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sábado, 6 de novembro de 2010

Robert Johnson - "The Complete Recordings" (1990) - gravações originais de 1936 e 1937 *


"Robert Johnson foi
o mais importante cantor de blues
 que já viveu."
Eric Clapton


Ele pode não ter sido o inventor do blues, mas com certeza é seu nome mais importante. Sei que existe um B.B. King, existe um Hooker, um Diddley, um Sonny Boy... Sei, sei. Mas nada se compara à técnica, à genialidade, à singularidade, à sua lenda.
Robert Johnson é daqueles músicos inovadores na sua arte. Daqueles caras que são divisores de águas, tipo: até ali a coisa era assim, a partir dali... Johnson mudou a batida do gênero, mudou o tom tradicional, saiu do trivial, e tudo isso só com um violão, que diga-se de passagem, reza a lenda, era velho e de péssima qualidade.
A propósito, não só o próprio R.J. por si só já é legendário, como muitos fatos que o cercam tem versões duvidosas e mal contadas: a começar pela sua data de nascimento, totalmente imprecisa, com registros de 1909, 1912, mas em princípio considerada oficialmente como 8 de maio de 1911; tem essa do violão, que além de ruim, diz-se, teria cordas enferrujadas quando Johnson fez as gravações (e no entanto, saiu o que saiu); outra é sobre as da versões de sua morte, prematura, aos 27 anos; uma delas atribuída a um uísque envenenado por um marido ciumento cuja esposa teria tido algo com Johnson; outra versão dá conta que teria levado um tiro por circunstâncias semelhantes; numa outra, pneumonia; em outra, sífilis; em outra ainda que teria sido encontrado urrando no corredor de um hotel e então ali morrido; o fato é que na certidão de óbito só consta "sem médico". Mas independente da causa mortis oficial, independente do modo como tenha acontecido, conta outra lenda, a mais impressionante e sobrenatural delas e a mais conhecida, que teria acontecido tão cedo, com apenas 27 anos de vida, por causa do resgate de uma dívida de Johnson com o demônio, que teria cobrado a alma prometida pelo cantor em um suposto pacto, que tivera o objetivo de obter talento e sucesso na carreira de cantor. Há uma outra ainda, vinculada à esta última, que sugere que haveria uma trigésima música (Johnson só gravou 29 canções) que teria ficado 'presa' em uma encruzilhada, onde o blueseiro teria feito seu trato maligno. Aliás, títulos como "Me & My Devil Blues" e "Crossroad Blues" que ajudam a alimentar a lenda.
A história do pacto é tão conhecida, tão rodeada de uma aura fantástica e poética que inspirou, por  exemplo, músicas como "Mississipi" de Celso Blues Boy e o filme "A Encruzilhada" que conta exatamente a história de um rapaz que procura a tal da 30° música de Johnson. Demais é o duelo de guitarras do garoto contra o demônio, que no filme é nada menos que Steve Vai.
Mas voltando à obra de Robert Johnson, não há um álbum propriamente dito, já que todas as canções foram gravadas em 1936 e 1937 e na época as gravações era em compactos com uma ou duas músicas apenas. A compilação definitiva com todas as faixas (possíveis) e seus outtakes saiu em 1990 numa bela caixa em edição de luxo com dois CD's chamada "The Complete Recordings", e, amigos, esta caixa é fundamental. Ali está toda a essência do blues e o alicerce do rock. Tem ali toda a alma, a batida, o ritmo, a melancolia e a beleza. Todas as 41 faixas são bala, mas as minhas favoritas são "When You Got a Good Friend", "Sweet Home Chicago" e "They're Red Hot", só pra citar algumas.
Robert Johnson é ainda hoje um dos nomes mais influentes do blues frequentemente citado e gravado por uma porrada de músicos de rock, nos seus mais variados estilos e qualidade, como Rolling Stones, Simply Red, Eric Clapton, White Stripes, Red Hot Chilli Peppers, Led Zeppelin, entre tantos outros.
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FAIXAS:
ROBERT JOHNSON- THE COMPLETE RECORDINGS (1936-1937)

Disco 1
1. Kind Hearted Woman Blues 2:49
2. Kind Hearted Woman Blues (alternate take) 2:31
3. I Believe I'll Dust My Broom 2:56
4. Sweet Home Chicago 2:59
5. Rambling on My Mind 2:51
6. Rambling on My Mind (alternate take) 2:20
7. When You Got a Good Friend 2:37
8. When You Got a Good Friend (alternate take) 2:50
9. Come On in My Kitchen 2:47
10. Come On in My Kitchen (alternate take) 2:35
11. Terraplane Blues 3:00
12. Phonograph Blues 2:37
13. Phonograph Blues (alternate take) 2:35
14. 32-20 Blues 2:51
15. They're Red Hot 2:56
16. Dead Shrimp Blues 2:30
17. Cross Road Blues 2:39
18. Cross Road Blues (alternate take) 2:29
19. Walkin' Blues 2:28
20. Last Fair Deal Gone Down 2:39

Disco 2
1. Preaching Blues (Up Jumped the Devil) 2:50
2. If I Had Possession over Judgment Day 2:34
3. Stones in My Passway 2:27
4. I'm a Steady Rollin' Man 2:35
5. From Four Till Late 2:23
6. Hellhound on My Trail 2:35
7. Little Queen of Spades 2:11
8. Little Queen of Spades (alternate take) 2:15
9. Malted Milk 2:17
10. Drunken Hearted Man 2:24
11. Drunken Hearted Man (alternate take) 2:19
12. Me and the Devil Blues 2:37
13. Me and the Devil Blues (alternate take) 2:29
14. Stop Breakin' Down Blues 2:16
15. Stop Breakin' Down Blues (alternate take) 2:21
16. Traveling Riverside Blues 2:47
17. Honeymoon Blues 2:16
18. Love in Vain 2:28
19. Love in Vain (alternate take) 2:19
20. Milkcow's Calf Blues 2:14
21. Milkcow's Calf Blues (alternate take) 2:20

