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sábado, 27 de junho de 2015

“Lugares Escuros”, de Gilles Paquet Brenner (2015)



A escritora americana Gillian Flynn tem sorte nas adaptações de seus romances para o cinema. Primeiro foi o diretor David Fincher que pegou o espírito da coisa e fez um belo filme do livro “Garota Exemplar”, com uma atuação eletrizante da inglesa Rosamund Pike. Agora, chegou a vez francês Gilles Paquet Brenner fazer sua adaptação de “Lugares Escuros”, outro livro de Flynn. A escritora calca seus suspenses em questões familiares. Enquanto, “Garota Exemplar” se centrava no desaparecimento de uma dona-de-casa exemplar e a posterior acusação do marido como principal suspeito, “Lugares Escuros” começa com o assassinato da mãe e duas filhas em 1985 e as repercussões que o fato vai ter no resto da família: o adolescente acusado de matar e a menina sobrevivente.
Com um roteiro bem montado pelo próprio diretor, a trama vai se desenvolvendo entre o presente e o passado, enredando o espectador e fazendo com que até o final não se saiba o que aconteceu no passado e porque determinados personagens agem estranhamente no presente. A personagem Libby Day, interpretada magistralmente por Charlize Theron, está falida e é contratada por um “clube de mistério”, liderado por Lyle (Nicholas Hoult, fechando sua segunda dobradinha com Theron, depois de “Mad Max”), para desvendar o crime. Quando criança, Libby acusou seu irmão mais velho, Ben, dos assassinatos. No presente, ele está há 28 anos na cadeia e não fez nenhum tipo de apelação.
Charlize Theron em interpretação digna de Oscar.
Na investigação, Libby vai se defrontando com pessoas do seu passado, como Diondra, a namorada do irmão. Interpretada pela gracinha e excelente atriz Chlöe Grace Moretz, Diondra é um mistério da história tendo desaparecido na noite das mortes e nunca mais tendo sido encontrada. Outro ator que está muito bem em cena é Corey Stoll, o Ben da atualidade, que aproveita cada minuto de seu personagem para acrescentar uma nuance. Nas cenas do passado, brilha Christina Hendricks (de “Mad Men”), como a mãe da família Day.
Mas quem brilha mesmo é Charlize Theron. Em minha opinião, rumo ao seu segundo Oscar. “Lugares Escuros” vai sendo conduzido com destreza pelo francês Brenner até o seu final surpreendente. E, ao contrário do que se disse por aí, o filme não cede ao happy end, mas coloca seus personagens confusos em relação ao seu futuro. Vale a pena conferir “Lugares Escuros”, em cartaz nos cinemas.






domingo, 8 de março de 2020

7 discos feitos para elas cantarem

ESPECIAL DIA DA MULHER
Eles compõem. Mas a voz é delas

por Daniel Rodrigues
com colaboração de Paulo Moreira

Michael Jackson e Diana Ross:
devoção à sua musa
Mestre Monarco disse certa vez que, embora a maioria quase absoluta de sambistas compositores sejam homens, nada sairia do zero sem a autoridade das pastoras. Se aquele samba inventado por eles entrasse numa roda de pagode e as cantoras da quadra não o "comprassem", ou seja, não o considerasse bom o suficiente para ser entoado, de nada valia ter gasto tutano compondo-o. Era como se nem tivesse sido escrito: pode descartar e passar para o próximo. Isso porque, segundo o ilustre membro da Velha Guarda da Portela, são as cantoras da comunidade que escolhem os sambas, que fazem passar a existir como obra de fato algo até então pertencente ao campo da imaginação. A voz masculina, afirma Monarco, não tem beleza suficiente para fazer revelar o verdadeiro mistério de um samba. A da mulher, sim.

Cale e Nico: sintonia
Talvez Monarco se surpreenda com a constatação de que seu entendimento sobra a alma da música vai além do samba e que não é apenas ele que pensa assim. Seja no rock, no pop, no jazz ou na soul music, outros compositores como ele partilham de uma ideia semelhante: a de que, por mais que se esforcem ou também saibam cantar (caso do próprio Monarco, dono de um barítono invejável), nada se iguala ao timbre feminino. Este é o que casa melhor com a melodia. Se comparar uma mesma canção cantada por um homem e por uma intérprete, na grande maioria das vezes ela é quem sairá vencendo.

A recente parceria de Gil
e Roberta Sá
Isso talvez não seja facilmente explicável, mas é com certeza absorvível pelos ouvidos com naturalidade. Por que, então, o Pink Floyd poria para cantar "The Great Gig in the Sky" Clare Torry e não os próprios Gilmour ou Waters? Ou Milton Nascimento, um dos mais admirados cantores da música mundial, em chamar Alaíde Costa especialmente para interpretar "Me Deixa em Paz" em meio a 20 outras faixas cantadas por ele ou Lô Borges em “Clube da Esquina”? Ao se ouvir o resultado de apenas estes dois exemplos fica fácil entender o porquê da escolha.

