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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Música da Cabeça - Programa #368

 

Ela está entre nós! Da janela do Copacabana Palace, a Rainha do Pop está superatenta a tudo, inclusive que, antes do show dela, vai rolar MDC. Tão bons quanto Madonna, teremos Television, Chico Buarque, Secos & Molhados, The Cure, Björk e mais. Também, um Cabeção sobre o Dia Internacional do Jazz. Sem medo da concorrência, o programa vai ao ar às 21h nas areias da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e celebração: Daniel Rodrigues.



www.radioeletrica.com

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2023

 



Rita e Sakamoto nos deixaram esse ano
mas seus ÁLBUNS permanecem e serão sempre
FUNDAMENTAIS
Chegou a hora da nossa recapitulação anual dos discos que integram nossa ilustríssima lista de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS e dos que chegaram, este ano, para se juntar a eles.

Foi o ano em que nosso blog soprou 15 velinhas e por isso, tivemos uma série de participações especiais que abrilhantaram ainda mais nossa seção e trouxeram algumas novidades para nossa lista de honra, como o ingresso do primeiro argentino na nossa seleção, Charly Garcia, lembrado na resenha do convidado Roberto Sulzbach. Já o convidado João Marcelo Heinz, não quis nem saber e, por conta dos 15 anos, tascou logo 15 álbuns de uma vez só, no Super-ÁLBUNS FUNDAMENTAIS de aniversário. Mas como cereja do bolo dos nossos 15 anos, tivemos a participação especialíssima do incrível André Abujamra, músico, ator, produtor, multi-instrumentista, que nos deu a honra de uma resenha sua sobre um álbum não menos especial, "Simple Pleasures", de Bobby McFerrin.

Esse aniversário foi demais, hein!

Na nossa contagem, entre os países, os Estados Unidos continuam folgados à frente, enquanto na segunda posição, os brasileiros mantém boa distância dos ingleses; entre os artistas, a ordem das coisas se reestabelece e os dois nomes mais influentes da música mundial voltam a ocupar as primeiras posições: Beatles e Kraftwerk, lá na frente, respectivamente. Enquanto isso, no Brasil, os baianos Caetano e Gil, seguem firmes na primeira e segunda colocação, mesmo com Chico tendo marcado mais um numa tabelinha mística com o grande Edu Lobo. Entre os anos que mais nos proporcionaram grandes obras, o ano de 1986 continua à frente, embora os anos 70 permaneçam inabaláveis em sua liderança entre as décadas.

No ano em que perdemos o Ryuichi Sakamoto e Rita Lee, não podiam faltar mais discos deles na nossa lista e a rainha do rock brasuca, não deixou por menos e mandou logo dois. Se temos perdas, por outro lado, celebramos a vida e a genialidade de grandes nomes como Jards Macalé que completou 80 anos e, por sinal, colocou mais um disco entre os nossos grandes. E falando em datas, se "Let's Get It On", de Marvin Gaye entra na nossa listagem ostentando seus marcantes 50 anos de lançamento, o estreante Xande de Pilares, coloca um disco entre os fundamentais logo no seu ano de lançamento. Pode isso? Claro que pode! Discos não tem data, música não tem idade, artistas não morrem... É por isso que nos entregam álbuns que são verdadeiramente fundamentais.
Vamos ver, então, como foram as coisas, em números, em 2023, o ano dos 15 anos do clyblog:


*************


PLACAR POR ARTISTA (INTERNACIONAL)

  • The Beatles: 7 álbuns
  • Kraftwerk: 6 álbuns
  • David Bowie, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis, John Coltrane, John Cale*  **, e Wayne Shorter***: 5 álbuns cada
  • Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan e Lee Morgan: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden , U2, Philip Glass, Lou Reed**, e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
  • Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, PJ Harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beastie Boys, Ride, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green, Santana, Ryuichi Sakamoto, Marvin Gaye e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"

**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"

*** contando o álbum "Five Star', do V.S.O.P.



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 7 álbuns*
  • Gilberto Gil: * **: 6 álbuns
  • Jorge Ben e Chico Buarque ++: 5 álbuns **
  • Tim Maia, Rita Lee, Legião Urbana, Chico Buarque,  e João Gilberto*  ****, e Milton Nascimento*****: 4 álbuns
  • Gal Costa, Titãs, Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e Tom Jobim +: 3 álbuns cada
  • João Bosco, Lobão, João Donato, Emílio Santiago, Jards Macalé, Elis Regina, Edu Lobo+, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura e Baden Powell*** : todos com 2 álbuns 


*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil

**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"

*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"

**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"

***** contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"

+ contando com o álbum "Edu & Tom/ Tom & Edu"

++ contando com o álbum "O Grande Circo Místico"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 121
  • anos 60: 100
  • anos 70: 160
  • anos 80: 139
  • anos 90: 102
  • anos 2000: 18
  • anos 2010: 16
  • anos 2020: 3


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 24 álbuns
  • 1977 e 1972: 20 álbuns
  • 1969 e 1976: 19 álbuns
  • 1970: 18 álbuns
  • 1968, 1971, 1973, 1979, 1985 e 1992: 17 álbuns
  • 1967, 1971 e 1975: 16 álbuns cada
  • 1980, 1983 e 1991: 15 álbuns cada
  • 1965 e 1988: 14 álbuns
  • 1987, 1989 e 1994: 13 álbuns
  • 1990: 12 álbuns
  • 1964, 1966, 1978: 11 álbuns cada



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 211 obras de artistas*
  • Brasil: 159 obras
  • Inglaterra: 126 obras
  • Alemanha: 11 obras
  • Irlanda: 7 obras
  • Canadá: 5 obras
  • Escócia: 4 obras
  • Islândia, País de Gales, Jamaica, México: 3 obras
  • Austrália e Japão: 2 cada
  • Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria, Argentina e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de países diferentes, conta um para cada)

terça-feira, 31 de outubro de 2023

10 Filmes de Bruxas para o Halloween

 



Dia das Bruxas!

