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quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Música da Cabeça - Programa #337

 

Quem disse que as tintas também não emitem sons? Quando a gente fala de Mark Rothko, artista letão que completaria 120 anos, não há como duvidar. É o que o MDC desta semana prova com todas as tintas. Nossa paleta também traz cores de Milton Nascimento, The Beatles, Moreno Veloso, Erasmo Carlos, Nirvana e outros. A verinssage abre às 21h na expositiva Rádio Elétrica. Produção e apresentação sobre tela: Daniel Rodrigues.


www.radioeletrica.com

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial de 15 anos do ClyBlog - Rita Lee - "Entradas e Bandeiras" (1976)

 




"Quantas vezes eles vão me perguntar
se não faço nada 
a não ser cantar (...)
agora não é tempo
da gente se esconder
tenho mais é que botar a boca no mundo".
trecho de "Botar a Boca no Mundo"





Meu amigo Cly me convidou para falar sobre meu álbum fundamental. Desafio.
Um só?
Após revisitar algumas influências, poderia falar de Beatles, Stones, Pink Floyd, optei por algo brasileiro, da minha Terra. Sendo assim, impossível não falar de Rita Lee, nossa rainha do Rock BR, Nossa Senhora dos overdrives tupiniquins.
Continua sendo um desfio, pois Rita coleciona álbuns considerados pérolas da nossa MPB.
Escolhi seu terceiro disco em parceria com a banda Tutifrutti, "Entradas e Bandeiras", de 1976, que considero um divisor de águas por conta de sua sonoridade antiga e pesada. Quando li sua autobiografia, vi que questionou o resultado final deste disco e do anterior, Fruto Proibido, de 1975. Mas pra mim e muitos brasileiros, como meu pai, que me apresentou o LP (o qual roubou de uma prima, aos 14 anos) ele mostra que a sonoridade do rock n’ roll funciona perfeitamente com a embocadura do português bem brasileiro, executado com maestria nas composições da Rita, como sempre.
Apesar de hits como "Superstafa" e "Coisas da Vida", o sucesso o disco anterior ofuscou um pouco sua projeção e muitas pessoas não lembram tanto de "Entradas e Bandeiras".
Apaixonante desde o primeiro acorde, o disco inicia com "Corista de Rock", composição em parceria com o guitarrista Luis Carlini, que já dá a cara, identidade do disco, deixando bem claro ao que veio. A voz de uma jovem Rita, os fabulosos timbres de guitarra, de sonoridade britânica, de amplificadores Marshalls (bem populares na época) e o baixo de timbre mais estalado, Rickenbacker, remetem a uma atmosfera vintage e crua, que dá vontade de aumentar o volume.
A curiosidade fica por conta da quarta faixa, "Bruxa Amarela", única que não foi
composta pela Tuttifrutti ou Rita, assinada por Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho.
Para este disco, a banda trazia a surpresa de Sérgio Della Monica na bateria, somando-se ao já conhecido grupo formado por Luis Carlini na guitarra, Lee Marcucci no baixo, Paulo Maurício nos teclados e sintetizadores e os irmãos Rubens e Gilberto Nardo nos backing vocals.
Esta obra-prima é um dos meus discos favoritos da vida, ótima opção para sacudir os cabelos!




por T H A L E S   A M O N

★★★★★★

FAIXAS:
1.Corista De Rock 
2.Lady Babel 
3.Coisas Da Vida 
4.Bruxa Amarela 
5.Departamento De Criação 
6.Superstafa 
7.Com A Boca No Mundo 
8.Posso Contar Comigo 
9.Troca Toca 

★★★★★★
Ouça:




★★★★★★


Thales Amon
toca violão e guitarra desde os 8 anos, estudou piano na Escola de Música Villa-Lobos, é bacharel em guitarra pelo Conservatório Brasileiro de Música (CBM-CEU), músico e arranjador do Bloco Superbacana, produtor executivo do Bloco do Barbas, professor de guitarra no Projeto Hora Extra da escola Oga Mitá. Tem como suas principais influências o rock, pop, jazz e mpb dos anos 60 e 70.

sábado, 8 de julho de 2023

Frank Jorge & Naipe de Sopros - Bar do Alexandre - Porto Alegre/RS (30/06/2023)

 

“Rock 'n' roll: amor e morte”. Com este lema, emprestado do amigo e também roqueiro gaúcho Julio Reny, o carismático e catalisador Frank Jorge subiu não ao palco, mas à calçada do badalado Bar do Alexandre, em plena Rua Saldanha Marinho, no Menino Deus, quadras da minha casa. Tão perto é que, chegando a pé e uns minutos após o começo do show, fui recebido por Frank tocando “Se Você Pensa”, de Roberto e Erasmo, ao lado de Alexandre Birck, na bateria, e Régis Sam, baixo, além de um afiado naipe de sopros: Carlos Mallmann (trombone) Joca Ribeiro (trompete) e Gustavo Muller (sax tenor e barítono). Que luxo! Combinação simples, mas suficiente para o front man entregar um show cativante e de puro rock. No set-list, temas da carreira solo de Frank, hits da sua tão lendária quanto ele Graforréia Xilarmônica, uma das bandas fundadoras do rock gaúcho e clássicos nacionais, internacionais e regionais.

A convite do próprio Frank, pude presenciar uma apresentação digna da melhor Porto Alegre roqueira. O público que cantou com ele de cabo a rabo joias do seu repertório solo como “Pode Dizer Assim”, “Não Pense Agora”, “Sensores Unilaterais”, “Elvis” e “O Prendedor” até aquelas da Graforréia que não podem faltar: "Eu", "Twist", "Nunca Diga" e "Amigo Punk", esta milonga-rock que é mais do que uma música: é um dos hinos não-oficiais da Porto Alegre alternativa.

Frank e sua banda tocando o hino "Amigo Punk"

Mas teve também covers muito legais e coerentes com a pegada rock 50/60 que sempre caracterizaram a obra e a estética de Frank. Dos parceiros de rock gaúcho, além de "Amor e Morte", de Reny, teve "Lugar do Caralho", do ex-parceiro de Cascavelletes Júpiter Maçã (à época, anos 80, ainda Flávio Basso) e "Cachorro Louco", pedrada da própria Cascavelletes. Ainda menos vaidoso, ele tocou, sob um coro geral da galera, o hit "Núcleo-Base", dos paulistas do Ira!, ato, convenhamos, raro em artistas do Rio Grande do Sul, comumente bairristas.

Mas teve mais! Frank não poupou relíquias. Outra de RC, numa emocionante "Quando"; Beatles, "Nowhere Man", rock argentino e até Ramones. Porém, claro, nada do punk grosseiro, e sim, uma versão da sessentista "Rock 'n' Roll Radio". Nada mais condizente com Frank Jorge. O clima de celebração se completou ainda com o anúncio, horas antes, da inegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. O próprio Frank puxou mais de uma vez o coro: "Ele é inelegível!" em ritmo de "Seven Nation Army", tal as torcidas organizadas, porém dentro dos acordes de "Nunca Diga", de autoria do próprio Frank (que, diga-se, foi escrita bem antes do megasucesso da White Stripes).