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Ouça:
Robert Johnson The Complete Recordings


Cly Reis

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Freddie King - "Getting Ready..." (1971)


"Freddie King foi quem me ensinou
a fazer amor com a guitarra."
Eric Clapton


É interessante... Devo admitir que comprei esse disco por causa da capa. Estava numa dessas feiras de vinil fuçando na seção de jazz e blues e dei de cara com esse com um negão empunhando uma guitarra na capa. Pinta de blueseiro invocado, dos bons. Vou levar. Alguma coisa de bom devia sair daquela guitarra. Ouvi o disco e percebi o tamanho da sorte da minha escolha ao acaso. Um baita disco de blues. Já contemporâneo, mais elétrico, mais pesado mas totalmente dentro da melhor linha dos grandes músicos do gênero. Depois, buscando informações sobre o produto que comprara é que fui saber das qualificações do guitarrista. Freddie, um dos três "Kings" do blues junto com B.B. King e Albert King, fez parte da grande cena do blues de Chicago dos anos 50, tendo tocado com Willie Dixon, Robert Lockwood Jr., e o gaitista Little Walter, entre outros e, apesar da rejeição da Chess Records, que o considerava muito parecido com B.B. King, aos foi poucos conquistando seu próprio espaço ganhando reconhecimento de grandes nomes do universo musical. King foi considerado pela revista Rolling Stone o 15º melhor guitarrista de todos os tempos e sua marca registrada era o jeito de pendurar a alça da guitarra, sem cruzá-la, apoiada no ombro do mesmo braço com que tocava.
"Getting Ready..." é um belo exemplar do blues de Chicago evoluído com o passar do tempo, adaptado a seu tempo, no caso, o início dos anos 70. Mais rock'n roll, mais pesado e com uma dose de psicodelia.  A melancólica "Same Old Blues" que abre o disco tem uma pegada gospel; a versão de "Dust My Broom" de Elmore James é espetacular; "Five Long Years", outro clássico, também tem execução impecável; e "Walking by Myself" é outro grande momento.
Mas a grande música do disco é mesmo "Going Down", um blues forte, intenso, tão encorpado e vigoroso que chega às raias do rock muito próximo ao som que Jimi Hendrix vinha fazendo e que o próprio mestre Muddy Waters havia experimentado em "Electric Mud".
"Palace of the King" que fecha o disco é outra com pegada mais rock, ao melhor estilo Eric Clapton, com quem por sinal, Freddie excursionaria ainda antes de sua morte prematura aos 42 anos.

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FAIXAS:
1. Same Old Blues (Don Nix)
2. Dust My Broom (Elmore James )
3. Worried Life Blues (Big Maco)
4. Five Long Years (Eddie Boyd)
5. Key To The Highway (Bill Broonzy, Charles Segar )
6. Going Down (Don Nix)
7. Living On The Highway 
(Don Nix, Leon Russell)

8. Walking By Myself (Lane)
9. Tore Down (Freddie King)
10. Palace Of The King (Don Nix, Donald "Duck" Dunn, Leon Russel)

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Ouça:



Cly Reis

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

The Beatles - "Rubber Soul" (1965)

Transpiração ou inspiração? A história por trás de “Rubber Soul”, o álbum revolucionário que sobreviveu ao deadline

"Eu realmente não estava completamente
pronto para aquela unidade.
Parecia que todas [as músicas] eram juntas.
‘Rubber Soul’ era uma coleção de canções que,
de alguma forma, eram juntas
 como nenhum álbum já feito antes,
e fiquei muito impressionado.
Eu disse: ‘É isso. Eu realmente fui desafiado 
a fazer um grande álbum’."
Brian Wilson,
líder dos Beach Boys


Quando o assunto em pauta é a obra dos Beatles, a transpiração sempre andou abraçada à inspiração. Principalmente, no período entre 1962-1965, quando o quarteto vivia à base de anfetaminas para cumprir a agenda transbordada de shows, aparições na BBC, entrevistas e sessões de gravação em Abbey Road.
       
Com “Rubber Soul” não foi diferente. O LP, lançado em 3 de Dezembro de 1965, teve a honra de ser o primeiro a marcar um dos “fins” ligados aos Beatles. John, Paul, George e Ringo bateram o martelo para o empresário Brian Epstein. A turnê pelo Reino Unido seria a última da carreira. E eles cumpriram a promessa.  O fim dos shows foi uma exigência, já que o interesse era desenvolver as composições e o trabalho no estúdio. “Rubber Soul”, não há dúvida, foi o grito inicial de independência da banda para fugir da maratona de compromissos... Apesar de que muito sofrimento ainda estava por vir.

Bob Dylan
E não foi brincadeira. Com o Natal chegando, e a turnê pela Grã-Bretanha à vista, os Beatles foram obrigados a produzir (com ajuda de Norman Smith e George Martin) o sexto álbum da carreira em apenas um mês, entre Outubro e Novembro de 1965.

A inspiração transbordava pelas mentes da principal dupla de compositores.  Uma das fontes mais generosas foi Bob Dylan, que continuava a influenciar o grupo (“Help” – também lançado em 65 – trouxe “You’ve Got To Hide Your Love Away”, bastante dylanesca). Em “Rubber Soul”, o mix de folk e eletricidade de álbuns como "Bringing It All Back Home" e "Highway 61 Revisited" (respectivamente lançados em março e agosto daquele ano) deram o toque do novo rock americano ao sabor britânico de Liverpool.