Não tem como pensar em Halloween e não remeter a filmes de terror. E o interessante é que, embora o cinema sempre tenha dado uma atenção às bruxas, talvez diante do desgaste de algumas outras vertentes do terror, como serial-killers indestrutíveis, violência gráfica extrema, remakes ineficazes e desnecessários, ou franquias comerciais de sustos pré-programados, elas estão em alta e voltam com força no cinema atual. Que o cinema tem algumas bruxas célebres isso não há como discutir, como as belas adolescentes de "Jovens Bruxas", as veteranas carismáticas da "comédia" "Convenção das Bruxas", a oculta e onipresente "A Bruxa de Blair", e, por que não, a icônica bruxa verde com verruga e vassoura voadora de "o Mágico de Oz". Mas vamos aqui lembrar algumas outras. Umas, novos ícones da cultura do terror, como a jovem Thomasin, de "A Bruxa", de 2015, outras, lá do início da história do cinema como as mulheres acusadas de feitiçaria do impressionante "Haxan - A Feitiçaria Através dos Tempos", de 1922, outras, de filmes cultuados, como as diretoras da escola de balé, do clássico "Suspíria", de Dario Argento.

Então vamos à nossa lista de bruxaria. 10 filmes de bruxas para este Halloween...


🎃🎃🎃🎃🎃🎃


1. "Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos" - de Benjamin Christensen (1922) - Meio documentário, meio ficção, mistura documentos históricos com reconstituições encenadas, mas que de todo esse experimento cinematográfico consegue obter uma obra singular. "Häxan", apesar de toda sua condução documental, textos na tela, limitações técnicas, soluções primárias, etc., ainda nos primórdios do cinema, consegue prender a atenção causar, sim, terror no espectador. Numa exposição sobre as superstições, interpretações, temores coletivos, preconceitos, punições, ignorância e poder, o diretor, um visionário para sua época, nos apresenta diversas situações de pessoas que eram julgadas como bruxas, ou possuídas por demônios, baseado em suas aparências, gênero, condição mental, ou até mesmo interesse social religioso, sem, necessariamente, terem qualquer ligação com bruxaria. Mas onde entra a bruxaria no filme? Bem, nas dramatizações, de modo a demonstrar o que estava em julgamento ou como aquelas "bruxas" eram vistas, nos são apresentadas torturas, demônios, feitiçarias e mutilações. Sim! Isso em um "documentário" de 1922. Obra de arte. Aqui não temos UMA bruxa e sim várias, que, no entanto, muito provavelmente não tinham nada a ver com essas atividades. Por incrível que pareça, filme ainda muito pertinente na nossa época de preconceitos, julgamentos e condenações automáticas.


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2. "A Maldição do Demônio" ou "A Máscara de Satã" - de Mario Bava (1960) - Clássico do terror italiano! No século XVII, uma nobre, acusada de bruxaria, antes de ser executada com seu amante, lança uma maldição sobre a família de seus executores. Ela os perseguirá para toda a eternidade. Isso é logo no início do filme, é a primeira sequência e, com certeza a mais impactante dada o método de execução da princesa. Uma máscara com pregos é aplicada ao rosto da bela mulher. Até por todo esse impacto inicial, o filme inevitavelmente cai um pouco depois, com uma estranha mistura de vampiros e zumbis, mas mesmo assim vale como um dos grandes exemplares do terror gótico europeu. Sem contar que o fato de ser estrelado por Barbara Steele, uma das rainhas do terror, nos papeis principais, primeiro da bruxa Asa, condenada e morta, e depois de sua descendente a sobrinha Katja, possuída pela tia e pronta para aterrorizar o vilarejo e seus amaldiçoados, dois séculos depois.


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3. "Suspíria" - de Dario Argento (1977) - Uma obra de arte de Dario Argento. A fotografia labiríntica, a iluminação intensa, a trilha sonora inquietante, a direção de arte muito geométrica e o sangue excessivamente vermelho e vibrante, compõe uma obra esteticamente incrível em uma história sobre bruxas em uma escola de dança. Uma estudante norte-americana, Suzy Bannion, chega à Alemanha para prestar estudos numa conceituada academia de balé só que, uma vez integrada ao corpo de alunas, em meio a um ambiente frio e pouquíssimo receptivo, começa a perceber coisas estranhas... Há uma aluna desaparecida, outra morre tragicamente no hall do prédio onde mora atingida por uma estrutura de vidro, um instrutor é brutalmente devorado por seu próprio cão, sua colega de quarto é dilacerada por lâminas... Ela começa a desconfiar que há alguma coisa de errado com aquele lugar, resolve bisbilhotar e descobre que ali funciona secularmente um covil de bruxas comandado por uma lendária bruxa grega conhecida como Rainha Negra. Péssima ideia ter se metido nisso, cara Suzy! Só que agora que mexeu, vai ter que enfrentar. 