Nesta linha, então, em homenagem ao Dia da Mulher, selecionamos 7 trabalhos da música em que autores homens criaram obras especialmente para as suas “musas” cantarem. De diferentes épocas, são repertórios totalmente novos, fresquinhos, dados de presente para que elas, as cantoras, apenas pusessem suas vozes. “Apenas”, aliás, é um eufemismo, visto que é por causa da voz delas que essas obras existem, pois, mais do que somente a característica sonora própria da emissão das cordas vocais, é o talento delas que preenche a música. Elas que sabem revelar o mistério. “Música” é uma palavra essencialmente feminina, e isso explica muita coisa.

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Elizeth Cardoso – “Canção do Amor Demais” (1958)
Compositores: Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes

"Rua Nascimento Silva, 107/ Você ensinando pra Elizeth/ As canções de 'Canção do Amor Demais'", escreveu Tom Jobim na canção em que relembra quando, jovens, ele e o parceiro Vinicius compuseram um disco inteirinho para a então grande cantora brasileira: Elizeth Cardoso. Eram tempos de pré-bossa nova, movimento o qual este revolucionário disco, aliás, é o responsável por inaugurar. Mesmo que o gênero tenha ficado posteriormente conhecido pelo canto econômico por influência de João Gilberto e Nara Leão, o estilo classudo a la Rádio Nacional da “Divina” se encaixa perfeitamente às então novas criações da dupla, que havia feito recente sucesso compondo em parceria a trilha da peça “Orfeu da Conceição”, de 3 anos antes. Um desfile de obras-primas que, imediatamente, se transformavam em clássicos do cancioneiro brasileiro: “Estrada Branca”, “Eu não Existo sem Você”, “Modinha” e outras. O próprio João, inclusive, afia seus acordes dissonantes em duas faixas: a clássica “Chega de Saudade” e a talvez mais bela do disco “Outra Vez”.

FAIXAS
1. "Chega de Saudade"
2. "Serenata do Adeus"
3. "As Praias Desertas" 
4. "Caminho de Pedra"
5. "Luciana" 
6. "Janelas Abertas"
7. "Eu não Existo sem Você"   
8. "Outra Vez" 
9. "Medo de Amar" 
10. "Estrada Branca" 
11. "Vida Bela (Praia Branca)" 
12. "Modinha"  
13. "Canção do Amor demais"
OUÇA

Dionne Warwick‎ – “Presenting Dionne Warwick” (1963)
Compositores: Burt Bacharach e Hal David 


Raramente uma cantora começa uma carreira ganhando um repertório praticamente todo novo (cerca de 90% do disco) e a produção de uma das mais geniais duplas da história da música moderna: Burt Bacharach e Hal David. Mais raro ainda é merecer tamanho merecimento. Pois Dionne Warwick é esta artista. A cantora havia chamado a atenção de David e Bacharach, que estavam procurando a voz ideal para suas sentimentais baladas. Não poderia ter dado mais certo. Ela, que se tornaria uma das maiores hitmakers da música soul norte-americana – inclusive com músicas deles – emplaca já de cara sucessos como "Don't Make Me Over", "Wishin' and Hopin'", "Make It Easy on Yourself", "This Empty Place".



FAIXAS
1. "This Empty Place"
2. "Wishin' and Hopin'"  
3. "I Cry Alone"  
4. "Zip-a-Dee-Doo-Dah" (Ray Gilbert, Allie Wrubel)
5. "Make the Music Play"
6. "If You See Bill" (Luther Dixon)
7. "Don't Make Me Over"
8. "It's Love That Really Counts"
9. "Unlucky" (Lillian Shockley, Bobby Banks)
10. "I Smiled Yesterday"
11. "Make It Easy on Yourself"
12. "The Love of a Boy"
Todas de autoria David e Bacharach,, exceto indicadas
OUÇA

Nico – “The Marble Index” (1968)
Compositor: John Cale

Diferente de Dionne, Nico já era uma artista conhecida tanto como modelo, como atriz (havia feito uma ponta no cult movie “La Dolce Vita”, de Fellini) como, principalmente, por ter pertencido ao grupo que demarcaria o início do rock alternativo, a Velvet Underground, apadrinhados por Andy Wahrol e ao qual Cale era um dos cabeças ao lado de Lou Reed. Já havia, inclusive, gravado, em 1967, um disco, o cult imediato “Chelsea Girl”. Porém, coincidiu de tanto ela (que não gostara do resultado do seu primeiro disco) quanto Cale (de saída da Velvet) quererem alçar voos diferentes e explorar novas musicalidades. Totalmente composto, produzido e tocado por Cale, “Marble”, predecessor do dark, é sombrio, denso, enigmático e exótico. A voz grave de Nico, claro, colabora muito para essa poética sonora. A parceria deu tão certo que a dupla repetiria a mesma fórmula em outros dois ótimos discos: “Deserthore” (1970) e “The End” (1974).