Deadline
  Além de Lennon/McCartney, George Harrison aparecia naquela hora como a segunda força criativa. Na verdade, até Ringo conseguiu um crédito em uma das 14 faixas que entraram no disco. Mas como não dava apenas para ficar na inspiração, os Beatles precisaram resgatar músicas de seu arquivo para completar o álbum. O deadline era antes do Natal. E antes da excursão pelas Terras da Rainha, que estava marcada para iniciar na Escócia, dia 3 de Dezembro (Exatamente no dia que o LP chegaria às lojas).

Por isso, “Wait” foi fisgada das fitas de gravação de “Help!”, e “What Goes On” (composição antiga de John) teve de ser recuperada para ganhar cores das novas roupas dos Beatles.  No caso de “What Goes On”, Ringo contribuiu com 5 palavras, e ganhou o crédito como Richard Starkey, ao lado de John Lennon e Paul McCartney. As demais faixas – incluindo mais duas não incluídas no disco – precisaram ser geradas “à força” para cumprir o calendário.

“Maternidade”
A história das músicas dos Beatles pode ser complexa, mas como também existe limite de tempo e espaço para escrever, os contos da maternidade criativa serão breves...

“I’m Looking Through You” nasceu lenta, e ganhou mais pegada na versão definitiva. A música, que escancara os problemas de relacionamento entre Paul McCartney e Jane Asher, é um rocker com sombras do som produzido por Dylan em "Highway 61 Revisited" e do single “Positively 4th Street”.

A origem da linda balada “In My Life” é das mais disputadas. John garantiu que Paul criou o meio da música. Paul disse em sua biografia, “Many Years For Now”, que colocou a melodia sobre um longo poema editado pelo amigo sobre a infância e amigos da região de Penny Lane, em Liverpool.

A melodia de “Michelle” já existia há alguns anos na cabeça de Paul, mas só virou composição com a ajuda de John que a complementou com os “I want you, I want you, I want you”, inspirado por Nina Simone. O francês da música veio das aulas de francês da mulher do amigo Ivan Vaughan.

“Drive My Car” é outro exemplo da parceria Lennon/McCartney. Ao invés de “You can give me golden rings”, John sugeriu “Baby you can drive my car”, alimentando o duplo sentido materialista da letra.

Já “The Word” foi a primeira tentativa da dupla de escrever sobre o que aconteceria no “Verão do Amor” dois anos mais tarde. “Say the Word and you’ll be free... it’s sunshine”.

The Byrds
Na turnê de 65 pelos Estados Unidos, George Harrison tinha ficado amigo da banda The Byrds, que misturava o folk e o rock, também influenciada pelo som de Bob Dylan. Esta inspiração aparece nos arranjos de “If I Needed Someone” – o seu recado nada animador às fãs histéricas – graças à magistral base criada pela guitarra de 12 cordas usada no estúdio. Sua outra contribuição – “Think For Yourself” – tem letra filosófica e conteúdo pragmático. A letra acusa alguém de falar mentiras. Quem seria? A mulher Patty Boyd (que viria a ser mulher de Eric Clapton anos mais tarde) ou o empresário Brian Epstein?

Ciúmes
As músicas de Paul McCartney e John Lennon também não tinham tons alegres. “You Won’t See Me” e “We Can Work It Out” seguem a linda de “I’m Looking Through You”. Todas são gritos de descontentamento com a relação amorosa com a noiva, uma atriz bastante ocupada com o tradicional grupo inglês Old Vic.

 Já a sensual “Girl” – com instrumentação que remete à música grega – conta a história de uma mulher destruidora de corações, insensível e materialista.

“Run For Your Life” é o grito de ciúmes de John, casado com Cynthia Powell. “Day Tripper” (que divide o espaço do single com “We Can Work It Out”) fala de mulheres e drogas de forma subliminar. Segundo o próprio Lennon, assim como “Nowhere Man” (resultado de uma noite em claro, tentando buscar inspiração) a música foi criada “à força” (imagine se não fosse) para preencher os 14 sulcos do vinil.

Uma das (muitas) joias da coroa do LP fecha esse texto. Em “Norwegian Wood” (100% dylanesca) John e Paul dão show nas harmonias, e contam a história de um provável caso extraconjugal de Lennon que termina com incêndio no apartamento do casal. “So I lit a fire – isn’t good, Norwegian Wood” (“Então eu toquei fogo – a madeira da Noruega não é das melhores”).

A madeira citada na música pode não ser das melhores. Mas “Rubber Soul” – que completou 48 anos em dezembro de 2013 – é força de inspiração contínua no universo musical de hoje. E do amanhã.


por Eduardo Lattes
fonte e revisão: Claudio Dirani, autor de "Paul McCartney - Todos os Segredos da Carreira Solo" (esgotado na editora)
e "Na Rota da BR-U2" (disponível com o autor).