O filme tem um remake de 2018, bem interessante do também italiano Lucca Guadagnino, com algumas mudanças na história, é bem verdade, um final diferente, mas bem sangrento e bastante competente. Também merece uma boa olhada.



🎃🎃🎃



4. "As Bruxas de Eastwick", de Geroge Miller (1987) - Raramente lembrado quando se fala em filmes de bruxas mas que, particularmente, gosto bastante. 

Três mulheres solitárias, cansadas de tudo, desestimuladas, mas sobretudo carentes, Michelle Pfeiffer, Susan Sarandon e Cher, vivendo na pacata e bucólica cidadezinha de Eastwick, resolvem fazer um feitiço em conjunto para materializarem o "homem dos sonhos". Ele vem. Mas não é bem dos sonhos. A vida das três vira de cabeça para baixo. Daryl Van Horne, encarnado por Jack Nicholson, planta entre as três o ciúme e a discórdia, e somente a união delas, novamente, poderá expulsar aquele mal de suas vidas. 

Sexy, divertido, carregado de questionamentos à condição da mulher de meia idade, especialmente naquele momento, nos anos 80, das idealizações e do verdadeiro valor do papel de um homem na vida de uma mulher. Elencaço de primeira com atuações brilhantes de todos mas, em especial do diabão Jack Nicholson.


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5. "Quando Éramos Bruxas", de Nietzchka Keene (1990) - Filme belíssimo baseado num conto dos irmãos Grimm, "Quando Éramos Bruxas", ou no original 'A Amoreira', traz a estreia da, então, jovem Björk, no cinema. Ela faz o papel de uma de Margit, uma das filhas de uma mulher que fora morta por feitiçaria, e que foge junto com a irmã para um lugar remoto, onde não possam ser encontradas pelos executores de sua mãe. Lá, a irmã, Katla, enfeitiça e se casa com um viúvo local. O filho do homem, Jonas, no entanto, percebendo alguma coisa de estranho na madrasta, se opõe à união, a rejeita e tenta convencer o pai a deixá-la, no entanto, se afeiçoa à irmã mais nova, Margit, que, filha de bruxa, tem visões da própria mãe e da mãe falecida do garoto. Enquanto Katla usa seus poderes para sedução e para o domínio, a mais nova, Margit, os usa positivamente. Caso da bruxinha boa e da bruxinha má. 

Belíssima releitura feminista do conto dos Grimm, com espetacular fotografia em preto e branco.


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6. "As Senhoras de Salem", de Rob Zombie (2012) - Rádio, rock'n roll, vinil.... terror. O mundo de Rob Zombie! 

Em Salem, a cidade onde ocorreram os conhecidos julgamentos de bruxas do século XVII, nos Estados Unidos, uma DJ recebe um LP com uma música estranhíssima, sons indistintos, ruídos confusos, de uma suposta banda chamada The Lords. Depois de ouvir o troço, ela então passa a ter visões esquisitas, sonhos perturbadores, coisas atormentadoras. Heidi procura um especialista em ocultismo que entende que aqueles sons gravados no disco tinham as mesmas notas de um cântico de invocação de uma seita de bruxas que pretendem sua vingança contra os habitantes da cidade que as condenou. 

Para garantir que o destino da cidade seja cumprida, um trio sinistro de tiazinhas, vizinhas da DJ, vigiam a moça e vão garantir que ela, como uma das descendentes dos inquisidores seja o instrumento da vingança. 

Zombie constrói cenas de uma psicodelia macabra impressionante, sobretudo na sequência final quando finalmente parece que a profecia das bruxas se cumprirá. Padres se masturbando, bebês crucificados, anões deformados, tentáculos fálicos, freiras purulentas, fazem parte de um sabá orgíaco surrealista à espera da chegada do demônio pelo ventre de uma herdeira da linhagem dos Senhores de Salem. A maturidade de Rob Zombie na direção depois dos decepcionantes remakes de "Halloween".



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7. "A Bruxa", de Robeert Eggers (2015) - Clássico instantâneo, inegavelmente "A Bruxa" é uma das novas referências do terror. Um filme que assusta muito mais pelo todo, pelo ambiente, do que por sangue, surpresas, violência ou clichês batidos.

No século XVII, uma família, expulsa de sua comunidade, é obrigada a abandonar a aldeia onde viviam e morar no limite da floresta. Lá eles se instalam, constroem um casebre, um estábulo, tentam começar uma nova vida mas, certo dia, do nada, praticamente diante dos olhos da filha mais velha da família, seu irmão, ainda bebê some. Some... Simplesmente some. Ela não sabe o que fazer, onde procurar, como procurar e passa a ser responsabilizada pelo sumiço pelo próprio pai que, supersticioso e fanático como é, a acusa de bruxaria. Aos poucos a floresta que margeia a casa parece começar a dar sinais, atrair o irmão do meio, atiçar a primeiro curiosidade da jovem Thomasin e depois a simpatia, como uma amiga que chama, "Venha, venha...".

