"La crème de la crème"
Depois de uma estreia como aquela com o espetacular "Fresh Cream", criou-se toda uma expectativa acerca do segundo disco do trio formado por Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker. E a mega-banda não só não decepcionou, como talvez tenha feito um disco ainda melhor que o primeiro. Se em "Fresh Cream" o baixista-vocalista Jack Bruce havia tomado as iniciativas de composição na maior parte das músicas, sendo inclusive acusado pelos colegas de lançar um single sem a concordância dos demais, neste Clapton que no início servira muito como um catalisador da banda, tomava agora as rédeas da situação e mostrava com quem é que estavam lidando. Clapton, que no primeiro não havia composto (diretamente) nenhuma música e só tinha vocais secundários, em "Disreali Gears" ia pro jogo e botava na roda algumas de suas melhores canções, além de emprestar sua voz a alguns dos grandes clássicos do rock'n roll. "Sunshine of Your Love" é a melhor prova disso, numa composição brilhante, iluminada com a marca inconfundível da guitarra de Clapton, em um dos riffs mais conhecidos da história do rock e fazendo pela primeira vez na banda o vocal principal. O fantástico blues psicodélico "Strange Brew" com ele, Clapton, desta vez dividindo os vocais com Bruce e Baker matando a pau na batera, é outra daquelas de arrepiar; e "Tales of Brave Ulysses" igualmente manda muito bem e não fica para nada trás numa canção forte, imponente e de contornos épicos (uma das minhas favoritas do álbum).
Fora a participação mais efetiva de Eric Clapton em composições, vocais e concepção; e o fato de Ginger Baker, com problemas de bebida, não aparecer tanto nas composições nem exibir performances tão marcantes como antes; a diferença fundamental do primeiro álbum para este é na verdade o fato que "Disraeli Gears" não é tão baseado diretamente em blues como o outro, soando no fim das contas, muito mais psicodélico e experimental do que seu antecessor, o que pode ser notado de forma bem evidente em canções como "World of Pain" balada carregada de wah-wah, "S.W.L.A.B.R" barulhenta de feedbacks de guitarra e com uma batida de rolos constantes de Baker; e na viajante "We're Going Wrong".
Apesar de não ser o foco principal, o blues está presente, sim, e aparece não só já citada "Strange Brew"; um pouco mais sutilmente em "Blue Condition", a única de Baker no disco, uma espécie de blues estilizado; e brilhantemente na maravilhosa "Take It Back", com outro show da guitarra de Clapton e Bruce destruindo na harmônica. Em "Dance the Night Away" o arranjo vocal e o trabalho dos dois, Bruce e Clapton, cantando juntos é algo que deve ser destacado (demais!); "Outside Woman Blues" retoma as experimentações de blues com energia e peso do trabalho anterior; e o disco encerra com a tradicional "Mother's Lament", uma hitorieta triste interpretada de forma descontrída e teatral.
Adquiri há pouco tempo o LP na Feira do Rio Antigo, popular Feira do Lavradio. Minha fita K7 havia ficado em Porto Alegre. Reposição importante. Um dos discos que quando eu ponho é daqueles que dá um enorme prazer em ouvir. é sempre especial quando passeio com os dedos pelos vinis , chego nele e penso, "Puxa, eu vou ouvir o "Disraeli Gears!".
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FAIXAS:
1."Strange Brew"
2."Sunshine of Your Love"
3."World of Pain"
4."Dance the Night Away"
5."Blue Condition"
6."Tales of Brave Ulysses"
7."S.W.L.A.B.R." (She Was Like A Bearded Rainbow)
8."We're Going Wrong"
9."Outside Woman Blues"
10."Take It Back"
11."Mother's Lament"
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Ouça:
Cream Disraeli Gears
Cly Reis