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FAIXAS:              
1. "Drive My Car" - 2:30
2. "Norwegian Wood (This Bird Has Flown)" - 2:05
3. "You Won't See Me" - 3:22
4. "Nowhere Man"  - 2:44
5. "Think for Yourself" (Harrison) - 2:19
6. "The Word" - 2:43
7. "Michelle" - 2:42
8. "What Goes On" (Lennon/McCartney/Starr) - 2:50
9. "Girl" - 2:33
10. "I'm Looking Through You" - 2:27
11. "In My Life" - 2:27
12. "Wait" - 2:16
13. "If I Needed Someone" (Harrison) - 2:23
14. “Run for Your Life" - 2:18

todas de Lennon/McCartney, exceto indicadas

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OUÇA:




Eduardo Lattes de Mattos Vellani é paulista é formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda.RP pela FIAM -Faculdades Integradas Alcântara Machado, de São Paulo. Devoto de Elvis Presley e de seus “apóstolos”, os Beatles, tem quase duas décadas de experiência em Public Relations. Coordena matérias jornalísticas de cobertura em campo, tendo acompanhado de perto a execução de filmagens e reportagens para clientes como SBT, Bandeirantes, FAAP, Roberto Manzoni, Astrid Fontenelle e vários outros.

terça-feira, 5 de março de 2013

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS


E chegamos ao ducentésimo Álbum Fundamental aqui no clyblog .

Quem diria, não?

Quando comecei com isso ficava, exatamente, me perguntando até quantas publicações iria e hoje, pelo que eu vejo, pelos grandes discos que ainda há por destacar, acredito que essa brincadeira ainda possa ir um tanto longe.

Nesse intervalo do A.F. 100 até aqui, além, é claro, de todas as obras que foram incluídas na seção, tivemos o acréscimo de novos colaboradores que só fizeram enriquecer e abrilhantar nosso blog. Somando-se ao Daniel Rodrigues, Edu Wollf , Lucio Agacê e José Júnior, figurinhas carimbadas por essas bandas, passaram a nos brindar com seus conhecimentos e opiniões meu amigo Christian Ordoque e a querida Michele Santos, isso sem falar nas participações especiais de Guilherme Liedke, no número de Natal e de Roberto Freitas, nosso Morrissey cover no último post, o de número 200.

Fazendo uma pequena retrospectiva, desde a primeira publicação na seção, os ‘campeões’ de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS agora são 5, todos eles com 3 discos destacados: os Beatles, os Rolling Stones, Miles Davis , Pink Floyd e David Bowie , já com 2 resenhas agora aparecem muitos, mas no caso dos brasileiros especificamente vale destacar que os únicos que tem um bicampeonato são Legião Urbana, Titãs, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben, Engenheiros do Hawaii e João Gilberto, sendo um deles com o músico americano Stan Getz. A propósito de parcerias como esta de Getz/Gilberto, no que diz respeito à nacionalidade, fica às vezes um pouco difícil estabelecer a origem do disco ou da banda. Não só por essa questão de parceiros mas muitas vezes também pelo fato do líder da banda ser de um lugar e o resto do time de outro, de cada um dos integrantes ser de um canto do mundo ou coisas do tipo. Neste ínterim, nem sempre adotei o mesmo critério para identificar o país de um disco/artista, como no caso do Jimmi Hendrix Experience, banda inglesa do guitarrista norte-americano, em que preferi escolher a importância do membro principal que dá inclusive nome ao projeto; ou do Talking Heads, banda americana com vocalista escocês, David Byrne, que por mais que fosse a cabeça pensante do grupo, não se sobrepunha ao fato da banda ser uma das mais importantes do cenário nova-iorquino. Assim, analisando desta forma e fazendo o levantamento, artistas (bandas/cantores) norte-americanos apareceram por 73 vezes nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, os ingleses vem em segundo com 53 aparições e os brasileiros em, 3º pintaram 36 vezes por aqui.
Como curiosidade, embora aqueles cinco destacados anteriormente sejam os que têm mais álbuns apontados na lista, o artista que mais apareceu em álbuns diferentes foi, incrivelmente, Robert Smith do The Cure, por 4 vezes, pintando nos dois da própria banda ("Disintegration"  e "Pornography"), em um tocando com Siouxsie and the Banshees  e outra vez no seu projeto paralelo do início dos anos ‘80, o The Glove. Também aparece pipocando por aqui e por ali John Lydon, duas vezes com o PIL  e uma com os Pistols; Morrissey, duas vezes com os Smiths e uma solo; Lou Reed uma vez com o Velvet e outras duas solo; seu parceiro de Velvet underground, John Cale uma com a banda e outra solo; Neil Young , uma vez solo e uma com Crosby, Stills e Nash; a turma do New Order em seu "Brotherhood" e com o 'Unknown Pleasures" do Joy Division; e Iggy Pop 'solito' com seu "The Idiot" e com os ruidosos Stooges. E é claro, como não poderia deixar de ser, um dos maiores andarilhos do rock: Eric Clapton, por enquanto aparecendo em 3 oportunidades, duas com o Cream e uma com Derek and the Dominos, mas certamente o encontraremos mais vezes. E outra pequena particularidade, apenas para constar, é que vários artistas tem 2 álbuns fundamentais na lista (Massive Attack, Elvis, Stevie Wonder, Kraftwerk) mas apenas Bob Dylan e Johnny Cash colocaram dois seguidos, na colada.