O bosque estático, o bode preto, o corvo, tudo é assustadoramente silencioso. Nada de pulos, de sustos, de correrias. Só a tensão. O Bode Black Phillip, por si só, é uma das coisas mais assustadoras do cinema. Posso afirmar que nunca mais olhei para um bode da mesma forma depois de assistir ao filme.



🎃🎃🎃




8. "Hagazussa - A Maldição da Bruxa", de Lukas Feigelfeld (2017) - Filme, à primeira vista, esquisitíssimo mas que carrega uma série de metáforas e questionamentos sobre a condição da mulher. Pessoas, locais, situações se confundem e confundem o espectador, especialmente na parte final, numa sucessão de delírios da protagonista, a jovem Albarn, que depois da morte de sua mãe, mal vista pela comunidade onde vive, é obrigada a se afastar para as montanhas, nos alpes suíços. Lá, depois de adulta, com sua filhinha (não vemos, não somos informados, nem temos ideia de quem seja o pai), ela tenta levar a vida, no entanto, continua, como sempre em sua vida, desde criança, sente que algo lhe observa, lhe acompanha e talvez determine seu destino.

Um pouco de "A Bruxa", um pouco de "Quando Éramos Bruxas", "Hagazuza", destaca-se, sobretudo pela fotografia incrível, a luz sempre muito precisa e uma direção de arte econômica mas igualmente certeira.

Uma experiência estética incrível.



🎃🎃🎃



9. "A Avó", de Paco Plaza (2021) - Helena, uma modelo vivendo em Madri, às portas de uma oportunidade importante dentro do mundo da moda, é obrigada a voltar às pressas à sua cidade natal, no interior, em virtude de um derrame de sua avó, a quem sempre fora muito ligada desde a infância e que a criara depois do falecimento dos pais. Ela retorna supondo que seria uma estada breve, tempo o suficiente para tomar algumas providências quanto à avó, mas as coisas vão a prendendo e ela não consegue se desvencilhar. A idosa está catatônica, completamente dependente, mal a reconhece mas ela é a única parente próxima e, primeiro reluta e depois tem alguma dificuldade em encontrar uma cuidadora de idosos. Os dias vão se passando e Helena vai notando comportamentos estranhos da avó que, embora não fale com ela, fique sentada, quieta olhando para o vazio o dia todo, por vezes, do nada, ri, fala sozinha, murmura umas ladainhas, levanta, some repentinamente para reaparecer logo em seguida.

A jovem tenta sair, tenta voltar, mas parece que a velha não deixa, quando consegue contratar uma enfermeira, a pessoa morre tragicamente ao sair de seu apartamento, sob o olhar frio da velha na janela.

Teria a avó alguma coisa a ver com aquela morte? Com o fato de ela, Helena, não estar conseguindo sair dali? Estaria a avó a segurando ali? E a jovem amiga misteriosa que vem aparecendo para visitar a avó? quem era? Ela diz conhecer Helena da infância mas que ligação teria com uma idosa quase inválida?

Helena começa a remexer nas coisas, físicas e emocionais, fotos, memórias, presentes, pessoas... Começa a ligar alguns pontos... a morte dos pais, ela ficando aos "cuidados" da avó... Eaquela velha amiga que costumava estar com ela? Por onde andaria? E jovem amiga da avó... Será...?

Rejuvenescimento? Apropriação de outro corpo? Roubo de alma? Imortalidade? 

Bruxaria?


🎃🎃🎃



10. "Você Não Estará Só", de Goran Stolevski (2022) - Por incrível que possa parecer, um filme lindíssimo! A bruxa é deformada com pele enrugada de queimaduras, tem garras de animal, ela estripa bicho, come gente mas o filme é belíssimo. O importante aqui é a descoberta da beleza que é SER HUMANO.

Navena, quando bebê, fora prometida pela mãe a uma bruxa que ameaçava comê-la. A proposta desesperada, para salvar a filha, era que a bruxa a buscasse apenas quando tivesse 16 anos de idade, com o pretexto de lhe a menina poderia lhe fazer companhia mais tarde. A bruxa concorda e deixa a criança, mas quando a garota completa a idade, mesmo com uma última resistência da mãe, a feiticeira volta para buscar o que lhe fora acordado. A adolescente vai, acompanha a nova "mãe" e, embora marcada por ela e também transformada em bruxa, não tem a menor aptidão para aquilo e é abandonada no bosque pela maligna tutora. Só que descobrindo a capacidade de adquirir a forma de quem devora, a menina, com a inocência de uma criança que mexe no que não deve, admirando pelos mais diversos motivos as pessoas que vai encontrando e conhecendo, as mata, come e assume por algum tempo suas vidas, experimentando experiências diferentes, no corpo, ora de uma mulher madura, ora de um rapaz, ora um animal, ora de uma criança. 

Uma jornada de descobertas, de experimentos, de provar, como diz a canção, a dor e a delícia de se ser o que é. E mesmo com todos os prós e contras, comprovar, como diz aquela outra música, que a vida, no fim das contas, é bonita, é bonita e é bonita.