Um começo de noite agradabilíssimo regado àquilo que hoje se reserva a pequenos redutos porto-alegrenses, que é a cena rock. Por algumas horas, o clima da antiga Osvaldo Aranha foi recuperado e se reproduziu ali, testemunhado pelo céu nublado da noite. Um momento de resistência, de celebração. Quase litúrgico. Frank, na 'seriedade", como diz a todo tempo, trata, de fato, rock como algo sério. Empunhando sua guitarra como um padre carrega um crucifixo, São Frank Jorge conduziu sua legião de séquitos em enlevo de oração. Coisa muito séria esse rock 'n' roll, hein? Assunto de amor é morte. Amém.

**************

Frank e banda mandando ver no bom e velho rock 'n' roll

Sendo recebido ao som da Jovem Guarda de Roberto e Erasmo


Rua e bar lotados para assistir Frank Jorge

Outro clássico do repertório "xilarmônico": Nunca Diga"

Daniel Rodrigues

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Brian Eno - “Another Green World” (1975)

 

“Ao discutir arte, as pessoas costumam falar sobre gênios, mas assim que você começa a observar de perto como as coisas surgem, descobre que sempre há contextos e sistemas informando esse indivíduo”.

“A ciência é uma forma de descobrir coisas sobre o mundo, mas a arte nos dá a chance de explorar, através da imaginação, lugares que não existem, bem como ferramentas para lidar com o mundo em que estamos”. 
Brian Eno

Obras-de-arte comumente vêm ao mundo fora do seu tempo cronológico. Com isso, precisam que o próprio tempo passe para serem valorizadas e, principalmente, entendidas. Quanto levou-se para se assimilar a “nova poesia” de Mallarmé, hoje naturalmente reconhecida como o começo das correntes modernistas? Ou as pinceladas "borradas" dos impressionistas, taxadas de “infantis” pelos críticos da época, mas que se configuraram num passo fundamental para a ruptura com o classicismo absorvido pela arte contemporânea? 

Na música moderna, isso seguidamente ocorre. “The Velvet Underground & Nico”, primeiro disco da banda de Lou Reed e John Cale, vendeu ridículas 10 mil cópias à época de seu lançamento, em 1967, mas influenciou o mundo quase tanto quanto os Beatles. O hoje cult “Araçá Azul”, de Caetano Veloso, chegou a ter devoluções nas lojas em 1972 de tão mal recebido pelo público e hoje um vinil original não custa menos do que uma pequena fortuna. Pode-se dizer que “Another Green World”, de Brian Eno, de 1975, se enquadra neste perfil de grandes discos além de seu tempo. Não por terem lhe fechado os olhos, mas por não ter sido observado como deveria. E, diferentemente de outras obras marcadamente incompreendidas, o disco do cantor, compositor e produtor inglês carrega algumas qualidades que lhe tornam quase profético. Eno intuiu elementos que só se conflagrariam tempo depois, redimensionando aquele trabalho do passado que anteviu o que pode se chamar de “era da pós-música”.

Havia sinais de que Eno estivesse sintonizado com algo de tamanha visão do futuro, mas nem por isso assim tão fáceis de se ler. Saído da glitter Roxy Music, no início dos anos 70, banda que já antecipava uma série de movimentos da música pop, Eno, que além de músico é também artista visual e professor de arte, sempre equilibrou a carreira entre essas várias vertentes. Tal versatilidade lhe fez iniciar a carreira solo com dois discos de glam rock bastante inovadores: “Here Comes the Warm Jets” e “Taking Tiger Mountain (By Strategy”), de 1973 e 74, respectivamente. Em seguida, uma guinada: Eno inventa a ambient music com “Discreet Music”, abrindo caminhos para a new age e o neo classical. Anos antes, ele já havia feito duo com Robert Fripp no experimental “No Pussyfooting” e trabalhado ao lado de Cale, Nico e Kevin Ayers, um dos fundadores do jazz-rock. Ou seja: diversas frentes, que embaralhavam ainda mais o cenário em que “Another...” foi gestado.

Por todos estes antecedentes e exemplos subsequentes – visto que Eno seguiu variando entre art rock, punk, minimalismo, afrobeat, trilhas de cinema, new age, world music e outros gêneros – a audição de “Another...” é absolutamente enigmática. E mais do que isso: o enigma não se dá em razão de uma música complexa, intrincada, mas, sim, por uma sonoridade totalmente “palatável”. Eno certamente queria dizer algo importante com isso... Quem escuta os primeiros acordes da faixa inicial, “Sky Saw”, não raro surpreende-se com o som processado e dissonante do fretless bass de Percy Jones tocando um acorde de quatro notas que visivelmente não se completa. Não se completa, mas volta a se repetir em sua incompletude, deixando claro que é mesmo aquele o “riff” da canção, se é que dá para classificar assim. Nem o show de execução do restante da banda formada por Eno com os amigos Paul Rudolph, no baixo, Phil Collins, na bateria, Rod Melvin, no piano elétrico, e Cale, na viola, faz esvair a sensação de que algo diferente contém ali. Uma abertura fascinante, mas estranha.

Se o disco larga com cargas de peculiaridade, a partir de então os enigmas começam a ficar ainda mais evidentes. À exceção de “Sky Saw” e mais outras quatro, todas as músicas das 13 que compõem o disco são como vinhetas, de poucos minutos. Nenhuma passa de 4 minutos, tempo de duração padrão de uma canção pop vendável. “Over Fire Island”, noutra performance brilhante do ainda apenas baterista Collins, traz um baixo igualmente destacado de Jones numa base meio jazzística enquanto Eno comanda sintetizadores, guitarra e colagens de fita magnética. Pura vanguarda instrumental, assim como outras duas seguintes, “In Dark Trees” e “The Big Ship”, ambas protagonizadas apenas pelo próprio Eno, que ainda toca percussão elétrica e sintetizada e um gerador de ritmo tratado, tecnologia bem avançada para a época, algo como a uma bateria eletrônica rústica. Todas instrumentais, curtas, de poucos acordes, quase sem riff. Não fosse pelas breves frases cantadas da primeira faixa e da pequena letra de outra excelente, “St. Elmo's Fire” – em que Eno comanda os instrumentos acompanhado somente da guitarra do parceiro Fripp –, poderia se dizer que se trata de um disco de música instrumental. Mas claramente diferente de “Discreet...” ou de qualquer outra peça de trabalhos anteriores. Onde Eno queria chegar com essa proposta, no mínimo, diferente?

O álbum prossegue e as respostas vão sendo colhidas aos poucos. É possível perceber, por exemplo, o embrião da generative music, outra novidade a qual Eno lançaria as bases em 1978 em “Ambient 1: Music for Airports”, termo baseados nas ideias do linguista Noam Chomsky e que descreve uma música sempre diferente, mutável e gerada por sistemas eletrônicos. A sexta faixa, “I'll Come Running”, em que conta outra vez com Melvin ao piano, Rudolph ao baixo e Fripp nas guitarras, começa a deixar mais claro o que Eno pretendia. A alternância entre músicas com uma formação um pouco maior, mas enxuta, e outras quase que totalmente artesanais – caso da seguinte, a dissonante faixa-título – denota o quanto o autor entendia que caminhos a música pop iria tomar não dali a poucos anos, mas três, quatro, cinco décadas à frente! E mais: não apenas a música popular, mas o conceito de sonoridade, a ideia de música da sociedade contemporânea.