No tocante à época, os anos ‘70 mandam nos A.F. com 53 álbuns; seguidos dos discos dos anos ‘80 indicados 49 vezes; dos anos ‘90 com 43 aparições; 40 álbuns dos anos ‘60; 11 dos anos ‘50; 6 já do século XXI; 2 discos destacados dos anos ‘30; e unzinho apenas dos anos ‘20. Destes, os anos campeões, por assim dizer são os de 1986, ano do ápice do rock nacional e 1991, ano do "Nevermind" do Nirvana, ambos com 10 discos cada; seguidos de 1972, ano do clássico "Ziggy Stardust" de David Bowie, com 9 aparições incluindo este do Camaleão; e dos anos do final da década de ‘60 (1968 e 1969) cada um apresentando 8 grandes álbuns. Chama a atenção a ausência de obras dos anos ‘40, mas o que pode ser, em parte, explicado por alguns fatores: o período de Segunda Guerra Mundial, o fato de se destacarem muitos líderes de orquestra e nomes efêmeros, era a época dos espetáculos musicais que não necessariamente tinham registro fonográfico, o fato do formato long-play ainda não ter sido lançado na época, e mesmo a transição de estilos e linguagens que se deu mais fortemente a partir dos anos 50. Mas todos esses motivos não impedem que a qualquer momento algum artista dos anos ‘40 (Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Cole Porter) apareça por aqui mesmo em coletânea, como foi o caso, por exemplo, das remasterizações de Robert Johnson dos anos ‘30 lançadas apenas no início dos anos 90. Por que não?

Também pode causar a indignação aos mais 'tradicionais', por assim chamar, o fato de uma época tida como pobre como os anos ‘90 terem supremacia numérica sobre os dourados anos 60, por exemplo. Não explico, mas posso compreender isso por uma frase que li recentemente de Bob Dylan dizendo que o melhor de uma década normalmente aparece mesmo, com maior qualidade, no início para a metade da outra, que é quando o artista está mais maduro, arrisca mais, já sabe os caminhos e tudo mais. Em ambos os casos, não deixa de ser verdade, uma vez que vemos a década de 70 com tamanha vantagem numérica aqui no blog por provável reflexo da qualidade de sessentistas como os Troggs ou os  Zombies, por exemplo, ousadia de SonicsIron Butterfly, ou maturação no início da década seguinte ao surgimento como nos caso de Who e Kinks. Na outra ponta, percebemos o quanto a geração new-wave/sintetizadores do início-metade dos anos ‘80 amadureceu e conseguiu fazer grandes discos alguns anos depois de seu surgimento como no caso do Depeche Mode, isso sem falar nos ‘filhotes’ daquela geração que souberam assimilar e filtrar o que havia de melhor e produzir trabalhos interessantíssimos e originais no início da década seguinte (veja-se Björk, Beck, Nine Inch Nails , só para citar alguns).

Bom, o que sei é que não dá pra agradar a todos nem para atender a todas as expectativas. Nem é essa a intenção. A idéia é ser o mais diversificado possível, sim, mas sem fugir das convicções musicais que me norteiam e, tenho certeza que posso falar pelos meus parceiros, que o mesmo vale para eles. Fazemos esta seção da maneira mais honesta e sincera possível, indicando os álbuns que gostamos muito, que somos apaixonados, que recomendaríamos a um amigo, não fazendo concessões meramente para ter mais visitas ao site ou atrair mais público leitor. Orgulho-me, pessoalmente, de até hoje, no blog, em 200 publicações, de ter falado sempre de discos que tenho e que gosto, à exceção de 2 ou 3 que não tenho em casa mas que tenho coletâneas que abrangem todas as faixas daquele álbum original, e de 2 que sinceramente nem gostava tanto mas postei por consideração histórica ao artista. Fora isso, a gente aqui só faz o que gosta. Mas não se preocupe, meu leitor eventual que tropeçou neste blog e deu de cara com esta postagem, pois o time é qualificado e nossos gostos musicais são tão abrangentes que tenho certeza que atenderemos sempre, de alguma maneira, o maior número de estilos que possa-se imaginar. Afinal, tudo é música e, acima de tudo, nós adoramos música.
Cly Reis

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PLACAR POR ARTISTA:
  • The Beatles: 3 álbuns
  • The Rolling Stones: 3 álbuns
  • David Bowie: 3 álbuns
  • Miles Davis: 3 álbuns
  • Pink Floyd: 3 álbuns

  • Led Zeppelin; Massive Attack, Elvis Presley, Siouxsie and the Banshees; Nine Inch Nails, The Who; The Kinks; U2; Nirvana; Lou Reed; The Doors; Echo and the Bunnymen; Cream; Muddy Waters; Johnny Cash; Stevie Wonder; Van Morrison; Deep Purple; PIL; Bob Dylan; The Cure; The Smiths; Jorge Ben; Engenheiros do Hawaii; Caetano Veloso; Gilberto Gil; Legião Urbana; Titãs e João Gilberto: 2 álbuns

PLACAR POR DÉCADA:
  • Anos 20: 1 álbum ("Bolero", Maurice Ravel)
  • Anos 30: 2 álbuns ("The Complete Recordings", Robert Johnson e "Carmina Burana", de carl Orff)
  • Anos 50: 11 álbuns
  • Anos 60: 40 álbuns
  • Anos 70: 53 álbuns
  • Anos 80: 49 álbuns
  • Anos 90: 43 álbuns
  • Anos 00:  6 álbuns

PLACAR POR ANO:
  • 1986 e 1991: 10 álbuns
  • 1972: 9 álbuns
  • 1968 e 1969: 8 álbuns
  • 1987 e 1969: 7 álbuns

PLACAR POR NACIONALIDADE (ARTISTAS):
  • EUA: 73
  • Inglaterra: 53
  • Brasil: 36
  • Irlanda: 4
  • Escócia: 3
  • Alemanha: 2
  • Canadá: 2
  • Suiça; Jamaica; Islândia; França; País de Gales; Itália e Austrállia: 1 cada



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Mesma melodia, letras diferentes


O fato de apresentar o programa Música da Cabeça, na Rádio Elétrica, é meio que mera desculpa minha para ir à cata de listas. Sempre gostei de criá-las a partir das coisas que curto, das criteriosas às mais estapafúrdias. Uma dessas que me veio à mente para usar no programa se refere a músicas que têm a mesma melodia, mas letras diferentes. A parte musical e o arranjo podem ser idênticos, mas o que é cantado, não. Às vezes, até melodias de voz e cantores diferentes. Dois lados da mesma moeda ou - por que não? - do mesmo disco.