FAIXAS
1. "Prelude"
2. "Lawns of Dawns"
3. "No One Is There"
4. "Ari's Song"
5. "Facing the Wind"
6. "Julius Caesar (Memento Hodié)"

7. "Frozen Warnings"
8. "Evening of Light"


Aretha Franklin – “Sparkle” (1976)
Compositor: Curtis Mayfield 


Na segunda metade dos anos 70, quando a era disco e a black music dominavam as pistas e as paradas, foi comum a várias cantoras norte-americanas gravarem discos com esta atmosfera. Aretha Franklin fez a seu modo: para a trilha sonora de um filme inspirado na história das Supremes, chamou um dos gênios da soul, Curtis Mayfield, para lhe escrever um repertório próprio. Deu em um dos melhores discos da carreira da Rainha do Soul, álbum presente na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. As gingadas “Jump” e “Rock With Me”, bem como as melodiosas ‘”Hooked on Your Love”, “Look into Your Heart” e a faixa-título, não poderiam ter sido compostas por ninguém menos do que o autor de “Superfly”.



FAIXAS:
1. "Sparkle" 
2. "Something He Can Feel" 
3. "Hooked on Your Love" 
4. "Look into Your Heart" 
5. "I Get High" 
6. "Jump" 
7. "Loving You Baby"
8. "Rock With Me"


Diana Ross – “Eaten Alive!” (1985)
Compositor: Barry Gibb



Já que lembramos das Supremes, então é hora de falar da mais ilustre do conjunto vocal feminino: Diana Ross. Com uma longa discografia entre os discos com a banda e os da carreira solo, em 1985 ela ganha de presente do amigo e admirador Barry Gibb, líder da Bee Gees, baladas e canções pop esculpidas para a sua voz aguda e sentimental. De sonoridade bem AOR anos 80, o disco tem, além de Gibb, a da devoção de outro célebre músico à sua idolatrada cantora: Michael Jackson. Seu ex-parceiro de palcos, estúdios e de cinema, o autor de “Thriller” coassina a esfuziante faixa-título para a sua madrinha na música. Merecida e bonita homenagem.



FAIXAS:
1. “Eaten Alive”
2. “Oh Teacher” 
3. “Experience” 
4. “Chain Reaction”
5. “More And More” 
6. “I'm Watching You”
7. “Love On The Line” 
8. “(I Love) Being In Love With You” 
9. “Crime Of Passion” 
10. “Don't Give Up On Each Other”


Gal Costa – “Recanto” (2011)
Compositor: Caetano Veloso

A afinidade de Caetano e Gal é profunda e vem de antes de gravarem o primeiro disco de suas carreiras juntos, em 1966, “Domingo” – quando ele, aliás, compôs as primeiras músicas para a voz dela, como as célebres “Coração Vagabundo” e “Avarandado”. Ela o gravaria várias vezes durante a longa carreira, não raro com temas escritos especialmente. “Recanto”, disco que já listamos em ÁLBUNS FUNDAMENTAIS e entre os melhores da MPB dos anos 2010, é, de certa forma, a maturidade dessa relação pessoal e musical de ambos. “Recanto Escuro” e “Tudo Dói” são declarações muito subjetivas de Caetano tentando perscrutar a alma de Gal, o que vale também para o sentido inverso. Referência da música brasileira do início do século XXI, o disco, que tem a ajuda fundamental de Kassin e Moreno nos arranjos e produção, é, acima de tudo, a cumplicidade entre Caê e Gal, estes dois monstros da música, vertida em sons e palavras.

FAIXAS
1. Recanto Escuro
2. Cara do Mundo 
3. Autotune Autoerótico 
4. Tudo Dói 
5. Neguinho 
6. O Menino
7. Madre Deus 
8. Mansidão 
9. Sexo e Dinheiro 
10. Miami Maculelê 
11. Segunda


Roberta Sá – “Giro” (2019)
Compositor: Gilberto Gil 


Talvez este seja o único caso entre os listados em que a cantora não está à altura do repertório que recebeu. Não que Roberta Sá não tenha qualidades: é afinada, graciosa e tem lá a sua personalidade. Mas que sua interpretação fica devendo à qualidade suprema da música do mestre Gil fica. “Giro”, no entanto, é bem apreciável, principalmente faixas como “Nem”, “Afogamento”, “Autorretratinho” e “Ela Diz que Me Ama”, em que a artista potiguar consegue reunir novamente Gil e Jorge BenJor, num samba-rock típico deste último: os contracantos, o coro masculino como o do tempo do Trio Mocotó e a batida de violão intensa, a qual Gil – conhecedor como poucos do universo do parceiro –, se encarrega de tocar.