Fica até difícil perceber o quanto o homem moderno está soterrado em mensagens sonoras, visto que estas proveem de todas as fontes e plataformas. Pelos celulares, pela TV, pela publicidade, pelos aparelhos constantemente conectados do mundo atual. Na era digital de infinitas possibilidades e constante avanço, a música, assim como qualquer outro enlatado de supermercado, vem numa esteira de ultraprocessamento à medida em que a sociedade capitalista também avança. A propaganda, com suas pesquisas e indicadores, é a nova ciência. Com isso, passa-se a utilizar a lógica de produção, inclusive para a democrática e facilmente penetrável arte. As discussões postas na mesa pela geração da pop art e do kitsch a qual Eno pertence captava a subjetivação do fazer artístico diante das possibilidades (e permissividades) do capitalismo. O que Eno sacou em “Another...”, antes de qualquer outro músico pop, era que, com a música, esse efeito de desconexão seria não somente contínuo quanto, quiçá, irreversível. Os sons aos quais todos são bombardeados ao navegar pela internet ou num simples passeio na rua ou num shopping nada mais são, hoje, que fragmentos sonoros cientificamente provocados. Pequenas células de emissão físico-acústica de onde se extrai apenas o que é necessário para a absorção funcional, superficial e fragmentada do homem atual.

Canções pop sem centro tonal, inversão dos efeitos sinestésicos, ruptura radical com o cromatismo. Aqui, faz-se necessário um parêntese temporal, e chega-se ao século XXI e seus novos gêneros: left-field, trap, wonky, vaporwave, lowwecase... Não é nem o que Chico Buarque entende como “fim da canção”, mas, mais do que isso: é a era da “não-música”. Os tempos líquidos teorizados por Baumann foram perscrutados na música em diversos momentos na modernidade. Em conceito, a The Residents não só lançou “Commercial Album”, apenas composto de músicas de 1 minuto de duração para supostos jingles publicitários, como, anos antes, fez o “não-lançamento” de “Not Avaliable”, disco que, ironizando a lógica de mercado, “não devia ser ouvido”. Sonoramente, além da eletrônica, da vanguarda, do jazz ou da new age, dissolvedores do cromatismo clássico, um artista como William Basinski, literalmente diluiu a música em sua “Watermusic”. Mas todos até então buscavam dialogar com o tom, seja pela referência, pela alusão ou pela proposital abstenção. Impreterivelmente. O que Tricky ou MFDoom desmembraram, hoje, Billie Elish faz revelar um novo estado psíquico a que a civilização se levou: a total alienação da tonalidade – menos por conhecimento do que por intenção. Seria, ao invés da música "generativa", a "degenerativa"?

Voltando a "Another...", na arábica “Sombre Reptiles”, Eno traz a alusão ao abstratismo tão presentes nas artes visuais a qual ele mesmo se alinha. Mas, para além disso, reforça a ideia de uma deformação do real. "Little Fishes" ainda mais: frases soltas, quase que apenas para sentir e não ouvir. Gostar torna-se, assim, subjetivo, pois está associado à mimese e não à assimilação por um viés artístico. Absorve-se cognitivamente e não sensorialmente. Qualquer semelhança com os estímulos sonoros de um app de smartphone ou de um vídeo do Tik Tok não é mera coincidência. Nem curtas demais, que não transmitam o efeito pretendido, nem longas demais, que acabem dispersando a atenção da geração do imediatismo.

Diminuta em construção melódica, mas gigante em qualidade é "Golden Hours", outra cantada do álbum, música que, certamente, serviria de inspiração (para não falar de “espelhamento”) a U2 quase 20 anos depois na canção “The Wonderer", que encerra o disco “Zooropa” - nada coincidentemente produzido pelo próprio Eno. É ele que volta a agir sozinho em “Becalmed” (Piano Leslie e sintetizador), talvez a mais ambient de “Another...” e de cujos traços tornaria a valer-se tanto em trabalhos solo seguintes (“Before and After Science”, “Music for Airports”) quanto na de parceiros, como no "lado B” de “Low”, do amigo David Bowie, em 1977. “Zawinul/Lava”, igualmente, remete a este Eno experimental e com o olhar para o Oriente, que aproveita um pequeno motivo sonoro provocador de sensações de contemplação e meditação. 

A bela "Everything Merges with the Night" é uma quase-canção, com a voz bonita de Eno acompanhada do baixo e pianos de Brian Turrington e de sua própria guitarra, não fosse o riff que, mais uma vez, situa-se no limiar da melodia, haja visto que sua predominante dissonância não deixa completar o ciclo sonoro natural ao ouvido. Há sempre algum "problema", seja na duração, na altura, na intensidade ou no timbre, elementos constituidores do tom. Uma provocação à biologia humana. Há um fio melódico, mas Eno deixa-o escapar deliberadamente. Magnífica, "Spirits Drifting" é a conclusão perfeita para um disco que começa esfíngico e termina agravando as próprias interrogações: instrumental, mínima, atonal. Uma combinação de acordes bonita, mas que não desfecha naturalmente, como que deixando um proposital ponto de interrogação.

A música da era da pós-verdade – num planeta das multidões de refugiados, da avançada ciência que favorece as classes dominantes, das persistentes fome e guerras, do mundo capitalista que caminha para a autodestruição ambiental – não é (não pode ser) mais música. Decreta-se a “não-música”. Talvez por isso tudo o disco de 1975 de Eno seja tão precursor e contenha um título tão utópico quanto propositivo. O tom, na concepção dele, nada mais é do que o símbolo de uma ética. Musical, em primeira observância, mas ecológica amplamente falando. Ao fincar suas bases na tradição – porém, problematizando-a –, o artista remonta a séculos de uma construção formal e estética a qual acredita fortemente que jamais deve se perder, mesmo que em um “outro mundo verde” muito disso tenha ficado para trás. Esperançoso, no entanto, o próprio Eno sustenta a ideia lançada em “Another...”: “O esforço ambiental é o maior movimento da história da humanidade; nunca houve uma única causa que uniu tantos bilhões de pessoas com um objetivo. Pode haver contradições dentro da causa; haverá emoções e derramamentos, mas esperamos que haja alguns resultados positivos para esta ação mundial”. Tomara ele tenha razão.

