonante de João Gilberto, tocado pelo próprio Tom – que ainda opera piano e cravo no disco. Vinicius, o outro protagonista da bossa nova, também se faz presente indiretamente na letra da única cantada do álbum: “Lamento”. Nova versão para “Lamento no Morro”, interpretada por Roberto Paiva na trilha da peça “Orfeu da Conceição”, que Tom compusera com Vinícius em 1956 –, é mais uma vez resultado do avanço proposto por Tom. Mesmo meses depois de gravar com a maior referência em voz da época, ele não se intimidou e pôs-se a fazer algo que não lhe era tão comum até então: cantar. Insatisfeito com sua primeira experiência vocal, no LP anterior, “The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim” (1965), o maestro, ora veja!, voltou a estudar canto e respiração. O empenho resultou numa peça majestosa, que virou um marco da segunda fase da bossa nova. O lindo solo de trompete é um exemplo disso, uma vez que, pincelando-a com uma elegância toda jazzística, renova uma canção arranjada, em virtude do tema da peça original, como um samba de morro.

Há ainda “Dialogo”, um belo samba-canção em que o trompete e a trompa dizem notas sofridas um para o outro; “Look at the Sly” (regravação para “Olhe o Céu”), de perfeita harmonização entre orquestra e instrumentos solo; “Triste”, que, assim como a faixa-título, estreia aqui e viraria um clássico posteriormente – ainda mais na gravação de Elis Regina com o próprio compositor, sete anos depois; e “Batidinha”, um samba com os ares da Copacabana dos anos 50 fortes o suficiente para soprarem e serem sentidos na cosmopolita Big Apple. O disco termina alegre com a colorida “Captain Bacardi”, onde Tom aproxima Brasil, Cuba e Estados Unidos com leveza e sabedoria.

“Wave” é, por várias razões, um trabalho de homenagem à bossa nova mas, acima de tudo, um passo adiante na trajetória de seu autor e da música brasileira. Um disco que soube manter nova a bossa. Se Tom Jobim ainda sofria com a crítica dos detratores por fazer um samba sem personalidade e para estrangeiro ver, “Wave” se impõe com seu altíssimo refinamento e apuro, forjando uma obra tão homogênea que é impossível classifica-lo só como bossa nova, samba, jazz ou (termo que seria inventado tempo depois) world music. É, simplesmente, música, música sem fronteiras, daquelas que não perdem a validade e que poderia, se Tom estivesse vivo, ter sido gravada ontem sem se sentir a diferença de épocas. Ao mesmo tempo universal e fincada em suas raízes. Algo que só mesmo quem carrega “brasileiro” no nome poderia realizar, fosse no Brasil ou em qualquer parte do mundo.
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Os versos iniciais de “Wave”, contou Tom Jobim certa vez, surgiram de duas fontes: a primeira frase é de autoria de ninguém menos que Chico Buarque, a quem Tom entregara a música para que o amigo inventasse a letra. Porém, bloqueado, Chico não consegui passar do verso: “Vou te contar”. Cansado de esperar pelo parceiro, sobrou, então, o restante ao próprio Tom escrever, o qual se inspirou num texto do escritor infanto-juvenil francês Antoine de Saint-Exupéry extraído do clássico “O Pequeno Príncipe”, obra a qual Tom havia musicado em 1957 para a interpretação do ator e diretor teatral Paulo Autran.
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FAIXAS:
1. "Wave" - 2:51
2. "The Red Blouse" - 5:03
3. "Look To The Sky" - 2:17
4. "Batidinha" - 3:13
5. "Triste" - 2:04
6. "Mojave" - 2:21
7. "Diálogo" - 2:50
8. "Lamento" (Vinicius de Moraes/Tom Jobim) - 2:42
9. "Antígua" - 3:07
10. "Captain Bacardi" - 4:29

todas de Tom Jobim, exceto indicada
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Ouça:





domingo, 8 de março de 2020

7 discos feitos para elas cantarem

ESPECIAL DIA DA MULHER
Eles compõem. Mas a voz é delas

por Daniel Rodrigues
com colaboração de Paulo Moreira

Michael Jackson e Diana Ross:
devoção à sua musa
Mestre Monarco disse certa vez que, embora a maioria quase absoluta de sambistas compositores sejam homens, nada sairia do zero sem a autoridade das pastoras. Se aquele samba inventado por eles entrasse numa roda de pagode e as cantoras da quadra não o "comprassem", ou seja, não o considerasse bom o suficiente para ser entoado, de nada valia ter gasto tutano compondo-o. Era como se nem tivesse sido escrito: pode descartar e passar para o próximo. Isso porque, segundo o ilustre membro da Velha Guarda da Portela, são as cantoras da comunidade que escolhem os sambas, que fazem passar a existir como obra de fato algo até então pertencente ao campo da imaginação. A voz masculina, afirma Monarco, não tem beleza suficiente para fazer revelar o verdadeiro mistério de um samba. A da mulher, sim.

Cale e Nico: sintonia
Talvez Monarco se surpreenda com a constatação de que seu entendimento sobra a alma da música vai além do samba e que não é apenas ele que pensa assim. Seja no rock, no pop, no jazz ou na soul music, outros compositores como ele partilham de uma ideia semelhante: a de que, por mais que se esforcem ou também saibam cantar (caso do próprio Monarco, dono de um barítono invejável), nada se iguala ao timbre feminino. Este é o que casa melhor com a melodia. Se comparar uma mesma canção cantada por um homem e por uma intérprete, na grande maioria das vezes ela é quem sairá vencendo.

A recente parceria de Gil
e Roberta Sá
Isso talvez não seja facilmente explicável, mas é com certeza absorvível pelos ouvidos com naturalidade. Por que, então, o Pink Floyd poria para cantar "The Great Gig in the Sky" Clare Torry e não os próprios Gilmour ou Waters? Ou Milton Nascimento, um dos mais admirados cantores da música mundial, em chamar Alaíde Costa especialmente para interpretar "Me Deixa em Paz" em meio a 20 outras faixas cantadas por ele ou Lô Borges em “Clube da Esquina”? Ao se ouvir o resultado de apenas estes dois exemplos fica fácil entender o porquê da escolha.

Nesta linha, então, em homenagem ao Dia da Mulher, selecionamos 7 trabalhos da música em que autores homens criaram obras especialmente para as suas “musas” cantarem. De diferentes épocas, são repertórios totalmente novos, fresquinhos, dados de presente para que elas, as cantoras, apenas pusessem suas vozes. “Apenas”, aliás, é um eufemismo, visto que é por causa da voz delas que essas obras existem, pois, mais do que somente a característica sonora própria da emissão das cordas vocais, é o talento delas que preenche a música. Elas que sabem revelar o mistério. “Música” é uma palavra essencialmente feminina, e isso explica muita coisa.

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Elizeth Cardoso – “Canção do Amor Demais” (1958)
Compositores: Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes

"Rua Nascimento Silva, 107/ Você ensinando pra Elizeth/ As canções de 'Canção do Amor Demais'", escreveu Tom Jobim na canção em que relembra quando, jovens, ele e o parceiro Vinicius compuseram um disco inteirinho para a então grande cantora brasileira: Elizeth Cardoso. Eram tempos de pré-bossa nova, movimento o qual este revolucionário disco, aliás, é o responsável por inaugurar. Mesmo que o gênero tenha ficado posteriormente conhecido pelo canto econômico por influência de João Gilberto e Nara Leão, o estilo classudo a la Rádio Nacional da “Divina” se encaixa perfeitamente às então novas criações da dupla, que havia feito recente sucesso compondo em parceria a trilha da peça “Orfeu da Conceição”, de 3 anos antes. Um desfile de obras-primas que, imediatamente, se transformavam em clássicos do cancioneiro brasileiro: “Estrada Branca”, “Eu não Existo sem Você”, “Modinha” e outras. O próprio João, inclusive, afia seus acordes dissonantes em duas faixas: a clássica “Chega de Saudade” e a talvez mais bela do disco “Outra Vez”.