FAIXAS
1. “Giro”
2. “O Lenço e o Lençol”
3. “Cantando As Horas”
4. “Ela Diz Que Me Ama”
5. “Nem”
6. “Fogo de Palha”
7. “Autorretratinho”
8. “A Vida de um Casal”
9. “Xote da Modernidade”
10. “Outra Coisa”
11. “Afogamento”

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"O Contador", de Gavin O'Connor (2016)


O diretor norte-americano Gavin O'Connor tem uma predileção especial por dramas familiares onde a relação entre irmãos seja o foco. Assim aconteceu com o filme policial "Força Policial", onde o tira feito por Edward Norton tem de investigar um assassinato em que seu irmão e cunhado, também policiais, estão envolvidos. Depois foi a vez de "Guerreiro", onde irmãos se enfrentam no ringue.
Agora, chega às telas o novo filme do diretor, "O Contador", uma história interessante sobre um contador autista Christian Wolff (interpretado pelo pétreo Ben Affleck, um dos pontos fracos do filme) que sempre teve problemas familiares em função de sua doença. Tanto que a mãe abandona o lar, não conseguindo lidar com os problemas de dois dos três filhos (a irmã também tem problemas neurológicos). Sozinho, o pai militar prepara os dois filhos homens para enfrentar os perigos da vida, levando-os ao treinamento de artes marciais. Ao crescer, o rapaz se torna um exímio contador com extrema facilidade para a matemática. Logo, esta habilidade estará a serviço de organizações criminosas, o que atrai a atenção do Departamento do Tesouro Americano, que passa a investigar o caso. 
Como acontece em filmes que lidam com questões financeiras, "O Contador" carrega o espectador para zonas nebulosas das transações de grandes empresas, quase tornando a história impenetrável. É aí que reside o interessante no roteiro de Bill Dubuque. A cada passo em que a história se mostra muito técnica, entra um flashback que esclarece. Durante todo o roteiro, o espectador é levado por situações aparentemente sem explicação, que são esclarecidas no momento seguinte. E apesar de se imaginar que tal artifício vá truncar o ritmo do filme, acontece exatamente o contrário. Tanto as questões familiares do passado quanto a dualidade de Wolff, um contador que tem um alto treinamento físico e de manipulação de armas, ficam bem claras.
Affleck no bom filme de Gavin O"Connor.
Claro que, num determinado momento, surge uma mocinha, Dana Cummings (Anna Kendrick, correta mas nada além disso) e dois vilões, o industrial Lamar Blackburn (o sempre bem-vindo John Lithgow) e Brax (Jon Bernthal), um assassino de aluguel. A partir daí, "O Contador" deixa de lado as questões filosóficas e parte para a ação pura. O que poderia ser uma distração ou concessão ao gosto médio do espectador, se torna um duelo entre Wolff e os homens contratados por Brax para defender o industrial. Neste confronto, os irmãos se encontram e os conflitos familiares afloram, dando ao filme um sabor especial no meio do tiroteio.
Além da direção firme de O'Connor, é de se destacar a música sempre presente do trompetista Mark Isham e a fotografia de Seamus McGarvey (de "As Horas" e "Os Vingadores") favorecendo a luz natural. Mesmo com os dois protagonistas, Affleck e Kendrick, deixando um pouco a desejar, o elenco de coadjuvantes com Bernthal, Litgow e o oscarizado J.K. Simmons segura as pontas. Pode-se dizer que "O Contador" é uma boa diversão, inferior a "Força Policial", mas ainda assim vale o ingresso.


trailer "O Contador"


por Paulo Moreira


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

“Relatos Selvagens”, de Damián Szifron (2014)