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FAIXAS:
1. "Sky Saw" - 3:25
2. "Over Fire Island" - 1:49
3. "St. Elmo's Fire" - 3:02
4. "In Dark Trees" - 2:29
5. "The Big Ship" - 3:01
6. "I'll Come Running" - 3:48
7. "Another Green World" - 1:38
8. "Sombre Reptiles" - 2:26
9.  "Little Fishes" - 1:30
10.  "Golden Hours" - 4:01
11. "Becalmed" - 3:56
12. "Zawinul/Lava" - 3:00
13. "Everything Merges with the Night" - 3:59
14. "Spirits Drifting" – 2:37
Todas as composições de autoria de Brian Eno

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Música da Cabeça - Programa #323

 

Tá se sentindo perdido no oceano igual o submarino do Titanic? Não tem nada, não. É só ouvir o MDC de hoje, que você se achar rapidinho. Banderas, Beatles, Gilberto Gil, Foster The People e Arnaud Rodrigues estão aí pra te dar as coordenadas. Ainda, Cabeça dos Outros encontrando Os Barbapapas. Seja na terra ou no fundo do mar, o programa vai emitir sinais infalíveis às 21h na orientada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e periscópio: Daniel Rodrigues 



(www.radioeletrica.com)

segunda-feira, 29 de maio de 2023

CLYLIVE Especial de 15 anos do ClyBlog - Kraftwerk - C6 Fest - Vivo Rio - Rio de Janeiro/ RJ (18/05/2023)

 



Somos apenas humanos
por Cly Reis



Há 15 anos atrás tinha o privilégio de assistir a um show do Kraftwerk. Desde então, tive, para mim, a convicção de que havia presenciado o melhor show de minha vida. Até por conta disso, não  tinha a intenção de vê-los ao vivo novamente. Pra que? Já  havia me satisfeito e, provavelmente, não  seriam melhores do que foram naquela vez.

Só que o tempo passou e, dentro desses 15 anos que me separam daquele show, tive uma filha. Ela tem 11 anos hoje e, ao longo de sua formação musical, sem que eu forçasse, sem que eu influenciasse decisivamente, acabou por adorar Kraftwerk. E eis que, eu que já me dava por satisfeito por tê-los visto uma vez, descubro que os caras vêm pro Brasil de novo! Eu tinha que levar minha filha para ver. Não sei se, a essas alturas, eles vêm de novo, se vão continuar fazendo turnês, se Ralph Hütter não vai pendurar as chuteiras, ou mesmo se sua "bateria" ainda vai durar por muito mais tempo, uma vez que, brincando brincando, já são 76 anos nas costas ("toc, toc", batendo na madeira). Era agora ou, possivelmente, nunca mais.

Então fiz o "esforço" de ir ao show no C6 Fest. Sinceramente, fora o fato da oportunidade de minha filha ter essa experiência, não guardava maiores expectativas. Imaginei que, velhinhos, com a vida ganha, com um repertório incontestável, depois de várias passagens por aqui, os homens-máquina fossem entrar no palco só pra cumprir tabela: aquele showzinho burocrático, tipo entro lá, ligo a programação eletrônica, cumpro uma horinha de show, ganho minha grana vou embora...

Que nada!

Os caras tavam pilhados!

Um show dinâmico, com espontaneidades, "improvisos", uma pedrada emendando na outra e, mesmo dentro daquele tradicional comedimento dos alemães, uma certa animação e uma movimentação incomum, especialmente do líder e fundador Ralph Hütter.

"Numbers" que abriu o show, combinada com "Computer World" já foi algo espetacular, musical e visualmente, com as impressionantes projeções sincronizadas no telão. "Spacelab" a seguiu trazendo a todos a surpresa da homenagem ao Rio de Janeiro, no telão,  com a nave do Kraftwerk sobrevoando a cidade e pousando em frente ao Vivo Rio, levando o público à loucura. E teve uma "The Model" empolgante, "Autobahn" reinventada, muito mais livre e quase espontânea, "The Man-Machine emocionante, "Trans-Europe Express" arrasadora, um medley das partes de "Tour De France" e um gran-finale com uma "Music Non Stop" descontraída e cheia de pequenas variações. Senti falta, é verdade, de "Radioactivity" que podia muito bem ter entrado no lugar de "Planet of Visions", mas nada que desvalorize tudo o que acontecera lá. 

Para quem achava que já havia visto o suficiente da banda, que era dispensável assistir a outro show, que eles estariam apenas cumprindo uma formalidade, acabei saindo com a sensação de ter presenciado outro dos grandes espetáculos da minha vida. Uma banda muito a fim, quase um "show de rock" por sua dinâmica, Ralph Hütter cheio de tesão, quase elétrico naquela sua movimentação contida. Balançou a cabeça, mexeu os ombros, bateu o pezinho e, no final, naquele momento em que os integrantes vão deixando o palco, um a um, desceu de seu posto, fez uma reverência, até sorriu e bateu no peito, agradecido, me parecendo, ali, até um pouco emocionado... Será? Será que o robô está se tornando humano? A convivência com nossa espécie teria feito com que, mesmo, uma máquina como ele adquirisse a capacidade de sentir emoções? Em época de discussões sobre Inteligência Artificial, a questão bem que procede, não. Mas como diria o policial Murphy, a propósito, um homem-robô, na frase final de "Robocop 2", "Somos apenas humanos". 

trecho de "Computer Love"

trecho de "The Robots"




★★★


A revolução das máquinas
por Daniel Rodrigues

Se me perguntassem quais shows que eu ainda gostaria de ver de artistas que estejam em atividade (ou minimamente estejam vivos), listaria alguns difíceis e outros quase impossíveis. Das possibilidades, Ministry, John Cale e Pixies são um caso. Já dos improváveis, Th’ Faith Healers, Can e My Bloody Valentine encabeçam a lista. Claro: tem aqueles grandes shows que nunca fui mas que ainda são passíveis de um dia, seja no Brasil ou numa ocasião fora do país, serem presenciados por mim, como Madonna, Björk, David Byrne, Neil Young, Stevie Wonder e os Rolling Stones, que pode ser que venham à minha terra novamente como Roger Waters, que retornará a Porto Alegre por conta das memoráveis apresentações que fez na cidade para sua despedida dos palcos em novembro.

Mas de todos estes posso dizer com tranquilidade que o que mais queria ver era a Kraftwerk, desejo que foi realizado no último dia 18, no Vivo Rio. Desejo, não: sonho. Após duas vindas dos alemães ao Brasil, uma no Free Jazz Festival de 1998, quando eu nem sequer trabalhava para custear um ingresso tão caro a São Paulo, e outra, em 2009, quando estiveram no Rio de Janeiro, em plena Praça da Apoteose. Esta sim eu lamentei por não ter ido. Mesmo com os reiterados convites do meu irmão, que foi ao show, para que eu tentasse dar um jeito de ir ao Rio, onde pelo menos pouso garantido teria, as condições financeiras da época fecharam totalmente a porta. Minha lamentação foi alimentada durante estes 15 anos que se transcorreram desde aquela última apresentação da Kraftwerk em terras tupiniquins, ainda mais quando da morte de um dos cabeças do grupo neste meio tempo, Florian Schneider, em 2020. Embora já fora da banda há algum tempo, sua morte despertou o alerta de que o outro principal integrante, Ralf Hütter, já com quase 80 anos, pudesse, pelo óbvio, também ter sua “máquina desligada”.

Com a menor atividade da Kraftwerk, pensava que, para eles retornarem ao Brasil, quiçá, somente lá em 2024 ou 25, já que, ao menos, os shows estão retornando com tudo neste pós-pandemia. Considerando que os velhinhos já puseram seus sistemas em modo slow, até seria um tempo considerável um ou dois anos para que se mexessem. Mas eis que, para minha surpresa, eles são anunciados para estrelarem o C6 Fest, no Rio e em São Paulo. E agora, primeiro semestre do ano, em maio! E mais: meu irmão iria ao show com minha mãe, que aprendeu a adorá-los conosco, e minha sobrinha, Luna, fã da banda e que presenciaria seu primeiro grande show ao vivo. Num esforço coletivo, peguei uma mesa ao lado da deles e embarquei para o Rio. Todo o empenho, expectativa e lamentação foram totalmente recompensados.