Aproveitem o Halloween, bruxos e bruxas!



por Cly Reis

sábado, 30 de setembro de 2023

Santigold - "Santogold" (2008)

 





"Apesar de ser o seu primeiro álbum, 
parecia que ela já tinha caído na terra 
como uma superestrela totalmente formada. 
Quero dizer, de onde é que ela veio? 
Como é que alguém pode abranger 
todos os elementos mais excitantes 
do eletrônico, do punk, da new-wave e do reggae 
de forma tão fácil? 
Estas melodias fantásticas, 
e ainda fazer com que pareça que 
mal pestanejou enquanto as compunha.
Ela parecia ser a personificação 
do termo música do futuro 
e a síntese do cool."
Mark Ronson,
produtor musical


A música pop do século XXI, cá entre nós, não é nada, assim, de entusiasmar, não é mesmo? Tirando quem pintou da metade para o final dos anos 90 e entrou no novo século ainda com qualidade, como Björk, Beck, Daft Punk, por exemplo; o pessoal dos anos 80 que tinha uma fórmula eficiente edificada a partir do punk e da ascensão dos sintetizadores, como Depeche Mode, Pet Shop Boys e New Order, que sobreviveram, persistiram e continuaram sendo relevantes; os consagrados, os símbolos, ícones do pop, Prince, Michael Jackson e Madonna, que, influentes e insubstituíveis, continuaram dando as cartas mesmo tempo depois de seus respectivos auges; e gênios, como David Bowie, que conseguiam se reinventar e ainda dar grande contribuição para uma cena pouco inspirada; os anos 2000, de um modo geral, não nos apresentavam nada de especial. De vez em quando até aparecia uma coisa boa, uma Amy Winehouse, por exemplo, mas foi só. E para piorar, mal nos deu o gostinho do seu talento e nos deixou cedo. De resto, muita bunda, muita repetição de fórmula, batidas eletrônicas sempre muito parecidas, muito autotune, rappers mal-encarados, mas nada de novo ou de original.

Mas de vez em quando, mesmo em meio a toda essa pobreza, o universo pop nos presenteia com alguma coisa que vale a pena. Às vezes alguém com talento, criatividade e boas influências nos surpreende e traz alguma coisa que, se não é nova, original, é, no mínimo, interessante. Santigold, multiartista norte-americana, nos apresentava ali, quase no final da primeira década do século XXI, algo um pouco mais que interessante. Seu álbum de estreia "Santogold" (2008) é uma preciosidade repleta de muito do melhor que a música negra pode oferecer. "Santogold" é rhythm'n blues, é soul, é rap, é funk, é raggae, é dub, é blues, é afro. É animado, é melancólico, é seco, é irreverente, é contagiante. Tem glamour, tem força, tem ousadia. Hip-hop, pós-punk, eletrônico, disco, rock, new-wave... Aquele tipo de disco que possui todos os atributos de uma grande obra pop!

"L.E.S. Artistes", a abertura e um dos singles do álbum, já é o cartão de visita mostrando que Santigold está disposta a frequentar todos os terrenos possíveis: inicialmente um pop minimalista bem compassado, marcado na batida, a primeira faixa, ganha força em guitarras no refrão para culminar num pop-rock poderoso. "You'll Find Away", a segunda, é uma típica new-wave elétrica e empolgante; o reggae eletrônico, repleto de elementos e nuances, "Shove It" baixa a rotação das duas anteriores com muito estilo, mas a eletrizante "Say Aha", com sua base agressiva de baixo. logo põe tudo pra cima de novo.

"Creator", o primeiro single do álbum é uma "loucura" maravilhosa! Uma percussão tribal, literalmente selvagem, grunhidos, efeitos eletrônicos alucinados, ecos, um vocal enlouquecido e, dentro de tudo isso, um refrão incrivelmente eficaz. 

"My Superman", outra das joias do disco, é construída sobre, nada mais nada menos, que um sampler de "Red Light", de Siuoxsie and The Banshees, adicionado à sensualidade da nova canção, toda a atmosfera sombria do gótico oitentista.

A propósito de darkismo, "Starstruck", embora mais encaixada na linguagem sonora atual, do hip-hop e afins, também remete ao som do pós-punk dos anos 80. Mas aí, mudando radicalmente, temos "Lights Out", um pop radiofônico saborosíssimo, e a irresistível "Unstoppable, um ragga eletrônico dançante, ao ritmo do qual é impossível ficar parado. Imparável!

A elegante "I'm a Lady" encaminha o final do disco que, por fim, encerra-se com "Anne", um synth-popp sofisticado que só confirma a riqueza da experiência vivida nos últimos 40 minutos. Um baita disco!

Detalhe para a capa. Mais um destaque: uma colagem "tosca" quase ao estilo punk, com a artista expelindo purpurina dourada pela boca.

Vomitando "glamour". 

Precisa dizer mais?

***************

FAIXAS:

  1. L.E.S. Artistes 3:25
  2. You'll Find A Way 3:01
  3. Shove It 3:46
  4. Say Aha 3:35
  5. Creator 3:33
  6. My Superman 3:01
  7. Lights Out 3:13
  8. Starstruck 3:55
  9. Unstoppable 3:33
  10. I'm A Lady 3:44
  11. Anne 3:29
*******************
Ouça:




por Cly Reis

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #334

Mais de 2000 dias sem resposta, mas Marielle permanecem aqui conosco. Presente. Ela estará no MDC 334, assim como Dead Kennedys, João Gilberto, Björk, Jorge Mautner, Isaac Hayes e outros. Quem também entoa o mesmo grito é John Zorn, a quem trazemos no Cabeção desta edição. Com o punho em riste e uma pergunta que não quer calar, o programa de hoje se manifesta às 21h na persistente Rádio Elétrica, que quer saber: quem mandou matar Marielle e Anderson Gomes? Produção, apresentação e #justiçaparamarielle: Daniel Rodrigues.