Numa rápida pesquisa de memória, o interessante foi perceber que essa prática é comum nos mais diferentes gêneros, culturas e locais. Seja no Brasil, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra ou até na Jamaica, não há quem resista em usar aquela base que ficou superlegal de um outro jeito, numa outra roupagem. 

Pra compor esta lista de 15 + 1 exemplos, ainda contei com a ajuda de meu irmão e parceiro de blog Cly Reis, que contribuiu com algumas das duplas de músicas as quais não tinham me ocorrido.

Tom Zé e Tim: ambos com duas duplas
de músicas na lista
Importante ressaltar que não valem músicas até então instrumentais que ganharam letra depois de um tempo, casos de “Valsa Sentimental” (de Tom Jobim, que, quando letrada por Chico Buarque, virou ”Imagina”) e “A Rã” (originalmente, “O Sapo”, de João Donato, que passou a ter esse novo título na letra de Caetano Veloso). Neste caso, aceitou-se como exceção quando uma delas é instrumental e a outra cantada, mas desde que pertençam a um mesmo artista e que este as tenha composto para um mesmo projeto.

Igualmente, não se incluem canções “reprise” ou de letra mesmo que diferentes entre si, mas que se tratam de duas partes da mesma, nem mesmo versões para idioma diferente do original feita por outro artista. Músicas “irmãs”, tipo “Blue Monday” e “586”, da New Order, ou “Crush with Eyeliner” e “I Took Your Name”, da REM, não cabem, nem muito menos aquelas que samplearam a “alma” do tema que a inspirou, como o rap norte-americano costuma fazer. Essas todas ficam de fora – quem sabe, guardam-se para uma futura outra lista...

Do blues ao samba, do industrial a soul, do shoegaze ao psicodelismo. Têm dobradinhas bem interessantes e variadas.


1. "João Coragem"/ "Padre Cícero" - Tim Maia
Em 1970, Tim estava gravando seu disco de estreia quando Nelson Motta aparece no estúdio e fica maravilhado com "Padre Cícero". Tanto que pediu para Tim e Cassiano alterarem a letra para a música entrar na trilha da primeira novela da Rede Globo, "João Coragem".

2. "Sister Midnight"/ "Red Money" - David Bowie
A fase berlinense rendeu coisas maravilhosas e simbióticas para Bowie. "Sister Midnight", composta por ele e Iggy Pop para abrir "The Idiot", de Iggy, de 1977, serviu para o próprio Bowie finalizar sua própria trilogia na capital alemã dois anos depois com outro título e letra.

O mestre da "preguiça" baiana sabia muito bem fazer sambas geniais com pouquíssimos versos, quando não quase repetidos. Aqui, o que Caymmi repete é a parte instrumental idêntica a ambas, mas com melodias de voz e letras totalmente diferentes entre si.

"Strange Brew", que abre o cláscico disco "Disreali Gears", de 1967, é tão boa que dá vontade de reescutá-la. Não precisa, pois Clapton/Bruce/Baker a põem no fim do disco, só que com outro nome e letra. 


5. "Mã""Nave Maria" – Tom Zé
Uma mais percussiva, a outra mais world music, mas ambas de abertura de seus discos "Estudando o Samba", 1976, e "Nave Maria", 1984) e sobre o genial riff do baiano de Irará.

6. "Teenage Lust"/ "Heat" - Jesus & Mary Chain
"Teenage Lust" é um clássico da banda que coroa uma fase inspirada, marcada pelo disco "Honey's Dead", de 1992. "Heat", por sua vez, está na coletânea de B-sides "Stoned and Detoned", de um ano depois.

Vindo de Moz, artista que produz muito, não seria estranho haver esse tipo de repetição. No caso, "Alma Matters", hit do disco "Maladjusted", de 1997, tem como sombra "Nobody..,", da coletânea "My Early Burglary Years", de 1998.

8. "Waiting""Do You do It?" – Madonna
No talvez melhor disco de Madonna, "Erotica" (1992), a ousadia de pôr um mesmo tema duas vezes, sendo a segunda cantada não por ela, mas pelos rappers Mark Goodman e Dave Murphy.

9. "Pocket Calculator"/ "Dentaku" – Kraftwerk
Totalmente iguais, não fosse uma ser cantada em inglês e a outra em japonês. Aí os alemães conseguiram fazer, pro disco "Computer World", de 1981, duas obras totalmente diferentes sendo a mesma coisa.

Quase iguais, não fosse o título e algumas partes da letra. Mesmo estando no mesmo disco, o clássico "Pet Sounds", de 1966, é tão bonita que não há nenhum problema em "reouvi-la" com pouca diferença entre uma e outra.

11. "Os Escravos de Jó"/ "Caxangá" – Milton Nascimento
A censura, que comeu praticamente todas as letras de "Milagre dos Peixes", de 1973, inclusive "Os Escravos de Jó", parceria de Milton com Fernando Brant, já havia abrandado um pouco anos depois quando Elis Regina gravou "Caxangá" e depois o próprio Milton.

12. "Graveyard""Another" – P.I.L.
A instrumental "Graveyard", de "Metal Box" (1979), é, literalmente, a "Outra" em "Commercial Zone", disco de sobras de estúdio da mesma época. Coisas da cabeça conceitual de John Lydon e sua Public Image Ltd..