Os desenhos estilo new look
em movimento em "Autobahn"
Num formato pocket ("calculator", claro), adequado ao line-up de um festival, o quarteto liderado por Ralf entregou uma apresentação empolgante e empolgada em aproximadamente 1 hora e 20 de palco. A disposição foi a de sempre: os quatro enfileirados com roupas iluminadas em led e com suas mesas mágicas com programadores, sintetizadores, computadores e outras engenhocas saídas do estúdio Kling Klang direto de um laboratório de Düsseldorf, e, ao fundo, projeções magníficas que dialogam com os sons através de imagens, luzes, grafismos e vídeoartes. Porém, o grupo estava muito a fim e deu a plateia brasileira um espetáculo cheio de vontade e musicalidade, que se percebia no manejo altamente espontâneo dos “leitmotiv” de cada música. 

Já no repertório, somente clássicos, que se emendaram uns aos outros sem pausa para respirar e, sim, para se admirar e absorver. Foi uma sequência para tirar lágrimas de qualquer fã, a começar pelo duo “Numbers/Computer World”, na abertura e com o qual eles poderiam ficar ali no palco por 1 hora inteira só brincando com os elementos de cada música, os números e os algoritmos digitais provocando sons, que jamais cairia na monotonia. Pra acabar com o coração dos kraftwekianos, mandam na sequência uma surpreendente execução de “Spacelab”, que além de ser um barato ouvi-la ao vivo e tocada de forma tão espontânea dentro dos limites do que o aparato eletrônico permite, foi uma atração à parte sua projeção, que mostrou a viagem da nave espacial (comandada por eles, obviamente) do espaço até chegar na Rio de Janeiro e pousar em frente ao próprio Vivo Rio, para delírio da galera.

“Autobahn”, com a ideia genial de animação dos carros desenhados manualmente da capa original de 1974, e a sequência “Tour de France/ Tour de France – Etape 1 e 2", com as imagens "vintage" da tradicional volta da França para a qual eles compuseram a trilha-tema em 1983, também foi de tirar o fôlego. Igualmente, o perfect pop “The Model”; a autorreferenciativa “The Robots”, com sua arte geométrica ao estilo da escola soviética; a altamente dançante “Planet of Visions”, motivando uma arte orgânico-digital-futurista; e a apoteótica “Trans-Europe Express/Metal on Metal”, cuja viagem do trem em 3D pelos trilhos europeus acompanha um desfile de execução dos quatro, mostrando que estavam se divertindo com a energia que emanava do público.

trecho de "Tour de France"

De todas as grandes performances, talvez a mais marcante tenha sido justamente a que fechou o show: a minissinfonia “Electric Cafe”: “Boing Boom Tschak/ Techno Pop/ Musik Non Stop”. As projeções, com a estrutura dos robôs e desenhos feitos em computador, mesclado arquitetura, design, música e arte, foi um digno final. Na despedida, um a um executava improvisos (sim, improvisos!) e saí do palco, até a vez do líder Ralf, ovacionado. Não à toa: Ralf Hütter é um “computer hero”, um esteta, um gênio da modernidade.

O maior show que já vi. Um dos maiores espetáculos da Terra. Uma das mais importantes bandas da música de todos os tempos, e não apenas da música pop, isso digo com certeza. Tanto quanto obras de Bach, Mozart, Wagner, Cage, Beatles, Dylan, ColtraneJoão, a Kraftwerk é importante para a evolução da humanidade como espécie, pois que excede o patamar simplesmente artístico. Toda a parafernália tecnológica, como nossos smartphones ou aparelhos digitais que nos rodeiam, não teriam a comunicabilidade sonora que têm hoje não fosse os "homens-máquina" terem inventado esta linguagem. Somente robôs como eles teriam esta sensibilidade: a de saber como seus pares se comunicam conosco, humanos. E se a tecnologia é reflexo de nossa capacidade de criação, talvez ser robô seja o verdadeiro sentido de ser humano.

PS: De quebra, ainda levamos um showzaço da Underworld para fechar a noite, que não deixou nada a desejar para os mestres da eletrônica.

Hino autorreferente: "The Man-Machine"

Brincando com os teclados em "The Model"


Trecho da emplogante "Planet of Visions"


Um trem eletrônico passou pelo Rio: "TEE" + "Metal on Metal"


quinta-feira, 4 de maio de 2023

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS Especial 15 anos do ClyBlog - Beto Guedes - "Amor de Índio" (1978)



“Homenageei o pai
 em vários discos
 que gravei 
nos anos 1970 e 1980”
Beto Guedes, 
que sempre deixava 
a última faixa do álbum 
para uma canção do pai,
Godofredo Guedes



A pedido do meu amigo Cly, administrador desse blog maravilhoso, que está completando 15 anos de existência, que me pediu para que escrevesse, brevemente, sobre um disco que eu achasse essencial, importante, do coração, clássico, ou algo do tipo, para colocar na seção ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, de pronto aceitei... depois pensando, "puxa vida que tarefa difícil!"

Como sou da tribo rock, de cara lembrei da discografia dos The Beatles (dá pra escolher), Rolling Stones, Pink Floyd, David Bowie, Radiohead, Oasis, Pearl Jam, Alice in Chains e aí vai tantos outros, sem falar nos álbuns clássicos da terrinha.

Mas daí fiquei em uma análise sem fim... “essencial, importante, do coração, clássico, ou algo do tipo”. Então me veio a memória um álbum do coração: "Amor de Índio", de Beto Guedes, talvez o menos badalado do Clube da Esquina, por sua timidez (só uma opinião).
Esse álbum de 1978, já abre com uma canção clássica, do coração, do próprio Beto com parceria de Ronaldo Bastos – "Amor de Índio" (homônimo), gravada e regravada por muitos outros artistas, uma obra prima. Na sequência, "Novela", de Milton Nascimento e Márcio Borges, uma atmosfera forte e contundente; "Só Primavera", de Beto Guedes e Márcio Borges, lembrando muito o Clube da Esquina; "Findo do Amor", de Tavinho Moura e Murilo Antunes, uma letra forte e reflexiva; "Gabriel" do próprio Beto com Ronaldo Bastos, feita e dedicada ao seu filho Gabriel, canção de emocionar, principalmente quem é pai; "Feira Moderna", de Lô Borges, Beto Guedes, e Fernando Brant, alto-astral, demais, dá até pra dançar; "Luz e Mistério", parceria com Caetano Veloso, mais uma com letra profunda, como praticamente todas do álbum, sendo que há uma versão ao vivo com a participação do parceiro de composição Caetano, que empresta à versão sua voz “aveludada”.