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segunda-feira, 29 de maio de 2023

CLYLIVE Especial de 15 anos do ClyBlog - Kraftwerk - C6 Fest - Vivo Rio - Rio de Janeiro/ RJ (18/05/2023)

 



Somos apenas humanos
por Cly Reis



Há 15 anos atrás tinha o privilégio de assistir a um show do Kraftwerk. Desde então, tive, para mim, a convicção de que havia presenciado o melhor show de minha vida. Até por conta disso, não  tinha a intenção de vê-los ao vivo novamente. Pra que? Já  havia me satisfeito e, provavelmente, não  seriam melhores do que foram naquela vez.

Só que o tempo passou e, dentro desses 15 anos que me separam daquele show, tive uma filha. Ela tem 11 anos hoje e, ao longo de sua formação musical, sem que eu forçasse, sem que eu influenciasse decisivamente, acabou por adorar Kraftwerk. E eis que, eu que já me dava por satisfeito por tê-los visto uma vez, descubro que os caras vêm pro Brasil de novo! Eu tinha que levar minha filha para ver. Não sei se, a essas alturas, eles vêm de novo, se vão continuar fazendo turnês, se Ralph Hütter não vai pendurar as chuteiras, ou mesmo se sua "bateria" ainda vai durar por muito mais tempo, uma vez que, brincando brincando, já são 76 anos nas costas ("toc, toc", batendo na madeira). Era agora ou, possivelmente, nunca mais.

Então fiz o "esforço" de ir ao show no C6 Fest. Sinceramente, fora o fato da oportunidade de minha filha ter essa experiência, não guardava maiores expectativas. Imaginei que, velhinhos, com a vida ganha, com um repertório incontestável, depois de várias passagens por aqui, os homens-máquina fossem entrar no palco só pra cumprir tabela: aquele showzinho burocrático, tipo entro lá, ligo a programação eletrônica, cumpro uma horinha de show, ganho minha grana vou embora...

Que nada!

Os caras tavam pilhados!

Um show dinâmico, com espontaneidades, "improvisos", uma pedrada emendando na outra e, mesmo dentro daquele tradicional comedimento dos alemães, uma certa animação e uma movimentação incomum, especialmente do líder e fundador Ralph Hütter.

"Numbers" que abriu o show, combinada com "Computer World" já foi algo espetacular, musical e visualmente, com as impressionantes projeções sincronizadas no telão. "Spacelab" a seguiu trazendo a todos a surpresa da homenagem ao Rio de Janeiro, no telão,  com a nave do Kraftwerk sobrevoando a cidade e pousando em frente ao Vivo Rio, levando o público à loucura. E teve uma "The Model" empolgante, "Autobahn" reinventada, muito mais livre e quase espontânea, "The Man-Machine emocionante, "Trans-Europe Express" arrasadora, um medley das partes de "Tour De France" e um gran-finale com uma "Music Non Stop" descontraída e cheia de pequenas variações. Senti falta, é verdade, de "Radioactivity" que podia muito bem ter entrado no lugar de "Planet of Visions", mas nada que desvalorize tudo o que acontecera lá. 

Para quem achava que já havia visto o suficiente da banda, que era dispensável assistir a outro show, que eles estariam apenas cumprindo uma formalidade, acabei saindo com a sensação de ter presenciado outro dos grandes espetáculos da minha vida. Uma banda muito a fim, quase um "show de rock" por sua dinâmica, Ralph Hütter cheio de tesão, quase elétrico naquela sua movimentação contida. Balançou a cabeça, mexeu os ombros, bateu o pezinho e, no final, naquele momento em que os integrantes vão deixando o palco, um a um, desceu de seu posto, fez uma reverência, até sorriu e bateu no peito, agradecido, me parecendo, ali, até um pouco emocionado... Será? Será que o robô está se tornando humano? A convivência com nossa espécie teria feito com que, mesmo, uma máquina como ele adquirisse a capacidade de sentir emoções? Em época de discussões sobre Inteligência Artificial, a questão bem que procede, não. Mas como diria o policial Murphy, a propósito, um homem-robô, na frase final de "Robocop 2", "Somos apenas humanos". 

trecho de "Computer Love"

trecho de "The Robots"




★★★


A revolução das máquinas
por Daniel Rodrigues

Se me perguntassem quais shows que eu ainda gostaria de ver de artistas que estejam em atividade (ou minimamente estejam vivos), listaria alguns difíceis e outros quase impossíveis. Das possibilidades, Ministry, John Cale e Pixies são um caso. Já dos improváveis, Th’ Faith Healers, Can e My Bloody Valentine encabeçam a lista. Claro: tem aqueles grandes shows que nunca fui mas que ainda são passíveis de um dia, seja no Brasil ou numa ocasião fora do país, serem presenciados por mim, como Madonna, Björk, David Byrne, Neil Young, Stevie Wonder e os Rolling Stones, que pode ser que venham à minha terra novamente como Roger Waters, que retornará a Porto Alegre por conta das memoráveis apresentações que fez na cidade para sua despedida dos palcos em novembro.

