Amigos do clyblog, muito honrado pelo convite de contribuir com essa resenha rockeira!
Vou falar sobre um assunto que com certeza já foi bastante debatido nas redes, que é o fato de
que hoje em dia, o mercado musical só produz single ou E.P.! São muitos artistas com sucesso
de uma música só! E isso não é exclusividade do universo tupiniquim. Sempre existiram bandas
que só fizeram sucesso com uma música. Mas o projeto hoje em dia é só comercial. Vender,
esgotar, exaurir a paciência até que a música vire jingle de supermercado. Faz parte!
Venho compartilhar com vocês algumas memórias afetivas de uma época onde o álbum era o
auge do artista. Ali ele colocava toda coerência estética e criatividade, todo seu ineditismo e sua
inventividade artística, do "Lado A ao Lado B". Estou falando de um tempo em que o vinil reinava
e chiava nas nossas vitrolas e, talvez, esse universo analógico e antológico sempre tenha seu
lugar. Seja Pop, underground, vintage… Quem não adoraria ter o disco da sua banda favorita em
vinil, mesmo nos dias de hoje? O vinil não saiu de moda, ficou caro!!! Hoje é só dar o play no
WAVE e MP3 e pronto: random na veia!
Fiz esse pequeno preâmbulo para situar a galera no tempo e trazer, na minha visão, alguns
dos álbuns fonográficos que são verdadeiras "obras completas". Não tem música ruim: o disco
é bom do começo ao fim!
Segue abaixo os 15 mais, mas com certeza tem muuuito mais…
E você que está lendo, pensa aí e me diz, qual álbum você acha perfeito, do início ao fim?
★★★★★★
1 - Pink Floyd - "The Wall" (1979)
FAIXAS:
1."In the Flesh?" 2."The Thin Ice" 3."Another Brick in the Wall (Part I)" 4."The Happiest Days of Our Lives" 5."Another Brick in the Wall (Part II)" 6."Mother" 7."Goodbye Blue Sky" 8."Empty Spaces" 9."Young Lust" 10."One of My Turns" 11."Don't Leave Me Now" 12."Another Brick in the Wall (Part III)" 13."Goodbye Cruel World"
14."Hey You" 15."Is There Anybody Out There?" 16."Nobody Home" 17."Vera" 18."Bring the Boys Back Home" 19."Comfortably Numb" 20."The Show Must Go On" 21."In the Flesh" 22."Run Like Hell" 23."Waiting for the Worms" 24."Stop" 25."The Trial" 26."Outside the Wall"
João Marcelo Heinz é músico, compositor, produtor musical e educador com 30 anos de estrada.
É integrante da banda Cidadão Free, com trabalho pop-rock autoral e com versões de
clássicos do rock nacional e internacional
Tem participações em produções para cinema, composições audiovisuais para artes plásticas, dirigiu peças teatrais, além de ter sido produtor musical e de eventos do centro cultural Othello, na Lapa, no Rio de Janeiro.
Meu amigo Cly me convidou para falar sobre meu álbum fundamental. Desafio. Um só? Após revisitar algumas influências, poderia falar de Beatles, Stones, Pink Floyd, optei por algo brasileiro, da minha Terra. Sendo assim, impossível não falar de Rita Lee, nossa rainha do Rock BR, Nossa Senhora dos overdrives tupiniquins. Continua sendo um desfio, pois Rita coleciona álbuns considerados pérolas da nossa MPB. Escolhi seu terceiro disco em parceria com a banda Tutifrutti, "Entradas e Bandeiras", de 1976, que considero um divisor de águas por conta de sua sonoridade antiga e pesada. Quando li sua autobiografia, vi que questionou o resultado final deste disco e do anterior, Fruto Proibido, de 1975. Mas pra mim e muitos brasileiros, como meu pai, que me apresentou o LP (o qual roubou de uma prima, aos 14 anos) ele mostra que a sonoridade do rock n’ roll funciona perfeitamente com a embocadura do português bem brasileiro, executado com maestria nas composições da Rita, como sempre.