FAIXAS
1. "Chega de Saudade"
2. "Serenata do Adeus"
3. "As Praias Desertas" 
4. "Caminho de Pedra"
5. "Luciana" 
6. "Janelas Abertas"
7. "Eu não Existo sem Você"   
8. "Outra Vez" 
9. "Medo de Amar" 
10. "Estrada Branca" 
11. "Vida Bela (Praia Branca)" 
12. "Modinha"  
13. "Canção do Amor demais"
OUÇA

Dionne Warwick‎ – “Presenting Dionne Warwick” (1963)
Compositores: Burt Bacharach e Hal David 


Raramente uma cantora começa uma carreira ganhando um repertório praticamente todo novo (cerca de 90% do disco) e a produção de uma das mais geniais duplas da história da música moderna: Burt Bacharach e Hal David. Mais raro ainda é merecer tamanho merecimento. Pois Dionne Warwick é esta artista. A cantora havia chamado a atenção de David e Bacharach, que estavam procurando a voz ideal para suas sentimentais baladas. Não poderia ter dado mais certo. Ela, que se tornaria uma das maiores hitmakers da música soul norte-americana – inclusive com músicas deles – emplaca já de cara sucessos como "Don't Make Me Over", "Wishin' and Hopin'", "Make It Easy on Yourself", "This Empty Place".



FAIXAS
1. "This Empty Place"
2. "Wishin' and Hopin'"  
3. "I Cry Alone"  
4. "Zip-a-Dee-Doo-Dah" (Ray Gilbert, Allie Wrubel)
5. "Make the Music Play"
6. "If You See Bill" (Luther Dixon)
7. "Don't Make Me Over"
8. "It's Love That Really Counts"
9. "Unlucky" (Lillian Shockley, Bobby Banks)
10. "I Smiled Yesterday"
11. "Make It Easy on Yourself"
12. "The Love of a Boy"
Todas de autoria David e Bacharach,, exceto indicadas
OUÇA

Nico – “The Marble Index” (1968)
Compositor: John Cale

Diferente de Dionne, Nico já era uma artista conhecida tanto como modelo, como atriz (havia feito uma ponta no cult movie “La Dolce Vita”, de Fellini) como, principalmente, por ter pertencido ao grupo que demarcaria o início do rock alternativo, a Velvet Underground, apadrinhados por Andy Wahrol e ao qual Cale era um dos cabeças ao lado de Lou Reed. Já havia, inclusive, gravado, em 1967, um disco, o cult imediato “Chelsea Girl”. Porém, coincidiu de tanto ela (que não gostara do resultado do seu primeiro disco) quanto Cale (de saída da Velvet) quererem alçar voos diferentes e explorar novas musicalidades. Totalmente composto, produzido e tocado por Cale, “Marble”, predecessor do dark, é sombrio, denso, enigmático e exótico. A voz grave de Nico, claro, colabora muito para essa poética sonora. A parceria deu tão certo que a dupla repetiria a mesma fórmula em outros dois ótimos discos: “Deserthore” (1970) e “The End” (1974).

FAIXAS
1. "Prelude"
2. "Lawns of Dawns"
3. "No One Is There"
4. "Ari's Song"
5. "Facing the Wind"
6. "Julius Caesar (Memento Hodié)"

7. "Frozen Warnings"
8. "Evening of Light"


Aretha Franklin – “Sparkle” (1976)
Compositor: Curtis Mayfield 


Na segunda metade dos anos 70, quando a era disco e a black music dominavam as pistas e as paradas, foi comum a várias cantoras norte-americanas gravarem discos com esta atmosfera. Aretha Franklin fez a seu modo: para a trilha sonora de um filme inspirado na história das Supremes, chamou um dos gênios da soul, Curtis Mayfield, para lhe escrever um repertório próprio. Deu em um dos melhores discos da carreira da Rainha do Soul, álbum presente na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. As gingadas “Jump” e “Rock With Me”, bem como as melodiosas ‘”Hooked on Your Love”, “Look into Your Heart” e a faixa-título, não poderiam ter sido compostas por ninguém menos do que o autor de “Superfly”.