O cinema argentino vive um grande momento, mesmo com a economia em ruínas e a situação caótica do país. Mais uma prova do vigor desta cinematografia que a cada dia conquista mais cinéfilos por todo o mundo é “Relatos Selvagens” do diretor Damián Szifron. Usando seu próprio roteiro, Szifron conta seis histórias bem distintas onde a interferência intrusiva da sociedade, de seus preceitos e suas limitações na vida dos indivíduos acaba por levar a mais completa e insana barbárie.
O astro Ricardo Darín no papel do homem
 que enfrenta a burocracia argentina
Os episódios se sucedem: o primeiro mostra um voo comercial aonde os passageiros vão descobrindo aos poucos que têm algo em comum. No segundo, uma jovem garçonete de um boteco de beira de estrada se vê às voltas com o homem que causou problemas em sua família. O embate entre classes é o tema do terceiro onde um burguês em seu supercarrão tem sua ultrapassagem impedida numa estrada por uma fubica toda enferrujada. No quarto episódio, o darling do cinema argentino, o ótimo Ricardo Darín, é um engenheiro de explosões que se vê envolvido com o guinchamento de seu carro e o consequente mergulho no mar da burocracia estatal. Já o episódio número 5 trata de um atropelamento e fuga que resulta em morte e em uma negociata das mais sórdidas para impedir a prisão do jovem condutor. Por fim, em plena festa de casamento, noiva descobre que uma das amantes do noivo está no salão e surta.
Erica Rivas, em primeiro plano,
se destaca como a noiva em surto
Em todos estes aparentemente distintos episódios, a reação às injustiças sociais, urbanas, pessoais e estradeiras acaba por decretar uma catarse nos personagens. O absurdo de algumas situações cotidianas enfrentadas por cada um de nós nem sempre tem o desfecho que gostaríamos. Acabamos nos acomodando e seguindo em frente, mesmo que estejamos com razão. Os personagens de Szifron não pensam assim e partem para o confronto, sempre com consequências trágicas, em uns momentos, e tragicômicas, em outros. Os espectadores mais ligados em cinema poderão lembrar-se de “Um Dia de Fúria”, de Joel Schumacher, com Michael Douglas, ou ainda de “Fora de Controle”, com Ben Affleck e Samuel L. Jackson. Mas o tratamento que Damián Szifron dá às histórias e aos personagens é infinitamente mais realista do que a visão simplista dada por Hollywood a estes casos. A violência é explícita e crua, mas também é real. Ricardo Darín é, indiscutivelmente, o astro do filme, mas cada história conta com um elenco de atores da melhor qualidade, destacando Erica Rivas como a noiva enlouquecida, Rita Cortese como a cozinheira e Mauricio Nunez, como o pai do jovem atropelador, entre outros.
Curiosamente, o filme tem produção da El Deseo, a empresa de Pedro Almodóvar e de seu irmão Agustín. A julgar pelo sucesso crítico e estilístico de “Relatos Selvagens”, poderia se esperar que Almodóvar se espelhasse em seu produzido e voltasse a fazer filmes interessantes, trilha da qual se afastou no horroroso “Os Amantes Passageiros”, um dos piores jamais vistos nos últimos tempos. “Relatos Selvagens” já é um dos melhores filmes do ano.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

“O Clã”, de Pablo Trapero (2015)



Vi recentemente um filme muito apropriado para estes tempos de protestos e pedidos (alucinados) pela volta da ditadura: "O Clã", do cineasta argentino Pablo Trapero – que fez "Abutres" e "Elefante Branco", duas outras pauladas. Na década de 80, em pleno Governo Galtieri, a família Puccio, liderada pelo patriarca Arquimedes, se constitui numa espécie de poder paralelo dentro da repressão militar, sequestrando e matando. O roteiro do diretor joga com passado e presente e contrapõe as imagens do filho Alex, um jogador bem-sucedido de rúgbi, com os sequestros de gente rica e de desafetos do poder militar. Além disso, o diretor se utiliza de canções pop de grupos como The KinksCreedence Clearwater Revival e Seru Girán para criar um clima incômodo, pois as músicas são ensolaradas e alegres e o que se vê na tela é porrada pura.

A insuspeita família Puccio.
A expressão impassível do ator que interpreta o patriarca Puccio, Guillermo Francella, assusta o público pela frieza com que ele planeja e executa seus planos de sequestros e mortes das suas vítimas. É interessante ressaltar que toda a família está envolvida nestas atividades ilegais e paralelas, seja o filho Alex, que participa diretamente dos sequestros ou as filhas, que fazem de conta que não ouvem os gritos vindos do sótão macabro.

"O Clã" é mais uma prova da teoria de que o cinema argentino é o melhor feito em toda a América Latina e que a cinematografia brasileira tem muito a aprender em termos de abordagem, roteiro e mise-en-scène. Recomendado a toda esta turminha que fala na "volta da ditadura" sem imaginar a imbecilidade deste pedido. Recomendo também a todos aqueles que gostam de cinema. Um dos melhores do ano, sem dúvida alguma.

trailer - "O Clã"





quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

“Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino (2015)



Quentin Tarantino ataca outra vez. Seu autointitulado oitavo filme “Os Oito Odiados” merece uma rápida reflexão. Pra começar, o diretor volta ao Oeste – que foi retratado em “Django Livre” – e se utiliza de alguns símbolos do gênero, como a música de Ennio Morricone (inferior à de clássicos como as partituras compostas para Sergio Leone) e a utilização do 70 mm Panavison como antigamente, deixando a tela cheia.

Como sempre, Quentin se esforça para subverter os cânones do gênero. Ao invés das pradarias verdejantes dos westerns de John Ford, vemos uma paisagem insólita, coberta de neve, que vai percorrer toda a projeção. Os personagens não estão divididos entre mocinhos e bandidos. Todos são foras-da-lei. Novamente, ele se preocupa em usar o racismo, tão presente em “Django Livre”, e especialmente a misoginia. Samuel L. Jackson é o Major Marquis Warren, caçador de recompensas que carrega os cadáveres, enquanto seu “colega” John Ruth – maravilhosamente interpretado por Kurt Russell – prefere levar os condenados vivos. No caso, a condenada Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh, num daqueles papéis destinados pelo diretor para reavivar carreiras, como realizado com Pam Grier e Robert Forster).