Apesar de hits como "Superstafa" e "Coisas da Vida", o sucesso o disco anterior ofuscou um pouco sua projeção e muitas pessoas não lembram tanto de "Entradas e Bandeiras". Apaixonante desde o primeiro acorde, o disco inicia com "Corista de Rock", composição em parceria com o guitarrista Luis Carlini, que já dá a cara, identidade do disco, deixando bem claro ao que veio. A voz de uma jovem Rita, os fabulosos timbres de guitarra, de sonoridade britânica, de amplificadores Marshalls (bem populares na época) e o baixo de timbre mais estalado, Rickenbacker, remetem a uma atmosfera vintage e crua, que dá vontade de aumentar o volume. A curiosidade fica por conta da quarta faixa, "Bruxa Amarela", única que não foi composta pela Tuttifrutti ou Rita, assinada por Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho.
Para este disco, a banda trazia a surpresa de Sérgio Della Monica na bateria, somando-se ao já conhecido grupo formado por Luis Carlini na guitarra, Lee Marcucci no baixo, Paulo Maurício nos teclados e sintetizadores e os irmãos Rubens e Gilberto Nardo nos backing vocals. Esta obra-prima é um dos meus discos favoritos da vida, ótima opção para sacudir os cabelos!
Thales Amon toca violão e guitarra desde os 8 anos, estudou piano na Escola de Música Villa-Lobos, é bacharel em guitarra pelo Conservatório Brasileiro de Música (CBM-CEU), músico e arranjador do Bloco Superbacana, produtor executivo do Bloco do Barbas, professor de guitarra no Projeto Hora Extra da escola Oga Mitá. Tem como suas principais influências o rock, pop, jazz e mpb dos anos 60 e 70.
Vesti meu terno cinza nada novo, porém suficiente para apresentar-me. Fui até aquele lugar, acho que para procurar emprego, para uma reunião de trabalho, algo assim, pois jamais trajaria aquela roupa desconfortável não fosse por um motivo semelhante. Aliás, fui não é bem o termo mais preciso. Então, refaço a frase: cheguei àquele lugar de alguma maneira a qual não sei como. Voei, transpus-me, materialize-me, sabe-se lá (gostaria de saber). Só sei que, quando dei por mim, estava. Simplesmente. O importante é que lá cheguei, isso é certo. Certo também é que estava quente, muito quente. Era pouco mais do meio dia, acredito, pois o sol postava-se sobre as cabeças fazendo projetar no chão uma sombra de começo de tarde. A impressão era que, a partir dali, o sol estacionaria, como se a Terra, enfeitiçada, tivesse parado de girar por um tempo indeterminado (essa é a única possível explicação). Não seria errado dizer que aquele dia foi inteiro assim: com um sol implacável dia e noite. A lua da noite daquele dia não apareceria: o sol tomar-lhe-ia o lugar. E nem sei se era a sensação de calor que fazia embaralhar o senso de tempo. Havia, antes de mais nada, uma atmosfera suspensa, etérea, enigmática, alterada. (E não pensem que era por causa dos meus óculos escuros! Não sou desses que perdem a noção sensorial por tapar os olhos). Era como se ali eu estivesse, sim, sei que estava, mas meus pés, por dentro dos sapatos de couro, mal sentiam o chão. Nem sentiam, aliás. Os prédios industriais ao redor, perfilados dos dois lados da rua castigada pelo sol escaldante e insistente, calavam-se solenemente. Não se ouviam murmúrios de gentes, não se ouviam tintilares de ferramentas e nem rugidos de motores ou latarias, engrenagens ou buzinas. Silêncio. Só. Tudo era tão estranho quanto familiar. Silenciosamente também, presumo, ou por uma ação mágica ou imaterial, surgiu à minha frente um homem. Vestia, como eu, um terno cuja cor era até mais escura do que a do meu, o que certamente fazia concentrar-lhe ainda mais o calor, o qual subiam como labaredas invisíveis do concreto cinzento abaixo de nós. Mais do que uma simples suposição, percebi que ele devia estar mesmo sentindo mais calor do que eu - embora isso parecesse ser impossível. De forma prática, contudo, não era, pois o homem à minha frente ardia em chamas, as quais se desprendiam de sua roupa como serpentinas infernais na direção contrária a mim, mas suficientemente fortes para eu também sentir à distância seu sopro quente comendo as últimas moléculas de oxigênio do ar que rodeavam minha face. E tudo sob aquele mesmo estranho silêncio, que permanecia. Era um fogo quieto, que nem o crepitar se ouvia. Mas calor fazia, cada vez mais. O fogo ia consumir aquele homem estranho, era sabido, não demoraria muito. Porém, nem isso fez com que ele deixasse de ser educado comigo, visto que me estendeu a mão direita em cumprimento. Ao apertarmos as mãos, o homem, tal um mensageiro, disse-me, e este foi o único som que ali houve: "Lembra-se de quando você era jovem e brilhava como o sol?" Toda aquela epifania fez sentido imediatamente, então.