Mas de todos estes posso dizer com tranquilidade que o que mais queria ver era a Kraftwerk, desejo que foi realizado no último dia 18, no Vivo Rio. Desejo, não: sonho. Após duas vindas dos alemães ao Brasil, uma no Free Jazz Festival de 1998, quando eu nem sequer trabalhava para custear um ingresso tão caro a São Paulo, e outra, em 2009, quando estiveram no Rio de Janeiro, em plena Praça da Apoteose. Esta sim eu lamentei por não ter ido. Mesmo com os reiterados convites do meu irmão, que foi ao show, para que eu tentasse dar um jeito de ir ao Rio, onde pelo menos pouso garantido teria, as condições financeiras da época fecharam totalmente a porta. Minha lamentação foi alimentada durante estes 15 anos que se transcorreram desde aquela última apresentação da Kraftwerk em terras tupiniquins, ainda mais quando da morte de um dos cabeças do grupo neste meio tempo, Florian Schneider, em 2020. Embora já fora da banda há algum tempo, sua morte despertou o alerta de que o outro principal integrante, Ralf Hütter, já com quase 80 anos, pudesse, pelo óbvio, também ter sua “máquina desligada”.

Com a menor atividade da Kraftwerk, pensava que, para eles retornarem ao Brasil, quiçá, somente lá em 2024 ou 25, já que, ao menos, os shows estão retornando com tudo neste pós-pandemia. Considerando que os velhinhos já puseram seus sistemas em modo slow, até seria um tempo considerável um ou dois anos para que se mexessem. Mas eis que, para minha surpresa, eles são anunciados para estrelarem o C6 Fest, no Rio e em São Paulo. E agora, primeiro semestre do ano, em maio! E mais: meu irmão iria ao show com minha mãe, que aprendeu a adorá-los conosco, e minha sobrinha, Luna, fã da banda e que presenciaria seu primeiro grande show ao vivo. Num esforço coletivo, peguei uma mesa ao lado da deles e embarquei para o Rio. Todo o empenho, expectativa e lamentação foram totalmente recompensados.

Os desenhos estilo new look
em movimento em "Autobahn"
Num formato pocket ("calculator", claro), adequado ao line-up de um festival, o quarteto liderado por Ralf entregou uma apresentação empolgante e empolgada em aproximadamente 1 hora e 20 de palco. A disposição foi a de sempre: os quatro enfileirados com roupas iluminadas em led e com suas mesas mágicas com programadores, sintetizadores, computadores e outras engenhocas saídas do estúdio Kling Klang direto de um laboratório de Düsseldorf, e, ao fundo, projeções magníficas que dialogam com os sons através de imagens, luzes, grafismos e vídeoartes. Porém, o grupo estava muito a fim e deu a plateia brasileira um espetáculo cheio de vontade e musicalidade, que se percebia no manejo altamente espontâneo dos “leitmotiv” de cada música. 

Já no repertório, somente clássicos, que se emendaram uns aos outros sem pausa para respirar e, sim, para se admirar e absorver. Foi uma sequência para tirar lágrimas de qualquer fã, a começar pelo duo “Numbers/Computer World”, na abertura e com o qual eles poderiam ficar ali no palco por 1 hora inteira só brincando com os elementos de cada música, os números e os algoritmos digitais provocando sons, que jamais cairia na monotonia. Pra acabar com o coração dos kraftwekianos, mandam na sequência uma surpreendente execução de “Spacelab”, que além de ser um barato ouvi-la ao vivo e tocada de forma tão espontânea dentro dos limites do que o aparato eletrônico permite, foi uma atração à parte sua projeção, que mostrou a viagem da nave espacial (comandada por eles, obviamente) do espaço até chegar na Rio de Janeiro e pousar em frente ao próprio Vivo Rio, para delírio da galera.

“Autobahn”, com a ideia genial de animação dos carros desenhados manualmente da capa original de 1974, e a sequência “Tour de France/ Tour de France – Etape 1 e 2", com as imagens "vintage" da tradicional volta da França para a qual eles compuseram a trilha-tema em 1983, também foi de tirar o fôlego. Igualmente, o perfect pop “The Model”; a autorreferenciativa “The Robots”, com sua arte geométrica ao estilo da escola soviética; a altamente dançante “Planet of Visions”, motivando uma arte orgânico-digital-futurista; e a apoteótica “Trans-Europe Express/Metal on Metal”, cuja viagem do trem em 3D pelos trilhos europeus acompanha um desfile de execução dos quatro, mostrando que estavam se divertindo com a energia que emanava do público.

trecho de "Tour de France"

De todas as grandes performances, talvez a mais marcante tenha sido justamente a que fechou o show: a minissinfonia “Electric Cafe”: “Boing Boom Tschak/ Techno Pop/ Musik Non Stop”. As projeções, com a estrutura dos robôs e desenhos feitos em computador, mesclado arquitetura, design, música e arte, foi um digno final. Na despedida, um a um executava improvisos (sim, improvisos!) e saí do palco, até a vez do líder Ralf, ovacionado. Não à toa: Ralf Hütter é um “computer hero”, um esteta, um gênio da modernidade.