A paisagem insólita e opressiva é um dos elementos da narrativa.
Interessante é que sem querer estragar as inúmeras surpresas que o roteiro em capítulos permite, “Os Oito Odiados” traz no centro de sua trama a figura feminina de Daisy, envolvida numa grande confusão quando os personagens ficam todos isolados em um armazém no meio do nada em Wyoming. Tarantino usa o exíguo espaço como um palco de teatro, onde os personagens vão se apresentando uns aos outros e tudo chega a um clímax muito antes do final. Como ele havia feito em "Bastardos Inglórios", na famosa cena do bar quando os soldados americanos são confrontados por um oficial alemão e tudo termina em carnificina.

Narrando um flashback, o diretor desvenda o mistério e transforma o banho de sangue em uma espécie de anticlímax, quando o espectador fica se perguntando “qual será o ‘coelho’ que ele vai tirar da cartola para resolver a trama?”. Só posso dizer que a justiça é feita. Todos os atores em cena têm seus momentos de brilho. Destaque especial para o veterano Bruce Dern – redescoberto em "Nebraska" - usado como um dos personagens mais reacionários em cena, o General Sandy Smithers, que dizimou uma tropa de negros durante a Guerra de Secessão. Pode-se dizer que Tarantino escalou Dern, um reconhecido rebelde de Hollywood, num papel exatamente o oposto da personalidade do ator. O diretor também coloca em cena seu elenco de preferidos como a dublê Zoe Bell, Michael Madsen e Tim Roth (lembram dele sangrando durante todo “Cães de Aluguel”?).

Russel, de atuação destacada.
O banho de sangue sempre presente em seus filmes ganha um status de quase caricatura em “Os Oito Odiados”. Para resolver o imbróglio, Tarantino faz uma autocitação, usando o prólogo de “Bastardos Inglórios” para introduzir o personagem do galã Chaning Tatum, aqui quase irreconhecível. A fotografia de Robert Richardson, velho companheiro de Tarantino, valoriza cada canto da cabana onde os personagens ficam isolados. A direção de arte consegue recriar o ambiente daqueles armazéns do velho oeste e os efeitos especiais valorizam a violência proposta pelo diretor.

Aqui no Brasil, não há intervalo, como nos Estados Unidos, o que não permite ao espectador um segundo de folga. De uma maneira geral, a crítica não tem gostado de “Os Oito Odiados”, reclamando de sua duração, de passagens dispensáveis no roteiro e dos diálogos nada inspirados. Se um dos trunfos do diretor em trabalhos anteriores era a conversa, sempre afiada, irônica e demolidora, aqui parece ter se estendido em demasia e se utilizado do termo racista “nigger” uma centena de vezes, reforçando o preconceito. Um trabalho menor na filmografia de Quentin Tarantino, “Os Oito Odiados”, mesmo assim merece ser visto.


trechos de "Os Oito Odiados"






segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Hiromi – Jazz All Nights 2016 - Teatro do Bourbon Country – Porto Alegre/RS (29/09/2016)



A virtuose Hiromi, em um show espetacular em Porto Alegre.
(foto: divulgação/Teatro Bourbon Country)
Foi um show espetacular o da pianista japonesa Hiromi no Teatro do Bourbon Country,. Cercada de expectativa, pois é considerada uma virtuose no seu instrumento, Hiromi não deixou por menos. Ela começou a apresentação, que integra a programação Jazz All Nights 2016, fazendo um longo passeio pelas sonoridades do ragtime e do boogie-woogie até chegar ao tema "I Got Rhythm", dos irmãos Gershwin, construindo e desconstruindo a canção ao bel prazer de sua técnica apurada.
Alguém poderia imaginar que Hiromi jogaria pra torcida, fazendo pirotecnias pianísticas bem ao gosto do leigo. Não foi o que aconteceu! A japonesa passeia por inúmeros estilos e tem um approach diferenciado para cada música. A faixa-título do disco “Place To Be” tem todo o clima de lirismo apropriado de Keith Jarrett, Brad Mehldau e, em alguns momentos, chega a lembrar Bill Evans.
Outra influência no trabalho é de Chick Corea, com quem gravou um CD de duo de pianos. O interessante é que, mesmo com todas estas influências, o toque pianístico de Hiromi é totalmente pessoal e intransferível.

Esforçando-se para falar em português algumas frases, a pianista demonstrou também uma total empatia com o público. O concerto encerrou com a suíte em três movimentos "Viva Vegas" (também do álbum “Place To Be”) e que, em sua terceira parte, "The Gambler", permite à pianista imitar os sons de um cassino, com seu piano transformado em máquinas caça-níqueis e roletas. Como se não bastasse, Hiromi voltou ao palco no bis para interpretar uma peça que não estaria deslocada em qualquer disco mais recente de Keith Jarrett. Uma noite luminosa de música onde a plateia foi brindada com uma overdose de notas boas!