"As pessoas que se ofendem com [minhas opiniões sobre] política
no Twitter ou Instagram, por favor,
saibam que é porque você não era inteligente o suficiente
para saber sobre o que era a música
que você estava ouvindo
todos esses anos (...)
De nada pela música,
mas se você é um supremacista branco
ou um protofascista,
essa música não é escrita para você
– é escrita contra você."
Tom Morello,
guitarrista e compositor
A última passagem de Roger Waters pelo Brasil, em 2018, reacendeu uma discussão, que na verdade não faz muito sentido, uma vez que o rock, mesmo quando apenas reivindicava o direito de não cortar o cabelo ou de namorar no banco de trás do carro, à sua maneira, era "político", sobre o fato de artistas de rock se posicionarem politicamente. A situação toda começou quando o ex-baixista e vocalista da célebre Pink Floyd fez mostrar no telão, ao fundo do palco, os dizeres #EleNao, referindo-se ao então candidato Jair Bolsonaro à presidência brasileira (que, para infelicidade do país, veio a se eleger) arrancando um misto de vaias e aplausos da plateia e causando a reclamação de muitos "fãs" de sua antiga banda pelo fato de "agora" ter resolvido se meter em política e que um show de rock não seria lugar para esse tipo de manifestação do artista. A lamúria dos fãs superficiais, pseudo-roqueiros, no entanto foi ironizada pelos verdadeiros admiradores do grupo e roqueiros de verdade que questionaram se aqueles modinhas de ocasião que estavam no show nunca ouviram, por exemplo, o "The Wall" do Pink Floyd, que trata exatamente sobre o enfrentamento da sociedade opressora. Ou se ouviram, não leram as letras ou nunca entenderam do que se tratava. A discussão, especialmente em redes sociais, se ampliou e para situar os roqueiros do chalalá, que só curtiam o som mas não faziam a menor ideia do que estava sendo falado, outras bandas foram citadas de modo a mostrar o quão ignorantes aquelas criaturas estavam sendo. System of Down, Plebe Rude, Bruce Springsteen e até a queridinha Legião Urbana foram algumas das que serviram de exemplo e, para maior surpresa, geraram ainda mais indignação entre os "revoltadinhos de condomínio-fechado", que qualificaram esses artistas, de forma simplista, imatura e desinformada, meramente de comunistas.
No entanto, a surpresa que mais chamou foi em relação à banda Rage Against the Machine. Ora, pensavam que a Máquina do nome da própria banda era o quê? Uma cafeteira elétrica? O RATM é antes de mais nada uma banda engajada, politizada e de pensamentos predominantemente de esquerda. Suas letras são quase sempre uma bala na cabeça, como diz o título de uma das músicas de seu primeiro álbum, "Rage Against the Machine" de 1992, que, por sinal, fala exatamente sobre alienação e idiotização em massa.
No disco, os tiros da banda vão pra todo lado e sobra bala pra todo mundo que merece: "Bombtrack" atira na indústria musical; o hino "Killing in the Name" dispara contra o racismo; "Settle of Nothing" é sobre criminalidade e vidas jovens arruinadas; "Freedom", fala, é claro, sobre liberdade, mas também acerta em cheio quanto à ignorância do ser-humano e sua relação com o meio ambiente; "Wake Up" liga a metralhadora giratória e atira nos fascistas, no judiciário, na mídia e no que estiver pela frente; e "Take the Power Back", "Know Your Enemy", "Fistfull of Steel" e "Township Rebelion", simplesmente, miram no sistema, de um modo geral, convocando para uma reação diante de tudo que nos oprime.