O maior show que já vi. Um dos maiores espetáculos da Terra. Uma das mais importantes bandas da música de todos os tempos, e não apenas da música pop, isso digo com certeza. Tanto quanto obras de Bach, Mozart, Wagner, Cage, Beatles, Dylan, ColtraneJoão, a Kraftwerk é importante para a evolução da humanidade como espécie, pois que excede o patamar simplesmente artístico. Toda a parafernália tecnológica, como nossos smartphones ou aparelhos digitais que nos rodeiam, não teriam a comunicabilidade sonora que têm hoje não fosse os "homens-máquina" terem inventado esta linguagem. Somente robôs como eles teriam esta sensibilidade: a de saber como seus pares se comunicam conosco, humanos. E se a tecnologia é reflexo de nossa capacidade de criação, talvez ser robô seja o verdadeiro sentido de ser humano.

PS: De quebra, ainda levamos um showzaço da Underworld para fechar a noite, que não deixou nada a desejar para os mestres da eletrônica.

Hino autorreferente: "The Man-Machine"

Brincando com os teclados em "The Model"


Trecho da emplogante "Planet of Visions"


Um trem eletrônico passou pelo Rio: "TEE" + "Metal on Metal"


quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2022

 



O nigeriano Fela Kuti foi um dos destaques do ano
nos nossos Álbuns Fundamentais
Como fazemos todos os anos, recapitulamos e elencamos os discos que tiveram a honra de entrar para nossa seleta lista de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Não tem disputa, não tem ranking mas a gente sempre gosta de saber que artista tem mais obras indicadas, qual o país tem mais discos lembrados, que ano marcou mais com discos inesquecíveis e essas coisas assim. Sendo assim, levantamos esses números e publicamos aqui, até para nossa própria curiosidade.
No campo internacional, os Beatles ampliaram sua vantagem na liderança entre artistas, embora, entre os países, seja os Estados Unidos quem lideram com folga. Destaque na 'disputa' internacional para o primeiro nigeriano na lista, Fela Kuti, que aumenta o número de representantes africanos, ainda tímido, nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. O Brasil segue na segunda colocação, mesmo com a reação dos ingleses que não colocaram nenhum álbum em 2021 mas voltaram a ter destacados grandes discos em 22. Só que com três craques da música brasileira, Gil, Caetano, Paulinho e Milton, fazendo oitenta anos em 2022, ficou impossível não destacar discos deles e abrir vantagem novamente sobre os ingleses. A propósito, Milton Nascimento que, de início não tinha nenhum, depois colocou o "Clube da Esquina", com Lô Borges, depois a parceria com Criolo e agora, com os dois que emplacou nesse ano que marcou seus oitentinha, já desponta com destaque na lista nacional. Contudo, ele não era o único a completar oito décadas e Caetano Veloso, garantindo mais um na nossa lista de grandes discos, continua na liderança nacional.
Em 2022, o ano que mais teve discos na nossa lista foi o de 1992, embora a década de 80 tenha colocado 8 na lista, mas ainda não o suficiente para ultrapassar a de 70 que ainda é a que lidera nesse âmbito.

Vamos, então, aos números que é o que interessa.

Confira aí abaixo como ficou a situação dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS depois da temporada 2022:


*************


  • The Beatles: 7 álbuns
  • Wayne Shorter: 5 álbuns ***
  • David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis e Wayne Shorter: 5 álbuns cada
  • John Cale* **
  • Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan, John Coltrane e Lee Morgan: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden ,Lou Reed** e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
  • Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, PJ harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beatie Boys, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"

**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"

*** contando o álbum "Five Star', do V.S.O.P.



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 7 álbuns*
  • Gilberto Gil: * **: 6 álbuns
  • Jorge Ben: 5 álbuns **
  • Tim Maia, Legião Urbana, Chico Buarque e Milton Nascimento +#: 4 álbuns
  • Gal Costa, Titãs,  Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e João Gilberto*  ****: 3 álbuns cada
  • Baden Powell***, João Bosco, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Criolo + e Sepultura : todos com 2 álbuns 


*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil

**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"

*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"

**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"

+ contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" 
# contando com o álbum Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 120
  • anos 60: 97
  • anos 70: 145
  • anos 80: 124
  • anos 90: 96
  • anos 2000: 14
  • anos 2010: 16
  • anos 2020: 2


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 22 álbuns
  • 1977: 19 álbuns
  • 1969, 1972, 1976, 1985, 1992: 17 álbuns
  • 1967, 1968, 1971, 1973 e 1979: 16 álbuns cada
  • 1970 e 1991: 15 álbuns cada
  • 1965, 1975, 1980 e 1991: 14 álbuns
  • 1987 e 1988: 13 álbuns
  • 1989 e 1994: 12 álbuns cada
  • 1964, 1966 e 1990: 11 álbuns cada
  • 1978 e 1983: 10 álbuns



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 201 obras de artistas*
  • Brasil: 145 obras
  • Inglaterra: 118 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • Islândia, País de Gales: 3 obras
  • México, Austrália e Jamaica: 2 cada
  • Japão, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de países diferentes, conta um para cada)