"O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre", novamente com Fernando Brant, é uma canção que diz tudo desse álbum, também gravada por outros artistas, sendo muito marcante na voz de Elis Regina. "Era Menino" (Beto Guedes, Tavinho Moura e Murilo Antunes) é o típico som de Minas e, por fim, "Cantar", do pai Godofredo Guedes, a quem Beto costumava homenagear com frequência nos discos gravados nos anos '70 e '80, reservando sempre a última faixa do LP para a homenagem: "Belo Horizonte" de Godofredo, em "Página do Relâmpago Elétrico", de 1977; "Cantar", nesse álbum; "Casinha de Palha", em "Sol de Primavera" (1980); "Noite Sem Luar", em "Contos da Lua Vaga", de 1981; e "Um Sonho", também do pai, em "Viagem das Mãos" (1984).

Instrumentista, Godofredo tocava violão e clarinete e compôs mais de cem músicas.

Esse é meu álbum do coração, portanto fundamental na minha discografia e espero que tenha contribuído com o ClyBlog.




por  J U L I O   F A L E I R O


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FAIXAS:
  1. Amor de Índio
  2. Novena
  3. Só Primavera
  4. Findo Amor
  5. Gabriel
  6. Feira Moderna
  7. Luz e Mistério
  8. O Medo de Amar é O Medo de Ser Livre
  9. Era Menino
  10. Cantar
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Ouça:
Beto Guedes - "Amor de Índio"


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Julio Faleiro
 é de Viamão, cidade da região Metropolitana de Porto Alegre/RS. 
É professor, músico, agitador cultural e 
baterista da banda Cardinales de Indie Rock



quinta-feira, 27 de abril de 2023

Elis Regina - "Falso Brilhante" (1976)

 




Ábuns Fundamentais ClyBlog - Elis Regina - Falso Brilhante
"Você não sente, não vê mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer"
da letra de "Velha Roupa Colorida"



Acho que ninguém em perfeito juízo discorda de que Elis Regina foi uma das melhores, senão a maior cantora brasileira de todos os tempos. Logicamente, em pleno gozo de minha sanidade, me junto a esse coro quase unânime entre os apreciadores de música neste país. Embora admire seu repertório, é uma artista da qual não domino informações sobre sua obra. Talvez pelo fato de que alguns de seus clássicos  apareçam em maus de um formato, em mais de um álbum, com parceiros diferentes, etc. Tem "Águas de Março", com Tom, sem Tom, ao vivo, no estúdio, alegre, emburrada..; tem "Tiro ao Álvaro", com Adoniram, sem Adoniram, no disco solo, dando risada no do programa de TV; tem "Bêbado e a Equilibrista", bêbada, sóbria, equilibrada, caindo... e nisso, ainda que idolatrando a cada uma dessas versões, cada interpretação, eu sempre tão interessado em datas, set-lists, álbuns,  etc., nunca me esforcei em saber onde se localizavam essas músicas na discografia de Elis Regina.

Só que de uns tempos pra cá, vinha observando a constante referência a um álbum específico e ele, então,  passou a me chamar atenção. "Falso Brilhante" era destacado em sites como um dos melhores discos de Elis, aparecia em listas de melhores discos brasileiros, era mencionado como influência por algum músico da minha preferência, era amplamente reverenciado aqui e acolá, e aí que fui atrás de mais informações sobre o tal disco.

Era o disco de "Fascinação", um dos maiores clássicos do repertório da cantora, numa interpretação inesquecível de uma delicadeza precisa e emocionante. Mas também era o disco de "Como Nossos Pais", o rock de Belchior que tentava dar uma sacudida numa juventude estagnada, e que Elis interpretava com uma força e uma intensidade absurdas. Inigualáveis! Sim era Elis cantando rock! E não era o único: "Velha Roupa Colorida", também  de Belchior, e também sobre atitude, era outra canção carregada de rock'roll e que, igualmente Elis depositava garra, potência, vibração, chegando a rasgar a voz, dando tudo de si, num dos melhores momentos do álbum. Mas há  outros pontos altos: "Gracias a la Vida", de Violeta Parra parece carregar a força da resistência da mulher latina contra os regimes autoritários que prevaleciam aqui e no Chile, terra da autora. Bem como "Los Hermanos", do argentino Atahualpa Yupanqui, uma espécie de convocação à união em nome da mais bela "irmã", a liberdade.

E tem ainda três de João Bosco com Aldir Blanc, "Um por todos", "Jardins de Infância" e "O Cavaleiro e os Moinhos", sempre com a sonoridade rica e aquele tom ácido característico da dupla; e pra fechar ainda, uma versão de arrepiar de "Tatuagem" de Chico Buarque, numa releitura ímpar, na interpretação de Elis.

Alguns afirmam que "Falso Brilhante" seria o disco em Elis que cantava rock, e se formos parar para analisar, não está muito longe da verdade: as duas de Belchior, logo de saída; "Quero", muito Beatles; a releituras de Bosco e Blanc, pungentes e carregadas nas guitarras; e mesmo as duas versões dos hermanos, andinos e platenses, que exploram, combinam e incorporam as alternativas e possibilidades de outros ritmos e nacionalidades, como tão bem costuma fazer o rock'n roll.

Se "Falso Brilhante" é o disco rock de Elis, acho que, possivelmente, deva ser por isso que gosto tanto dele. O brilho verdadeiro de uma estrela. Um diamante cuidadosamente lapidado. Uma verdadeira joia musical.

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FAIXAS:

1. Como Nossos Pais (Belchior)
2. Velha Roupa Colorida (Belchior)
3. Los Hermanos (Atahualpa Yupanqui)
4. Um Por Todos (João Bosco/Aldir Blanc)
5. Fascinação (Fermo Dante Marchetti, Maurice de Féraudy. Versão: Armando Louzada)
6. Jardins De Infância (João Bosco/Aldir Blanc)
7. Quero (Thomas Roth)
8. Gracias A La Vida (Violeta Parra)
9. O Cavaleiro E Os Moinhos (João Bosco/Aldir Blanc)
10. Tatuagem (Chico Buarque)

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Ouça:

Eis Regina - Falso Brilhante (1976)


por Cly Reis

segunda-feira, 6 de março de 2023

Everything But the Girl - "Amplified Heart" (1994)

 

“Eu faço música com uma curiosidade de olhos arregalados. É como um experimento de laboratório: você junta duas substâncias químicas em um frasco, mistura e espera uma explosão interessante.”
Tracey Thorn

Como é bom se emocionar com uma música mesmo depois de tantos anos e tanta coisa que já se ouviu na vida. E obviamente, essa emoção, quando manifestada, muitas vezes vem acompanhada de certo exagero proposital. Dia desses, tive um impulso desses nas redes sociais, o que motivou repercussões. Inspirado por meu irmão, que diz que "não existe nada melhor que New Order" (pelo menos enquanto os está escutando), empreguei a mesma máxima quando tive o deleite de ouvir/ver o videoclipe do novo single da Everything But the Girl, "Nothing Left To Lose", que prenuncia o álbum novo da banda inglesa depois de 23 anos. Minha teoria: a de que a EBTG havia atingido o ápice da música pop. Pronto: polêmica armada.