Tudo isso ao som da guitarra eletrizante de Tom Morello, conduzido pelos vocais contagiantes de Zach de La Rocha e embalado por uma mistura explosiva de metal, hardcore, funk, rap e hip-hop, tão intensa que, eu até posso entender que tenha seduzido até o mais superficial roqueirinho de ocasião. Sim, sim, eu também escuto muita coisa pela sonoridade, muitas vezes não dou, mesmo, muita bola para a letra, ou nem ligo muito para o que estão dizendo em inglês, mas certos artistas, cuja atitude está ligada à sua obra é impossível, e até imperdoável, que se ignore essa relação. É o caso de Dead Kennedy's, Bob Dylan e do Rage Against the Machine, uma banda essencialmente política, engajada, atuante, como fica provado em seu primeiro disco. A própria capa do disco atesta essa atitude com a foto do monge vietnamita que preferiu atear fogo ao próprio corpo a se render ao governo autoritário de seu país. Esse é o espírito. Isso é o Rage Against the Machine.
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FAIXAS:
1. "Bombtrack" 4:02 2. "Killing in the Name" 5:14 3. "Take the Power Back" 5:36 4. "Settle for Nothing" 4:49 5. "Bullet in the Head" 5:08 6. "Know Your Enemy" (featuring Maynard James Keenan) 4:57 7. "Wake Up" 6:06 8. "Fistful of Steel" 5:32 9. "Township Rebellion" 5:22 10. "Freedom" 6:06
Corre pro abraçaço, Caetano! Você tá na liderança.
Como de costume, todo início de ano, organizamos os dados, ordenamos as informações e conferimos como vai indo a contagem dos nossosÁLBUNS FUNDAMENTAIS, quem tem mais discos indicados, que país se destaca e tudo mais. Se 2020 não foi lá um grande ano, nós do Clyblog não podemos reclamar no que diz repsito a grandes discos que apareceram por aqui, ótimos textos e colaborações importantes. O mês do nosso aniversário por exemplo, agosto, teve um convidado para cada semana, destacando um disco diferente, fechando as comemorações com a primeira participação internacional no nosso blog, da escritora angolana Marta Santos, que nos apresentou o excelente disco de Elias Dya Kymuezu, "Elia", de 1969. A propósito de país estreante nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, no ano que passou tivemos também a inclusão de belgas (Front 242) e russos (Sergei Prokofiev) na nossa seleta lista que, por sinal, continua com a inabalável liderança dos norte-americanos, seguidos por brasileiros e ingleses. Também não há mudanças nas décadas, em que os anos 70 continuam mandando no pedaço; nem no que diz respeito aos anos, onde o de 1986 continua na frente mesmo sem ter marcado nenhum disco nessa última temporada, embora haja alguma movimentação na segunda colocação. A principal modificação que se dá é na ponta da lista de discos nacionais, onde, pela primeira vez em muito tempo, Jorge Ben é desbancado da primeira posição por Caetano Veloso. Jorge até tem o mesmo número de álbuns que o baiano, mas leva a desvantagem de um deles ser em parceria com Gil e todos os de Caetano, serem "solo". Sinto, muito, Babulina. São as regras. Na lista internacional, a liderança continua nas mãos dos Beatles, mas temos novidade na vice-liderança onde Pink Floyd se junta a David Bowie, Kraftwerk e Rolling Stones no segundo degrau do pódio. Mas é bom a galera da frente começar a ficar esperta porque Wayne Shorter vem correndo por fora e se aproxima perigosamente. Destaques, de um modo geral, para Milton Nascimento que, até este ano não tinha nenhum disco na nossa lista e que, de uma hora para outra já tem dois, embora ambos sejam de parcerias, e falando em parcerias, destaque também para John Cale, que com dois solos, uma parceria aqui, outra ali, também já chega a quatro discos indicados nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
Dá uma olhada , então, na nossa atualização de discos pra fechar o ano de 2020:
PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)
The Beatles: 6 álbuns
David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones e Pink Floyd: 5 álbuns cada
Miles Davis, Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Wayne Shorter e John Cale* **: 4 álbuns cada