13.  "Jimi Renda-se"/ "Dor e Dor" – Tom Zé
A mente inquieta de Tom Zé faz com que, mais de uma vez, ele revisite a própria obra. Assim como "Mã"/"Nave Maria", a metaliguagem pega nestas duas também, de 1970 e 1972 respectivamente.

14. "Slave to the Rythmn""The Fashion Show" – Grace Jones
O disco de Grace "Slave to the Rhythm", de 1985, em si, é todo cunhado sobre a mesma base, mas estas duas não não são iguais pela letra.


15. "With no One elseAround"/ "Pra Você Voltar" – Tim Maia
Tim não tinha vergonha de reaproveitar melodias suas mais de uma vez, mas aqui ele fez melhor: uma em inglês, para o arrasador álbum de 1978, e outra na língua de Camões, um ano depois ("Reencontro"), em que até o sentido das letras são totalmente diferentes.


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+1. "À Flor da Pele""À Flor da Terra" – Chico Buarque
O título é igual, "O que Será?", eu sei, mas o fato de o subtítulo ser diferente faz, com perdão da redundância, toda a diferença. Escritas por Chico para a trilha sonora de "Dona Flor e seus Dois Maridos", de 1976, uma inicia o filme e outra o encerra - e as letras são totalmente distintas.


cena final do filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos" - tema: "À Flor da Pele"


Daniel Rodrigues

terça-feira, 26 de junho de 2018

Bob Marley & The Wailers - "Burnin' " (1973)



"Futebol é uma arte completa em si.
É todo um universo.
Eu amo futebol porque é preciso
ser um artista para praticá-lo.
Quando nós jogamos futebol,
também fazemos música.
Eu preciso disso.
Liberdade! Futebol é liberdade."
Bob Marley




Aproveitando o ensejo da Copa do Mundo, dessa coisa toda de futebol, aproveitamos para incluir entre os ÁLBUNS FUNDAMENTAIS um artista que, com certeza, por sua representatividade, por sua obra, por sua ascendência já merecia há algum tempo aparecer por aqui, mas que, na verdade, nunca fora destacado anteriormente na nossa seção de grandes discos pelo fato de seu estilo musical, embora gozando de todo nosso respeito e reconhecimento, não figure entre os favoritos do blog. Mesmo assim talvez algum convidado, como costumeiramente temos, resolvesse vir a escrever sobre ele mas como nunca aconteceu, resolvemos fazer justiça.
Bob Marley, cantor e compositor jamaicano, é, sem dúvida alguma, um dos maiores nomes da música mundial e um dos artistas mais influentes de todos os tempos, sendo sua obra engajada, e contestadora, símbolo de lutas por toda forma de liberdade.
Bob Marley correndo atrás da redondinha e, ao lado,
com ilustres parceiros de pelada,
Chico Buarque, Toquinho e o craque Caju.
O caso é que Bob também era chegado numa redondinha e sempre que possível curtia uma pelada com os parças, muitas vezes com amigos famosos como, por exemplo, Jimi Hendrix, Mick Jagger, e os brasileiros Chico Buarque, Toquinho, incluindo o tricampeão mundial pela Seleção Brasileira, Paulo César Caju. Olha, e consta que Bob levava jeito e poderia tranquilamente ter optado pela carreira futebolística. Bom para o mundo da música que não. Bob deixou além de obras importantes e extremamente significativas, um legado de expansão da linguagem do reggae e uma forte mensagem de luta e indignação.
Destacamos aqui o disco "Burnin' " de 1973, que, depois da ótima recepção do disco anterior, "Catch a Fire", projetou definitivamente Marley e sua banda ao reconhecimento internacional, marcando contudo, o fim da participação de Peter Tosh, junto aos Wailers. Além de divergências e desentendimentos pessoais, Tosh, outro ícone do reggae, sentira-se incomodado com a separação do nome da banda do nome de seu frontman, o que acontecera exclusivamente por vontade da gravadora, que pretendia (e conseguira com êxito) torná-lo um grande nome individual.
"Burnin' ", salvo todas as questões periféricas, é um disco de incitação, de convocação, de chamamento às armas contendo algumas das letras mais incisivas de Marley e Tosh nesse sentido. Destaque especial para os sucessos, mundialmente conhecidos, "Get Up, Stand Up" e "I Shot The Sheriff", gravada posteriormente por Eric Clapton, mas também para "Pass It On", "One Foundation" e "Rastaman Chant".
A trajetória de Marley infelizmente foi curta, abreviada, ironicamente, por sua outra paixão, o futebol. Um pisão no pé, numa pelada, teria gerado uma lesão que, não tratada devidamente, se transformara num melanoma que se espalhara pelo corpo, levando o cantor à morte poucos meses depois.
Pena que exatamente o esporte que Marley tanto amava e relacionava de forma tão afetuosa e direta à sua música tenha sido a origem de toda sua tragédia. Mas tenho certeza que de onde estiver, Marley não culpa o futebol pelo fato de não estar mais entre nós. Quem ama o futebol como Bob Marley amava, sabe que o esporte mais praticado no mundo, assim como a música dele, se bem utilizado, pode ser um grande instrumento de transformação, congraçamento e paz.
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FAIXAS:
  1. "Get Up, Stand Up" (Marley/Tosh) - 3:16
  2. "Hallelujah Time" (Livingston) - 3:28
  3. "I Shot the Sheriff" (Marley) - 4:41
  4. "Burnin' And Lootin" (Marley) - 4:15
  5. "Put It On" (Marley) - 3:13
  6. "Small Axe" (Marley) - 4:01
  7. "Pass It On" (Livingston) - 3:33
  8. "Duppy Conqueror" (Marley) - 3:44
  9. "One Foundation" (Tosh) - 3:42
  10. "Rastaman Chant" (Trad., arr. Marley/Tosh/Livingston) - 3:47
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Ouça:
Bob Marley - Burnin'