FAIXAS:
1. "Sparkle" 
2. "Something He Can Feel" 
3. "Hooked on Your Love" 
4. "Look into Your Heart" 
5. "I Get High" 
6. "Jump" 
7. "Loving You Baby"
8. "Rock With Me"


Diana Ross – “Eaten Alive!” (1985)
Compositor: Barry Gibb



Já que lembramos das Supremes, então é hora de falar da mais ilustre do conjunto vocal feminino: Diana Ross. Com uma longa discografia entre os discos com a banda e os da carreira solo, em 1985 ela ganha de presente do amigo e admirador Barry Gibb, líder da Bee Gees, baladas e canções pop esculpidas para a sua voz aguda e sentimental. De sonoridade bem AOR anos 80, o disco tem, além de Gibb, a da devoção de outro célebre músico à sua idolatrada cantora: Michael Jackson. Seu ex-parceiro de palcos, estúdios e de cinema, o autor de “Thriller” coassina a esfuziante faixa-título para a sua madrinha na música. Merecida e bonita homenagem.



FAIXAS:
1. “Eaten Alive”
2. “Oh Teacher” 
3. “Experience” 
4. “Chain Reaction”
5. “More And More” 
6. “I'm Watching You”
7. “Love On The Line” 
8. “(I Love) Being In Love With You” 
9. “Crime Of Passion” 
10. “Don't Give Up On Each Other”


Gal Costa – “Recanto” (2011)
Compositor: Caetano Veloso

A afinidade de Caetano e Gal é profunda e vem de antes de gravarem o primeiro disco de suas carreiras juntos, em 1966, “Domingo” – quando ele, aliás, compôs as primeiras músicas para a voz dela, como as célebres “Coração Vagabundo” e “Avarandado”. Ela o gravaria várias vezes durante a longa carreira, não raro com temas escritos especialmente. “Recanto”, disco que já listamos em ÁLBUNS FUNDAMENTAIS e entre os melhores da MPB dos anos 2010, é, de certa forma, a maturidade dessa relação pessoal e musical de ambos. “Recanto Escuro” e “Tudo Dói” são declarações muito subjetivas de Caetano tentando perscrutar a alma de Gal, o que vale também para o sentido inverso. Referência da música brasileira do início do século XXI, o disco, que tem a ajuda fundamental de Kassin e Moreno nos arranjos e produção, é, acima de tudo, a cumplicidade entre Caê e Gal, estes dois monstros da música, vertida em sons e palavras.

FAIXAS
1. Recanto Escuro
2. Cara do Mundo 
3. Autotune Autoerótico 
4. Tudo Dói 
5. Neguinho 
6. O Menino
7. Madre Deus 
8. Mansidão 
9. Sexo e Dinheiro 
10. Miami Maculelê 
11. Segunda


Roberta Sá – “Giro” (2019)
Compositor: Gilberto Gil 


Talvez este seja o único caso entre os listados em que a cantora não está à altura do repertório que recebeu. Não que Roberta Sá não tenha qualidades: é afinada, graciosa e tem lá a sua personalidade. Mas que sua interpretação fica devendo à qualidade suprema da música do mestre Gil fica. “Giro”, no entanto, é bem apreciável, principalmente faixas como “Nem”, “Afogamento”, “Autorretratinho” e “Ela Diz que Me Ama”, em que a artista potiguar consegue reunir novamente Gil e Jorge BenJor, num samba-rock típico deste último: os contracantos, o coro masculino como o do tempo do Trio Mocotó e a batida de violão intensa, a qual Gil – conhecedor como poucos do universo do parceiro –, se encarrega de tocar.




FAIXAS
1. “Giro”
2. “O Lenço e o Lençol”
3. “Cantando As Horas”
4. “Ela Diz Que Me Ama”
5. “Nem”
6. “Fogo de Palha”
7. “Autorretratinho”
8. “A Vida de um Casal”
9. “Xote da Modernidade”
10. “Outra Coisa”
11. “Afogamento”