Houve indignação, aqueles que me exigiram explicação por "tamanho absurdo" e quem argumentasse que os verdadeiros reis do pop foram e são os Beatles. Tudo correto, gente. Concordo que me excedi. Mas além do motivo estritamente emocional - o que já se justificaria como licença poética - há no fundo da provocação certa verdade. Aliás, como acontece com todo exagero: uma verdade aumentada. Afinal, a EBTG, se não a maior banda pop da história como lancei, é a que melhor representa a história do gênero atualmente. O novo single prova isso: mesmo tantos anos depois do último material inédito, a dupla Tracey Thorn e Ben Watt tem a capacidade de evoluir em si mesma, sintetizando em seu som tudo que já produziram em mais de 40 anos de carreira. Assim, captam todas as tendências da música pop de antes de seu tempo associando-as a new wave, o indie, ao collage rock e ao pós-punk, que lhes formou, mais os gêneros que vão surgindo pelo caminho.

"Amplified Heart", de 1994, é uma destas saborosas sínteses. Com influências desde sempre do jazz e da MPB, carregam na sua sacola musical tudo o que arrecadaram até aqueles idos da metade dos anos 90, produzindo um daqueles discos de equilíbrio perfeito entre o melodioso e o dançável, entre o melancólico e o alegre, entre o sentimentalismo e o deleite. E sempre com muita classe, o tal sophisti-pop o qual lhes é atribuído. O hit do álbum, uma das músicas mais executadas da década, "Missing", confirma tudo isso. Sentimental e dançante ao mesmo tempo, é daqueles mistérios da indústria musical. Virou febre nas rádios e MTV, ganhando uma remix estilo club do DJ Todd Terry, que a popularizou ainda mais. A canção se tornou a primeira e única da dupla no Top 40 dos Estados Unidos da Billboard Hot 100 e foi a 11ª a passar mais tempo nas paradas da história do US Hot 100. 

Porém, nem tão misterioso assim. Acostumados com a fórmula do perfect pop, que produziram às pencas desde sua estreia em "Eden", em 1985, um dia emplacaram. Houve sucessos anteriores, como "I Don't Want to Talk About It", de “Idlewild” (1988), e "Driving", de “Language of Love” (1990). Mas "Missing" invadiu os nighclubs e, ao mesmo tempo, agradou os ouvidos exigentes, sendo a mais tocada nas estações de rádio de jazz contemporâneo dos Estados Unidos em 1996.

clipe de "Missing", na versão original

Porém, "Amplified...", obviamente, não se resume ao seu maior êxito comercial. Sem exceção, todas as faixas são dignas de um álbum irretocável. "Rollercoaster", a inicial, é outro perfect pop de alta sofisticação, cadenciado pela percussão nos bongôs, uma batida de violão bossa-novista e lânguidas frases de teclado. Já "Troubled Mind", das preferidas, é romântica sem ser balada. Com uma linda levada de violão, tem uma leve cadência funkeada na programação de ritmo, que acompanha a voz sempre hipnotizante de Tracey, uma das melhores cantoras que a música pop já viu - e isso, sim, posso afirmar sem receio de polemizar. Na letra, ela conta sobre uma garota que vê a relação ruir por causa da "mente conturbada" do parceiro, mas que mesmo assim lhe declara: "You know, I love you, love you, love you". 

Semelhante performance sensível e de exímia afinação da front girl acariciam a melodiosa "I Don't Understand Anything", a cantarolável "We Walk the Same Line", ambas de autoria de Tracey, e outro destaque do cancioneiro da banda: "Get Me". Ouvi-la cantando o refrão com aquela voz sensual e apaixonada: "do you have get me" é de cortar o coração de qualquer um. 

Watt, principal compositor e instrumentista do grupo, assina e canta ele próprio as bonitas "Walking To You" e "25th December". Mas o diferencial da EBTG é indiscutivelmente a sua cantora. É ela quem comanda os microfones de mais uma excelente: "Two Star". Esta, sim, uma balada, inteligentemente bem conjugada com os outros números na narrativa do disco. O riff de piano pronuncia dois pares de notas que, dissonantes, simbolizam o desencontro de dois amantes em um triste fim de relacionamento. A letra reforça esta ideia: "Então vá, e pare de me escutar/Pare de me escutar/ E não me peça o que falar, ou para julgar a vida dessa forma/ Quando a minha está em desordem". Com uma sutil bateria e direito a arranjo de cordas do maestro Harry Robinson, tem no vocal de Tracey seu maior trunfo. E quando sentimento sai deste canto! Igual sensação deixa "Disenchanted", que encerra o disco. Somente ao violão e acompanhamento de um sensual saxofone, nela Tracey fica livre para dar um show de interpretação, fazendo lembrar grandes cantoras de baladas da história - olha aí de novo minhas hipérboles! - como Sarah Vaughan, Barbra Streisand e Elis Regina.

Radares da música pop de seu tempo, a dupla Tracey e Watt não parou em "Amplified..." e seguiu cumprindo se papel simbólico. Durante a gravação de “Amplified Heart”, Thorn e Watt escreveram letras e músicas para duas faixas do segundo álbum dos conterrâneos Massive Attack, que representam o que há de mais hype na música dos anos 90. Thorn faz os vocais em ambas as faixas, sendo uma delas o single "Protection", uma obra-prima que alcançou a posição 14 no top 40 e colocou o disco entre os 4 mais vendidos do Reino Unido. Pela EBTG, vieram na sequência ótimos discos: o assumidamente clubber “Walking Wounded”, de 1998, e o experimental “Temperamental”, de 1999, onde efetivam a incorporação de estilos como o trip hop, o drum'n'bass e a dance music. Sempre assumindo a função de totens das referências e tendências estético-sonoras, a banda pode por este aspecto ser considerada, sim, a grande banda pop em atividade, seja por sua atuação protagonista como pela de resguardo do legado do que Beatles, Bowie, Grace, Prince, Nile e diversos outros deixaram. A EBTG atingiu o ápice da música pop? Claro, que não. Exagero meu. Mas enquanto os estou ouvindo meu coração se amplifica e tem a clara certeza disso.

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FAIXAS:
1. "Rollercoaster" (Ben Watt) - 3:14
2. "Troubled Mind" (Tracey Thorn/Watt) - 3:34
3. "I Don't Understand Anything" (Thorn) - 4:25
4. "Walking to You" (Thorn/Watt) - 3:30
5. "Get Me" (Watt) - 3:34
6. "Missing" (Thorn/Watt) - 4:06
7. "Two Star" (Watt) - 4:06
8. "We Walk the Same Line" (Thorn) - 4:00
9. "25 December" (Watt) - 4:04
10. "Disenchanted" (Thorn/Watt) - 2:03
Faixa bônus
11. "Missing" (Todd Terry Club Mix) - 4.07


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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Lou Harrison - "La Koro Sutro" (1972)

 

Nem Reed, nem George

"Forma não é mais que vazio.
Vazio não é mais que forma.
Forma é exatamente vazio.
Vazio é exatamente forma.
Sensação, conceituação, diferenciação, conhecimento
Assim também o são."
Trecho do “Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa”, da filosofia budista Mahayana, século I

Pode-se entender como um impulso natural por parte de músicos modernos que queiram sair do óbvio o movimento em direção à música do Oriente. O esgotamento do sistema harmônico tonal, adotado pelo Ocidente a partir do século XVIII, levou artistas mais antenados a naturalmente procurarem saídas para esta armadilha diatônica. De Claude Debussy a David Bowie, de Dave Bruback a Philip Glass, a milenar cultura oriental vem servindo de baú de descobertas para aqueles que tentam suplantar as limitações impostas por aquilo que está estabelecido. Esta inquietação, claro, contaminou profundamente a música pop. Tanto é que as duas bandas mais influentes do rock, The Beatles e Velvet Underground, tiveram, cada uma a seu modo, a contribuição diferenciada das sonoridades vindas do outro lado do mundo, mastigando estes elementos para a música pop. E se George Harrison, pelos ingleses, e a dupla Reed/Cale, para com os nova-iorquinos são os principais mobilizadores desta busca, antes deles uma figura foi fundamental para que o Oriente chegasse ao Ocidente já depurado: Lou Harrison.

Nascido em Portland, no Oregon, em 1917, Harrison é um dos mais inovadores e influentes compositores da vanguarda norte-americana, tornando-se, junto a Iannis Xenakis, uma referência na música percussiva na vanguarda do século XX. Ex-aluno de Arnold Schöenberg, sua carreira inclui trabalhos como compositor, performer, professor, teórico musical, etnomusicólogo, maestro, fabricante de instrumentos, poeta, calígrafo, crítico, dançarino, marionetista e dramaturgo. O interesse música para percussão data da década de 1930, quando começou a apresentar concertos com o mestre John Cage. Nos anos 40 e 50, já um referencial professor universitário e diversas vezes premiado (inclusive com um Pulitzer), Harrison sentia que precisava buscar novos horizontes. E o achou. No Oriente. Passa a se interessar pela música asiática e seu sistema de afinação de “entonação justa” e muda radicalmente sua concepção musical, introjetando uma leitura original desses elementos a seu trabalho.

Obra temporã, “La Koro Sutro”, de 1972, que completou 50 anos de lançamento em 2022, é fruto de todos os elementos estilísticos, teóricos e conceituais construídos por Harrison ao longo de então cinco décadas. Porém, diferentemente do que poderia ocorrer a um autor acadêmico, “La Koro Sutro” não resulta carregada de elementos, que tornariam facilmente sua audição hermética e difícil. Pelo contrário: Harrison depura as influências orientais e a incrementa à sua música, tornando “La Koro Sutro” algo bastante pop aos ouvidos. Se o termo já era comum ao enterteinment naqueles idos de geração hippie, há de se supor, no entanto, que constituir uma obra palatável ao público menos especializado é um grande mérito vindo de um teórico.

A veia popular de “La Koro Sutro”, no entanto, explica-se de uma forma menos óbvia. Contrariando o que seria bem mais fácil a qualquer compositor, Harrison não recruta elementos da música do Ocidente para “poptizar” o “exótico”, facilitando a vida do receptor. Estudioso profundo, ele encontra na sonoridade oriental tais pontos de aproximação com o ouvinte. Essas observações vinham sendo percebidas por Harrison fazia tempo. No início dos anos 60, incentivado por uma conferência em Tóquio, inicia um estudo mais sistemático da música do Leste Asiático, viajando para a Coréia e Taiwan. Peças como “Pacifika Rondo” (1963) revelam a maneira altamente original com que Harrison empregou esses estilos. Em 1967, ele conhece Bill Colvig, um eletricista e músico amador que se torna seu parceiro de vida. Colvig projeta instrumentos para a ópera “Young Caesar” (1971), de Harrison. No início dos anos 1970, a dupla já estudava e tocava música tradicional chinesa em conjunto.

Harrison e o parceiro de vida e obra Colvig
comandando seus instrumentos inventados
Para “La Koro Sutro”, é fundamental a contribuição de Colvig, desta vez na construção do gamelão americano. Incitado pelo amigo e igualmente importante compositor da vanguarda norte-americana Harry Partch, Harrison buscou na feitura manual dos próprios instrumentos os sistemas de afinação que não só lhe conferisse personalidade como, igualmente, trouxesse esse arejamento à desgastada música ocidental. Caso do gamelão, instrumento musical coletivo típico da Indonésia composto por uma série de metalofones, xilofones, tambores e gongos, podendo algumas variantes incluir ainda flautas de bambu e instrumentos de cordas percutidas ou tocadas com arco. Harrison, então, estuda com o mestre javanês K.R.T. Notoprojo, com quem soube identificar aquilo que queria: adaptar a sonoridade complexa do instrumento para a sua realidade. Eis o gamelão americano, usado pela primeira vez na obra de Harrison em “La Koro Sutro”.

O título da peça é a tradução da língua universal esperanto para “Sutra do Coração”, que é um dos textos sagrados da tradição budista Mahayana, que descreve o caminho que se deve seguir para alcançar a destilação pura da sabedoria (Nirvana). O uso que Harrison faz do esperanto é uma clara declaração social e política que reflete sua esperança em um mundo unido e na transcendência das fronteiras étnicas e nacionais. Esse texto é brilhantemente ornado de corais, que se atrelam a uma orquestra de formação única (composta, conjuntamente ao coro, para percussão, harpa, órgão e gamelão americano), que extrai sonoridades improváveis.

Certa vez, o compositor e amigo Bill Alves escreveu que “como compositor, artista, poeta, calígrafo, ativista pela paz, Lou Harrison dedicou sua vida a trazer beleza ao mundo”. Com o potente e poético “La Koro Sutro”, Harrison atingiu este objetivo, formal e conceitualmente. A pequena obra, capaz de agradar os ouvidos mais incultos aos mais exigentes, é uma síntese de décadas de trabalho musical, acadêmico é uma declaração de amor de um artista que buscou incessantemente militar por uma arte mais democrática num campo em que facilmente os colegas se escudam no hermetismo inatingível. E ainda de quebra abriu portas para que o rock, a música mais pop do século 20, tirasse de si o exemplo da “ocidentalidade”. Os Beatles jamais teriam buscado Ravi Shankar ou os cantos orientais não fosse George Harrison pegar essa trilha, o mesmo que a dupla Reed e Cale fez com a Velvet Underground quando encontrou o oriente em La Monte Young. Reed e George, pode-se afirmar que, sim, ambos são, além da coincidência linguística, um pouco de Lou Harrison.

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FAIXAS:
La Koro Sutro
1. Kunsonoro Kaj Gloro - 2:27
2. Strofo 1 - 4:42
3. Strofo 2 - 3:45
4. Strofo 3 - 1:24
5. Strofo 4 - 4:08
6. Strofo 5 - 4:27
7. Strofo 6 - 2:27
8. Strofo 7 - Mantro Kaj Kunsonoro - 5:04

Varied Trio*
9. I. Gending 3:15
10. II. Bowl Bells 3:07
11. III. Elegy 3:29
12. IV. Rondeau In Honor Of Fragonard 3:12
13. V. Dance 2:05

Suite For Violin And American Gamelan**
14. First Movement - 7:20
15. Estampie - 5:28
16. Air - 3:58
17. Jhala - 2:24
18. Jhala II - 1:19
19. Jhala III - 2:00
20. Chaconne - 5:29

* ** Faixas presentes na versão do CD de 1987, com The Chorus and Chamber Chorus of University of California at Berkeley com regência de Philip Brett, Karen Gottlieb, arpa, Agnes Sauerbeck, órgão, William Winant, American Gamelan


OUÇA O DISCO:
:

Daniel Rodrigues