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

“Boyhood”, de Richard Linklater (2014)



O diretor Richard Linklater sempre se preocupou com os efeitos do tempo e da sociedade na vida dos indivíduos. Desde “Dazed and Confused” (“Jovens, Loucos e Rebeldes” no Brasil), o diretor demonstra ser um crítico mordaz das exigências da sociedade consumista americana sobre os jovens. Nele, o último dia de aula na high school permite uma série de situações engraçadas, trágicas e cômicas de seus protagonistas, todos na eminência de entrar na universidade e terminar com aquele mundo de irresponsabilidade da adolescência. Na sequência de sua carreira, depois de trafegar pela “Escola do Rock”, por “Waking Life” - onde estas preocupações atingem um paroxismo filosófico – e pela trilogia “Before Sunrise, Sunset e Midnight”, entre outros, Linklater consegue a síntese de seus pensamentos e suas preocupações em “Boyhood”.

No novo longa, resolve aprimorar sua tese, acompanhando por 12 anos a trajetória de Mason (o excelente Ellar Coltrane) realmente durante este período. A partir de uma família desfeita, Linklater acompanha a evolução física do personagem e, especialmente, sua trajetória de vida. Junto com Mason, vêm as vidas de sua mãe (Patrícia Arquette, ótima como sempre), do pai (Ethan Hawke, o ator-fetiche do diretor) e da irmã, interpretada com veracidade pela filha do diretor, Lorelai Linklater.

Arquette, linda e talentosa, com o excelente Coltrane
Durante as quase três horas de filme, vemos Mason enfrentar novas escolas, dois padrastos com problemas de alcoolismo, cortes de cabelo, namoradas confusas, um pai adolescente, uma mãe carente e uma irmã quase sempre indiferente. Tudo aquilo que enfrentamos em cada fase de nossas vidas. A diferença em relação aos jovens brasileiros se dá no rito de passagem que é o final da high school e a busca de um lugar na universidade e na vida. Como a sociedade americana é estruturada em cima deste momento definidor, esta competitividade é estimulada desde a infância. Aqui no Brasil, por exemplo, como temos “jovens” de 40 anos ainda morando com os pais e não se importando em continuar na “casa da mamãe”, tudo parece muito distante.

Linklater consegue um prodígio ao filmar toda esta trajetória na cidade de Austin, Texas, sem cortes explicativos de tempo, nem ficar escravo da cronologia. Nestes 12 anos, o diretor reunia seu elenco durante três ou quatro dias e registrava parte da história. Esta técnica permitiu o frescor das situações e a sua veracidade. Se não fossem as mudanças físicas dos personagens, poderia se dizer que tudo foi filmado de uma só vez, sem prejuízo para a questão técnica e de roteiro.

Richard Linklater garantiu, durante o lançamento de “Boyhood”, que este será o último filme de sua carreira. Caso isso seja verdade, podemos dizer que foi um fechamento de luxo para uma filmografia muito interessante. Vale a pena conferir “Boyhood”.



sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"Kóblic", de Sebastián Borenztein (2016)




Enquanto alguns brasileiros saíram à rua este ano pedindo incrivelmente a volta da ditadura, os argentinos continuam lambendo as feridas que os anos de intervenção militar deixaram naquele país. Esta discussão está presente no cinema argentino que não foge da raia e vem com mais um grande exemplo de como o golpe militar interferiu na vida da população. “Kóblic” é o novo filme de Sebastián Borenztein (“Um Conto Chinês”).

Nele, o onipresente Ricardo Darín interpreta Tomás Kóblic, um capitão da marinha que se recusa a abrir as portas de um avião para que se pudessem jogar os opositores do regime no mar, prática que ficou conhecida durante a intervenção militar naquele país. Para evitar a perseguição de seus colegas de armada, Kóblic se esconde em um lugarejo do interior chamado Colonia Elena. Mal sabe ele que será alvo da ira de Velarde (Oscar Martinez), o delegado da cidade que tem íntimas ligações com o regime militar. Ao mesmo tempo, Kóblic se envolve com a mulher de um comerciante da cidade (Inma Cuesta), tornando sua permanência na cidade ainda mais perigosa.

Oscar Martínez é o delegado
com íntimas relações com o regime militar
O diretor Sebastián e seu co-roteirista Alejando Ocon mantém o clima de suspense durante todo o filme e ainda dão um pequeno toque de faroeste num duelo final entre os protagonistas. Algumas críticas dão conta de que “Kóblic” perde sua intenção no final, quando se transforma de um filme de denúncia política a um banho de sangue a la Sam Peckinpah. Na verdade, a violência da ditadura argentina esteve sempre pronta para explodir durante todo o filme.