Cly Reis

sábado, 12 de setembro de 2015

Howlin' Wolf - "Howlin' Wolf" ou "The Rockin' Chair Blues" (1962)



"Seus olhos se iluminavam e você podia
ver as veias se incharem no seu pescoço
e, irmão, sua alma inteira
se concentrava naquela canção.
Ele cantava com a danada da alma."
Sam Phillips,
da gravadora Sun Records,
descrevendo Howlin' Wolf



Um uivo de lobo.
Uma voz potente.
Um homem transfigurado em animal no estúdio.
Assim era Chester Arthur Burnett, mais conhecido como Howlin' Wolf, um dos maiores nomes do blues de todos os tempos. Artista de admiráveis qualidades vocais, exímio manejo da guitarra e performances arrasadoras em shows, Wolf que começara na Sun, gravadora que revelou Elvis Presley, teve, no entanto, seu período de maior sucesso pelo famoso selo Chess, de Chicago, curiosamente levado pelas mãos do, sabidamente um arquirrival, Muddy Waters.
Rivalidades à parte, cada um com seus talentos, muitos diga-se de passagem, havia espaço para os dois na Chess. A maioria dos músicos do staff da gravadora gravavam as canções do baixista da casa e compositor Willie Dixon, mas poucos como Wolf tiraram tanto proveito desta parceria. Saíram das maos de Dixon alguns dos maiores sucessos de Howlin' Wolf e diga-se de passagem, em contrapartida, são dele algumas das melhores interpretações das músicas de Dixon.
Wolf já havia gravado um disco desde sua chegada à Chess mas que ainda trazia heranças da Sun Records, sua antiga gravadora, e contava apenas com as composições do próprio cantor, mas foi com o disco conhecido popularmente como "The Rockin' Chair Blues" que Wolf alçou voo definitivamente no universo do blues muito em função das composições de Dixon e de seu dedo na produção.
O disco abre com a excitante "Shake For Me", uma incitação à libido e já traz na sequência o clássico "The Red Rooster" cantado de maneira arrastada por Wolf com o acompanhamento de por uma slide guitar matadora do próprio cantor. A música ganharia inúmeras versões posteriores, nas quais ganharia o diminutivo pela qual é mais conhecida ("Little"), dentre elas a suingada de Sam Cooke, a suja do Jesus and Mary Chain e a maliciosa dos Rolling Stones.
"Who's Been Talkin'", um blues lento, quebrado com um toque latino é uma das duas, apenas, de autoria do próprio cantor no disco, e ""Wang Dang Doodle", que a segue é pegada, cheia de embalo, com uma guitarra vibrante e um refrão contagiante.
Outra que já foi regravada incontáveis vezes, por Etta James, Who, pelo Cream de Eric Clapton, mas que tem na versão deste blueseiro do Mississipi, a primeira, diga-se de passagem, uma de suas melhores interpretações, é a magnetizante "Spoonful",  mais uma das obras-primas de Dixon imortalizada pelo vocal singular do Lobo.
Na chorosa "Going Down Slow" onde o vocalista praticamente apenas declama a letra, o que destaca-se mesmo, desde a introdução martelada, é o piano; já em "Back Door Man", Howlin' Wolf retoma o protagonismo e encarna o personagem soltando ganidos arrepiantes numa canção que é uma espécie de assombração sensual e sedutora e que cuja versão, talvez, mais conhecida seja a da banda The Doors gravada logo em seu álbum de estreia.
Bem ritmada, embalada, impetuosa, "Howlin' for My Baby" (que também é conhecida com a variação de "... My Darling"), talvez a melhor tradução da fusão de estilos do blues do Delta para o de Chicago, encaminha com grandiosidade o final do disco para que "Tell Me", a outra composição de autoria de Wolf no disco, um gostosíssimo blues com uma levada apaixonante de harmônica  se encarregue de fechar de forma magistral.
Um daqueles caras para o qual a alcunha lenda do blues cabe perfeitamente, ainda mais reforçada pelo nome sugestivo que carregava, pelas performances insanas no palco, pelo feitiço que impunha às mulheres e pelos uivos quase animalescos que emitia em suas interpretações. Seria aquela figura na verdade uma criatura entre o home e o lobo? Teria ele, como o outro legendário Robert Johnson, feito algum pacto sinistro cujo preço seria que dividisse sua forma entre o humano e o bestial, metamorfoseando-se depois de determinada hora, em determinados dias, em dada fase lunar? Ficaria ele assim, mesmo em sua forma humana com traços do animal o que explicaria seus grunhidos, uivos e rosnados característicos e sua forma gigantesca e quase gutural? Bobagem, bobagem. Mas, ei... Alguém aí ouviu um uivo?
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FAIXAS:
  1. "Shake for Me" – 2:12
  2. "The Red Rooster" – 2:22
  3. "You'll Be Mine" – 2:25
  4. "Who's Been Talkin'" (Howlin' Wolf) – 2:18
  5. "Wang Dang Doodle" – 2:18
  6. "Little Baby" – 2:45
  7. "Spoonful" – 2:42
  8. "Going Down Slow" (St. Louis Jimmy Oden) – 3:18
  9. "Down in the Bottom" – 2:05
  10. "Back Door Man" – 2:45
  11. "Howlin' for My Baby" – 2:28
  12. "Tell Me" (Howlin' Wolf) – 2:52
* todas as faixas compostas por Wilie Dixon, exceto as indicadas
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Ouça: