"Eu não acho que sexo é algo ruim,
eu não acho que nudez seja algo ruim.
Eu não acho que estar em contato com sua sexualidade
e ser capaz de falar sobre isso seja ruim.
Acho que o problema é que todo mundo é tão encanado sobre sexo
que fazem isso parecer ruim."
Madonna
Álbum um tanto eclipsado pelas polêmicas dos filmes “Na Cama
com Madonna” e “Corpo em Evidência”, e
principalmente do bombástico livro “Sex”, “Erotica”, de 1992, é, no entanto
para mim, o melhor disco de Madonna, com um trabalho de produção
impecável, sonoridades interessantíssimas, trabalhos vocais elogiáveis, e
atitude e provocação no grau máximo. A Material Girl encarnava a personagem Dita e
deixava correr soltas todas as suas perversões: a brilhante faixa
título, "Erotica", com sua base de baixo sampleada, propositalmente chiando como em um LP, acompanhada de um funkeado hipnótico, já é o cartão de visitas de Dita, com
Madonna praticamente declamando os versos, sussurrando, numa interpretação
sedutoramente ameaçadora. Dita volta a aparecer em outro grande momento do disco, a
matadora “Waiting”, um hip-hop pesadão, com samples muito bem sacados e mais
uma violenta dose de pimenta da safada personagem criada por Madonna para expor
com mais naturalidade todas suas fantasias. E já que estamos nesse assunto, a
ótima “Where the Life Begins”, um funk cadenciado, com tendências rythm’n blues e samples de cordas, é outra que não fica
para trás no quesito putaria, uma vez que La Ciccone literalmente 'cai de boca',
falando sobre sexo oral sem muitas cerimônias.
Mas falando assim parece que o álbum resume-se a um monte de
hip-hop's sacanas pra chocar a galerinha menos avisada. Não! Embora a muitas faixas apresentem essa tendência, “Erotica”
trazia Madonna passeando por outras tendências, experimentando desde a disco,
na espetacular “Deeper and Deeper”; passando por uma espécie de ragga high-tech, com a
ótima “Why’s it So Hard”, um manifesto contra preconceitos; revisitando Peggy
Lee, lá dos anos 50, numa versão competentíssima de “Fever”; e logicamente trazendo
aquelas canções pop que só ela sabe fazer, como “Rain”, provavelmente uma das melhores
canções da cantora até hoje, numa interpretação inspirada e marcante.
Outros grandes momentos são a ótima balada “Bad Girl”, a bem
ritmada e muito interessante “Words”; a vingativa e (até) divertida “Thief of
Hearts”; na melancólica “In This Life”, para um amigo falecido pela AIDS; “Did
You Do It?”, com uma performance à parte de dois MC’s, trabalhando sobre a base
de “Waiting”, do próprio álbum; e o grande final com a sensual e misteriosa “Secret
Garden”, um hip-hop lento, com ares de jazz, novamente com uma interpretação
maviosa e precisa da loura, encarnando uma Dita dessa vez fragilizada e
confessional.
O fato é que se o
hip-hop, os ritmos negros, as revisitas à disco, ao funk e aos rythm’n blues
viraram moda dali para a frente naquele início dos 90’s, provavelmente em “Erotica”
pela primeira vez aqueles elementos eram explorados de uma maneira eficiente e
bem acabada por uma artista pop.
É isso que faz o diferencial de Madonna. Sempre um pouquinho
à frente. Sempre mostrando como se faz.
*********************************************
FAIXAS:
1. "Erotica"2. "Fever"
3. "Bye Bye Baby"
4. "Deeper and Deeper"
5. "Where Life Begins"
6. "Bad Girl"
7. "Waiting"
8. "Thief Of Hearts"
9. "Words"
10. "Rain"
11. "Why's It So Hard?"
12. "In This Life"
13. "Did You Do It?"
14. "Secret Garden"
**********************************************
Ouça:
Cly Reis
Nenhum comentário:
Postar um comentário