Stevie Wonder, Cure, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Bob Dylan e Lou Reed**: 3 álbuns cada
Björk, The Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"
**contando com o álbum Lou Reed e John Cale, "Songs for Drella"
PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)
Caetano Veloso: 5 álbuns
Jorge Ben: 5 álbuns *
Gilberto Gil*, Tim Maia e Chico Buarque: 4 álbuns
Gal Costa, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
Baden Powell**,, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão, Sepultura e Milton Nascimento**** : todos com 2 álbuns
*contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge" ** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas" *** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto" **** contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"
PLACAR POR DÉCADA
anos 20: 2
anos 30: 3
anos 40: -
anos 50: 15
anos 60: 90
anos 70: 132
anos 80: 110
anos 90: 86
anos 2000: 13
anos 2010: 13
anos 2020: 1
*séc. XIX: 2 *séc. XVIII: 1 PLACAR POR ANO
1986: 21 álbuns
1985, 1969 e 1977: 17 álbuns
1967, 1973 e 1976: 16 álbuns cada
1968 e 1972: 15 álbuns cada
1970, 1971, 1979 e 1991: 14 álbuns
1975, e 1980: 13 álbuns
1965 e 1992: 12 álbuns cada
1964, 1987,1989 e 1994: 11 álbuns cada
1966, 1978 e 1990: 10 álbuns cada
PLACAR POR NACIONALIDADE*
Estados Unidos: 171 obras de artistas*
Brasil: 131 obras
Inglaterra: 114 obras
Alemanha: 9 obras
Irlanda: 6 obras
Canadá: 4 obras
Escócia: 4 obras
México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola e São Cristóvão e Névis: 1 cada
*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de páises diferentes, conta um para cada)
"The Wall" definitivamente não é melhor trabalho do Pink Floyd, não é melhor que "Wish You Were Here" ou "The Dark Side of the Moon", mas é tão icônico quanto. É um álbum fundamental pela qualidade musical aliada a temática existencialista e, também, pela enorme capacidade de adaptação as novas mídias, adaptação para cinema, shows e novas versões, que cativam o público fiel da banda e atraem novos admiradores para Pink Floyd.
Pink Floyd foi uma banda inglesa formada em Londres no ano de 1965, liderada por Syd Barret (1946-2006), cujo período marcado pelo psicodelismo durou até o ano de 1968, quando foi substituído por David Gilmour (1946) nos vocais e guitarra. Roger Waters (1943) nos vocais e guitarra baixo, Richard Wright (1943-2008) nos vocais e teclados e Nick Mason (1944) na bateria completam a formação clássica que imprimiu uma linha de som progressiva, período que lançou o álbum The Wall.
"The Wall", álbum duplo produzido e lançado em 1979, é uma “ópera rock” que rivaliza com outros sucessos do gênero, como "Tommy" (1969) do The Who e "...Ziggy Stardust" (1972) de David Bowie. São exatamente 26 músicas compostas na sua maioria por Roger Waters, que apresentou a proposta temática a banda, assumiu as letras, a maioria das músicas, a coprodução, e o design do álbum. A personalidade de Waters se agigantou ao longo da produção de "The Wall", tomando o controle da banda para si, quando os componentes do Pink Floyd já demonstravam a incapacidade de administrar seu egos e anseios artísticos.
O tema elaborado por Waters de The Wall, em tom autobiográfico, trata da perda do pai (Eric Fletcher Walter morto na Batalha de Anzio na Itália durante a 2ª Guerra Mundial), a imagem da mãe protetora, a repressão do sistema educacional inglês, a sexualidade reprimida na adolescência e a traição, que vão compondo partes de um muro protetor ao redor do solitário personagem do trama, que em meio ao medo e ao ódio, renasce na pele de um líder fascista.
Musicalmente, "The Wall" segue a linha criativa dos trabalhos anteriores do Pink Floyd, com uma base instrumental irrepreensível, marcada pela pegada firme do baixo de Waters em sintonia com o peso da bateria de Mason, os voos solos da guitarra de Gilmour, mas pouca coisa de Wright (em processo de saída da banda). Mixagens e efeitos sonoros estabelecem um diálogo que alterna velocidade e ritmo, com Waters em uma vocalização esquizofrênica contrapondo o tom vocal mais contido de Gilmour.