sexta-feira, 31 de março de 2017

cotidianas #504 - Roleta Russa



"Gun", Andy Warhol
- Não tenho mais munição. - anunciou aterrorizado o Dezenove.
Os demais soldados, como que alertados para a possibilidade terrível, verificaram apressadamente suas armas, bolsos e pentes sobressalentes.
- Eu também!
- Eu também estou sem nada.
- Eu também...
Não tinham nada. Bem,.. quase nada
Um deles, depois de examinadas a Mini Uzi, a automática, os pentes reservas, descobriu uma bala no .22 cano curto que levava sempre de reserva.
- Eu tenho uma bala.
Entreolharam-se todos evidentemente desesperançosos.
O soldado Vinte e Nove quebrou então aquele silêncio funesto:
- Bom, imagino que todos concordam que com só uma bala não temos a menor chance contra essas coisas.
Os outros anuíram silenciosamente.
O dono da arma, a única com a escassa munição, o Trinta e Um, manifestou-se então:
- Sendo assim, meus caros, creio que farei uso dela. Prefiro morrer assim do que ver meu corpo sendo devorado por aqueles selvagens. - e levando o revolver à cabeça e encostando-o à têmpora direita, declarou - Foi um privilégio ter servido com vocês.
O dedo já pressionava tensamente o gatilho quando, no momento em que ia consumar o ato, foi interrompido.
- Ei, espere! Você não é o único que prefere uma bala na cabeça aos dentes daquelas coisas. Eu, na condição de seu superior, reivindico para mim o direito de utilizar esta arma. Se alguém aqui vai usar essa bala, serei eu.
Embaraçado, o soldado baixou a arma e hesitante e contrariado foi, sem ver alternativa, entregando-a ao seu superior. No entanto, quando o revólver já ia sendo passado às mãos do sargento, o soldado Vinte e Nove se interpôs:
- Com todo o respeito, senhor, mas creio que numa situação dessas uma patente não deva lhe garantir privilégio. Todos vamos morrer de qualquer forma, seja pelos caras famintos lá fora ou por essa maldita bala. Acho que deveríamos chegar a um acordo, decidir de outra maneira...
- Decidir na sorte. - completou o Vinte e Oito.
Constrangido pela inoportuna tentativa de imposição de autoridade o sargento, um tanto envergonhado, largou bruscamente a arma sobre uma velho balcão. A intensidade do ato fez com que o .22 cromado girasse lateralmente por um breve instante sobre a superfície.
- É isso! - exclamou o Vinte e Oito observando o movimento no balcão.
- O que?
- Veja: - explicou - estamos em seis aqui. Colocamos a bala no tambor, giramos e quem tiver a sorte de disparar não vai ter que morrer devorado daqueles malditos comedores de tripas lá fora.
Os demais, inclusive o sargento, se olharam parecendo concordar com a sugestão.
O Quarenta e Seis, no entanto, mostrou-se um tanto reticente.
- Sorte?  Você chama de sorte "ganhar" uma bala na cabeça? Eu não sei, não. Talvez fosse melhor tentarmos alguma coisa, sairmos correndo, tentar chegar à Base 2...
- Ficou louco? - reagiu o Trinta e Um - Tem centenas, milhares daquelas coisas lá fora. Eles estão por toda parte! Eu ouvi que se espalham como uma praga. É no mundo inteiro, cara. Não é só aqui. E além do mais, você acha mesmo que tem alguém vivo na Base 2? Eles não respondem o rádio há dias. Estão todos mortos.
O Quarenta e Seis teve que render-se aos argumentos. Parecia improvável que houvesse qualquer possibilidade de vida lá fora. Vida normal, vida humana. Não aquela vida inexplicável... Eram realmente só eles seis e aquela única bala.
- E então quem começa? - perguntou o Vinte e Oito apressando a situação.
- Eu começo, afinal a arma com a bala é minha. Deixem-me pelo menos ter a prerrogativa de tentar primeiro.
Nenhum dos outros discordou.
- Um tenta, se não disparar passa adiante a arma para o da sua direita, ok? - orientou o Trinta e Um antes de levar o cano à boca e puxar o gatilho,
O clique seco anunciava que seu destino seria mesmo ser devorado por algum daqueles comedores de miolos.
Maldição!
Desapontado, passou a arma  para o Quatro Meia que vinha imediatamente à sua direita.
Limpou a saliva do candidato anterior, levantou o Vinte e Dois à parte lateral da cabeça e antes de fazer sua tentativa ainda argumentou mais uma vez:
- Não sei, não. Continuo achando que esse não é o melhor...
BOOM!
Não completou a frase. O disparo fez o sangue respingar nos homens próximos a ele.
Limitaram-se, todos, desapontados, a ficarem olhando para o corpo no chão.
O Vinte e Oito ainda exclamou:
- E ele que sempre se achou um azarado...
O barulho do tiro alertara as criaturas. O portão começava a ser forçado com mais intensidade. Não resistiria por muito tempo.



Cly Reis