O clímax é apenas consequência do que os personagens vivem na tela. Como sempre, Darín está excelente, sabendo dosar sua performance com as devidas emoções. Já Oscar Martinez consegue compor um vilão de polícia do interior, sempre perseguindo o forasteiro que veio trazer balbúrdia á sua pacata cidade, enquanto Inma Cuesta dá credibilidade à sua Nancy mas tem pouco a fazer durante o filme. Novamente, o cinema argentino dá mostras de seu vigor e de que não há tema tabu em suas telas.

trailer "Kóblic"




por Paulo Moreira


segunda-feira, 27 de maio de 2019

Rick Wakeman - "The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table" ou "King Arthur" (1975)



"Tudo começou em 1957 quando eu estava em Cornwall e fui levado para Tintagel e comprei um livro sobre o Rei Arthur. Foi tão mágico, e eu amei todos os mitos e lendas. Nos anos seguintes, comprei muitos livros sobre o Rei Arthur e visitei Tintagel muitas vezes. Depois de "Journey to the Centre of the Earth", eu já havia decidido que o King Arthur seria o meu próximo grande projeto musical".
Rick Wakeman

Um dos discos que marcaram minha história é "The Myths and Legends of king Arthur and the Knights of the Round Table", ou simplesmente "Rei Arthur", de Rick Wakeman. Quem foi adolescente nos anos 70 e curtia rock progressivo, foi assaltado e sequestrado pelos teclados de Wakeman desde os discos do Yes - especialmente "Close to the Edge" - e dos seus trabalhos solo "The Six Wives of Henry VIII" e o lendário "Journey to the Center of the Earth", que foi apresentado na íntegra aqui em Porto Alegre em dezembro de 1975.

Aliás, foi o anúncio de que ele viria a Porto Alegre com a Sinfônica Brasileira regida por Isaac Karabtchevsky que me fez ir à Casa Victor (bah, mas tu és velho, hein??) lá na Rua da Praia e decidir entre "Viagem ao Centro da Terra", que todo mundo tinha e ouvia o dia inteiro, ou "Rei Arthur", que era a novidade. Depois de muito pensar, comprei o "Arthur" e me deliciei durante anos com "Guinnevere" e "Sir Lancelot and the Black Knight".

O LP tinha um super encarte com as letras das músicas e ilustrações imitando desenhos medievais. O som era aquela lance grandiloquente que o Rick fazia e faz até hoje. Lá pelas tantas, meu disco sumiu e nunca mais tinha ouvido até ser convidado pelo professor e agitador cultural Francisco Marshall, em 2 de abril de 2008, para dividir com o historiador José Rivair Macedo um almoço cultural, onde ele falava das histórias reais do mito do "Rei Arthur" e eu destrinchava o disco do tecladista. Foi muito bom. Hoje não tenho este disco mas seus sons ficaram na minha memória e nas minhas lembranças de adolescente.

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FAIXAS:
1. "Arthur" - 7:26
2. "Lady of the Lake" - 0:45
3. "Guinevere" - 6:45
4. "Sir Lancelot and the Black Knight" - 5:20
5. "Merlin the Magician" - 8:51
6. "Sir Galahad" - 5:51
7. "The Last Battle" - 9:41
Todas as composições de autoria de Rick Wakeman

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OUÇA O DISCO::
Rick Wakeman - "The Myths and Legends of king Arthur and the Knights of the Round Table"



Paulo Moreira

quarta-feira, 25 de maio de 2016

"Memórias Secretas", de Atom Egoyan (2016)



O diretor egípcio radicado no Canadá Atom Egoyan sempre se caracterizou por mostrar o lado nem tão agradável da vida em sues filmes. Desde "Exotica", passando por "O Doce Amanhã" e "O Fio da Inocência" e chegando em "A Procura", o cineasta não doura a pílula e procura desvendar os mistérios do ser humano e suas idiossincrasias. Seu trabalho mais recente, "Memórias Secretas" segue esta trilha, a partir de um roteiro de Benjamin August.
O craque Christopher Plummer no papel d judeu Zev.
Em resumo, um idoso judeu Zev Guttman (Christopher Plummer, maravilhoso!) que sofre de demência é instado por um colega de asilo, Max Rosenbaum (Martin Landau), a fugir da clínica e perseguir um criminoso nazista responsável pelo extermínio de suas famílias em Auschwitz e que estaria se escondendo no interior dos Estados Unidos. A partir desta premissa, Egoyan investiga as motivações de vingança dos indivíduos, ao mesmo tempo em que faz uma crítica à condição dos idosos em nossa sociedade.
Durante a jornada, Zev vai se deparando com as situações mais incríveis, como encontrar um policial, filho de um nazista que não era quem procurava, incrivelmente interpretado pelo eterno coadjuvante Dean Norris, de "Breaking Bad".  A jornada chega ao fim num clímax inesperado e eletrizante. Atom Egoyan conta com interpretações espetaculares dos protagonistas Plummer e Landau, além de Norris e de Jürgen Prochnow, que tem um papel pequeno mas importantíssimo no desfecho da trama.

Acompanhado dos seus eternos colaboradores Mychael Danna na música e Paul Sarossy na fotografia, Egoyan mantém a qualidade de sua filmografia. "Memórias Secretas" é o primeiro grande filme da temporada pós-Oscar do cinema americano, sempre preocupado com explosões e efeitos especiais e esquecendo os verdadeiros conflitos humanos. Corra para o cinema!


trailer "Memórias Secretas"