No meio de tantas faixas, destacam-se "Another Brick in the Wall", música em três partes, a conhecida música do helicóptero foi faixa de trabalho nas rádios por ocasião do lançamento do álbum, sendo considerada um hino contra a repressão escolar. "Mother", trata da superproteção e castração materna, e "Hey You" um pedido desesperado de ajuda. Mas é "Comfortably Numb", considerada por muitos como a melhor composição do grupo, criação original de Gilmour para seu trabalho solo, mas que apresentado a Walters, este deu letra à música, e incorporou ao álbum, com o destaque do virtuoso solo da guitarra de Gilmour.
"The Wall", o filme, foi adaptado para o cinema em 1982, conduzido pelo ótimo diretor Alan Parker (cuja filmografia também é fundamental), cineasta recentemente falecido, com Roger Walters de roteirista. O filme narra a vida de Pink, astro de rock interpretado por Bob Geldof, cuja estória é ancorada pelas músicas do álbum. O filme obteve boas críticas em geral, considerado por alguns como uma das melhores obras do gênero musical e do rock. "The Wall" custou US$12 milhões e arrecadou $22 milhões só nos Estados Unidos. Em Porto Alegre as exibições ocorreram no antigo e saudoso cinema Baltimore, onde a sala de exibição tinha uma atmosfera própria, um névoa londrina tomava conta do local, provocada pelo consumo cigarros proibidos e embalada pela poderosa trilha sonora. Terminado a exibição os expectadores se misturavam com a horda que habitava o bairro Bonfim, reduto boêmio da cidade da época.
Filme"The Wall", de Alan Parker
"The Wall", o show, originalmente apresentado entre 1981 e 1982 na Europa e EUA, passou pelo Brasil em turnê de Roger Waters, por três cidades brasileiras (Porto Alegre, São Paulo e Rio) em março de 2012, sendo um dos maiores espetáculos musicais apresentados no país. O palco era constituído de um muro de 137 metros de largura, onde eram projetadas imagens originais de Gerald Scarfe do álbum, e incluía o famoso avião cruzando o estádio do Beira-Rio (estádio do Sport Club Internacional, que estava em obras na época) e explodindo junto ao muro. Segundo a revista Billboard, a turnê arrecadou mais de 450 milhões de dólares, o que faz dela a terceira de maior sucesso na história.
Passados 40 anos do lançamento de "The Wall", e 75 anos do fim da 2ª guerra mundial, com o fim da vida daqueles que testemunharam e lutaram contra a escalada do fascismo na Europa, assistimos o renascimento da cultura do ódio e do medo em vários cantos do mundo. Sim, "The Wall" continua atual, o que o eleva a categoria de Álbum Fundamental.
"The child is grown
The dream is gone"
versos finais da música "Confortably Numb"
por Á L V A R O S T E I W
************************* FAIXAS:
Lado 1 (primeiro vinil)
1."In the Flesh?" 2."The Thin Ice" 3."Another Brick in the Wall (Part I)" 4."The Happiest Days of Our Lives" 5."Another Brick in the Wall (Part II)" 6."Mother"
Lado 2 (primeiro vinil)
1."Goodbye Blue Sky" 2."Empty Spaces" 3."Young Lust" 4."One of My Turns" 5."Don't Leave Me Now" 6."Another Brick in the Wall (Part III)" 7."Goodbye Cruel World"
Lado 3 (segundo vinil)
1."Hey You" 2."Is There Anybody Out There?" 3."Nobody Home" 4."Vera" 5."Bring the Boys Back Home" 6."Comfortably Numb"
Lado 4 (segundo vinil)
1."The Show Must Go On" 2."In the Flesh" 3."Run Like Hell" 4."Waiting for the Worms" 5."Stop" 6."The Trial" 7."Outside the Wall"
Álvaro Steiw é arquiteto e mestre em Sensoriamento Remoto, trabalha na área ambiental. Gosta de filmes, fotos e músicas antigas. Seu álbum preferido do Pink Floyd é "Ummagumma".